*Por Ivan Bilheiro – Recanto das letras
A França inteira morrendo na guilhotina em nome da deusa Razão!
Instalada a máquina da morte por um tempo na Place du Carroucel, esta logo revelou-se estreita para o grande afluxo de gente que desejava assistir as execuções. Quando se deu o guilhotinamento de Luís XVI, em 21 de janeiro de 1793, tiveram que encontrar um espaço mais amplo, fixando-a na Place de la Concorde, rebatizada como Place de la Révolution. Nela seguramente cabia uns 20 mil espectadores, se incluirmos as pessoas que acompanhavam os eventos do alto dos balcões dos prédios que cercavam a praça (os moradores costumavam alugar as sacadas para os que vinham do interior ou para gente dos outros bairros). Sempre presentes, na primeira fila do cadafalso, injuriando os condenados, estavam as tricoteuses, mulheres velhas que passavam o tempo fazendo os seus tricôs ao pé da guilhotina, lançando palavra terríveis aos que iam entregando a cabeça decepada ao cesto imundo de sangue, que ficava postado logo abaixo da lâmina caída. Quando a multidão tinha um particular ódio por um dos sentenciados, como ocorreu no caso da rainha Maria Antonieta, era praxe o carrasco erguer a cabeça dele pelos cabelos para que uma onda de impropérios o enxovalhasse no momento daquela triste despedida. No auge do terror a máquina alimentava-se com umas trinta cabeças por dia. Tratava-se de um espetáculo de vingança coletiva, no qual a massa popular encenava o seu acerto de contas com a nobreza deposta e seus adeptos. Anteciparam as grandes encenações outras que irão se repetir durante as situações revolucionárias do século XX, na Rússia comunista de 1917, na Alemanha nazista de 1933, na Itália fascista de 1922, ou nos julgamentos de massa dos seguidores da ditadura batistista feitas na Cuba revolucionária em 1959.
Investigações afirmam que a mais famosa das frases atribuída ao filósofo francês Voltaire, jamais foi escrita ou proferida pelo mesmo!
Todo um retrato do pensamento voltairiano, foi construído em torno a essa citação, tomando o filósofo, a partir daí, como um iluminista plena e irresolutamente comprometido com a liberdade de expressão, cuja bandeira de luta seria a tal frase, assimilada como um lema. Uma busca pelos escritos de Voltaire, entretanto, planta a dúvida: onde está a afamada afirmação? A investigação por esse caminho é, contudo, vã, pois não há, em nenhum texto do filósofo, a preciosa frase. Algo tomado quase pacificamente como o resumo do pensamento voltairiano revelando-se apócrifo é mesmo o germe de uma pesquisa, e a investigação revela-se frutífera.Nota-se, portanto, que a expressão "Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo" é uma daquelas frases que muitos leram, alguns citaram e quase ninguém pesquisou de onde verdadeiramente veio (e de quem é!). Há um grande risco na falta de precisão em casos assim, porque uma falsa atribuição nem sempre enobrece um autor. Na verdade, como pode-se verificar, a tão citada frase foi elaborada por uma biógrafa de Voltaire, em uma obra do início do Século XX - portanto, bem distante do período de vida e produção do filósofo francês.
A Verdadeira autora da frase:
Em um livro de 1906 chamado Th e friends of Voltaire ("Os amigos de Voltaire" - tradução livre), publicado em Londres pela Smith, Elder & Co, a escritora Evelyn Beatrice Hall (1868-c. 1939), que durante um tempo usou o pseudônimo S. G. Tallentyre, trata de dez figuras notáveis com quem seu biografado, de alguma forma, se relacionou. São eles: D'Alembert, Diderot, Galiani, Vauvenargues, D'Holbach, Grimm, Turgot, Beaumarchais, Condorcet e Helvétius. É na parte dedicada a este último que a biógrafa apresenta a frase "I disapprove of what you say, but I will defend to the death your right to say it" ("Eu discordo do que você diz, mas vou defender até a morte seu direito de o continuar dizendo", em tradução livre).
Talvez por uma questão de estilo, Evelyn Hall colocou a frase entre aspas e a construiu em primeira pessoa, o que acabou gerando a confusão e a falsa atribuição. Mas, de fato, a intenção da escritora era resumir o posicionamento que Voltaire teria adotado com relação ao banimento de um livro de Claude-Adrien Helvétius (1715-1771), outro filósofo francês com quem ele teve certo desacordo. Em 1758, Helvétius publicou o livro De l'espirit, o qual foi condenado pela Sorbonne, pelo Parlamento de Paris e até pelo Papa, chegando a ser queimado.Apesar do desacordo explícito com relação ao pensamento de Helvétius, Voltaire não acreditava que o banimento daquele livro fosse um ato correto. Foi a atitude de Voltaire frente a esta situação que Evelyn Hall tentou resumir com sua frase, inadvertidamente escrita entre aspas e em primeira pessoa.Em outro livro da mesma autora, chamado Voltaire in his letters ("Cartas de Voltaire" - tradução livre aproximada), publicado em 1919, aparece a mesma ideia, ora apresentado como um "princípio voltairiano" (embora ainda grafado entre aspas e em primeira pessoa), com uma mínima alteração de redação que não resulta em conteúdo diferente. Ainda ali, Hall encerra o "princípio" em um posicionamento de Voltaire para com Helvétius.
UMA CONSTRUÇÃO TARDIA
CONCLUSÃO:
REFERÊNCIAS
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Parabéns pelo empenho em pesquisar e compilar essa tão importante desconstrução de uma frase, mostrando que foi atribuída indevidamente e que foi tão reducionista em relação a todo pensamento de Voltaire.
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