Respondendo
a algumas objeções protestantes:
1)-Os
Evangelhos falam pouco de Nossa Senhora
Se Maria
é mãe do cabeça do Igreja ( Cristo) por consequência lógica é mãe dos membros
que pertencem a ela pela fé em Nosso Senhor Jesus Cristo.Uma objeção comum dos
protestantes é de que o Novo Testamento pouco fala de Nossa Senhora. Logo, eles
concluem que Maria Santíssima não tem tanta importância, pois se tivesse, as
Epístolas dos Apóstolos com certeza ensinariam a respeito.O fato do Novo Testamento, aparentemente,
pouco falar de Nossa Senhora não significa muita coisa. Os Evangelhos apenas
tratam da "Vida Pública" de Nosso Senhor, durante apenas 3 anos de
sua vida. As Epístolas tratam da expansão da Igreja de Cristo. Pelo raciocínio
protestante, a chamada "vida oculta" de Nosso Senhor (até os 30 anos
de idade) significaria que durante 30 anos de sua vida, Nosso Senhor não tinha
muita importância.
Ora,
Jesus Cristo passou 30 anos com Nossa Senhora e só 3 anos com o resto da
humanidade. Será que isso já não é sinal de que há muitas coisas que não
conhecemos da vida de Nosso Senhor e de Nossa Senhora? "Há ainda muitas
coisas feitas por Jesus, as quais, se se escrevessem uma por uma, creio que
este mundo não poderia conter os livros que se deveriam escrever" (Jo
21,25).Pois bem,
já por aí se percebe a precipitação do raciocínio de alguns protestantes. Agora
podemos analisar se, de fato, os Evangelhos falam pouco de Nossa Senhora:Os
católicos conhecem a obra prima de Deus, que é Nossa Senhora, a criatura mais
perfeita que foi criada, onde Deus escolheu como tabernáculo para si:"Cristo, porém, apareceu como um
pontífice dos bens futuros. Entrou no tabernáculo mais excelente e perfeito,
não construído por mãos humanas..." (Hebr 9, 12).Esse
tarbenáculo mais excelente e perfeito foi saudado pelo Arcanjo S. Gabriel:
"Ave, cheia de graça. O Senhor é convosco". Quanta grandeza apenas
nessas palavras. Nossa Senhora tinha a graça de Deus e Deus era com Ela ainda
antes da concepção.Naquele momento se cumpria todas as profecias da vinda do
Messias. Era o momento da encarnação do Verbo de Deus, onde tudo dependia de um
consentimento de uma "virgem", o seu "sim" nos trouxe o
Messias esperado.A maneira
da saudação angélica transparece a grandeza de Nossa Senhora, pois o Anjo a
saúda com a "Ave, Cheia de Graça". Ele troca o nome "Maria"
pela qualidade "Cheia de Graça", como Deus desejou chamá-la. Ela era
a criatura que havia "achado graça diante de Deus" e, por isso, foi
escolhida como a Mãe Dele. E continua o Arcanjo: "Bendita sois vós entre
as mulheres."Poucas
palavras - e palavras tão simples - para mostrar o fato central do
cristianismo: a encarnação do Verbo de Deus. Um fato esperado pelos séculos,
cujo os profetas não viram... apesar de tanto terem desejado. Todas as
profecias do Antigo Testamento inclinam-se diante dessas poucas palavras. Todo
o Novo Evangelho é conseqüência dessa encarnação, e todo o Antigo Testamento era
o prenúncio do que ocorria naquele momento, naquele pequeno cômodo da casa de
Nazaré, onde uma Virgem recebia a visita de um enviado de Deus.Que maravilha da graça se operava naquele
momento, quando a Virgem Maria cooperava, pelo livre consentimento de sua fé,
de sua virgindade, de sua humildade, para o mistério inicial do Cristianismo,
coberta pela sombra do altíssimo, revestida do Espírito Santo, e concebendo, em
seu seio virginal, o próprio Filho de Deus! Logo em seguida, que culto já não
lhe prestou a própria Santa Izabel quando a aclamou: "Mãe de meu
Senhor": "Donde me vem a dita que a Mãe de meu Senhor venha
visitar-me?" (Lc 1, 43). E, no ventre de Santa Izabel, exultava S. João
Batista ao ouvir a voz de Nossa Senhora. Santa Izabel, repleta do Espírito
Santo, exclama em alta voz, repetindo e completando as palavras do Anjo:
"Bendita sois vós entre todas as mulheres; bendito é o fruto do vosso
ventre!".E a
própria Nossa Senhora completa, inspirada pelo Espírito de Deus: "De hoje
em diante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque Aquele que é
todo poderoso fez em mim grandes coisas!" (Lc 1, 48). Já na manjedoura os
Reis Magos foram adorar o Menino-Deus "nos braços de Maria, sua mãe"
(Mt 2, 11), como fazem todos os católicos do mundo inteiro.E o velho Simeão, profetizando, associa a
Virgem Mãe de Deus a todas as contradições a que estaria sujeito o seu Filho, e
de modo particular ao gládio de dor que deverá uní-lo no grande suplício (Lc 2,
34). E como poderia ser menor a grandeza Daquela que tinha autoridade sobre o
próprio Deus, que a obedecia na intimidade do lar: “mostrando-se submisso a ela em tudo"
(Lc 2, 51).Nas Bodas
de Caná transparece de modo fulgurante o poder da Santíssima Virgem, que é
capaz de "alterar" a hora de Deus, que a adianta pelo pedido de sua
Mãe, fazendo o seu primeiro milagre e confirmando a fé em seus apóstolos,
mudando a água em vinho (Jo 2, 1- 11). É por isso que nos diz o Evangelho,
narrando a grandeza de Maria Santíssima: "Bem-aventurada as entranhas que
te trouxeram e o seio que te amamentou" (Lc 11, 27).Eis o
culto de Nossa Senhora fundado no Evangelho, dele dimanando como de sua
"fonte divina", e dali se irradiando séculos afora. Eis o culto de
Maria Santíssima, não escondido nas trevas, nem envolto no silêncio, mas
divinamente proclamado à face do universo. Os séculos ouvirão e compreenderão
estes exemplos e lições evangélicas. E é para lhes corresponder que os cristãos
de todos os tempos irão prostrar-se aos pés de Maria, implorando-lhe auxílio e
proteção.Os
Evangelhos, afinal, falam pouco de Nossa Senhora? Só se déssemos primazia à
quantidade em detrimento das palavras.Maior foi o milagre da encarnação do que
todas as ressurreições operadas por Nosso Senhor Jesus Cristo. Se não houvesse
a encarnação, não haveria a Redenção. É certo que Nossa Senhora, durante toda a
sua vida, procurou ficar no anonimato, escondida dos homens e amada por Deus,
pois mais do que ninguém ela sabia que: “ É preciso que Ele cresça e eu
diminua...” Era tanto
o esplendor da Santíssima Virgem que S. Dionísio, o areópagita, declara que
teria considerado Maria como uma divindade, se a fé não lhe houvera ensinado
ser ela a mais perfeita imagem que de si formara a Onipotência.Santo
Irineu dizia: "Os laços, pelos quais Eva se deixou acorrentar, por sua
credulidade, Maria rompeu-os pela sua fé". Referindo-se, é claro, à
passagem do Gênesis: "Ei de por inimizade entre ti e a mulher, entre sua
raça (semente) e a tua; ela te esmagará a cabeça" (Gen 3, 15). O que Eva
perdeu por orgulho, Nossa Senhora ganhou por humildade. São tantos os mistérios
da Maternidade de Maria Santíssima.É certo
que os Evangelistas evitaram falar muito de Nossa Senhora, ou por pedido Dela,
ou para evitar um culto equivocado à Mãe de Deus junto a um povo que era
politeísta. Mas o pouco que falam, falam muito! Ela é verdadeiramente Mãe de um
Deus que é Homem e de um Homem que é Deus. Ela é verdadeiramente nossa mãe
quando, aos pés da cruz, Nosso Senhor a confiou a S. João. Ela é a onipotência
suplicante que é capaz de mudar a "hora" de Deus. Ela é
verdadeiramente Imaculada, isenta do Pecado Original, sendo o
"tabernáculo" puríssimo que Deus escolheu para si.Os
evangelistas em suas liturgias, entretanto, muito falaram de Nossa Senhora, como
veremos nos tópicos seguintes, que demonstram, inequivocamente, a grandeza do
nome da Virgem de Nazaré, a Mãe de Deus, a Imaculada Conceição, a Onipotência
suplicante, a Medianeira universal de todas as Graças, assunta ao Céu de corpo
e alma, Rainha dos homens e dos anjos.
2)-Os
pretensos "irmãos de Jesus"
Em
diversos lugares, o Evangelho fala desses 'irmãos'. Assim, S. Marcos e S. Lucas
referem que 'estando Jesus a falar, disse-lhe alguém: eis que estão lá fora tua
mãe e teus irmãos que querem ver-te" (Mt 12, 46-47; Mc 3, 31-32; Lc 8,
19-20). S. João, por sua vez, fala de tais 'irmãos' (Jo 7, 1-10). A bela
objeção protestante apenas mostra uma ignorância da própria Bíblia que dizem tanto
conhecer.As línguas hebraica e aramaica não possuem palavras
que traduzam o nosso 'primo' ou 'prima', e serve-se da palavra 'irmão' ou
'irmã'.A palavra
hebraica 'ha', e a aramaica 'aha', são empregadas para designar 'irmãos' ou
'irmãs' dos mesmo pai, não da mesma mãe (Gn 37, 16; 42, 15; 43, 5; 12, 8-14;
39, 15), sobrinhos, primos irmãos (1 Par 23, 21), e primos segundos (Lv 10, 4)
- e até 'parentes' em geral (Job 19, 13-14; 42, 11). Os trechos acima
demonstram, inequivocamente, que a palavra 'irmão' era uma expressão genérica,
geral.Há muitos
exemplos na Sagrada Escritura. Lê-se no Gêneses que 'Taré era pai de Abraão e
de Harão, e que Harão gerou a Lot (Gn 11, 27), que, por conseguinte, vinha a
ser sobrinho de Abraão. Contudo, no mesmo Gênesis, mais adiante, chama a Lot
'irmão de Abraão' (Gn 13, 3). 'Disse Abraão a Lot: nós somos irmãos" (Gn
14, 14).Jacó se declara irmão de Labão, quando, na verdade, era filho de
Rebeca, irmã de Labão (Gn 29, 12-15). No Novo Testamento, fica claríssimo que
os 'irmãos de Jesus' não eram filhos de Nossa Senhora. Os supostos 'irmãos de
Jesus' são indicados por S. Marcos: "Não é este o carpinteiro, filho de
Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão e não estão aqui
conosco suas irmãs?" Tiago e Judas, conforme afirma S. Lucas, eram filhos
de Alfeu e Cleófas: 'Chamou Tiago, filho de Alfeu... e Judas, irmão de
Tiago" (Lc 6, 15-16). E ainda: "Chamou Judas, irmão de Tiago" (
Lc 6, 16) .Quanto a 'José', S. Mateus diz que é irmão de Tiago: "Entre os
quais estava... Maria, mãe de Tiago e de José" (Mt 27, 56).Em S.
Mateus se lê: "Estavam ali (no calvário), a observar de longe...., Maria
Mágdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu".
Essa Maria, mãe de Tiago e José, não é a esposa de S. José, mas de Cleofas,
conforme S. João (19, 25). Era também a irmã de Nossa Senhora, como se lê em S.
João (19, 25): "Estavam junto à Cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe,
Maria (esposa) de Cleofas, e Maria de Mágadala". Simão, irmão dos três
outros, 'Tiago, José e Judas' são verdadeiramente irmãos entre si, filhos do
mesmo pai e da mesma mãe. Alfeu (ou Cleophas) é o pai deles.Da mesma
forma, se Nossa Senhora tivesse outros filhos, ela não teria ficado aos
cuidados de S. João Evangelista, que não era da família, mas com seu filho mais
velho, segundo ordenava a Lei de Moisés.Eis um dilema sem saída para os protestantes,
pois os 'irmãos de Jesus' são filhos de Maria Cléofas e Alfeu. Também decorre
uma pergunta: Por que nunca os evangelhos chamam os 'irmãos de Jesus' de
'filhos de Maria' ou de 'José', como fazem em relação à Nosso Senhor? E como,
durante toda a vida da Sagrada Família, os número de seus membros é sempre
três? A fuga para o Egito, a perda e o encontro no templo, etc.Desta forma,
fica provado o equívoco levantado por alguns protestantes.
3)-A
perpétua virgindade da Santíssima Virgem
Desde o
início do cristianismo Nossa Senhora era cultuada como "Áiepartenon",
isto é, a "sempre Virgem". A virgindade eterna de Maria é facilmente
demonstrável, quer seja pela Sagrada Escritura ou pela Tradição, quer seja pela
lógica. O que devemos provar:
a) Nossa
Senhora era Virgem antes do parto;
b) Nossa
Senhora permaneceu Virgem durante o parto e
c) Nossa
Senhora permaneceu virgem após o parto.
Três
asserções que vou provar aqui com a Bíblia na mão, e um pouco de lógica na
cabeça. Aliás, a terceira já está provada pela própria explicação dos irmãos de
Jesus. Todavia, vamos aprofundar mais um pouco a análise.
4)-Nossa
Senhora era Virgem antes do parto
A
primeira asserção é admitida pelos próprios protestantes, pois se encontra
positivamente no Evangelho: "O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma
virgem desposada... e o nome da Virgem era Maria". (Luc. I, 26). Mais
positivo ainda é o testemunho da própria Virgem objetando ao anjo: "Como
se fará isso, pois eu não conheço varão?". Nenhuma dúvida subsiste - Maria
Santíssima era Virgem.
5)-Nossa
Senhora permaneceu Virgem durante o parto
A segunda
asserção, mostrando que a Mãe de Jesus ficou virgem no parto, pode deduzir-se
dos mesmos textos. O que é concebido por milagre deve nascer por milagre; o
nascimento é a conseqüência da concepção; sem esta conseqüência, o milagre
seria incompleto. Em outras palavras, Deus teria operado um milagre incompleto
ao desejar manter a virgindade de Nossa Senhora e não tendo levado essa
promessa até o final. "Como se fará isso, pois eu não conheço varão?"
"O Santo, que há de nascer de ti, será chamado Filho de Deus, porque a
Deus nada é impossível" (Luc 1, 35). A Deus nada é impossível, a
virgindade de Nossa Senhora seria preservada, mesmo ela "não conhecendo
varão". Continuamos na argumentação. O Evangelho nos mostra que Maria,
tendo chegado ao termo ordinário da natureza, "deu à luz o seu filho. E
estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que devia dar à luz"
(Luc. 1, 6).Ora, "conceber" e "dar à
luz" são dois termos de uma ação única. A mãe concebe, para dar à luz - é
uma só ação: gerar filhos. O parto e a conceição são inseparavelmente ligados,
sendo o primeiro o preço doloroso da segunda (perder a virgindade); sendo Maria
Santíssima libertada da segunda parte, por meio do milagre de Deus, deve sê-lo
da primeira, pois para Deus não é mais custoso fazer "nascer"
virginalmente do que fazer "conceber" virginalmente.Ademais,
se a ação virginal havia começado, pela ação do Espírito Santo, Deus
completaria essa ação no momento em que esta chegasse ao seu final. É uma
conseqüência lógica e necessária, sob pena de negar o milagre completo de Deus
manifestado em sua vontade e na resolução de Nossa Senhora de manter a
virgindade.A própria dúvida de Nossa Senhora em relação à concepção deixa claro
a posição dela perante a virgindade: "Como se fará isso, pois eu não
conheço varão?". O Anjo resolve o problema: "O Santo, que há de
nascer de ti, será chamado Filho de Deus, porque a Deus nada é impossível"
(Luc. 1, 35).A
conceição da Virgem Santíssima é, pois, obra do Espírito Santo: "O
Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua
sombra. E por isso mesmo o santo que há de nascer de ti será chamado Filho de
Deus." (Luc. 1, 35). "Conceber" Jesus e "dá-lo à luz"
são, textual e literalmente, um só milagre, o milagre da encarnação. Separar
estes dois termos, que o Evangelista resumiu de propósito numa única frase, é
adulterar de maneira visível o texto e a significação da palavra de Deus.Sendo
Nossa Senhora virgem antes do parto, deve sê-lo também durante o parto, pois o
milagre da encarnação é uno e completo. E isto é muito conforme à profecia:
"uma virgem conceberá e dará à luz". É o próprio Evangelho que faz a
aplicação desta profecia:"Ora, tudo aconteceu para que se
cumprisse o que foi dito pelo Senhor, por meio do profeta" (Mat. 1, 22).
Ou seja, conceber e dar à luz, virginalmente!A
Virgindade de Nossa Senhora antes e durante o parto é uma verdade que não se
pode negar, senão espezinhando-se todas as regras da lógica e da hermenêutica.
Deus quis manter a virgindade de Nossa Senhora antes e durante o parto, não o
precisava, mas assim o fez.
6)-
Nossa Senhora permaneceu virgem após o parto
Sobre a
virgindade de Nossa Senhora após o parto, já provamos anteriormente. Todavia,
para dar mais realce à explicação, façamos um pequeno exercício de
hermenêutica. Quando Nossa Senhora afirma, categoricamente, "eu não conheço
varão", ela não está dizendo que "até o momento eu não conheço",
mas que ela, por opção pessoal, não "conhece varão", o que dá uma
extensão geral à sua afirmação.Segundo a tradição, Nossa Senhora havia feito
um voto de castidade perpétua e assim o manteve, mesmo vivendo com S. José,
como fica clara pela própria afirmação dela ("Eu não conheço varão"),
quando já estava desposada de S. José.Se não
fosse propósito de Nossa Senhora manter a castidade perpétua, sua afirmação não
teria propósito, pois o Anjo poderia lhe responder: "se ainda não conhece,
conhecê-lo-á logo; não é José teu esposo? ". A sua afirmação só faz
sentido, dentro do contexto, tendo Nossa Senhora feito o voto de castidade
perpétua. S. Marcos, na mesma linha, chama Jesus "O filho de Maria" -
"uiós Marias" - (Marc. 6, 3), e não um dos filhos de Maria, como
querendo mostrar que ele era o seu filho único.Tudo isso
ficará mais claro quando tratarmos da Imaculada Conceição segundo a Tradição,
onde os evangelistas descrevem a virgindade perpétua de Maria Santíssima.
7)-Desfazendo objeções
protestante: "antes de coabitarem", "filho primogênito" e
"não a conhecia até que ela desse à luz":
a) "antes de coabitarem"
S.
Mateus: "Maria, sua Mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem,
ela concebeu por virtude do Espírito Santo" (Mt 1, 18). Ora, "antes
de coabitarem" significa apenas "antes de morarem juntos na mesma
casa". Isso aconteceu quando "José fez como o anjo do Senhor lhe
havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa (Maria)"(Mt 1, 24).
b) "filho primogênito"
S. Lucas:
"Maria deu à luz o seu filho primogênito" (Lc 2, 7). Explicação: É
errado concluir que devia seguir o segundo filho. A lei de mosaica exige que
todo o primogênito seja consagrado a Deus, quer seja filho único ou não:
"Consagrar-me-ás todo o primogênito (primeiro gerando) entre os
israelitas, tanto homem como animal: ele é meu" (Ex 13, 2). Um exemplo
elucidativo encontrado no Egito, retirado de uma inscrição judaica:
"Arisoné entre as dores do parto morreu ao dar à luz seu filho
primogênito". Ou no Êxodo, quando Deus disse: "Todo o primogênito na
terra do Egito morrerá" (Ex 11, 5). E assim aconteceu. "Não havia
casa em que não houvesse um morto" (Ex 11, 30). Necessariamente, havia, como
em todos os países, casais de um só filho; por exemplo, todos os que se tinham
casado nos últimos anos.Depois, em outro trecho, Deus ordena:
"contar todos os primogênitos masculinos dos filhos de Israel, da idade de
um mês para cima" (Num 3, 40). Ora, se há primogênito de um mês de idade,
como é que se pode exigir que, para haver primeiro, haja um segundo? Logo, há
primogênito sem que haja, necessariamente, um segundo filho. A primogenitura
era um título de dignidade e de honra entre os Judeus. Geralmente, o filho,
primeiro, tinha direito a certos privilégios, como os de herdeiro etc, ficando
sujeito a certas obrigações, como vemos na Bíblia. (Lc 2, 23).É,
portanto, de propósito e com razão que o Evangelista chama Jesus:
"primogênito" - "ton protótokon". Designa-o, deste modo,
como herdeiro de David, como tendo um direito privilegiado sobre esta herança
(cf Gen 10, 15 - 21, 12). E é isso que se pode verificar na apresentação de
Jesus no templo:"Depois que foram concluídos os dias da
purificação de Maria, segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém para o
apresentarem ao Senhor: Todo o varão primogênito será consagrado ao
Senhor" (Lc 2, 22).Essa
passagem é muito clara e resolve de uma vez a discussão sobre a
"primogenitura" de Nosso Senhor, pois a apresentação no templo
ocorreu apenas 40 dias após o seu nascimento, como filho único de Nossa
Senhora.
c) "não a conhecia até que
ela desse à luz"
Em
algumas traduções, aparece em S. Mateus: "José não conheceu Maria (= não
teve relações com ela) até que ela desse à luz um filho (Jesus)". (Mt 1,
25). Explicação: Seria errado insinuar que depois daquele "até" José
devia "conhecer" Maria". "Até", na linguagem bíblica,
refere-se apenas ao passado. Exemplo: "Micol, filha de Saul, não teve
filhos até ao dia de sua morte" (II Sam 6, 23). Ou então, falando Deus a
Jacob do alto da escada que este vira em sonhos, disse-lhe: "Não te
abandonarei, enquanto não se cumprir tudo o que disse" (Gen 28, 15).
Quererá isso dizer que Deus o abandonaria depois? Em outra passagem, Nosso
Senhor diz aos seus Apóstolos: "Eis que eu estou convosco todos os dias,
até a consumação dos séculos" (Mt 28, 20).Ora, o
texto sagrado deixa claro que a palavra "até" é um reforço do milagre
operado, a saber, a encarnação do verbo por obra do Espírito Santo, e não por
obra de um homem (S. José).
8)-A
Imaculada Conceição
Reza o
dogma católico que a Bem-aventurada Virgem Maria, desde o primeiro instante de
sua conceição, foi preservada da nódoa do pecado original, por privilégio único
de Deus e aplicação dos merecimentos de seu divino Filho. O dogma abrange dois
pontos importantes:
a) O
primeiro é ter sido a Santíssima Virgem preservada da mancha original desde o
princípio de sua conceição. Deus abrogou para ela a lei de propagação do pecado
original na raça de Adão; ou por outra, Maria foi cumulada, ainda no começo da
vida, com os dons da graça santificante.
b) No
segundo, vê-se que tal privilégio não era devido por direito. Foi concedido na
previsão dos merecimentos de Jesus Cristo. O que valeu a Maria este favor
peculiar foram os benefícios da Redenção, na previsão dos méritos de Jesus
Cristo, que já existiam nos eternos desígnios de Deus.
9)-Como
se dá a transmissão do Pecado Original
Primeiramente,
é necessário esclarecer em que consiste a transmissão do "Pecado
Original". A lei geral: "Todos os homens pecaram num só" é o
grande argumento dos protestantes contra a "Imaculada Conceição". Tal
lei é certa e, segundo vamos demonstrar, não encontra a mínima contradição com
o dogma católico.S. Francisco
de Sales, no seu "Tratado do amor de Deus", exprime essa verdade de
um modo singelo e glorioso! "A torrente da iniqüidade original veio lançar
as suas ondas impuras sobre a conceição da Virgem Sagrada, com a mesma
impetuosidade que sobre a dos demais filhos de Adão; mas chegando ali, as vagas
do pecado não passaram além, mas se detiveram, como outrora o Jordão no tempo
de Josué, aqui respeitando a arca da aliança a torrente parou; lá em atenção ao
Tabernáculo da verdadeira aliança, que é a Virgem Maria, o pecado original se
deteve." Os protestantes deveriam compreender a diferença essencial que há
entre "pecar em Adão" e "pecar pessoalmente", como são
coisas bem distintas pertencer a uma raça pecadora e ser pecador.
De que modo, afinal, contraímos nós
o pecado original?
Tal
transmissão não se pode fazer pela "criação" da alma; afirmar isso
seria dizer que Deus é o autor do pecado, o que é impossível e repugna. Não se
transmite tão pouco pelos pais, pois a alma dos filhos não se origina das almas
dos pais, mas é criada por Deus. A transmissão se efetua pela
"geração". A alma é criada por Deus no estado de inocência perfeita,
mas contrai a "mácula", unindo-se a um corpo formado de um gérmen
corrompido, do mesmo modo que ela sofreria, se fosse unida a um corpo ferido. É
a opinião de Santo Tomás.Santo Agostinho diz a propósito: "Apesar
de nascerem de pais batizados, os filhos vêm à luz com o pecado original, como
do trigo inutilizado germina uma espiga, em que o grão é misturado com a
palha."Nesse
mistério do nascimento de uma criança, pelo exposto, opera-se uma dupla
conceição: a da alma e a do corpo. Foi nesse momento quase imperceptível que
Deus preservou do pecado original a "pessoa" de Maria Santíssima.
Criou sua alma, como criou as nossas. Os progenitores de Nossa Senhora
formaram-lhe o corpo, como nossos pais formaram o nosso. Até aqui tudo é
natural; o milagre da preservação limita-se ao instante em que o Criador uniu a
alma ao corpo. Desta união devia resultar a "transmissão do pecado".
Deus fez parar o curso desta transmissão, de modo que nela a união se operou,
como se tinha realizado na pessoa de Adão, quando Deus, depois de ter feito o
corpo do primeiro homem, soprou nele o espírito, constituindo-o na perfeição da
inocência e justiça original. Maria é uma segunda Eva,mas Eva antes de sua
queda! Tal é a sublime doutrina da Igreja de Cristo.
10)-
Maria é a "Exceção" à Lei Geral
Seria
possível objetar-se que Deus não tem poder para derrogar as leis gerais por Ele
mesmo estabelecidas? Seria negar a onipotência divina e fixar limites Àquele
que não os tem. É uma lei geral que "todos pecaram num só". Tal fato
é universal, e todas as criaturas a ele estão subordinadas. Todavia, nada
impede que, antes de efetuar-se a união da alma com o corpo, Deus possa
intervir e suspender "um dos seus efeitos", o qual é, precisamente, a
transmissão desse "pecado original".A Sagrada
Escritura está repleta dessas derrogações de leis gerais. O movimento do sol e
da lua está matematicamente fixado pela lei da natureza; entretanto, Josué não
hesitou em fazê-lo parar: "Sol detem-te em Gibeon, e tu, lua, no vale de
Hadjalon. E o sol deteve-se e a lua parou" (Jos. 10, 12-13). É uma lei que
as águas sigam a correnteza do seu curso. Entretanto, "Moisés estendeu a
mão..." o mar deixou livre o seu leito, partiram-se as águas, com um muro
à sua esquerda e à sua direita (Exod. 14, 21 e 22).É uma lei
que o um morto fique morto até à ressureição geral; entretanto, o próprio
Cristo-Deus, diante do cadáver de Lázaro, já em putrefação, exclamou:
"Lázaro, sai!" (Jo 11, 43 e 41). E imediatamente aquele que estava
morto saiu vivo. Que prova isso, demonstra que "para Deus nada é
impossível" (Lc 18, 27).
Se a Deus nada é impossível - Por que os protestantes
acham impossível que Deus preserve Maria Santíssima do Pecado Original?
Se a lei
geral fosse superior ao poder de Deus, como ficaria o Homem-Deus? Ele, em sua
natureza humana, foi preservado do pecado original, mesmo nascendo de uma
mulher. Se fosse impossível a Deus manter Imaculada a sua Mãe, também seria
impossível manter "imaculado" o Seu Filho único, que nasceu
verdadeiro Homem e verdadeiro Deus.
11)-Provas
na Sagrada Escritura:
Depois da
queda do pecado original, Deus falou ao demônio, oculto sob a forma de
serpente: "Ei de por inimizade entre ti e a mulher, entre sua raça
(semente) e a tua; ela te esmagará a cabeça" (Gen 3, 15). Basta um pouco
de boa-vontade para compreender de que "mulher" o texto fala. A única
mulher "cheia de graça", "bendita entre todas", na qual a
"semente" ou (raça) foi Nosso Senhor Jesus Cristo (e os cristãos), é
a Santíssima Virgem, a nova Eva, mãe do Novo Adão. Conforme esse texto, há uma
luta entre dois antagonistas: de um lado, está uma mulher com o filho; do
outro, o demônio. Quem há de ganhar a vitória são aqueles e não estes. Ora, se
Nossa Senhora não fosse imaculada, essa inimizade não seria inteira e a vitória
não seria total, pois Maria Santíssima teria sido, pelo menos em parte, sujeita
ao poder do demônio através do Pecado Original. Em outras palavras, a inimizade
entre a mulher (e sua posteridade) e a serpente, implica, necessariamente, que
Nosso Senhor e Nossa Senhora não poderiam ter sido manchados pelo pecado
original.Na
saudação angélica, quando S. Gabriel diz: "Ave, cheia de graça. O Senhor é
convosco". Ora, não se exprimiria desta maneira o anjo e nem haveria
plenitude de graça, se Nossa Senhora tivesse o pecado original, visto o homem
ter perdido a graça após o pecado.A maneira da saudação angélica transparece a
grandeza de Nossa Senhora, pois o Anjo a saúda com a "Ave, Cheia de
Graça". Ele troca o nome "Maria" pela qualidade "Cheia de
Graça", como Deus desejou chamá-la. Ao mesmo tempo, a afirmação "o
Senhor é convosco" abrange uma verdade luminosa. Se Nosso Senhor é (está)
com Nossa Senhora antes da encarnação ("é convosco"). Sendo palavras
anteriores à encarnação do verbo no seio da Virgem Maria, forçoso é reconhecer
que onde está Deus não está o pecado. Ou seja, Nossa Senhora não tinha o
"pecado original".Prossegue
o arcanjo: Não temas, Maria, pois "achaste graça diante de Deus".
Aqui termina a revelação da Imaculada Conceição para começar a da maternidade
divina: "Eis que conceberás no teu ventre e darás à luz um filho, e
por-lhe-ás o nome de Jesus". (Lc 1, 28). Pela simples leitura percebe-se a
conexão estreita entre duas verdades: "Maria será a mãe de Jesus, porque
achou graça diante de Deus".
Mas, que graça Nossa Senhora
achou diante de Deus para poder ser escolhida como a Mãe Dele?
Ora, a
única graça que não existia - ou que estava "perdida" - era a
"graça original". Falar, pois, que: "Maria achou graça" é
dizer que achou a "graça original". Ora, a "graça original"
é a "Imaculada Conceição"! Os evangelhos sinóticos deixam claro que a
palavra "Cheia de Graça", em grego: "Kecharitoménê",
particípio passado de "charitóô", de "Cháris", é empregado
na Sagrada Escritura para designar a graça em seu sentido pleno, e não no
sentido corrente. A tradução literal seria: "omnino Plena Caelesti gratia"
ou "Ominino gratiosa reddita": "Cheia de graça".Ou seja,
a tradução do latim: "gratia plena" é mais perfeita do que a palavra
portuguesa: "cheia de graça". Nossa Senhora não apenas
"encontrou graça", mas estava "plena" de Graça.
Corroborando o que disse o Arcanjo logo em seguida: "O Senhor é
contigo". Falando à Santíssima Virgem que Ela "achara graça", o
Arcanjo diz: Maria, sois imaculada, e, por isto, sereis a Mãe de Jesus Cristo.Também é
pela própria razão que se pode concluir a Imaculada Conceição. É claro que o
argumento racional não é definitivo, mas corroborou com muita conveniência - e
completa harmonia - para com ele. Se Maria Santíssima fosse manchada do pecado
original, essa mancha redundaria em menor glória para seu filho, que ficou nove
meses no ventre de uma mulher que teria sido concebida na vergonha daquele
pecado. Se qualquer mácula houvesse na formação de Maria Santíssima, teria
havido igualmente na formação de Jesus, pois o filho é formado do sangue
materno.S. Paulo
assim se expressa sobre o ventre de onde nasceu o menino-Deus: "Cristo,
porém, apareceu como um pontífice dos bens futuros. Entrou no tabernáculo mais
excelente e perfeito, não construído por mãos humanas, nem mesmo deste
mundo" (Hebr 9, 12). Que tabernáculo é esse, "não construído por mãos
humanas", por onde "entrou" Nosso Senhor Jesus Cristo? Fica
claro o milagre operado em Nossa Senhora na previsão dos méritos de seu divino
Filho. Negar que Deus pudesse realizar tal milagre (Imaculada Conceição) seria
duvidar de sua onipotência. Negar que Ele desejaria fazer tal milagre seria
menosprezar seu amor filial, pois, como afirma S. Paulo: Deus construiu o seu
"tabernáculo" que não foi "construído por mãos humanas".Ora, este
tabernáculo, feito imediatamente por Deus e para Deus, devia revestir-se de toda
a beleza e pureza que o próprio Deus teria podido outorgar a uma criatura. E
esta pureza perfeita e ideal se denomina: a Imaculada Conceição.
Agora examinemos a Tradição dos
primeiros Cristãos desde os primeiros
séculos:
1)- S.
Tiago Menor, o qual realizou o esquema da liturgia da Santa Missa, prescreve a
seguinte leitura, após ler uns passos do antigo e do novo testamento, e de umas
orações: "Fazemos memória de nossa Santíssima, Imaculada, e gloriosíssima
Senhora Maria, Mãe de Deus e sempre Virgem". O santo Apóstolo não se
limita a isso, mas torna a sua fé mais expressiva ainda. Após a consagração e
umas preces, ele faz dizer ao Celebrante: "Prestemos homenagem,
principalmente, a Nossa Senhora, a Santíssima, Imaculada, abençoada acima de
todas as criaturas, a gloriosíssima Mãe de Deus, sempre Virgem Maria. E os
cantores respondem: É verdadeiramente digno que nós vos proclamemos
bem-aventurada e em toda linha irrepreensível, Mãe de Nosso Deus, mais digna
que os querubins, mais digna de glória que os serafins; a vós que destes à luz
o Verbo divino, sem perder a vossa integridade perfeita, nós glorificamos como
Mãe de Deus" (S. jacob in Liturgia sua).
2)- O
evangelista S. Marcos, na Liturgia que deixou às igrejas do Egito, serve-se de
expressões semelhantes: "Lembremo-nos, sobretudo, da Santíssima,
intemerata e bendita Senhora Nossa, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria".
3)- Na
Liturgia dos etíopes, de autor desconhecido, mas cuja composição data do
primeiro século, encontramos diversas menções explícitas da Imaculada
Conceição. Umas das suas orações começa nestes termos: Alegrai-vos, Rainha,
verdadeiramente Imaculada, alegrai-vos, glória de nossos pais. Mais adiante, é
pela intercessão da Imaculada Virgem Maria que o Sacerdote invoca a Deus em
favor dos fiéis: "Pelas preces e a intercessão que faz em nosso favor
Nossa Senhora, a Santa e Imaculada Virgem Maria.".
3)- Terminamos
o primeiro século com as palavras de Santo André, apóstolo, expondo a doutrina
cristã ao procônsul Egeu, passagem que figura nas atas do martírio do mesmo
santo, e data do primeiro século: "Tendo sido o primeiro homem formado de
uma terra imaculada, era necessário que o homem perfeito nascesse de uma Virgem
igualmente imaculada, para que o Filho de Deus, que antes formara o homem,
reparasse a vida eterna que os homens tinham perdido" (Cartas dos Padres
de Acaia). A doutrina da Imaculada Conceição era, pois, conhecida no primeiro
século e por todos admitida. A esse respeito, nenhuma contradição se levantou
na primitiva Igreja.
4)- No
século segundo, os escritos dos Santos Padres falam da Imaculada Conceição como
um fato indiscutível. Entre os escritores e oradores deste século, contamos: S.
Jusitino, apologista e mártir; Tertuliano e Santo Irineu.
5)- No
terceiro século, existem também textos claros em defesa da Imaculada Conceição.
mas em menor quantidade.
6)- Santo
Hipólito, bispo de Porto e mártir, escreveu em 220: "O Cristo foi
concebido e tomou o seu crescimento de Maria, a Mãe de Deus toda pura".
Mais além ele diz: "Como o Salvador do mundo tinha decretado salvar o
gênero humano, nasceu da Imaculada Virgem Maria".
7)- Orígenes,
que viveu em 226 e pareceu resumir a doutrina e as tradições de sua época,
escreveu: "Maria, a Virgem-Mãe do Filho único de Deus, é proclamada a
digna Mãe deste digno Filho, a Mãe Imaculada do Santo e Imaculado, sendo ela
única, como único é o seu próprio Filho." Em um dos seus sermões sobre S.
José, Orígenes faz o mensageiro celeste dizer ao santo: "Este menino não
precisa de Pai na terra, porque tem um pai incorruptível no céu; não precisa de
Mãe no Céu, porque tem uma Mãe Imaculada e casta na terra, a Virgem
Bem-aventurada, Maria".
8)- No
século quarto, aparecem inúmeros escritos sobre a Imaculada Conceição, cada vez
mais explícitos e em maior número. Temos diante de nós as figuras incomparáveis
de Santo Atanásio, de Santo Efrem, de S. Basílio Magno, de Santo Epifânio, e
muitos outros, que constituem a plêiade gloriosa dos grandes Apóstolos do culto
da Virgem Santíssima e, de modo particular, de sua Imaculada Conceição.
9)- Um trecho de Lutero, para mostrar que nem
ele se atreveu a contestar a Imaculada Conceição: "Era justo e
conveniente, diz ele, fosse a pessoa de Maria preservada do pecado original,
visto o filho de Deus tomar dela a carne que devia vencer todo pecado".
(Lut. in postil. maj.).
Para
terminar, transcreveremos um pequeno soneto.
Em 1823,
dois sacerdotes dominicanos, Pes. Bassiti e Pignataro, estavam exorcizando um
menino possesso, de 12 anos de idade, analfabeto. Para humilhar o demônio,
obrigaram-no, em nome de Deus, a demonstrar a veracidade da Imaculada Conceição
de Maria. Para surpresa dos sacerdotes, pela boca do menino possesso, o demônio
compôs o seguinte soneto:
"Sou verdadeira mãe de um Deus que é
filho,
E sou sua filha, ainda ao ser-lhe mãe;
Ele de eterno existe e é meu filho,
E eu nasci no tempo e sou sua mãe!
Ele é meu Criador e é meu filho,
E eu sou sua criatura e sua mãe;
Foi divinal prodígio ser meu filho
Um Deus eterno e ter a mim por mãe.
O ser da mãe é quase o ser do filho,
Visto que o filho deu o ser à mãe
E foi a mãe que deu o ser ao filho;
Se, pois, do filho teve o ser a mãe,
Ou há de se dizer: A mãe manchou o filho,
Ou o filho imaculou a mãe...”
Conta-se
que o Papa Pio IX chorou, ao ler esse soneto que contém um profundíssimo
argumento de razão em favor da Imaculada. Nossa Senhora foi a restauradora da
ordem perdida por meio de Eva. Eva nos trouxe a morte, Maria nos dá a vida. O
que Eva perdeu por orgulho, Nossa Senhora ganhou por humildade. O Dogma da
Imaculada Conceição foi proclamado pelo Papa Pio IX, cercado de 53 cardeais, de
43 arcebispos, de 100 bispos e mais de 50.000 romeiros vindos de todas as
partes do mundo, no dia 8 de dezembro de 1854. Passados apenas 3 anos dessa
solene proclamação, em 11 de agosto de 1858, Nossa Senhora dignou-se aparecer
milagrosamente quinze dias seguidos, perto da pequena cidade de Lourdes, na
França, a uma pobre menina, de 13 anos de idade, chamada Bernadete. No dia 25
de março, Bernadete suplicou que Nossa Senhora lhe revelasse seu nome. Após
três pedidos seguidos, Nossa Senhora lhe respondeu: "Eu sou a Imaculada
Conceição".Eis a
chave de ouro que encerra a tradição ininterrupta dos Apóstolos.
12)- Nossa
Senhora, Mãe de Deus
Negar que
Maria é a mãe de Cristo seria iludir-se de que Cristo nasceu de uma chocadeira,
ora isto é um absurdo.Resumidamente, podemos dizer que Nossa Senhora é Mãe de
Deus e não da divindade. Ou seja, Ela é Mãe de Deus por ser Mãe de Nosso
Senhor, pois as duas naturezas (a divina e a humana) estão unidas em Nosso
Senhor Jesus Cristo.A heresia
de negar a maternidade divina de Nossa Senhora é muito anterior aos
protestantes. Ela nasceu com Nestório, então bispo de Constantinopla. Os
protestantes retomaram a heresia que havia sido sepultada pela Igreja de
Cristo. Mas, afinal, por que Nossa Senhora é Mãe de Deus? Vamos provar pela
razão, pela Sagrada Escritura e pela Tradição que Nossa Senhora é Mãe de Deus.
A pessoa de Nosso Senhor Jesus
Cristo
Se
perguntarmos a alguém se ele é filho de sua mãe, se esta verdadeiramente for a
mãe dele, de certo nos lançará um olhar de espanto. E teria razão. O homem,
como sabemos, é composto de corpo e alma, sendo esta a parte principal do seu
ser, pois comunica ao corpo a vida e o movimento.A nossa mãe terrena, todavia, não nos
comunica a alma, mas apenas o nosso corpo. A alma é criada diretamente por
Deus. A mãe gera apenas a parte material deste composto, que é o seu ser. E
como é que alguém pode, então, afirmar que a pessoa que nos dá à luz é nossa
mãe?Se
fizéssemos essa pergunta a um protestante sincero e instruído, ele mesmo
responderia com tranqüilidade: "é certo, a minha mãe gera apenas o meu
corpo e não a minha alma, mas a união da alma e do corpo forma este todo que é
a minha pessoa; e a minha mãe é mãe de minha pessoa. Sendo ela mãe de minha
pessoa, composta de corpo e alma, é realmente a minha mãe." Apliquemos,
agora, estas noções de bom senso ao caso da Maternidade divina de Maria
Santíssima:Há em
Jesus Cristo "duas naturezas": a natureza divina e a natureza humana.
Reunida, constituem elas uma única pessoa, a pessoa de Jesus Cristo. Nossa
Senhora é Mãe deste única pessoa que possui ao mesmo tempo a natureza divina e
a natureza humana, como a nossa mãe é a mãe de nossa pessoa. Ela deu a Jesus
Cristo a natureza humana; não lhe deu, porém, a natureza divina, que vem
unicamente do Padre Eterno.Maria deu, pois, à Pessoa de Jesus Cristo a
parte inferior - a natureza humana, como a nossa mãe nos deu a parte inferior
de nossa pessoa, o corpo. Apesar disso, nossa mãe é, certamente, a mãe da nossa
pessoa inteira, e Maria é a Mãe da pessoa de Jesus Cristo.Notemos
que em Jesus Cristo há uma só pessoa, a pessoa divina, infinita, eterna, a
pessoa do Verbo, do Filho de Deus, em tudo igual ao Padre Eterno e ao Espírito
Santo. E Maria Santíssima é a Mãe desta pessoa divina. Logo, ela é a Mãe de
Jesus, a Mãe do Verbo Eterno, a Mãe do Filho de Deus, a Mãe da Segunda Pessoa
da Santíssima Trindade, a Mãe de Deus, pois tudo é a mesma e única pessoa,
nascida do seu seio virginal. A alma de Jesus Cristo, criada por Deus, é
realmente a alma da pessoa do Filho de Deus. A humanidade de Jesus Cristo,
composta de corpo e alma, é realmente a humanidade do Filho de Deus. E a Virgem
Maria é verdadeiramente a Mãe deste Deus, revestido desta humanidade; é a Mãe
de Deus feito homem. Ela é a Mãe de Deus - "Maria de qua natus est
Jesus": "Maria de quem nasceu Jesus" (Mt 1, 16).Note-se
que Ela não é a Mãe da divindade, como nossa mãe não é mãe de nossa alma; mas é
a Mãe da pessoa de Jesus Cristo, como a nossa mãe é mãe de nossa pessoa. A
pessoa de Nosso Senhor é divina, é a pessoa do Filho de Deus. Logo, por uma
lógica irretorquível, Ela é a Mãe de Deus.
A conseqüência da negação da
maternidade divina é a negação da Redenção!
Agora,
qual é o fundo do problema dessa heresia? Analisemos alguns pormenores e
algumas conseqüências de se negar a maternidade divina de Nossa Senhora. Não foram os protestantes os primeiros a
rejeitar o título de "Mãe de Deus" à Nossa Senhora.Foi Nestório, o indigno sucessor de S. João
Crisóstomo, na sede de Constantinopla, o inventor da absurda negação. A subtilidade grega havia
suscitado vários erros a respeito da pessoa de Jesus Cristo:Sabélio pretendeu aniquilar a personalidade
do Verbo. Ario procurou arrebatar a esta personalidade a áureola divinal;
negaram os docetas a realidade do corpo de Jesus Cristo e os Apolinaristas, a
alma humana de Cristo.Tudo fora
atacado pela heresia, na pessoa de Nosso Senhor; mas a cada heresia que surgia
a Igreja infalível, sob a direção do Papa de Roma, saia em defesa da única e
imperecível verdade: da pessoa do Verbo divino contra Sabélio; da divindade
desta pessoa, contra Ário; da realidade do corpo humano de Jesus, contra os
Apolinaristas. Bastava apenas um ponto central para suportar o ataque da parte
dos hereges: era a união das duas naturezas, divina e humana, em Jesus Cristo. Caberia
a Nestório levantar esta heresia, e aos filhos de Lutero continuarem a defender
este erro grotesco. Foi em 428 que o indigno Patriarca Nestório começou a
pregar que havia em Jesus Cristo duas pessoas: uma divina, como filho de Deus;
outra humana, como filho de Maria. Por isso conclui o heresiarca, Maria não
pode ser chamada Mãe de Deus, mas simplesmente Mãe de Cristo ou do homem. Concebe-se
o alcance de uma tal negação.Se as duas naturezas, a divina e a humana, não são hipostaticamente
unidas em Nosso Senhor Jesus Cristo, de modo a formar uma única pessoa,
desaparece a Encarnação e a Redenção, porquanto o Filho de Deus, não se tendo
revestido de nossa natureza, não pode ser o nosso Redentor. Somente o homem
Jesus sofreu. Ora, o homem, como ser finito, só pode fazer obras finitas. Logo,
a Redenção não é mais de um valor infinito; Jesus Cristo não pode mais ser
adorado, pois é apenas um homem; o Salvador não é mais o Homem-Deus. Tal é o
erro grotesco que Nestório, predecessor de Lutero, não temeu lançar ao mundo.Ora, os
protestantes não querem levar às últimas conseqüências a negação da maternidade
divina de Nossa Senhora. Admitem em Jesus Cristo duas naturezas e uma pessoa,
mas lhes repugna a união pessoal (hipostática) das duas naturezas na única
pessoa de Jesus Cristo. Basta um pequeno raciocínio para reconhecer como
necessária a maternidade Divina da Santíssima Virgem: Nosso Senhor morreu como
homem na Cruz (pois Deus não morre), mas nos redimiu como Deus, pelos seus
méritos infinitos.Ora, a natureza humana de Nosso Senhor e a
natureza divina não podem ser separadas, pois a Redenção não existiria se Nosso
Senhor tivesse morrido apenas como homem. Logo, Nossa Senhora, Mãe de Nosso
Senhor, mesmo não sendo mãe da divindade, é Mãe de Deus, pois Nosso Senhor é
Deus. Se negarmos a maternidade de Nossa Senhora, negaremos a redenção do
gênero humano ou cairíamos no absurdo de dizer que Deus é mortal!Os
protestantes, admitindo que Jesus Cristo nasceu de Maria - e não podem negá-lo,
pois está no Evangelho (Mt 1, 16) -, devem admitir: que a pessoa deste Jesus é
divina; que Nossa Senhora é a Mãe desta pessoa; que ela é, portanto, Mãe de
Deus! É um dilema sem saída do ponto de vista racional.
O Concílio de Éfeso:
Quando o
heresiarca Ário divulgou o seu erro, negando a divindade da pessoa de Jesus
Cristo, a Providência Divina fez aparecer o intrépido Santo Atanásio para
confundi-lo, assim como fez surgir Santo Agostinho a suplantar o herege
Pelágio, e S. Cirilo de Alexandria para refutar os erros de Nestório, que
haviam semeado a perturbação e a indignação no Oriente. Em 430, o Papa São
Celestino I, num concílio de Roma, examinou a doutrina de Nestório que lhe fora
apresentada por S. Cirílo e condenou-a como errônea, anti-católica, herética. S.
Cirilo formulou a condenação em doze proposições, chamadas os doze anátemas, em
que resumia toda a doutrina católica a este respeito.
Pode-se resumi-las em três
pontos:
1) Em
Jesus Cristo, o Filho do homem não é pessoalmente distinto do Filho de Deus;
2) A
Virgem Santíssima é verdadeiramente a Mãe de Deus, por ser a Mãe de Jesus
Cristo, que é Deus;
3) Em
virtude da união hipostática, há comunicações de idiomas, isto é: denominações,
propriedades e ações das duas naturezas em Jesus Cristo, que podem ser
atribuídas à sua pessoa, de modo que se pode dizer: Deus morreu por nós, Deus
salvou o mundo, Deus ressuscitou.
Para
exterminar completamente o erro, e restringir a unidade de doutrina ao mundo, o
Papa resolveu reunir o concílio de Éfeso (na Ásia Menor), em 431, convidando
todos os bispos do mundo. Perto de 200 bispos, vindos de todas as partes do
orbe, reuniram-se em Éfeso. S. Cirilo presidiu a assembléia em nome do Papa.
Nestório recusou comparecer perante os bispos reunidos. Desde a primeira sessão
a heresia foi condenada. Sobre um trono, no centro da assembléia, os bispos
colocaram o santo Evangelho, para representar a assistência de Jesus Cristo,
que prometera estar com a sua Igreja até a consumação dos séculos, espetáculo
santo e imponente que desde então foi adotado em todos os concílios. Os bispos
cercando o Evangelho e o representante do Papa, pronunciaram unânime e
simultaneamente a definição proclamando que Maria é verdadeiramente Mãe de
Deus. Nestório deixou de ser, desde então, bispo de Constantinopla.Quando a multidão ansiosa que rodeava a
Igreja de Santa Maria Maior, onde se reunia o concílio, soube da definição que
proclamava Maria "Mãe de Deus", num imenso brado ecoou a exclamação:
"Viva Maria, Mãe de Deus! Foi vencido o inimigo da Virgem! Viva a grande,
a augusta, a gloriosa Mãe de Deus!" Em memória desta solene definição, o
concílio juntou à saudação angélica estas palavras simples e expressivas:
"Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de
nossa morte".
Provas da Santa Escritura
Para
iluminar com um raio divino esta verdade tão bela e fundamental, recorramos à
Sagrada Escritura, mostrando como ali tudo proclama este título da Virgem
Imaculada. Maria é verdadeiramente Mãe de Deus. Ela gerou um homem
hipostaticamente unido à divindade; Deus nasceu verdadeiramente dela, revestido
de um corpo mortal, formado do seu virginal e puríssimo sangue. Embora, no
Evangelho, Ela não seja chamada expressamente "Mãe de Cristo" ou
"Mãe de Deus", esta dignidade deduz-se, com todo o rigor, do texto
sagrado. O Arcanjo Gabriel, dizendo à Maria: "O santo que há de nascer de
ti será chamado Filho de Deus" (Lc 1, 35), exprime claramente que ela será
Mãe de Deus.O Arcanjo
diz que o Santo que nascerá de Maria será chamado o Filho de Deus. Se o Filho
de Maria é o Filho de Deus, é absolutamente certo que Maria é a Mãe de Deus. Repleta
do Espírito Santo, Santa Isabel exclama: "Donde me vem a dita que a Mãe de
meu Senhor venha visitar-me?" (Lc 1, 43). Que quer dizer isso senão que
Maria é a Mãe de Deus? Mãe do Senhor ou "Mãe de Deus" são expressões
idênticas.
S. Paulo diz que Deus enviou seu Filho, feito
da mulher, feito sob a lei (Galat. 4, 4).
O profeta
Isaías predisse que a Virgem conceberia e daria à luz um Filho que seria
chamado Emanuel ou Deus conosco (Is 7, 14). Qual é este Deus? É necessariamente
Aquele que, segundo o testemunho de S. Pedro, não é nem Jeremias, nem Elias,
nem qualquer outro profeta, mas, sim, o Cristo, o Filho de Deus vivo. É aquele
que, conforme a confissão dos demônios, é: o Santo de Deus. Tal é o Cristo que
Maria deu à luz. Ela gerou, pois, um Deus-homem. Logo, é Mãe de Deus por ser
Mãe de um homem que é Deus e que, sendo Deus, Redimiu o gênero humano.
A Doutrina dos Santos Padres, a
Tradição dos primeiros Cristãos:
Tal é a
doutrina claramente expressa no Evangelho, e sempre seguida na Igreja Católica.
Os Santos Padres, desde os tempos Apostólicos até hoje, foram sempre unânimes a
respeito desta questão; seria uma página sublime se pudéssemos reproduzir as
numerosas sentenças que eles nos legaram.
Citemos
pelo menos uns textos dos principais Apóstolos, tirados de suas
"liturgias" e transmitidas por escritores dos primeiros séculos:
Santo André diz: "Maria é Mãe de Deus,
resplandecente de tanta pureza, e radiante de tanta beleza, que, abaixo de
Deus, é impossível imaginar maior, na terra ou no céu." (Sto Andreas
Apost. in transitu B. V., apud Amad.).
São João diz: "Maria é verdadeiramente
Mãe de Deus, pois concebeu e gerou um verdadeiro Deus, deu à luz, não um
simples homem como as outras mães, mas Deus unido à carne humana." (S.
João Apost. Ibid).
S. Tiago: "Maria é a Santíssima, a Imaculada,
a gloriosíssima Mãe de Deus" (S. Jac. in Liturgia).
S. Dionísio Areopagita: "Maria é feita
Mãe de Deus, para a salvação dos infelizes." (S. Dion. in revel. S.
Brigit.)
Orígenes (Sec. II) escreve: "Maria é Mãe
de Deus, unigênito do Rei e criador de tudo o que existe" (Orig. Hom. I,
in divers.)
Santo Atanásio diz: "Maria é Mãe de
Deus, completamente intacta e impoluta." (Sto. Ath. Or. in pur. B.V.).
Santo Efrém: "Maria é Mãe de Deus sem
culpa" (S. Ephre. in Thren. B.V.).
S. Jerônimo: "Maria é verdadeiramente
Mãe de Deus". (S.
Jerôn. in Serm. Ass. B. V.).
Santo Agostinho: "Maria é Mãe de Deus,
feita pela mão de Deus". (S. Agost. in orat. ad heres.).
E assim
por diante. Todos os Santos Padres rivalizaram em amor e veneração, proclamando
Maria: Santa e Imaculada Mãe de Deus.Terminemos estas citações, que podíamos
prolongar por páginas afora, pela citação do argumento com que S. Cirilo
refutou Nestório:"Maria Santíssima, diz o grande
polemista, é Mãe de Cristo e Mãe de Deus. A carne de Cristo não foi primeiro
concebida, depois animada, e enfim assumida pelo Verbo; mas no mesmo momento
foi concebida e unida à alma do Verbo. Não houve, pois, intervalo de tempo
entre o instante da Conceição da carne, que permitiria chamar Maria "Mãe
de um homem", e a vinda da majestade divina. No mesmo instante a carne de
Cristo foi concebida e unida à alma e ao Verbo".Vê-se,
através destas citações, que nenhuma dúvida, nenhuma hesitação existe sobre
este ponto no espírito dos Santos Padres. É uma verdade Evangélica,
tradicional, universal, que todos aceitam e professam. Conclusão: Dever de
culto à Mãe de Deus.Maria é Mãe de Deus... é absolutamente certo. Esta
dignidade supera todas as demais dignidades, pois representa o grau último a
que pode ser elevada uma criatura. Oro, toda dignidade supõe um direito; e não
há direito numa pessoa, sem que haja dever noutra.Se Deus
elevou tão alto a sua Mãe, é porque Ele quer que ela seja por nós honrada e
exaltada. Não estamos bastante convencidos desta verdade, porque, comparando
Maria Santíssima com as outras mães, representamo-nos a qualidade de Mãe de
Deus sob seu aspecto exterior e acidental, enquanto na realidade a base de sua
excelência ela a possui em seu "próprio ser moral", que influi em seu
"ser físico".Maria
concebeu o Verbo divino em seu seio, porém esta Conceição foi efeito de uma
plenitude de graças e de uma operação do Espírito Santo em sua alma. Pode-se
dizer que a mãe não se torna mais recomendável por ter dado à luz um grande
homem, pois isto não lhe traz nenhum aumento de virtude ou de perfeição; mas a
dignidade de Mãe de Deus, em Maria Santíssima, é a obra de sua santificação, da
graça que a eleva acima dos próprios anjos, da graça a que ela foi
predestinada, e na qual foi concebida, para alcançar este fim sublime de ser
"Mãe de Deus": é a sua própria pessoa. Diante de tal maravilha, única
no mundo e no céu, eu pergunto aos pobres protestantes: não é lógico, não é
necessário, não é imperioso que os homens louvem e exaltem àquela que Deus
louvou e exaltou acima de todas as criaturas?Se fosse proibido cultuar à Santíssima
Virgem, como querem os protestantes, o primeiro violador foi o próprio Deus,
que mandou saudar à Virgem Maria, pelo arcanjo S. Gabriel: "Ave, cheia de
graça!" (Lc 1, 28). Santa Isabel: "Bendita sois vós entre as
mulheres" (Lc 1, 42) .Igualmente, a própria Nossa Senhora nos diz:
"Doravante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada..." (Lc 1,
48). Todos esses atos indicam o culto à Nossa Senhora, a honra que lhe é
devida. O Arcanjo é culpado, Santa Isabel é culpada, os evangelistas são
culpados, os santos são culpados e 19 séculos de cristianismo também... Só os
protestantes não.
13)- Desde os primórdios do
Cristianismo, como já vimos, era comum o culto à Maria Santíssima:
1)- Em
340, S. Atanásio, resumindo os dizeres de seus antecessores nos primeiros
séculos, S. Justino, S. Irineu, Tertuliano, e Orígenes, exclama: "Todas as
hierarquias do céu vos exaltam, ó Maria, e nós, que somos vossos filhos da
terra, ousamos invocar-vos e dizer-vos: Ó vós, que sois cheia de graça, ó
Maria, rogai por nós!"
2)- Nas
catacumbas encontram-se, em toda parte, imagens e estátuas da Virgem Maria.
O culto
de Nossa Senhora não é um adorno da religião, mas uma peça constitutiva, parte integral,
e indissoluvelmente ligada a todas as verdades e mistérios evangélicos. Querer
isolá-lo do conjunto da doutrina de Jesus Cristo é vibrar golpe mortal na
religião inteira, fazê-la cair, e nada mais compreender da grandeza em que Deus
vem unir-se às criaturas. Nossa Senhora é Mãe de Deus: "Maria de qua natus
est Jesus!" Tudo está compendiado nesta frase. Maria, simples criatura;
Jesus, Deus eterno; e a encarnação "de qua natus est"; afinal, a
união indissolúvel que produz o nascimento, entre o Filho e a Mãe, a grande e
incomparável obra-prima de Deus. Ele pode fazer mundos mais vastos, um céu mais
esplêndido, mas não pode fazer uma Mãe maior que a Mãe de Deus! (S. Bernardo
Spec. B.V. c 10). Aqui Ele se esgotou. É a última palavra de seu poder e de seu
amor! O texto
sobre a Mãe de Deus foi basicamente copiado, por se tratar de uma das mais
belas páginas de defesa da maternidade divina de Nossa Senhor que encontrei.
14)- A
Assunção Gloriosa da Mãe de Deus
A
Assunção de Nossa Senhora foi transmitida pela tradição escrita e oral da
Igreja. Ela não se encontra explicitamente na Sagrada Escritura, mas está
implícita. Os protestantes acreditam que a Mãe de Deus, apesar de ter sido o
Tabernáculo vivo da divindade, devia conhecer a podridão do túmulo, a
voracidade dos vermos, o esquecimento da morte, o aniquilamento de sua pessoa. Vamos
analisar o fato histórico, segundo é contato pelos primeiros cristãos e
transmitido pelos séculos de forma inconteste. Na ocasião de Pentecostes, Maria
Santíssima tinha mais ou menos 47 anos de idade. Depois desse fato, permaneceu
Ela ainda 25 anos na terra, para educar e formar, por assim dizer, a Igreja
nascente, como outrora ela educara, protegera, e dirigira a infância do Filho
de Deus. Ela terminou sua "carreira mortal" na idade de 72 anos, conforme
a opinião mais comum. A morte de Nossa Senhor foi suave, chamada de
"dormição". Quis Nosso Senhor dar esta suprema consolação à sua Mãe
Santíssima e aos seus apóstolos e discípulos que assistiram a
"dormição" de Nossa Senhora, entre os quais se sobressai S. Dionísio
Aeropagita, discípulo de s. Paulo e primeiro Bispo de Paris, o qual nos conservou
a narração desse fato.
Diversos Santos Padres da Igreja contam que os Apóstolos foram
milagrosamente levados para Jerusalém na noite que precedera o desenlace da
Bem-aventurada Virgem Maria:
1)- S.
João Damasceno, um dos mais ilustres doutores da Igreja Oriental, refere que os
fiéis de Jerusalém, ao terem notícia do falecimento de sua Mãe querida, como a
chamavam, vieram em multidão prestar-lhe as últimas homenagens e que logo se
multiplicaram os milagres em redor da relíquia sagrada de seu corpo.
2)- Três
dias depois chegou o Apóstolo S. Tomé, que a Providência divina parecia ter
afastado, para melhor manifestar a glória de Nossa Senhora, como dele já se
servira para manifestar o fato da ressurreição de Nosso Senhor.
3)- S.
Tomé pediu para ver o corpo de Nossa Senhora. Quando retiraram a pedra, o corpo
já não mais se encontrava. Do túmulo se exalava um perfume de suavidade
celestial! Como o seu Filho e pela virtude de seu Filho, a Virgem Santa
ressuscitara ao terceiro dia. Os anjos retiraram o seu corpo imaculado e o
transportaram ao céu, onde ele goza de uma glória inefável.
Nada é
mais autêntico do que estas antigas tradições da Igreja sobre o mistério da
Assunção da Mãe de Deus, encontradas nos escritos dos Santos Padres e Doutores
da Igreja, dos primeiros séculos, e relatadas no Concílio geral de Calcedônia,
em 451. Como Nossa Senhora era isenta do 'pecado original', ela estava imune à
sentença de morte (conseqüência da expulsão do paraíso terrestre). Todavia, por
não ter acesso à "árvore da vida" (que ficava no paraíso terrestre),
Maria Santíssima teria que passar por uma "morte suave" ou uma
"dormição".Por um privilégio especial de Deus,
acredita-se que Nossa Senhora não precisaria morrer se assim o desejasse, ainda
que não tivesse acesso à "árvore da vida".Tudo
isso, é claro, ainda poderá ser melhor explicado com o tempo, quando a Igreja
for explicitando certos mistérios relativos à Santíssima Virgem Maria que até
hoje permanecem. Muito pouco ainda descobrimos sobre a grandeza de Nossa
Senhora, como bem disse S. Luiz Maria G. de Montfort em seu livro "Tratado
da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem". É certo que Nossa Senhora
escolheu passar pela morte, mesmo não tendo necessidade.
Quais foram, então, as razões da
escolha da morte por Nossa Senhora? Pode-se levantar várias hipóteses. O Pe.
Júlio Maria (da década de 40) assinala quatro:
1) Para
refutar, de antemão, a heresia dos que mais tarde pretenderiam que Maria
Santíssima não tivesse sido uma simples criatura como nós, mas pertencesse à
natureza angélica.
2) Para
em tudo se assemelhar ao seu divino Filho.
3) Para
não perder os merecimentos de aceitação resignada da morte.
4) Para
nos servir de modelo e ensinar a bem morrer.
Podemos,
pois, resumir esta doutrina dizendo que Deus criou o homem mortal. Deus deu a
Maria Santíssima não o direito (por não ter acesso à "Árvore da
vida"), mas o privilégio, de ser imortal. Ela preferiu ser semelhante ao
seu Filho, escolhendo voluntariamente a morte, e não a padecendo como castigo
do pecado original que nunca tivera.
15)- Analisemos, agora, a Ressurreição
de Maria Santíssima:
Os
Apóstolos, ao abrirem o túmulo da Mãe de Deus para satisfazer a piedade de São
Tomé e ao desejo deles todos, não encontrando mais ali o corpo de Nossa Senhora,
deduziram e perceberam que Ela havia ressuscitado! Não era preciso ver à
ressurreição para crer no fato, era uma dedução lógica decorrente das
circunstâncias celestiais de sua morte, de sua santidade, da dignidade de Mãe
de Deus, da sua Imaculada Conceição, da sua união com o Redentor, tudo isso
constituía uma prova irrefutável da Assunção de Nossa Senhora. A Assunção
difere da ascensão de Nosso Senhor no fato de que, no segundo caso, Nosso
Senhor subiu por seu próprio poder, enquanto sua Mãe foi assunta ao Céu pelo
poder de Deus.
16)- Ora, há vários
argumentos racionais em favor da Assunção de Nossa Senhora:
1)- Primeiramente,
havendo entrado de modo sobrenatural nesta vida, seria normal que saísse de
forma sobrenatural, esse é um princípio de harmonia nos atos de Deus. Se Deus a
quis privilegiar com a Imaculada Conceição, tanto mais normal seria completar o
ato na morte gloriosa.
2)- Depois,
a morte, como diz o ditado latino: "Talis vita, finis ita", é um eco
da vida. Se Deus guardou vários santos da podridão do túmulo, tornando os seus
corpos incorruptos, muito mais deveria ter feito pelo corpo que o guardou
durante nove meses, pela pele que o revestiu em sua natureza humana, etc.
3)- Nosso
Senhor tomou a humanidade do corpo de sua Mãe. Sua carne era a carne de sua
Mãe, seu sangue era o sangue de sua Mãe, etc. Como permitir que sua carne,
presente na carne de sua santíssima Mãe, fosse corrompida pelos vermes e
tragada pela terra? Ele que nasceu das entranhas amorosíssimas de Maria
Santíssima permitiria que essas mesmas entranhas sofressem a podridão do túmulo
e o esquecimento da morte? Seria tentar contra o amor filial mais perfeito que
a terra já conheceu. Seria romper com o quarto mandamento da Lei de Deus, que
estabelece "Honrar Pai e Mãe".
4)- Qual
filho, podendo, não preservaria sua Mãe da morte?A dignidade de Filho de Deus
feito homem exigia que não deixasse no túmulo Aquela de quem recebera o seu
Corpo sagrado. Nosso Senhor Jesus Cristo, por assim dizer, preservando o corpo
de Maria Santíssima, preservava a sua própria carne.
5)- Ainda
podemos levantar o argumento da relação imediata da paixão do Filho de Deus e
da compaixão da Mãe de Deus, promulgada, de modo enérgico, no Evangelho, pela
profecia de S. Simeão falando à própria Mãe: "Eis que este menino está
posto para a ressurreição de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição.
E uma espada transpassará a tua alma" (Luc. 2, 34, 45). Esta tradução em
vernáculo (português, no caso) é larga. O texto latino (em latim) tem uma
variante que parece ir além do texto em português. "Et tuam ipsius animam
pertransibit glaudius" - o que quer dizer literalmente: o mesmo gládio
transpassará a alma dele e a vossa. Como seria possível que o Filho, tendo sido
unido à sua Mãe em toda a sua vida, na sua infância e na sua dor, não se unisse
à Ela na sua glória? Tudo isso se levanta dos Evangelhos.
A
Assunção de Maria Santíssima foi sempre ensinada em todas as escolas de
teologia e não há voz discordante entre os Doutores. A Assunção é como uma
conseqüência da encarnação do Verbo. Se a Virgem Imaculada recebeu outrora o
Salvador Jesus Cristo, é justo que o Salvador, por sua vez, a receba. Não tendo
Nosso Senhor desdenhado descer ao seu seio puríssimo, deve elevá-la agora, para
partilhar com Ela a sua glória. Cristo recebeu sua vida terrena das mãos de
Maria Santíssima. Natural é que Ela receba a Vida Eterna das mãos de seu divino
Filho. Além de conservar a harmonia em sua própria obra, Deus devia continuar
favorecendo a Virgem Imaculada, como Ele o fez, desde a predestinação até a
hora de sua morte.Ora,
podendo preservar da corrupção do túmulo a sua santa Mãe, tendo poder para
fazê-la ressuscitar e para levá-la ao céu em corpo e alma, Deus devia fazê-lo,
pois Ele devia coroar na glória aquela que já coroara na terra... Dessa forma,
a Santíssima Mãe de Deus continuava a ser, na glória eterna, o que já fora na
terra: "a mãe de Deus e a mãe dos homens". Tal se nos mostra Maria na
glória celestial, como cantava o Rei de sua Mãe, assim canta Deus de Nossa Senhora:
"Sentada à direita de seu Filho querido" (3 Reis, 2, 19),
"revestida do sol" (Apoc. 12, 1), cercada de glória "como a
glória do Filho único de Deus" (Jo. 1, 14), pois é a mesma glória que
envolve o Filho e a Mãe! Ele nos aparece tão belo! E ela como se nos apresenta
suave e terna em seu sorriso de Mãe, estendendo-nos os braços, num convite
amoroso, para que vamos a Ela e possamos um dia partilhar de sua
bem-aventurança!
FONTE: Lepanto - Extraído, com alguns pequenos acréscimos, do Pe. Júlio Maria, "A
Mulher Bendita", Editora "O Lutador", 1949, Manhumirim, MG
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