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Bandido bom é bandido morto, ou recuperado?

Written By Beraká - o blog da família on terça-feira, 29 de novembro de 2016 | 18:29








Nas redes sociais, é comum encontrar a frase “Bandido bom é bandido morto”. Embora vivamos numa época em que a impunidade está propagada, precisamos refletir sobre o assunto. Temos a tendência de julgar as pessoas somente pelos seus atos. Sentenciamos negativamente o próximo apenas porque comete erros diferentes dos nossos, e pensamos “Ah, mas eu nunca roubei um banco ou matei alguém”. Entretanto, é necessário lembrar que todos os tipos de transgressões/erros levam o homem à condenação e entristecem a Deus. “Porque todos pecaram e afastados estão da glória do Senhor, sendo justificados por sua graça, mediante o perdão que há em Cristo Jesus” (Romanos 3. 23-24).  Ainda que alguém se encontre num estado de extrema culpa e infelicidade por ter cometido uma falta grave ou por ter abraçado as vias do mal, o divino juiz nos recebe de braços abertos e se alegra ao reconduzir filhos pródigos à casa paterna. Mas é preciso ressaltar que, para isso, é necessário haver genuíno arrependimento e mudança de vida, uma conversão de caminho. Pois, apesar de perdoar a mulher adúltera, na conhecida passagem, Jesus não disse a ela que poderia continuar com seu erro: “Vá e não peques mais” (João 8. 11).  A nós, seres humanos, resta o bom senso de sermos benignos e misericordiosos para com os outros, ainda que não sejamos condescendentes com suas ações. Desejemos a redenção de todos – inclusive a nossa – e não castigos. E como já diz o nosso querido papa Francisco: “Sejamos doadores da misericórdia e não administradores.”





Foi em uma sexta-feira qualquer que a professora Rosângela da Silva, 29 anos, deixou a morte entrar em casa. Armado com um facão e um desejo sexual intenso, o trabalhador rural Edvaldo dos Santos, 19 anos, batia à sua porta. Por ser um antigo aluno da escola em que lecionava, no Sertão de Canudos, na Bahia, Rosângela resolveu abrir. Visitas assim eram normais em um lugar no qual os educadores muitas vezes fazem o papel de pai e mãe.Ao entrar, dispensando a educação que aprendera, o jovem propôs ir para a cama com a professora — sem nem se importar com a avó cega de Rosângela, que também estava no local. Tendo sua masculinidade ferida com um não, Edvaldo quis feri-la de volta. A avó tentou evitar o pior, mas acabou machucada e presenciou um espetáculo de horrores: a professora pulou a janela, foi pega, esfaqueada, teve o rosto cortado e morreu. O próprio agressor foi atrás da polícia e ajudou o sargento “a procurar o assassino”. Percebendo a incoerência na história, o oficial deu voz de prisão a Edvaldo, que acabou confessando o crime. Com receio de que o rapaz fosse linchado, o sargento levou-o para uma guarnição da Polícia Militar em outro município, Euclides da Cunha, onde ele supostamente estaria a salvo.Não foi o suficiente: quando tomaram conhecimento do crime, os moradores dos povoados próximos vieram de caminhão para se assegurar de que a justiça seria feita. “Para eles, a morte da professora na tentativa de estupro transformara Edvaldo em um desconhecido, um estranho, um diferente, outro ser”, escreveu o sociólogo José de Souza Martins, da Universidade de São Paulo, no livro Linchamentos: A Justiça Popular no Brasil (Editora Contexto). Edvaldo já não era mais humano.





O que acontece quando as pessoas decidem fazer justiça com as próprias mãos? 





Para tentar compreender por que pessoas comuns e supostamente bem-intencionadas, como os moradores do Sertão dos Canudos, acabam cometendo crimes ainda mais bárbaros do que aqueles praticados pelos criminosos que desejavam punir, sugerimos que você leia a matéria até o final.Casos como o do adolescente amarrado nu a um poste por cometer furtos no bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro, revelam muito mais do que as partes íntimas do agredido. Mostram também a complexidade da crise de confiança no Estado, a perda da legitimidade das instituições, a deterioração da ordem social e a persistência de uma cultura escravocrata que não foi abolida com uma canetada em 1888.Nem sempre é preciso chegar ao extremo de amarrar outro ser humano a um poste. Em dezembro, durante uma manifestação pró-impeachment também no Rio de Janeiro, uma criança acusada de furto quase foi espancada. Um dos adultos envolvidos na agressão gritava: “E o guarda quer me levar preso”. Outra mulher concordava: “Isso é inversão de valores”. Recebendo bofetadas por todos os lados e sob o coro de “tem que metralhar” e “filho da puta, vai roubar da tua mãe”, o garoto entrou rapidamente no camburão e sumiu do olhar da orda enfurecida. Mas o problema não desapareceu. Ao agredir e metralhar ideologicamente supostos criminosos, as vítimas se igualam aos bandidos no crime. “Dizem que todos nós nascemos heróis. Mas, se você deixar, a vida irá fazê-lo passar do limite até que se torne um vilão. O problema é que nem sempre você sabe que passou do limite”, explica a (anti) heroína Jessica Jones, protagonista da série homônima da Netflix, ainda atormentada por um assassinato que acabara de cometer.Cidadãos que buscam justiça por meios que não sejam os legais obviamente ultrapassam esse limite. Mas há a sensação de que, por ser feito às claras e em grupo, o linchamento não é crime. “[A ideia que se tem é de que] crime é o que se faz escondido, às ocultas, e traiçoeramente. Por isso, o linchamento é público, à vista e com a cumplicidade, voluntária ou não, de todos. É o que inviabiliza a apuração de responsabilidade e o prosseguimento de inquéritos”, diz Martins, que para escrever seu livro passou mais de 20 anos fazendo um levantamento sobre a história desses atos no Brasil.Nem as estatísticas policiais contabilizam esse tipo de crime — o que não significa que ele não seja ilegal. Quem explica é o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP Martim de Almeida Sampaio:“Não é apenas um crime, podem ser vários, como formação de quadrilha ou bando (quando várias pessoas se unem para atos criminosos), lesões corporais, tentativa de homicídio ou homicídio e até sequestro e cárcere privado, dependendo da ação concreta. O ato do linchamento é uma atitude tão criminosa quanto o crime que o incentivou.”





O Encanto está ausente





Segundo José de Souza Martins, cerca de um milhão de brasileiros já participaram de linchamentos ou tentativas de lichamento nos últimos 60 anos. Não surpreende, portanto, que de acordo com uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 50% da população brasileira concorde com a sentença “bandido bom é bandido morto”. “Considerando a margem de erro, temos um empate. Se está dividido, temos um espaço para mudança, basta encontrar alternativas”, explica o sociólogo Renato Sérgio de Lima, vice-presidente do Fórum. “Temos um país extremamente violento, que até gasta bastante com segurança, mas isso não quer dizer que esse gasto seja revertido em uma boa situação.”De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, houve um crescimento nos gastos com segurança no país entre 2013 e 2014. O problema é que não se sabe quanto disso foi utilizado de fato na infraestrutura e no treinamento de profissionais. A julgar pelo exemplo de Minas Gerais, não muito.Os mineiros foram os que mais investiram em segurança pública, com um aumento de 69% em relação ao ano anterior. Mas isso só aconteceu porque o estado incluiu na conta o gasto de R$ 3 bilhões da previdência — o que nenhum outro estado fez. Ou seja, “os estados estão gastando cada vez mais com salários e aposentadorias de policiais. Sendo assim, os investimentos nas condições de trabalho das organizações policiais, em termos de capacitação, armamentos, viaturas e equipamentos diversos, possivelmente não estão caminhando no mesmo sentido”, escreveu no anuário Luis Flávio Sapori, secretário municipal de segurança pública em Betim e professor da PUC Minas. Para Renato Sérgio, isso evidencia a insatisfação da população com a forma como o Estado administra os conflitos. “O Estado brasileiro, por meio de sua polícia, não convence a população”, afirma.











Mas não é necessariamente por causa da falta de infraestrutura que alguns infratores continuam soltos mesmo depois de cometer delitos recorrentes. O “princípio da insignificância” ou “bagatela”, por exemplo, prevê a liberdade para crimes que não causem lesão à sociedade, como pequenos furtos. Logo, há casos em que assaltantes são pegos, soltos e voltam a cometer crimes, gerando sensação de insegurança e impunidade — que, na verdade, é constitucional. Muitas vezes, no caso de menores de idade, policiais passam mais tempo na delegacia resolvendo medidas burocráticas do que o próprio infrator.Ou seja, a sensação de impunidade também existe dentro da própria corporação, que, não raro, sente-se estimulada a exercer uma autoridade que não tem e entende como legítima uma manifestação de justiça que de justa não tem nada. Nessa lógica, não surpreende que dois policiais militares recentemente tenham sido presos por matar um adolescente que cometia frequentes furtos no centro do Rio de Janeiro. Os PMs subiram até um morro, na floresta da Tijuca, com o jovem que acabou executado e outro que só sobreviveu para relatar o caso porque fingiu que estava morto. Tem-se aí a receita rápida para o caos e a crise de confiança nas instituições.É verdade que o mesmo recurso que protege uma senhora que roubou um pão para almoçar também estimula a recorrência de pequenos furtos, mas, segundo Martim Sampaio, da OAB, não se pode culpar a Constituição.“Individualmente, o número de pequenos assaltantes tem aumentado, mas é preciso entender esse fenômeno”, explica. “Todas as medidas que o governo toma são no sentido de criminalizar o jovem. Se ele quer melhores condições de estudo, o governo chama a polícia e resolve com surra e bomba; se não aceita pagar mais pelo transporte público, não pode protestar que é levado a uma ratoeira e massacrado. Não oferecem alternativa. O que precisamos é de uma política pública inclusiva, de educação e renda. São coisas que falamos há mais de cem anos e não fizemos até hoje."Para a pesquisadora do Núcleo de Estudos de Violência da USP Ariadne Natal, os linchamentos são o produto de uma soma perigosa:“Por um lado, temos essa percepção, compartilhada por parte da população, de que o Estado não é capaz cumprir suas funções e de garantir a lei e a ordem; por outro, predomina um discurso que deslegitima os direitos humanos e os valores civis básicos, como o direito à vida e à dignidade daqueles que são suspeitos de cometer crimes. Essa é uma combinação que estimula as soluções violentas”, afirma ela.





A justiça popular é a pior solução para o problema da violência urbana!





“O pessoal não está mais botando muita fé [nas autoridades], por isso acontecem essas coisas. O Estado está muito ausente”, disse ao portal G1 o porteiro Jailson Alves das Neves, marido de Fabiane Maria de Jesus, morta a pauladas, pedaços de concreto e bicicletadas, em 2014. Ela era acusada de sequestrar crianças, arrancando os olhos e o coração, para realizar rituais de magia negra no Guarujá, litoral de São Paulo — o boato surgiu em uma página de Facebook e ganhou corpo nas ruas. Nenhuma criança havia desaparecido na região. Fabiane era inocente. E esse é apenas um dos motivos pelos quais Martim Sampaio afirma: “A justiça popular é a pior solução para o problema da violência urbana”.Como Edvaldo dos Santos, que tentou estuprar sua antiga professora no sertão baiano, pessoas prestes a ser linchadas são vistas como animais. Segundo José de Souza Martins, “os linchadores atuam sempre em nome de uma identidade de pertencimento contra o estranho, ainda que provisória e súbita”. Por não fazerem parte do grupo, o estuprador, o assaltante e a bruxa merecem morrer. Assim, na visão do filósofo René Girard, a pessoa linchada seria uma espécie de bode expiatório. Para identificá-lo, bastaria perceber quatro elementos: a existência de uma crise cultural e social; uma conduta capaz de deixar a comunidade unida e homogênea, como um caso de roubo; que esse comportamento seja atribuído a alguém com características diferenciadoras; e a canalização da agressividade do grupo contra esse alguém.











Nesse sentido, José de Souza Martins afirma que a hipótese mais provável para os linchamentos seria a punição, “mas sobretudo como forma de mostrar seu desacordo com alternativas de mudança social que violam concepções, valores e normas de conduta tradicionais”. O linchamento não seria, portanto, uma manifestação de desordem, mas um questionamento da desordem.Você tem uma sociedade de mercado aguçada, que vai ganhando corpo. A parte da população que está fora do mercado, esses supérfluos, passam a ser vistos como uma ameaça.E o limite entre o supérfluo e o criminoso é muito tênue. Não precisa cometer um crime para ser uma ameaça. Se você não circula nos shoppings e não é um cidadão consumidor, não tem direitos, vira uma ameaça.Por isso, seria inocente afirmar que o linchamento decorre apenas do desejo de pena de morte.Nos linchamentos, está envolvido o julgamento de que: “quem não consegue refrear o desejo, o ódio e a ambição, e não vê limites para o desejar, o odiar e o ter, não pode conviver com os demais nem tem direito a uma punição justa e restitutiva que o devolva à sociedade depois de algum tempo de castigo”, diz Martins.Não é à toa crimes de roubo ou furto geralmente são tidos como uma afronta pessoal. Delitos que deveriam ser tratados como crime contra a propriedade se tornam uma ofensa à pessoa e a sua forma de sobrevivência. Nessa lógica, enquadra-se um exemplo dado pelo sociólogo da tentativa de linchamento de um rapaz de uma favela do Espírito Santo que encontrou uma maleta com dinheiro de um sequestro e devolveu à polícia. Os membros da comunidade queriam que ele dividisse o valor entre os pobres, já que se tratava de um dinheiro perdido, sem dono, que não faria falta e que não era necessário à sobrevivência de quem o perdera.De acordo com o sociólogo, para os trabalhadores, o dinheiro não é quantitativo, mas qualitativo: existe o dinheiro bom, fruto do suor, e o dinheiro ruim, de ganho fácil. “A honestidade de quem devolveu o montante fora interpretada como falta de solidariedade em relação a seus iguais”, explicou Martins.





Não se pode esquecer do caráter simbólico do linchamento





Não se trata apenas de um assassinato coletivo — se fosse só isso, um simples tiro resolveria o problema. A ideia é negar a integridade do culpado, violar seu corpo e humilhá-lo em público. “Mais do que matar, o linchamento promove a perdição da vítima, seu extravio no caminho dos mortos, na mutilação que o aliena para sempre no grande momento da desalienação que é, nessa crença, o da ressurreição dos mortos”, diz Martins. Só isso explica o caso de uma senhora carioca que, com muito custo, foi tirada de cima da vizinha já morta enquanto tentava arrancar os olhos dela com uma colher.E, claro, há também o preconceito — como ficou evidente no caso da estudante de arquitetura Mikhaila Copello que, ao tentar impedir um linchamento, no Rio de Janeiro, colocou-se entre uma turma enraivecida e um assaltante já ensanguentado. “Tive sorte de ser uma mulher branca de classe média. Tenho certeza que, se fosse um cara negro, teria apanhado junto”, diz a estudante à GALILEU. “As pessoas não conseguem ver o racismo que está ali, o que elas estavam vendo era um assaltante, menos do que um ser humano, de acordo com algumas.”No seu livro, Martins afirma que, diferentemente dos séculos passados, em geral não se lincha mais apenas por causa da cor da pele. Mesmo assim, os dados de sua pesquisa mostram que a prontidão para linchar um negro é, quase sempre, maior do que para linchar um branco que tenha cometido o mesmo delito. A cor da pele pode não ser a principal motivação para o linchamento, mas no fim contribui para a decisão de linchar ou não.A questão é que o linchamento é apenas mais uma manifestação de violência — e violência, você sabe, só gera mais violência.“O levantamento feito até agora indica com clareza que a ocorrência de um simples linchamento numa localidade rompe certos constrangimentos sociais à prática da violência direta: em muitos lugares, um primeiro linchamento é, com facilidade, seguido de outros, ainda que com o passar do tempo”, pontua Martins.Somando a recorrência com o clima de “limpeza social” representado pela máxima do “bandido bom é bandido morto”, tem-se um cenário que justifica a posição do Brasil como o país sem guerra declarada no qual houve mais assassinatos. Isso pode estimular o aparecimento de outros tipos de crimes. Temos a experiência dos grupos de extermínio, que são formados por policiais pagos por comerciantes para eliminar assaltantes. E também as milícias, um projeto de máfia, que estão a um passo do crime organizado.Em 1996, dois jovens invadiram a casa da pedagoga Dagmar Rivieri Garroux, a Tia Dag, e mataram o pai dela a tiros. Na época, ela já coordenava a Casa do Zezinho, um espaço no Capão Redondo, na periferia de São Paulo, dedicado a estimular e a desenvolver o aprendizado de crianças carentes. Como se o destino estivesse esfregando a ironia da situação em sua cara, ela pensou em desistir do projeto e ficou um mês afastada.Até que recebeu a ligação de um de seus alunos: “Tia Dag, a senhora quer que a gente mande matar o menino que atirou no seu pai?...”A pedagoga viu nessa ameaça uma convocação e resolveu voltar. “Ele prometeu me esperar com a ‘maior flor do mundo’: um girassol. Então, eu voltei com tudo ao trabalho”, lembra ela.





Vingança e justiça são coisas diferentes! JUSTIÇA NÃO É VINGANÇA!










Para a pesquisadora Ariadne Natal, da USP, essa subversão da justiça é extremamente perigosa porque a força bruta faz prevalecer a injustiça, uma vez que o réu não tem possibilidade de defesa. “Apesar de muitas vezes ser apresentado como uma forma de justiça, o que move o linchamento é um desejo de vingança, uma compulsão punitiva que é imediata e visa atingir o corpo daquele que é considerado criminoso para humilhar, fazer sofrer e, por fim, eliminar”, afirma ela.Para o psicólogo americano Leon F. Seltzer, é fácil confundir justiça com vingança, mas elas jamais podem ser usadas como sinônimo. “Justiceiros’ como estes não estão preocupados em resolver o problema, mas apenas em expurgar a sua raiva”, diz Selzer. Em um artigo que escreveu para a revista Psychology Today, ele diz: “Basicamente, podemos afirmar que a justiça é justa, já a vingança não”.O problema é que, muitas vezes, os dois conceitos estão próximos demais para serem distinguidos, o que é especialmente problemático para uma sociedade com hipermetropia como a nossa. Em seu livro, Martins cita o caso de um morador de São Paulo que, depois de protagonizar vários delitos, foi submetido a um tribunal popular. Uma manhã, todas as pessoas que chegavam à padaria do bairro iam sendo convidadas a opinar sobre o que fariam com o infrator. Depois de decidirem, buscaram-no em casa e o levaram até a padaria. “Ali mesmo ouviu a acusação, deram-lhe a palavra, perguntaram se queria que chamasse a família para dela se despedir, ofereceram-lhe um último cigarro, levaram-no para a rua e o mataram a pedradas e a pauladas.” Parece justiça, mas não é.












A vingança é guiada por emoções — nem sempre boas — e, na maior parte dos casos, expressa um desejo sanguinolento de causar sofrimento a outra pessoa. Segundo Seltzer, existe aí, de fato, o prazer em causar dor a alguém, algo completamente pessoal. Já a justiça é racional e impessoal. Não se trata de retaliação, e sim de corrigir algo que a sociedade julga como moralmente inaceitável.A vingança vive de ciclos e, segundo a concepção de Girard, só acaba quando encontra um bode expiatório que assuma toda a culpa. Às vezes, nem assim. Já a justiça busca restaurar um equívoco negativo. Quando ela é devidamente aplicada, o conflito acaba. Vingança é Tarantino com Kill Bill; justiça é Sidney Lumet com 12 Homens e uma Sentença.





É interessante notar também o comportamento das multidões nesses casos:





Segundo o psicólogo social Gustave Le Bon, em sua obra Psicologia das Multidões (WMF Martins Fontes), é como se, ao se unirem, as pessoas deixassem de lado a razão, as suas aptidões intelectuais e as suas personalidades para dar lugar à ignorância. A estudante Mikhaila Copello, que impediu o linchamento no Rio de Janeiro, viu isso de perto: “Nos olhos daquelas pessoas tinha um ódio nunca visto. Eles não paravam para pensar, era tipo ‘eu não sei o que esse cara fez, mas o que ele fez me afeta, é uma afronta a minha pessoa’. Foi muito assustador.”Era o mesmo ódio que os moradores do Sertão de Canudos carregavam no caminhão que se dirigia à delegacia onde estava preso Edvaldo, o assassino da professora Rosângela. Os moradores arrombaram a porta, renderam os guardas e “fizeram justiça” ali mesmo. Depois de espancarem Edvaldo com pedaços de pau, facas, facões e revólveres, levaram-no para o caminhão. Ali, ele teve partes do rosto e os testículos arrancados, como que para privá-lo da identidade e da masculinidade. Enquanto ainda estava vivo, outros pedaços de seu corpo iam sendo decepados. À medida que era esquertejado, Edvaldo ia deixando de existir. Já quase desfeito, os moradores o jogaram no local do crime e atearam fogo em seus restos com gasolina. A professora continuou morta. A cidade continuou triste. Isso tudo aconteceu em 1996. Mas poderia ter sido hoje. Pode ser amanhã.





É aceitável a ideia de que bandido bom é bandido morto?











Não, não é, e antes que você pense em escrever “tá defendendo bandido, quero ver quando um matar sua mãe”, bem, eu não estou defendendo bandido, aliás, ninguém está e nem deve.Todos somos responsáveis pelas nossas ações e temos que pagar por cada uma delas. Mas quando o assunto é a antiga e superada lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”, fica claro que as pessoas não estão enxergando uma solução justa e sim uma forma extremista de lidar com os conflitos.Partindo do princípio de que a inclusão social e a educação escolar fragilizada, são dois grandes fatores que contribuem para a violência, fica claro que querer resolver o problema da criminalidade com pena de morte é isentar o estado do compromisso com a juventude e com o sistema penitenciário. Isso porque, cerca de 70% de presidiários voltam ao crime quando ganham liberdade. Não existe, no país, política penitenciaria, nem intenção do estado de recuperar essas pessoas, mas apenas de puni-las e priva-las do convívio social.











conclusão:





Bandido bom não é bandido morto, bandido bom é bandido recuperado! Imagine se o país fechar o compromisso de educar a população cuidando das famílias no geral, recuperar presidiários promovendo a reiteração social (as maneiras são indiferentes, se com cursos profissionalizantes, tratamento psicológico, assistência espiritual, aliada a outras ações), imagina se cada um de nós parar de usar frases sem fundamento e olhar o que acontece à nossa volta? Perceba a real solução para o problema, caso contrário, não vai sobrar ninguém pra contar história.Se você ainda está coçando os dedos para escrever abaixo nos comentários que eu sou “esquerdista” ou sei lá o quê, que tal olhar alguns pontos importantes que retirei do texto de Ramon Kayo publicado no Medium.com, talvez um desses argumentos lhe faça refletir um pouco:









1) Ninguém nasce bandido. A estrutura social, de alguma maneira, transforma as pessoas em criminosas. Entender os motivos que levam a formação de criminosos e resolvê-los é mais importante do que puni-los com mais severidade.





2) Se não formarmos criminosos, as pessoas não precisam ser vítimas. Se a cada escola que se abre nas favelas é um presídio menos, então o que é melhor? Investir em escolas ou presídios? Construir presídios, prender mais pessoas, não evita que mais pessoas se transformem em bandidos. O que aprendemos com os países mais desenvolvidos é que reabilitar marginais principalmente na prevenção de crianças em situação de risco social, colabora com a redução da criminalidade.










3) Todo crime deve ser devidamente punido, mas a maneira de punir pode influenciar na reincidência do criminoso, que fará novas vítimas. Infringir os Direitos Humanos de qualquer pessoa é atentar contra a vida e, no caso do marginal, vai na contramão da reabilitação.








Fonte: Revista Galileu







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Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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