Você já sentiu alguma vez como se estivesse num deserto, onde tudo parece sem cor, sem vida, sem beleza? Onde os olhos só contemplam rochas e o caminho é feito de pedras e aridez escaldante? Tempos difíceis estes, de dor, de solidão, de sofrimento, mas também, de grande aprendizado e de amadurecimento na fé!
A palavra de Deus nos revela que o deserto é um lugar muito importante como espaço de reflexão e de ensinamento. Há certas lições que o ser humano só aprende ao passar pelo deserto. Veja a palavra anunciada pelo profeta Oséias: “Eis que eu a atrairei e a levarei para o deserto e lhe falarei ao coração”(Ose 2,14). O deserto aparece como um lugar de falar ao coração. Quando tudo é lindo, quando experimentamos fartura, quando nada falta, quando a paisagem é deslumbrante, muitas vezes só olhamos para o externo, para a imagem. Contudo, o que enche os olhos nem sempre enche o coração! Nós reclamamos quando as coisas não vão bem. Maldizemos as experiências mal sucedidas. Resistimos, achamos que Deus nos abandonou quando atravessamos um deserto na vida. Mas, na verdade, Deus talvez esteja apenas querendo nos conduzir à sua fonte. Quer que voltemos à fonte da verdadeira água da vida!
E o mais surpreendente é que não sabemos exatamente onde estas fontes estão! Deus tem maneiras diferentes e muitas vezes até estranhas, de revelá-las a nós. Não maldigamos e nem nos afastemos de Deus ao passarmos por um deserto em nossas vidas. Antes, estejamos alertas, pois podemos estar bem perto da verdadeira fonte que Deus quer revelar a nós! Essa fonte poderá ser a salvação de nossas vidas! Jesus Cristo diz: “Aquele que tem sede venha. E quem quiser receba de graça da água da fonte da vida.“ (Apoc. 22,17).Podemos entender o Deserto em dois aspectos: como uma realidade física, buscada pelo homem ou como uma realidade espiritual que toca toda a vida do homem, ao qual Deus parece atrair-nos constantemente para uma forte experiência. Nós nos deteremos neste segundo Deserto, nesta segunda experiência que envolve um chamado de Deus a mergulhar na obra de solidão e luta tão característica de uma autêntica experiência de Deserto. O deserto é uma obra de Deus, para onde Ele dirige os seus eleitos como vimos em Oseias 2, 16. Podemos cair na tentação de querer entender esta rica experiência de Deus como uma punição divina, o que não corresponde a realidade, pois se Deus atrai os seus para o deserto é por desejar que mergulhem em sua intimidade.É sinal do "Amor Terrível" de Deus (Carlos Carreto) que atrai para que o homem possa exclamar : "Conhecia-te só de ouvido, mas agora viram-te meus olhos…", como o justo Jó (Jó 42, 5). Os grandes homens de Deus nas escrituras experimentaram desta obra em suas vidas, uma obra de purificação e aproximação com Deus.
O DESERTO COMO SITUAÇÃO NATURAL E
NECESSÁRIA DE NOSSAS VIDAS!
O deserto encerra sempre uma obra de desinstalação, uma obra de "despojamento total de si" e encontro com a Verdade de quem Deus é e de quem nós somos. Podemos chamar esta obra de "kenwsis" (kénosis), ou seja, um quebrantamento radical de si mesmo. Esta obra é descrita na carta aos Filipenses 2, 5-11.No texto bíblico o Apóstolo fala do mistério da encarnação: Cristo modelo de humildade sendo de "condição divina" (morfh qeou), não considerou o ser "igual a Deus" como algo a apegar-se (arpagmo), mas despoja-se (ekenwse). Kénosis é um despojamento pleno, ontológico e profundo. Esta palavra grega evoca uma ação de violência. A Obra do deserto é de violência, um chamado a lutar. O ambiente hostil do deserto pode muito refletir a ação de Deus. O próprio Jesus dá o testemunho sobre os homens que serão encontrados no deserto ao falar de João Batista (Mt 11, 7-14). Não são os de roupas finas ou caniços agitados pelo vento, mas os violentos de coração! Devemos aspirar pelo deserto com todas as nossas forças, pois lá mergulhamos no coração de Deus e na misericórdia Divina, mas sem esquecer que esta é uma obra que exige um esforço. Deus não atrai crianças para o deserto, mas homens que possam lutar, e nos atrai para que despertemos do orgulho e saiamos das garras do pecado, é uma obra sempre próxima à crise.
Qual o significado
do deserto para o povo de Deus?
Na meditação do Povo de Deus sobre a sua experiência ao ser atraído ao deserto, ele descobriu as maravilhas escondidas no ríspido ambiente hostil, que se refletem muito bem na meditação dos profetas e demais escritores do Antigo Testamento.
Entre
os muitos temas encontramos de maneira especial:
-No deserto se afirma mais claramente para o Povo a unicidade de Deus. É no deserto que o Povo eleito compreende melhor a grandiosidade de Iahweh. No deserto o Povo eleito na encontra referências diversas para expressar a sua segurança como fará ao entrar na Terra Prometida depositando sobre ídolos a sua esperança de segurança. Só Deus é a realidade que pode libertar no deserto, uma realidade imutável. Ao estabelecer-se na Terra (sair do deserto), Israel confunde as várias forças com divindades, enquanto ele encontrava-se preso à desolação mergulhava muito mais no único Poderoso.
-Deus nos conduz para o deserto para que possamos combater. Testemunho de Antão: "Antão atravessa uma provação de obscuridade, durante a qual tem a impressão de ser abandonado por Deus aos poderes demoníacos; não obstante persevera, porém na fé mais nua e pura. Terminada a provação, uma visão luminosa do céu vem consolá-lo. Então não consegue deixar de expressar esta queixa: Onde estavas? Porque não te manifestaste desde o princípio para fazer cessares meus sofrimentos? Mas a voz lhe respondeu: Eu estava aí Antão; eu esperava para ver-te combater" (Vida de Antão - Sto Atanásio)
Espiritualidade do
Deserto - A dinâmica do Provisório!
O deserto nada tem a ver com uma mística de fuga dos homens! Considerando a história dos primeiros Cristãos, é preciso incutir com energia este aspecto provisório do deserto. Se houve erros e desvios na interpretação do deserto bíblico, (e eles ainda se acham presentes), muitos(as) tem deixado de perceber que a situação definitiva de deserto não é algo querido por Deus. O cristão é destinado à comunidade, à Igreja, a sociedade dos homens. Deve caminhar algum tempo pelo deserto, a fim de se preparar para a missão, para o contato com os outros. O deserto põe o homem diante de si mesmo, inerte e privado de todas as suas forças, potências e hábitos, para confrontar-se com a presença de Deus no máximo despojamento possível. Quando partimos para um deserto diga para si mesmo que Deus te encher com a sua presença à medida que tua fraqueza respeitar a solidão e perseverar na oração. Se faltarem estas disposições fundamentais de esperança e de disponibilidade aos dons de Jesus, podemos ficar bem certo de que muitos outros espíritos maus vagarão em torno de nós nesta solidão. Basta ler a Sagrada Escritura para convencer-se deste sério perigo. “Porque males sem número me têm rodeado; as minhas iniqüidades me prenderam de modo que não posso olhar para cima. São mais numerosas do que os cabelos da minha cabeça; assim desfalece o meu coração.” (Salmo 40,12) - O deserto é lugar de esterilidade, terra seca, desolação e solidão; é um lugar desabitado, embora, abrigue muita vida, porém é o lugar onde se aprende a valorizar a vida! O deserto tem muitas faces, e uma delas é o medo. Medo pelos perigos iminentes e reais, pelos temores associados as situações adversas vividas ao longo da vida.
O medo de
se entregar faz com que a pessoa passe a vida se iludindo apenas com “possibilidades”
O medo
impede o amor. O medo de ser julgado faz com que muitos se tornem apenas peças
decorativas no meio em que vivem. Alienam-se a quase tudo, de quase todos, e desaparecem
junto com o ser que se isola do mundo. Se não fosse essa experiência do deserto,
poderíamos passar a vida inteira sem ouvir ou conhecer o que Deus deseja nos
dizer! O medo do silêncio que reina nessa vastidão de areia, silêncio tão
profundo que somos capazes de ouvir o bater do nosso próprio coração. O deserto
é um lugar especial no coração de Deus e, não há um filho Seu que ainda não
tenha passa por essa situação. A presença de Cristo em nossa vida é a grande
solução para o medo desertiano. Afinal, como nosso criador, Ele nos conhece
perfeitamente. Quando permitimos que Ele conduza a nossa vida, certamente não
haverá lugar para temores. Somente através da fé é que podemos enfrentar as
adversidades da vida e vencer, antes de mais nada, as nossas próprias
dificuldades e limitações geradas pelos medos vividos no deserto.
"Pois o SENHOR teu Deus te abençoou
em toda a obra das tuas mãos; Ele sabe que andas por este grande deserto. O
SENHOR teu Deus sempre esteve contigo, coisa nenhuma te faltou. (Deuteronômio
2,7).
Oremos:
"Senhor nosso Deus e nosso Pai, dê força aqueles que estão passando pelo seu deserto pessoal, que estão com medo, enfrentando situações difíceis, de vazio, de desolação, de falta de respostas imediatas, de dúvidas, de falta de fé, de incompreensões, de perseguições, de calúnias, perdas, traições, depressões, doenças, e tantas outras situações. Ouvi Senhor o clamor e as lágrimas silenciosas daqueles(as) que estão a atravessar o deserto e auxiliai com vosso refrigério, para que possamos tomar posse de tua promessa: Felizes aqueles que nada viram, nada sentiram, nada ouviram, mas mesmo assim, creram!"
"LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO"
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Esse artigo veio como um bálsamo na minha vida.
Espero, honestamente, que Deus cumpra a sua promessa e me fale ao coração. Me fazendo amadurecer, mais do que nunca, amadurecer. E passar a enxergá-lo novamente.
Abraços...
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