Amigos(as) reproduzo, aqui, o
artigo publicado hoje pelo economista Gustavo Franco, na sua coluna de O Globo. É necessário que a opinião pública do país tenha claro o mapa da mina. Qual foi
o tamanho do dessangre produzido, na economia do Brasil, pela incompetência da
Presidente? Pelos números compulsados pelo economista Gustavo
Franco, o tamanho do buraco é escatológico! Mas, convenhamos: melhor que
conheçamos a real gravidade do mal para, uma vez afastada para sempre essa
incompetente senhora, saibamos o grau de esforço que o Brasil precisará
despender para fazer frente à catástrofe. O tamanho desta equivale ao de uma
guerra devastadora. O que mais impressiona é que, conhecendo a opinião pública
alguns dos números da desgraça acontecida, haja gente ainda querendo apoiar o PT. Isso, a meu ver, acontece porque rola dinheiro nas mãos da direção partidária.
Os petralhas, a partir da sua corrupta liderança, ainda pagam para que os
movimentos sociais, os blogs chapa branca, alguns jornalistas irresponsáveis,
os "intelectuais orgânicos" com bolsa no exterior e os militantes de
sempre façam o barulho que todos conhecemos. Façamos, então, o nosso barulho,
divulgando à exaustão os reais números da desgraçada herança que Lula e sua
cria infelizmente nos deixaram.
"Precisamos falar sobre herança".
Publicado no jornal O Globo, edição de 29-05-2016 - Gustavo Franco
Fez muito bem o
Ministro da Fazenda, na verdade o presidente Michel Temer, em propor ao
Congresso a alteração da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de modo a
refletir as cores exatas do cenário econômico e fiscal que recebeu de Dilma
Rousseff. É importante ter claro o legado da presidente afastada, inclusive
para se acrescentar elementos aos julgamentos no Senado e diante da História.O
superlativo número de R$ 170 bilhões para o déficit primário no exercício de
2016, conforme aprovado na semana que passou, foi chocante e surpreendente para
muitos.Mas é só um pedaço da história, e pequeno. Note-se, para começar, que
este número não é bem uma meta, mas uma estimativa realista do que ocorrerá uma
vez mantidas as coisas como estão. É certo que as autoridades têm o dever de
buscar um número bem menor, mas é importante estabelecer com clareza o ponto de
partida, e também que há muita coisa que não entra nessa conta.
Vale lembrar que, durante os dez anos anteriores a 2008, o resultado
primário médio foi um superávit maior que 3% do PIB. Esta lembrança é
importante para afastar a ideia de que a Constituição de 1988 teria sido
culpada da deterioração fiscal recente. E também para que se tenha muito claro
que foi Dilma Rousseff quem transformou um resultado positivo médio da ordem de
R$ 190 bilhões (3% do PIB de 2016) em um negativo de R$ 170 bilhões.A deterioração fiscal
comandada por Dilma Rousseff foi, portanto, de R$ 360 bilhões, sendo este o
tamanho do esforço fiscal que teria que ser feito hoje para colocar o país de
volta na situação onde estava no período 1998-2007, quando houve crescimento,
austeridade (ao menos quando medida por superávits primários) e melhoria na distribuição
de renda. São R$ 360 bilhões morro acima, só para arrumar o resultado primário.
Se colocarmos na conta os juros, os números se tornam ainda mais perturbadores. No ano de 2015, o Brasil foi o país cujo Tesouro Nacional mais pagou
juros no mundo: 8,5% do PIB, contra 4,62% na Índia, 4,11% em Portugal, 4,02% na
Itália e 3,61% na Grécia.Em moeda corrente, estamos falando de R$ 502 bilhões
em juros em 2015, quando o déficit primário (o resultado sem contar juros) foi
de 1,88% do PIB, equivalente a R$ 111 bilhões. Assim, nesse ano, o déficit
total do setor público foi de 10,38% do PIB ou de R$ 613 bilhões.A mesma lei que recém
alterou a LDO estimou o déficit nominal para 2016 em 8,96% do PIB, ou seja, R$
579 bilhões, dentro dos quais estão os R$ 170 bilhões de que falamos logo
acima. Estima-se que a conta de juros neste ano fique parecida com a do ano
passado. A ver.Tudo considerado, com este déficit nominal, a projeção para a
dívida pública bruta ao final de 2016 é de 73,4% do PIB, uma alucinação.
E não pense que foi só isso!
Mesmo com o Tesouro
entrando fortemente no vermelho, o governo resolveu fazer outros gastos fora do
Orçamento, que não entram nas contas acima. Para tanto, transferiu cerca de R$
500 bilhões para o BNDES em títulos, em várias operações. Como se a sua empresa
estivesse dando prejuízo e você resolvesse se endividar para emprestar um valor
correspondente à metade do seu faturamento a uma subsidiária.Nesta semana que
passou, um pedaço desse dinheiro foi devolvido, vamos ver quanto vai custar
para regularizar essa operação.Além disso, temos
também as operações “anticíclicas” da Caixa e do Banco do Brasil, ordenadas
explicitamente pelo governo. A quem pertencerá o prejuízo decorrente dessas
atuações? Que tamanho tem essa conta? E as operações feitas com o dinheiro do
FGTS?Não seria bom ter um corte e uma análise circunstanciada do estado dessas
instituições neste momento de transição e reflexão?E as necessidades de
capitalização da Petrobras, decorrentes da devastação a que foi submetida em
consequência das insanidades heterodoxo-nacionalistas adotadas pelo governo afastado
e da pilhagem engendrada pela quadrilha que ali se instalou?A dívida da Petrobras cresceu a tal ponto que o fluxo de caixa
descontado da empresa para o horizonte relevante de avaliação está zerado, ou
pior, a depender do preço do petróleo nos próximos anos. Basta olhar os
relatórios de analistas externos da empresa, todos acordes nesse terrível
diagnóstico. Isso mesmo, você não entendeu mal, a empresa está tecnicamente
quebrada, funcionando da mão para a boca, um dia de cada vez, terrivelmente necessitada
de um aumento de capital, ou da venda de ativos, de cortes dramáticos e
providências difíceis. Uma empresa desse tamanho, ainda mais estatal, não pode
entrar em recuperação judicial, não sem provocar um problema sistêmico.Mas antes de pensar no
conserto, que se registre a façanha: poucos anos depois do apogeu representado
pela descoberta do pré-sal e do aumento de capital em Nova York em 2010, quando
a companhia captou US$ 70 bilhões, na maior operação da espécie jamais
registrada neste planeta, Dilma Rousseff conseguiu colocar a Petrobras a meio
centímetro da recuperação judicial. Que portento em matéria de incompetência
administrativa, imprevidência estratégica e desonestidade mesmo, esta última,
inclusive, reconhecida oficialmente no balanço.Fará bem o novo
presidente da Petrobras em ter muito claras as condições da empresa no momento
em que assumir as suas responsabilidades. A mesma recomendação vale para a
presidente do BNDES, para o qual já se decidiu devolver R$ 100 bilhões dos R$
500 bilhões que recebeu do Tesouro. O banco deve ser capaz de demonstrar para
onde foram os recursos, e talvez mesmo pagar o Tesouro com esses ativos. E, se
houver prejuízo, que seja declarado e explicado para que as culpas pertençam a
quem de direito.
Como foi acontecer uma tragédia desse tamanho?
É claro que temos que
refletir muito sobre as brechas na Lei de Responsabilidade Fiscal e sobre o mau
uso das empresas estatais, seja para propósitos políticos, para a corrupção, ou
para simplesmente financiar e acobertar o populismo fiscal.Mas nem por um
segundo devemos esquecer que a responsabilidade pela catástrofe possui nome e
sobrenome e que o Senado não estará se debruçando apenas sobre “pedaladas”,
“jeitinhos” ou decretos feitos por assessores descuidados, mas sobre o maior
descalabro fiscal que a história econômica brasileira registra desde,
possivelmente, quando Dom João VI abandonou o país em 1821 e rapou o ouro que
havia no Banco do Brasil.E não por acidente as quedas no PIB do biênio 2015 e
2016, que se espera que atinjam 3,8% e 3,8%, ultrapassam o que se observou nos
anos da Grande Depressão, 1930-31, quando as quedas foram de 2,1% e 3,3%.É fundamental que se
tenha clara a exata natureza e extensão da herança, para que as dores inerentes
ao árduo trabalho de reconstrução financeira e fiscal do crédito público sejam
associadas a quem produziu a doença, não ao médico.
“Constam-se PIB negativo (– 3,8% ao ano); dívida pública recorde, pois a
maior dos últimos nove anos; desemprego enorme (11,1 milhões de pessoas); voraz
inflação (chegou a 10,67%) e rombo fiscal (R$ 170 bilhões), além de descrédito
interno e externo” (Salvador Bonomo)* - Parece-me óbvio que
cada geração tem o intransferível dever de legar melhores condições de vida à
geração seguinte, e, da mesma forma, é dever irrefutável de todos os
governantes municipais, estaduais e federais, que se sucedem, legarem melhores
condições de existência aos governados, o que, infelizmente, não tem acontecido
no Brasil.Ao contrário, o que se constata é que os sucessivos legados dos
nossos representantes são, quase sempre, mais defasados do que os recebidos, e
corriqueiro é serem seguidos de graves acusações recíprocas entre sucessores e
sucedidos, o que encarta ampla presença de mentalidade patrimonialista e
consequente e profunda ausência de princípios republicanos.As referidas
situações permanentemente maculadas de condutas até delituosas, o que, em
regra, ocorre pelo fato de elegermos nos três níveis de poder – municipal,
estadual e federal – mais politiqueiros que estadistas. A diferença fundamental
consiste no fato de que, enquanto os politiqueiros mal se elegem começam a
pensar nas próximas eleições, os estadistas, ao contrário, mesmo antes de se
elegerem, já se preocupam com as futuras gerações.É regular, por exemplo que,
no âmbito da poética, ainda que rotulada de “Quadrilha”, predomine temática
fundada no Amor, enquanto, na esfera da Política (ou da politicagem!),
acontece, com muita frequência, exatamente o contrário, conforme se infere da
demonstração que segue. Em 2003, Lula acusou FHC de lhe ter deixado “herança maldita”, embora
viesse a adotar a mesma política econômica. FHC, por sua vez, também alegou que
Lula deixou para Dilma “herança maldita”. Da mesma forma, constata-se que
Dilma, também, deixa para Michel Temer “maldita herança”: grave crise moral,
política e econômica, sem precedente. Como síntese da citada crise, constam-se
Produto Interno Bruto negativo (– 3,8% ao ano); dívida pública recorde, pois a
maior dos últimos nove anos; desemprego enorme (11,1 milhões de pessoas); voraz
inflação (chegou a 10,67%) e rombo fiscal (R$ 170 bilhões), além de descrédito
interno e externo. A sucessão de
“heranças malditas” nos três níveis de poder, ainda que por associação adversa
de ideias, remete-me a bela “Quadrilha”, oposta às que integraram o“mensalão” e
o “petrolão”.Refiro-me à “Quadrilha” do saudoso poeta Carlos Drummond de
Andrade: “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava
Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”... Imperioso será que nas próximas eleições elejamos políticos com postura de estadistas, em vez de
elegermos os tradicionais politiqueiros, para, assim, evitarmos realidade semelhante
à descrita no velho e lógico ditado popular: “Da briga entre o mar e o rochedo,
quem leva a pior é o marisco” – o povo.
Concluo, pregando,
como uma espécie de mantra, tal qual o fiz alhures, que não basta sermos
honestos e dizermos que somos honestos; é preciso, também, combater a
desonestidade, sob pena de sermos coniventes com as ilicitudes, que, com
frequência, ocorrem em torno de nós.
* Salvador Bonomo é ex-deputado estadual (do PMDB que enfrentou a
ditadura) e promotor de justiça aposentado no Espírito Santo.
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