(Cardeal Joseph Cardjin)
“A experiência prova que o caminho
mais certo para salvar os jovens é ensinar-lhes a salvarem-se a si mesmos. Verdade fundamental: a juventude
trabalhadora não pode ser salva a partir de fora. Ninguém, não importando
os meios que disponha, poderá substituir os jovens trabalhadores na solução dos
problemas da sua vida quotidiana, na realização da sua vocação laical, pessoal,
familiar e social”. (Cardeal Joseph Cardjin) - Em um comunicado, a
Comunidade Internacional Cardijn lembra que foi o falecido cardeal Joseph
Cardijn, fundador do movimento da Juventude Operária Cristã – JOC, que sugeriu
ao Papa João XXIII que publicasse uma encíclica para marcar o 70º aniversário
da histórica encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII. Em resposta, o
Papa João XXIII pediu que Cardijn providenciasse um esboço das questões a serem
abordadas na encíclica. Ele fez isso em um memorando de 20 páginas apresentado
ao pontífice no ano de 1960.
QUEM FOI O CARDEAL CARDIJN?
Monsenhor Josef-Léon
Cardeal Cardijn (Schaerbeek,18 de novembro de 1882 - Lovaina, 25 de julho de
1967) foi um cardeal belga, que trabalhou pelo compromisso social da Igreja
Católica no início do século XX. Fundador da Juventude Operária Católica (JOC).
Seu
pai, que não sabia ler, era cocheiro e jardineiro e a sua mãe empregada
doméstica. Quando tinha quatro anos, sua família foi viver no sul de
Bruxelas, onde começaram a vender carvão e estabeleceram uma pequena cantina. A
família tinha poucos recursos para alimentar os quatro filhos. Joseph começou a
trabalhar com pouca idade, transportando sacos de carvão.Ainda muito jovem,
Joseph observava os trabalhadores relatando as suas precárias condições de vida
e pessoas muito jovens que iam trabalhar e, por isso, deixavam de frequentar a
escola.Ingressou no seminário
em Malines em 1897. Quando foi visitar sua família durante as férias no
seminário, teve contato com seus antigos colegas de escola, que passaram a
trabalhar como operários e tinham uma visão bastante negativa da Igreja
Católica, vista como uma aliada dos opressores dos trabalhadores. Em
1903, vendo seu pai a beira da morte, prometeu que daria a sua vida para salvar
as almas da classe trabalhadora.Foi ordenado sacerdote
em 22 de setembro de 1906. O Cardeal Mercier, ao perceber a importância do
propósito de Cardijn, o enviou para estudar a Doutrina Social da Igreja na
Universidade de Louvain. Depois viajou por toda a Europa para melhor conhecer
os programas sociais existentes em prol dos trabalhadores. Após viajar pela Inglaterra,
Alemanha e França, Cardijn fica mais convicto de que a juventude é a chave para
resolver questão social da Europa.Depois disso foi enviado para ensinar
literatura e matemática em uma escola secundária para meninos de classe média
em Basse-Wavre (Bélgica). Durante esse período, continuou a fazer viagens pela
Europa. Em 1912, foi nomeado como coadjutor da paróquia de Laeken, iniciando
sua obra pastoral entre os jovens obreiros belgas, que tinham posições
anticlericais. Apesar da resistência, Cardijn buscava conversar com
eles, procurando conhecer suas condições de vida. Depois Cardijn, conseguiu
reunir um grupo de jovens colaboradoras, que por meio do método "ver
julgar e agir", começam a se engajar em seu trabalho de evangelização dos
trabalhadores. Depois conseguiu organizar grupos de jovens do sexo masculino
com a mesma missão.
-Em 1914, teve início a
Primeira Guerra Mundial e tropas alemãs invadiram a Bélgica. Cardijn mobilizou
os jovens para coletarem alimentos, medicamentos, roupas e combustível para os
soldados e outras vítimas da guerra.
-Em 1915, foi nomeado
Diretor da Diocesano da Ação Social em Bruxelas e capelão dos sindicatos
cristãos (1915), agrupando os jovens da chamada Juventude Sindicalista (1919),
que se tornaria (1924) a Juventude Operária Cristã (JOC).
-Em 1916, Cardijn
realizava algumas atividades clandestinas, fazendo críticas à agressão alemã e
à deportação de trabalhadores belgas para trabalhar em fábricas de armamento
alemães, por isso foi condenado a 13 meses de prisão. Devido a essa
prisão, sua mãe sofreu colapso nervoso do qual nunca se recuperou totalmente. Durante o tempo na prisão, Cardijn leu a Bíblia, textos de
Karl Marx (obtidos clandestinamente). Nesse
período, conseguiu enviar, também clandestinamente, seus escritos para fora da
prisão.
-Em 1918, Cardijn foi
novamente preso pelos invasores alemães e condenado a dez anos de trabalhos
forçados, por supostos atos de espionagem, mas foi libertado poucos meses
depois devido ao fim da guerra.
-Em 1919, contraiu
tuberculose e foi enviado para tratamento em um hospital militar em Cannes
(França). Após longos meses de tratamento, pode retornar à Bruxelas.
-Em 1920, fundou a Ação
Católica, que agruparia a todos os dirigentes operários católicos em todo o
mundo.
-Em 1923, faleceu sua
mãe.
-Em 1940, tropas alemãs
invadem a Bélgica no contexto da Segunda Guerra Mundial. Cardijn mobiliza a JOC
contra as forças de ocupação se opondo ao trabalho forçado e à deportação para
fábricas alemãs. A Gestapo prendeu Cardijn e vários líderes da JOC.
-Em setembro 1942,
Cardijn foi libertado da prisão, apesar de sua recusa em deixar a prisão, a
menos que outros capturados com ele fossem também libertados. Estando livre,
Cardijn trabalhou para ajudar as vítimas da ocupação alemã.
-Em 1950, foi
consagrado como bispo pelo Papa Pio XII. Recebeu doutorados
honorários de faculdades e universidades em todo o mundo. Recebeu diversas
condecorações, entre elas a de tornar-se membro da Legião de Honra francesa.
Nesse ano, a JOC já existia em 60 países.
Durante o Pontificado
de João XXIII colaborou na redação da Encíclica Mater et Magistra e de alguns documentos
aprovados no Concílio Vaticano II. Pela sua obra social, foi nomeado cardeal em
22 de fevereiro de 1965, pelo Papa Paulo VI, com o título de Cardeal-diácono de
São Miguel Arcanjo, recebendo o barrete cardinalício em 25 de fevereiro. Participou
do Concílio Vaticano II.Morreu em Lovaina, Bélgica, em 24 de julho de 1967,
quando a JOC já existia em 109 países. Está em processo de beatificação[1].
Fonte: Biografia no site The Cardinals of the Holy Roman Church
*DESDOBRAMENTO DO MÉTODO VER, JULGAR E AGIR
Quando a Mater et
Magistra apareceu pouco mais de um ano depois, a encíclica observava que “para
levar a realizações concretas os princípios e as diretrizes sociais, passa-se
ordinariamente por três fases” (n. 235):
1ª)- O “estudo da situação” concreta.
2ª)- A “apreciação da
mesma à luz desses princípios e diretrizes”.
3ª)- O “exame e
determinação do que se pode e deve fazer para aplicar os princípios e as
diretrizes à prática”.
Esses “são os três
momentos que habitualmente se exprimem com as palavras seguintes: `VER, JULGAR
E AGIR`”, continuava a encíclica. Portanto, o Papa João XXII reconheceu
formalmente o método ver-julgar-agir em sua encíclica Mater et Magistra
publicada no dia 15 de maio de 1961. “Acreditamos
que até mesmo Cardijn ficou surpreso ao descobrir a extensão desse
reconhecimento na encíclica“, comentou o organizador da Comunidade
Internacional Cardijn, M. J. Ruben.
Quatro anos depois, em
um discurso ao Concílio Vaticano II, Cardijn, então cardeal, insistiu na
importância desse legado:
“Tenho demonstrado confiança na
liberdade [dos jovens] de forma a melhor educar essa liberdade. Ajudei-os a ver, julgar e agir por si
mesmos, mediante a realização de ações sociais e culturais próprias, obedecendo
livremente as autoridades, a fim de se tornarem testemunhas adultas de Cristo e
do Evangelho, conscientes de suas responsabilidades por seus irmãos e irmãs em
todo o mundo”, disse ele, no dia 20 de setembro de 1965, em uma frase que
lembra a famosa definição de democracia adotada pelo movimento Sillon(sulco) de
Marc Sangnier como o sistema da “organização social que tende a maximizar a
consciência e a responsabilidade cívicas de cada pessoa”.
A fórmula
ver-julgar-agir de Cardijn resumiu claramente o “método de educação
democrática” nos “círculos de estudo” que o Sillon havia sido pioneiro na
França na virada do século XX:
“Cada
cidadão deve conhecer o estado da nação. Quando a situação está mal, deve
buscar soluções. E, finalmente, tendo encontrado as soluções, deve agir“,
escreveu Marc Sangnier, descrevendo o método de pesquisa usado pelo Sillon em
1899.Mas foi Cardijn que
aperfeiçoou o método e fez dele a pedra de fundação do movimento da Juventude
Operária Cristã – JOC, a partir do qual ele seria adotado depois por outros
tantos grupos e movimentos de apostolado de leigos:“Líderes
e membros devem aprender a ver, julgar e agir. Ver o problema para julgar a
situação presente, os problemas, as contradições, as demandas. Agir com vistas à conquista do seu destino temporal e
eterno”, disse ele aos delegados do Primeiro Congresso Internacional da
JOC, em 1935.Cardijn, de fato,
viu-se como professor e educador de jovens trabalhadores. Cinquenta anos depois
da Mater et Magistra, podemos ver claramente que ele também era um grande
mestre de toda a Igreja.“Desde então, o método ver-julgar-agir
foi reconhecido e adotado por toda a Igreja”, continuou Ruben. “Isso mostra como Cardijn foi um mestre
para toda a Igreja – não só para os jovens trabalhadores”, disse. “Essa é outra
razão pela qual esperamos que Cardijn, um dia, seja reconhecido como Doutor da
Igreja”, concluiu.
*Reportagem extraída originalmente
do sítio Cardijn Movement News
PAPA FRANCISCO: RELEITURA, ADAPTAÇÃO E ATUALIZAÇÃO DO MÉTODO EM SEU PONTIFICADO
O Papa Francisco ao
utilizar esse método, não o faz como uma mera repetição do original, até mesmo
porque os tempos são outros:
a)- O Ver não é apenas
diagnóstico, é um contemplar a realidade.
b)- Julgar
não é um amalgamado de teorias para iluminar uma situação, mas um
caminho que conduz a um discernimento e juízo realista sobre o próprio mundo.
c)- O
último passo, por sua vez, propõe um diálogo franco e realista em vista
de soluções com sugestão de pistas de ações (e não uma imposição vertical).
Em síntese, seguir uma
pedagogia como a que Francisco segue favorece uma assimilação mais contundente;
e se o método não soluciona os problemas, facilita a compreensão da
problemática e a busca real de soluções. O magistério Petrino de Francisco,em
continuidade e não com rupturas com a tradição da Igreja, assume de forma clara
e particular o método jocista condensado sob as palavras VER-JULGAR-AGIR.
Trata-se de uma opção forjada numa larga tradição eclesial, no intenso
desenvolvimento que essa pedagogia logrou principalmente na América Latina e
que, de certo modo, atingiu o Bispo em Buenos Aires e adaptando tempos depois,
à esfera do seu magistério petrino. Sua escolha, como se demonstrou, não é
apenas repetição de uma metodologia já apreendida. Antes, ela é marcada por um
estilo particular e acrescida traços próprios.O método em sua
trajetória de origem como vimos acima, tem o sacerdote, bispo e depois Cardeal Joseph
Cardijn que fundou a Juventude Operária Católica (JOC). Ele sedimentou seu trabalho
espelhando-se na Associação Católica da Juventude Francesa (A.C.J.F.) que
surgiu a partir dos Círculos Operários Católicos sob a orientação de Albert de
Mun (1841- Pensar-Revista Eletrônica da FAJE v.7 n.2 (2016) 218 1914).
De igual modo, a proposta do sacerdote belga insere-se “na continuidade da
pedagogia do denominado Catolicismo Social” (BRIGHENTI, 2015, p.609) que no
século XIX levou inúmeros católicos a desenvolverem trabalhos junto à espoliada
classe proletária, e que tinha na Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII sua
inspiração fundante.A explicitação dos três
momentos do método do sacerdote idealizador da Juventude Operária Católica
aparece pela primeira vez, de modo seminal, num texto de uma conferência
pronunciada em 1914 e num artigo chamado Manuscritos da Prisão de Saint-Gilles
de 1917 (BRIGHENTI, 2015, p.611.) Conquanto seja válida essa constatação
Cardijn levará um longo tempo até chegar a formulação explicita do método,
sintetizando-o sobre as três verbos: ver, julgar e agir:
-O primeiro passo do
método gestado por Cardijn visa de maneira indutiva refletir sobre a realidade
e seus problemas, discernindo-a em vistas de uma ação concreta. No caso da
Juventude Operária, a realidade era o mundo do trabalho, suas aflições e
problemas. O VER configurar-se-ia, a grosso modo, o princípio analítico da
metodologia.
-O segundo passo,
inserido na pedagogia cardijniana é norteado pelo aspecto formativo, no
confronto entre a realidade-problema e uma segura doutrina (evangelho) capaz de
iluminar e ajuizar sobre realidade. O JULGAR é, portanto, o principio
axiológico, avaliativo aplicado à realidade.
-Por fim, o último
momento seria o AGIR. Este passo alocar-se-ia na perspectiva de que a
constatação dos fatos/problemas, e o juízo sobre eles deveria implicar
naturalmente numa ação. Uma ação que seria, ao mesmo tempo,
prática/caritativa, mas também formativa para o enfretamento posterior de novos
problemas, gerando um movimento cíclico e contínuo de transformação, ou seja,
dinâmico, não algo estático com roupagem científica.
A pedagogia de Cardijn,
não obstante a clarividência e praticidade, foi duramente rechaçada e
contestada pelos seus pares e contemporâneos eclesiásticos belgas a tal ponto
de que ele próprio teve que pedir clemência e aprovação a Pio XI, de quem se
tornou amigo, para o seu projeto em 1925 (cf. MATTOS, 2009). Aprovado
pelo Papa, a Juventude Operária Católica e o seu método de ação conquistaram
cidadania eclesiástica e, paulatinamente, foram espalhando-se pelo mundo e
incorporando-se à atividade eclesial através da Ação Católica especializada.O método
VER-JULGAR-AGIR, assumido pelo movimento com viés de sua ação, não demorou a
despontar no magistério romano, em documentos conciliares e em outros textos da
hierarquia católica. João XXIII, na encíclica Mater et Magistra, 1961 ( cf.
JOSAPHAT, 2015,p.76), foi o primeiro a conferir status de universalidade ao
método particular jocista do VER-JULGAR-AGIR.O papa Francisco de forma magistral
o atualiza na exortação pós Sinoidal dirigida aos Jovesn do mundo inteiro:
Christus Vivit, onde ele nos apresenta o VER como reconhecer, JULGAR
como interpretar e AGIR como escolher.
BIBLIOGRAFIA
-BRIGHENTI, Agenor.
Método Ver Julga e Agir. In: PASSOS, João Décio (org.). Dicionário do Concílio
Vaticano II. São Paulo: Paulinas/Paulus, 2015.
-MATTOS, Raimundo César
de Oliveira. A Juventude Operária Católica. Fênix – Revista de História e
Estudos Culturais. v.6 n.3 Abril/ Maio/ Junho de 2009, p.2-15.
-SOUZA, José Nivaldo.
Laudato si’ na perspectiva do método: “ver,julgar e agir”. Perspectiva
Teológica v.48, Jan/Abr 2016, p.145-161.
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