(foto com: Dom Luiz Antonio Cipollini bispo de Marília-SP)
Na diocese
de Marília Estado de São Paulo, o seu bispo diocesano Dom Luiz Antonio Cipollini, após os trâmites legais,
inclusive com o parecer do Conselho de Presbíteros da diocese, e após ouvir os católicos da
paróquia que desejaram se manifestar, após processo demorado de diálogo,
inclusive com o padre a ser transferido, usando de suas prerrogativas,
transferiu o padre Wilson Ramos para outra paróquia. A partir daí, instalou-se na paróquia e
na cidade, uma revolta que adquiriu dimensão nacional no noticiário. Indo
celebrar a missa e ministrar crisma a jovens da comunidade, o bispo foi
desacatado durante a missa, vaiado, agredido com moeda jogada sobre o altar
onde celebrava a Eucaristia.Após a missa o bispo somente pode deixar a igreja
matriz, sitiada pelos "fiéis", escoltado pela polícia, pois os pneus
de seu carro foram furados por estes "fiéis".
Ao longo da história da Igreja já se
viram destas cenas!
Santo Agostinho na autobiografia espiritual, faz alusão ao episódio acontecido
em 386 com Santo Ambrósio bispo de Milão (cf. Confissões IX,15). Cristãos hereges, seguidores do
arianismo, heresia que negava a divindade de Cristo, após tentativas de assassinar S.
Ambrósio, sitiaram a catedral repleta de fiéis para celebrar a Semana Santa. Eram
auxiliados pela guarda imperial, mandada para pressionar o bispo por meio da imperatriz Justina, (que era ariana e mãe do imperador Valentiniano II). Durante oito dias, S. Ambrósio resistiu com os fiéis que
ficaram ao seu lado, dentro da catedral, rezaram e cantaram até que a polícia e
os hereges se retirassem. A fé venceu a força da ignorância e a da
violência!
No
episódio de Marília, o bispo agiu com justiça e dentro de suas prerrogativas de bispo diocesano!
A transferência de pároco não é comum, mas o bispo pode fazê-lo conforme
o direito eclesiástico (cf. câns. 1740-1747). Nem sempre são possíveis
explicações públicas, às vezes para preservar o próprio padre. Jogar moedas no altar
consagrado, enquanto é celebrada a missa é profanação! Assim como apupos,
ameaça física a um ministro sagrado, precisando o mesmo recorrer à polícia para
garantir sua integridade, incitação ao ódio e aversão ao bispo diocesano, são atos
estes, passíveis de penalidade segundo o Direito Canônico (cf. câns.
1364-1377). Pela prática que tenho, um fato como este, pode começar com a revolta
do povo, mas se não é alimentado pelo padre não vai avante! Aí entra o
personalismo, vitimismo, imaturidade, calúnia (acusar o bispo de racismo), etc.
Porém,
quais as lições a tirar de tudo isso? São muitas, limito-me a três:
1)- Por primeiro deve-se constatar a situação
social, na qual a luta de classes permeou totalmente nossa cultura no Brasil.
Do pobre contra rico, operário contra patrão, subalterno contra autoridade,
passou-se à luta de todos contra todos: a violência tomou conta. A culpa não é
da desigualdade social segundo sociólogos, temos melhorado neste ponto e a
violência não para de crescer. Ninguém pode ser contrariado, não se pode dizer
não a ninguém. Neste clima o que se espera de um bispo? Que siga sempre a
maioria: é "democrático". Mesmo quando um pequeno grupo agressivo
incita a maioria e manobra a situação. O bispo seria o que dá aval à opinião da
"maioria". Mas a Igreja é democracia ou "koinonia"?
Comunhão e participação de todos na Igreja são necessárias, mas levando-se em
conta o carisma e competência de cada um, inclusive do bispo que é pai e
pastor. Aliás, a figura do bispo como pai é apreciada para apoiar e acolher,
raramente para corrigir! Os fiéis tem direitos, mas o bispo também!
2)-Uma outra lição que se pode tirar é que, a
compreensão da figura do bispo na Igreja deixa ainda muito a desejar. Não há correta
compreensão quanto ao seu carisma de presidência (ministerium regendi), na
perspectiva da sucessão apostólica (cf. S. Clemente in Carta aos Coríntios –
sec. I.). Na história da Igreja no Brasil percebe-se a paróquia e o pároco
como figura central. No "paroquialismo" prescinde-se do Bispo (exceto
para ordenar padres, nomeá-los e crismar fiéis), do Presbitério, e da Diocese
como um todo. Basta a paróquia, na qual o pároco é o "papa, o bispo, o
pároco" e mais alguma coisa. Assim, transferir um padre que achou graça
diante dos fiéis, equivale a ameaçar a população, que passa a
"raciocinar" com o emocional. A CNBB tem feito esforço para
refletir sobre a paróquia, através de documento com título sugestivo: "Comunidade de comunidades: uma nova paróquia. A conversão Pastoral da paróquia." Tive
a satisfação de participar da elaboração deste documento. Concluo ser mais que
urgente praticá-lo, principalmente no que toca à conversão paroquial. Será que
nossa Igreja conseguirá superar o paroquialismo?
3)- Por último aponto a dificuldade na formação dos futuros sacerdotes.
Refiro-me não só à casa de formação, mas, ao curso de filosofia e teologia. É
de se notar a dificuldade que os padres tem de, após a ordenação, cumprir o que
prometem ao bispo: obediência na fé. Na fé, porque tudo depende da fé, em se tratando
de obediência na sequela Christi. A Igreja é toda
apostólica, os fiéis devem participar da missão em virtude do batismo, mas quem
garante a apostolicidade da Igreja é o bispo (cf. LG 18). Assim
como os arianos não acreditavam na divindade de Cristo, muitos não acreditam
que o Cristo que o bispo representa é Filho de Deus. Veem somente a parte humana do
representado, não há mistério da fé!Cristo é um homem como todos. Seu representante
ocupa uma função, para a qual, nem precisaria, em tese, um sacramento
(Ordenação). Este pensamento não é da Tradição católica, mas protestante. Dependendo do Curso de
Teologia, e de como é ministrada a disciplina Teologia dos Sacramentos, os
alunos saem com noção superficial dos fundamentos do presbiterado e episcopado.
O papa
Francisco alertou recentemente:
"Nós bispos, temos a tentação de receber
sem discernimento os jovens que se apresentam...Por favor, é preciso analisar
bem o percurso das vocações" (L´Osservatore Romano ed. Port. 09.X.2014
p.2).
A má formação tanto dos leigos como dos
seminaristas tem suas consequências práticas como se viu neste episódio!
Este tipo de episódio faz parte da vida dos bispos
amigos da cruz e desejosos de cumprirem seu dever por amor a Cristo e à Igreja,
e assim, "nos tornamos espetáculo do mundo, dos anjos e dos homens"
(1Cor 4,9).O bispo tem dever de ouvir a todos até as
penúltimas palavras, mas não deve abdicar de dizer a última. O bispo é o Pastor
de sua Igreja, sinal de sua unidade, não pode se considerar mero moderador
entre as instâncias da diocese. Deve agir "segundo seus direitos e deveres
pessoais de governo que o comprometem a decidir pessoalmente segundo
consciência e verdade e não com base no peso numérico dos conselheiros"
(cf. Congregação para os Bispos in AS n.160). Diante de tudo isso, cada um tira conclusões que se
completam! Enfim, o card. Martini
recomenda ao bispo na pós-modernidade que tenha integridade, lealdade,
misericórdia (cf. in O Bispo, Paulus, 2014, p.60).
O Cardeal Siri recomendava ao bispo cinco virtudes:
-Primeiro a paciência!
-Segundo a
paciência!
-Terceiro a paciência!
-Quarto a paciência!
-E quinto: a paciência com
os que pedem para ter paciência!
Até agora não consegui falar com o bispo de
Marília, Dom Luiz Antonio Cipollini, mas em nome de Jesus desejo-lhe a PAZ, na unidade com todos os bons e
verdadeiros fiéis e padres desta grande diocese.
Por: Dom Pedro Carlos
Cipollini - Bispo de Amparo (SP) - 15 de Dezembro de 2014
Fonte:http://www.diocesedemarilia.org.br/artigos/bispos-do-brasil/18130-licoes-da-diocese-de-marilia
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