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A "Sagrada Tradição oral" transmissora da revelação divina anterior às escrituras é confiável? Por que?

Written By Beraká - o blog da família on quarta-feira, 13 de setembro de 2023 | 16:40






Por *Francisco José Barros Araújo 




Tradição oral ou conhecimento oral é a cultura imaterial e tradição transmitida oralmente de uma geração para outra. As mensagens ou testemunhos são verbalmente transmitidas em discurso ou canção e podem tomar a forma, por exemplo, de contos, provérbios, canções ou cânticos. Desta forma, é possível que uma sociedade possa transmitir a história oral, literatura oral, a lei oral, e outros saberes entre as gerações, sem um sistema de escrita. Técnica iniciada antes do surgimento da escrita (3.000 a.C.) quando as memórias auditiva e visual eram os únicos recursos de armazenamento e a transmissão do conhecimento entre gerações (linguagem).Sociólogos também podem enfatizar a exigência de que o material é realizado em comum por um grupo de pessoas, ao longo de várias gerações, e pode distinguir tradição oral do testemunho ou da história oral (ver bibliografia ao final do post). Em um sentido geral, "tradição oral" refere-se à transmissão de material cultural através da emissão vocal, e foi por muito tempo considerado um descritor-chave do folclore. Como uma disciplina acadêmica, refere-se tanto a um conjunto de objetos de estudo e um método pelo qual eles são estudados — o método pode ser chamado variadamente de "teorias da tradição oral", "a teoria da composição oral-fórmula" e a "teoria de Parry-Lord"(em homenagem a dois dos seus fundadores). O estudo da tradição oral é diferente da disciplina acadêmica da história oral, que é a gravação de memórias pessoais e histórias de quem experimentou épocas ou eventos históricos. Atualmente, Populações Tradicionais ou Comunidades Tradicionais continuam transmitindo de forma oral o conhecimento sócio-cultural-religioso. Por meio da contração de histórias e da prática cotidiana, ela mantém viva sua tradição. Por isso, para os povos nativos é fundamental o respeito aos mais velhos, que geralmente são responsáveis por contar as histórias dos antepassados. 











Aprofundamento sobre a Tradição Oral




A oralidade é uma atitude diante da realidade, e não a ausência de uma habilidade. As tradições desconcertam o historiador contemporâneo – imerso em tão grande número de evidências escritas, vendo-se obrigado, por isso, a desenvolver técnicas de leitura rápida – pelo simples fato de bastar à compreensão a repetição dos mesmos dados em diversas mensagens. As tradições requerem um retorno contínuo à fonte. Fu Kiau, do Zaire, diz, com razão que é ingenuidade ler um texto oral uma ou duas vezes e supor que já o compreendemos. Ele deve ser escutado, decorado, digerido internamente, como um poema, e cuidadosamente examinado para que se possam apreender seus muitos significados – ao menos no caso de se tratar de uma elocução importante. O historiador deve, portanto, aprender a trabalhar mais lentamente, refletir, para embrenhar-se numa representação coletiva, já que o corpus da tradição é a memória coletiva de uma sociedade que se explica a si mesma. O historiador deve iniciar-se, primeiramente, nos modos de pensar da sociedade oral, antes de interpretar suas tradições. A Tradição ou transmissão do conhecimento de forma oral, origina-se do primórdio dos tempos, quando ainda não havia a escrita e materiais que pudessem manter e circular os registros históricos. A tradição oral tem sido, contudo, muito valorizada pelos eruditos que se dedicam ao seu estudo e compilação (os contos dos Irmãos Grimm, por exemplo), ao considerarem que é na tradição oral que se fundamenta a identidade cultural mais profunda de um povo. Supõe-se, por exemplo, que a Ilíada e a Odisseia de Homero foram, inicialmente, longos poemas recitados de memória.  O folclore também é visto como fonte rica para a tradição oral. Se pensarmos nas inúmeras versões que existe dos contos, fábulas e lendas em todo mundo. Conclui-se portanto, o quanto a oralidade é importante na historicidade do ser humano e até mesmo antropologicamente. A partir da expansão dos centros urbanos e a deslocação de pessoas do campo para as cidades grandes, a tradição oral ameaçou a se extinguir (adaptado do Wikipedia).




A TRADIÇÃO ORAL NA TRANSMISSÃO DA REVELAÇÃO DIVINA "ANTES DAS SAGRADAS ESCRITURAS"










É muito importante para nós, cristãos, saber que a Palavra de Deus (Sagrada Palavra) escrita, foi algo muito caro para o povo de Deus no Antigo Testamento. De igual modo, é importante saber que a Revelação enquanto Palavra de Deus, foi o princípio norteador da Igreja, considerando o clímax desta em Jesus Cristo a partir de suas palavras (Cf. João 15,7). Estas foram transmitidas oralmente e, mais tarde, registradas para as novas gerações de Cristãos (seguidores do caminho), se firmarem na Verdade (no sagrado depósito da Fé confiado à Igreja a partir dos apóstolos), considerando que, de modo suficiente, toda informação útil a respeito da salvação em Jesus Cristo está escrita e todo norteamento litúrgico, religioso, moral e devocional estão registrados na Escritura.








Os primeiros cinco livros da Bíblia se tornaram a base para a nossa compreensão da centralidade da Escritura ao longo de toda a Bíblia. Inicialmente, Moisés recebeu oralmente as leis de Deus  e a revelação sobre o Deus verdadeiro que inclui o conhecimento de Deus (Seu Ser, Suas obras e Seus atributos). Moisés transmitia ao povo, ainda oralmente, essas informações – suficientes e claras. Em uma ocasião Deus fala diretamente com o povo, mas, geralmente, Deus falava através de Moisés. Moisés era uma espécie de Magistério Eclesiástico da Igreja do Antigo Testamento (no caso, em termos aliancistas, Israel era a Igreja do A.T.).










Todas as dúvidas do povo (seja de ordem litúrgica ou moral) eram dirigidas a Moisés e Moisés, quando não podia responder com suficiência, perguntava a Deus. Assim o povo caminhava. Um exemplo: em uma ocasião, alguns do povo ficaram na dúvida sobre suas participações na Páscoa, pois estavam imundos. Eles não sabiam o que iam fazer. Não sabiam se iam perder a Páscoa, pois haviam tocado em um morto (o que tornava alguém cerimonialmente impuro). Moisés, então, leva o caso até Deus e Deus responde a Moisés e este TRANSMITE ao povo oralmente a revelação, que se torna uma TRADIÇÃO. Naquele tempo, o que era fundamental para Israel não estava somente no que havia sido escrito, mas naquilo que era revelado e TRANSMITIDO diretamente ao líder do povo (Magistério Eclesiástico veterotestamentário). No entanto, o fundamento era a Revelação Divina, ou seja, a Palavra de Deus TRANSMITIDA. Podemos dizer, em termos aristotélicos que, o essencial era a Revelação que é anterior a Tradição. A Escritura (desenvolvida posteriormente, em progressão, ou seja, na "marcha ascendente da revelação", respeitando os limites de compreensão do povo em cada tempo), era o acidental, porém, como veremos, extremamente útil para o povo e não só útil, mas fundamentalmente útil como Paulo adverte a Timóteo, já na Igreja do Novo Testamento. Ele disse que toda a Escritura (divinamente inspirada) é proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir e para instruir em justiça, visando a perfeição do crente (Cf II Tim 3,16-17). Moisés era um líder, sem sombra de dúvidas, inspirado e conduzido por Deus à frente do seu povo. Suas palavras, portanto, no que se refere a Revelação, são Palavras de Deus – infalíveis e inerrantes, algumas perenes, outras dentro de um contexto temporário. Mas o que é importante, como foi dito no início, é saber que a Palavra de Deus escrita foi algo caro no AT, assim como foi na vida dos apóstolos e dos primeiros “pais da Igreja”. Após Moisés, ao mesmo tempo em que ele recebia a Revelação diretamente de Deus, Moisés as registrava por escrito transformando a revelação em TRADIÇÃO DIVINAMENTE REVELADA. Em Deuteronômio 3,10 isso é especialmente enfatizado:




“Quando deres ouvidos à voz do Senhor, teu Deus, guardando os seus mandamentos e os seus estatutos, escrito neste livro da Lei...”




Ouvir a voz do Senhor seria, portanto, obedecer todas as coisas escritas no livro da Lei (isto é, na “Bíblia” do povo que, ainda de modo progressivo, e incompleto, estava à disposição de todo o povo – não somente de um “magistério”, embora, religiosamente e liturgicamente, estava especialmente destinada para os sacerdotes levitas). Ainda em Deuteronômio, nos capítulos finais, a ênfase é na pedagogia da RETRIBUIÇÃO: 




"Para que Israel fosse abençoado, o povo tinha que obedecer as palavras da Lei. Isso seria para benção, enquanto a desobediência seria para a maldição".




Então, considerando isto, todas as coisas que Israel precisava saber para ser abençoado e para cumprir toda a sua trajetória, estavam seguramente registradas no “Livro da Lei”. Isso envolvia toda a fé e toda a práxis religiosa, litúrgica, ética e moral do povo eleito. Sendo assim, se toda a Revelação estava escrita de modo suficiente – e a progressão desta, como se vê em toda Escritura, não acrescenta nada em relação ao depósito inicial –, não poderia existir nenhum tipo de obrigação além do que estava já registrado. Ora, nem mesmo sob a égide de “desenvolvimento compreensivo da Doutrina” (o que, em termos práticos, não tem absolutamente nada a ver com a progressão da Revelação), o conteúdo essencial da Revelação  não podia ser mudado. A ordem era obedecer, praticar. Os termos são todos categóricos, dados de modo imperativo e que, não se submetendo às transformações históricas e aos contextos que se impõem ao povo do Senhor, revelavam o caráter do Deus Imutável. Quem tiver a oportunidade de ler  a respeito desse tema, o excelente e recomendável trabalho sobre o “Desenvolvimento da Doutrina”, do reverendo Cardeal Newman, entenderá melhor o que se deseja explicitar aqui.Enquanto Moisés estava vivo, ele podia ser consultado e, oralmente, ele podia transmitir a Verdadeira e Autêntica Revelação (a Sã Doutrina) ao povo. Na ausência de Moisés, tudo o que o israelita precisava saber, estava escrito "no Livro". Todo o sacerdócio estava alicerçado no Livro, na Revelação escrita e esse embasamento foi se tornando cada vez mais importante no decorrer da história do povo escolhido por Deus, os israelitas. Aqui é necessário ressaltar que a tradição oral não morreu. A tradição oral, aliás, estava enraizada na vida do povo hebreu (bem como na vida dos povos antigos). Contudo, Moisés ao transmitir a advertência quanto à obediência a Deus dada pela a atenção às palavras escritas no Livro da Lei, sabia bem o que estava fazendo. Ora, Arão recebeu todas as instruções litúrgicas e religiosas, mas, na ausência de Moisés, cedeu às pressões seculares do povo. De alguma forma e com referências objetivas, os povos precisavam de uma representação de Deus, e Arão, movido na sua fraqueza pelas pressões, dá à Doutrina Revelada a Moisés um tipo de aperfeiçoamento ou adaptação até bem intencionada, diga-se de passagem, não foi de má ,  para que a Fé Verdadeira (aquela revelada) fosse possivel ser abraçada por todos. Tratou-se de uma tentativa de promoção da unidade, porém, não estabelecida na Verdade Revelada por Deus diretamente a Moisés. A REVELAÇÃO recebida e TRANSMITIDA por Moisés, sofreu naquele momento uma adaptação progressiva que se tornou uma DETURPAÇÃO terrível, a qual, durante boa parte da história dos hebreus, as manchas e consequências não foram totalmente extirpadas. Isso porque, Arão, uma figura do Magistério sacerdotal cedeu às reinvindicações populares numa adaptação sincrética, fazendo do puro e original depósito da fé recebido e transmitido por Moisés uma LITURGIA adaptada, cuja intenção era, ainda, a manutenção da fé essencial, mas ajustada ao contexto daquele povo específico:




“Faze-nos deuses que caminhem adiante de nós” (Ex. 32,1)



“Estes são teus deuses, ó Israel, que te tiraram da terra do Egito” (Ex. 32, 4).  




Arão, portanto, de boa fé, cedeu ao contexto cultural e deturpou a REVELAÇÃO E "TRADIÇÃO ORIGINAL do monte" - As duas únicas opções de Moisés eram: 




1ª)-Enfrentar a forma de "religiosidade pagã" com o depósito da Fé puro e original recebido diretamente de Deus. 




2ª)-Adaptar a REVELAÇÃO recebida, objetivando a adoração ao Senhor como verdade, porém,  por analogia do ser (o bezerro era análogo ao deus “que tirou o povo do Egito”). 




O fato é que, Moisés optou por voltar a tradição original que havia sido deturpada, e não cabia qualquer justificativa para tal contradição, já que o mandamento era claro naquele contexto:




Êxodo 20,2-3: "Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim!"




Bom, mas mesmo que a tradição oral não tenha morrido – e foi mais valiosa enquanto Moisés era vivo –, a questão era que, depois de sua morte, o meio de se ter acesso ao que Moisés originalmente instruiu não era mais tão somente pela tradição oral, mas pelo registro escrito. Não precisamos fazer um esforço intelectual muito grande para imaginarmos que Moisés transmitiu oralmente muitas coisas para Josué. Ora, a escolha de Josué como líder de Israel não foi repentina. E mesmo que fosse, Josué tinha uma relação muito próxima com Moisés. Contudo, quando Moisés morre e, em seguida, Josué assume a liderança do povo, Deus não tarda em dizer:




“Tão somente esforça-te e tem mui bom ânimo para teres o cuidado de fazer conforme toda a lei que meu servo  Moisés te ordenou; dela não te desvies, nem para a direita nem para a esquerda, para que prudentemente te conduzas por onde quer que andares. Não se aparte da tua boca o livro desta Lei; antes, medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque, então, farás prosperar o teu caminho e, então, prudentemente te conduzirás” (Josué 1,7-8)




Essas instruções no contexto primordial da TEOLOGIA DA RETRIBUIÇÃO com bênçãos e maldições, ainda conforme Deuteronômio 30 - Josué devia se esforçar no que recebeu por escrito, mesmo tendo recebido oralmente de Moisés palavras semelhantes contidas no livro. Da mesma forma que isso se aplicava a Josué, líder do povo, se aplicava também ao magistério sacerdotal, pois o depósito da Fé, a Revelação de Deus, foi confiada ao sacerdócio levítico e aos ANCIÃOS como se lê em Dt 31,9: 




“E Moisés escreveu esta Lei e a deu aos sacerdotes, filhos de Levi, que levavam a arca do concerto do Senhor, e a todos os anciãos de Israel”.




Naquele contexto original, não havia ainda uma tradição oral independente ou paralela ao que estava escrito. Antes, a tradição oral estava sujeita ao registro escrito – não estava equiparada ao livro –, pois, mesmo no caráter progressivo da Revelação, a Verdade revelada deveria ser guardada com zelo e a necessidade de se guardar a Revelação de modo escrito se fez necessário no próprio testemunho bíblico. Certamente Josué que conviveu por muito tempo, pessoalmente com Moisés, tinha informações adicionais ditas por ele, mas, estas não foram escritas (apesar de que não se pode comprovar que formam silenciadas e não transmitidas), pois tudo que tinha relação com a  fé e com a prática religiosa, litúrgica, e moral de Israel, estava registrado de modo suficiente no Livro da Lei. 




Mesmo na "marcha ascendente da Revelação" no decorrer da história, o depósito inicial e ESSENCIAL não sofreu qualquer alteração!





Sobre a Marcha Ascendente da Revelação, D. Estevão Bettencourt em seu livro: “Para entender o Antigo Testamento” (editora Lúmen Christi), nos ajuda a entender esta realidade: Os textos bíblicos que narram alguns comportamentos e ordenanças divinas, deixam chocado o leitor que não se dá conta da moral primitiva desses homens. Pode parecer que nem a consciência repreendia os israelitas que assim procediam, e que nem o próprio Deus os censurava. Antes de tudo é preciso saber que nem tudo que o Antigo Testamento narra é proposto como “norma de conduta” para nós. Nem todas as ações de um herói (como Sansão, por exemplo) de um livro inspirado por Deus, são ações perenemente recomendadas, mas contextualizadas. A Bíblia não tem erro de doutrina, e ou de verdades de fé reveladas por Deus para nossa salvação, mas pode ter falhas de outra natureza. A Igreja, assistida pelo Espírito Santo, sabe fazer este discernimento, e é para isto que Jesus deixou o Magistério sagrado do Papa e dos Bispos (cf. Lucas 10,16). A Igreja sabe encontrar as verdades dogmáticas transmitidas mesmo através de histórias às vezes “não edificantes”, pois erros e falhas são acidentais, já as mentiras são propositais, e julgar o passado com a mentalidade do presente chama-se: ANACRONISMO, e só pessoas ignorantes e anacrônicas procedem desta forma. O símbolo, a parábola e o real estão presentes na mente daquele que deseja expressar uma realidade difícil de explicar em linguagem humana. Então muitas vezes o autor se utiliza da linguagem mítica para explicar realidades transcendentes e as interrogações profundas do homem, realidades religiosas e existenciais, que a ciência não tem resposta: Porque existimos? Porque o mal e o sofrimento? Por que uns são mais capacitados e agraciados que outros? Porque a Morte? O que acontece depois da morte? Os nossos sentidos não captam todas as realidades, e certamente não as do “além”, portanto, para falar delas, é necessário empregar uma linguagem humana. O mito, a parábola, a profecia, a poesia, e a linguagem apocalíptica por exemplo, é a maneira por excelência de visualizar ao falar dessas realidades transcendentais. Os escritos da Bíblia não recorreram a linguagem filosófica da nossa Cultura Grega ocidental  para falar dessas realidades, mas à linguagem mítica, simbólica e figurada, de imagens tomadas do mundo de suas experiências cotidianas, enfim da cultura oriental judaica, que é mais experiencial que intelectual (Exemplo: Eclesiates 1,2: “Vaidades das vaidades tudo é vaidade...”O autor Judaico antes de escrever fez a experiência da vivência da vaidade para depois narrar).Fala-se de Deus como juiz, pai, rei, Sr. dos exércitos, etc (que são metáforas analógicas). Deus como alguém que fala, age, e se encoleriza, como se fosse um humano, embora Deus não seja humano e esteja acima de nossas categorias de compreensão. São Tomaz de Aquino dizia que a verdade é maior que nossa inteligência, portanto, jamais teremos condições de apreender toda a verdade em nosso intelecto humano limitado.O Fundamentalista nega a possibilidade de erros na bíblia, argumentando que quando se admite que esses existem (fazem coro com os ATEUS) dizendo então, que a bíblia não merece nossa plena confiança e deixaria de ser PALAVRA DE DEUS. A bíblia são ações TEÂNDRICAS, ou seja, ações divino-humanas. Inspirada sim por Deus que é infalível, mas com o elemento humano como seu instrumento que é falível. O termo ERRO para os estudiosos é um tanto equívoco. Melhor seria tratar de verdade bíblica. Verdade é a correspondência AFIRMATIVA entre aquilo que é pensado e expresso e a realidade CONSTATÁVEL. Dai resulta a máxima filosófica: “A verdade não está no observador, mas no objeto observado.” A verdade não depende de pontos de vista, de crenças, gostos, preferências, ou desejos pessoais e comunitários. A “NÃO VERDADE ACIDENTAL” é denominada de ERRO, e pode ser devida à incompreensão, à informação incorreta, ao desconhecimento, ou à distração. Já a NÃO VERDADE “INTENCIONAL” é denominada MENTIRA. Ambos: erro e mentira, contradizem a realidade que se pode verificar e demonstrar. Porém, uma é por acidente, a outra é intencional. É importante não confundir erro com mentira, ou engano. Como veremos a bíblia contém erros acidentais, contudo, não contem mentiras propositais para perdermos a nossa salvação. É preciso esclarecer que quando falamos de verdade, ou erro na bíblia, o fazemos a partir de nosso ponto de vista e segundo nosso conceito OCIDENTAL de verdade, que é de origem filosófica especificamente grega (alétheia). Pois bem, no mundo onde a Bíblia nasceu, o conceito de verdade era diferente: Verdade é tudo que é fiel, estável, e experimentalmente merecedor de confiança. O oposto de tudo isto é a mentira (hipocrisia), e não erro, ou equívoco. O nosso conceito ocidental de verdade é intelectual, o da bíblia é existencial. É com este conceito de verdade ORIENTAL e não OCIDENTAL, que foram compostos os escritos da bíblia. A verdade que se trata nos escritos da bíblia, situa-se no plano da mensagem e não dos dados reais em si mesmo. Portanto, projetar nosso conceito de “verdade OCIDENTAL” nos escritos bíblicos e situá-los em um mundo conceitual e intelectual como o dos gregos, que não era o seu, é esperar deles o que não pretenderam nunca nos oferecer, e cair no anacronismo.





O que podemos dizer é que a compreensão sobre algumas verdades de fé foram se tornando mais claras para o próprio povo hebreu e toda a Verdade foi clareada – de modo suficiente – em Jesus Cristo! 




No entanto, qualquer desenvolvimento doutrinário que coloca proposições adicionais para fechar algum conceito – tentando explicar mistérios e ir além do que a Escritura não diz, comete erro grave contra a Fé (vale também, para as revelações particulares). Ora, nenhum apóstolo, por exemplo, disse algo sobre a Pessoa de Jesus Cristo que não tivesse apontamento no Antigo Testamento. Reafirmo: não existe alguma doutrina sobre a Pessoa e obra de Jesus Cristo que não esteja contido no Antigo Testamento. Do nascimento virginal à glorificação e reinado eterno do Cristo, tudo está registrado de modo suficiente. 




Sabemos que a Igreja em alguns momentos da história, pelo seu contexto, precisou reforçar sua Fé e, para combater e, ao mesmo tempo, evitar heresias, precisou afirmar artigos de fé de forma DEFINITIVA, IRREFORMÁVEL, E IRREVOGÁVEL, que nós, os cristãos sejam de tradição Católica, Ortodoxa e protestante compactuam mutuamente no todo, ou em parte.




É o caso da Cristologia universal (ou católica) contra o nestorianismo, por exemplo. Embora alguns cristãos, principalmente os de tradição pentecostal, continuem nutrindo dificuldade em relação a Theotokos (Mãe de Deus encarnado), esta afirmação do Concílio de Éfeso é perfeitamente (e logicamente) válida, pois o Homem que Maria gerou não se tornou Deus, antes de ser concebido, Ele já era Deus, que se fez carne e habitou entre nós (cf. João 1,14-17). Assim, Maria foi, neste sentido, mãe de Deus, mesmo não sendo a criadora da essência divina, que era anterior a ela. O fato é que se definiu que Jesus é verdadeiramente Homem e verdadeiro Deus, e foi concebido assim por Maria em seu ventre virginal. Trata-se, então, de um exemplo de desenvolvimento dogmático necessário para a preservação da ortodoxia, porém, com os fundamentos necessários na Escritura Sagrada. A virgem daria a luz ao Filho de Deus. O Antigo Testamento, mesmo de forma não exaustiva, dá subsídios para essa verdade de fé (cf. Isaias 7,14).









Mas, mesmo no desenvolvimento da compreensão de uma verdade de fé, como se deu também na concepção cristã de Trindade, tudo está indicado de algum modo no Antigo Testamento e, exatamente por isso, a Igreja do primeiro século não se furtou da revelação escrita para falar da Fé (que mais tarde seria registrada e, assim, serviria como fonte suficiente para a práxis cristã). Toda a Fé pregada pelos apóstolos, mesmo que oralmente, estava fundamentada na Escritura. Inclusive, o nosso Senhor Jesus, a Verdade encarnada, deu ênfase à Escritura como alicerce da Fé (cf João 5,39). Mesmo que a Tradição Apostólica fosse transmitida oralmente, a Verdade da Fé estava toda apontada e devidamente registrada para que a Igreja não tropeçasse, como muitas vezes Israel tropeçou ao se afastar da Tradição escrita.





O que foi dito sobre Moisés e sobre Josué até aqui é confirmado nos livros históricos e proféticos (posteriores). Em Juízes nós podemos observar algo importante para o assunto que aqui está sendo tratado.




No livro de Juízes há relatos de inúmeras tentativas de se corromper o culto ao Senhor, além dos relatos de apostasia que marcam o livro de Juízes. Mas, para primeira observação, é importante analisar como o vácuo causado pela morte de Josué gerou desnorteamento para os israelitas, mesmo com a presença ministerial do sacerdócio (o qual foi confiado o depósito das palavras de Moisés):




“E serviu o povo ao Senhor todos os dias de Josué e todos os dias dos anciãos que prolongaram os seus dias depois de Josué...Faleceu, porém, Josué, filho de Num, servo do Senhor... Então, fizeram os filhos de Israel o que parecia mal aos olhos do Senhor; e serviram aos baalins” (Josué 2,7-11).




Josué esteve com Moisés, conviveu com Moisés, participou de toda a obra de Moisés, desde o Egito e, certamente, ouviu de Moisés muitas coisas concernentes à Verdade. Ele esteve com Moisés o libertador dos hebreus, seguiu suas instruções não se apartando do livro da Lei e, como é registrado no próprio livro de Josué, o conquistador de Canaã transmitiu ao povo as verdades da Fé para que a nação fosse abençoada:




“Chamou Josué a todo o Israel, aos seus anciãos, e aos seus cabeças, e aos seus juízes, e aos seus oficiais e disse-lhes: Eu já sou velho e entrado em dias; e vós já tendes visto tudo quanto o Senhor, vosso Deus, fez a todas estas nações por causa de vós, porque o Senhor, vosso Deus, é o que pelejou por vós. Vedes aqui que vos fiz cair em sorte às vossas tribos estas nações que ficam desde o Jordão, com todas as nações que tenho destruído, até ao mar Grande para o pôr do sol. E o Senhor, vosso Deus, as impelirá de diante de vós e as expelirá de diante de vós; e vós possuireis a sua terra, como o Senhor, vosso Deus, vos tem dito. Esforçai-vos, pois, muito para guardardes e para fazerdes tudo quanto está escrito no livro da Lei de Moisés, para que dela não vos aparteis, nem para a direita nem para a esquerda; para que não entreis a estas nações que ainda ficaram convosco; e dos nomes de seus deuses não façais menção, nem por eles façais jurar, nem os sirvais, nem a eles vos inclineis. Mas ao Senhor, vosso Deus, vos achegareis, como fizestes até ao dia de hoje; pois o Senhor expeliu de diante de vós grandes e numerosas nações; e, quanto a vós, ninguém ficou em pé diante de vós até ao dia de hoje. Um só homem dentre vós perseguirá a mil, pois é o mesmo Senhor, vosso Deus, o que peleja por vós, como já vos tem dito. Portanto, guardai muito a vossa alma, para amardes ao Senhor, vosso Deus” (Josué 23, 2-11).




Deus encoraja Josué e adverte o novo líder para não se afastar da Lei e o mesmo Josué adverte o povo reafirmando a vontade de Deus: que o povo guardasse os mandamentos e se atentasse para os escritos. No entanto, o que acontece em Juízes? O povo se afasta. Isso não acontece de modo rápido e nem na forma de uma apostasia positiva, mas acontece de modo gradativo e sutil. Começa pela corrupção do culto:




"...e foram-se atrás de outros deuses, dentre os deuses das gentes que havia ao redor deles, e encurvaram-se a eles…”.(Josué 2,12) 





Através das influências externas que corrompem os costumes e turva a autêntica Doutrina transmitida.O parâmetro que o israelita tinha para o discernimento do certo e do errado seria o livro de Moisés, ou, em geral, os escritos de Moisés. Aliás, os levitas receberam a responsabilidade pela docência. Os sacerdotes deviam ensinar o povo a Escritura. Quem se desviava dos ensinamentos contidos nos escritos não deveriam ser ouvidos. Após a morte de Josué, outra geração se levantou “que não conhecia o Senhor, nem tampouco a obra que fizera a Israel” (Js 2,10). É um registro grave. A fonte da Tradição Oral estava morta, mas a responsabilidade pela Palavra (pela Revelação) estava levantada para cumprir sua tarefa e, dentre as tantas tarefas sacerdotais, o ensino era algo de muita importância para que gerações de israelitas se firmassem na Doutrina e, respectivamente, na Aliança. Ademais, a nova geração pós Josué se rebelou, e foi esta geração que se corrompeu, dando início a todo o drama de Juízes. Isso imediatamente refuta a ideia de que o fato de uma geração estar mais próxima da fonte da Tradição faz dela, necessariamente, mais fiel. Isso não é assim. Pode ser, pode não ser. A geração do rei Josias, que viveu séculos depois – e sob os escombros da maldade e da perversão religiosa – foi muito mais fiel que a segunda geração pós Josué. A geração de Josias foi avivada através dos mesmos escritos que o povo havia recebido nos dias de Josué. O pressuposto de “proximidade é igual fidelidade” desmorona aqui.  Sobre isso, vou dar um exemplo em Juízes:





Em Juízes 17, encontramos a historia de um homem chamado Mica. Esse homem fez uma imagem de Deus. A partir dessa imagem de Deus, foi instituído um santuário em Dã (Cf. Jz 18). Agora eu pergunto: se você, leitor, vivesse em Israel nessa época, onde você deveria subir para adorar? Você adoraria em Dã (Jz 18, 30) ou em Siló? (Jz 18, 31).





A partir de uma leitura não aprofundada de Juízes, você dirá que adoraria em Siló, pois perceberia que havia uma ordem para que o local de adoração fosse o tabernáculo (Êx 25-31) e o tabernáculo estava e Siló e não em Dã. O critério para sua escolha seria um em duas possibilidades. Você escolheria adorar em Siló porque estava escrito ou você adoraria em Dã porque se tornou uma tradição vigente, inclusive, fortalecida pela atuação do sacerdote levita (Jz 17, 7-13), o que dava suposta legitimidade para a tradição cultual ali estabelecida. A Sagrada Escritura te levaria para o caminho religioso correto. E não só religioso, mas litúrgico e moral corretos. A tradição que se estabeleceu ali te levaria gradativamente para outros erros e desvios da Sagrada Tradição original.  Mesmo tendo se tornado tradição popular e “providas de verdades”. Em I Rs 12, 29-30, Jeroboão não inova no seu ato pecaminoso. Ele reivindica uma adoração conformada com uma tradição que se instaurou em Israel – que por ter se tornado um culto tradicional, tomou aparência de legitimidade. Mica, ao consagrar o levita como sacerdote, crê na sua própria TRADIÇÃO HUMANA e, assim, confia que o Senhor lhe faria bem, pois tinha um levita por sacerdote (Jz 17,13). Ora, nenhum sacerdócio, ainda que legitimamente instituído, pode validar uma tradição nova contrária a tradição original divinamente transmitida. A Fé verdadeira, agora de modo seguro e acessível, está registrada por escrito, e é suficiente para levar o povo de Deus para o Caminho, para a Verdade e para a Vida eterna.




Outro exemplo é, agora, na própria historia da Igreja










Sabemos já que as palavras de Jesus foram dadas oralmente aos discípulos (Jesus não escreveu nada!). De igual modo, os apóstolos transmitiram a Fé oralmente e confiaram o valioso Depósito a homens (testemunhas) que de Deus, receberam o dom conforme Efésios 4,11 –  Portanto, a transmissão da Fé foi feita, conforme a vontade de Deus, sendo o conteúdo desta transmissão chamado de "Fé Apostólica". Muitos pais da Igreja receberam a Fé e, também, a transmitiram para homens cujo Espírito Santo capacitou com dons e com ministérios. Ou seja, antes de qualquer sucessão formal, havia o dom manifesto no seio da comunidade e o elemento vivificador dessa dinâmica sempre foi a Palavra de Deus, seja ela a Escritura, seja a Doutrina dos Apóstolos que, POSTERIORMENTE de forma gradual, foram registradas e percorreram a Igreja como documentos AUTÊNTICOS para a fé e prática da Igreja. 





E como se confirmava A "autenticidade dessa FÉ APOSTÓLICA" TRANSMITIDA ORALMENTE OU POR ESCRITO?








De forma muito simples, porque Deus é simples! Nós é que somos complicados e complicamos tudo! Nos primórdios da era Cristã , essa tarefa de "confirmação da fé" (cf. Lucas 22,32), era dada aos chefes ou lideres de Comunidades Cristãs, os "epíscopos". Deus Pai projeta a Igreja, Jesus a funda sobre Pedro (sendo Jesus o seu Senhor e pedra angular), e o Espírito Santo a dirige santificando-a. A Igreja Povo de Deus não é, porém, uma corrente de idéias, uma ONG, mas uma sociedade organizada a partir da fé dos apóstolos. Organizada porque “Cristo é nossa paz!” (Ef 2,14) nosso Deus, não é Deus de confusão. Na Igreja deve reinar a paz e o amor fraterno. Jesus funda a sua ÚNICA E VERDADEIRA igreja sobre Pedro (cf. Mateus 16,18). Quando Pedro morre, não acaba essa essa sucessão hierárquica, mas continua, como aconteceu com a substituição de Judas Iscariotes (cf. Atos 1,12-26).Na Igreja por ação do Espírito Santo, existem vários carismas, ministérios e serviços, em vista do bem comum de todo o corpo da Igreja (1Cr 12, 4-11). Jesus instituiu os Apóstolos para governar a Igreja e lhes deu poder (cf. Mt 28,18). “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos despreza, a mim despreza” (Lc 10,16). Deu poderes de governança, tais como de confirmar na fé (Lc 22,32);perdoar pecados (João 20,22ss);expulsar demônios (Lc 9,1) e admitir ou expulsar membros rebeldes como expulsou Lutero e tantos outros que foram excomungados (cf. Mateus 18,17).  A partir da Sagrada Escritura que fala do bispo (epíscopo em grego igual a supervisor – cf. Tito 1,5-9;At 14,19-23), Santo Irineu no ano 140 atesta que a fé dos apóstolos é guardada pelos bispos, instituídos pelos apóstolos e seus sucessores até nós (cf. Ad. Haer. III 2,2). São Cipriano de Cartago no ano 258, nos ensina: “A Igreja é povo unido e rebanho que adere a seu pastor. Em consequência, devemos compreender que o bispo está na Igreja e a Igreja está no bispo, e que se alguém não está com o bispo, não está com a Igreja” (Epistola 66,8.3). Vê-se assim que entre os fiéis dos primeiros séculos, a figura do bispo já tinha o destaque necessário que chegou até nossos dias. Nos bispos que recebem a plenitude do sacerdócio, nos presbíteros e diáconos, seus auxiliares, Jesus sinaliza que cumpre sua promessa de estar conosco, com a Igreja, até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20). O fortalecimento do episcopado, se deu principalmente, nas formulações teológicas e dogmáticas e no próprio desenvolvimento do cânon da escrituras, mas também, pela diversidade de pensamentos e proposições sobre determinados pontos da Fé Cristã. Por exemplo, a questão sobre a causa e necessidade da expiação, que não é um ponto periférico. Na Igreja Primitiva existiram duas teorias, a teoria do resgate pago a Satanás e a teoria da recapitulação. Orígenes foi um dos principais defensores da primeira teoria, teoria que foi abraçada por alguns “pais” da Igreja. Irineu foi o principal defensor da segunda, que também foi abraçada por muitos nomes da Patrística. Este é apenas um exemplo dentre tantos outros. Muitos desses epíscopos mesmo sendo iletrados e analfabetos confirmaram escritos disto de apóstolos, porque eram testemunhas oculares que haviam convivido com os apóstolos, e sabiam por transmissão oral desses a revelação autêntica, portanto, tinham autoridade para aprovar ou negar certos escritos que circulavam nas primeiras comunidades Cristãs. Quando um escrito começava a circular, o ancião ou epíscopo pedia para trazer e ser lido na liturgia Dominical. Após a leitura era confirmado se era ou não escrito apostólico ou de algum discípulo dos apóstolos, e o mesmo era guardado e juntado a outros já confirmados pelas testemunhas (Gal 2,9-10).










A questão é que, seguindo uma antropologia honesta, partindo do pressuposto do pecado original, os homens do Novo Testamento eram homens como os do Antigo Testamento. E, mesmo sob o ponto de vista da obra de redenção (que se tornou mais clara e específica após o Pentecostes), Deus usava os mesmos meios espirituais para salvar. É um argumento simples, mas é extremamente válido quando se trata de transmissão da Fé. Pápias (70- 140 d. C) surge, então, como exemplo (não isolado) da corrupção da Tradição. Pápias, discípulo de João, bispo de Herápolis, na Ásia, escreveu uma obra que foi chamada de Explicações dos Discursos do Senhor. Ele chegou a afirmar que não seguiu variedade de opiniões, mas procurou a verdade na tradição oral vinda dos apóstolos e discípulos do Senhor, preferindo-a aos livros, pois, segundo ele, era “palavra viva e permanente”. Porém, o testemunho que Eusébio dá é de que “Pápias era um pensador apenas medíocre, fraco e sustentava ideias judeu-cristãs e o qualifica de “homem de inteligência em extremo escassa, como o demonstram seus livros”. De fato, alguns dos fragmentos que restam de sua obra confirmam a pouca inteligência do autor. Afirmações exageradas atribuídas a Jesus muito próximas dos evangelhos apócrifos, sobre a fertilidade da terra, sobre o milênio do reino de Jesus, depois que a criação for renovada e libertada e a lendas referentes à morte de Judas”. O fato é que a Escritura veterotestamentária foi usada pelos próprios pais quando se referiam a doutrinas e o testemunho (alguns já escrito) dos apóstolos ou de pessoas ligadas aos apóstolos (cf. Marcos e Lucas que não eram apóstolos), indicando que não se podia fundamentar a “nova” Fé sem dar razão desta dela pela Escritura. Como foi dito acima, tudo que a Igreja apostólica definiu sobre a Fé (ou sobre dogmas) estava indicado na Escritura como alicerce seguro. Os mandamentos de Cristo precisavam ser guardadas (Cf Jo 15, 10) e estes não eram estranhos à Revelação já conhecida (e escrita). No mais, a própria historia da Igreja testemunha que a fé da igreja estava baseada  na Escritura que, no desenvolvimento e fechamento do cânon do N.T., se mostrou suficiente para que a Igreja atravessasse a historia de modo triunfante. Todos os pontos da Fé necessários para a salvação e para a vida da Igreja são abraçados pelas três TRADIÇÕES CRISTÃS (Católica. Ortodoxa e Protestante), bem como todo o desenvolvimento – ou esclarecimento necessário e progressivo – da doutrina, como a Trindade, por exemplo, definido em concílios universais foram também abraçados pelas três tradições. Outros pontos que não estão suficientemente claros na Escritura, e não são essenciais a salvação, continuam em aberto ao debate teológico. 





CONCLUSÃO:











Um grande crítico do Novo Testamento, que outrora defendia a ideia de que o NT foi escrito muito depois dos eventos, mudou de posicionamento quando, por diversão, decidiu investigar os argumentos em favor de uma datação antiga para as Escrituras neotestamentárias. Feita a acurada investigação, o Dr. John A. T. Robinson, do Trinity College, Cambridge, teve que reconhecer, por exemplo, o primeiro esboço de Mateus foi redigido ainda na década de 40 d.C. O período entre os eventos e a redação do Novo Testamento é "muito pequeno para permitir qualquer corrupção significativa do núcleo essencial e até mesmo do teor específico das declarações de Jesus." Para reforçar a ideia, farei uso das palavras de Howard Vos, quando ele declara que, "do ponto de vista da evidência literária, a única conclusão lógica é que a hipótese para a confiabilidade no Novo Testamento é infinitamente mais forte do que para qualquer outro registro da Antiguidade." Segundo o estudioso Daniel-Rops, precisamos nos libertar de nossas percepções modernas para entender o funcionamento da transmissão oral no Mundo Antigo, uma vez que nossas mentes enfraqueceram-se pela completa dependência do papel e da escrita, coisa que não "ocorre entre muitos povos orientais que exigem muito mais da memória; também era assim no tempo de Cristo. Aprender de cor e recitar eram duas operações normais para a transmissão de um texto. Os grandes escritores de Israel (...) eram literalmente grande oradores (...) a Mixná, a parte mais essencial do Talmude, foi escrita somente depois de séculos de transmissão oral. 'Um bom discípulo', diziam os rabinos, 'é como uma cisterna bem construída: ele não deixa escapar nem uma gota de água do ensino de seu mestre'. Temos que imaginar a primeira instrução do evangelho do mesmo modo: aquilo que os apóstolos acumulavam de memória, eles ensinavam infalivelmente aos seus próprios discípulos, que por sua vez o repetiam em seus corações." Alguns ainda declaram que a tradição oral deturpou a verdade dos fatos sobre Cristo, pois funciona como a brincadeira do telefone-sem-fio - na qual uma pessoa sussurra no ouvido da outra a frase que ouviu e assim por diante, até que, no final, nada do que foi dito inicialmente foi preservado. Mas há muitas diferenças entre uma brincadeira - na qual a graça está em forçar o erro - e a ocasião da transmissão da verdade sobre o Messias. Ao invés de sussurrarem nos ouvidos uns dos outros as mensagens e eventos da vida de Cristo, os cristãos do Século I repetiam em alto e bom som o que ouviram dos outros, recorrendo às fontes para ver se aquilo que receberam era confiável. Se as declarações não fossem fidedignas, poderiam ser corrigidas. A comunidade local estaria monitorando constantemente a reprodução da mensagem e sempre disposta a interferir em caso de distorção. Lembrando que, entre a transmissão oral e a confecção das Escrituras neotestamentárias, ainda tínhamos milhares de testemunhas oculares dos fatos para acabar com boatos mentirosos. E o que é mais cabal nesse debaclê é o fato de que os apóstolos não pouparam detalhes incômodos: Geralmente, as pessoas procuram proteger a si mesmas e aos outros quando relatam algum evento - poupando os ouvintes de detalhes embaraçosos. Nem isso os apóstolos fizeram, uma vez que há registros bastante desconfortáveis para eles mesmos em seus textos - as palavras duras de Cristo e Seus ensinamentos excessivamente éticos; o fato de que Cristo não pôde realizar milagres em Nazaré; o trecho no qual o Mestre afirma "não saber o dia e nem a hora" de Seu retorno; a falta de fé e a tripla negação de Pedro; o aparente abandono de Jesus na cruz; o evidente fato de que os discípulos quase sempre entendiam mal o que o Mestre dizia; o momento no qual Tiago e João pediram ao Messias os melhores lugares no Seu reino, e tantos outros. A confecção dos textos neotestamentários dependeu de uma tradição oral - os apóstolos e evangelistas que escreveram, antes transmitiram oralmente suas experiências com o Messias e, no momento da redação, consultaram outras testemunhas oculares. Muitos sugerem que antes de redigidas as Escrituras do Novo Testamento, pequenos documentos foram escritos para registrar a tradição oral acerca de Cristo. A confusão que hoje se faz com relação às bases orais do cristianismo está fundamentada no preconceito bastante moderno sobre a falível arte de contar histórias e aumentá-las - observa-se o passado segundo as singularidades do presente: o cuidado que os antigos, principalmente os judeus - os primeiros e mais sérios historiadores da Antiguidade - tinham na transmissão oral de suas experiências, principalmente com relação às experiências religiosas - pois eles nutriam um respeito muitíssimo grande por Iavé, temendo deturpar os fatos -, impossibilita aquilo que alguns céticos chamam de "telefone sem fio", de uma história deturpando-se à medida que se espalha oralmente. Os primeiros cristãos não viam a tradição oral como um obstáculo: Papias valorizou a "voz viva e constante" dos apóstolos e seus discípulos mais do que os livros. A Mixná favoreceu a tradição oral, alegando que os documentos escritos poderiam ser falsificados. Daniel-Rops complementa: "Da mesma maneira, Santo Irineu, bispo de Lyon, lembra o tempo em que ouviu São Policarpo, o grande bispo de Esmirna, narrando o que ele próprio lembrava de São João. Aqui podemos sentir o calor humano, a mesma verdade da vida; quando, muito posteriormente, o texto escrito foi definitivamente imposto, após ter rivalizado por muito tempo com a palavra falada, seria possível imaginar que nessas condições os dois tivessem sido diferentes? O texto escrito preserva, para todos que podem ouvir, a marca comovente desses testemunhos vivos." Havia muito zelo da parte dos apóstolos sobre quem estaria no centro da disseminação do material sobre Cristo, coisa que se verifica na escolha do substituto de Judas Iscariotes, Matias, escolhido por ter acompanhado Jesus em todo o Seu ministério. Como disse Harold Riesenfeld, estudioso do Novo Testamento: "as palavras e as ações de Jesus são uma palavra santa, comparável ao Antigo Testamento, e a transmissão desse precioso material é confiado a pessoas especiais." De fato, os discípulos seguiram a prática das comunidades judaicas na seleção de pessoas especiais, encarregadas da preservação e transmissão da tradição. O pensador sueco, Birger Gerhardsson, observou os procedimentos utilizados pelas autoridades judaicas para receber, selecionar e transmitir com precisão a sua tradição oral, encontrando evidências do uso de observâncias semelhantes entre as comunidades cristãs para perpetuar a tradição oral sobre Jesus. Diversas citações rabínicas são apontadas por Gerhardsson para evidenciar o quão importante para a cultura judaica era o receber e transmitir de sua tradição oral com o máximo de precisão. Alguns exemplos estão no Talmude babilônico: "O mago murmura e não entende o que está dizendo. Da mesma maneira o tanaíta recita e não entende o que ele está dizendo"; "se deveria sempre recitar, (embora se esquecesse e) embora não se entendesse o que se está dizendo." Em diversos textos, o pupilo é apresentado como aquele que aprende uma doutrina específica por meio de palavras: "ele a aprendeu dele 'quarenta vezes', e ela se tornou para ele como o seu tesouro." Há também diversas evidências de que os rabinos apresentavam para seus aprendizes mecanismos capazes de facilitar a memorização - um desses mecanismos era a leitura em voz alta: "Deixe seus ouvidos ouvirem o que você permite passar pelos seus lábios"; "Cante [a Torá] todos os dias, ente todos os dias." Há também pesadas advertências contra o esquecimento, como a seguinte: "Todo o homem que esquece uma única palavra da Mixná (aquilo que ele aprendeu), a Escritura o considera como se ele tivesse perdido a própria alma!" A cultura judaica valoriza muito os livros, mas exerceu a oralidade mais do que a escrita. A tradição oral judaica foi preservada por centenas de anos, até ser compilada na Mixná, 200 d.C., no Talmude palestino, 350-425 d.C., e no Talmude babilônico, 500 d.C. Não se pode permitir que a Tradição Oral seja desqualificada, ou até negada, pois é necessário confiar nos relatos, fatos contados, e nos conhecimentos orais testados e comprovados na arqueologia histórica. Aqui não nos cabe medir o grau de importância da transmissão oral, mas sim, a transmissão de saberes para gerações e gerações, pois o modo como se conta pode mudar, não a sabedoria transmitida até purificada. Primeiro, precisamos distinguir entre "tradição" oral e "transmissão" oral. O termo tradição sugere uma crença ou prática de longa data que não está necessariamente conectada a nenhum fato ou evidência explícita. A transmissão é um método de transmissão de informações. O conteúdo da Bíblia foi, em alguns casos, comunicado pela primeira vez através da "transmissão" oral, mas não como resultado da "tradição". Em vez disso, o que estava sendo transmitido era uma explicação direta de fatos específicos sobre certas pessoas, lugares e épocas. Na maioria dos casos, o texto bíblico foi colocado na forma escrita no momento dos eventos descritos ou logo após. O mesmo pode ser dito do Antigo Testamento. As palavras estavam sendo escritas intencionalmente a fim de registrar a mensagem ou eventos ocorridos. Os livros do Antigo Testamento não são coleções de lendas anteriores, redigidas na linguagem "era uma vez", e não se separam de fatos históricos. A transmissão oral, por si só, não é um método completamente inseguro, principalmente para mensagens mais simples. Numa época em que a maioria das pessoas não lia ou escrevia, a transmissão oral era comum e a manutenção da veracidade das palavras originais exatas era considerada de grande importância,e sempre tinha um sábio, ou testemunha ocular dessa transmissão recebida que podia confirmar ou negar o que era transmitido.





*Francisco José Barros Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme diploma Nº 31.636 do Processo Nº  003/17




BIBLIOGRAFIA:




-THOMPSON, E. Paul. A voz do passado – História oral. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1992. VANSINA, J. A Tradição Oral e sua Metodologia. 2013.



-MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001.



-ALBERTI, Verena. Manual de história oral. 3.ed. Rio de Janeiro: FGV, 2005. 



-AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes (Orgs.). Usos e abusivos da história oral. 8. ed. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.



-Daniel B. Wallace,Wayne Grudem, C. John Collins e Thomas R. Schreiner, Confiabilidade e Significado da Bíblia, Vida Nova, 2013.



-Amy Orr-Ewing; Por Que Confiar na Bíblia? - Ultimato, 2008.







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