Sem dúvida, a Divina Comédia de Dante Alighieri (Florença, entre 21 de maio e 20 de junho de 1265 – Ravena, 13 ou 14 de setembro de 1321) permite ter uma certa compreensão do homem medieval, não só pelas informações históricas que nos propicia, mas principalmente porque espelha, sob muitos aspectos a cosmovisão tomista e victorina típica do medieval.Com efeito (embora seja exagerado dizer - como alguns fazem), que a Divina Comédia apresenta o pleno pensamento da Suma Teológica de São Tomás de Aquino em versos. Sim, mas não tão pleno assim! Ela dá alguma argumentação tirada do tomismo. Isto sem esquecer que Dante coloca no céu o grande inimigo de São Tomás, Siger de Brabante, tanto quanto o milenarista Joaquim de Fiore, que ele apresenta como "di spirito profético dotatto". O que é um absurdo próprio dos beguinos. Mais claramente, Dante utiliza na Divina Comedia a visão de Hugo de São Victor da felicidade humana fundamentada na luz e na doçura - lumen et dulcedo - isto é, na posse da verdade (lumen) e na posse do bem material (dulcedo). Luz e doçura são as duas coisas que o homem procura sempre. A luz como símbolo da verdade imutável. A doçura, isto é, o bem material, que sendo proporcionado aos sentidos corporais, se apresenta como proporcionado. Isto é como música doce, visto que música é proporção.
Quanto aos elementos pagãos da Divina
Comédia, eles se explicam pelo fato de que “Dante não era plenamente católico”
Ele
fazia parte de uma sociedade secreta (Os Fiéis de Amor), cuja doutrina era
gibelina. Como todos os Gibelinos, ele colocava o Império acima da Igreja. O
Imperador acima do Papa. Daí o ódio de Dante ao Papado
e à Igreja considerada por ele como a loba. E não se deve esquecer que os
Gibelinos eram, muitas vezes, cátaros. Veja, por exemplo, que Dante coloca, no
inferno, Farinata degli Uberti como epicurista, quando, de fato, ele foi
cátaro, e excomungado como cátaro. Note você ainda que, no Inferno de
Dante, misteriosamente, jamais aparece o termo cátaro. Entretanto, essa era a
grande heresia que dominava o tempo em que Dante viveu. Até mesmo a colocação
dos hereges (e para Dante hereges eram apenas os materialistas epicuristas) é
estranha, pois eles não estão colocados entre os fraudulentos, os enganadores
que pecaram com o intelecto.Também é notável como Dante
exalta certos poetas conhecidos, hoje, como cátaros, como por exemplo Arnauld
Daniel, mestre do "trobar clus" (poesia em código), Sordello, Casella
a quem ele faz cantar o poema praticamente esotérico "Ämor che nella mente
mi raggiona", de autoria do próprio Dante. Isso tudo leva a perguntar
se, de fato, não haveria algo por trás "del velame degli versi
strani" Você deve se lembrar da passagem
famosa:
“O Voi ch avete li ntelletti sani,
O vós que tendes o intelecto
sadio,
mirate la dottina che s"asconde
olhai a doutrina que se esconde
sotto il velame de li versi strani"
por trás dos versos
estranhos"
(In. IX, 61-63)
É verdade que Umberto Eco tentou demonstrar que por trás dos versos estranhos não havia nada (Cfr. L Ídea Deforme, Maria Pia Pozzato et allii, Introduçao de Umberto Eco, ed Bompiani Milano, 1989). Mas é verdade também que, pelo menos alguns dos próprios discípulos de Umberto Eco que redigiram esse livro, acabaram por admitir que algo de secreto havia, de fato, na Divina Comédia. É o que deixa entrever Maria Pia Pozzato, no Prefácio dessa obra - L" Idea Deforme - na página 41. Em suma, Dante era um humanista, e como humanista estava imbuído de um amor exaltado pela cultura clássica. E é o que explica a invocação às musas e a Apolo, a citação de Júpiter, e de muitos fatos mitológicos.
Concluindo
Deve-se dizer que Dante, embora tenha muito de medieval, já era também um humanista, no mínimo, precursor do malfadado e demoníaco "Humanismo renascentista", inclusive compartilhando, como Gibelino, do anticlericalismo e do ódio ao papado, próprios dos Humanistas do Renascimento.
O antropocentrismo do Renascimento teve seu triunfo final com as atuais ideologias que deixam o homem confuso, ambíguo e sem a verdade que realmente o salva e o liberta de todas ilusões: Jesus Cristo (conforme João 8,32; 14,6).
Hoje, o Homem é o grande ídolo e a medida de todas as coisas! Erasmo de Roterdão foi péssimo! E São Tomás Morus só foi santo, única e exclusivamente, por sua morte como mártir, não por sua vida e nem por suas obras. A Utopia é péssima! Graças a Deus ele se converteu como o bom ladrão, morrendo por Cristo e se tornou santo por seu martírio. Mas suas obras escritas "continuam sendo más!" - Para começar a ver o mal do Humanismo, peço-lhes que leiam esse trabalho sobre Dante e os Fedeli d´Amore, publicados no site Montfort.
Adaptado de Orlando
Fedeli - Montfort
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Interessante sobre epopeias cristã, poderia explicar sobre duas de John Milton de Paradise Lost and paradise regained( Paraíso perdido e reconquista) sobre história e teólogo nestes versos inglês, grande abraça comecei à ele esse blog 2017-2023 hoje agora, braço deu simples católico pernambucano...
Prezado irmão de Pernambuco e conterrâneo Nordestino,
John Milton (Londres, 9 de dezembro de 1608 – Londres, 8 de novembro de 1674). Um manifesto religioso inacabado, De Doctrina Christiana, provavelmente escrito por Milton, expõe muitas de suas visões pessoais, teológicas-heterodoxas, e não foi descoberto e publicado até 1823. Suas crenças fundamentais foram consideradas idiossincráticas, e muitas vezes elas estavam bem além da ortodoxia da época. Seu tom de voz, no entanto, resultou da ênfase puritana na centralidade e a inviolabilidade de consciência. Ele é um pensador independente. No final da década de 1650, Milton foi um defensor do monismo ou materialismo animista, a noção de que uma única substância material que é "animada, auto-ativa e livre" compõe tudo no universo: de pedras e árvores e corpos a mentes, almas, anjos e Deus. Ele inventou essa posição para evitar o dualismo mente-corpo de Platão e Descartes, bem como o determinismo mecanicista de Thomas Hobbes. O seu monismo é mais refletido notavelmente em Paraíso Perdido onde ele tem anjos como criaturas substanciais e, assim, exercem tais funções corporais como comer e se envolver em relações sexuais, mas a sua substância não é carnal, que consiste em vez do intelecto puro, e o De Doctrina, onde ele nega a dupla natureza do homem e defende uma teoria da Criação ex Deo. Ele foi um poeta, polemista, intelectual e funcionário público inglês, servindo como Secretário de Línguas Estrangeiras da Comunidade da Inglaterra sob Oliver Cromwell. Ele é mais conhecido por seu poema épico “Paraíso Perdido” (1667). Nascido em Londres, frequentou a Christ’s College da Universidade de Cambridge, onde graduou-se em 1629 e obteve um mestrado em 1632. Leu obras antigas e modernas de teologia, filosofia, história, política, literatura e ciência, e em maio de 1638, viajou para França e Itália em uma digressão, se encontrou com o astrônomo Galileu Galilei e visitou a Accademia della Crusca. Ao voltar à Inglaterra, escreveu prosas contra o episcopado em plena Guerra Civil Inglesa, e atacou William Laud, arcebispo de Cantuária
Sua prosa e poesia refletiam suas profundas convicções pessoais, a paixão pela liberdade e autodeterminação, e as questões urgentes e turbulência política de sua época. Seu célebre Areopagítica (1644) está entre as defesas mais influentes da história da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa. As últimas obras de John Milton foram publicadas em 1671, num só volume intitulado “Paradise Regained”- (Paraíso Reconquistado. Um poema em IV livros. Ao qual se acrescenta Sansão agonista ). Sobre o contexto, Knoppers faz um notável resumo: “Um reino e uma corte amplamente vistos como luxuriosos e dissolutos. Conflitos sobre a soberania, excessos financeiros e uma corte que parecia tolerar o papado. Uma situação doméstica em que a repressão apenas parecia reforçar a resolução dos não-conformistas. Casos da corte amplamente divulgados, que mostravam atos parlamentares contra dissensão como uma ameaça à liberdade, à propriedade e aos direitos ingleses. Nesse contexto de inquietude, resistência e debate – mais do que simples derrota – Milton publicou sua épica breve e sua tragédia clássica (2009, p. 583)”. Assim, é importante notar a possibilidade do interesse de Milton pelos conflitos de seu próprio tempo, embora as duas obras trabalhem de modo alusivo e metafórico, apresentando questões morais de cunho geral. Resumindo: como pensador, é interessante ver sua visão pessoal de mundo, porém sua doutrina Cristã é permeada de heresias.
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