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Quem foram os maiores Teólogos Cristãos do Séc XX? (Católicos – Ortodoxos e Protestantes) ?

Written By Beraká - o blog da família on quinta-feira, 12 de maio de 2016 | 10:16












Deus que se fez homem! E habitou entre nós! É o que proclama o Credo. É o que os concílios ecumênicos dos primeiros séculos, desde Niceia até Calcedônia, fixaram no dogma. Mas é também o que hoje, fora e dentro da Igreja, está sendo mais contestado, ofuscado ou esquecido.Bento XVI, sobretudo com seu livro sobre Jesus, quis precisamente defender o Jesus verdadeiro Deus e verdadeiro homem de todas as tentações que querem limitá-lo apenas a um ou a outro, isto é, separando o Jesus da história do Cristo da fé.Na imensa produção teológica do último século, quais personalidades deram as respostas mais geniais a este problema capital e tantos outros? Vemos hoje uma vasta produção teológica de grande importância tanto entre teólogos católicos, como não católicos que fazem uma teologia de caráter universal e não meramente pessoal. Senhoras e senhores, eis os Teólogos do século XX e suas produções teológicas!

 



1)- BERNARD LONERGAN (1904-1984) - Católico




Bernard Joseph Francis Lonergan nasceu em 17 de dezembro de 1904 em Ontário, no Canadá. Foi um padre jesuíta canadense. Ele foi um filósofo e teólogo de tradição tomista e também um economista, formado em Buckingham, Quebec. Lonergan era professor do Colégio Loyola, de Montreal, da Universidade de Toronto (Regis College), da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Harvard e do Boston College. Durante vários anos as suas idéias foram estudadas nas mais variadas áreas do saber: ciências naturais, economia, sociologia, filosofia e teologia.O seu pai era um engenheiro de ascendência irlandesa, e a família da mãe era inglesa. Aos 13 anos, trocou a casa pela Faculdade de Loyola, uma escola jesuíta em Montreal, e de lá entrou para o noviciado na cidade de Guelph. Frederick Crowe, S.J., diretor emérito do Instituto Lonergan, da Universidade de Toronto, descreve os primeiros anos de aprendizagem de Lonergan, esse estranho mundo anterior ao Concílio Vaticano II. Havia, diz, «leituras sobre a vida de Cristo e dos santos, a Imitação de Cristo, sobre documentos jurídicos e espirituais jesuítas, o velho fiel Afonso Rodriguez, a prática da perfeição e virtudes cristãs. Havia as instruções do mestre aos noviços; as "exortações" pregadas por austeros sacerdotes na comunidade, e assim por diante. Havia as penitências, publicação das faltas - admitidas voluntariamente ou indicadas pelos companheiros em ágapes transbordantes - e havia muita oração, a mais lenta de todas as práticas a aprender».Era uma vida que ensinava a paciência, a disciplina, e o estudo sério, embora de modo um pouco rígido e restritivo; serão marcas do trabalho de Lonergan. 
















Em 1926, Lonergan foi para Inglaterra estudar filosofia, regressando ao Canadá para ensinar na sua velha escola, em Montreal. De 1933 a 1937 licenciou-se em Teologia em Roma. Não tinha sido um aluno premiado, mas desenvolveu em Roma as ambições intelectuais exemplificadas por uma carta de 1935 a um superior:«Consigo elaborar uma metafísica tomista da história que ofuscará Hegel e Marx, apesar da enorme influência deles nessa obra. Tenho já escrito um esboço, disso como de tudo o mais. Examina as leis objetivas e inevitáveis da economia, da psicologia (ambiente, tradição) e do progresso... para encontrar a síntese superior destas leis no Corpo Místico.»Hegel e Marx, não eram exatamente leituras recomendadas para um jovem sacerdote em Roma e, ainda mais, na Itália fascista. Mas fica bem claro como ele era já o indivíduo audaz, capaz de pensar sem imprimatur. E também fica claro que o corpo místico de Cristo, é desde S. Paulo, um dos conceitos mais integradores da teologia.A originalidade do seu trabalho está sobretudo em ter proposto, através de um profundo estudo da mente em ação, um método de inter-relação entre todos estes ramos do saber e da experiência humana.“Sê atento, sê inteligente, sê razoável e sê responsável”. São os traços que marcam, para Lonergan, a atitude fundamental da pessoa que é autêntica. Máximas do gênero "Trata os outros como queres ser tratado" não podem, em última análise, ser fundamentais porque não há uma máxima superior que nos leve a aderir a elas. Nem tão pouco as autoridades nos podem dar os nossos valores últimos, porque não há uma autoridade superior que nos diga que autoridades seguir. O que Lonergan nos diz é, no fundo, que todos nos guiamos por critérios como “sê atento, sê inteligente, sê razoável e sê responsável”, independentemente do modo como se manifestam em nós, e é por eles que escolhemos as máximas e as autoridades pelas quais reger a nossa vida.Toda a originalidade de Lonergan, reside em oferecer um instrumento hermenêutico da consciência humana que permite elaborar uma nova interpretação tanto do trabalho do teólogo quanto do objeto da teologia.O seu método empírico generalizado clarifica as operações que se dão no sujeito no que diz respeito à escolha de valores. É uma busca das normas morais inatas e de um possível sentido para a objetividade moral. Num mundo em que há tanta incompreensão e diversidade cultural, ética, etc, Lonergan parte do pressuposto de que o desenvolvimento da verdadeira moralidade só será possível se os jogadores "puserem as cartas na mesa".Este método dá-nos a possibilidade de conhecer as categorias explicativas da nossa moralidade e do nosso modo de valorizar, o que nos permite conceptualizar o que se passa em nós a nível de valores, e também justificar perante os outros as nossas opções fundamentais, como por exemplo a nossa fé.Profundo conhecedor do pensamento de Tomás de Aquino, sempre pessoal e original na sua interpretação, tem brindado o público com obras de grande valor. Uma das suas principais obras é: Insight: A Study of Human Understanding (1957). O "Insight" é um ponto de partida para a metafísica, é uma nova concepção da metafísica, é uma introdução à Teologia, é como diz o seu título, "um estudo do conhecimento humano". Analisando outras correntes filosóficas ou discorrendo sobre ciências físico-matemáticas e sobre psicologia profunda, Lonergan evidencia uma cultura científica impressionante, pouco comum num filósofo, e menos ainda, pela própria natureza das coisas, num professor de Teologia Dogmática.Bernard Lonergan faleceu em Pickering, perto de Toronto, em 26 de novembro de 1984.Lonergan é autor, entre outras obras, de Insight: A Study of Human Understanding (1957) e de Method in Theology (1973), trabalhos que estabeleceram os lineamentos daquilo ele denominaria Método Empírico Generalizado (Generalized Empirical Method - GEM).






PENSAMENTOS DE BERNARD LONERGAN













"A dificuldade surge na segunda etapa, a expansão básica. Os moralistas responsabilizam a ganância, a avidez. Mas a causa principal é a ignorância. Poucos percebem e poucos ensinam a dinâmica da produção. E quando as pessoas não compreendem o que está a acontecer, não se pode esperar que atuem de modo inteligente. Quando a inteligência desaparece, a primeira lei da natureza é a auto-preservação. São esses esforços frenéticos que transformam a recessão em depressão, e a depressão em falência."



“Ser enamorados por Deus, enquanto experiência, é ser enamorados de uma maneira que não conhece limite algum. Cada amor é doação de si, mas ser enamorados por Deus é ser enamorados sem limites, nem restrições, nem condições, nem reservas. Como a nossa capacidade ilimitada de questionar constitui a nossa capacidade de auto-transcendência, assim o ser enamorados de forma ilimitada constitui o cumprimento próprio de tal capacidade”.




“Na assimilação do passado dá-se a primeira busca, que descobre e torna disponíveis os dados. Há uma teologia ‘in oratione recta’ na qual o teólogo, iluminado pelo passado, enfrenta os problemas do seu tempo”.




“Assim como alguém levanta espontaneamente o braço para golpear a cabeça de alguém, pode espontaneamente estender o braço para alcançar e salvar alguém da queda. Percepção, sentimento e o movimento corporal são envolvidos, mas a ajuda dada a outra pessoa não é deliberada, mas espontânea. Alguém só se dá conta disso não antes mas durante o fato. É como se ‘NÓS’ assumíssemos ser membros uns dos outros antes de nossas distinções nos afastarem uns dos outros”.




“Existe o amor da intimidade, do marido e da mulher, dos pais e dos filhos. Existe o amor aos próprios semelhantes, que tem como fruto a realização do bem-estar humano. Existe o amor de Deus com todo o próprio coração e com toda a própria alma, com toda a própria mente e com todas as próprias forças (cf. Mc 12,30)”.




“O significado dessas declarações (infalíveis) da Igreja vai além das vicissitudes do processo histórico humano. Mas os contextos em que tal significado é colhido e, portanto, o modo em que tal significado é expresso, variam tanto segundo as diferenças culturais como segundo o grau de diferenciação da consciência humana”.




“A especialização funcional da fundação determina que concepções representam as posições que procedem da presença da conversão intelectual, moral e religiosa e que concepções representam as contraposições que revelam ausência de conversão. Em outras palavras, cada teólogo julgará da autenticidade dos autores das várias concepções e o fará sobre a pedra de toque que é a própria autenticidade”.





“As doutrinas da Igreja e as doutrinas teológicas pertencem a contextos diferentes. As doutrinas da Igreja são o conteúdo do testemunho da Igreja a Cristo; elas exprimem o conjunto dos significados e valores que informam a vida cristã, individual e coletiva. As doutrinas teológicas fazem parte de uma disciplina acadêmica, que se fixa no objetivo de conhecer e compreender a tradição cristã e de favorecer seu desenvolvimento. Como os dois contextos dirigem-se para fins bem distintos, assim também são desiguais quanto à extensão. Os teólogos levantam muitas questões que não são mencionadas nas doutrinas da Igreja. E também os teólogos podem diferir entre eles, mesmo pertencendo à mesma Igreja”.




A teologia medieval voltou-se para Aristóteles em busca de um guia e um auxílio tendo em vista esclarecer o próprio pensamento e torná-lo coerente. Segundo o método por nós proposto, a fonte do esclarecimento de base será a consciência segundo a diferenciação interior e segundo a diferenciação religiosa”.




“A purificação das categorias... é efetuada na medida em que os teólogos alcançam a autenticidade mediante a conversão religiosa, moral e intelectual. Não se deve esperar a descoberta de qualquer critério, experimento ou controle ‘objetivo’. Semelhante significado de ‘objetivo’ não passa na realidade de uma ilusão. A genuína objetividade é fruto da subjetividade autêntica. Buscar e usar qualquer sustentação ou muleta como alternativas conduz invariavelmente, em uma ou outra medida, ao reducionismo”.





2)- VLADIMIR LOSSKY (1903-1958) - Ortodoxo









Vladimir Lossky é filho do célebre filósofo russo Nicola O. Lossky. Nasceu em Gottingen, Alemanha, em 8 de junho de 1903, pois seu pai lá se encontrava para completar sua formação universitária. Realizou seus estudos superiores na Universidade de Petersburgo, seguindo com grande interesse os cursos do historiador da filosofia Leon Karsavin. Dos seus ensinamentos, recebeu um impulso determinante para suas futuras pesquisas sobre os teólogos ocidentais e sobre a tradição patrística grega.Em 1923 foi expulso da Rússia juntamente com seu pai. Como a maior parte dos russos exilados, Vladimir também se estabeleceu inicialmente em Praga, onde o pai fora nomeado professor de filosofia. Lá seguiu os cursos de N. P. Kondakov, o célebre pesquisador de bizantinismo e historiador da arte iconográfica. Um ano depois, transferiu-se para Paris, iniciando seus estudos na Sorbonne, onde continua e aprofunda seus estudos sobre o pensamento medieval, sob a direção do maior especialista católico no assunto, Etienne Gilson. Com sua assistência, empreende em 1927 o estudo da doutrina mística de Mestre Eckhart, que deveria ser a sua tese de mestrado. Uma forte amizade o une a Eugraf Kovalevsky e entra na Confraria São Fócio com vistas a uma ortodoxia universal, capaz de revivificar as tradições ortodoxas da França dos onze primeiros séculos. Sua vocação já se encontra cristalizada: é a do encontro entre a tradição cristã do Oriente e a cultura ocidental da Idade Média. De modo particular, pretende prestar testemunho da Igreja dos seus pais na França.Ao mesmo tempo, engaja-se também na vida eclesiástica da Ortodoxia no Ocidente. Em contraste com a maior parte dos exilados, em 1931 ele se pronuncia a favor do Patriarcado de Moscou. Em 1935, coloca-se entre os opositores de Bulgakov a propósito de sua "sofiologia". Depois de uma intervenção sua junto ao metropolita de Moscou, Sérgio, a doutrina de Bulgakov é condenada.Casou em 1938, e teve quatro filhos.Em 1939, Lossky torna-se cidadão francês. Durante a Segunda Guerra Mundial, participa dos sofrimentos de sua pátria de adoção e da resistência contra o invasor.Os acontecimentos ligados à guerra, todavia, não o impedem de prosseguir suas atividades de estudioso. Em 1944, publica a sua obra-prima, A Teologia Mística da Igreja do Oriente.Em 1945, começa sua carreira de professor universitário. Ministra uma série de conferências na "École des Hautes-Études" da Sorbonne sobre a doutrina da visão de Deus na teologia bizantina, as quais seriam publicadas postumamente sob o título Vision de Dieu. Trabalhador incansável, continua suas pesquisas sobre Mestre Eckhart, que depois seriam reunidas numa obra também publicada postumamente, organizada por seus amigos, em especial Gilson, dois anos depois de sua morte.Depois da Grande Guerra, o engajamento na vida de sua Igreja leva-o a dedicar-se também à atividade ecumênica. Em 1947, entra em contato com o mundo anglicano. No mesmo ano, participa da assembléia realizada em Oxford reunindo católicos, anglicanos e ortodoxos, e profere a memorável conferência intitulada "The Procession of the Holy Spirit in the Orthodox Triadology", na qual sustenta que o Filioque não é absolutamente um simples theologoumenon, como afirmara Bulgakov, mas sim a razão fundamental da divisão entre as Igrejas Ortodoxa e Latina.Expressão de suas preocupações ecumênicas são ainda diversos artigos sobre as propriedades da Igreja (sobretudo a catolicidade), publicados na revista do patriarcado de Moscou na França. Em 1956, sua atividade em favor da Igreja Ortodoxa é premiada publicamente: é convidado pelo Patriarca de Moscou, Alexis, a visitar a Rússia, terra de seus antepassados. Lossky atendeu ao convite com grande júbilo.Em 7 de fevereiro de 1958, morre inesperadamente com a idade de 55 anos, quando o seu talento estava maduro para a produção de excelentes obras teológicas, tanto no campo histórico como no dogmático.





A TEOLOGIA DE VLADIMIR LOSSKY




A missão à qual os teólogos russos da Diáspora sentiram-se chamados foi a de conservar e transmitir ao Ocidente o grande e precioso tesouro do pensamento teológico da Igreja Ortodoxa, do qual eles eram os principais depositários. Entre aqueles que souberam cumprir mais brilhantemente essa missão importante deve-se colocar Vladimir Lossky.Ele é autor de uma síntese teológica mais completa e sistemática do que a de Florovsky e, ao mesmo tempo, mais "ortodoxa", ou seja, mais fiel à tradição oriental, do que a de Bulgakov.À sua síntese Lossky deu o nome de "teologia mística".Lossky, como seu amigo íntimo Georges Florovsky, se opôs às teorias sofiológicas de Sergei Bulgakov e Vladimir Soloviev.A obra teológica de Lossky parte dos mesmos princípios inspiradores da teologia de Florovsky: ela quer contrapor à "sofiologia" de Bulgakov o pensamento autêntico da teologia ortodoxa. Só que alcança resultados mais satisfatórios, na medida em que explicita mais claramente os princípios sobre os quais pretende edificar sua síntese e, em segundo lugar, na medida em que dá a essa síntese um desenvolvimento sistemático e completo.O significado teológico de Lossky está ligado a uma exegese do misticismo da Tradição Ortodoxa. Ele afirmou em Teologia Mística da Igreja do Oriente que a Igreja Ortodoxa manteve suas dimensões místicas enquanto o ocidente perdeu-as depois do cisma Ocidente-Oriente. Ele cita muito do misticismo da Igreja Ortodoxa como expresso nas palavras da Filocalia, São João Clímaco, A Escada Divina, e vários outros como Pseudo-Dionísio Areopagita, São Gregório de Nissa, São Basílio Magno, São Gregório Nazianzeno, e São Gregório Palamas. Georges Florovsky nomeou a Teologia Mística da Igreja do Oriente de Lossky como uma "síntese neopatrística".





Os princípios fundamentais - os pilares em que se baseia a construção teológica de Lossky - são os seguintes:





1. A "apofaticidade": que justifica a qualificação "mística" que o autor dá à sua teologia. Lossky descreve assim a apofaticidade: "É um caminho constante do pensamento, que elimina progressivamente do objeto que quer alcançar qualquer atribuição positiva, para desembocar finalmente numa espécie de possessão por ignorância total daquele que nunca poderia ser um objeto de conhecimento. Pode-se dizer que é uma experiência intelectual da derrocada do pensamento diante daquilo que está além do pensável”.





2. As energias divinas, distintas realmente da essência divina sem estarem separadas dela: essas energias permitem a Lossky salvaguardar a transcendência absoluta de Deus e, ao mesmo tempo, manter intactas as doutrinas da graça incriada, da imago Dei, da visão de Deus e da "deificação". Segundo Lossky as energias divinas tratam-se de forças, ou seja, expressões dinâmicas da realidade divina, que representam o modo de existir do próprio Deus em relação ao que está fora dele. Elas são realmente distintas da essência divina, mas, ao mesmo tempo, são absolutamente idênticas a Deus. Por essa razão, conhecendo-se as energias divinas, conhece-se Deus; recebendo as energias divinas, recebe-se Deus.




3. A dupla economia (do Filho e do Espírito Santo): essa tese permite ao autor elaborar uma doutrina pneumatológica bem mais rica e substancial do que conseguiram os teólogos ocidentais, tanto católicos como protestantes. Lossky faz a distinção de suas economias na história da salvação: a do Filho e a do Espírito Santo. No sistema teológico de Lossky encontramos dois centros: Jesus Cristo e o Espírito Santo. Com efeito, segundo ele, nossa salvação é operada em parte pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade e em parte pela Terceira. Há, portanto, uma economia soteriológica do Verbo Encarnado e uma outra do Espírito Santo. As duas economias "encontram-se na base da Igreja, ambas necessárias para que possamos obter a união com Deus". A economia do Verbo Encarnado refere-se somente à natureza humana, não às pessoas individualmente. Já a economia do Espírito Santo refere-se diretamente às pessoas em particular.




4. O conceito de pessoa: entendida como capacidade de renunciar à própria vontade, às inclinações da própria natureza. Com esse conceito, nosso teólogo ilumina os mistérios da Encarnação de Cristo e de nossa santificação. Um conceito-chave da teologia de Lossky, que propicia a solução de alguns problemas fundamentais de cristologia, pneumatologia, antropologia, eclesiologia e teologia trinitária, é o conceito de pessoa. Lossky conclui que a única definição satisfatória é aquela que descreve a pessoa em termos de kénosis. Com efeito, aquilo que mais caracteriza a pessoa é sua capacidade de subtrair-se aos instintos da natureza, às paixões e aos impulsos egoístas da vontade. "A perfeição da pessoa se realiza no abandono total, na renúncia a si mesma. Cada pessoa que procura se afirmar acaba somente na fragmentação da natureza, no ser particular, individual, que cumpre uma obra contrária à de Cristo".




OBRAS DE VLADIMIR LOSSKY




A produção científica de Lossky não é muito vasta. Além de um certo número de artigos, ela abrange quatro livros: Teologia Mística da Igreja do Oriente (1944); Teologia Negativa e Conhecimento de Deus em Mestre Eckhart (1960); Visão de Deus (1962); À Imagem e Semelhança de Deus (1967).Dessas obras, a mais significativa é sem dúvida a primeira: ela contém uma brilhante e vigorosa síntese do sistema teológico de Vladimir Lossky, o qual, sendo construído sobre o princípio da "apofaticidade", é chamado pelo autor de "teologia mística".As três outras obras também abordam os problemas da teologia mística, mas não mais em termos sistemáticos e sim em termos históricos. A segunda, como diz o próprio título, é um penetrante estudo da teologia negativa de Mestre Eckhart. A terceira, Vision de Dieu, propõe-se a estudar o problema do conhecimento de Deus como ele foi colocado pela teologia bizantina. Seu objetivo é verificar se a distinção entre a "apofaticidade" da essência de Deus e a "catafaticidade" das energias divinas é uma invenção de Gregório Palamas ou uma doutrina que já tinha precedentes na Sagrada Escritura e na Patrística. Através de uma acurada análise dos textos da Escritura e do pensamento de alguns dos maiores Padres gregos, Lossky consegue estabelecer que a distinção entre a essência e as energias das operações divinas, tal como é ensinada por Palamas e pelos concílios do século XIV, "é a expressão dogmática da Tradição relativa aos atributos cognoscíveis de Deus que encontramos nos Capadócios e mais tarde em Dionísio, em sua doutrina sobre as uniões e distinções divinas, sobre as virtudes ou raios da treva divina, cuja distinção da essência dá lugar a dois caminhos teológicos: o caminho afirmativo e o negativo; um revela Deus, o outro conduz à união na ignorância".A última obra, À L'Image et à la Ressemblance de Dieu, é uma coletânea de artigos em que o autor retoma e desenvolve alguns dos temas que mais lhe são caros (a "apofaticidade", o conceito de pessoa, a processão do Espírito Santo, a catolicidade da Igreja), investigando sua validade através do estudo do pensamento dos Padres orientais. De capital importância é o ensaio intitulado La Procession du Saint-Esprit dans la Doctrine Ortodoxe, tradução da conferência mantida em Oxford em 1947: contém a quintessência do pensamento de Lossky.






PENSAMENTOS DE VLADIMIR LOSSKY






"A distinção entre a essência e as energias - fundamental para a doutrina ortodoxa sobre a graça - permite que conserve seu sentido real a expressão de São Pedro: «partícipes da natureza divina». A união a que estamos chamados não é nem hipostática como para a natureza humana de Cristo, nem substancial como para as três pessoas divinas: é a união com Deus em suas energias ou a união pela graça que nos faz participar na natureza divina, sem que nossa essência se converta por isso na essência de Deus. Na deificação se possui pela graça, quer dizer nas energias divinas, tudo o que Deus tem por natureza, salvo a identidade de natureza, segundo o ensino de São Máximo. Se permanece criatura, convertendo-se simultaneamente em Deus pela graça, como Cristo seguiu sendo Deus ao converter-se em homem pela encarnação".




“A via negativa do conhecimento de Deus é uma démarche ascendente do pensamento, que elimina progressivamente do objeto que quer alcançar toda atribuição positiva para realizar finalmente uma espécie de apreensão pela ignorância suprema Daquele que não poderia ser um objeto de conhecimento. Pode-se dizer que é uma experiência intelectual do fracasso do pensamento diante de um além inconcebível. Com efeito, a consciência do fracasso do entendimento humano constitui o elemento comum a tudo que se pode denominar apofasia ou teologia negativa, quer seja dentro dos limites da intelecção, constatando simplesmente a inadequação radical entre nosso pensamento e a realidade que quer alcançar, ou quer deseje superar os limites do entendimento, prestando à ignorância daquilo que Deus em sua natureza inacessível o valor de um conhecimento místico superior ao intelecto - hyper noun”.




"A existência de uma atitude apofática, de uma superação de tudo aquilo que provém da finitude criada, está implicada no paradoxo da revelação cristã: o Deus transcendente torna-se imanente no mundo, mas também na imanência de sua economia, que leva à encarnação e à morte na cruz, ele se revela como transcendente, como ontologicamente independente de qualquer ser criado. Essa é a condição sem a qual seria impossível conceber o caráter voluntário e absolutamente gratuito da obra redentora de Cristo e em geral de tudo aquilo que é 'economia' divina, começando pela criação do mundo, a respeito da qual a expressão ex nihilo deve assinalar justamente a ausência de qualquer necessidade ex parte Dei, uma certa contingência divina, se podemos assim dizer, no ato da vontade criadora".




"É a diversidade absoluta das três hipóstases que determina as diferentes relações e não o contrário. Aqui, o pensamento se detém diante da impossibilidade de definir uma existência pessoal na sua diferença absoluta e tem que adotar uma atitude negativa para declarar que o Pai privado de início (ánarkos) não é nem o Filho nem o Espírito Santo; que o Filho gerado não é nem o Espírito Santo nem o Pai; que o Espírito Santo oriundo do Pai não é nem o Pai nem o Filho. Não se pode falar aqui de relações de oposição, mas apenas de relações de diversidade. Seguir nessa questão um caminho positivo e conceber as relações de origem de outro modo que como sinais da diversidade inexprimível das pessoas significaria suprimir o caráter absoluto dessa diversidade pessoal, ou seja, relativizar a Trindade e, de certo modo, despersonalizá-la".




"Se se quisesse introduzir aqui, em conformidade com a fórmula latina (do filioque), uma nova relação de origem, fazendo o Espírito Santo proceder do Pai e do Filho, a 'monarquia' do Pai, essa relação pessoal que cria a unidade e a trindade ao mesmo tempo, cederia lugar a uma outra concepção: a da substância una, na qual as relações interviriam para basear a distinção das pessoas, e a hipóstase do Espírito Santo seria apenas um laço recíproco entre o Pai e o Filho. Se se percebeu a tônica diferente das duas doutrinas trinitárias então se compreenderá porque os orientais sempre defenderam o caráter inefável, apofático, da processão do Espírito Santo do Pai, fonte única das Pessoas, contra uma doutrina mais racional que, fazendo do Pai e do Filho um princípio comum do Espírito Santo, colocava o comum acima do pessoal, uma doutrina que tendia a enfraquecer as hipóstases, confundindo as pessoas do Pai e do Filho no ato natural da expiração e fazendo da pessoa do Espírito Santo o laço entre ambas".




"Se Deus é verdadeiramente o Deus vivo da revelação e não a essência simples dos filósofos, então ele só pode ser Deus-Trindade. Essa é uma verdade primária que não pode estar baseada em nenhum raciocínio, porque toda razão, toda verdade e todo pensamento se apresentam como posteriores à Trindade, fundamento de qualquer ser e de qualquer conhecimento".




"A vida terrestre de Cristo foi um contínuo abaixamento: a sua vontade humana renunciava incessantemente àquilo que lhe era próprio por natureza e aceitava aquilo que era contrário à humanidade incorruptível e deificada: a fome, a sede, o cansaço, a dor, os sofrimentos e, por fim, a morte na cruz. Assim, pode-se dizer que, antes do fim da obra redentora, antes da ressurreição, a pessoa de Cristo tinha em sua humanidade como que dois pólos diversos: a incorruptibilidade e a impassibilidade naturais próprias de uma natureza perfeita e deificada e, ao mesmo tempo, a corruptibilidade e a sujeição voluntariamente assumidas, condições às quais a sua pessoa 'quenótica' submeteu e submetia sem pausas a sua humanidade livre do pecado".




"Assim, toda a realidade de nossa natureza decaída - inclusive a morte -, todas as condições essenciais que eram resultado do pecado e, como tais, tinham um caráter de pena, castigo e maldição, foram transformadas pela Cruz de Cristo em condições de salvação".




"Precisaríamos muito mais dizer que o Espírito Santo se cancela, enquanto pessoa, diante das pessoas criadas às quais ele dá a graça. Nele, a vontade de Deus já não nos é mais externa: ela nos dá a graça desde o interior, manifestando-se em nossa própria pessoa, até que nossa vontade humana permaneça de acordo com a vontade divina e coopere com ela na obtenção da graça, fazendo-a nossa. É o caminho da 'deificação' que termina no Reino de Deus, introduzido nos corações pelo Espírito Santo desde a vida presente. Isso porque o Espírito Santo é a unção régia que repousa sobre Cristo e sobre todos os cristãos chamados a reinar com ele no século futuro. Então, essa pessoa divina desconhecida, que não tem sua imagem numa outra hipóstase, se manifestará nas pessoas 'deificadas': sua imagem será a multidão dos santos".




"A kénosis é o modo de ser da pessoa divina enviada ao mundo, pessoa na qual se cumpre a vontade comum da Trindade, da qual o Pai é a fonte. As palavras de Cristo 'o Pai é maior do que eu' expressam essa renúncia 'quenótica' à própria vontade".




"Para que a teologia trinitária se tornasse possível, foi necessário que a apófase presidisse ao despojamento do pensamento, forçado a elevar-se a uma noção de Deus que transcende toda relação com o ser criado, absolutamente independente, naquilo que é, da existência das criaturas".




"O ponto final a que chega a teologia apofática (se é que se pode falar de fim e de chegada onde se trata de uma elevação para o infinito) não é uma natureza ou uma essência, nem tampouco uma pessoa, mas algo que supera ao mesmo tempo toda noção de natureza e pessoa: é a Trindade".




"A perfeição da pessoa se realiza no abandono total, na renúncia a si mesma. Cada pessoa que procura se afirmar acaba somente na fragmentação da natureza, no ser particular, individual, que cumpre uma obra contrária à de Cristo".




"Enquanto ser criado à imagem de Deus, o homem apresenta-se como ser pessoal, como pessoa que não deve ser determinada pela natureza, mas que pode determinar a natureza, assimilando-a ao seu Arquétipo divino".




"É-nos mais fácil imaginar a pessoa que quer, que se afirmar, que se impõe com sua vontade. Entretanto, a idéia de pessoa implica a liberdade diante da natureza; a pessoa é livre por natureza, não é determinada por ela. A hipóstase humana só pode se efetivar na renúncia à vontade própria, àquilo que nos determina e nos subjuga a uma necessidade natural. O individual - a afirmação de si na qual a pessoa se confunde com a natureza e perde a sua verdadeira liberdade - deve ser despedaçado. É o princípio fundamental do ascetismo: a livre renúncia à própria vontade, a um simulacro de liberdade individual, para recuperar a verdadeira liberdade, a liberdade da pessoa que é a imagem de Deus, própria de cada um".





3)- GUSTAVO GUTIERREZ MERINO (1928- ) – Católico









Gustavo Gutiérrez Merino nasceu em Lima, Peru, em 8 de junho de 1928. É é um teólogo peruano e sacerdote dominicano, considerado por muitos como o fundador da Teologia da Libertação.Sofreu de osteomielite na infância e adolescência, permaneceu em cadeira de rodas dos doze aos dezoito anos. Ao recuperar a mobilidade, estudou medicina e letras na Universidad Nacional Mayor de San Marcos. Foi militante da Ação Católica, o que o motivou a aprofundar os estudos teológicos. Decidido pelo sacerdócio, entrou para o seminário em Santiago do Chile. Estudou Filosofia e Psicologia na Universidade Católica de Louvain, Bélgica. Seus estudos de Teologia foram efetuados na Universidade Católica de Lyon, França, na Universidade Gregoriana de Roma e no Instituto Católico de Paris, chegando ao grau de doutor.Foi ordenado sacerdote em 1959. Gutierrez, na década de 60, foi o primeiro a falar na igreja dos pobres e, na década seguinte, elaborou o conceito teológico propriamente dito. É considerado por muitos o pioneiro na sistematização da Teologia da Libertação na década de 70, quando lançou o livro Teologia da Libertação. Na obra Teologia da Libertação, focaliza que o nosso Deus é o Deus da Aliança com os marginalizados e desclassificados. No livro, Gutierrez afirma que o cristianismo da misericórdia não devia ser apenas da assistência pela esmola, mas do compromisso com a superação das desigualdades sociais. Dessa forma, a Teologia da Libertação oferecia uma nova espiritualidade para o engajamento paroquial, comunitário e religioso. Isso se manifestou num "novo jeito de ser Igreja", que se concretizou nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).Nos anos 80 sofreu processo da Cúria Romana, que acusava sua obra de reduzir a fé à política.Gutiérrez cria, no fim dos anos 60, um método teológico desde e para a América Latina pobre e oprimida. Deu a essa reflexão da fé a partir do reverso da história o nome de Teologia da Libertação. Seu raio de projeção tem sido verdadeiramente impressionante: desde a teologia negra, índia, asiática, feminista, ecológica e das religiões até a teologia judaica e palestina da libertação. Gustavo é o primeiro latino-americano a se situar de igual para igual entre os grandes criadores dentro da história da teologia.Em 1998 ingressou como noviço na Ordem dos Pregadores.Possui 23 títulos de Doutor Honoris Causa outorgados por universidades de diversos países: 5 no Peru, Argentina, Holanda, Suiça, dois na Alemanha, dez nos Estados Unidos, dois no Canadá e também na Escócia, obtidos entre 1979 e 2006. Ganhou o Prémio Príncipe das Astúrias em 2003 na Categoria Comunicação e Humanidades.Atualmente Gutierrez vive e trabalha entre os pobres em Lima. Em seus livros, Gutiérrez explica sua visão da pobreza cristã, como um ato de amor e solidariedade com os pobres e um protesto libertador contra a pobreza. Gutiérrez continua tendo responsabilidade pastoral na Igreja do Cristo Redentor em Rimac. Gutiérrez é também professor de teologia na Pontifícia Universidade Católica de Lima.No movimento da Teologia da Libertação, Gustavo Gutiérrez ocupa um lugar em destaque. A ele deve-se a primeira obra sistemática de reflexão crítica a partir da práxis histórica da libertação em confronto com a palavra de Deus, acolhida e vivenciada na fé. Em sua ótica, a teologia é representada com um ato segundo, que supõe como ato primeiro não uma práxis qualquer, mas a práxis da fé, isto é, uma espiritualidade caracterizada pelo compromisso com o outro - que no contexto latino-americano é o empobrecido - e, então, pela luta em prol da justiça que o Deus da vida não só comanda mas compartilha. Trata-se de uma teologia "do avesso da história", que se deixa provocar pela indentificação de Cristo com os oprimidos e leva os cristãos a "descer do inferno deste mundo", e a "comungar com a miséria, com a injustiça, com as lutas e com as esperanças dos condenados da Terra, porque deles é o Reino dos Céus". Nesse sentido, o objetivo da teologia é "apologético" no significado mais elevado: dar testemunho do Deus da vida que escuta o grito do pobre.




Principais Obras:



- Teologia da libertação

- O Deus da vida

- A força histórica dos pobres

- Beber no próprio poço - Itinerário espiritual de um povo.

- Onde dormirão os pobres?






PENSAMENTOS DE GUSTAVO GUTIERREZ














"Vivemos numa época dominada pela economia liberal, ou, se se preferir, neoliberal. O mercado irrestrito, chamado a regular-se com as suas próprias forças, passa a ser o princípio, quase absoluto, da vida económica. O célebre e clássico "deixar fazer" do início da economia liberal postula hoje de forma universal – pelo menos na teoria – que toda a intervenção do poder político, mesmo para atender a necessidades sociais, prejudica o crescimento económico e redunda em prejuízo geral. Por isso, se se apresentam dificuldades nos rumos económicos, a única solução é mais mercado."




"Não há duas histórias, uma da filiação e outra da fraternidade, uma em que nos fazemos filhos de Deus e outra na qual nos tornamos irmãos entre nós. É isso o que o termo ´libertação` quer destacar".




"Na raiz de nossa existência pessoal e comunitária se acha o dom da autocomunicação de Deus, a graça de sua amizade enche de gratuidade a nossa vida. Faz-nos ver como um dom nossos encontros com os outros homens, nossos afetos, tudo o que acontece".




"Assim, desprendidos de nós mesmos, chegamos ao outro libertos de toda tendência de impormos uma vontade que lhe seja alheia, respeitosos de sua própria personalidade, de suas necessidades e de suas aspirações. Dado que o próximo é o caminho para chegarmos a Deus, a relação com Deus será a condição necessária para o encontro, para a verdadeira comunhão com o outro".



"A verdade é que um cristianismo vivido no compromisso com o processo libertador, apresenta problemas próprios que não se podem descurar e encontra escolhos que importa superar. Para muitos, o encontro com o Senhor, nessas condições pode desaparecer em benefício do que ele próprio suscita e alimenta: o amor do homem. Amor que desconhecerá, então, toda a plenitude que encerra".




"Neste contexto, a teologia será uma reflexão crítica a partir de e a respeito da práxis histórica diante da palavra do Senhor acolhida e vivida na fé".




"Mais do que o pai da Teologia da Libertação, eu gostaria de ser conhecido como um daqueles que contribuíram para libertação da Teologia".




"Senti-me muito tocado pela fundamentação do júri que outorgou o prêmio, por sua referência ao mundo pobre e à América Latina, aos quais escolhi dedicar minha vida. Pode ser que a Teologia da Libertação não esteja mais atual. Infelizmente, porém, desgraçadamente, permanece atual a realidade da pobreza que suscitou o seu nascimento".




"Conversão significa transformação radical de nós mesmos, significa pensar, sentir e viver como Cristo presente no homem despojado e alienado."




"O discurso sobre Deus vem depois do silêncio da oração e do compromisso."




"Precisamos conceber a história como um processo de libertação de homens e mulheres no qual este vão assumindo conscientemente seu próprio destino..."




"A fé não é coisa que se conserve num cofre-forte para a proteger, é vida que se exprime no amor e na dedicação aos outros. Nos Evangelhos ter medo equivale a não ter fé... A parábola dos talentos ensina-nos que uma vida cristã, baseada não na formalidade, na auto-proteção e no medo, mas na gratuidade, na coragem e no sentido do outro, constitui a alegria do Senhor. E a nossa".




"Para mim fazer teologia é escrever uma carta de amor ao Deus em que eu creio, ao povo ao que pertenço e a Igreja da que formo parte".




"Além de qualquer dúvida, a vida do pobre é marcada pela fome e pela exploração, cuidado médico inadequado, ausência de habitação digna, dificuldade em alcançar alguma educação, salários injustos e desemprego, lutas por seus direitos e também repressão. Ma não é tudo. Ser pobre é também uma forma de sentir, conhecer, pensar, fazer amigos, amar, crer, sofrer, celebrar e rezar. O pobre constitui um mundo em si mesmo. Compromisso com o pobre significa entrar e, por vezes permanecer neste universo, com uma consciência muito mais clara; significa ser um dos seus habitantes, olhando para ele como local de residência e não só de trabalho. Não significa ir a este mundo pontualmente, para testemunhar o Evangelho, mas antes, dele emergir, cada manhã, com o propósito de proclamar as boas novas a todo ser humano… Vemos com clareza crescente que se exige uma imensa dose de humildade para que as pessoas se comprometam com os pobres dos nossos dias".




"Uma espiritualidade é uma forma concreta, movida pelo Espírito, de viver o Evangelho. Maneira precisa de viver 'diante do Senhor' em solidariedade com todos os homens, 'com o Senhor' e diante dos homens"




"Aos países pobres não interessa repetir o modelo dos países ricos, entre outras coisas, porque estão cada vez mais convencidos de que a situação daqueles é fruto da injustiça, da coerção. Para eles, trata-se de superar, é certo, as limitações materiais, a miséria, mas para chegar a um tipo de sociedade que seja mais humana".




"Uma teologia que não se situe no contexto de uma experiência de fé corre o risco de converter-se numa espécie de metafísica religiosa, numa roda que gira no ar sem mover o carro"




"A espiritualidade é uma aventura comunitária, passo de um povo que percorre o próprio caminho, em seguimento a Jesus Cristo, através da solidão e das ameaças do deserto. Experiência espiritual que é o poço do qual teremos de beber. Ou, quem sabe, na América Latina de hoje, o nosso cálice, promessa da ressurreição".




"Situar-se na perspectiva do Reino é participar da luta pela libertação dos homens oprimidos por outros homens. Isto é o que começaram a viver muitos cristãos, ao comprometer-se com o processo revolucionário latino-americano. Se esta opção parece afastá-los da comunidade cristã, é porque muitos nela, empenhados em domesticar a boa-nova, olham-nos como membros agressivos e até perigosos"




"Uma espiritualidade da libertação deve estar impregnada de vivência de gratuidade. A comunhão com o Senhor e com todos os homens, é antes de tudo, um dom. Daí a universalidade e a radicalidade da libertação trazida por Ele"




"Mais do que teologias, os testemunhos vividos é que assinalarão e já estão assinalando o rumo de uma espiritualidade da libertação".





4)- MARIE-DOMINIQUE CHENU (1895-1990) - Católico







Marie-Dominique Chenu, OP (1895-1990), foi teólogo francês com grande influência no Concílio Vaticano II. Nascido em Soisy-sur-Seine, França, a 7 de janeiro de 1895, e falecido a 11 de fevereiro de 1990, com 95 anos.Entrou para a Ordem dos Pregadores em 1913 e concluiu os seus estudos, em Roma, em 1920, tornando-se professor no convento de Le Saulchoir. Especialista em história da Idade Média, foi efetuando também estudos teológicos. Um dos seus primeiros livros Une école de teologie (1937), foi em 1942 colocado no Index, o índice dos livros proibidos da Igreja Católica. Soube da notícia pela rádio e profundamente o afeta, tanto mais que era superior do seu convento, nessa mesma noite demitiu-se do seu cargo diretamente ao arcebispo de Paris, que lhe disse para ter calam, pois «dentro de 20 anos todos falaremos como você». Depois da II Grande Guerra, entre 1946 e 1952 foi professor na Universidade da Sorbone, em Paris. Reabilitado, ainda que não de forma completa, pois apenas pode participar no Concílio Vaticano II como consultor de um bispo de Madagascar, veio a ser reconhecido como um dos mais influientes teólogos do século XX.Foi diretor do Bulletin thomiste de 1924 a 1934; diretor da Revue des sciences philosophiques et théologiques de 1928 a 1934; fundador do Institut d'études médiévales, anexo à Universidade de Montreal (em 1932); membro da Société de philosophie, de Lovaina; presidente da Société thomiste; colaborador de numerosas revistas de teologia, filosofia e história; consultor do Secretariado para os não-crentes.




Foi fundador da revista teológica Concilium. Grande especialista em Santo Tomás de Aquino.Um primeiro olhar aos escritos de Chenu pode dar a impressão de haver um certo dualismo em sua obra: parece que de um lado está o historiador, de outro o teólogo; de um lado, como disse o próprio Chenu em uma conferência a um grupo de seminaristas, parece estar "um velho medievalista de certa fama, imerso na leitura de textos antigos, estofado de erudição, ligado aos velhos séculos da cristandade, em uma tradição que se obstina a manter-se em meio ao mundo contemporâneo; do outro, um jovem que se lança indócil na confusão do mundo contemporâneo, extremamente sensível aos seus apelos, pronto a enfrentar os problemas delicados do mundo e da Igreja. E, por isso, discutido e até mesmo suspeitado junto a certas pessoas". Na realidade, assegura-nos o próprio interessado, há um só e idêntico Chenu; nele, o historiador da idade Média e o teólogo moderno constituem uma só coisa.Foi o historiador que ensinou ao teólogo, a distinguir nas coisas, aquilo que é perene daquilo que é mutável, e que o tornou sensível aos sinais dos tempos. Somente um profundo conhecedor da história da Igreja, da humanidade e da teologia, poderia delinear as soluções que ele elaborou para os difíceis problemas da natureza e das tarefas da teologia, da missão da Igreja no momento presente, do valor da matéria, das realidades terrestres, do trabalho, da socialização e de outros aspectos típicos do nosso tempo.A produção de Chenu no campo especulativo não é muito vasta. Ele excluiu conscientemente a hipótese de reescrever a teologia do início ao fim, como se tudo o que foi feito pelos teólogos do passado carecesse de valor.Chenu não compartilha o parecer daqueles que consideram a teologia de nossos antepassados como totalmente envelhecida e morta.Segundo ele, no que se refere a certos problemas, ela pronunciou uma palavra que vale para sempre e cunhou uma linguagem teológica que não é defeituosa nem incompreensível. Ao contrário, ele fez ver que a teologia medieval possui um repertório lingtiístico inexaurível, além de doutrinas de valor perene.Chenu não concebe a teologia como uma empresa individual, que cada qual pode tentar por conta própria, mas sim como um trabalho da Igreja inteira, um trabalho que se realiza lenta e continuamente, através da obra dos teólogos em particular. Coerente com essa concepção, ele assumiu a tarefa de ampliar o saber teológico em algumas direções ainda inexploradas, mas de capital importância, dada a situação em que se debate atualmente a humanidade. E, assim, enfrentou os problemas do valor da matéria, do trabalho, da socialização, das tarefas do laicato, da natureza da teologia. E foi nesses pontos que sua contribuição ao desenvolvimento da teologia tomou-se determinante.




PENSAMENTOS DE DOMINIQUE CHENU













"Dado que a palavra de Deus se exprimiu em linguagem humana, moldando-se às palavras, frases, imagens, estrutura, géneros literários da palavra humana, essa ‘escrita divina’ encontrará as suas vias de inteligibilidade através da interpretação das palavras, das frases, das figuras, dos géneros literários da linguagem humana."




"Aquilo mesmo mediante o qual a teologia é ciência é aquilo pelo qual ela é mística".




"O cristianismo é sem dúvida, o mistério de Cristo que vive, morre e ressuscita em mim. Porém, como se realizou este mistério? Numa incarnaçao, isto é, numa vinda de Deus no tempo e na história. O cristianismo a partir daí não mais é uma evasão; mas uma recapitulação, segundo a própria expressão de S. Paulo. Um retomar e um recuperar de toda a criatura em Cristo, até à divinização através do homem".




"Historia est magistra vitae: máxima admirável que condensa, ao mesmo tempo, uma experiência milenar e um princípio de elevada cultura. É urgente que, contra as reivindicações infantis de uma espontaneidade que se afirma a única criadora, se medite sobre as lições e as leis da História (...). O enraizamento inteligente no passado é a garantia da projecção do futuro; o presente não é mais que o ponto nevrálgico desta dialética."




"Por causa de um errado sobrenaturalismo, alguns teólogos – católicos e protestantes, estes em maior numero – dividiram a realidade ao reduzir a profissão à natureza para enaltecer a vocação com a graça".




"O fato social humano não permanece exterior à incarnaçao, é até o lugar privilegiado da consumaçao da incarnaçao. A humanidade é uma expressão muito simples, porém, vejamo-la em toda a sua força: a humanidade é o corpo místico de Cristo e a entrada na posse do mundo pela qual o homem realiza o destino de toda a criatura, marca, nas suas etapas económicas, o desenvolvimento místico do empreendimento divino".





"O cristianismo situa-se no tempo vinculando-se assim à história. É uma força histórica na transformação do mundo e isto, não somente em virtude de quaisquer benefícios esporádicos, mas como um fermento que faz levedar a massa. A salvação é sem dúvida pessoal e realiza-se numa comunhão exclusiva e íntima com Deus. Não se pode porém efetuar fora da comunidade humana".




"Deus é a verdade substancial, fim plenificador de todos os meus desejos. Não é um conceito, nem são proposições, nem um sistema de pensamento, mas aquele em quem reconheço agora o todo de minha vida, o objeto deleitável de minha felicidade".





5)- GHIORGHIU VASILIEVICH FLOROVSKI (1893) - Ortodoxo













Ghiorghiu V. Florovsky foi um teólogo e sacerdote Ortodoxo. Nasceu nos arredores de Odessa em 28 de agosto de 1893. Na época, seu pai Basílio era capelão e professor de religião num colégio da cidade. Sua mãe, Cláudia Poprouzhenko, descendia do meio clerical. Recebeu a educação inicial de seus pais; herdou deles profunda piedade e um conceito muito elevado do que fosse religião. Assimilou de seus pais um sentido de profunda piedade e um conceito muito elevado de tudo aquilo que diz respeito à religião: a Igreja, os ícones, a liturgia, a Tradição, o clero.Ingressou na Universidade de Odessa, onde inicialmente estudou história e filologia e depois filosofia, psicologia e ciências naturais (química e fisiologia). Teve duas celebridades entre seus professores: o filólogo e psicólogo N. N. Tange, seguidor de W. Wundt, e o biólogo B. Babkin, discípulo de I. P. Pavlov.Em 1919, obteve o Philosophiae Magister e a livre docência em filosofia na Universidade de Odessa.Nesse meio tempo, os comunistas haviam tomado o poder e se aproximavam tempos difíceis para o clero. Em 1920, toda a família Florovsky refugiou-se na Bulgária, juntamente com uma centena de sacerdotes e intelectuais. No ano seguinte, Florovsky deixou e rumou para Praga, onde se estabelecera uma grande colônia de emigrados. Prestou novos exames para obter a livre docência em filosofia. De 1922 a 1926, lecionou Filosofia do Direito na Universidade de Praga.Durante esse período, Florovsky submeteu todas as suas convicções filosóficas a uma análise crítica: abandonou o idealismo, o kantismo e o racionalismo e voltou à filosofia cristã oriental. Expressão dessa conversão filosófica foi o ensaio intitulado As astúcias da Razão, um severo exame de todos os sistemas filosóficos do século XIX, do hegelismo ao marxismo, ao cientismo de Comte, ao determinismo freudiano ou darwinista, ao naturalismo de Bergson, ao antipsicologismo de Husserl, ao neo-escolasticismo protestante e à tendência acentuadamente jurídica dos católicos romanos. Em todos esses sistemas, Florovsky denuncia a esterilização da espontaneidade criadora do homem, a coisificação da vida e o matematismo dos mistérios. Em seu lugar, propõe uma reabilitação da Tradição cristã oriental, a única, segundo ele, capaz de salvaguardar o sentido do mistério e os direitos da pessoa.Em 1925, realizou-se um sonho que os teólogos da Diáspora cultivavam há anos:A criação em Paris do Instituto Ortodoxo de São Sérgio, para a formação do clero ortodoxo destinado a prestar assistência às comunidades dos exilados e defender a Ortodoxia. A direção do Instituto foi confiada a Bulgakov; Florovsky assumiu a cátedra de Patrologia. E, assim, nosso teólogo transfere-se de Praga para Paris, onde, em 1932, foi ordenado sacerdote.Florovsky encontrou no ensino da patrologia o estímulo necessário para redescobrir aquela "Tradição cristã oriental" que se tornara o seu novo modo de "teologar" depois de seu repúdio às filosofias ocidentais, e que a polêmica em torno da visão "sofiológica" de Bulgakov, na década de trinta, tornava tanto mais urgente.Não participou diretamente da violenta polêmica que se desencadeou em torno da "sofiologia", por razões de respeito para com o diretor de sua escola. Mas ofereceu uma alternativa à teologia de Bulgakov com a publicação de dois livros, Os Padres Orientais do Século Quatro (1931) e Os Padres Orientais dos Séculos Cinco ao Oito (1933). Tais livros contêm o núcleo da "síntese neo-patrística" (ou "sacro-helenismo") com a qual se identifica a visão teológica florovskyana.Confirmando as teses apresentadas nesses dois livros, em 1937 Florovsky publicou uma obra magistral, Os Caminhos da Teologia Russa, na qual demonstrava que do século XVII em diante a teologia ortodoxa se afastara da tradição patrística, sofrendo profundas infiltrações por parte das teologias católica e protestante.O ecumenismo vinha sendo favorecido pela Igreja Ortodoxa Russa desde a Primeira Guerra Mundial. Florovsky, porém, só começou a se interessar por ele quando se estabeleceu em Paris. Naquela cidade, Berdiaev fundara um círculo ecumênico abrilhantado por nomes ilustres, como Bulgakov, Zenkovsky, Boegner, Maury, Maritain, Marcel e Gilson. Florovsky inscreveu-se no círculo logo que se transferiu para o Instituto São Sérgio. Em 1931, Karl Barth convidou Florovsky para pronunciar uma conferência sobre a Revelação na Universidade de Bonn. Foi um acontecimento memorável na história do ecumenismo. Em 1937, participou da Conferência Ecumênica de Edimburgo e causou uma forte impressão. Ao término do encontro, foi escolhido para participar do Comitê dos Catorze, encarregado de preparar o Conselho Mundial das Igrejas. Desde então, sempre esteve presente em todos os grandes encontros ecumênicos. E desses encontros nasceram alguns dos escritos mais significativos do nosso autor. Criticou vigorosamente a expressão "Conselho Mundial das Igrejas".Para Florovsky, o plural "Igrejas" era inadmissível. "Ainda que a desgraça das divisões cristãs", declarou o teólogo de Odessa, "nos obrigue a reconhecer muitas confissões, só há uma única Igreja, a Igreja Ortodoxa, que tem uma função missionária no seio do Conselho Mundial." Em 1950, na Conferência de Toronto, lutou até o fim pela inserção no relatório final do esclarecimento de que a participação no Conselho Mundial das Igrejas não implica para qualquer Igreja-membro a obrigação de reconhecer às outras Igrejas-membros o título de Igreja no verdadeiro sentido da palavra. Nessa questão da definição eclesiológica do Conselho Mundial, Florovsky mostrou-se inarredável, fazendo dela uma conditio sine qua non para a participação da Ortodoxia. Na Conferência de Evanston (1954), lançou uma conclamação a um novo tipo de ecumenismo: "Ao ecumenismo no espaço deve-se acrescentar também um ecumenismo no tempo", ou seja, uma nova tomada de contato com os grandes momentos da Tradição apostólica, essencialmente salvaguardados pela Ortodoxia.São especialmente memoráveis dois relatórios que leu diante do Congresso Teológico Pan-Ortodoxo de Atenas (1936), Westliche Einflüsse in der Russischen Theologie e Patristics and Modern Theology. O primeiro trata da "pseudomorfose" da teologia oriental sob as influências latinas e protestantes; o segundo apresenta o programa de "re-helenização da Ortodoxia".Durante a Segunda Guerra Mundial, nosso teólogo buscou refúgio inicialmente na Suíça, depois na Iugoslávia e finalmente na Tchecoslováquia. Depois da guerra, retornou a Paris.Em 1949 ingressou na Faculdade de Teologia da Universidade de Harvard, na qualidade de professor de História da Igreja Oriental. No ambiente sereno e acolhedor de Harvard, passou a se dedicar novamente à pesquisa científica. Desenvolveu e aperfeiçoou sua "síntese neopatrística" e organizou um grupo de estudos sobre o tema "Teologia e História".Quando do anúncio da convocação do Concílio Vaticano II, embora se alegrando com o acontecimento, Florovsky manifestou algumas reservas ao convite enviado por Roma à Igreja Ortodoxa para que enviasse alguns de seus membros da hierarquia como observadores. Pareceu-lhe um sistema muito triunfalista e paternalista. Segundo ele, o convite devia ser endereçado somente aos teólogos.Em 1964, alcançado o limite de idade, deixou a cátedra de Harvard e ingressou na Universidade de Princeton, na qualidade de visiting professor.





PENSAMENTOS DE FLOROVSKY







"Um corpo, em suma, o corpo de Cristo; esse excelente paralelo de que se serve são Paulo nos vários textos em que descreve o mistério da existência cristã é ao mesmo tempo o melhor testemunho que se possa prestar da experiência íntima da Igreja apostólica. Não é absolutamente metáfora acidental: é muito mais um resumo da fé e da experiência".




"As outras imagens e analogias de que se vale são Paulo e o resto do Novo Testamento acentuam do mesmo modo a unidade orgânica entre Cristo e os crentes; o alicerce construído com pedras múltiplas e vivas, que no entanto se apresenta como uma única pedra; a vinha e seus ramos, e muitas outras imagens, todas elas servem ao mesmo objetivo principal. Dentre elas, a imagem do Corpo é a mais forte e a mais expressiva"




"A Igreja é o Corpo de Cristo porque e na medida em que (pour autant) ela é o seu complemento... Noutros termos, a Igreja é a extensão e a 'plenitude' da Encarnação, ou melhor, da vida encarnada do Filho, 'junto a tudo aquilo que foi feito por nossa salvação: a Cruz e o Sepulcro, a Ressurreição ao terceiro dia, a Ascensão aos céus, o estar à direita do Pai' (São João Crisóstomo)".




"A Igreja, portanto, é o lugar e o modo da presença salvífica do Senhor, glorificado no mundo ou na humanidade que ele salvou"




"Os cristãos não são apenas unidos entre si; antes de mais nada, eles são uma unidade em Cristo e só essa comunhão com Cristo torna possível a comunhão dos homens, nele. O centro da unidade é o Senhor e o poder que opera essa unidade é o Espírito Santo".




"Católico não é um nome coletivo. A Igreja ... é católica em todos os seus elementos... Cada membro da Igreja é e deve ser católico. Toda a existência cristã deve ser organicamente 'catolicizada', ou seja, reintegrada, concentrada, centralizada interiormente".



"Cristo é o mesmo, ontem, amanhã e sempre. Nele todas as gerações cristãs estão unidas".




"A função principal da Igreja no mundo é precisamente reunir os indivíduos dispersas e separados, incorporando-os numa unidade orgânica e viva, em Cristo"



"É através do seu bispo ou, mais exatamente, no seu bispo que cada igreja local ou particular se inclui na totalidade da Igreja católica. Através do seu bispo, ela é colocada em contato com as fontes primeiras da vida carismática da Igreja, ligada a Pentecostes"



"Aquilo que realmente se exige não é uma linguagem nova ou novas visões gloriosas, mas unicamente uma melhor vida espiritual que nos torne novamente capazes de discernimento no âmbito da plenitude da experiência católica".



"A primeira tarefa para a geração atual de teólogos ortodoxos é restaurar em si mesmos a capacidade de sacrifício que lhes permita não tanto exprimir as próprias idéias ou as próprias visões, mas unicamente prestar testemunho da fé imaculada da Mãe Igreja. Cor nostrum sit semper in Ecclesia!"






6)- BERNHARD HÄRING (1912-1998) - Católico







Nasceu em 1912 em Böttingen (Alemanha). Ordenado sacerdote em 1937, participou como soldado enfermeiro na frente russa na II Guerra Mundial (1940-1945). Terminada a guerra, obteve o doutorado em teologia em Tubinga. Desde 1949 dedicou-se ininterruptamente ao estudo e à docência da teologia moral. Ao final do curso acadêmico, 1987-1988, deu sua última lição na Academia Alfonsiana de Roma. Desde 1988, residiu em Gars, povoado próximo de Munique.O nome de Häring está vinculado, indissoluvelmente, à renovação da teologia moral católica. O que fizeram, em princípios do séc. XX, P. Lippert, R. Guardini, K. Adam no campo da teologia dogmática, fez ele uns anos mais tarde no terreno da teologia moral. Sua tentativa foi redescobrir uma moral bíblica em torno da idéia da imitação de Cristo. O repúdio a uma moral casuísta e ao juridicismo foi o que o guiou em seu esforço para recriar uma moral católica.Esse repúdio é dirigido contra o moralismo e propõe uma superação do formalismo e do legalismo para dar a primazia ao amor, que é a vida com Cristo e em Cristo. Resgata para a moral cristã o personalismo como relação da pessoa com o tu, com o tu absoluto: Deus.Realiza essa volta ao enfoque essencial da moral em sua obra fundamental A lei de Cristo - Teologia moral para sacerdotes e leigos (1954), que o transforma num dos pais da nova teologia moral católica. Por sua concepção, estrutura e estilo, a obra conseguiu interessar a grandes setores do mundo eclesiástico, apesar de seus três grossos volumes. As edições sucederam-se ininterruptamente ao longo desses 40 anos, tanto em alemão quanto em suas traduções para as línguas cultas.





Seus esforços para conseguir uma síntese vital entre a moral e a vida, partindo da superação da dicotomia existente entre o dogma e a moral, cristalizam-se nestas coordenadas:






1. Uma moral do credo. Häring parte do mistério da salvação, que ele resume na palavra central da Bíblia: “Basiléia”, o reino. Este expressa tanto o domínio quanto o reinado de Deus, não pela força, mas pelo amor. A autenticidade bíblica deste conceito, seu conteúdo existencial, universal, missionário e escatológico, dá estrutura e forma à moral de Häring, tranformando-a em “boa notícia”, termo que repete constantemente. Dentro desta síntese destaca a espiritualidade no esquema da teologia moral. O objeto da moral não são os pecados; seu núcleo central deve ser o amor direcionado à perfeição ou à “imitação de Cristo até copiá-lo”.




2. Uma moral da vida. Na moral de Häring, fé e vida estão sempre unidas. Sua teologia moral tem muito de existencial, porque a encarna como ciência de “Deus em relação comigo”. A moral “não pode ser exercida” em forma neutra ou sem se comprometer. Daí:



a) seu conceito integral da pessoa. O homem deve ser visto inserido na realidade de seu “contexto social”: ambiente e comunidade.



b) da responsabilidade. O homem é pessoa. Por isso lhe vem o que por si e de si responda.




3. O chamado de Cristo. Somente há uma resposta quando antes há um chamado. A partir desta idéia central de responsabilidade, ramifica-se a teologia moral de Häring em torno de dois grandes núcleos: o chamado de Cristo e a resposta do homem. Em torno deste chamado de Cristo e à resposta do homem, oferece Häring todos os temas cristãos da moral cristã: a consciência, a liberdade, a lei, o pecado, a conversão, os mandamentos etc.Esse magistério de Häring através de sua obra central A lei de Cristo (Herder, 1960), ampliada e refundida em suas últimas edições sob o título de Livres e fiéis em Cristo (Paulinas), ampliou-se ao longo dos anos em quatro frentes fundamentais:



a) Publicações de livros e colaborações em revistas científicas e populares. Häring escreveu mais de 40 obras sobre os diversos problemas morais. Mencionamos algumas: Força e fraqueza da religião; Cristão e o mundo; O matrimônio em nosso tempo; A mensagem cristã e a hora presente etc.



b) Cursos e conferências a grupos especializados e a religiosos e seculares de toda classe e condição, praticamente em todas as partes do mundo.


c) Seu trabalho docente na “Academia Alfonsiana”, em contato direto com milhares de sacerdotes e educadores ao longo de 40 anos.


d) Finalmente, mas não em último lugar, Häring foi um impulsor do espírito e da obra do Concílio Vaticano II. 



Sua participação ativa e direta no Concílio, em concreto na redação da Gaudium et Spes, posteriormente no debate gerado em torno da Humanae Vitae de Paulo VI, e em geral em toda a renovação pós-conciliar da teologia moral fazem dele o pioneiro e o impulsor do movimento renovador no campo moral do espírito do concílio.
Somente resta dizer que, apesar do reconhecimento unânime e universal que seu trabalho obteve, ou talvez por isso, sua pessoa e sua obra viram-se submetidas recentemente a um “processo doutrinal” por parte da Congregação da Doutrina da Fé (1975-1979). Conta os pormenores em seu último livro de caráter autobiográfico: Fé, história e moral. Esse processo doutrinal é a raiz da crise da Humanae Vitae em 1968. Recrudesce quando em janeiro de 1989 escreveu um artigo, pedindo ao papa uma reconsideração da doutrina oficial sobre a contracepção.Bernhard Häring faleceu no dia 03 de julho de 1998, na Alemanha.





PENSAMENTOS DE BERNHARD HÄRING














"Para viver uma existência autenticamente pessoal, a pessoa deve estar presente em si mesma, no seu próprio eu. Sem isso ser-lhe-á impossível encontrar o tu do outro"



"Não existe meio mais certo e eficaz para exercer influência direta sobre o próximo do que o bom exemplo, a força e o prestígio de uma personalidade modelar"



"O primeiro grito da consciência concentra-se no Eu (sem por isso se revestir de egoísmo). Simplesmente o Eu ferido grita. Mas logo que, movido pela primeira dor de sua consciência, o ser humano se abre novamente aos valores, não é mais só pela dor da ferida tão bruscamente aberta que ele chora os valores perdidos, mas étambém pelo abalo que lhe causa o som da trombeta do Anjo do Juízo, que proclama altamente a sua rigorosa exigência. Sentença de condenação e apelo ao arrependimento misturam-se à dor do Eu dilacerado. Uma consciência que estremece em meio às dores, percebe com agudeza este apelo que a incita a seguir obem, apelo que significa para ela uma sentença de vida ou de morte, conforme a decisão que ela adotar. Diferente é a situação na consciência moral sã (boa consciência). Assim como a pessoa humana que desfruta de boa saúde não pensa em suas forças, não obstante elas transbordarem de plenitude, também a pessoa humana voltada inteiramente para os valores, não pensa continuamente com uma reflexão atual, naquilo que o bem proporciona ao seu bem-estar espiritual, mas rejubila-se com o bem e pratica-o por amor"



“O importante é deixar a solidariedade na perdição para entrar na solidariedade da salvação”.



"É sempre fácil encontrar um alibi para justificar a negligência de estudos mais sérios e exigentes"



"O suicídio é um sintoma de perda de consciência do sentido da vida"




"A vaidade absorve-se na alegria que advém das mínimas vantagens pessoais, sem se dar conta dos verdadeiros valores morais"



"No centro da Sagrada Escritura não estão as normas, mas Cristo, Filho Unigênito do Pai, que se fez homem para ser um de nós! Nele temos a vida. É o seu Espírito que nos dá alegria, tornando-nos livres. A nossa relação com Cristo não é algo exterior, baseada na simples imitação; aquilo que muda a nossa vida é o fato que Jesus nos dá o seu Espírito, porque quer continuar a sua vida conosco, ou melhor, em nós”.




"Para sermos livres em Cristo e libertados por Cristo, devemos fazer a escolha fundamental de seguir o Mestre e de ouvir a sua voz. A escolha da liberdade implica, intrínseca e fortemente, a fidelidade à opção fundamental: colocar Cristo no centro da nossa vida”.




“É preciso estar no ‘seguimento’ do Mestre, como outros ‘Cristos’ vivos no momento presente. Neste sentido, os elementos fundamentais de uma moral baseada no seguimento são: rejeição do moralismo, superação do formalismo e do legalismo, primado do amor, vida com Cristo e em Cristo e, sobretudo, personalismo segundo o qual a pessoa é relação com o tu. E age plena e somente em relação com o Tu absoluto, Deus”.




"Na medida em que a verdade e os valores objetivos estiverem envolvidos, a consciência humana certamente nunca será infalível. O Concílio reconhece que o erro na avaliação acontece bastante freqüentemente... Porém, quase sempre sem culpa pessoal e sem que a consciência perca a sua dignidade. Acontece isto sempre que as intenções são retas e que a consciência está procurando sinceramente a melhor solução... O mal maior se dá quando a consciência se torna insensível e cega"




"Atrás do apelo da consciência vemos, em última análise, o Deus três vezes Santo. Por certo, não é mister que se veja em cada juízo da consciência uma intervenção de Deus. Não é por revelações imediatas, ao menos habitualmente, mas através de seus dons, que o Espírito Santo nos fala. Eles aguçam a sensibilidade da nossa consciência e lhe infundem a necessária perspicácia, para que à luz da revelação divina projetada sobre as circunstâncias possamos identificar com maior facilidade a vontade de Deus... Deus fala à consciência, mas fá-lo de tal maneira que não fica poupado o esforço de formarmos juízos corretos por nós mesmos. Permanece, pois, aberta a hipótese de formularmos juízos desacertados. Na sua qualidade de voz de Deus, a faculdade da consciência estimula-nos a agir segundo aquilo que conhecemos. Neste sentido ela é infalível. Mas, o juízo como tal, pode ser defeituoso, e suas determinações emanadas da inteligência, podem ser errôneas".




"A característica mais própria da consciência é estimular a concordância da vontade com a verdade conhecida e impeli-la a procurar a verdade antes de tomar uma decisão. Assim, a consciência é verdade objetiva ou, em outros termos: consciência e autoridade de Deus que nos guia, prestam-se mútuo apoio. A própria consciência requer ensinamento e guia. Já na harmonia da criação e, sobretudo na plenitude maravilhosa de Cristo e de seu Santo Espírito que instruem a Igreja e pelos quais a Igreja nos instrui, encontra a consciência luz e direção. Para qualquer um a consciência é a suprema norma subjetiva de sua atuação moral; mas esta norma deve, por sua vez, conformar-se a uma norma objetiva. Para ser reta e autêntica, deve ela procurar por si mesma a sua norma no mundo objetivo da verdade".




"O dogma da infalibilidade da Igreja (ou do Papa) em nada fere a função da consciência moral, mas ao contrário, garante-lhe uma orientação segura nas questões fundamentais e decisivas. Ademais, uma justa determinação da infalibilidade eclesiástica indica a esfera, no interior da qual a consciência moralrecebe uma direção absolutamente segura, o terreno, no qual a consciência e a autoridade não infalível, embora autêntica da Igreja, podem entrar em conflito”.




“A consciência acha-se duplamente vinculada à autoridade civil. É uma autoridade legítima de conformidade com a lei natural, a qual confirma e determina a revelação sobrenatural. Em muitíssimos casos, a consciência necessita do concurso da sociedade e da autoridade social para conseguir um juízo bem fundamentado”.




"Não se pode falar de liberdade absoluta para a consciência, uma vez que, longe de eximir da lei, ela tem, ao contrário, a finalidade de vincular à lei do bem. Sem dúvida, cada um deve obedecer à sua consciência, isto é, fazer o bem que sua consciência, após um sincero exame, lhe indica como obrigatório. Mas existem princípios morais que todos devem conhecer. Ninguém pode apelar para a própria consciência para justificar-lhes a transgressão. Um dos maiores males de nosso tempo está em que os povos só reconhecem um número muito restrito de princípios gerais em moral. Em conseqüência disto, prepondera uma margem exagerada de liberdade a consciência culpadamente errôneas e cientemente más. O Estado tem o dever de garantir a liberdade à consciência sã e boa, mas não a licença à consciência má. Caso contrário, verificar-se-á inevitavelmente, que os bons acabam sendo submetidos à violência dos maus".





"A pessoa prudente e cônscia de suas limitações, saberá investigar e tomar conselhos; valorizará espontaneamente a submissão devida ao Magistério eclesiástico, e, acima de tudo, será humilde e dócil ao Espírito Santo. Esse é o caminho que nos leva à prática da virtude da prudência e ao exercício dos dons a ela correspondentes... O dinamismo da consciência encontra-se particularmente ameaçado no tipo de pessoa fraca que se compraz em considerar o bem ideal, mas na prática não assume nenhum compromisso com ele. É de grande importância para a cultura de uma consciência íntegra, estudarmos não somente os mandamentos e sobretudo o Bem no seu valor ‘em si’, mas de maneira semelhante ou mesmo preferencial, no apelo que eles nos dirigem. A ruína infalível da consciência é causada, antes de tudo, pela desobediência habitual e voluntária às suas exigências e pelas faltas multiplicadas sem nenhuma contrição"




“O escrúpulo é uma incerteza doentia que afeta o juízo moral. O escrupuloso vive perturbado por um medo constante de pecar. Vê em toda a parte deveres e perigos que ameaçam induzi-lo a pecar gravemente. A norma capital para o escrupuloso é obedecer incondicionalmente ao confessor, porque a consciência escrupulosa é uma consciência doente e tem absoluta necessidade de guia e de médico”.




“A fonte mais comum de nossos erros e de nossas incertezas é a ignorância mais ou menos culpável das coisas religiosas e morais... Uma consciência moral suficientemente madura não escolherá inconsideradamente o caminho mais fácil. Ela saberá atender à voz da graça e da ‘situação’ e enfrentar as asperezas de um compromisso que exija maior coragem, toda vez que uma atitude lhe pareça consultar melhor os interesses do Reino de Deus”.




"Nota peculiar do ser humano é que ele tenha história, ele é história e faz história. Os animais carecem deste tipo de memória e de consciência que permite fazer história. O indivíduo humano e a comunidade humana têm memória... somos conscientes do desenvolvimento e do declínio das culturas. Além disso, vemos a consciência da pessoa humana numa perspectiva de psicologia evolutiva"




"Sempre que penso ou falo sobre a liberdade, brota em meu coração a palavra ‘fidelidade’ a Cristo”.




“A adoração não é algo que se acrescenta ao resto da vida moral. É o coração e a força desta vida. É a expressão mais elevada de submissão fiel a Deus, fonte da liberdade criadora”.




"São Paulo nos ensina que o amor é a plenitude da lei. Mas nos ensina também que Cristo nos libertou para que sejamos livres no amor. Somos salvos por meio de uma fé que implica um firme auto-empenho pelo bem e por Deus e uma busca sincera da verdade como propósito de ação. A liberdade religiosa é condição essencial na qual se explica o empenho do cristão a dar testemunho, a convencer alguém a favor de Cristo e a servir para a salvação da humanidade inteira"




“Eu sofro com a Igreja quando vejo partes dela escravizadas por tradições mortas, em contradição com nossa fé num Deus vivente que age com seu povo em todas as épocas... Deveremos nos perguntar a nós mesmos, como povo deste tempo e desta época, como podemos chegar a uma melhor inteligência da primitiva lei de liberdade”.




"O termo ‘consciência’ deriva do latim cum (juntos) e scientia, scire (conhecer). A consciência é a faculdade moral da pessoa, o centro e o santuário íntimo onde se conhece a si mesmo no confronto com Deus e com o próximo. Mesmo que a consciência tenha uma voz própria, a palavra que ela diz não é dela: vem da Palavra na qual todas as coisas são criadas, a Palavra que se fez carne para viver, ser e existir conosco. E esta Palavra fala através da voz íntima da consciência, o que pressupõe a nossa capacidade de escutar com todo o nosso ser".Consciência significa também reflexão sobre si, conhecimento de si, estar em paz consigo mesmo, experimentar a própria totalidade que cresce ou que a ameaça. Mas, o genuíno conhecimento de si e a autêntica reflexão de si não são existencialmente possíveis sem a experiência do encontro com o outro. A pessoa alcança a sua integridade e a sua identidade somente na reciprocidade de consciências. Conhecese a unicidade do próprio eu somente através da experiência da relação entre o ‘tu’ e o ‘eu’ que conduz à experiência do ‘nós’".




“Segundo São Paulo, é evidente que não podemos honrar a Deus do íntimo de nossa consciência se não somos agradecidos e também cheios de respeito diante do impacto de nossa ação sobre a consciência vacilante de nossos irmãos”.




"A mutualidade de consciência tem suas raízes nas nossas relações de fé com Cristo. Se vivemos pelo Senhor, vivemos também um pelo outro na atenção e no respeito pela consciência do outro (Rm 14,7-8). E, uma das dimensões mais importantes da reciprocidade das consciências é o pleno reconhecimento da liberdade de consciência, e ainda mais especificamente da liberdade religiosa. Portanto, a focalização na pessoa e na reciprocidade das consciências é a base da vida comunitária e da evangelização".




“Possuímos uma consciência distintamente cristã quando nos achamos profundamente enraizados em Cristo, atentos à sua presença e aos seus dons, prontos a nos unirmos a ele em seu amor por todo o seu povo”.




“A aguda consciência dos cristãos pela justiça social, o seu empenho não violento e ativo e uma Igreja que escuta os sinais dos tempos deverão ser um símbolo real da nossa esperança com relação ao mundo que virá”.




“A vigilância resulta da tensão criativa entre o já e o ainda não que são percebidos e que recebem resposta na gratidão e na esperança. Quando se pratica a vigilância, a consciência especificamente cristã vem plasmada pela riqueza e pela tensão da história da salvação”.




"A Bíblia nos mostra a relação entre pecado e falta de saúde, sendo que as destruições internas e externas causadas pelo pecado são confirmadas de uma forma concreta. Como pode uma pessoa considerar-se saudável a nível humano se tem falhado na busca da sua verdadeira identidade e integridade? O pecado se opõe à nossa fé e, portanto, a nossa liberdade em Cristo. Especialmente o pecado habitual e a falta de arrependimento provocam feridas que atingem o nosso eu mais profundo, enquanto a consciência não cessa de invocar a totalidade da saúde".





"O ser humano é de tal maneira uma boa criação de Deus que mesmo depois de um pecado mortal, nele subsiste ainda resquícios da imagem e da semelhança de Deus, uma aspiração natural à totalidade sobre a qual a graça pode fundar-se e construir. O renascimento não é possível, porém, sem uma profunda dor, sem uma contrição na qual toda a alma é sacudida com a tomada de consciência da terrível injustiça cometida contra Deus e contra o bem".




"A Igreja e o mundo necessitam de uma consciência crítica. A palavra “critica” vem do grego krínein, que se aproxima do nosso “díscernimento”. Numa sociedade e num mundo pluralistas, os cristãos deveriam ser um fermento atuante da virtude da crítica de acordo com a visão de Deus. Cumpre também estarmos prontos para aceitar a crítica de outros, e para reconhecer nossos malogros e nossas faltas. Devemos escutar os profetas, pois eles nos sacodem e desmascaram os nossos erros".





7)- YVES MARIE-JOSEPH CONGAR (1904-1995) – Católico







Yves Congar foi um dos grandes teólogos do Concílio Vaticano II e autor de uma obra ecumênica e teológica considerável.Yves Congar é um teólogo dominicano francês, nascido em Sedan, em 1904. Foi ordenado em 1930. Esteve preso em 1940-1945 nos campos de concentração de Golditz e Lübeck. Foi fundador e diretor da coleção Unam Sanctam, e professor de teologia na faculdade de Le Saulchoir. Foi um sólido eclesiólogo, aberto ao ecumenismo e à reforma da Igreja, precursor e consultor do Concilio Vaticano II.Professor em La Saulchoir, o seu livro "Verdadeira e falsa reforma de Igreja" foi objeto de duras censuras. O seu apoio aos curas obreiros e a sua solidariedade com a causa da justiça social não fez mais que complicar a sua situação. Durante 10 anos é afastado do ensino, sancionado, marginalizado de toda atividade pública e tem que exilar-se a Jerusalém. Surpresamente, João XXIII lhe encomendará trabalhar nos mais importantes documentos do Concilio Vaticano II, junto com outros teólogos naquele momento considerados aberturistas como Joseph Ratzinger ou Henri de Lubac.Como compensação pela incomprensão que sofreu e aos anos de sofrida obediencia e silenciamento Congar foi elevado à dignidade cardinalícia por João Paulo II em 30 de outubro de 1994, recebendo o barrete de cardeal em 8 de dezembro do mesmo ano.Vítima de uma enfermidade neuronal acabou os seus días impedido fisicamente porém intelectualmente ativo. Yves Congar faleceu em 1995, em Paris.Entre suas obras, cabe destacar Verdadeira e falsa reforma da Igreja (1950), Jalones para una teología del laicado (1954), Cristãos em diálogo (1964), Tradição e tradições (1961-1963) e O Espírito Santo (1980). Congar é a ponta de lança de uma equipe numerosa de teólogos dominicanos franceses que renovaram a teologia católica ao longo dos últimos cinqüenta anos. Basta citar teólogos como Chenu, Liégé, Lelong, Cardonnel, Schillebeeckx etc.







Duas atividades fundamentais ocupam a vida de Congar:





1. O estudo da Igreja sob todos os seus aspectos. Fruto desse estudo são seus primeiros Ensaios sobre o mistério da Igreja (1952); Verdadeira e falsa reforma da Igreja (1950) onde ataca, pela primeira vez, o tema da reforma da Igreja; Balizas para uma teologia do laicato (1953), onde aborda o tema dos leigos na vida e na atividade missionária da mesma Igreja. Em 1964, formula os princípios do diálogo entre as diferentes Igrejas cristãs com Cristãos em diálogo, continuação de obras anteriores como Cristãos desunidos e Princípios para um ecumenismo católico (1957). Complemento e expressão de seu trabalho e estudo sobre o tema da Igreja é a grande coleção sobre teologia da Igreja, “Unam Sanctam”, fundada e dirigida por ele.




2. Mas Congar não tem sido apenas um homem de estudo; mas, fundamentalmente, o homem que “preparou o clima do Concílio Vaticano II”. Como teólogo do Concílio, influenciou decisivamente nos novos enfoques da teologia, na preparação de novos teólogos e, finalmente, na redação e orientação dos documentos do Concílio Vaticano II, de um modo especial, a Constituição Dogmática sobre a Igreja, A Igreja no mundo de hoje e o documento sobre o Ecumenismo. O mesmo Papa Paulo VI agradeceu publicamente a Congar pela sua colaboração ao Concílio Vaticano II.




Congar utilizou o método especulativo, próprio da escolástica como método histórico. Buscou uma aproximação com o protestantismo afirmando que a Biblia é regra para a Tradição e para a Igreja.Pero sustenta que é sob a luz da Tradição e na proclamação na comunidade eclesial que a Escritura adquire o seu sentido.Nos seus estudos sobre o Espírito Santo, parte dos escritos dos Pais da Igreja gregos como Atanasio de Alexandría e Basilio o Grande com fim de aproximar-se a posições aceitáveis para a Igreja ortodoxa, e une, como esta, eclesiología e pneumatología. Para Congar o Grande Cisma, desde o ponto de vista dogmático é fruto de perspectivas filosóficas diversas, porém expressam uma mesma fé.Congar enfatiza que a Igreja é santa, não em sí mesma, ou como qualidade dos seus membros, senão como ámbito da presença de Deus que se aproxima da mesquinhez e miseria humana (pecado), presente na comunidade eclesial. A extensão da vida divina é gratuíta (graça) sem mérito por parte da hieraquía e dos fieis que participam dela.No que atinge à catolicidade, esta há de consistir na capacidade da Igreja de assimilar e desenvolver os valores auténticos humanos e culturais, tanto de outras igrejas, como de outras religiões e de todas as culturas.Busca também fazer fincapé na relação fundamental dos leigos, através do seu compromiso com as causas justas da humanidade. A salvação cristã assume e engloba a libertação social, política, económica, cultural e pessoal dándo-lhe totalidade e plenitude na trascendencia. Aquí o compromisso, desde um imperativo cristão orientador, ha de ser radical, porém as opções do crente podem ser opináveis e faliveis e, logo, plurais.A Congar preocupa o papel da hierarquia na Igreja e não oculta críticas sinceras. Os bispos, para ele estão encurvados absolutamente na passividade e o servilismo a Roma. Defende um conceito profundo e radical de obediência frente ao simplismo insincero tipo autoridade-súdito.A atividade de Congar continuou depois do Concílio:Situação e tarefas atuais da teologia (1967) e A Igreja desde Santo Agostinho até a época moderna (1970) são contribuições geniais deste homem que, já numa cadeira de rodas, confessava que sua teologia não vale mais do que a vida de um simples cristão em pé.





PENSAMENTOS DE YVES CONGAR












“Diz-se que a Igreja não interessa mais a ninguém, que a maioria dos homens deixou de esperar dela algo que tenha o peso do real. Isso não é exato. Uma decepção dá a medida de uma esperança, um despeito a medida de um amor. Se não se esperasse mais nada da Igreja, não se falaria tanto dela...”




"Vocês não deveriam dizer que um sapateiro fabrica sapatos; mas, sim, que ele calça os cristãos... 'Fabricar sapatos' indica apenas a profissão e insinua que o único objetivo do fabricante é seu lucro pessoal".




"Aqui está o que Jesus nos deixa: o Espírito e a Noiva. Tal como Eva foi formada a partir do lado de Adão que dormia, assim o foi a Igreja, a nova Eva, formada pelo lado de Cristo crucificado. Em ambos os casos, os símbolos significaram a unidade de duas pessoas chamadas para formar uma única carne, um único corpo, no amor dos esposos destinado para a fecundidade da maternidade"




"Toda vida cristã é fundada na possibilidade melhor, na realidade de um apelo (…). Esta possibilidade de ouvir um apelo e de responder-lhe atualiza-se no máximo na conversão. O homem é capaz de modificar-se, de dar outra direção, outro sentido a sua vida (…). É, em dúvida, por isso que Jesus reconhece uma espécie de primazia para o pecador: é sempre ao vazio e ao defeituoso que ele se dirige; é somente o pobre que ele quer enriquecer. Mas, no fundo, é o único que pode ser enriquecido, porque ‘não são os que tem saúde que precisam de médico, mas os doentes’".




"O sábado era o dia da criação terminada e, por isso, é o sétimo e último dia; era a festa e o repouso do homem criado a imagem de Deus e constituído assim seu colaborador pelas suas obras; ele referia-se aos dias úteis que cumulava pelo repouso, pelo louvor, pela ação de graças. O domingo é a celebração, a aplicação ou a separação da nova criação, a dos filhos e já não a dos servos, que a ressurreição de Cristo inaugura. Por isso o domingo não está, como o sábado estava, em relação direta com os outros dias da semana ; por isso, a interrupção do trabalho se torna um elemento relativamente secundário: o domingo não é uma festa desta criação, pertence à criação nova, a do Filho, cujo princípio é este Espírito vivificador que é a realidade própria dos últimos tempos e do qual se disse que não tinha sido totalmente dado enquanto Jesus não fora glorificado.Assim, o domingo já não é o sétimo dia, o dia do repouso do trabalho deste mundo, mas o primeiro, ou então o oitavo, e recebeu nomes sensivelmente equivalentes para marcar que era o início de uma nova semana, se um novo mundo e, para além da consumação cósmica, o princípio da vida eterna, que é a dos filhos de Deus, dos que vivem a vida eterna n'Aquele que, ressuscitado dos mortos, vive doravante “para Deus” (Rm 6,10).Na medida em que os fiéis participam deste mistério, têm já em si a vida, a vida eterna, a vida filial e bem-aventurada; mas esta vida está escondida com Cristo em Deus e espera a manifestação dos filhos de Deus".




“A Palavra e sacramentos têm, aliás, uma união orgânica: a pregação é litúrgica e a celebração deve ser profética, toda esclarecida espiritualmente pela palavra, comunica seu sentido à fé dos fiéis. Mas, destas duas formas do Pão da vida, a Palavra é logicamente a primeira”




"No Evangelho, palavra e sinais caminham juntos. O sinal não toma todo o seu valor de sinal senão iluminado pela palavra”.





8)- PAUL JOHANNES TILLICH (1866-1965) - Protestante











Paul Johannes Oskar Tillich nasceu em 20 de agosto de 1886, em Starzeddel, Alemanha. Foi um teólogo alemão-estado-unidense. Tillich foi comtemporâneo de Karl Barth, e um dos mais influentes teólogos protestantes do século XX.Estudou sucessivamente a filosofia e a teologia em Berlin, Tübingen e Halle, sendo contemporâneo de Karl Barth e Rudolf Bultmann. Suas teses foram dedicadas à filosofia religiosa de Schelling.Ordenado em 1912, foi pastor da Igreja luterana evangélica de Brandeburgo; participou da Primeira Guerra Mundial como capelão de guerra. Até 1933, lecionou em Berlin, Marburg, Dresden, Leipzig e Frankfurt. Em 1929 sucedeu Max Scheler na cátedra de filosofia e psicologia de Frankfurt. Desempenhou um papel importante na fundação da Escola de Frankfurt, tendo orientado a tese de doutorado de Theodor Adorno. Foi fundador, com um grupo de amigos, do movimento intelectual do "socialismo religioso".Tendo perdido sua cátedra por causa de suas posições anti-nazistas, Tillich emigrou para os Estados Unidos em 1933, a convite dos amigos Reinhold e Richard Niebuhr. De 1933 a 1955, foi professor de Teologia Filosófica no Union Theological Seminary e na Columbia University (New York).Nacionalizou-se americano e lecionou nas universidades de Harvard e de Chicago. Nesta última cidade, coordenou importantes seminários de estudos da religião com Mircea Eliade. Depois da Segunda Guerra, fez freqüentes viagens a Europa para cursos e conferências. Recebeu o prêmio da paz dos editores alemães em 1962.Harvard e Chicago ocuparam os últimos anos de sua docência como teólogo protestante.Paul Tillich foi casado com Hanna Tillich e tiveram dois filhos.Faleceu em Chicago, em 22 de outubro de 1965.As pesquisas de Paul Tillich contribuíram também para o existencialismo cristão. Tillich é tido, ao lado de Karl Barth, como um dos mais influentes teólogos protestantes do século XX.Tillich deixou uma densa obra e numerosos discípulos, que seguiram e aplicaram sua doutrina. Seu pensamento aparece como uma ponte entre o sagrado e o profano. Não confunde as duas esferas, mas tende a explicitar o sentido religioso, implícito nas profundezas do ser, de todo ser. A tentativa apóia-se nestes conceitos-base: o limite, a ruptura, a correlação e o abismo. É um pensamento no limite, porque é onde se definem as coisas. O ser no limite significa não um ser estático, mas uma posição de ruptura entre o ser e o não-ser. A ruptura segue a correlação, categoria básica de Tillich, resposta aos problemas do homem e da história. E finalmente o abismo, que permite a Tillich superar a oposição da moderna teologia protestante entre o Deus da razão e o Deus da fé. No abismo de todo ser reúnem-se e harmonizam-se unitariamente o ser em si e o Uno-Trino da Bíblia. Paul Tillich defendeu o exame da religião pela razão, assim como valorizou o auxílio do conhecimento secular para a compreensão do cristianismo, embora afirmasse que o critério supremo da revelação residia em Jesus.






Sobre essa base filosófica de fundo hegeliano, Tillich constrói sua teologia, que pode ser resumida nestes pontos:




1)— Insistência em que a Bíblia não é a única fonte da teologia. Esta deve ser predominantemente apologética e querigmática, isto é, deve interessar-se pelas diferentes formas de cultura e ser uma tarefa essencialmente racional para chegar à compreensão do especificamente cristão. Em sua Teologia sistemática (3 vols., 1951-1957), Deus é apresentado como “aquele que nos concerne, em última instância” ou “a essência de nosso ser”. Deus não é um ser, mas o próprio ser. A linguagem da teologia e da religião é essencialmente simbólica. A única exceção é Deus que, como vimos, define como o mesmo ser. “O homem desta infinita e incansável profundidade de todo ser é Deus.” “Talvez se esqueça tudo o que se aprendeu sobre Deus, inclusive a própria palavra, para desta maneira saber que conhecendo que Deus é o profundo, conhecemos muito sobre ele. Neste sentido, ninguém pode chamar-se ateu ou nãocrente. Somente é ateu quem seriamente afirma que a vida é superficial.”




2) — Com relação ao fato cristão, afirma que Cristo, “enquanto símbolo da participação de Deus nas situações humanas”, é a resposta necessária para a situação existencial do homem pecador. Com ele mudou-se a existência, pois revelou-nos um Deus libertador. Para Tillich, o Novo Testamento somente se refere à história de Jesus para elevá-lo a valor simbólico universal, cujos momentos decisivos são a cruz, símbolo do encadeamento do homem ao finito e negativo da existência, e a ressurreição, símbolo da vitória.




3)— Fiel a seu método da “correlação”, Tillich insinua e demonstra, em termos arduamente exeqüíveis, que não existe contradição entre o natural e o sobrenatural e que, portanto, o Deus da razão e o Deus da fé e a revelação são dois aspectos de uma mesma realidade. Corrige assim o sobrenaturalismo de Barth, demasiado preocupado em identificar a mensagem imutável do Evangelho com a Bíblia ou com a ortodoxia tradicional. Sua teologia apologética destina-se a responder aos problemas da situação de hoje. “Deve-se lançar a mensagem como se lança uma pedra sobre a situação de hoje.” Pelo princípio da correlação os elementos relacionados só podem existir juntos. É impossível que um aniquile a existência do outro. Com o princípio da correlação a reflexão teológica desenvolve-se entre dois pólos: a verdade da mensagem cristã e a interpretação dessa verdade, que deve levar em conta a situação em que se encontra o destinatário da mensagem. E a situação não diz apenas respeito ao estado psicológico ou sociológico do destinatário, mas "as formas científicas e artísticas, econômicas, políticas e éticas, nas quais [os indivíduos e grupos] exprimem as suas interpretações da existência". A situação é o que se deve levar a sério.




4) — Com fundamento nas idéias de Schelling e no existencialismo de Kierkegaard, Tillich elaborou uma teologia que engloba todos os aspectos da realidade humana em função da situação histórica do homem. Seu método teológico baseou-se no chamado princípio da correlação, descrito em Systematic Theology (1951-1963; Teologia sistemática). Esse princípio transforma a teologia num diálogo que relaciona as perguntas feitas pela razão às respostas obtidas mediante a fé, como experiência reveladora.



5) — Para Tillich, a teonomia - lei interior dada por Deus, em harmonia com a natureza essencial do homem - dá força e liberdade ao homem para reconstruir a sociedade de forma criativa. A teonomia contrapõe-se à heteronomia, lei imposta ao homem de fora para dentro, e à autonomia, que o deixa frustrado e sem motivação para a vida.




6)-A vida é definida por Paul Tillich como sendo a atualização do ser potencial. Em todo processo vital ocorre essa atualização. Os termos "ato", "ação", "atual" denotam um movimento com centralidade dirigida para diante, um sair do centro de ação. Mas esse sair-de-si ocorre de tal forma que, para Tillich, "o centro não se perde nesse movimento centrífugo. Permanece a auto-identidade na auto-alteração." O outro, no processo de alteração se dirige tanto para fora do centro como para dentro dele novamente. Dessa forma distingue três elementos no processo da vida: auto-identidade, auto-alteração, e volta para si mesmo. "Potencialidade se torna atualidade somente através desses três elementos no processo que chamamos vida".







A influência de Tillich cresceu ainda mais depois de sua morte:




Seu pensamento com relação ao conceito de Deus foi seguido e popularizado por John Robinson, autor de Honest to God (1963). Mais recentemente, Don Guppitt iniciou um duro ataque à doutrina tradicional cristã sobre Deus em sua obra Tomando o lugar de Deus (1980), na qual advoga por um conceito cristão-budista de Deus similar ao de Tillich.





Entre suas obras, cabe destacar:



1)-Se comovem os fundamentos da Terra (1948).

2)- Teologia sistemática (1951, 1957 e 1963).

3)- Coragem de ser (1952).

4)- O eterno agora (1963).






Grande renovador da teologia, seu tema principal é a reconciliação entre ciência e fé e entre cultura e religião.






PENSAMENTOS DE PAUL TILLICH







"A cura pela fé no sentido não pervertido da palavra é a recepção da salvação/saúde no ato da fé, isto é: na entrega a algo que nos diz respeito incondicionalmente, ao sagrado que não pode ser forçado a se colocar a nosso serviço. De tal entrega deriva a cura no centro da personalidade, integração das forças contraditórias que se subtraem ao centro e querem então se apossar dele".




"A integração do si mesmo pessoal só é possível mediante a sua elevação até aquilo que chamamos simbolicamente de si mesmo (ou personalidade) divino. E isso só é possível graças à irrupção do Espírito divino no espírito humano, isto é, pela presença do Espírito divino".




"Chegamos assim à conclusão que cura e salvação se pertencem mutuamente de modo indissociável, que os múltiplos aspectos do curar/salvar devem ser claramente diferenciados, que eles são produzidos por uma força suprema de cura e que seus portadores devem lutar juntos a favor da humanidade. Nenhuma separação, nenhuma confusão mas um objetivo comum de todo "curar": o ser humano salvo, em totalidade".




"Uma religião que não possui um poder de curar e salvar é desprovida de sentido".




"A razão não resiste à revelação. Ela pergunta pela revelação. Pois revelação significa a reintegração da razão".




"É a finitude do ser que conduz à questão de Deus".




"... o termo 'Novo Ser', quando aplicado a Jesus como o Cristo, indica o poder que nele vence a alienação existencial ou, expresso em forma negativa, o poder de resistir às forças da alienação. Experimentar o Novo Ser em Jesus como o Cristo significa experimentar o poder que nele venceu a alienação existencial em si mesmo e em todos aqueles que têm parte com ele".




"A teologia sistemática necessita de uma teologia bíblica que seja histórico-crítica sem quaisquer restrições, mas que seja, ao mesmo tempo, interpretativo-existencial, levando em conta o fato de que ela trata de assuntos de preocupação última"



"Nossa preocupação última é aquilo que determina o nosso ser ou não-ser. Só são teológicas aquelas afirmações que tratam de seu objeto na medida em que possa se tornar para nós uma questão de ser ou não-ser"




"O homem está dividido dentro de si. A vida volta-se contra si própria através da agressão, do ódio e do desespero. Estamos habituados a condenar o amor-próprio; mas aquilo que pretendemos realmente condenar é o oposto do amor-próprio. É aquela mistura de egoísmo e aversão por nós próprios que permanentemente nos persegue, que nos impede de amar os outros e que nos proíbe de nos perdermos no amor com que somos eternamente amados. Aquele que é capaz de se amar a si próprio é capaz de amar os outros; aquele que aprendeu a superar o desprezo por si próprio superou o seu desprezo pelos outros".




"Na nossa tendência para maltratar e destruir os outros existe uma tendência, visível ou oculta, para nos maltratarmos e nos destruirmos. A crueldade para com os outros é sempre também crueldade para com nós próprios. Deste modo, o estado de toda a nossa vida é o distanciamento dos outros e de nós próprios, porque estamos distanciados da Razão do nosso ser, porque estamos distanciados da origem e do objetivo da nossa vida".




"A teologia levanta necessariamente a questão da realidade como um todo, a questão da estrutura do ser. A teologia suscita necessariamente a mesma pergunta, pois aquilo que nos preocupa de forma última deve pertencer à realidade como um todo; deve pertencer ao ser".




"O objetivo da teologia é aquilo que nos preocupa de forma última. Só são teo-lógicas aquelas afirmações que tratam do seu objeto na medida em que ele pode se tornar questão de preocupação última para nós"



“Um sistema teológico deve satisfazer duas necessidades básicas: a afirmação da verdade da mensagem cristã e a interpretação desta verdade para cada nova geração”.



"Se a “Palavra de Deus” ou o “ato de revelação” é considerado a fonte da teologia sistemática, devemos enfatizar que a “Palavra de Deus” não está limitada às palavras de um livro e que o ato de revelação não se identifica com a “inspiração” de um “livro de revelações”, mesmo que esse livro seja o documento da “Palavra de Deus” final, plenitude a critério de todas as revelações".



"O sentido ontológico da experiência é uma conseqüência do positivismo filosófico. O que é dado positivamente é, segundo esta teoria, a única realidade da qual se pode falar de modo significativo. E positivamente dado significa dado na experiência. A realidade é idêntica à experiência"




“A Bíblia como um todo nunca foi a norma da teologia sistemática. A norma tem sido um princípio derivado da Bíblia num encontro entre ela e a igreja”.




“Já que a norma da teologia sistemática é o resultado de um encontro da igreja com a mensagem bíblica, podemos considerá-la produto da experiência coletiva da igreja”




"A Bíblia é a Palavra de Deus em dois sentidos: É o documento de revelação final e participante na revelação final da qual é documento. Provavelmente nada contribuiu mais para a interpretação errônea da doutrina bíblica da Palavra do que a identificação da Palavra com a Bíblia"




“O Cristo não é o Cristo sem a Igreja, e a Igreja não é Igreja sem o Cristo. A revelação final, como toda revelação, é correlativa”.





9)- HENRI DE LUBAC (1896-1991) – Católico





Henri de Lubac é considerado um dos principais representantes do pensamento religioso contemporâneo. Seu campo de preocupação e estudo vai desde os padres da Igreja à teologia medieval e ao ateísmo contemporâneo. Especializado em temas da Igreja, é fundador com Daniélou da coleção de textos cristãos “Sources chrétiennes”. Em 1967, recebeu o “Grande Prix” católico de literatura, dando a conhecer ao grande público a importância deste fundador de uma teologia aberta, em diálogo permanente e positivo com as diversas correntes do pensamento moderno.Nascido em Cambrai (França), em 1896, entrou na Companhia de Jesus para atuar muito cedo como professor de Teologia Fundamental e História das Religiões na Universidade Católica de Lyon e na faculdade dos jesuítas de Fourvière. Suas qualidades de escritor, sua grande erudição e a agudeza de seu pensamento cedo o levaram ao primeiro plano da investigação teológica francesa. Iniciou sua produção com o ensaio Catolicismo, sobre os aspectos sociais do dogma. Fruto de seu estudo da história da teologia patrística e medieval é a criação de “Sources chrétiennes”, coleção de textos da literatura cristã. A partir de 1950, apareceram seus estudos sobre patrística e teologia medieval, História e espírito, que reabilita Orígenes e põe em destaque o que significou sua doutrina no pensamento da Igreja. A partir de 1959, apareceram os quatro grossos volumes de Exegese medieval.Henri de Lubac foi membro da comissão internacional de teólogos (1969), e advogou pelo diálogo com as religiões não cristãs e com os não crentes.Como todos os grandes teólogos da época, Henri de Lubac foi objeto, durante algum tempo, de crítica e suspeita por seu livro O sobrenatural. Neste livro denuncia a noção escolástica de “natureza pura” e desenvolve a idéia de uma continuidade da natureza e da graça no ser.Outra das grandes incursões de Lubac foi o pensamento moderno em estudos sobre Proudhon, Blondel, o budismo japonês e temas relacionados com o ateísmo. Mas sem dúvida o trabalho mais importante é dar a conhecer e reabilitar a obra de Teilhard de Chardin, e seu apoio e participação no Concílio Vaticano II.Seu humanismo é concebido e expresso numa perspectiva cristã e transcendente: “o humanismo exclusivo é um humanismo inumano”, dirá. Seu comentário à constituição conciliar sobre a divina revelação — Deus se lê na história (1974) — é um exemplo deste humanismo transcendente. Henri de Lubac faleceu em 1991.Foi um grande renovador da teologia católica por sua imersão nos Padres da Igreja. Em 1983 foi feito cardeal. 




Entre suas muitas obras, cabe destacar:



-O drama do humanismo ateu (1944).

-Meditação sobre a Igreja (1953).

-Exegese medieval (1959-1964).

-A revelação Divina (1983).





PENSAMENTOS DE HENRI DE LUBAC












"A Igreja não só é a primeira entre as obras do Espírito santificador, mas também compreende, condiciona e absorve todas as outras. Todo o processo da salvação se realiza nela. Para dizer a verdade, identifica-se com ela. Mais ainda: o mistério da Igreja é um resumo de todo o Mistério. É por excelência nosso próprio mistério! Abraça-nos por completo. Rodeia-nos por todos os lados, já que Deus nos vê e nos ama em sua Igreja, já que ele nos quer nela e nela é onde nós o encontramos e nela é também onde nós aderimos a ele e onde ele nos faz felizes".




"Se vivemos na Igreja, temos de combater as lutas da Igreja de hoje. Devemos dar a adesão do nosso entendimento à doutrina da Igreja tal como hoje se encontra elaborada. Ainda supondo que fosse lícito, seria uma grande ilusão acreditar que se poderia reter em seu exato teor e em toda a sua fecundidade a fé de uma época anterior, desprezando o que desde então se foi fazendo mais explícito. O próprio erro e a rebelião, por perfeitamente que tenham sido vencidos, impõem em certa medida um novo estilo e outra ênfase à existência do homem fiel como à expressão da verdade".




"A fé da Igreja... a fé que o Senhor lhe concedeu, que vem a ser nela uma força ardorosa que a fundamenta e que a sustenta... a fé que nós não podemos professar se não nos associarmos a toda a Igreja e da qual somente podemos participar numa medida muito pequena. Era aquela fé perfeita e inalterável, aquela fé sempre plena, sempre igual e sempre serena, aquela fé perseverante, inamovível como a cruz de Cristo, que não é sacudida por nenhum escândalo, que nunca duvida nem vacila, que nunca está sonolenta; aquela fé viva e vivificante, que frutifica no mundo inteiro, na qual se acende e se insere a fé de cada um dos indivíduos, que a nutre a reconforta, até o ponto que quando alguém de nós diz: “Eu creio em Deus”, sempre fala na Igreja e em dependência da Igreja.




"A confissão de fé no Símbolo (o Credo) se pronuncia sempre como que em nome de toda a Igreja. Isto é o que faz com que ainda que aquele que não tem senão uma fé informe e ainda que esteja desprovido das disposições (ideais), possa, contudo, dizer com toda a verdade que ele crê. Pode fazê-lo pelo fato de pertencer à Igreja, que lhe permite falar in persona Ecclesiae (na pessoa da Igreja); enquanto que, ao contrário, quem voluntariamente se separa da Igreja, não tem uma fé válida".




De igual modo, nossa predestinação em Cristo é a predestinação na Igreja. São Paulo nunca pensou em tal predestinação a não ser nesta perspectiva total. Jesus Cristo nos ama a cada um; e a cada um nos diz como a Moisés: “Conheci-te pelo nome”. Porém não nos ama separadamente. Ele nos ama em sua Igreja, pela qual derramou seu sangue. Por isso nosso destino pessoal não pode se realizar a não ser na salvação comum da Igreja, desta Mãe da unidade".




"A Igreja não é Deus, mas “a Igreja de Deus”. Ela é sua Esposa inseparável, que o serve na fé e na justiça... a Casa de Deus onde ele nos recebe para perdoar os nossos pecados. Esta Igreja, que é a coluna da verdade, é onde nós cremos retamente em Deus e onde o glorificamos".




"Ela (a Igreja) é, com efeito, o Lugar escolhido pelo Senhor para que nela seja invocado o seu nome. Ela é o Templo no qual se adora a Trindade e o santuário imutável fora do qual, salvo a desculpa da ignorância invencível, ninguém pode esperar a salvação... Ela é o corpo das três Pessoas. Ela é também aquela Casa preparada no alto dos montes, Casa anunciada pelos profetas, para onde haverão de confluir um dia todas nações para viver unidas nela sob a Lei do único Senhor. Ela é a câmara do tesouro, onde os Apóstolos depositaram a Verdade, que é o Cristo. Ela é a única Sala onde o Pai de família celebra os desposórios de seu Filho. Como também nela é que nós recebemos o perdão e por ela temos acesso à Vida e a todos os dons do Espírito. Não podemos crer nela como cremos no Autor da nossa salvação, porém cremos que ela é a Mãe que nos traz a regeneração".





"Com efeito, por uma parte, à série de erros e desvios que apareceram ao longo dos séculos passados, que deram origem a tantos cismas, que provocaram tantas discussões, conflitos e desordens e que ainda continuam produzindo entre nós seus frutos, vão juntando-se outros, mais sutis, que às vezes minam a consciência católica mesmo naqueles que de modo algum sentem a tentação do cisma ou da heresia formal".





"Em Jesus Cristo, que era a finalidade, a antiga Lei encontrou precedentemente a sua unidade. Século após século, tudo nessa Lei convergia para Ele. É Ele que, da totalidade das Escrituras, formava já a única Palavra de Deus.




"Nele, os “verba multa” (as muitas palavras) dos escritores bíblicos tornam-se para sempre “Verbum unum”(Palavra única). Sem Ele, ao invés, o laço se dissolve: de novo a palavra de Deus se reduz a fragmentos de “palavras humanas; palavras múltiplas, não somente numerosas, mas múltiplas por essência e sem unidade possível, porque, como constata Hugo de São Vítor, “Muitas são as palavras do homem, porque o coração do homem não é uno".





"Ei-lo agora, total, único, na sua unidade visível. Verbo abreviado, Verbo “concentrado”, não somente neste primeiro sentido que Ele, que é um si mesmo imenso e incompreensível, que é Aquele que é infinito no seio do Pai, se comprime no seio da Virgem ou se reduz às proporções de um menino na gruta de Belém, como São Bernardo e seus filhos gostavam de falar, como repetia M. Olier num hino para o Ofício da vida interior de Maria, e, ainda há pouco, o padre Teihard de Chardin. Mas, [Verbo concentrado] também e ao mesmo tempo no sentido que o conteúdo múltiplo das Escrituras, espalhado ao longo dos séculos de expectativa vem todo inteiro comprimir-se para se cumprir, isto é unificar-se, completar-se, iluminar-se e transcender-se Nele".





"Deus pronuncia uma só palavra, não só em si mesmo, na sua eternidade sem vicissitudes, no ato imóvel com o qual gera o Verbo, como Santo agostinho recordava; mas também, como ensinava já Santo Ambrósio, no tempo e entre os homens, no ato com o qual ele envia o seu Verbo para habitar a nossa terra. “Semel locutus est Deus, quando locutus in Filio est” (Deus pronunciou uma só palavra, quando falou no seu Filho): porque é Ele que dá o sentido a todas as palavras que o anunciavam, tudo se explica Nele e somente Nele: “Et audita sunt etiam illa quae ante audita non erant ab iis quibus locutus fuerat per prophetas” (E agora são compreendidas todas aquelas palavras que não foram entendidas antes por aqueles aos quais ele tinha falado por meio dos profetas)".





"A Igreja católica é aquele estandarte erguido em meio às nações, como se exprime o Concílio Vaticano I, tomando as mesmas palavras do profeta Isaías (cf. 49,22), para servir a todos de sinal de reunião, a ela convidando todos os que ainda não têm fé, e assegurando a seus próprios filhos que a fé que eles professam apóia-se sobre o mais firme fundamento.





"A Igreja é aquela montanha que se faz visível desde longe a todos os olhares, aquela cidade resplandecente, aquela luz colocada sobre o candelabro para iluminar toda a casa. Ela é aquele edifício de cedro e de cipreste incorruptível, cuja solidez majestosa desafia os séculos e inspira confiança a nossas efêmeras individualidades. Ela é aquele milagre continuado que não cessa de anunciar aos homens a vinda do seu Salvador e mostrar-lhes com mil exemplos sua Força libertadora..."




"Pela profundidade e pela coesão da doutrina que propõe, por seu conhecimento experimental do homem, como pelos frutos que o Espírito não cessa de fazer florescer nela, a Igreja exerce sobre as almas retas uma atração que atesta, de idade em idade, tantas conversões paradoxais".





"Receptáculo a guardiã das Escrituras, a Igreja distribui sua luz, que é a única que da um sentido inteligível à nossa história. Deste modo, ela nos leva a Cristo por mil caminhos convergentes. É nela onde Deus se mostra aos olhos que vêem a sabedoria".




"A Igreja não só é a primeira entre as obras do Espírito santificador, mas também compreende, condiciona e absorve todas as outras. Todo o processo da salvação se realiza nela. Para dizer a verdade, identifica-se com ela. Mais ainda: o mistério da Igreja é um resumo de todo o Mistério. É por excelência nosso próprio mistério! Abraça-nos por completo. Rodeia-nos por todos os lados, já que Deus nos vê e nos ama em sua Igreja, já que ele nos quer nela e nela é onde nós o encontramos e nela é também onde nós aderimos a ele e onde ele nos faz felizes".





"Não muda em nada a substância da fé. Nunca se lhe acrescenta nada. Não se introduz nenhuma novidade O que faz é impedir, por meio de uma série de esclarecimentos e exatidões sucessivas, que a doutrina diminua ou pereça. Este progresso faz que, em virtude da própria vida que mantém, impeça que a doutrina se esgote. Prevê ou retifica seus desvios. Na verdade, contra os impulsos opostos entre si que mais ou menos estão sempre em ação, ele (o progresso da doutrina) consegue manter em sua plenitude, em sua integridade e em sua autenticidade a verdade que foi confiada à Igreja uma vez para sempre. Não se deve confundir, portanto, este progresso com uma revelação progressiva. Porém tenha-se em conta que ninguém pode opor-se ou ignorar sistematicamente este progresso sem corromper precisamente aquilo mesmo que pretendia conservar".





"Desde algum tempo vem-se falando muito da Igreja; muito mais que antes e, sobretudo, num sentido mais compreensível. Alguns acreditam inclusive que se fala dela um tanto demasiado e com demasiada desconsideração. E se perguntam se não seria melhor esforçar-se simplesmente – como fizeram tantas gerações – esforçar-se para viver nela. De tanto considerá-la a partir de fora para estudá-la, não se habituaria alguém no mais profundo de si mesmo a separar-se dela? Não se corre o perigo, se não de cortar, ao menos de afrouxar os laços íntimos, sem os quais não se pode ser verdadeiramente católico? Tantos venenos, tantos problemas sutis, com toda a agitação intelectual que supõem, serão por acaso compatíveis com aquela antiga simplicidade e com aquele espírito de obediência que caracterizaram sempre os filhos fiéis da Igreja?"





"A Igreja não é uma realidade deste mundo que se pode medir e analisar como se queira. Enquanto durar a presente condição, a Igreja não pode ser conhecida com toda perfeição, mas permanece oculta sob um véu. Pois a Igreja é um mistério de fé. Como os demais mistérios, também ela ultrapassa a capacidade e as forças de nossa inteligência. E mais ainda: pode-se afirmar que ela se torna para nós como o lugar onde no qual confluem todos os mistérios, Porém, o mistério exclui toda indagação curiosa. Deve-se crê-lo na obscuridade. Deve-se meditá-lo em silêncio".





"O homem da Igreja ama a beleza da casa de Deus. A Igreja roubou seu coração. É sua pátria espiritual. É sua mãe e seus irmãos. Nada que lhe diga respeito deixa-lhe indiferente ou afastado. Ele se radica em seu solo; forma-se à sua imagem, integra-se na sua experiência; sente-se rico das suas riquezas. Tem consciência de participar por meio dela, e apenas por meio dela da estabilidade de Deus. Dela aprende como viver e como morrer. Não a julga, mas se deixa julgar por ela. Aceita com júbilo todos os sacrifícios por sua unidade".





"O homem da Igreja ama o seu passado. Medita sobre sua história. Venera e explora sua tradição... Aceita o ensinamento do magistério como norma absoluta. Acredita simultaneamente que Deus nos revelou tudo, de uma vez por todas, no Filho e que, todavia, o pensamento divino adapta a cada época, na Igreja e mediante a Igreja, o entendimento do mistério de Cristo... E compreende, enfim, em qualquer circunstância, que não pode ser um membro ativo do corpo se não for antes de mais nada um membro submetido, dobrável e dócil à direção da cabeça".





"Seja, portanto, louvada essa grande Mãe, pelo mistério divino que nos comunica, introduzindo-nos nele através da dupla porta, constantemente aberta, da sua doutrina e da sua liturgia! Seja louvada pelo perdão que nos assegura! Seja louvada pelos focos de vida religiosa que suscita, que protege e cuja chama mantém viva! Seja louvada pelo universo exterior que nos desvela e em cuja exploração nos guia! Seja louvada pelo desejo e a esperança que cultiva em nós! E louvada seja inclusive por tudo aquilo que ela desmascara e dissipa nas nossas ilusões, para que a nossa adoração seja pura! Louvada seja essa grande Mãe!"





10)- WOLFHART PANNENBERG (1928- ) - Protestante









Wolfhart Pannenberg é um dos maiores teólogos protestantes contemporâneos. Nasceu no ano 1928 na cidade de Stettin, Alemanha. Pannenberg foi batizado na Igreja Evangélica Luterana, mas não teve praticamente nenhum contato com a Igreja nos seus primeiros anos. Com cerca de dezesseis, no entanto, ele teve uma intensa experiência religiosa a qual ele chamou mais tarde de sua "experiência de iluminação". Buscando a compreender esta experiência, ele começou a pesquisar através das obras de grandes filósofos e pensadores religiosos. O seu professor de literatura da Escola Secundária, que tinha sido uma parte da Igreja Confessante durante a Segunda Guerra Mundial, encorajou-o a considerar seriamente o cristianismo, o que resultou na "conversão intelectual" de Pannenberg, na qual se concluiu que o Cristianismo era a melhor opção religiosa disponível. E isto o implusionou em sua carreira como teólogo. Pannenberg estudou Teología e Filosofía na universidade de Göttingen, sob a direção de Nicolai Hartmann. Logo estudou na universidade de Basel, sob K. Jaspers e Karl Barth. Estudou na Universidade de Berlim e doutorou-se em Teologia na Universidade de Heidelberg (1954), onde lecionou até 1958. Em seguida, ensinou em Wuppertal (1958-61), Mainz (1961-68) e Munique (1968-1993).Quem mais influenciou no pensamento de Pannenberg foram Günter Bornkamm com seu "Nova busca pelo Jesus histórico". Seu outro mentor foi Hans Von Campenhausen por meio de seu discurso reitoral de 1947 intitulado: "Agostinho e a queda de Roma".Wolfhart Pannenberg, que é professor de teologia sistemática na Universidade de Munique, apresenta sua teologia de dentro da categoria da história. A parte central da carreira teólogica de Pannenberg foi sua defesa da teologia como uma rigorosa disciplina acadêmica, uma capacidade de interação com a filosofia crítica, a história e as ciências naturais.Pannenberg é talvez mais conhecido pelo seu livro: Jesus - Deus e Homem, no qual ele constrói uma Cristologia "por baixo", ou seja, a sua dogmática decorre de uma análise crítica da vida de Jesus de Nazaré. Ele correspondentemente rejeita as tradicionais calcedonicas "duas naturezas", preferindo ver a pessoa de Cristo à luz da ressurreição. Este foco sobre a ressurreição de Cristo como a chave da identidade levou Pannenberg a defender a sua historicidade. Outras obras: A redenção como acontecimento e história, 1959; Revelação como história, 1962; Que é o homem? A antropologia atual à luz da teologia, 1964; Teologia Sistemática (3 v.). Quando foi publicado seu livro Jesus - Deus e Homem, em 1968, veio a ser uma influência no mundo de fala inglesa.A doutrina teológica de Pannenberg considera que a realidade histórica tem prioridade sobre a fé e o raciocínio humanos. Wolfhart Pannenberg, pode ser chamado o teólogo da história. Porque para ele a história é o princípio de averiguar o futuro com a revelação da Palavra.Para Pannenberg, a Ressurreição de Jesus tem uma importância capital na nova concepção de revelação. Ele afirma que ela é o acontecimento central do Novo Testamento, porque faz acontecer antecipadamente o final da história, e isto permite conhecê-la em sua totalidade.Para Pannenberg, toda história é a revelação de Deus. A história está tão clara em suas funções revelatórias que sua interpretação pode ser feita sem a ajuda da revelação sobrenatural. A verdade revelatória está necessariamente inerente na totalidade da história e bem clara para todos quantos observam. Deixar de captar a revelação dentro da história é falha do indivíduo e da sua investigação, e não da própria história.Pannenberg propõe que Deus se revela indiretamente mediante a proeza que ele realiza na história. Ele compreende a revelação como a auto-revelação de Deus de forma indireta na história. Portanto, se a revelação de Deus acontece por intermédio de fatos históricos, estes são acessíveis ao juízo consciente de cada homem e, por conseguinte, ela não é um conhecimento esotérico revelado a poucos. Apesar desta abertura, Pannenberg também afirma que a revelação é um ato divino e do qual o homem necessita, pois este conhecimento não está em seu poder e ele não pode obtê-lo sozinho.O pensamento de Wolfhart Pannenberg pode ser considerado aquele que no contexto luterano aceitou de forma evidente o desafio do Iluminismo. Desde os primórdios de sua reflexão, Pannenberg pretendeu superar a marginalização da fé e da teologia em relação à razão moderna.Wolfhart Pannenberg ao lado de Jürgen Moltman detém a paternidade da chamada Teologia da Esperança. Simplesmente, teologia liberal. Pannenberg é bem situado entre os grandes teólogos protestantes contemporâneos. De um lado ele é claramente um teólogo de confissão Luterana, de outro lado do ponto de vista metodológico, ele é um neoliberal. Seu esforço de conciliar a tradição Luterana com a metodologia contemporânea é o que faz sua teologia interessante e significativa. Wolfhart Pannenberg também teve muita influência na teologia católica.







PENSAMENTOS DE WOLFHART PANNENBERG





"O clima público do secularismo mina a confiança dos cristãos na verdade em que crêem. Em um ambiente secular, até o conhecimento elementar da cristandade definha. Não é mais uma questão de rejeitar os ensinamentos cristãos; um grande número de pessoas não tem a mínima idéia de quais são esses ensinamentos. Quanto mais disseminada a ignorância do cristianismo, maior o preconceito contra o mesmo. A dificuldade é agravada pelo relativismo cultural da própria noção da verdade à vista de muitos. As doutrinas cristãs são meramente opiniões que podem ou não ser afirmadas de acordo com a preferência individual, ou dependendo se elas são voltadas para necessidades pessoais. A ordem social cuidadosamente secularizada promove um sentimento de falta de sentido".




"A teologia cristã tem somente a tarefa de mostrar que e como se pode desenvolver uma interpretação coerente de Deus, do ser humano e do mundo a partir do evento da revelação que o cristianismo compreende como tal, interpretação esta que é capaz de ser defendida, com razões, como verdadeira em relação ao conhecimento de experiência da filosofia, e que por isso também pode ser defendida como verdadeira em relação a interpretações alternativas do mundo, tanto religiosas como não-religiosas. A abordagem comparativa e a formação de juízo acerca das reivindicações divergentes da verdade já devem pressupor tais exposições das concepções a serem comparadas"



"Ora, a quem faz um trabalho, o salário não é considerado como gratificação, mas como um débito; a quem, ao invés, não trabalha, mas crê naquele que justifica o ímpio, é sua fé que é levada em conta de justiça, como, aliás, também Davi proclama a bem-aventurança do homem a quem Deus credita a justiça, independentemente das obras".




"O Reino de Deus não será estabelecido pelo homem. Muito enfaticamente, ele é o Reino de Deus (...) O homem não é exaltado, mas degradado quando se torna vítima de ilusões acerca de seu poder".



"Qualquer tentativa inteligente de falar sobre Deus um discurso criticamente consciente de suas condições e limitações deve começar e terminar com a confissão da majestade inconcebível de Deus, que transcende todos nossos conceitos."





"O ser humano não possui uma alma como realidade independente, em oposição ao próprio corpo; tampouco possui um corpo que se movimenta de maneira totalmente mecânica ou inconsciente. Ambas as idéias são abstrações. O que realmente existe é a unidade do ser vivo, da pessoa humana que se movimenta e reage ao mundo"




"Jesus adquire significado ‘para nós’ somente enquanto esta significação está apoiada nele mesmo, na sua história e na pessoa que a história manifestou. Somente enquanto esta poderá ser demonstrada, podemos ter certeza que a nossa fé não será uma mera projeção de problemas, desejos e pensamentos pessoais sobre a pessoa de Jesus"



"Uma mensagem não convincente, como alternativa, não é capaz de alcançar o poder de convencer simplesmente apelando ao Espírito Santo... A argumentação e a operação do Espírito não são mutuamente exclusivas. Ao confiar no Espírito, Paulo de forma alguma dispensou-se de pensar e argumentar".




"Os eventos que revelam Deus e a mensagem que narra esse acontecimento levam o homem a um conhecimento que ele por si mesmo não possui. Mas esses acontecimentos têm realmente uma força convincente. Lá onde eles são percebido, assim como são, no contexto históricos ao qual por natureza pertencem, eles falam sua própria língua, a língua dos fatos reais. E foi nessa língua dos fatos que Deus mostrou sua divindade".





11)- RUDOLF BULTMANN (1884-1976)‏ - Protestante












Teólogo e escritor protestante alemão. Estudou teologia nas Universidades de Tubinga, Berlim e Marburgo. Professor nesta última universidade desde 1921 até a sua aposentadoria em 1951. Muito discutido, tanto nos círculos protestantes quanto nos católicos, por sua interpretação dos Evangelhos, da pessoa histórica de Jesus e de sua mensagem, aplicou as normas da crítica histórica do século XX, assim como o método das formas ao texto bíblico. Esteve em contato com as correntes filosóficas modernas, valendo-se, principalmente, da análise existencial de M. Heidegger. De imensa erudição e capacidade, é uma figura importante e discutida do pensamento cristão atual.Seu pensamento está contido principalmente em A história da tradição sinótica (1922), na qual analisa os evangelhos à luz das diferentes formas. E no Novo Testamento e mitologia (1941), obra várias vezes revisada e publicada em dois volumes sob o título de Querigma e mito (1961-1962). Em 1927 surgiram uma série de ensaios e escritos menores de Bultmann com o título de Existência e fé nos quais projeta sua visão cristã através do existencialismo.





Uma análise da doutrina de Bultmann leva-nos às seguintes conclusões:





-Ceticismo quase absoluto sobre o valor histórico do Novo Testamento (NT). Para Bultmann, os evangelhos estão menos interessados na pessoa de Jesus e mais no período posterior à sua morte. Os evangelhos são simples construções convencionais posteriores.



-O cristianismo atual enlaça com o primitivo somente pela aceitação do querigma, que aparece em Rm 1,3-4; 6,3-4; At 2,21-24; 1Cor 11,23-26.Somente desta forma nós podemos saber nada sobre a vida e a personalidade do Jesus histórico. Assim como Barth, Bultmann reage contra a figura perfeita do Jesus histórico reconstruído pela teologia liberal do séc. XIX. É pouco o que sabemos e podemos reconstruir sobre a figura histórica de Jesus. As afirmaçõees do NT sobre ele não se referem à sua natureza, mas à sua significação.




-O tema central do evangelho é a morte e ressurreição de Jesus. A ressurreição não é um acontecimento objetivo, mas uma experiência viva que nos introduz numa nova dimensão da existência e nos liberta de nós mesmos, do pecado, para abrir-nos aos outros. Doutrinas tão básicas do cristianismo como a encarnação, morte, ressurreição e segunda vinda de Cristo dissipam-se numa interpretação existencialista da vida. A interpretação mítica dissolve-se num existencialismo que não deixa quase nada intacto no credo dos apóstolos.




-A conclusão final de Bultmann é que o mito ou forma de pensamento em que aparece envolvido o Evangelho apresenta-nos uma versão manipulada e desfigurada de Jesus, Filho de Deus, que morreu e ressuscitou. Esse mito transmite-nos um querigma, uma palavra divina dirigida ao homem, que este deve aceitar de maneira desmitificada, isto é desprovida de sua proteção.




- O Cristo com que nos encontramos hoje é o Cristo da evangelização, não o Jesus da história. É o querigma desmitificado de formas do passado, todavia existentes na fé e na pregação de Jesus, que nos obriga e nos defronta a uma opção entre uma vida autêntica e outra inautêntica.Da doutrina de Bultmann deduz-se que a fé cristã deve interessar-se pelo Jesus histórico para centrar-se no Cristo transcendente do querigma. A fé cristã, a fé no querigma da Igreja, pela qual se pode dizer que Jesus Cristo ressuscitou, e não fé no Jesus histórico.





Todas as Igrejas, após reconhecer a boa vontade de Bultmann, rejeitam a postura radical do grande mestre. Sua doutrina permitiu reconstruir melhor o Jesus histórico e sua função dentro da teologia atual. Os mesmos discípulos de Bultmann evoluíram para uma nova hermenêutica e interpretação da forma linguística da existência.






PENSAMENTOS DE RUDOLF BULTMANN







"É precisamente pelo abandono radical e pela crítica consciente dessa cosmovisão mitológica da Bíblia que podemos trazer à luz a pedra de tropeço real, ou seja, o fato de que a palavra de Deus chama o ser humano a renunciar a toda segurança de obra humana."




"A fé é a renúncia por parte do ser humano à sua própria segurança e a disposição de encontrá-la unicamente no além invisível, em Deus. Isso significa que a fé é uma segurança ali onde nenhuma segurança pode ser vista; é como disse Lutero, a disposição de entrar confiadamente nas trevas do futuro."





"Creio que Deus atua aqui e agora, mas Sua ação é oculta, porque não é diretamente idêntica ao acontecimento visível. Ainda não sei o que Deus está fazendo, e talvez nunca chegue a sabê-lo, mas creio firmemente que é importante para minha existência pessoal, e devo perguntar-me o que é que Deus está me dizendo. Talvez esteja me dizendo apenas que devo aguentar em silêncio."





"A graça de Deus é a graça que perdoa pecados, isto é ela liberta o ser humano de seu passado, que o mantém preso. Liberta-o daquela postura do ser humano que quer se assegurar, lançando por isso mão do que é disponível e apegando-se ao que é transitório e sempre já passado".




"Portanto, o acontecimento ocorrido em Cristo é a revelação do amor de Deus, que liberta o ser humano de si mesmo, libertando-o para uma vida de entrega na fé e no amor. Fé como liberdade do ser humano de si mesmo, como abertura para o futuro, só é possível como fé no amor de Deus. Contudo, a fé no amor de Deus permanece auto-suficiência enquanto o amor de Deus for uma imagem criada pelo desejo, uma idéia, enquanto Deus não revelar seu amor. A fé cristã é fé em Cristo pelo fato de ser fé no amor revelado de Deus. Só quem já é amado pode amar".




"A palavra de Deus exorta o ser humano a renunciar a seu egoísmo e à segurança ilusória que ele próprio construiu para si. Exorta-o a que se volte para Deus, que está além do mundo e do pensamento científico. Exorta-o, ao mesmo tempo, a que encontre seu verdadeiro eu. Porque o eu do ser humano, sua vida interior, sua existência pessoal também se encontra além do mundo visível e do pensamento racional. A palavra de Deus interpela o ser humano em sua existência pessoal e, assim, o liberta do mundo, da preocupação e da angústia que o oprimem tão logo se esquece do além".






12)- EDWARD SCHILLEBEECKX (1914-) – Católico





Teólogo belga, nascido em Amberes em 1914 e entrou para os dominicanos em 1934.Estudou Filosofia e Teologia em Lovaina, no Studium Generale dominicano de Saulchoir e na Sorbonne, onde foi aluno do célebre historiador da teologia P. Dominique Chenu. Em 1951 doutourou-se em teologia. Depois do doutoramento com a monumental tese De Sacramentele Heilseconomie (A Economia Sacramental da Salvação), publicada em 1952, ensinou Teologia no convento dos dominicanos de Lovaina e na Universidade de Nimega (Holanda, de 1957 a 1983). Conselheiro teológico do episcopado holandês, participou no concílio Vaticano II, de forma muito ativa. É membro fundador da revista internacional, Concilium, criada em 1964, da qual tem sido um dos principais animadores. É autor de uma vasta e muito original produção teológica, traduzida em muitas línguas, na qual se podem detetar várias fases.O estudo e a atividade de Schillebeeckx responde aos princípios da “nova teologia” iniciada em Le Saulchoir. Plenamente empenhado na renovação e “aggiornamento” da Igreja. Seu trabalho consistiu “em repensar a fé tradicional em função da situação presente no mundo”. Foi o teólogo assessor do episcopado holandês no Concílio Vaticano II. Depois foi consultor do episcopado holandês nos anos que seguiram ao Concílio, em que a Igreja da Holanda submeteu-se a uma profunda revisão. Em 1965 fundou, com outros teólogos, a revista internacional de teologia “Concilium”, sendo também um dos principais inspiradores do Novo Catecismo holandês (1966). Sua numerosa obra escrita pode ser encontrada na revista “Concilium” e em outras revistas especializadas, e em obras de grande impacto e difusão não só entre teólogos, mas também entre o público dos diferentes idiomas cultos. Como a de Hans Küng, Karl Rahner, De Lubac, Häring e outros, sua obra escrita transcendeu a cátedra e os círculos especializados para passar aos diversos setores da sociedade.




Citamos algumas de suas obras:




-A economia sacramental da salvação (1952)

-Maria, Mãe da redenção (1954)

-Cristo, sacramento do encontro com Deus (1958)

-Deus, futuro do homem (1965)

-Mundo e Igreja (1966)

-Compreensão da fé: interpretação e crítica (1972)

-Jesus. Uma tentativa de cristologia (1974)

-Sou um teólogo feliz (1994)

-Os homens, relato de Deus (1995).





Dois tomos sobre A Igreja de Cristo e o homem de hoje segundo o Vaticano II reúnem sua contribuição para as revistas especializadas. Desde 1968, Schillebeeckx é objeto de observação e de críticas por parte da atual Congregação para a Doutrina da Fé. Em 1979 foi chamado a Roma para depor diante dela. “Os dogmas, segundo Schillebeeckx, têm um sentido dentro de uma perspectiva histórica determinada e utilizam noções tomadas de uma cultura particular.” Essa historicidade leva-o a reinterpretar os dogmas, levando em conta as condições da existência dos homens. Por isso, a ortodoxia só é plenamente possível sobre a base de uma “ortopráxis”: é na prática efetiva da Igreja que se realiza uma nova compreensão da mensagem da fé.A unidade de uma mesma fé e de uma mesma confissão só é reconhecível na “pluralidade de opiniões teológicas”. E o “que é verdade para o teólogo, o é também para cada crente”. Num mundo secularizado, “Deus manifesta-se normalmente sob a forma de ausência”. Ao abordar os problemas do ponto de vista histórico, aplica-os também Schillebeeckx à figura de Jesus, cujo estudo tem lhe valido duras críticas.






PENSAMENTOS DE EDWARD SCHILLEBEECKX

















"A proximidade de Deus aos seres humanos e seu amor vivificante podem tornar-se realidade na Igreja quando esta se realiza no mundo".




"O passado demonstrou que, muito antes de a Igreja ter analisado os problemas sociais, já houve pessoas que através de seu compromisso pessoal e de um diálogo pré-analítico com o mundo chegaram à decisão moral de que mudanças fundamentais eram necessárias”.




"O mundo e a história dos homens, em que Deus quer realizar a salvação, são a base de toda realidade salvífica: é aí que primordialmente se realiza a salvação... ou se recusa e se realiza a não-salvação. Neste sentido, vale 'extra mundum nulla salus', fora do mundo dos homens não há salvação”.




“Há mais verdade (religiosa) em todas as religiões no seu conjunto do que numa única religião, o que também vale para o cristianismo".




“Maria é o braço que une a humanidade santa e salvadora de Cristo à nossa humanidade”.




"Enquanto se prossegue na doce e monótona cadência das ave-marias, o pai ou mãe de família pensam nas preocupações familiares, no menino que atendem, ou nos problemas provocados pelos filhos mais velhos. Este emaranhado de aspectos da vida familiar sofre então a iluminação dos mistérios salvíficos de Cristo, e é espontâneo confiar tudo à Mãe do milagre de Caná e de toda a redenção".




"Jesus é Deus em linguagem humana".




"É preferível não reconhecer a Deus, não acreditar na vida eterna do que acreditar num Deus que em nome da outra vida despreza, oprime e humilha o ser humano nesta vida".




"Deus se revelou em Jesus, conforme a concepção cristã, valendo-se do não-divino do seu ser homem... Jesus partilhou conosco na cruz da fragilidade de nosso mundo. Mas este fato significa que em sua absoluta liberdade e antes de todo tempo, Deus determina quem e como quer ser no seu ser mais profundo, a saber, um Deus dos homens, companheiro de aliança em nosso sofrer e em nossa absurdidade, e companheiro de aliança também no que realizamos de bem. Ele é, em seu próprio ser, um Deus por nós".




"Graças à mística, a dogmática entra em contato íntimo com seu objeto; graças à dogmática crítica a mística não se funde em um cristianismo apócrifo ou em um fanatismo irracional. Mística e teologia tem necessidade uma da outra para sua própria autenticidade".




"O Reino de Deus está essencialmente ligado à pessoa de Jesus de Nazaré. O Novo Testamento mantém este fato numa de suas mais antigas lembranças, dizendo que, com Jesus, o Reino de Deus, Deus mesmo, vem para bem perto de nós. O Reino de Deus deve consequentemente ser compreendido e qualificado a partir da vida de Jesus”.





13)- HANS KÜNG (1928-) - Católico





Hans Küng é um importante teologo católico crítico da infalibilidade papal e da doutrina papal com relação ao celibato,ordenação de mulheres e ecumenismo. Hans Küng nasceu em 19 de Março de 1928 em Sursee no cantão de Lucerna na Suiça, entrou para vida religiosa estudando na Universidade Gregoriana em Roma e Paris, foi ordenado padre católico-romano em 1954 e em 1957 concluiu seu doutoramento em teologia com a tese Justification, em que trata da questão da justificação da fé. Se tornou professor de teologia da Universidade de Tübigen (1960 - 1996) na Alemanha, onde também a partir de 1963 dirigiu o Instituto de Pesquisa Ecumênica. Teve papel fundamental no Concílio Vaticano II sendo nomeado peritus (consultor teológico) pelo Papa João XXIII e ajudou na redação das conclusões do concílio que renovou áreas fundamentais do ensino e das práticas católicas.Desde os anos da década de 1960 Küng foi um dos críticos mais severos da Infalibilidade Papal, publicou em 18 de janeiro de 1970, centenário da declaração da infalibilidade papal no Concílio Vaticano I, o livro Infallible? An Inquiry em que esmiuçou e rejeitou o caráter infalível de qualquer decisão papal e da cúria. Em 1979 publicou nos principais jornais do mundo seu artigo Um ano de João Paulo II que demonstrou o reacionarismo do papa ao aceitar só nominalmente o Concílio Vaticano II, quando na substancia fortaleceu a centralização curial, impôs o culto a personalidade, endossou a exclusão das mulheres do sacerdócio e a permanência do celibato; como conseqüência desse artigo e sua críticas a infalibilidade, teve sua licença para lecionar como teólogo católico cassada pelo Papa João Paulo II.Depois da proibição foi nomeado professor de teologia ecumênica de Tübigen onde pode desenvolver seus estudos sobre ecumenismo em particular com relação ao Luteranismo; nesta tarefa Küng se sente totalmente à vontade já que se dedica prioritariamente à união dos povos, das raças, das religiões, enfatizando o que há de comum entre eles, relativizando o que os separa. Em sua tese de doutorado , Justificação em 1957 já tinha chegado a conclusão da possibilidade de um acordo teológico entre catolicismo e luteranismo que foi efetivamente realizado em 1999.Küng se aposentou como professor em 1996 e logo a seguir foi eleito presidente da Fundação Ética Global de Tübigen.Considerado como o teólogo mais polêmico e problemático de hoje, seus 70 anos apresentam, em retrospectiva, um panorama esplêndido de atividade acadêmica, científica e literária como muito poucos podem oferecer. Seu pensamento destina-se a esclarecer o genuinamente cristão e católico, desmascarando, sem medo, tudo o que de espúrio e corrupto se introduziu no cristianismo ao longo de sua história de séculos. O viver e o acontecer da Igreja é seu campo de pesquisa e sua luta, que o levaram a enfrentamentos, acareações e condenações da Igreja oficial.Alguém disse que o seu trabalho científico e teológico reproduz na Igreja de Roma o que século e meio realizara Newman na Igreja da Inglaterra: procurar razões e fundamentos para a sua fé católica.Desde a tese doutoral, Justificação. A doutrina de Karl Barth e uma reflexão católica (1957), passando pelo trabalho como conselheiro no Vaticano II, até a última obra Projeto de ética global (1990), toda a sua produção é uma pesquisa do cristão em todos os seus planos e dimensões. Assim devemos ler os seus livros: Existe Deus?; Ser cristão; Infalível?. Todos eles suscitaram polêmica e o colocaram contra a parede. Negaram-lhe o título de teólogo e até o de cristão.






Muitos se perguntaram: Küng é verdadeiramente católico? Por que continua sendo católico? Ele mesmo se fez esta pergunta e lhe responde da seguinte forma:





“A resposta, tanto para mim, quanto para muitos outros, é que não quero deixar que me arrebatem algo que faz parte de minha vida. Nasci no seio da Igreja Católica: incorporado pelo Batismo à imensa comunidade de todos os que acreditam em Jesus Cristo, vinculado por nascimento a uma família católica que amo entranhadamente, a uma comunidade católica da Suíça à qual volto com prazer em qualquer oportunidade; em uma palavra, nasci num solar católico que não gostaria de perder nem abandonar, e isto como teólogo...Desde muito jovem conheço Roma e o papado mais a fundo do que muitos teólogos católicos, e não guardo, apesar do que se tem dito contra, nenhum afeto anti-romano. Quantas vezes ainda terei de falar e de escrever que não estou contra o papado nem contra o papa atual, mas que sempre tenho defendido, ante os de dentro e frente aos de fora, um ministério de Pedro purificado de traços absolutistas, de acordo com os dados bíblicos! Sempre me pronunciei a favor de um autêntico primado pastoral no sentido da responsabilidade espiritual, direção interna e solicitude ativa pelo bem da Igreja universal.Um primado não de domínio, mas de serviço abnegado. Desde muito jovem vivi a universalidade da Igreja Católica e nela pude aprender e receber muitas coisas de inumeráveis homens e amigos de todo o mundo. Desde então resulta-me mais claro que a Igreja Católica não se identifique mais com a hierarquia nem com a burocracia romana...Por que, então, continuo sendo católico? Não apenas em razão de minhas raízes católicas, mas também em razão dessa tarefa que para mim é a grande oportunidade de minha vida e que somente posso realizar plenamente, sendo teólogo católico no marco de minha faculdade teológica. Mas isso nos leva a outra pergunta: Que significa propriamente o católico, isso que me impulsiona a continuar sendo teólogo católico? Segundo a etimologia do termo e da antiga tradição, é teólogo católico quem, ao fazer teologia, sabe-se vinculado à Igreja Católica, isto é, universal, total. E isto em duas dimensões: temporal e espacial.Nesse duplo sentido, quero continuar teólogo católico e expor a verdade da fé católica com uma profundidade e abertura igualmente católicas. Neste sentido podem ser também católicos certos teólogos que se chamam protestantes ou evangélicos, coisa que acontece de fato e, particularmente, em Tubinga. Isso deveria constituir um motivo de alegria para a Igreja oficial...Essa aceitação da catolicidade no tempo e no espaço, na profundidade e na abertura, significa que é preciso aprovar tudo o que as instâncias oficiais ensinaram, prescreveram e observaram ao longo do século XX?... Não, não é possível que se refira a uma concepção tão totalitária da verdade... De tudo se depreende que ser católico não pode significar aceitar e suportar tudo submissamente com uma falsa humildade em aras de uma pressuposta ‘plenitude’, ‘totalidade’ e ‘integridade’. Isso constituiria uma má complexio oppositorum, um trágico amálgama de contradições, de verdade e erro.Em todo caso, a catolicidade deve ser entendida sempre com um sentido crítico fundamentado no Evangelho.A catolicidade é dom e tarefa, indicativo e imperativo, enraizamento e futuro. Nesta tensão quero continuar fazendo teologia e continuar expondo a mensagem de Jesus aos homens de hoje com a mesma resolução que até agora, disposto a aprender e retificar sempre que se trate de um diálogo amistoso e fraterno...”.





Atualmente Hans Küng mantém boas relações com a igreja. Hans Küng é uma das figuras mais dignas de nota da teologia contemporânea. Dedica-se ao estudo das grandes religiões, sendo autor de obras conceituadas em todo o mundo.






Obras de Hans Küng em português:





- Uma ética mundial e responsabilidades globais

- A Igreja Católica

- Por que ainda ser Cristão hoje?

- Religiões do mundo em busca dos pontos comuns

- Teologia a caminho

- Religiões do Mundo

- Projeto de ética mundial





PENSAMENTOS DE HANS KÜNG














"Não haverá paz entre as nações, se não existir paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões, se não existir diálogo entre as religiões. Não haverá diálogo entre as religiões, se não existirem padrões éticos globais. Nosso planeta não irá sobreviver, se não houver um etos global, uma ética para o mundo inteiro".



"A religião pode fundamentar de maneira inequivocável porque a moral, as normas e os valores éticos devem vincular incondicionalmente (e não apenas quando é cômodo) e, portanto, universalmente (para todas as linhagens, classes e raças). O humano é mantido exatamente porque é concebido como fundador divino. Tornou-se claro que somente o incondicionado pode obrigar de maneira absoluta, somente o Absoluto pode vincular de maneira absoluta"




"Não é o consumo de luxo que decide a longo prazo sobre a qualidade de uma situação econômica, mas sim uma melhor infra-estrutura, uma maior segurança, um mundo ambiente intacto, e (...) os trabalhadores com melhor formação, nos quais é preciso investir".




"Devemos avançar de uma ciência eticamente livre, para outra eticamente responsável; de uma tecnocracia que domina o homem, para uma tecnologia que esteja a serviço do próprio homem;... de uma democracia jurídico formal a uma democracia real, que concilie liberdade e justiça".




“Se hoje uma exegese a-histórica já está totalmente superada, também o está uma teologia dogmática a-histórica. E se a Bíblia precisa ser interpretada de forma mais histórico-crítica, então com muito mais razão também o dogma pós-bíblico. Uma teologia que, em vez de questionar criticamente os ‘dados’, permanece aberta ou veladamente autoritária, não poderá responder às exigências científicas do futuro".




"Ninguém deveria ser obrigado a tolerar sofrimentos insuportáveis como se fossem enviados por Deus. O ser humano tem o direito de morrer quando já não tem nenhuma esperança de continuar levando o que, segundo o seu entendimento, é uma existência humana. Faz parte do meu modo de conceber a vida e está ligada à minha fé na Vida Eterna a escolha de não prolongar a minha vida terrena por tempo indeterminado. É consequência do princípio da dignidade humana o princípio do direito à autodeterminação, também para a última etapa, a morte. Do direito à vida, não deriva, em qualquer caso, o dever da vida ou o dever de continuar vivendo em todas as circunstâncias. A ajuda a morrer deve ser entendida como ajuda extrema a viver. Também nesse tema não deveria reinar qualquer heteronomia, mas sim a autonomia da pessoa. A eutanásia não seria uma forma de homicídio, mas sim uma restituição da vida nas mãos do Criador, uma escolha compatível com a fé em Deus e a vida eterna prometida por Jesus. Quero pôr fim à minha vida quando foram perceptíveis os sintomas de degradação espiritual e física grave, quero morrer com dignidade (duas trágicas experiências, lembra o artigo republicado por sites e agências de notícias do mundo global, marcaram a sua vida. Primeiro, a morte do seu irmão, que, aos 23 anos, em 1955, foi morto por um tumor cerebral: mês após mês, o atlético rapaz sofreu com a rápida deterioração de todas as faculdades mentais e físicas, passando pela crise funcional terminal de todos os órgãos vitais, até morrer sufocado pela água que lhe subia dos pulmões. Cinquenta anos depois, o seu amigo, o grande intelectual Walter Jens, morreu de um processo de demência) - Nem sempre, lembra Hans Küng, os cristãos condenaram a escolha de morrer. Em primeiro lugar, foi Santo Agostinho que condenou o suicídio, mas, durante a perseguição dos cristãos por obra do pagão e decadente Império Romano, porém, quem acreditava em Cristo preferia morrer a trair outros fiéis falando sob tortura. Por que, então, ver no suicídio o caminho para o Inferno? Por que não aceitar a ajuda a quem quer morrer? Eu não quero exaltar o suicídio, especifica Küng. Rebelde, contracorrente, herege, anticonformista. Até o fim. O teólogo Hans Küng reivindica o direito de escolher o momento último, o da passagem final. A eutanásia é a sua última batalha teológica. "Em mim, não há nenhum retrocesso na fé."   Küng declara continuar ainda "professando a primeira das quatro normas imutáveis da ética mundial, a do respeito por toda vida". Ele assegura que o dogma da sacralidade da pessoa continua sendo uma pedra angular da cultura católica, apesar do direito à doce morte. Não se trata de princípios antitéticos, nem de uma contradição. "Justamente à luz dessa fé na vida, posso escolher com a minha responsabilidade quando e como morrer. Se isso me fosse permitido, gostaria de me apagar de modo consciente e de dizer adeus aos meus entes queridos com dignidade." De acordo com ele, tal atitude "se fundamenta na esperança da vida eterna". Em suma, a eutanásia "não tem nada a ver com um autoassassinato arbitrário e ímpio". A legalização da "morte consciente" é capaz de interpretar de maneira mais profunda o valor da sacralidade da pessoa? As perguntas de Küng se sobrepõem: por que não aceitar a possibilidade de restituir gentilmente o dom da vida? "Faz parte do meu modo de conceber a vida e está ligada à minha fé na Vida Eterna a escolha de não prolongar por tempo indeterminado a vida terrena." (reportado a Gregorio Romeo e publicado no sítio HuffingtonPost.it, 08-10-2013 – Via Unisinos)    






14)- JÜRGEN MOLTMANN (1926-) – Protestante












Jürgen Moltmann é um dos principais teólogos Luteranos contemporâneos. Ele nasceu em 1926 em Hamburgo, Alemanha. Moltmann lutou na II Guerra, foi feito prisioneiro pelos ingleses e foi levado para um campo de concentração na Inglaterra. Moltmann de 1945-1948, esteve prisioneiro dos aliados na Bélgica e na Inglaterra. Esses anos de prisão levaram-no a refletir sobre o sentido da vocação cristã. Em 1948 voltou a Alemanha e foi estudar teologia. A partir de 1952, atuou como pastor da Igreja Luterana. Desde 1967, foi professor de teologia sistemática na Universidade de Tubinga. Moltmann é um escritor prolífico, centrado integralmente em “olhar a teologia sob um ponto de vista particular: a esperança. É uma contribuição sistemática à teologia, na qual considera o contexto e a correlação que os diferentes conceitos têm no campo da teologia”.Moltmann dedicou-se e ainda se dedica a lecionar teologia em universidades. Moltmann é o criador da 'Teologia da Esperança', em que desenvolve as idéias da realização do Reino, como promessa fundamental de Deus. Ele também destaca muito a importância do mistério da cruz. Moltmann é casado e tem quatro filhos.




Suas principais obras são:




- Teologia da Esperança

- O Deus Crucificado

- A Igreja na Força do Espírito

- Conversão ao Futuro.






Sobre suas obras:




1)- Teologia da esperança (1964), que o torna conhecido como um dos grandes teólogos de hoje na linha de Barth e de Bultmann. Nela confirma a importância que a escatologia tem na doutrina do Novo Testamento; a escatologia, não como crença em fatos concretos que devem acontecer nos finais dos tempos, mas como fator que modela toda a teologia cristã. Tal perspectiva escatológica do cristianismo é interpretada como promessa, como plataforma para a futura esperança. É base para uma transformação antecipada do mundo da nova terra prometida. A meta da missão cristã não é simplesmente uma salvação individual, pessoal, nem sequer espiritual; é a realização da esperança da justiça, da socialização de toda a humanidade e da paz do mundo. Esse outro aspecto de reconciliação com Deus pela realização da justiça foi descuidado pela Igreja. A Igreja deve trabalhar por essa realização, baseada na esperança futura.




2)- O Deus Crucificado (1972) expõe a doutrina de Deus a partir da perspectiva da cruz. O Deus cristão é um Deus que sofre de amor. Não é um sofrimento imposto de fora — pois Deus é imutável —, mas um sofrimento de amor, ativo. É um sofrimento aceito, um sofrimento de amor, livre, ligado ao Deus sofredor de Auschwitz e do extermínio judeu.




3)- A esse livro deve-se acrescentar A Igreja no poder do Espírito (1975). Neste estuda a atividade reconciliadora de Deus no mundo, vista sob a perspectiva da Ressurreição, da Cruz e de Pentecostes. “A Igreja — diz Moltmann — deve estar aberta a Deus, aos homens, e aberta ao futuro tanto de Deus quanto dos homens. Isso pede da Igreja não uma simples adaptação às rápidas mudanças sociais, mas uma renovação interior pelo Espírito de Cristo e a força do mundo futuro.” Isso faz com que a Igreja tenha de ser Igreja de Jesus Cristo e Igreja missionária. Deve ser também uma Igreja ecumênica, que quebre as barreiras entre as Igrejas. E deve ser também política: a dimensão política — agrade ou não — sempre existiu nela. A Teologia da Libertação ensina a Igreja a tomar partido pelos pobres e humilhados deste mundo.




3)- Finalmente, em A Trindade e o Reino de Deus (1980) estuda o mistério da Trindade de Deus fazendo “uma história trinitária”. Examina a paixão de Cristo e vê, no abandono de Cristo na cruz por Deus, o centro da fé cristã. “Deus é abandonado por Deus.” Apóia a sua doutrina social na “Doutrina Trinitária do Reino”, baseada nas idéias de Joaquim de Fiore, elaborando assim uma “Doutrina Trinitária da Liberdade”.





A obra de Moltmann pressupõe uma revitalização e um aprofundamento da teologia cristã.






PENSAMENTOS DE JÜRGEN MOLTMANN





"Cristo veio e se sacrificou para reconciliar o mundo inteiro. Ninguém fica excluído".



"Nós não somos só os intérpretes do futuro, mas já somos os colaboradores do futuro, cuja força, na esperança como realização, é Deus".




"Por 'Reino de Deus', nós entendemos o cumprimento escatológico do senhorio histórico-libertador de Deus. Seria unilateral ver o senhorio de Deus somente no seu reino perfeito, como também geraria muitos equívocos uma equiparação entre Reino de Deus e o domínio que Deus exerce atualmente. Em seu Reino, Deus reina de modo incontrastado, universal e em toda a clareza".





"A mediação entre a tradição do cristianismo e a cultura do tempo presente é a tarefa mais importante da teologia. Sem uma conexão viva com as possibilidades e os problemas do homem de hoje, a teologia cristã torna-se estéril e irrelevante. Mas, sem uma referência à tradição cristã, a teologia torna-se oportunista e acrítica".




"Deus não está presente em algum lugar do além: Ele vem, e é tal que está presente. Prometendo um mundo novo - o da vida, da justiça e da verdade universais -, ele questiona constantemente este mundo presente, através desta promessa: não que, para aquele que tem esperança, este mundo presente não seja nada; mas ele ainda não é aquilo que tem a perspectiva de ser. Assim questionados, o mundo e a condição humana acorrentada a este mundo se tornam históricos, pois são colocados em xeque e em crise por causa do futuro prometido. Lá onde começa o novo, o antigo se torna manifesto. Lá onde é prometido o novo, o antigo se torna passageiro e superável. Lá onde se espera e se aguarda o novo, o antigo pode ser abandonado. Assim a 'história' aparece, em função do seu fim, naquilo que se opera graças à promessa, naquilo que esta promessa - que caminha para frente e ilumina o caminho - permite perceber. A escatologia não desaparece nas nuvens de areia da história, senão que mantém a história viva na crítica e na esperança; a escatologia é algo como as nuvens de areia da história vindas de longe".





"Se a revelação do Ressuscitado está aberta para o seu próprio futuro e para a sua promessa, esta abertura para o futuro transcende toda a história consecutiva da Igreja, tem sobre ela uma superioridade absoluta. A recordação da promessa acontecida - recordação de um advento, e não de um evento passado - afunda como uma lasca na carne de cada (momento) presente e o abre para o futuro".




"... este evento, que se pode apreender através da Crucifixão e das aparições pascais... remete retrospectivamente para as promessas de Deus e direciona para frente em direção a um 'eschaton': a revelação da sua divindade em todas as coisas. Ele deve, pois, ser entendido como o advento escatológico da fidelidade de Deus, mas também como a garantia escatológica da sua promessa e como o início da consumação".




"A soberania do Cristo crucificado por motivo político só pode estender-se através da libertação em relação às formas do poder que mantém os homens em tutela e os tornam apáticos, e através da evacuação das religiões políticas que lhes dão sustentação. A consumação do Reino de liberdade de Jesus deve, segundo Paulo, aniquilar todo poder, toda autoridade e toda potência, que ainda são inevitáveis aqui na terra, e suprimir as apatias e as alienações que lhes correspondem. Os cristãos procurarão, de acordo com as possibilidade presentes, antecipar o futuro de Cristo, destruindo toda dominação e construindo a vida política de cada um".





"Jesus não viveu como uma pessoa privada... senão que, quanto possamos saber pelas fontes, viveu como uma personalidade pública, da proximidade do seu Deus e Pai para o seu Reino vindouro".




"Só compreendemos o caráter peculiar da sua morte se compreendermos o seu abandono por parte do seu Deus e Pai, do qual ele havia pregado a proximidade de uma forma única, benévola e solene. O caráter único do abandono por Deus, no qual Jesus morreu, guarda relação com o caráter único da sua comunhão com Deus na sua vida e na sua pregação. Trata-se de algo mais do que - e de algo diferente de - um 'desabamento' e de um 'fracasso'".




"Deve-se dizer, portanto: sua morte na cruz é o 'significado' da sua ressurreição por nós... (Pois) o Reino vindouro, cuja certeza os discípulos encontram nas aparições pascais de Cristo, assumiu a partir de agora, através de Cristo, a forma da cruz em um mundo alienado. A cruz é a forma do Reino redentor que vem, e o Crucificado é a encarnação do Ressuscitado. No Crucificado, o 'fim da história' está presente dentro da realidade da história. Nele se encontram, portanto, a reconciliação no meio do conflito e a esperança de superar o conflito".




"O Deus da liberdade, o verdadeiro Deus não se reconhece pelo seu poder e sua glória no mundo e na história do mundo, mas pela sua impotência e sua morte no patíbulo de infâmia da cruz de Jesus".




"O princípio material da doutrina trinitária é a cruz de Cristo. O princípio formal do conhecimento da cruz é a doutrina trinitária".




"Pois Jesus aceita morrer abandonado, não sofre a morte como tal, já que não se pode 'sofrer' a morte, pois o sofrimento supõe a vida. Mas o Pai, que o abandona e o entrega, sofre pela morte do Filho na dor infinita do amor".




"O que procede deste evento entre o Pai e o Filho é o Espírito que justifica os ímpios, que enche de amor os abandonados, que até aos mortos dará a vida - pois nem o fato da morte deles pode excluí-los deste acontecimento da cruz, senão que a morte em Deus também os inclui".




"O Crucificado não desaparece quando vem o cumprimento, senão que antes se torna o fundamento da existência salva em Deus, e na inabitação de Deus em todos".




“Deus, sendo amor, só pode ser testemunhado e experimentado em uma congregação pequena o bastante para que os membros se conheçam e se aceitem uns aos outros, assim como são aceitos por Cristo. O evangelho do Cristo crucificado por nós põe termo à religião como potência e abre a possibilidade de experimentar a Deus, no âmbito da comunidade genuína, como o Deus de amor”.




"O caminho para uma unidade que seja aceitável por todos está dificultado tanto pelo centralismo papal e pelo uniformismo romano, por um lado, como, por outro, pela dispersão protestante e, em último lugar, pela auto-suficiência ortodoxa".




"Por meio de subverter e demolir todas as barreiras - sejam da religião, da raça, da educação, ou da classe - a comunidade dos cristãos comprova que é a comunidade de Cristo. Esta, na realidade, poderia tornar-se a nova marca identificadora da igreja no mundo, por ser composta, não de homens iguais e de mentalidade igual, mas, sim, de homens dessemelhantes, e, na realidade, daqueles que tinham sido inimigos... O caminho para este alvo de uma nova comunidade humanista que envolve todas as nações e línguas é, porém, um caminho revolucionário".




"Se a promessa é considerada como promessa de Deus, então não pode ser verificada segundo os critérios humanos. A plenificação da promessa pode conter o novo, mesmo dentro do esperado, e superar na realidade o pensado em categorias humanas [...]. O ainda-não da expectação ultrapassa todo cumprimento já sobrevindo. Por isso, toda realidade de cumprimento, sobrevinda já agora, se transforma na confirmação, interpretação e libertação de uma esperança maior [...]. A razão da constante mais-valia da promessa e de seu permanente superávit acima da história reside no caráter inexaurível do Deus da promessa".




“O cristianismo é total e visceralmente escatológico, e não só a modo de apêndice (...). O escatológico não é algo que adere ao cristianismo, mas simplesmente o meio em que se move a fé cristã, aquilo que dá o tom a tudo que há nele. Como a fé cristã vive da ressurreição do Cristo crucificado, ela não pode ser simplesmente parte da doutrina cristã. Ao contrário, toda a pregação cristã tem uma orientação escatológica”.





15)- KARL RAHNER (1904-1985) – Católico




Um dos maiores teólogos católicos do século XX, Karl Rahner nasceu em Freiburg, na Alemanha, em 1904. Foi sacerdote jesuíta, ordenado em 1932. O teólogo Karl Rahner, foi um dos mais importantes e criativos teólogos da tradição católica no século XX, teve um papel fundamental no incentivo à abertura da igreja católica-romana às diversas tradições religiosas.Foi um dos principais assessores teológicos do Concílio Vaticano II. Em 1965 fundou a «Concilium», revista internacional de Teologia, com a colaboração de Yves Congar e Edward Schillebeeckx. Foi um pensador que influenciou muitos teólogos. Segundo muitos teólogos "todos bebemos em Rahner". O pensamento teológico na atualidade "é devedor, mas em profundidade, à reflexão deste alemão". O projeto de auto-comunicação de Deus; a relação da Antropologia com a Cristologia e a Igreja e o espírito são pontos essenciais da reflexão de Karl Rahner. Rahner estudou na universidade de Freiburg e acompanhou os cursos de Martin Heidegger, uma das influências decisivas na sua formação (outras influências importantes seriam Kant e o jesuita belga Joseph Maréchal).Karl Rahner passou a maior parte da sua vida ensinando teologia sistemática em cidades como Innsbruck e Munique. Deixou uma obra vastíssima, que inclui as "Investigações Teológicas", em 14 volumes. Karl Rahner faleceu em 1985.






     (faltou especificar exatamente o que? e onde? no atual magistério oficial)






Karl Rahner foi profundamente ligado à renovação da teologia católica e da Igreja. Desde 1948 foi professor de teologia dogmática em Innsbruck. Posteriormente lecionou também teologia nas Universidades de Munique e Münster. A partir de 1964, e durante três anos, participou dos trabalhos da comissão teológica do Vaticano ll, dando ao mesmo tempo cursos sobre a concepção cristã do mundo na Faculdade de Filosofia de Münster, onde sucedeu Romano Guardini. A aposentadoria de Rahner, em 1971, não interrompeu sua atividade científica e pastoral, já que continua sendo membro ativo do Sínodo Nacional da Alemanha.Sua obra insere-se na corrente filosófica alemã de Heidegger, de quem foi discípulo, e nutre-se do pensamento teológico alemão tanto católico quanto protestante. É uma teologia aberta e profundamente tradicional, mas fortalecida com um novo alento de vida e cultura moderna. Sua numerosa produção vai de 1941 a praticamente seus últimos dias, em 1985.





Cabe assinalar as seguintes obras:





-Ouvinte da palavra (1941);

-Visões e profecias (1952);

-Liberdade de palavra na Igreja (1953);

-Missão e graça (1959);

-Cristologia (1972);

-Mudança estrutural da Igreja (1973);

-Curso fundamental da fé (1976).

-Manual de teologia pastoral (1971-1972).





Muitos de seus escritos foram coletados nos Escritos de Teologia (1954-1975) e na coleção “Quaestiones disputatae” (iniciada em 1958). Dirigiu também as obras enciclopédicas Sacramentum mundi (1969). Dessa abundante obra destacamos sua doutrina mais original, e que divulgou o que se conhece como “cristianismo anônimo”.Para ele, cristão é todo aquele que “choca com o mistério”. Quanto mais o homem se coloca questões fundamentais e se aprofunda na experiência da vida ou utiliza seus conhecimentos científicos, mais se adentra no mistério: “é o mistério que chamamos Deus”.Pois bem, “o cristão anônimo”, tal como o entendemos, é o pagão que vive depois da vinda e pregação de Cristo, em estado de graça através da fé, da esperança e da caridade, embora não tenha conhecimento explícito do fato de que sua vida é orientada pela graça salvadora que leva a Cristo... "Deve haver uma explicação cristã que dê conta do fato que todo indivíduo que não opera em nenhum sentido contra a sua própria consciência e diz realmente em seu coração ‘Abba’ com fé, esperança e caridade, é na realidade aos olhos de Deus um irmão para os cristãos” (Escritos de teologia).Sua idéia, seguida hoje por muitos outros teólogos, de que existam “cristãos anônimos” sem compromisso religioso algum, é altamente sugestiva. “Cristão anônimo é aquele que aceita a si mesmo numa decisão moral”, ainda quando tal decisão não se faz de uma forma “religiosa” ou “teísta”. Justificaria o chamado “cristianismo secular” ou “cristianismo horizontal” tal como o formulou a Assembléia de Upsala (1964) e tal como o formula a Teologia da Libertação. Pode-se ser cristão sem referência a nenhum elemento religioso. E a Igreja fica como comunidade missionária sem nenhuma pretensão ou pressão social e política.Segundo Karl Rahner, o homem é o ser "ouvinte da Palavra". Por sua dimensão espiritual, o homem está receptivo a uma possível revelação divina, que lhe explique e dê significado ao mistério da Existência e do Ser. O homem é o único ser, que pergunta-se pelo mistério e o sentido da Existência e do Ser, e isso devido a sua dimensão espiritual: o homem é espírito. Por ser espírito, o homem está receptivo e a procura de uma explicação para o Mistério; o homem é um "ouvinte da Palavra"; ele contém um a priori cognoscitivo, que é essa abertura para uma possível revelação divina; o homem é o ser à espera da manifestação de Deus.A revelaçao é uma auto-manifestação de Deus, é uma auto-revelação; e essa auto-comunicação de Deus responde e vem ao encontro da "abertura" ou "receptividade" humana que está à procura e à espera de uma resposta válida e coerente para suas perguntas sobre o Ser e a Vida.Assim como Kant estabeleceu os a prioris que permitem o homem chegar ao conhecimento da ciência e do mundo; Rahner estabeleceu os a prioris que permitem ao homem chegar ao conhecimento de Deus e da teologia.O a priori de Rahner, consiste nessa abertura e receptvividade do homem para com o Mistério. O Mundo, o Ser e a Vida são mistérios e interrogações que colocam-se diante do homem, e o homem está a espera de uma Palavra, uma Revelação, que lhe dê sentido e explicação sobre essas realidades misteriosas; por isso o homem é um "ouvinte da Palavra". O homem está à escuta da Palavra que lhe dê a resposta apaziguadora; essa Palavra é a auto-comunicação de Deus. Cristo é justamente essa auto-revelação e auto-manifestação de Deus. Em Cristo, Deus se auto-revela e se auto-comunica aos homens, dando-lhes a resposta que eles procuram e buscam.A teologia de Rahner é chamada de "transcendental", pois parte da dimensão do mistério da Vida e do Ser. É diante do mistério da Vida e do Ser, que o homem pergunta-se pelo sentido e significado das coisas; é a partir desse mistério, que o homem está a espera de uma revelação.Como outros teólogos, Rahner recebeu vários “monitum”. Sua teoria do cristianismo anônimo, aberto a todos e não monopolizado pela Igreja — um cristianismo disperso e arraigado em todo o mundo, um cristianismo sem fronteiras, fruto da graça de Deus oferecida acima de todas as categorias humanas — foi posta em questão. “A teologia não é um assunto privado e, submetida ao Magistério da Igreja, inclusive em sua tarefa de pesquisa, não pode esconder-se atrás de uma liberdade acadêmica” (Paulo VI, 1975). Não obstante, permanece o mais valioso de sua doutrina: o diálogo constante mantido com o homem moderno, com a sociedade e suas condições. A teologia terá de fazer o possível para não se desentender com eles.






PENSAMENTOS DE KARL RAHNER:












“O cristão do futuro, ou será místico ou não será cristão”





"Maria é a concreta realização do perfeito cristão. Maria é como nós. Jesus Cristo é outrossim um como nós. Mas ele também é Deus. Maria é que é inteiramente uma entre nós! O que ela é nós devemos ser. É por isto que Maria é-nos tão familiar. É por isso que nós a amamos".




"Deus age através de Causas Segundas. É Ele a Causa Primeira que dá origem e sustenta a cadeia de todas as causas segundas que movem o mundo. Mas não é, Ele mesmo, um elemento do mundo, como se fosse apenas uma causa segunda entre as outras. Deus, em sí mesmo, não é uma engrenagem do mundo".




"A condição criada do mundo é relação absolutamente única, só ocorre uma vez. Criação e condição de criatura não indicam apenas o primeiro momento da existência de um ser temporal, mas significam, em última análise, a constituição desse ser existente e do seu tempo, constituição essa que não entra no tempo mas é o fundamento da criatura, e do próprio tempo."




"O homem deve ser entendido como a possibilidade de ser assumido por Deus, de tornar-se o material de possivel história de Deus. Deus planeja o homem de modo criador, tirando-o do nada, e o coloca em sua realidade de criatura, diferente de Deus, mas como a "gramática" de possivel auto-expressão de Deus. A humanidade de Jesus Cristo não é mera aparência de Deus. Também não é Ele um mero profeta, mas o próprio Deus. Em consequência, manifesta-se como herética qualquer idéia da encarnação que considere a humanidade de Jesus como se fosse apenas uma "roupagem" revestida por Deus, de que ele apenas se servisse para assinalar sua presença quando fala. Quem aceita inteiramente o seu ser homem, acolheu o Filho do Homem porque, neste, Deus acolheu o homem. Ao dizer a Escritura que quem ama o próximo cumpriu a Lei, trata-se aí da verdade última, uma vez que o próprio Deus tornou-se este próximo e, desta sorte, em todo o próximo, sempre é acolhido e amado aquele que é simultaneamente o mais próximo e mais longínquo: Deus. A realidade humana de Deus em Jesus Cristo permanece para sempre, eternamente..."




"A descoberta do Coração de Jesus na fé, na esperança e na caridade, é um longo e aventureiro caminho, pleno de imprevistos; uma viagem da qual não se vê o fim senão quando se acaba por entrar no seu próprio coração, para aí descobrir que esse horrível fosso está pleno do próprio Deus".




"A tarefa mais urgente de uma Cristologia de hoje consiste em formular o dogma da Igreja - 'Deus é (tornou-se) homem, e este Deus que se fez homem é o Jesus Cristo concreto' - de modo a tornar compreensível o que estas proposições significam e em excluir toda a aparência de uma mitologia que se tornou inaceitável hoje".



"Se a ressurreição de Jesus é a vigência permanente de sua pessoa e sua causa, e se esta pessoa-causa não significa a sobrevivência de um homem e de sua história, mas o triunfo de sua pretensão de ser o mediador absoluto da salvação, então a fé na sua ressurreição constitui um momento intrínseco dessa ressurreição e não a tomada de consciência de um fato que por sua natureza poderia existir exatamente o mesmo sem ser conhecido. Se a ressurreição de Jesus há de ser a vitória escatológica da graça de Deus no mundo, não é possível concebê-la sem uma fé efetiva (ainda que livre) nela, uma fé na qual culmina a própria natureza da ressurreição".





16)- KARL BARTH (1886-1969) – Protestante












Karl Barth foi um dos maiores pensadores protestantes do século XX. Karl Barth nasceu em Basel, Suíça, no dia 10 de maio de 1886. Barth foi um teólogo de confissão calvinista. Filho de pais religiosos, foi educado em meio a pastores conservadores. Suas influências acadêmicas foram Kant, Hegel, Kierkegaard e teólogos como Calvino, Baur, Harnack e Hermann. Até 1911, ainda jovem, esteve Karl Barth vinculado ao protestantismo liberal antidogmático e modernista de Adolf von Harnack (1851-1930), invertendo a seguir sua posição. Em 1911 começou a pastorear uma pequena igreja do interior da Suíça e aí ficou até 1925. Durante esses anos conheceu Eduard Thuneysen, amigo que acompanhou e contribuiu em suas reflexões teológicas. Nessa época seu grande desafio era o que pregar a cada domingo. Em 1914, ele e Thuneysen resolveram buscar uma resposta ao desafio da pregação. Durante quatro anos, Thuneysen estudou Schleiermacher e Barth estudou Paulo. Como fruto desses estudos, em 1919, Barth publicou seu Comentário à Epístola aos Romanos.Estudou em Berna, Berlim, Tuebingen, Marburgo. Algum tempo pastor em Genebra e em Safenwil. A partir de 1921 passou a ensinar teologia na universidade alemã de Goettingen; em 1925, na de Muenster; em 1930, na de Bonn. Em 1935, por sua atitude anti-nazista, foi obrigado por Hitler a refugiar-se em Basiléia, de cuja universidade foi professor, onde lecionou até 1961. Na Alemanha, deu ainda, na qualidade de professor estrangeiro, lições em Bonn, em 1946 e 1947.Karl Barth faz parte da chamada “teologia dialética” ou “da crise”, junto a J. Moltmann, E. Brunner, R. Bultmann, F. Gogarten e outros. Barth deu nome a um movimento: o barthismo, que propõe uma total e coerente adesão à Palavra de Deus, equivalente ao objetivismo da revelação bíblica e ao fato histórico da encarnação, contra o imanentismo da cultura moderna geral e em particular do “protestantismo liberal”. Procurou renovar a teologia desvinculando-a da tradição fideísta de Schleiermacher (1768-1834), para recolocá-la na reforma do século 16. A teologia de Barth é uma reação frente a Schleiermacher e, em geral, contra a cultura do Romantismo e do Iluminismo.Barth rejeitou a analogia entre Deus e a criatura, para destacar a transcendência divina, advertindo que somente é válida a via negativa de acesso a Deus, de acordo com a expressão de Kierkegaard sobre a infinita diferença qualitativa entre o tempo e a eternidade.Com o destaque da transcendência divina abriu largo espaço entre Deus e o homem. Abandonado o homem existencialmente a si mesmo, não tendo senão a fé como caminho para o alto. Cristo é o intermediário, como se diz na Epístola aos Romanos, e comentada por Barth. A teologia de Barth recebe muitos nomes: teologia da crise, teologia dialética, teologia kerigmática,teologia da Palavra.Participou, como observador, do Concílio Vaticano II. A doutrina de Barth está presente em seus numerosos discípulos e em sua extensa e valiosa obra escrita. Destacamos seu monumental Die Kirchliche Dogmatik (10 vols., 1955) e o Comentario à epístola aos Romanos (1919); Humanismus (1950), e outras.Karl Barth faleceu em dezembro de 1969.




Podemos sintetizar sua teologia nos seguintes pontos:




1) Barth destaca a absoluta transcendência de Deus. Deus é o único positivo, o ser. O homem, no entanto, da mesma forma que o mundo, é a negação, o não ser. Justamente por não ser nada, o homem não tem a possibilidade de autoredenção; nem ao menos de conhecer Deus, mas somente de saber que não o conhece.




2) A iniciativa vem de Deus, que irrompe no mundo do homem através de sua revelação e palavra. A teologia de Barth é, por isso, a teologia da palavra. A revelação de Deus é o objeto da teologia. Barth centra toda a sua atenção na revelação e palavra de Deus na Bíblia.




3) Barth vê a revelação de Deus na Bíblia como algo dinâmico, não estático. A palavra de Deus, diz Barth, não é um objeto que nós controlamos como se fosse um corpo morto que podemos analisar e dissecar. Na realidade é como um sujeito que nos controla e atua sobre nós. E essa Palavra é capaz de nos fazer reagir de um jeito ou de outro.




4) A Palavra de Deus é o acontecimento mediante o qual Deus fala e se revela ao homem através de Jesus Cristo. E como isto se torna realidade? A Bíblia, Palavra escrita de Deus, é a testemunha do acontecimento da Revelação de Deus. O Antigo e o Novo Testamento colocam Jesus Cristo como o “Cordeiro de Deus”, anunciado por João Batista. Por isso, sem dúvida, desde seus primeiros anos como pastor, Barth teve sobre sua mesa a pintura de Grünewald em que João Batista mostra Jesus Cristo crucificado.




5) Hoje, através da Palavra proclamada, a Igreja é testemunha da Palavra revelada. Sua proclamação baseia-se na palavra escrita, a Bíblia. Deus serve-se desta palavra proclamada e escrita, e se transforma em palavra revelada de Deus, quando ele quer falar-nos através dela.




6)- A ênfase da teologia de Barth está na revelação de Deus em Jesus Cristo. A única palavra de Deus está em Jesus Cristo. Toda relação de Deus com o homem se dá em Cristo e através de Cristo. Em sua forma negativa, isto significa a exclusão da teologia natural. Positivamente, tudo deve ser visto e interpretado a partir de Cristo ou, empregando a expressão barthiana, a partir da “concentração cristológica”. O pecado original não pode ser entendido independentemente de Cristo. A fé também não é fruto de um raciocínio nem está fundamentada em um sentimento subjetivo. “Em Jesus Cristo não há separação do homem de Deus, nem de Deus do homem.”




7)- Barth prega que “a mensagem da graça de Deus é mais urgente que a mensagem da Lei de Deus, de sua ira, de sua acusação e de seu juízo”. A teologia de Barth exerceu e continua exercendo uma influência decisiva na constante procura da palavra autêntica e verdadeira de Deus. Sua condição de “crente” que não invoca nenhum mérito diante de Deus é o melhor estímulo para os cristãos de todos os tempos.




Produziu obra volumosa, ainda que sob poucos títulos:



- Comentário à epístola aos romanos (1919)

- O cristão na sociedade (1920)

- A ressurreição dos mortos (1924)

- A palavra de Deus e a teologia (1925)

- A dogmática cristã (26 vols, 1932-1969)

- A teologia protestante no século 19 (1947).




PENSAMENTOS DE KARL BARTH






“Devemos falar de Deus. Somos, porém, humanos e como tais não podemos falar de Deus. Devemos saber ambos, nosso dever e nosso não-poder, e justamente assim dar glória a Deus”




"Que o Pai ama o Filho e que o Filho é obediente ao Pai, que Deus se entrega ao homem neste amor e, nesta obediência, assume a baixeza do homem para elevá-la à sua altura, que o homem se torna livre neste acontecimento, pelo fato de escolher por sua vez a Deus que o elegeu, eis em absoluto uma história que não pode, como tal, ser interpretada por equívoco como uma causa imóvel que produz efeitos quaisquer"




"É preciso segurar numa mão a Bíblia e na outra o jornal".



"Tudo o que digo de Deus é um homem quem o diz".



"Se se nega a Trindade temos um Deus sem beleza".



"Igreja existe ali onde a pessoa humana presta ouvidos a Deus"



"O culto constitui a ação mais momentosa, mais urgente e mais gloriosa que pode acontecer na vida humana".



"Que Deus enquanto Deus seja capaz de tal condescendência, de tal rebaixamento de si mesmo, que esteja disposto e pronto para isto: eis aí - o que muitas vezes se desconhece neste caráter concreto - o mistério da 'divindade de Cristo'"




"Precisa morrer em Cristo o homem que escolhe para si o materialismo, lendas e fábulas ou a transitoriedade do mundo; o homem que se esquece que nada tem que não tivesse recebido e precisasse receber novamente de Deus; o homem que quer safar-se do paradoxo da fé; o homem que já não quer, ou que ainda não quer, abrir mão de sua confiança na sabedoria, na ciência, nas coisas certas e palpáveis do mundo, e do conforto que este oferece, para depender exclusivamente da graça de Deus. Precisa morrer em Cristo o homem que tenha qualquer outro pretexto para se apoiar, que não seja 'esperança'."




"Justamente de Jesus Cristo, não sabemos nada de tão certo quanto isto: em uma livre obediência a seu Pai, escolheu ser homem e, como tal, fazer a vontade de Deus"




"Eis, portanto, qual é a realidade de Jesus Cristo: Deus mesmo em pessoa está presente e age na carne. Deus mesmo em pessoa é o sujeito de um ser e de um agir realmente humanos. E é justamente assim, e não de outra forma, que este ser e este agir são reais. É um ser e um agir autêntica e verdadeiramente humanos... Sua humanidade (de Jesus) não é senão o atributo da sua divindade, ou antes, em termos concretos: ela não é senão o atributo, assumido no decurso de um rebaixamento incompreensível, da Palavra que age em nós e que é o Senhor".




"Como filho do homem e portanto como ser humano, Jesus Cristo só existe pela ação de Deus: pelo fato de ser primeiramente o Filho de Deus... Mas a humanidade de Jesus, em si e como tal, seria um atributo sem sujeito".







17)- PIERRE TEILHARD DE CHARDIN (1881-1955) – Católico





Pierre Teilhard de Chardin nasceu em Sarcenat, Clermont-Ferrand, na França, em 1881. Ingressou na Companhia de Jesus em 1899, ordenou-se sacerdote em 1911 e lecionou geologia e paleontologia no Instituto Católico de Paris de 1920 a 1923. Em seguida, permaneceu no Oriente (China, Índia, Birmânia, Java) até 1946, com vários períodos de estudo passados nos Estados Unidos e na Somália-Etiópia. Em 1923, descobriu a civilização paleolítica do deserto de Ordos, depois participou das escavações de Chou-k'ou-tien, que levaram à descoberta do sinantropo (Sinantropos pekinensis). Retornou à pátria em 1946 e esteve novamente nos Estados Unidos em 1951 e em 1953, encarregado de organizar as pesquisas antropológicas no sul da África.Famoso como cientista, seu pensamento religioso e teológico, porém, só teve sucesso e difusão mundial após sua morte, sobretudo devido à publicação de numerosas obras ainda inéditas, que indicavam à teologia contemporânea novos caminhos de investigação, mais arrojados, baseados na antropologia e na interpretação evolucionista da criação.



Toda sua vida e obra se resume nestas palavras:




"Sou um cidadão do Céu e um cidadão da Terra"




Dedicou-se arduamente aos estudos paleontológicos e biológicos, enquanto era um homem de profunda espiritualidade e vida interior. Procurou fazer uma síntese entre Cristianismo e Evolucionismo.





Dentre seus escritos mais famosos destacam-se:




-"O coração da matéria" (1950)

-"O fenômeno humano" (1955)

-"O surgimento do homem" (1956)

-"O lugar do homem na natureza" (1956)

-"O meio divino" (1957)

-"O futuro do homem" (1959)

-"A energia humana" (1962)

-"Ciência e Cristo" (1965).




O Santo Ofício chegou mesmo a divulgar um monitum, ou advertência simples, para a aceitação das idéias do religioso, no entanto, suas idéias marcaram e influenciaram profundamente o Concílio Vaticano II. Teilhard de Chardin regressou à França em 1946, mas ante a impossibilidade de publicar seus textos - que circularam em exemplares mimeografados e só foram editados após sua morte - transferiu-se para os Estados Unidos. Ingressou então na Fundação Wenner-Gren, de Nova York, que patrocinou, nos últimos anos de sua vida, duas expedições científicas ao continente africano.As teorias teilhardianas, que tendem a interpretar a inspiração cosmológica e escatológica do cristianismo primitivo à luz da ciência moderna, embora recebidas com suspeitas e entre violentas polêmicas, contribuíram para a aproximação entre cristianismo e mundo científico moderno. Em 1950, Teilhard foi nomeado membro da Academia de Ciências de Paris.Teilhard de Chardin morreu em Nova York, em 10 de abril de 1955, no domingo de Páscoa. Ele teria dito algumas semanas antes numa conversa com amigos: 



"Seria tão bom morrer na Páscoa!"









PENSAMENTOS DE TEILHARD DE CHARDIN
















"Em virtude da criação, e mais ainda da Encarnação, nada é profano neste mundo, para quem sabe ver".




"Ter consciência de que o trabalho humano aperfeiçoa o reino de Deus, e que o esforço é uma participação na Cruz de Cristo, eis o privilégio do homem cristão. É a Deus e a Deus somente que ele forma através da realidade das criaturas".




"Eu amo-Vos Jesus pela multidão que se abriga dentro de vós, que ouço, com todos os outros seres, falar, rezar, chorar, quando me junto a Vós".




"Se não nos amarmos uns aos outros pereceremos, porque para ser mais é preciso unir sempre mais"."Ser é unir-se a si mesmo, ou unir os outros"




"É um dever sagrado para o cristão, em matéria de verdade humana, pesquisar e comunicar o que ele encontra aos profissionais e em nível profissional".




"Porque o Cristo é Ômega, o Universo está fisicamente impregnado, até no seu âmago material, da influência de sua natureza sobre-humana. A presença do Verbo encarnado penetra tudo como um Elemento Universal".




"Jesus crucificado não é um rejeitado ou um vencido. Pelo contrário. Ele é Aquele que carrega o peso e que sobreleva sempre, em direção a Deus, os progressos da marcha universal".




"Se meus escritos são de Deus, passarão. Se não são de Deus, só resta esquecê-los".




"O futuro é como as águas sobre as quais se aventurou o Apóstolo: carrega-nos na proporção de nossa fé".




"O Cristianismo mais tradicional, o do Batismo, da Cruz e da Eucaristia é susceptível de uma tradução onde passa o melhor das aspirações contemporâneas".




"Se eu pudesse mostrar apenas, por um instante que fosse, aquilo que eu vejo, acho que valeriam a pena todos os esforços de uma vida inteira".




"A única religião daqui por diante possível para o Homem é aquela que lhe ensinará, primeiro, a reconhecer, amar e servir apaixonadamente o Universo do qual ele faz parte".




"A coisa mais impossível de se deter no Mundo é a marcha de uma idéia. Nada poderia jamais impedir o Homem de procurar tudo pensar e tudo experimentar até fim".




"Tu que feres e curas, tu que resistes e és dócil, tu que arruínas e que constróis, tu que acorrentas e que libertas - seiva de nossas almas, Mão de Deus, Carne de Cristo, Matéria, eu te bendigo!"




"Quando, pela primeira vez, num ser vivo, o instinto se percebeu no espelho de si mesmo, foi o Mundo inteiro que deu um passo".




"Quanto mais o Homem se tornar Homem, menos aceitará se mover senão em direção do interminavelmente e indestrutivelmente novo: ... o Absoluto".




"O homem não é apenas um ser que sabe, mas é também um ser que sabe que sabe".



"A alma humana é feita para não estar sozinha".




"Matéria, Vida e Energia: as três colunas de minha visão e de minha felicidade interior".




"Todos os sofredores da Terra juntando seus sofrimentos para que a dor do Mundo se torne um grande e único ato de consciência, de sublimação e de união: ... uma das mais altas formas da obra da Criação".




"O Universo, considerado em seu conjunto, tem um fim e não pode errar de direção, nem parar no caminho".




"Todos os que querem afirmar uma verdade antes do tempo arriscam-se a descobrirem-se heréticos".




"Algum dia, quando tivermos dominado os ventos, as ondas, as marés e a gravidade... utilizaremos as energias do amor. Então, pela segunda vez na história do mundo, o homem descobrirá o fogo."




"Nosso Cosmo, no fundo, não é senão o lento nascimento de uma consciência universal".




"Amar a Deus não somente 'de todo o seu corpo e de toda a sua alma' mas de todo o Universo em evolução".




"Eu creio que o Universo é uma Evolução. Eu creio que a Evolução vai para o Espírito. Eu creio que o Espírito, no Homem, se conclui no Pessoal. Eu creio que o Pessoal supremo é o Cristo-Universal".




"Quando o Cristo, prolongando o movimento da sua encarnação, desce ao pão para substituí-lo, sua ação não se limita à parcela material que sua Presença vem, por um momento, volatizar. Mas a transubstanciação se aureola de uma real, ainda que atenuada, divinização de todo o Universo. Do elemento cósmico em que se inseriu, o Verbo age para subjugar e assimilar a Si todo o resto".




"Aquele que amou apaixonadamente a Jesus escondido nas forças que fazem morrer a Terra, a Terra, desfalecendo, abraçá-lo-á maternalmente em seus braços gigantes, e, com ela, ele despertará no seio de Deus".




"O grande acontecimento de minha vida foi a gradual identificação de dois sóis no céu de minha alma, sendo um o ápice cósmico postulado por uma evolução generalizada do tipo convergente e outro constituído pelo Jesus da fé cristã".




"Matéria, Vida e Energia: as três colunas de minha visão e de minha felicidade interior".




"Cada um de nós, quer queira quer não, liga-se, por todas as suas fibras materiais, orgânicas e psíquicas, a tudo que o circunda".




"Cada indivíduo carrega em si algo de todo o interesse final do Cosmo".




"Quando o sacerdote pronuncia as palavras: 'Isto é o meu corpo', as palavras incidem diretamente sobre o pão e diretamente transformam-no na realidade individual do Cristo. Mas a grande ação sacramental não para neste acontecimento local e momentâneo... Há uma 'eucaristização' de toda a criação".




“Senhor, já que uma vez ainda, não mais nas florestas da França, mas nas estepes da Ásia, não tenho pão, nem vinho, nem altar, eu me elevarei acima dos símbolos até à pura majestade do Real, e vos oferecerei, eu, vosso sacerdote, sobre o altar da terra inteira, o trabalho e o sofrimento do mundo”.






18)- ROMANO GUARDINI (1885-1968) - Católico






Teólogo católico ítalo-alemão. Nasceu em Verona, na Itália, em 1885. Filho de um cônsul italiano, com um ano apenas, Romano Guardini se transferiu para a Alemanha. Estudante de química e de economia em Tubinga e em Berlim, cursou os estudos eclesiásticos e foi ordenado sacerdote. Foi professor de dogmática em Bonn (1922), de filosofia católica em Berlim (1923) e mestre na arte da interpretação; exerceu uma considerável influência na juventude católica alemã depois da I Guerra Mundial. Sua cátedra foi suprimida em 1939 pelo regime nacional-socialista. Em 1945 foi convidado a ensinar na Universidade de Tubinga e, a partir de 1948, na de Munique, donde expunha seu próprio pensamento sobre uma cosmovisão católica do mundo. Para sustituir-lhe, depois de sua jubilação, se chamou a Karl Rahner. Em 1952 obteve o premio da paz dos livreiros alemães.Não pertencendo à linha tomista, nem por isso foi menos obediente à tradição evangélica e patrística, procurou manter um contínuo contato com a cultura e filosofia modernas. Soube dar à mensagem cristã uma expressão moderna, tornando-a atual para um vasto público do século XX. De inspiração agostiniana, sua teologia, que explora amplos espaços da cultura, é mais uma evocação da vida de fé que uma sistematização dogmática.A vida e a atividade de Romano Guardini têm sido a de um extraordinário e sábio professor. Sua numerosa obra persegue uma interiorização psicológica e poética de fundamento teológico, ao mesmo tempo que uma visão unitária e total da existência humana. A concessão do prêmio Erasmo, em 1961, foi o reconhecimento a um homem e à sua obra que contribuíram com a reconstrução da Europa na pax christiana e na cultura clássica. Permanecem para sempre as suas obras como O espírito da liturgia (1918), sem dúvida, o livro que mais contribuiu para fomentar o movimento litúrgico anterior ao Vaticano II.Sua influência na teologia católico-romana do século XX foi grande. Isto pode ser visto especialmente em dois campos: o diálogo entre teologia e literatura (como fez, por exemplo, nos seus estudos sobre Dante), e a liturgia.A teologia de Guardini é a suma de uma experiência, de uma práxis teológica espiritual e concreta. Trata-se, sem dúvida alguma, de uma pesquisa científica, sistemática, elaborada mediante método rigoroso e orgânico e, ao mesmo tempo, de caráter vital. O centro de sua teologia é a cristologia. Ao Cristo dedicou muitas obras e artigos.Através de seus livros e conferências, Guardini fez da teologia e do pensamento cristão uma forma original, cheia de sensibilidade e de cultura, para aproximar-se do homem culto de hoje. Como P. Lippert, Karl Adam e outros, Guardini permanecerá como o renovador culto do pensamento cristão que prepara o caminho para o Concílio Vaticano II.Romano Guardini faleceu em Munique, em 1968.





Entre suas muitas obras, cabe recordar:




-O espírito da liturgia (1917)

-Cartas de autoformação (1922)

-O universo religioso de Dostoievski (1933)

-A morte de Sócrates (1934)

-Pascal (1934)

-A essência do cristianismo (1939)

-Liberdade, graça e destino (1948)

-A aceitação de si mesmo (1950)

-O Senhor (1954).







PENSAMENTOS DE ROMANO GUARDINI















“O Homem, em geral, não reza de bom grado e experimenta facilmente tédio na oração, constrangimento, repugnância e até animosidade. Qualquer ocupação lhe parece mais interessante e importante e diz para si próprio: 'Não tenho agora tempo para rezar' ou 'agora é mais urgente fazer aquilo'. E geralmente o tempo não empregue na oração é desperdiçado nas coisas mais supérfluas.”




“Salvação quer dizer que a pessoa e a vida aí reencontram o próprio significado (...) em um sentido absoluto. Salvação quer dizer que o ser daquele que faz a experiência é preenchido e ordenado segundo uma linha de valores definitivos, justamente por meio do relacionamento com a realidade numinosa [realidade original, da qual decorre a realidade fenomênica] que se lhe manifesta; que, por meio dela, as perguntas sobre a causa, o sentido e a meta de sua vida recebem a verdadeira e última resposta”.




“A natureza, designa a totalidade das coisas; tudo o que é. Mais exatamente: tudo o que existe antes que o homem faça alguma coisa. E então: as estrelas, a terra, suas plantas, seus animais, e também o homem enquanto realidade orgânica e espiritual. Isso tudo se oferece à experiência como algo de profundo, de potente, de magnífico; como uma plenitude de vida à nossa disposição; mas logo depois também como uma lição para o nosso conhecimento, para a nossa conquista e para a nossa transformação”.




“Ser pessoa significa que não posso ser habitado por nenhum outro, e que, na relação comigo próprio, me encontro só comigo; que não posso ser representado por nenhum outro, e que sou único".




"A terra está impregnada de um êxtase cósmico: existe nela uma realidade e uma presença eterna que, normalmente, dorme sob o véu do cotidiano. A realidade eterna deve ser revelada agora, como numa epifania de Deus, através de tudo o que existe".




"O homem que envelhece vai tomando gradativamente consciência de que não é eterno. Agita-se menos e, assim, os sons das vozes que vêm do além se fazem ouvir".




“A realidade religiosa toca o ponto mais vivo do homem, o centro mais sensível do seu ser pessoal. Desperta, porém, afetos muito específicos, que se referem somente a ela: uma forma especial de pudor, de reverência, de temor, de desejo, de amor, de zelo, de beatitude, de confiança. Mas ela afeta também o centro normativo do homem, sua ‘consciência moral’ (...) O religioso toca essa consciência; propõe para ela suas exigências, sem forçar, apenas através do significado e do que é direito: o homem deve fazer ou deixar de fazer determinadas coisas, orientar em certa direção sua vida. Ele não pode contestar o direito desta exigência que lhe é proposta, pois ela é evidente. Pode apenas rejeitá-la, desobedecer-lhe, evitá-la (...) A experiência religiosa abre um ‘mundo’, entendida essa palavra no sentido objetivo e subjetivo: uma coordenação de coisas e fatos, de relações entre os homens e as coisas, de ações e de obras, de experiências e situações, toda uma outra ‘vida’”.




“Quanto melhor compreendermos a figura da mãe do Senhor a partir do Novo Testamento, melhor compreenderemos e viveremos a nossa vida cristã, tal como ela é realmente. Ela é aquela que trouxe o Senhor no mais profundo de si mesma; através de toda a sua vida e até na morte. Continuamente teve de experimentar como Ele, vivendo do mistério de Deus, dela se afastava. Continuamente se elevava Ele para mais alto, e assim foi ela sendo trespassada pela «espada» (Lucas 2,35); mas, sempre também, ela se ergueu mercê da fé até Ele, e O envolveu de novo. Até que, por fim, Ele não quis mais ser seu filho. O outro, que estava ao pé dela, devia tomar o seu lugar. Jesus estava só, ao alto, no cume mais agudo da criação, perante a justiça de Deus. Mas ela, numa compaixão derradeira, aceitou a separação — e, graças a isso, voltou de novo, na fé, para junto dEle. Sim, a verdade, «feliz aquela que acreditou!»”






19)- HANS URS VON BALTHASAR (1905-1988) – Católico










Teólogo jesuíta suíço, nascido em 1905, em Lucerna. Foi um dos mais importantes do século XX (considerado o favorito do papa João Paulo II, que o fez cardeal nos últimos dias de sua vida). Estudou germanismo e filosofia em Viena, Berlim e Zurique (1923-1929) e filosofia e teologia em Lyon e Pullach (1929-1938).Depois de ser ordenado sacerdote, exerceu seu ministério em Munique, Zurique e Basilea como capelão de estudantes.Sua obra recolhe as incitações mais fecundas do pensamento alemão e francês e da teologia cósmica dos padres gregos.Ordenado padre em 1936, von Balthasar foi jesuíta até 1950. Nesse ano deixou a Sociedade de Jesus, como consequência de, no desempenho da sua missão, se ter tornado amigo e confessor de Adrienne von Speyr, uma viúva convertida ao catolicismo. As suas visões e escritos místicos, bem como a "Comunidade de S. João" (para leigos, fundada pelos dois), não eram reconhecidos pela Igreja, pelo que o teólogo se desvinculou dos jesuítas, como "aplicação da obediência cristã a Deus".O teólogo que defendia uma "teologia ajoelhada", isto é, o pensamento teológico tem de estar ligado à oração e à adoração, em vez de ser mera análise sistemática, foi o grande ausente do Concílio do Vaticano II, embora ideias como a da Igreja santa mas "sempre necessitada de purificação e de penitência" lhe sejam caras.Von Balthasar deixou uma importante coleção de escritos — alguns deles, tratados teológicos de grande profundidade. Balthasar também deixou obras leves, como "A tríplice guirlanda", que é um comentário sobre a Ave Maria.Segundo outro grande teólogo, Henri de Lubac, ele era "o homem mais culto do nosso tempo"; ele "tentou colocar o tema da beleza como fundamento da reflexão teológica", explica o monge Enzo Bianchi. Von Balthasar quis construir uma teologia que intui na beleza da "figura" de Cristo o caminho fundamental para se chegar ao cristianismo. Os outros dois pontos fundamentais, a verdade e a bondade, não têm nenhuma possibilidade de atrair o homem, a não ser que este se sinta atraído pela beleza de Cristo crucificado, irradiada sobre todo o cosmos através da ressurreição. Segundo Balthasar existem três maneiras de entrar em contato com a beleza de Cristo: 


-a Sagrada Escritura, definida como "espelho", "imagem canônica"; 


-a Eucaristia, "mistério de fé", ou representação da plenitude da salvação cristã; 



-e a Igreja, "forma imperfeita", que torna perceptível a beleza de Cristo.







Diz-se que Hans Urs von Balthasar era o teólogo preferido de SÃO João Paulo II 





E, de fato, não pelas suas preferências, mas pelo contributo dado à Teologia e à Igreja, o Papa Wojtyla nomeou-o cardeal. A recepção do título, apenas honorífico, visto não poder participar em um conclave, estava marcada para 28 de Junho de 1988. Hans Urs von Balthasar entra para a glória do Senhor dois dias antes, quando se preparava para celebrar Missa.Von Balthasar faleceu em 1988, em Basilea.




Seus títulos mais representativos são, entre outros:




-A essência da verdade (1942)

-Teologia da história (1950)

-A oração contemplativa (1955)

-O problema de Deus no homem atual (1956)

-Glória, uma estética teológica (1961-1969)

-Pneuma e instituição (1974)

-Se não vos fazeis como esta criança (1985).






PENSAMENTOS DE HANS URS VON BALTHASAR













O texto seguinte se refere à cena do Evangelho em que Maria e José perdem Jesus, até o encontrarem no Templo:"'Por que você fez isso conosco — diz a Virgem? Eu e o seu pai te procurávamos aflitos!' Ele (o Cristo) não pode poupá-los desse sofrimento. Só nessa busca um cristão pode 'encontrar'; uma busca tão séria que é como se tudo dependesse dessa coisa que se quer encontrar. Não há outra recomendação para a vida cristã a não ser esta: só podemos encontrar Jesus no lugar onde ele se entregou a Deus. Todo cristão deve procurá-lo 'entre parentes e conhecidos', para cima e para baixo da estrada; mas no final, sempre ouviremos dele as palavras: 'Não sabíeis que eu devo tratar das coisas do meu Pai?' Muito provavelmente, como Maria e José, a princípio não entenderemos nada, e teremos de procurar ainda mais. Maria Madalena o procura no sepulcro, mas depois que Ele se deixa encontrar, ela tenta segurá-lo, e ele desaparece. Da mesma forma, ele some da vista dos discípulos de Emaús no momento em que, finalmente, eles conseguem identificá-lo. Nós só o encontramos definitivamente 'no lugar do Pai', no céu, — isto é, quando 'encontrar' já não significa delimitar Deus no nosso próprio espaço, mas significa que nós fomos 'encontrados' por Deus, que nós entramos no espaço Dele, que nós somos 'conhecidos por Deus', como diz são Paulo. 'Deus é tão infinito, de modo que continuaremos procurando por Ele mesmo depois de tê-lo encontrado' (Santo Agostinho)".




"Esse total dom de si, para o qual o Filho e o Espírito Santo respondem, repetirão, significa algo como uma "morte", uma primeira e radical "kenose", se se quiser: uma "super morte", que se encontra como aspecto de todo amor e que fundamentará no interior da criatura tudo aquilo que nela poderá ser uma boa morte: do esquecer-se de si mesma pela criatura amada até aquele supremo amor que "dá a vida por seus amigos" .



"A Teologia é uma ciência 'de joelhos'".




"A infância e a morte estão uma ao lado da outra: o seu mistério essencial chama-se simplesmente. entregar-se a si mesmo de forma completa. A criança manifesta-se no mundo nua no corpo e nua do espírito, enquanto inerme deve confiar-se ao mistério do Pai. Tudo aquilo que se encontra entre onascimento e a morte constitui um parêntese. A sua seriedade faz parte do jogo de Deus: todavia, no início e no final revela-se sem qualquer obstáculo o modo de jogar: o Filho do Pai, que procede eternamente dele, volta para Ele também de forma eterna, e em cada instante de tempo. E nós, crianças, somos convidados a participar precisamente neste jogo"




"Em todas as culturas não cristãs a criança tem uma importância somente marginal, porque é simplesmente um estado que precede o homem adulto. Necessita-se da encarnação de Cristo para que possamos ver não somente a importância antropológica, mas também aquela teológica e eterna do nascer, a bem-aventurança definitiva do ser a partir de um sinal que gera e dá à luz"




"Tudo o que é humano é argila nas mãos do Criador e Redentor".




"Para os cristãos não existe qualquer motivo que os leve a restringir o conceito de espiritualidade ao espaço cristão"




"Se agora passamos a ver as coisas através da espiritualidade da ação (Aristóteles), tem de dizer-se então que ela (espiritualidade da ação) é justamente importante para o Eros absoluto. Mais ainda: ela desempenha na espiritualidade humana um papel indispensável e decisivo, no sentido de que ajuda e facilita ao Eros a consecução da sua tarefa, qual é a de permanecer ativamente no espaço mundano, visto como lugar obrigatório do seu exercício, provação, educação e purificação. Este campo de atividade é para o homem necessariamente duplo: primeiro, porque é Eros entre o Eu e o Tu, não só à dimensão sexual, como também à supra-sexual, ao nível da amizade; depois, porque é também Eros como entrega à sociedade (povo, estado, humanidade) e à comum empresa de humanidade (cultura, técnica e progresso). Esta dualidade característica do Eros assenta porém na própria essência do homem: ele é efetivamente uma pessoa exclusiva, quando visto na sua relação ao corpo. Mas simultaneamente ele é também espírito e como tal aberto e obrigado a ser universal (…) Em todo o caso, é devido à estrutura do Eros, olhado como desejo de realização do Espírito, que o homem se sente obrigado a colaborar com os outros homens para a construção do mundo, sem com isto dizer que o Eros deve terminar a sua atividade no espaço humano ou mundano"




"A estrutura interior do Evangelho exige que, para imitar a Cristo, o homem tenha de arriscar tudo numa só jogada, sem se importar com mais nada. O deixar tudo é absoluto e exclui até o olhar para trás, pela última vez, exclui qualquer conciliação entre seguir Jesus e o adeus à casa paterna, entre Jesus e o dever de sepultar o próprio pai, entre Jesus e qualquer outra coisa que pudesse condicionar o caráter absoluto da entrega"






"Tudo depende – se quisermos ver autenticamente segundo o Espírito Santo – da capacidade de redescobrir o Evangelho através duma nova abertura interior. E quanto mais direta e profundamente a abertura do olhar interior conduzir para o centro do Evangelho, tanto mais verdadeira e eclesial será então a espiritualidade. Nenhum enviado verdadeiro acreditou ou pretendeu fundar, através da missão que lhe foi confiada, uma nova espiritualidade. Por isso mesmo se tornam desde o princípio suspeitas, e com toda a probabilidade estéreis, as tentativas dum indivíduo, dum grupo ou dum Estado, para criar e configurar até ao último pormenor uma espiritualidade nova e própria. Os grupos aos quais o Espírito não presenteou com carismas especiais devem estar agradecidos com o fato de poderem permanecer no anonimato da Ecclesia ancilla e nele poderem levar a cabo uma existência dedicada ao serviço do amor"






"Deus é o fim último das criaturas: Ele é o céu para quem o alcança, o inferno para quem o perde, o juízo para quem por ele é examinado, o purgatório para quem é por ele purificado... e tudo isto no modo em que ele dirigiu-se ao mundo, isto é, no seu Filho, Jesus Cristo, que é a possibilidade de revelação de Deus e, portanto, a síntese das coisas últimas."







20)- Garrigou-Lagrange





Padre Réginald Garrigou-Lagrande foi um dos mais eminentes teólogos católicos do século XX. Lecionou no Angelicum de Roma - Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino - entre 1909 e 1960, formando diversas gerações de jovens teólogos. Teve entre seus alunos o Santo Padre Bento XVI e o Beato João Paulo II.Além de ser considerado um dos maiores estudiosos da obra de Santo Tomás de Aquino, escreveu de forma abundante sobre Teologia Ascética e Mística, guiado pelos princípios tomistas e apoiando-se nos ensinamentos de São João da Cruz e de São Francisco de Sales - além de sua experiência pessoal e pastoral da vida interior.Sua obra mais divulgada, As três idades da vida interior, é um dos mais importantes clássicos da Teologia Ascética e Mística, que muito contribuiu para o desenvolvimento desta disciplina. Após estudar Humanidades em Roche-sul-Yon, Vendée, Nantes e Tarbes, elegeu a carreira de Medicina. Enquanto a cursa em Burdeos em 1897, lê L’Homme, de E. Hello; tal livro, um estímulo para realizar a existência humana a um nível superior à mediocridad, provoca-lhe a decisão fundamental de sua vida: abraça o estado religioso. Novicio dominico em Amiens, forja-se seu espírito nas virtudes e no estudo. A. Gardeil descobre cedo seus valores, e orienta-o ao trato familiar e apasionado com santo Tomás e os grandes Comentaristas; para perfeccionar sua formação intelectual, envia-o à Sorbona. Ali reina o modernismo e Garrigou-Lagrange, que não o suporta, obtém licença para abandonar Paris. Viaja a Viena, frequenta em alguns meses a Universidade de Friburgo -onde conhece a Norberto do Prado, teólogo que lhe impressionou profundamente- e em 1905 entra a fazer parte da equipa de professores de Lhe Saulchoir.Em 1909, ao abrir-se o Angelicum, Ateneo Pontificio, hoje Universidade Pontificia de Santo Tomás de Aquino, compartilhou com Jesús G. Arintero a cátedra de Teología Fundamental, explicando o tratado De revelatione. Passou mais tarde à cátedra de teología dogmática, deu cursos sobre a Metafísica de Aristóteles, e, sobretudo, escreveu livros. Consagrou 50 anos a classes e publicações, alternando os trabalhos profesorales com o serviço à Santa Sede em qualidade de teólogo estimadísimo e com o ministério pastoral, que amava entrañablemente. Aposentou-se em 1960, e morreu o 15 de fevereiro de 1964 em Roma.





Produção literária e doutrina





O legado literário de Garrigou-Lagrange é cuantioso e variado. Suas lições, famosas pela paixão, a clareza e a solidez, fructificaban em artigos e livros, universalizando assim seu magisterio. A maior parte de sua produção escrita é fruto do ensino académico, e, por tanto, reflete os rasgos típicos de sua pedagogia escolar. O sucesso de suas obras foi enorme. Escritas originalmente em latín e em francês, obtêm traduções ao alemão, espanhol, inglês, italiano e polaco. Ainda dentro da unidade interna de seu conteúdo ideológico, sua obra escrita abarca quatro extensos ramos: Apologética, Filosofia, Teología dogmática e Espiritualidad.






Em Apologética sua obra máxima é De Revelatione, em 2 vol., manual clássico, que viu a luz em 1918 (4 ed. Roma, 1945). Situado em uma zona neutra entre dois mundos, o da razão e o da fé (cfr. S. Giuliani, Garrigou-Lagrange Apologeta, «Angelicum» 42, 1965, 117-136), Garrigou-Lagrange expõe os motivos de credibilidade das verdades reveladas; a estrutura da obra compreende duas partes: a 1ª sobre a necessidade e cognoscibilidad da Revelação; a 2ª sobre sua existência. O recurso incesante aos grandes princípios da metafísica não obsta para que o autor negue autonomia à Apologética e a inclua na Teología, lhe exigindo um método rigorosamente objectivo.



Em Filosofia Garrigou-Lagrange pertence à Neoescolástica instaurada pela encíclica Aeterni Patris (1879) de León XIII. Já desde jovem descobre qual vai ser seu itinerario filosófico: desvelar e debelar os riscos do inmanentismo modernista de Bergson e Lhe Roy, apoiando no realismo]] da crítica e ontología tomistas como base de uma teología natural do ser que se projecta à demonstração da existência e natureza de Deus. Seu primeiro escrito, de 1904, é uma nota sobre a prova da existência de Deus pelos graus do ser; em 1907 faz questão de um ensaio sobre o panteísmo da «nova filosofia» e as provas da trascendencia de Deus; em 1909 publica em Paris o livro Lhe sens commun, a philosophie de l’être et formules-lhes dogmatiques (O sentido comum, a filosofia do ser e as fórmulas dogmáticas, 3ª ed. Buenos Aires, 1944). Garrigou-Lagrange é, antes de mais nada, um temperamento metafísico, um defensor do ser em frente ao fenómeno (cfr. o cap. «O verbo ser, seu profundo sentido e seu alcance» em O sentido do mistério e o claroscuro intelectual, Buenos Aires, 1945, pp. 61-84; Lhe sens du mystére et lhe clair-obscur inteleectuel, Paris, 1934); o sentido comum é porta de acesso ao ser (Crítica); este, encontrado em sua realidade extramental, descobre suas estratos através de sua estrutura profunda (Ontología); o processo termina em Deus, o Ser por antonomasia, meta de toda a filosofia de Garrigou-Lagrange: Dieu, são existente et sa nature, Paris, 1914 (Deus, sua existência e sua natureza); Deus ao alcance de todos (Barcelona, 1942); Deus. A natureza de Deus. Solução das antinomias agnósticas (Buenos Aires, 1950) são metas de seu legado filosófico (cfr. A. Lobato, Itinerario filosófico de Garrigou-Lagrange, «Angelicum» 42, 1965).



Como professor e escritor de Teología dogmática, Garrigou-Lagrange segue a Summa Theologiae, que é «seu» livro; seis tomos de comentários, de corte clássico, ajudando-se em Cardeal Cayetano]] e Juan de Santo Tomás; uma série inumerável de artigos e algumas «obras maiores» são índice de sua fidelidade ao neotomismo, ao mesmo tempo que revelam as qualidades peculiares do autor: defesa e exposição da doutrina do «Doutor Comum», descoberta e flagelación do inmanentismo modernista. Para Garrigou-Lagrange, o modernismo é um inimigo que não morre. Basta recordar seu sonoro grito de alarme em 1946: A nouvelle théologie, oú vai t-elle? («Angelicum», 23, 1946, pp. 126-145). A encíclica Humani generis (1950) de Pío XII ratificou muitas das teses pelas que Garrigou-Lagrange tinha lutado em suas classes e em seus livros. Outro tema que cultivó com especial atenção foi o da graça e a predestinación. Também neste campo se mostra inflexível com o «neomolinismo» e a teoria de Marín-Sozinha, pondo de relevo, por uma parte, sua garra polémica e, por outra, sua entronque com o tomismo espanhol do s. XVI.



Com tudo, onde Garrigou-Lagrange destacou mais foi no campo da Espiritualidad. Em 1909 leu A evolução mística de Arintero. Esta obra exerceu nele um influjo parejo ao livro L’Homme. O proselitismo do genial restaurador da mística ganhou em Garrigou-Lagrange a seu mais valioso discípulo. Garrigou-Lagrange declara-o: «Teve em mim grande influência e me aclarou importantes pontos, que tratei de expor em seguida segundo a doutrina de Santo Tomás» (Evolução mística, Madri 1952, L-LI). Em 1917 abre uma cátedra de Ascética e Mística, a primeira desta disciplina em uma Faculdade eclesiástica e a última que abandonasse, vencido pelos anos, em 1960. Em 1919 alenta a fundação da revista «A vie spirituelle» e converte-se em principal redactor; em 1923 reúne suas lições e artigos em Perfection chrétienne et contemplation selon S. Thomas d’Aquin et S. Jean da Croix (Sannt-Maximin, 2 vol.), obra representativa, polémica a grandes trozos, na que trata de armonizar a teología ontológica da graça com as descrições psicológicas de San Juan da Cruz e de prosseguir, desde o ângulo tomista, a rota aberta por Arintero na Teología Espiritual.



Garrigou-Lagrange lutou pelas ideias de unidade da vida cristã, pelo conceito de mística como desenvolvimento normal da vida cristã, pela vocação de todos os cristãos à perfección, etc. Tese arinterianas, que tinha que remozar a força de esclarecer princípios «tradicionais» esquecidos e enturbiados nos últimos séculos. Prosseguiu esse caminho ao ritmo de seus cursos magistrales, e foram aparecendo novas obras, culminando com Lhes trois áges da vie intérieure, 2 vol. Paris, 1938 (trad. esp. As três idades da vida interior, 2 vol. trad. esp. Buenos Aires, 1945), na que, limando ao máximo as aristas polémicas, expõe os princípios comummente admitidos. Como em seu itinerario filosófico, também aqui aponta a Deus, pois a vida interior é «um preludio» da vida do céu. Dentro do arco deste grupo de escritos de Garrigou-Lagrange há que mencionar: L’amour de Dieu et a Croix de Iésus, Juvisy 1929; A providente et a confiance em Dieu, Paris 1932; A Mãe do Salvador e nossa vida interior (Paris 1941, Buenos Aires 1947); os dois preciosos tratados, procedentes também da cantera escolar, A santificación do sacerdote (Madri 1953; primeira ed. em latín, Roma, 1946) e A união do sacerdote com Cristo (Madri, 1955; primeira ed. em latín, Roma, 1948).



Garrigou-Lagrange dedicou sua vida inteira ao que ele chamava as «três sabedorias» ou ciências das coisas por sua causa suprema: a Metafísica, a Teología e a Mística. Pouco a pouco, em escala armónica e ascendente, vai-se inclinando pela última. Sua figura descuella entre os pensadores católicos da primeira metade do s. XX; irradió poderosamente sua doutrina, através da cátedra e os livros, a várias gerações, inclusive em países longínquos, como Argentina e Polónia.





Certa vez ele disse a São João Paulo II:






"A Igreja é intolerante nos princípios porque tem fé; e é tolerante na prática porque ama. Os inimigos da Igreja são tolerantes em princípios porque não têm fé; e são intolerantes na prática porque eles não amam".




Texto de Garrigou-Lagrange: “Jesus e as diversas formas de santidade”








 










"Mansiones multae sunt in domo Patris mei." (Jo 14, 2)



 

A intimidade de Cristo, sobre a qual já falamos, assume diferentes formas que contribuem para a harmonia do corpo místico de Nosso Senhor, isto é, sua variedade na sua profunda unidade. Na Igreja, a união dessas duas notas: a unidade e a catolicidade (a unidade de fé, de esperança, de caridade, de culto, de governo, apesar da variedade de lugares e de tempo, de raças, de línguas, de costumes, de instituições) constitui, no meio de tantas causas de divisão, um milagre moral permanente 1. É também a realização de uma profecia de Cristo, o qual anunciou que sua Igreja devia se espalhar por todos os povos 2 e que, portanto, ela devia permanecer perfeitamente una 3 para conduzir as almas de todos os países e de todos os séculos à vida eterna.



É importante perceber bem a razão desta variedade na unidade. A diversidade de temperamentos, de caracteres, de fisionomias espirituais, é, muitas vezes, uma ocasião de sofrimentos salutares, mas também, ai de nós, de falta de caridade, de irritação, de impaciência, de julgamentos temerários. Na nossa estreiteza, gostaríamos, às vezes, que todas as almas fossem absolutamente iguais, tivessem o mesmo atrativo dominante que nós. Graças a Deus, isto não é assim. A harmonia da Igreja, inclusive a das Ordens Religiosas e mesmo das comunidades, exigem uma certa diversidade. Nesta vasta planície fértil que é a Igreja se elevam várias colinas, do alto das quais se vê como que com os olhos de um S. Bento, ou de um S. Domingos ou de um S. Francisco, ou de um S. Inácio, ou de uma Santa Teresa. "Existem várias moradas na casa de meu Pai." disse Nosso Senhor.




Para nos esclarecer sobre esse ponto, convém considerar as diferentes formas de santidade que respondem a atrativos dominantes diversos e a provações diferentes.Cada uma dessas fisionomias espirituais tem a sua grandeza e a sua beleza.Foi observado várias vezes que a santidade aparece sob três formas bem distintas, que correspondem a três graças predominantes, e que tendem a se aproximar, como os caminhos que, por vertentes opostas, conduzem ao cume de uma montanha. Estas três formas de santidade, como veremos, são eminentemente contidas na Santa alma de Cristo e em Maria.




A santidade aparece sob três formas bem distintas que respondem aos três grandes deveres para com Deus: o conhecê-lo, amá-lo, servi-lo. Todo cristão, sem dúvida, deve observar cada um desses três deveres; mas, no corpo místico, este deve sobressair em tal função e aquele em tal outra.Existem almas santas que têm por missão sobretudo amar a Deus com ardente amor e reparar assim as ofensas de que Ele é objeto; elas recebem logo graças de amor que transformam suas vontades e fazem delas uma força viva que não cessa de se consumir para glória de Deus e salvação do próximo.Outras almas devem sobressair na contemplação de Deus, conhecê-lo, mostrar-nos o caminho que leva a Ele; elas recebem desde o início graças de luz, que clareiam cada vez mais suas inteligências e são como um farol para guiar os fiéis na sua viagem para a eternidade.Enfim, outras almas santas têm sobretudo por missão servir a Deus pela fidelidade ao dever quotidiano, em diferentes obras de caridade; aqui, a memória e a atividade prática são postas incessantemente, sob o influxo das virtudes teologais, ao serviço de Deus e do próximo.Contemplemos sucessivamente essas três formas de santidade, que parecem representadas, como já se disse várias vezes, em três apóstolos privilegiados que Nosso Senhor conduziu ao Thabor, depois a Gethsemani: Pedro, João e Tiago.




Cada uma dessas almas sobressai naturalmente no exercício de uma faculdade e, como a graça aperfeiçoa a natureza no que ela tem de bom, ela apreende mais diretamente e mais vivamente esta faculdade, para se espalhar em seguida sobre as outras que são menos ativas. A graça utiliza assim, para nossa perfeição e nossa salvação, os recursos da nossa natureza e constitui nosso atrativo sobrenatural especial, que devemos sempre seguir, pois é o atrativo de Deus 4. Mas, em compensação, cada uma dessas almas tem seu defeito dominante a vencer, um obstáculo especial a evitar e é por isto que o Senhor envia a cada uma, provações apropriadas.Os diretores esclarecidos reconhecem nas almas o atrativo sobrenatural especial que Deus lhes dá e também o defeito dominante a combater. É conveniente conhecer um e outro, o branco e o preto, para compreender a natureza das provações que Deus nos envia, para melhor aproveitá-las e para evitar o julgamento temerário de outras almas que vão em direção ao mesmo cume mas por uma outra vertente. Aqueles que são naturalmente mansos, devem tornar-se fortes, e aqueles que são naturalmente fortes devem tornar-se doces. "Alius sic, alius sic ibat", dizia Santo Agostinho; existem caminhos diferentes que conduzem ao mesmo fim, e numa mesma estrada pode-se andar mais devagar que um outro, sem entretanto, voltar atrás [fn]Os caracteres não têm sua causa nas diferenças de organismos como acontece com os temperamentos.O Senhor, na formação das almas, encontra um modo de tudo utilizar. Ele não toma a alma de um homem de ação, devorado pelo zelo, de um missionário, como a de um teólogo; de um santo Tomás, como a de um pintor; de um Angélico, de um poeta como Dante, de um músico como Beethoven; mas Ele faz tudo servir à expressão da Fé, da Esperança e da Caridade. Ele faz servir, no trato com um teólogo, a lógica de Aristóteles; no trato com um artista, as harmonias bem feitas de sons e de cores. E, em última análise, tudo, na ordem intelectual e na ordem sensível, só vale como expressão das perfeições divinas. Existem diferentes vertentes para se elevar em direção a este cume, mas nada pode nos interessar de uma maneira profunda e duradoura senão aquilo que a ele nos conduz. O ofício da festa de Todos os Santos faz notar admiravelmente todas as nuances da Santidade, entre os Apóstolos, os Mártires, os Doutores, os Confessores, as Virgens.As almas nas quais domina o exercício da vontade e o ardor do amor, se assemelham aos Serafins 5. Segundo a Revelação, estes anjos superiores são abrasados pelo amor que o Espírito Santo lhes comunica; este é o amor que os leva a contemplar as sublimes belezas de Deus. Sua chama espiritual é mais ardente que luminosa. Eles cantam o cântico: "Santo, Santo, Santo, é o Senhor, Deus dos exércitos!" 6 Eles constituem a ordem suprema da primeira hierarquia angélica, porque, naqueles que tendem em direção a Deus, a mais alta virtude é a caridade, ou o amor divino, incompatível, ao contrário da ciência, com o pecado mortal 7.Do mesmo modo, as almas ardentes são arrebatadas antes de tudo por graças de amor; elas se dirigem ao bem com zelo e firmeza e se perguntam muitas vezes: "O que eu farei para Deus?". Elas têm uma sede ardente de sofrer, de se mortificar, para provar a Deus seu amor, de reparar as ofensas das quais Ele é objeto, de salvar os pecadores. Só secundariamente elas se aplicam a melhor conhecer Deus.Deste grupo de almas parecem fazer parte o profeta Elias, "cheio de zelo pelo Senhor" 8, o apóstolo Pedro crucificado de cabeça para baixo por humildade e amor por seu Mestre, os grandes mártires: Santo Inácio de Antioquia, São Lourenço, o seráfico Francisco de Assis, Santa Margarida Maria levada desde a sua juventude a sofrer por amor em espírito de reparação, São Bento-José Labre, este amigo apaixonado da Cruz. Do mesmo modo, no apostolado e devotamento ao próximo, São Carlos Borromeu, São Vicente de Paulo e tantos outros.Todas essas almas são mais notáveis pela sua caridade, pelo arrebatamento de seu coração para Deus, do que pelas suas luzes.Para as almas desse gênero que não fossem suficientemente dóceis ao Espírito Santo, o perigo estaria na própria energia de sua vontade, que poderia degenerar em rigidez, tenacidade e obstinação. Nas menos fervorosas dentre elas, é um defeito dominante bastante visível: seu zelo não é suficientemente esclarecido, nem bastante paciente e doce. Algumas delas podem se entregar demais a obras ativas às custas da oração.A provação que o Senhor lhes envia tende sobretudo a amansar sua vontade, muitas vezes a quebrá-la, quando ela se torna rígida demais. Ele permite revezes manifestos, para que o ardor natural seja substituído por um zelo verdadeiramente sobrenatural, desinteressado, paciente e manso. Ele lhes ensina a por sua confiança não no impulso natural do coração, mas na Misericórdia divina sempre compassiva. O Senhor humilha essas almas ardentes, permitindo também, algumas vezes, violentas tentações, mesmo de desânimo, como aconteceu com Elias, dormindo no deserto sob um junípero 9. Ele permite também quedas como a negação de São Pedro.Ele envia ainda a essas almas grande aridez numa contemplação dolorosa mas amorosa e muito meritória. Seus amores ardentes queimam-nas, consomem e as fazem muito sofrer com todas as ofensas que se elevam contra Deus. Ele as estimula a expiar ou a reparar.Assim se formam as almas mais ardentes que luminosas, nas quais domina o zelo ardente da caridade, a mais alta das virtudes teologais.Num segundo grupo de almas, predomina o exercício, não da vontade, mas da inteligência. A graça que começa mais diretamente e mais vivamente a elevá-las é uma graça de luz. Elas se assemelham aos Querubins, que estão, dizem os profetas, em torno do trono de Deus 10. Esses anjos, admiravelmente esclarecidos pela luz que lhes comunica o Verbo Eterno, são, primeiro, arrebatados de admiração. Eles contemplam a beleza de Deus e são levados a amá-Lo e a fazê-Lo conhecido pelos outros 11. Sua chama espiritual é, a princípio, mais luminosa que ardente.Do mesmo modo, essas almas são, inicialmente, esclarecidas por graças de iluminação; elas são levadas a se deleitar na contemplação de Deus, nas grandes visões de conjunto que fazem o valor da sabedoria. É somente por via de conseqüência que seu amor cresce. Elas sentem menos que as precedentes a necessidade de agir, de se mortificar, de sofrer para reparar; mas elas são fiéis, chegam ao amor heróico por esse Deus que as encanta.A esta família de almas pertencem os grandes Doutores da Igreja, um Sto. Agostinho, um Sto. Anselmo, um Sto. Alberto, o Grande, um Santo Tomás de Aquino, muitos outros que, ao correr dos séculos, foram como faróis que mostraram à humanidade o caminho que leva a Deus.O perigo para essas almas, quando são menos perfeitas, é, muitas vezes, de se contentar com luzes que lhes são dadas e de não conformarem bastante suas vidas com estas luzes. Enquanto sua inteligência é fortemente esclarecida, em sua vontade, muitas vezes, falta ardor; São Francisco de Sales gemia por isso, pedindo graças de força.Não é raro que grandes provações interiores sejam enviadas a essas almas. A noite dos sentidos e a do espírito, descritas por São João da Cruz, as conduzem progressivamente ao desinteresse completo e à generosidade no amor. Estas provações interiores são, no entanto, habitualmente menos dolorosas para essas almas que para as precedentes. As luzes que elas recebem consolam-nas, elas têm uma atração maior pela oração contemplativa; mas têm bastante tempo que gemer por sua falta de energia. Seu amor pela verdade faz com que elas sofram particularmente com o erro, com as falsas direções doutrinais, que extraviam as inteligências. Isto é para elas uma grande cruz e um estímulo para trabalhar para fazer conhecer a Deus.Quando essas almas luminosas são purificadas pelo sofrimento e bem fiéis às luzes que Deus lhes envia, elas aspiram cada vez mais a se unir a Ele, a mergulhar Nele, a se perder Nele sem retorno a elas mesmas. Uma alma luminosa fiel será mais unida a Deus que uma alma ardente infiel.Existem grandes santos, como São Paulo, São João, S. Bento. S. Domingos, Sta. Gertrudes, Sta. Catarina de Sena, Sta. Teresa, S. João da Cruz, que foram ao mesmo tempo e desde o início de sua ascensão, muito contemplativos e muito ardentes; elas reuniram logo as qualidades desses dois primeiros grupos de almas, que tendem, aliás, a se assemelhar ao se aproximarem do cume, para o qual todos devem se encaminhar.Enfim, existem almas que têm, sobretudo, por missão servir a Deus pela fidelidade ao dever quotidiano. A faculdade que mais se exerce entre elas, é a memória; sua atividade é de ordem prática. É o caso da maior parte dos cristãos. Sua memória os torna atentos aos fatos particulares; eles são tocados pela história dos benefícios de Deus, seja no Antigo Testamento, seja no Evangelho e na vida da Igreja. Essas almas são facilmente tocadas por uma palavra da liturgia, um traço de vida de um santo. A graça se adapta à sua natureza e lhes mostra claramente, nas suas múltiplas ocupações, o dever a cumprir, Deus a glorificar, o próximo a socorrer.




A inspiração divina lhes dá mais raramente grandes visões de conjunto, mas ela os torna muito atentos aos diversos meios de perfeição. Por aí, essas almas, se são fiéis e generosas, chegam a um conhecimento muito prático e vivido das coisas divinas e a um grande amor de Deus e do próximo. Elas podem assim alcançar os mais altos graus da santidade.O obstáculo aqui seria o de se apegar demais às práticas, boas nelas mesmas, mas que não conduzem imediatamente a Deus; a certas austeridades exteriores ou orações vocais. Corre-se o risco então de cair na minúcia, nos escrúpulos, de se apegar sem medida a métodos, úteis no início, mas um pouco mecânicos demais; e isto pode impedir a intimidade da união com o Senhor.As provações dessas almas se encontram geralmente menos na vida interior que na prática da caridade fraterna e no exercício de seu devotamento. Elas têm muito a sofrer com defeitos do próximo e com os obstáculos que encontram nas obras em que se ocupam. As grandes purificações interiores aparecem nelas notavelmente mais tarde que nas almas precedentes; no entanto, se elas são generosas, chegam, elas também, a uma íntima união com Deus.Tais são as três formas de santidade que parecem manifestadas pelos três apóstolos privilegiados, Pedro, João e Tiago, que Nosso Senhor conduziu com Ele ao Thabor e depois a Gethsemani. Todas essas almas são chamadas, por formas variadas, à contemplação dos mistérios da fé e à união íntima com Deus, e quanto mais elas se aproximam do cume para o qual tendem, mais se assemelham, mais são marcadas pela imagem do Cristo, sem perder no entanto sua fisionomia especial.A santa alma de Cristo, contém eminentemente essas três formas de santidade, sem nenhuma das imperfeições que subsistem nos santos, um pouco como a luz branca contém as setes cores do arco-íris. É, com efeito, impossível conhecer melhor Deus, amá-Lo melhor, servi-Lo melhor que Jesus.Jesus quis nos mostrar a excelência dessas três formas de santidade nos três períodos de sua existência aqui em baixo: sua vida escondida, sua vida apostólica, sua vida dolorosa.Na sua vida escondida, na solidão de Nazaré, na casa do carpinteiro, Ele é o exemplo da fidelidade ao dever quotidiano, em atos exteriormente bem modestos, mas enormes pelo amor que os inspira e até de um valor sem medida.Na sua vida apostólica, Ele aparece como a luz do mundo, e Ele nos diz que aqueles que O seguem não andam nas trevas, mas receberão a luz da vida (Jo 8, 12).  O que Ele ensina sobre a vida eterna e os meios para alcançá-la, Ele não o crê, Ele o vê imediatamente na essência divina. Ele funda a Igreja, confia-a a Pedro e diz a seus Apóstolos: "Vós sois a luz do mundo". (Mt 5, 4); envia-os a ensinar a todas as nações, levar-lhes o batismo e a Eucaristia.





Enfim, na sua vida dolorosa, Jesus nos manifesta todo o ardor de seu amor por seu Pai e por nós. Este amor leva-O até a querer morrer por nós sobre a cruz. Ele tem sede de sofrer para reparar os ultrajes feitos a Deus, para salvar as almas, e consumar a obra redentora. Esta sede de sofrer é incomparavelmente maior Nele que em um Santo André, um Santo Ignácio de Antioquia, um São Lourenço, uma Santa Teresa, um São Bento-José Labre. O coração de Jesus é verdadeiramente uma fornalha ardente de Caridade. Ninguém mais que Ele sofreu pelos pecados, e é de seu Coração mortificado que derivam todas as graças que recebem as almas reparadoras, associadas ao grande mistério da Redenção.Jesus possui assim eminentemente as três formas de santidade e sem nenhuma imperfeição. Ele é atento mesmo às menores coisas do serviço de Deus, sem nelas demorar-se. Ele goza da mais alta contemplação, mas não se perde nela como um santo em êxtase; Jesus está acima do êxtase e sem cessar de ver as profundezas da essência divina, Ele se entretém com seus Apóstolos sobre os próprios detalhes da vida apostólica. Ele tem todo o ardor de amor, o mais forte zelo, mas unido à maior paciência, à doçura, à compaixão, o que O leva a rezar por seus carrascos: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem."A santa alma de Cristo se manifesta assim por seus reflexos na alma dos santos, como a luz branca pelas sete cores. Há, toda proporção guardada, qualquer coisa de semelhante em Maria, que reunia também em si, eminentemente, todas as formas de santidade.Não diminuamos a vida do Salvador, querendo explicá-la demais pela nossa psicologia pessoal. Assim, se propôs ao mundo um Cristo jansenista e em seguida, por reação, um Cristo liberal. Elevemo-nos para Ele, ao invés de rebaixá-Lo a nós; Ele está incomparavelmente acima de nossos sentimentos mais generosos e Ele não tem ilusões. Muito superior aos maiores santos, Ele permanece, apesar de sua elevação, nosso perfeito modelo e nos oferece, incessantemente, a graça para nos dar a força de O seguir.Os mistérios da vida de Cristo devem, em certo sentido, reproduzir-se em nós, na medida em que o Salvador quer nos assimilar a Ele e nos fazer participar da sua vida escondida, da sua vida apostólica, da sua vida dolorosa, finalmente da sua vida gloriosa no céu. Esta assimilação progressiva é muito visível na vida de vários santos. E, se nós o quisermos, a meditação quotidiana dos mistérios do Rosário pode fazer-nos avançar, com passo sempre mais firme, nessa via.Os mistérios gozosos da infância de Cristo, os mistérios dolorosos de sua Paixão, e os mistérios gloriosos da Ressurreição, da Ascensão, correspondem aos 3 grandes atos da vida das almas: — Querer o fim último, a santidade e a bem-aventurança eterna, cujo pensamento suscita a alegria e os primeiros impulsos da alma para Deus; — Querer os meios capazes de nos fazer obter este fim, o cumprimento dos preceitos, levando a cruz, a exemplo do Mestre e para segui-Lo; — Repousar com Ele no fim conquistado.Esses mistérios da vida de Cristo devem tornar-se assim, cada vez mais, o alimento da nossa alma, o objeto de nossa contemplação que os penetrará, os provará e os saboreará; isto será como que uma antecipação da bem-aventurança; nós perceberemos cada vez melhor que a graça santificante é o germe da glória, semen gloriae inchoatio vitae aeternae 12, que a vida cristã profunda é a vida eterna começada, segundo a palavra do Salvador, que reaparece várias vezes em S. João: "Em verdade, em verdade, vos digo: Aquele que crê em mim tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia" 13.


  


 REFERÊNCIAS:




    1.Denz. Ench. 1794

    2.Mt 28, 19

    3.Jo 17, 20

    4.Suma Ia. IIae., q. 66, a. 2 ad 2

    5. Is 6, 2-7;

    6.Is 6, 3

    7.Suma Ia. IIae., q. 63, a. 7, ad 1; a. 9, ad 3

    8.3 Rs 19, 10

    9.3 Rs 19, 4

    10.Dn 3, 55

    11.Suma Ia., q. 63, a. 7, ad 1

    12.Suma IIa. IIae, q. 24, a. 3, ad. 2

    13.Jo 6, 40, 44, 47, 55.





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13 de novembro de 2018 às 17:19

Bernad Ramm me fale um pouco sobre ele?

31 de agosto de 2019 às 12:26

A teologia da libertação foi considerada por Ratzinger – este sim um dos maiores teólogos de todos os tempos – como a pior heresia da história da Igreja. Teólogos que aderem a heresia não deveriam constar numa lista desse tipo.

23 de janeiro de 2020 às 12:04

Muito interessante este artigo. Quando fui estudante de teologia no então Instituto Teológico Monte das Oliveiras, atual Instituto Evangélico Moriá Logos, aprendi muito sobre este assunto. Continue assim.

13 de maio de 2020 às 05:28

Obrigado... Muito obrigado pela ajuda

22 de março de 2022 às 17:17



Sobre Bernard L. Ramm,



Ele não está nesta listagem porque o mesmo foi importante apenas para a teologia batista e não para a teologia universal. Bernard L. Ramm (1 de agosto de 1916 em Butte, Montana - 11 de agosto de 1992 em Irvine, Califórnia ) foi um teólogo batista e apologista dentro da ampla tradição evangélica. Ele escreveu prolificamente sobre assuntos relacionados com hermenêutica bíblica ,religião e ciência , cristologia e apologética .Os princípios hermenuéticos apresentados em seu livro de 1956, Interpretação Bíblica Protestante , influenciaram um amplo de teólogos batistas. Durante a década de 1970, ele foi amplamente considerado como um dos principais teólogos evangélicos. Seu livro de 1954, igualmente conhecido e crítico, The Christian View of Science and Scripture foi o tema de uma edição de 1979 do Journal of the American Scientific Affiliation , enquanto uma edição de 1990 de Perspectives in Religious Studies daBaylor University foi dedicado à obra de Ramm.



Shalom!

22 de março de 2022 às 20:07

Prezado Henrique Sebastião

Maria fez um pergunta teológica ao anjo: “Como se dará?” Precisamos compreender para melhor crer e dar nosso sim com convicção, dando as razões da nossa fé. Teologia não é catequese e nem doutrina, mas é dar respostas a questões novas que se apresentam na vida Cristã. O hábito de cultivar a teologia em âmbitos nos quais os seus códigos são imediatamente inteligíveis e não requerem uma reconfiguração da sua arquitetura geral corre o risco de torná-la incapaz de aproveitar a oportunidade que se escancara diante dela.” Pensar criticamente o saber da fé significa honrar a sua própria razão de ser na comunidade dos discípulos e das discípulas do Senhor. Ela existe não para falar de si mesma, para encontrar um cantinho de reconhecimento consolatório cômodo e imediato. Fazer teologia significa, em primeira instância, cultivar sabiamente a notícia evangélica de Deus na forma de mediação cultural da fé. Ela nasce na Igreja e nas vivências de fé que fazem a realidade da sua presença entre o humano que é comum a todos nós; mas, desde as suas origens, a teologia nunca se contentou em interromper o seu caminho, uma vez alcançado o limiar da comunidade cristã. Ao contrário, pensando-se como acompanhamento da vivência de fé e sua legitimação, nos territórios comuns do viver humano e nas formas institucionais da sua organização. Para poder ser tudo isso também hoje, a teologia pede um sábio cultivo do tempo. Não pode ser apenas uma aplicação parcial ao lado de muitas outras, talvez ditadas por urgências contingentes. Se quisermos fazer teologia, é preciso se dedicar a ela, prontos também para pagar o preço de um trabalho cotidiano que exige sacrifício e aplicação, além de inteligência. Sem um investimento concreto na teologia, ou seja, em homens e mulheres que podem se dedicar a ela em tempo integral, a Igreja se empobrece, e já não consegue dar as respostas requeridas pelo mundo contemporâneo.Os teólogos precisam da liberdade de perguntar e responder,ficando a responsabilidade final da Igreja aquilo que está ordenado em 1 Tessalonicenses 5,21: “mas ponham à prova todas as coisas e fiquem apenas com o que é bom”.

Shalom!

12 de abril de 2023 às 09:39

Se os teólogos da Teologia da Libertação deveriam sair da lista, por serem hereges, deveriam sair todos os protestantes.

Anônimo
13 de abril de 2023 às 12:15

Prezado Oscar

Em tudo vale o princípio Paulino: "1 Tessalonicenses 5,21 : "pesai tudo e fiquem com o que é bom" - Não podemos jogar fora a bacia com a água suja e o bebe juntos. Até Jesus elogiou outros fora da fé Judaica, como o Centurião e a mulher Cananeia...

Anônimo
29 de dezembro de 2023 às 14:34

Olá irmão, paz de Cristo! Essa informação é falsa e desonesta. O Santo Padre Bento XVI, como cardeal alertou o PERIGO QUE A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO SE TORNAR MARXISTA, portanto, ele não condenou, elertou para possíveis perigos. A Santa Igreja NÃO CONDENOU A TEOLOGIA, tanto que os maiores Centros Teologicos Catolicos continuam tendo como uma disciplina de estudo do curso teológico.

Anônimo
30 de dezembro de 2023 às 10:24

Prezado anônimo defensor da heresia da TL

Pelo visto você é daqueles que seguem apenas o OUVI FALAR, se você tivesse lidos os dois documentos assinados por Bento XVI: Libertatis Núncios e Libertatis Consciência, veria que Bento XVI condenou sim todos os erros presentes na TL de caráter Marxista. Não seja leviano.

Everardo - Colaborador do Apostolado Berakash

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Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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