Da Esquerda para a Direita, algumas personalidades simbólicas que representam a ALAS da Igreja Católica no Brasil: Leonardo Boff (Ala Progressista), Pe. Zezinho (Ala Moderada), Pe. Paulo Ricardo (Ala Conservadora),Monsenhor Jonas Abib (Ala Renovada) e Dom Rifan (Ala Tradicionalista) - O teólogo Fabio Antonio Gabriel lembra que a
beleza da Igreja reside justamente nesse constante reavaliar-se e, apesar dos
limites, continuar evangelizando! Para ele, as nomeações de bispos, por
exemplo, acabam por conduzir a um direcionamento importante para a superação
das intolerâncias. Conflitos acompanham tendências. Se o que une os cristãos é a
fé em Cristo, isso pressupõe um carisma. A opinião é do especialista em
sociologia da religião, Flávio Munhoz Sofiati: “À medida que a Igreja vai se
articulando em estruturas, cria mecanismos de sobrevivência que vão para além
da fé em Cristo e que pressupõem elementos que ultrapassam a própria
experiência de fé”, justifica. Sofiati acredita que, para estruturar uma
Igreja, além do carisma são necessários outros elementos que deem sentido à sua
permanência na sociedade. No caso da Igreja Católica, em determinado
período da história havia a composição com o Estado, mas hoje as estruturas
estão arraigadas à sociedade civil. Em função disso, a
Igreja acaba vivenciando as experiências de disputa da própria sociedade civil. Sob a ótica da sociologia da religião, Sofiati
aponta uma dinâmica baseada em várias tendências, que são formadas a partir de
grupos dentro da Igreja Católica e que se relacionam prioritariamente com
setores específicos. “É a partir dessa lógica que você
acaba tendo um tipo de relacionamento que, em vez de priorizar a fé em Cristo,
tem outros elementos.” De certo modo, isso afasta-se da perspectiva
comunitária, que é a base do cristianismo.
Principais
correntes do catolicismo brasileiro
De acordo com Sofiati, é possível identificar quatro
tendências principais e bem claras dentro do catolicismo brasileiro. O sociólogo
explica cada uma delas:
1)-Tradicionalistas (missa no rito tridentino)
Grupo bastante
ligado à questão da hierarquia e outros aspectos voltados à experiência mais
tradicional da fé católica. Tem como principais expoentes os movimentos
Opus Dei, Arautos do Evangelho e a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição,
Família e Propriedade (TFP).Tendência que tem crescido bastante em meio laico no Brasil e E.U.A.
Grupo formado
por setores que atuam na perspectiva de "evangelização sob a ótica educacional".
Têm uma relação estreita com aspectos relacionados aos direitos humanos.
É basicamente composto por congregações de freiras e padres, como maristas,
salesianos, paulinos e paulinas, Sagrado Coração de Jesus, entre outros.
3)-Radicais Progressistas (teologia da libertação)
Tendência composta
por setores ligados ao cristianismo da libertação, referenciado pela teologia
da libertação. Sofiati relata há certo enfraquecimento do movimento,
mas admite que a presença do grupo na sociedade ainda é muito relevante. As
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), pastorais sociais e alguns setores de
pastorais juvenis são tidos ainda como principais exponentes dentro e fora da CNBB.
4)-Modernizadores-Conservadores (destaque para a sã doutrina e na EXPERIÊNCIA DA salvação)
Tendência
predominante em parte dos meios católicos nacionais que utiliza linguagem
midiática para passar a mensagem cristã. Possui conteúdo de ideias muito
próximo aos tradicionalistas, mas com roupagem moderna. É composta
basicamente pela Renovação Carismática Católica (RCC) e segmentos agrupados em
torno dela, como as Novas Comunidades de vida e aliança, que também, tem crescido bastante no Brasil e mundo afora!
Concílio Vaticano II impulsiona
diálogo interno?
Fábio Antonio Gabriel pondera que, nos
primórdios do cristianismo, conforme a fé cristã se expandia, crescia a
necessidade de justificar, sempre que possível, seus pontos essenciais: “Igualmente, à medida que se
dogmatizava a fé cristã e se valorizava sobremaneira os dogmas cristãos,
perdeu-se muito da experiência primeira das primeiras comunidades cristãs”,
problematiza. A situação agrava-se no período dos acordos históricos entre
Igreja e Estado. De acordo com o teólogo, o Concílio Vaticano II
preocupou-se em superar uma visão que acreditava que a Igreja existia como
sinônimo de hierarquia: “Passou a compreender a instituição
como Povo de Deus, assim reconhecendo-a e reconhecendo também que era preciso
entrar em diálogo, tanto com as demais igrejas cristãs como também com outras
religiões, principalmente com as demais religiões monoteístas”, pontua. Para Sofiati, quando se fala nas reformas dos
últimos pontificados, não se pode esquecer das mudanças impulsionadas pelo
Vaticano II que, de certa forma, irritaram alguns grupos mais tradicionalistas.
Em relação às reformas que o Papa Francisco poderá empreender, ele acredita que
cada grupo ou tendência tem uma expectativa diferente, e precisam entender que
um papa não exerce seu papado para grupos, mas para a Igreja Universal,
portanto, vai sempre em alguns momentos agradar e desagradar inversamente: “Se você pegar, por exemplo, a
teologia da libertação e o movimento carismático, que são hoje os grandes
concorrentes no caso latino-americano, os primeiros se dizem herdeiros do
Vaticano II, mas por outro lado você tem também o discurso carismático dizendo
a mesma coisa, ou seja, que são os verdadeiros herdeiros do Concílio”, diz
Sofiati. O sociólogo avalia que, por mais que haja uma
tendência – no caso do papa emérito Bento XVI, mais voltada ao conservadorismo
e, no caso de Francisco, mais alinhada à lógica de diálogo com a modernidade, os discursos de todos os papas são pautados na interpretação
das várias correntes de pensamento da Igreja. Ainda de acordo com
Sofiati, é justamente esse o segredo do catolicismo: A capacidade de haver uma
hierarquia capaz de passar uma mensagem em que todos a reinterpretam segundo a
sua perspectiva e realidade.
Entre tolerâncias e intolerâncias,
priorizar a dignidade da pessoa humana, imagem e semelhança de Deus apesar da
desfiguração causada pelo pecado!
Mesmo que as fronteiras entre as várias
tendências de pensamento católico sejam muito tênues e, muitas vezes, não haja
consenso entre elas próprias, Sofiati acredita que: “É esse pluralismo de ideias que
mantenha a Igreja Católica “de pé” por tantos anos”. Com estas intolerâncias e
polarizações, muitos acabam não suportando e afastando-se como estes dois
referenciais opostos de pensamentos e de práxis dentro da Igreja, como Leonardo
Boff expoente de destaque da teologia da libertação, e Cardeal Lefebvre, ícone
do tradicionalismo.
Mas,
diante de atos extremos, como deve ser a postura do verdadeiro cristão?
Para o teólogo Fábio Gabriel: “Sempre é preciso priorizar o
respeito ao outro e a valorização da dignidade da pessoa humana. Sem isso, todo
discurso religioso perde-se no vácuo”, diz. Gabriel vai além: “Talvez
o grande problema é que, diferentemente das primeiras comunidades em que as
pessoas aderiam à fé cristã, hoje já nascemos cristãos e muitas vezes ‘ser
cristão’ é apenas um slogan social
que muitos assumem sem nenhuma prática efetiva...” - Padre Libânio também lembra que: “O Papa Francisco tem insistido
numa Igreja que saia de si para ouvir as pessoas e aproximar-se delas...”
Na
avaliação do religioso, é preciso aprender a analisar esses movimentos
polarizados dentro da Igreja:
“Nenhum deles tem toda a
verdade! Só há portanto, o caminho do diálogo,
pondera. Ele reforça a necessidade de compreensão, caridade e o desejo sincero
de ajuda, sobretudo nos casos mais radicais”.
A MISSÃO REPARADORA DA CNBB: "CONSTRUIR PONTES!"
Dentro de todo este contexto, cabe ao novo
Colegiado dos bispos e Presidência da CNBB a Missão Reparadora, que deve
esbarrar no aprofundamento da polarização dentro e fora da instituição. A
eleição de Dom Walmor Oliveira, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, e
Dom Joel Portella, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, para os cargos de
presidente e secretário-geral da CNBB deve de certa forma aprofundar a divisão
entre as alas progressista e conservadora da Igreja Católica. A missão é
insólita! Dificilmente eles conseguirão em definitivo, estancar os conflitos
internos — e o espírito do tempo atual é um fator preponderante nesse fenômeno. Como
o radicalismo borra as nuances e a Igreja é também reflexo do mundo onde atua,
conservadores moderados e moderados progressistas hoje estão postos nos
escaninhos de: Bispos “bolsonaristas” e bispos
“bolivarianos” — é assim que uns se referem aos outros. Em condições normais de
temperatura e pressão, a palavra de Dom Walmor, em artigo publicado no site da
CNBB em outubro do ano passado, deveria ser vista como um apelo à moderação
crítica: “As
eleições de 2018, mais do que simplesmente definir os que exercerão a
representação política no próximo quadriênio, poderão ser o ponto de partida
para superar décadas de atraso”.Na conjuntura atual, no
entanto, ouvem-se em volume mais alto as críticas que passam desde a construção
modernista da catedral de Cristo Rei, em Belo Horizonte, projetada pelo
“comunista stalinista” Oscar Niemeyer, à criação pela diocese mineira da
Pastoral da Diversidade, considerada uma infiltração esquerdista e herética,
além de acusações de interesse demasiado em política partidária. Dom Joel, por sua vez, um articulador de centro, terá de
enfrentar a desconfiança dos que vocalizam em privado sua ligação com Dom Orani
Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro. Outros sinais da difícil
pacificação estão espalhados pelos demais cargos da diretoria: todos
eles foram ocupados por partidários da atual direção.
Sobre as diferentes alas que compõem a CNBB
O resultado da eleição
para a direção da CNBB foi imediatamente criticado por conservadores católicos,
que têm como principal porta-voz hoje o youtuber paranaense Bernardo Küster,
algoz da agremiação dos bispos nas redes sociais: "A
CNBB trocou seis por meia dúzia", protestou Küster, que é simpático a
Bolsonaro e incensado por grupos de direita. Na comparação feita por ele,
"tiraram Lula e colocaram o Luiz Inácio da Silva". Seguidores lamentaram a
derrota dos conservadores, tacharam dom Walmor de "politiqueiro
petista" e o acusaram de promover a chamada "ideologia de
gênero".
|
(D. Joel - considerado Conservador) |
"A
eleição de Dom Joel com um perfil complementar, pode ser uma tentativa de
contrabalançar a atuação da nova diretoria", afirma Rodrigo Coppe
Caldeira, professor de ciências da religião na PUC Minas. "Mas,
obviamente, não deixará de haver um alinhamento entre presidente, vices e
secretário-geral. "Para o historiador,
mesmo que as divergências com políticas do governo continuem sendo
manifestadas, dificilmente a CNBB se colocará como clara
antagonista de Bolsonaro. No
primeiro discurso após ser eleito presidente, dom Walmor fez questão de dizer
que trabalhará à margem de polarizações. A
CNBB, prevê Caldeira, "vai ter uma posição forte em relação a políticas
econômicas e sociais, mas buscando o diálogo mais amplo possível. Se a igreja
entra na lógica da polarização, assume uma posição de conflito".O presidente Dom Walmor
Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte, que é visto
como moderado e conciliador, assim como seus vices, dom Jaime Spengler (Porto
Alegre) e Mário Antonio Silva (Roraima). Com a escolha do
secretário-geral, a eleição da diretoria da CNBB (Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil) para o período 2019-2023 consolidou a vitória
de um grupo moderado, que indica continuidade da atual gestão,
mas visto por conservadores como “esquerdizada”.Dom Joel Portella Amado, bispo
auxiliar do Rio de Janeiro, exercerá a função de secretário, pela decisão de
301 bispos reunidos em Aparecida (SP).O cargo é importante porque seu ocupante é
quem dita o ritmo no dia a dia da instituição, em contato com líderes da igreja
em todo o país.O cardeal Sérgio da Rocha, no cargo
desde 2015, e o secretário-geral dom Leonardo Steiner, eleito em 2011, terão que deixar os cargos, foram rotulados como
membros da ala progressista, apesar de ambos negarem esta caracterização.
O tom da Mensagem da
CNBB ao Povo Brasileiro, divulgada logo após a eleição, é de franca oposição a
temas sensíveis ao atual governo federal, como porte de armas e os cortes de
recursos para a educação — além da manifestação contra a reforma da Previdência
publicada na semana passada, dão pistas do tamanho do desconforto de muitos
moderados. Principalmente entre aqueles que consideram
terem havido excessos políticos e teológicos no processo de alinhamento
ideológico com o Partido dos Trabalhadores, desde os anos 70. Á
época, bases eclesiais e comitês leninistas passaram a se confundir, o que
teria culminado em uma degradação recente alimentada pela corrupção. Por outro lado, se sentem
desconfortáveis e condenam com veemência a posição da ala ideológica do governo
de Jair Bolsonaro contra o papa Francisco , tido como “comunista” e “herege”
por gente com assento no Planalto, açulando até mesmo movimentos mais radicais
de sedevacantismo — um grupo minoritário que considera o papa um impostor. Não podemos esquecer que
em 2016, por exemplo, Dom Odilo Scherer, um insuspeito conservador moderado, foi vítima
de agressão enquanto rezava a missa de Páscoa em São Paulo, aos gritos de
“comunista”. Este mesmo Dom Odilo, dois anos
depois, condenou com tons fortes a “instrumentalização política” da Igreja
durante a missa de corpo presente da ex-primeira dama Marisa Letícia — missa a
qual foi transformada em um ato político —, negando qualquer participação da
diocese ou da CNBB no evento ocorrido no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Ventilado como nome possível na disputa pela
presidência da confederação dos bispos este ano, terminou fora deste páreo.
As pautas de bispos progressistas e
conservadores
Ainda é minoritária,
mas crescente e cada vez mais proselitista, nos pouco mais de 300 votantes do
encontro, a ala para quem aborto, união civil homoafetiva, ideologia de gênero
e até autodefesa armada são temas tão urgentes quanto as reformas da
Previdência ou trabalhista, desigualdade, assistência social e defesa dos
direitos humanos. Que
tais pautas se confundam de antemão como reflexos da política partidária e não
primordialmente como assuntos de doutrina social da Igreja é outro sinal do
quão difícil será construir pontes entre os antagônicos. Muitos dos bispos que
estiveram presentes em Aparecida sentem-se entre a cruz de ver a Igreja exposta
e a espada de vê-la continuamente desgastada. Supõem que sabem lidar melhor em
oposição aos arroubos progressistas conhecidos do que contra a parcela que
consideram autoritária em excesso, seja na Igreja ou no governo em curso.
Muitos veem como claudicante os primeiros meses de Jair Bolsonaro, embora tenham em comum a base de valores conservadores. Além
das questões doutrinárias internas, há as demandas exógenas. Nunca tão exposta
e atacada em tantos flancos, a CNBB tem de se posicionar num país
ideologicamente polarizado, que vive um levante político conservador pouco
compreendido pela cúpula da Igreja Católica, num mundo hiperconectado onde as
posições da instituição são dissecadas em vídeos de YouTube por fiéis ou mesmo
padres, minutos depois de ser anunciadas. Admirável e ainda mais
complexo mundo novo. Outrora, a Igreja conseguia
balancear sua atuação política entre lados opostos do espectro político. Na
segunda metade da ditadura militar no Brasil, por exemplo, Dom Eugênio Sales, sem perder a
interlocução com os generais, atuou com vigor na denúncia contra as violações
humanas patrocinadas pelo regime. Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo
emérito de São Paulo, também foi contrário à ditadura e mesmo assim a Igreja
Católica saiu fortalecida nos planos político e doutrinário. A missão
reparadora é uma das mais desafiadoras da história da confederação. Seu
processo, seja ele bem-sucedido ou fracassado, será acompanhado com lupa dentro
e fora da Sé. Os próximos quatro anos podem se igualar em importância aos 40
passados.
ALGUNS PONTOS DA ENTREVISTA com DOM WALMOR AO JORNAL DE MINAS:
1)-JM: O senhor assume a presidência da CNBB em uma época muito difícil no Brasil, seja na religião, seja na política,seja na sociedade,de dicotomias:esquerda/direita,liberal/conservador,progressista/tradicionalista.Como o senhor vê isso, essa divisão tanto na sociedade como dentro da própria Igreja Católica?
-D. Walmor: O nosso mundo é um mundo de grandes e velozes mudanças
culturais. Por isso mesmo, não estamos
conseguindo como mundo e também como sociedade brasileira dar conta de
administrar, na velocidade e na complexidade, todas essas mudanças. Entendo que é daí
que vêm as polarizações. Não
se dá conta de ver o que mudou, o que é preciso dar como nova resposta, o que é
preciso, de fato, resgatar dos valores que às vezes foram negociados, perdidos
ou deles distanciados. E isso afeta internamente a Igreja também, que está
no coração do mundo, como afeta instituições governamentais e da sociedade,
afeta a família, afeta cada cidadão. O caminho, pensando na sociedade plural, é o caminho do
diálogo. O caminho, portanto, de qualquer tipo de polarização, é um desserviço
à sociedade, é um distanciamento da verdade e é uma impossibilidade de
construção daquilo que é preciso. Por isso, é importante o diálogo.
E o diálogo para nós, cristãos, tem sua fonte e seu embasamento no Evangelho de
Jesus Cristo. Por isso, gosto sempre de me referir que nós temos que pautar a
nossa vida em sentimentos, em escolhas, em modos de ser e nos relacionar no
horizonte do Evangelho de Mateus, capítulo 5 a 7: o Sermão da Montanha. Aí, o
diálogo não é um diálogo demagógico, não é um diálogo interesseiro, mas é um
diálogo marcado pela força do amor. Esse é o caminho. E eu compreendo que a
Igreja está no mundo para isso. Agora, de modo muito mais especial. E como Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil, essa é a nossa grande tarefa, sobretudo
fecundando e fomentando entre nós, os bispos, a colegialidade afetiva, que é um
coração da CNBB. As nossas diferenças
se enriquecendo para ser uma grande força e nessa força missionária ajudarmos a
proclamar a palavra de Deus, a anunciar o Reino de Deus. E, assim, também
ajudar a sociedade por nosso testemunho a encontrar esse caminho. Por isso, somos
chamados fortemente ao diálogo. Qualquer instituição, qualquer grupo, qualquer
segmento, qualquer pessoa, se quiser contribuir para uma sociedade mais justa e
solidária, tem que dialogar! Como
nós, na nossa experiência de fé cristã, temos essa compreensão porque Deus dialoga conosco. Ele é Deus, mas
dialoga com a humanidade. E dialoga de uma maneira tão profunda que envia o seu
próprio filho, Jesus Cristo. Ele assume nossa condição, igual a nós em tudo,
exceto no pecado, para exatamente estabelecer o diálogo entre Deus e a
humanidade. Portanto, o caminho é o
diálogo. Nós podemos, com a força do diálogo, fazer um novo momento na história
no Brasil, um novo momento na nossa cultura brasileira. Inclusive valorizando
princípios e referências muito fortes na nossa cultura brasileira, que com o
tempo perdemos o contato.
2)-JM: pouco antes da eleição do senhor, a CNBB, de
certa forma, se colocou contra a reforma da Previdência, por afetar os mais
pobres. A CNBB tem uma posição oficial agora, depois dessa conversa?
-D. Walmor: A CNBB, como
Igreja, não se coloca contra as reformas! As reformas precisam existir:
previdenciária, tributária, fiscal, no âmbito do governo, no próprio Judiciário.
Muitas reformas
precisam acontecer. Aliás, a nossa vida só vai adiante quando nós
nos dispomos a fazer reformas para dar as respostas aos novos tempos! O que
compartilhamos com grande preocupação é exatamente essa (de afetar os mais
pobres) e tem que ser um conceito na sociedade: fazer reformas para que a
sociedade seja justa, fraterna e solidária, e nunca se penalize aqueles que são
mais pobres. As reformas são
necessárias, por isso, precisamos de muito diálogo, de muita luz do Espírito
Santo de Deus, para que o passo dado seja um passo para o bem do conjunto da
sociedade, de uma sociedade assentada sobre valores, como são os valores cristãos e que
são fundamentais e determinantes para um mundo novo.
3)-JM: O papa Francisco fala muito de "um novo tipo de Igreja, com os braços abertos".
Isso mexe com a situação, por exemplo, dos homossexuais, que querem fazer parte
da Igreja Católica. Como isso é visto dentro da CNBB?
-D.Walmor:
A Igreja é uma casa de portas abertas
para todos os seus filhos e filhas, desde aquele que está fortalecido, aquele
que tem condições de uma resposta mais próxima do que o Evangelho nos pede, até
aqueles que estão caídos. Por isso, o papa Francisco
usa uma expressão muito bonita: a Igreja é um hospital de campanha. Ela tem que se debruçar sobre todas as pessoas. Ao
debruçar-se sobre as pessoas, é como ele mesmo diz: ‘Prefiro uma Igreja enlameada
do que limpa e distante das pessoas’. A única coisa importante que nunca vai acontecer é a gente
abrir mão dos valores, do ideal de santidade, de uma vida adequada, justa, na
moralidade. Portanto, não se
descrimina absolutamente a ninguém, mas nós estamos também nos debruçando sobre
nós mesmos, sobre os outros, sobre aqueles que estão caídos pelo caminho. Mas nós não abrimos mão dos nossos
valores, até porque é na força desses valores que nós nos resgatamos e
encontramos a sabedoria para o caminho. Por isso, abrir
mão de valores inegociáveis, de princípios morais fundamentais, não significa
outra coisa senão o verdadeiro fracasso.
4)-JM: Sobre
a questão dos abusos por parte de padres e bispos, o papa Francisco está sendo
cada vez mais duro! A CNBB vai seguir o mesmo caminho?
-D.Walmor: Quando se
trata de abuso de menores – embora, ao se considerar a porcentagem na sociedade
em relação aos consagrados, ela é bem menor, quase insignificante diante de
tudo o que tem acontecido, lamentavelmente, e é um cuidado que o conjunto da
sociedade precisa tomar e olhar –, para nós, na Igreja,
em sintonia profunda com o papa Francisco, é tolerância zero! Por isso, nós estamos em um caminho muito importante,
com trabalho acelerado de uma comissão para tratar da tutela de menores,
exatamente para orientar procedimentos jurídicos e canônicos, de como fazer em
cada diocese, o passo a passo. E, ao
mesmo tempo, tratando, ouvindo e apoiando vítimas, para que a Justiça seja
feita e a recuperação e o alento às pessoas que sofreram – e que, para nós, é
lamentável – possam ter, de nossa parte, uma presença solidária. É uma aposta
de recompor vidas e corações, que é uma tarefa muito importante, porque para a
Igreja nada é mais importante, na sua missão, do que cada pessoa, cada homem,
cada mulher, a humanidade como um todo. Por isso,
tolerância zero! E nós estamos
trabalhando. Esperamos concluir um trabalho acelerado, da mais alta
importância, para que nós possamos agir em um horizonte das orientações e das
determinações que nos vêm do papa Francisco.
Na manhã deste sábado (22/10/2016), o Papa
Francisco realizou na Praça de São Pedro mais uma audiência jubilar, no
contexto do Ano Santo da Misericórdia, desta vez centrada na misericórdia e o
diálogo. Partindo do encontro de Jesus com a mulher samaritana, narrado no cap.
4 de João, Francisco ressaltou um aspecto particular da misericórdia, que
é precisamente o diálogo: “O diálogo permite às
pessoas de se conhecerem e de compreenderem as exigências de cada
um, disse o Papa, sublinhando que ele é, sinal de grande respeito, pois coloca as pessoas em atitude de escuta "e em condições
de se abrir aos melhores aspectos do interlocutor." O diálogo é uma
expressão de caridade, porque, embora sem ignorar as diferenças, pode ajudar a
encontrar e partilhar o bem comum e, além disso, o
diálogo convida-nos a colocar-nos perante o outro vendo-o como um dom de Deus,
que nos interpela e nos pede para ser reconhecido. Muitas vezes –
observou ainda Francisco – nós não nos encontramos como irmãos, apesar de vivermos ao
lado deles, sobretudo quando fazemos prevalecer a nossa
posição sobre a do outro, não dialogamos quando não escutamos bastante ou
tendemos a interromper o outro para demonstrar que só nós temos razão”.
E
o Papa falou em seguida da importância do diálogo para humanizar as relações
entre as pessoas e ajudá-las a superar incompreensões:
“Nas famílias entre
marido e mulher e entre pais e filhos, mas também entre professores e alunos ou
entre gestores e os trabalhadores, para descobrir as melhores exigências
do trabalho”.
E
sobre a importância do diálogo na Igreja Francisco sublinhou:
“De diálogo também vive a Igreja com os homens e mulheres de todos os
tempos, para compreender as necessidades que estão no coração de cada pessoa e
para contribuir na realização do bem comum. Pensemos no grande dom da criação e
a responsabilidade que todos temos de proteger a nossa casa comum: o diálogo
sobre uma questão assim tão central é uma exigência incontornável. Pensemos no diálogo
entre as religiões, para descobrir as sementes da verdade da sua missão
entre os homens, e para contribuir na construção da paz e de uma rede de
respeito e fraternidade”
O
Papa terminou enfatizando que:
“O diálogo pode abater
os muros das divisões e incompreensões; construir pontes de comunicação e não
permite que alguém se isole, fechando-se no seu pequeno mundo. Como Jesus, também nós, através do diálogo, façamos crescer
os sinais da misericórdia de Deus fazendo deles um instrumento de acolhimento e
respeito”, concluiu Francisco.
-https://epoca.globo.com/o-radicalismo-politico-divide-igreja-catolica-no-brasil-artigo-23649671
-https://www.jb.com.br/pais/2019/05/998701-cnbb-mantem-cupula-moderada-e-frustra-corrente-conservadora.html
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2019/06/03/interna_politica,1058769/a-polarizacao-e-um-desservico-a-sociedade-diz-presidente-da-cnbb.shtml
-https://www.a12.com/jornalsantuario/noticias/diversidade-nao-pode-ameacar-unidade-da-igreja-diz-francisco
-https://www.comshalom.org/o-dialogo-e-uma-expressao-da-caridade-diz-papa/
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