“Eis que vos envio como ovelhas entre lobos”: a missão cristã no coração de um mundo hostil
As palavras de Jesus registradas no Evangelho de Mateus 10,16 — “Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos” — permanecem entre as mais fortes e provocadoras de toda a Escritura. Nelas, encontramos o núcleo da missão cristã: ser presença de Deus em um mundo que muitas vezes O rejeita.À primeira vista, a imagem parece contraditória e até perigosa. Quem enviaria ovelhas indefesas para o meio de lobos famintos? No entanto, o Senhor não é imprudente, nem faz desse envio uma missão suicida. Ele fala com profundo realismo espiritual, revelando que o seguimento de Cristo nunca foi caminho de conforto, mas de fidelidade.O discipulado católico nasce desse paradoxo: somos frágeis como ovelhas, mas conduzidos pelo poder do Pastor. Cristo conhece os perigos e as resistências do mundo moderno — um mundo marcado pela indiferença religiosa, pelo relativismo moral e pela busca desenfreada de prazer e sucesso.Mesmo assim, Ele envia os seus, porque confia na força da graça. Antes de enviar, Jesus prepara, adverte e promete. Suas promessas não são de aplausos nem de recompensas humanas, mas das bem-aventuranças eternas, da alegria que ninguém pode tirar (cf. Jo 16,22), e da vida que não se perde (cf. Jo 10,28).Evangelizar, portanto, é um ato de coragem e obediência. É proclamar o Evangelho da verdade e da vida cristã autêntica em meio a um mundo que muitas vezes prefere as trevas à luz. É nesta tensão que o cristão descobre a beleza de sua vocação: ser discípulo missionário, fiel ao chamado do Mestre e consciente de que só a comunhão com Cristo torna possível o testemunho do Evangelho.
1. O envio que nasce da comunhão e da formação espiritual
A verdadeira missão cristã nasce da intimidade com Cristo. Antes de enviar os apóstolos, Jesus os forma, os educa na fé e os faz participar de Sua própria vida. O envio não é um impulso ativista, mas o fruto maduro da comunhão com Deus.Assim também hoje, a Igreja Católica, em sua sabedoria, não lança os fiéis à evangelização sem antes formá-los espiritualmente. A catequese, a vida sacramental, a leitura orante da Palavra de Deus e o estudo do Catecismo da Igreja Católica são pilares essenciais dessa formação.A formação espiritual e missionária capacita o cristão a enfrentar o mundo com discernimento e serenidade. Em meio à confusão moral e às ideologias que distorcem a verdade, o discípulo fiel é chamado a viver com coerência, mostrando que o Evangelho continua sendo “poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1,16).Ser missionário é ser discípulo antes de ser apóstolo. E quem vive unido a Cristo nunca caminha sozinho.
2. Luz que incomoda as trevas: a força transformadora do Evangelho
Jesus sabia que o anúncio do Evangelho traria oposição. A luz da verdade incomoda as trevas do pecado e da mentira. O amor verdadeiro desmascara o egoísmo. A paz autêntica denuncia a violência e a hipocrisia.Por isso, o cristão que vive uma vida de fé autêntica não deve esperar aceitação total do mundo. O testemunho da fé cristã é, muitas vezes, silencioso, sofrido, mas profundamente fecundo.Em um tempo em que a verdade é relativizada e a moral é negociável, a Igreja é chamada a ser luz que incomoda, mas ilumina; voz que denuncia, mas também consola. A missão evangelizadora é a resposta da fé à crise espiritual do mundo contemporâneo.
Ser “ovelha entre lobos” é assumir o papel de sinal de contradição, sem perder a mansidão e a esperança. É proclamar que a única liberdade verdadeira nasce da fidelidade a Cristo.
3. Prudência e simplicidade: virtudes para o discipulado católico
Jesus ensina: “Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10,16). Aqui estão duas virtudes indispensáveis para quem deseja viver a vida cristã autêntica.
A prudência é sabedoria espiritual que protege o discípulo contra o engano e o erro; a simplicidade é pureza de coração que o mantém livre da arrogância e do rancor. Ambas se complementam no verdadeiro missionário.O mundo de hoje, saturado de informação e manipulação, exige discernimento e humildade. A prudência cristã permite reconhecer as armadilhas do inimigo; a simplicidade evangélica impede que o coração se endureça. O discípulo maduro é aquele que, mesmo perseguido, não abandona o amor, e mesmo ferido, não deixa de perdoar. Assim se manifesta a força serena do Cordeiro.
4. A Igreja missionária: presença de Cristo no mundo contemporâneo
Desde os primeiros séculos, a Igreja viveu o desafio de anunciar o Evangelho em meio à hostilidade do mundo. Mártires, santos e missionários de todos os tempos compreenderam que a missão cristã é, acima de tudo, um ato de amor e fidelidade.Hoje, a missão continua — nas famílias, nas universidades, nas redes sociais, nas comunidades eclesiais, e até nos ambientes de trabalho.
Os “lobos” do nosso tempo — o materialismo, o hedonismo, o individualismo e o relativismo ético — se disfarçam de progresso e liberdade, mas geram vazio e desumanização. É nesse cenário que a Igreja evangelizadora é chamada a ser farol de esperança e verdade.
Evangelizar é, portanto, resistir à tentação da indiferença e proclamar que Cristo continua sendo o centro da história e o Salvador do mundo.
5. O Espírito Santo: força e coragem do testemunho cristão
O cristão não é deixado só. O mesmo Jesus que envia, reveste com o poder do Espírito Santo (cf. At 1,8). É o Espírito quem dá sabedoria para discernir, coragem para permanecer e amor para servir. Ele transforma o medo em ousadia, o desânimo em confiança, o sofrimento em oferta. A força da missão cristã não está na eloquência humana, mas na graça divina que age na fraqueza (cf. 2Cor 12,9). O Espírito é quem faz da Igreja um corpo vivo, dinâmico e santo. Ele é o protagonista de toda evangelização autêntica, o verdadeiro motor da Igreja em saída, como recorda o Papa Francisco em Evangelii Gaudium. Por isso, o missionário é sempre alguém movido pelo Espírito e guiado pelo amor.
Conclusão: enviados com propósito, preparados para sermos fieis até o fim!
Mas o Senhor não é imprudente, nem faz desse envio uma missão suicida. Ele sabe muito bem o que faz e conhece os perigos do mundo para os quais envia os seus. O mesmo Cristo que envia é o Cristo que sustenta. Antes de enviar, Jesus prepara: Ele forma, adverte e promete. E Suas promessas não são de aplausos, de reconhecimento ou de recompensas humanas, mas das bem-aventuranças eternas, da alegria que ninguém pode tirar, da vida que não se perde (cf. Jo 16,22).
Jesus envia os seus discípulos com plena consciência de que o mundo nem sempre acolherá a mensagem do Evangelho. Ele sabe que a luz, quando chega, incomoda as trevas; que o amor verdadeiro denuncia o egoísmo; e que a paz autêntica desmascara a violência e a hipocrisia. Por isso, o Senhor não promete facilidade, mas presença; não promete aplausos, mas graça; não promete sucesso humano, mas salvação. Sua palavra é clara e firme: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). Essa é a certeza que sustenta o coração missionário e dá coragem àqueles que caminham entre os lobos.
Hoje, a Igreja continua a viver esse envio com a mesma força do início. Ela não lança seus filhos ao mundo sem preparo, mas os forma cuidadosamente. O mesmo Cristo que preparou os apóstolos continua a preparar cada batizado por meio dos carismas, ministérios, comunidades e serviços. A catequese, o catecumenato, a vida sacramental e o estudo do Catecismo da Igreja Católica são, ainda hoje, escolas do discipulado e fortalezas da fé.Assim, a missão não é uma aventura solitária nem um gesto heroico isolado. É obediência amorosa ao chamado de Cristo, que continua a dizer: “Ide e anunciai o Reino de Deus” (Lc 9,2). A missão nasce do amor e se realiza na fidelidade.
O mundo de hoje também está cheio de lobos — a indiferença espiritual, o relativismo moral, a ganância desmedida, a mentira institucionalizada, a superficialidade que tudo banaliza. Mas não podemos nos esconder por medo. Fomos enviados para ser presença de luz nas trevas, testemunhas da verdade num tempo de confusão, mensageiros da paz num mundo dividido.
O Senhor, porém, não nos envia desarmados: Ele nos reveste com a força do Espírito Santo, que é sabedoria para discernir, coragem para permanecer e amor para perseverar. É o Espírito quem fala por meio de nós, quem age através de nossas fragilidades e transforma cada fraqueza em instrumento de graça.Por isso, a missão do cristão é exigente, mas profundamente fecunda. É cruz, mas também é ressurreição; é combate, mas também é vitória. A alegria do missionário é saber que participa da própria obra de Deus, colaborando com o triunfo da verdade sobre a mentira e da luz sobre as trevas.Ser “ovelha no meio de lobos” é permanecer firme na mansidão do Cordeiro, mesmo quando o mundo grita por ódio e vingança. É conservar o coração puro e os olhos fixos em Cristo, sabendo que quem caminha com o Bom Pastor jamais caminha sozinho.Que esta palavra desperte em nós o desejo de sermos discípulos missionários prudentes e fiéis, formados na escola do Evangelho, sustentados pela oração e enraizados na Igreja. Que não percamos a mansidão da ovelha, nem a firmeza da fé, nem a coragem da esperança.E quando o medo tentar nos calar, recordemos:
“Tende coragem: Eu venci o mundo” (Jo 16,33).
Assim, enviados por Cristo, caminhamos entre os lobos — não para perecer, mas para iluminar, não para nos perder, mas para conduzir outros à vida. Porque quem é enviado por Cristo caminha com Aquele que venceu o mundo, e com Ele triunfará!
Fontes e referências bibliográficas
-A Bíblia Sagrada, Edição da CNBB, São Paulo: Paulinas, 2019.
-Catecismo da Igreja Católica, Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 1992.
-João Paulo II. Redemptoris Missio: sobre a validade permanente do mandato missionário. Vaticano, 1990.
-Bento XVI. Jesus de Nazaré. São Paulo: Planeta, 2007.
-Francisco. Evangelii Gaudium: sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Vaticano, 2013.
-Von Balthasar, Hans Urs. A Teologia da Missão. Petrópolis: Vozes, 2004.
-Guardini, Romano. O Senhor: Reflexões sobre a Pessoa e a Vida de Jesus Cristo. São Paulo: Paulus, 2008.
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