STF age como Justiça de Cuba ao ver golpe de Estado em arruaça do
8 de janeiro!
Por *J.R. Guzzo
Não há nada de certo, de lógico ou de legal na novela de televisão que começou a ser levada no plenário do Supremo Tribunal Federal com o título “Julgamento do Golpe de 8 de Janeiro”.
"Não é
julgamento! Como poderia ser, se o juiz único (os demais aparecem na função de
“atores convidados”) é também o promotor?"
Não houve golpe! Como poderia haver, se os
acusados de derrubar o governo não tinham sequer um estilingue? Está
comprovado, pela constatação dos fatos materiais, que participaram de um
quebra-quebra vulgar; mexeram com as poltronas dos ministros do STF e cometeram
outros atos de profanação, mas isso não é golpe de Estado.
O “julgamento do dia 8” é
mais uma comprovação objetiva de que o STF aplica os artigos da Constituição
que gosta e se recusa a aplicar os que não gosta.
Ninguém ficou ferido – não foi preciso aplicar um único band-aid em ninguém. Não houve qualquer ameaça ao funcionamento do governo. Não é, enfim, um procedimento legal do Sistema de Justiça em vigor no Brasil. A lei diz que o STF só pode julgar réus que tenham o chamado foro especial (deputado, senador, ministro e outros gatos gordos da República) e nenhum dos acusados tem nada parecido com isso. O “julgamento do dia 8” é mais uma comprovação objetiva de que o STF aplica os artigos da Constituição que gosta e se recusa a aplicar os que não gosta. Ou seja, eles não gostam da Constituição; gostam apenas de si próprios e das decisões que tomam. As coisas começaram exatamente dentro do roteiro de Projac que o STF se acostumou a executar na pós-democracia brasileira de hoje.
Os primeiros réus, que obviamente foram
condenados, pegaram até 17 anos de cadeia (deboche com o número 17 da Campanha presidencial de Bolsonaro?), foram punidos duas vezes pela mesma
coisa, “abolição do Estado de direito” e “golpe de Estado”. Tudo isso, por
tomar parte numa arruaça? Há provas de que os réus cometeram atos de violência.
Mas a pena prevista em lei para o que fizeram é de uns dois ou três anos de
prisão, ainda mais sendo réus primários.
Não existe mais lei no Brasil: vivemos num sistema de selvageria
institucional!
Foi, aliás, o que decidiram os dois ministros que a mídia chama de “bolsonaristas”, por terem sido nomeados por Bolsonaro. (Nunca ninguém chamou nenhum dos outros ministros de “lulistas”, ou “dilmistas”.) Pena de 17 anos é coisa da Justiça de Cuba, onde o sujeito pega 15 anos por compor uma música, ou da Coreia do Norte, que condenou um bebê à prisão perpétua, porque a polícia achou uma Bíblia na casa dos pais.Os dois, por sinal, levaram um pito em público do ministro Alexandre de Moraes, o condutor-chefe da operação. Para que isso? Que diferença vai fazer se votaram assim ou assado? São dois em onze; valem um duplo zero à esquerda. Mas parece que ainda não está bom. O ideal seriam onze penas máximas, como “exemplo”. A Justiça tem de aplicar a lei, e não dar exemplo – só que o Brasil não é mais assim.
*J.R.Guzzo é jornalista. Começou sua
carreira como repórter em 1961, na Última Hora de São Paulo, passou cinco anos
depois para o Jornal da Tarde e foi um dos integrantes da equipe fundadora da
revista Veja, em 1968. Foi correspondente em Paris e Nova York, cobriu a guerra
do Vietnã e esteve na visita pioneira do presidente Richard Nixon à China, em
1972. Foi diretor de redação de Veja durante quinze anos, a partir de 1976,
período em que a circulação da revista passou de 175.000 exemplares semanais
para mais de 900.000. Nos últimos anos trabalhou como colunista em Veja e
Exame.
**Os textos
do colunista não expressam, necessariamente, a opinião da Gazeta do Povo (e por
conseguinte, não representa também o Apostolado Berakash).
Fonte: Gazeta do Povo
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