O PT já nasceu
corrompido
(Entrevista de Olavo de Carvalho concedida a
Sionei Ricardo Leão
Jornal de Brasília)
Jornal de Brasília)
“Ora dizer que o Combate a corrupção só começou
com o governo Lula, é da um tiro no próprio pé, e nas instituições
estabelecidas, pois o combate não pode acontecer de forma isolada, sem antes
leis previamente aprovadas pelo Congresso Nacional e na Carta Magna do País: A
Constituição Federal.O PT esquece que pegou o bonde andando, e bem estruturado
e vai deixar para o seu sucessor um verdadeiro caos em todas a áreas, pois não
fez a reformas de base necessárias.”
Os escândalos que atingiram o DEM em Brasília e o PT na época do Mensalão
são resultado de uma degradação da moral e da intelectualidade nacional que vem
ocorrendo há duas décadas no País, analisa o filósofo Olavo de Carvalho.
"Se o Brasil ficar assim mais cinco anos,
ele não se levantará nunca mais".
O filósofo concedeu esta entrevista exclusiva ao
Jornal de Brasília por telefone, de Richmond, no estado da Virgínia, nos
Estados Unidos, onde mora desde 2005. Na Academia, Olavo de Carvalho é considerado
um crítico impiedoso das esquerdas brasileiras. Para ele, o Partido dos
Trabalhadores enganou a sociedade.
"O prestigio do PT cresceu pelo discurso de
combate à corrupção. Mas a máquina de corrupção do partido já estava sendo
montada há muito tempo". Nessa avaliação, ele aponta que, no quadro
partidário atual, o eleitor não tem opção, pois faltam candidatos que consigam
ou sejam interessados em representar os anseios do povo brasileiro, que "é
profundamente conservador, sobretudo no aspecto social".
Da mesma
maneira, ele considera que há um monopólio de pensamento político no Brasil:
"Isso não pode acontecer num país". Os
desafetos de Olavo de Carvalho o classificam de direitista convicto ou até
reacionário, rótulo que ele desdenha. "Qual é o problema de ser de
direita? É proibido? Não tem sentido você proibir a direita e ao mesmo tempo
falar em pluralismo democrático. Em todos os países, há esquerdas e direitas.
Agora, com quem vou debater isso no Brasil? Com pessoas indignas, cuja obra
intelectual é zero? Imagine se eu vou querer que essas pessoas me respeitem ou
me reconheçam!"
Nos EUA, o filósofo ocupa o tempo com um curso
de Filosofia a distância que tem adesão de vários alunos brasileiros. Ele
também está preparando uma publicação sobre o pensador Mário Ferreira dos
Santos.
SEGUE A
ENTREVISTA:
1)- O PT durante anos
brandiu a causa da ética. Ao chegar ao poder foi desgastado pelo escândalo do
mensalão. O DEM passou a levantar a mesma bandeira, mas foi tragado com o caso
de Brasília. A defesa da ética tem alguma maldição?
Em primeiro lugar, o prestígio do PT cresceu
pelo discurso de combate à corrupção, mas a máquina de corrupção do partido já
estava sendo montada enquanto isso acontecia. Tanto que foi organizado um
serviço de inteligência privado do PT, que ficou conhecido como PTPol. A coisa
foi denunciada pelo governador Esperidião Amin (Santa Catarina), mas nada se
investigou depois. Em 1993, quando houve aquela famosa CPI da Corrupção, a
máquina já estava montada, já fazia três anos que o PT fundara o Foro de São
Paulo, associando-se a organizações de traficantes e seqüestradores como as
Farc (Força Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o Mir chileno ao mesmo tempo
em que, em público, pregava a moral e os bons costumes. Todo aquele combate
aparentemente moralista era para encobrir o esquema. O PT foi o partido que
mais enganou a população, pois ele já nasceu corrompido. Em segundo
lugar, a decadência moral dos partidos acompanha a decadência geral do Brasil,
que se aprofundou muito nos últimos 20 anos.
2)- Para o senhor a
desmoralização partidária é então resultado de um processo mais amplo?
A decadência não se dá apenas no aspecto moral,
ela aconteceu intelectualmente. Nossos estudantes invariavelmente tiram os
últimos lugares nos testes internacionais, abaixo de gente que vem de países
muito mais pobres. Note que a produção de trabalhos científicos no Brasil
aumentou bastante nos últimos anos. Mas as citações de pesquisas
internacionalmente diminuíram muito, mostrando que a produção nacional tem cada
vez menos valor para o progresso da ciência no mundo. A produção de
trabalhos científicos tornou-se mera empulhação quantitativa para facilitar a
caça às verbas. Compare o Brasil dos anos 50 a 70 com o atual. Tínhamos então
uma infinidade de escritores e pensadores de nível mundial. Hoje,
"intelectual" é o Jô Soares, é o Luís Fernando Veríssimo, é o Emir
Sader. É comparar Atenas com a Baixada Fluminense. No campo moral, até se você
usar como referência líderes de esquerda do passado como Carlos Marighella e
Luiz Carlos Prestes, não há qualquer menção de que eles tivessem se envolvido
com negociatas, com corrupção. Tanto que recentemente houve o episódio de a
filha do Prestes negar-se a receber qualquer indenização do Estado, porque para
ela isso mancharia a imagem do pai. Até os esquerdistas eram mais decentes
naquele tempo. Agora, esse pessoal que está aí, descaradamente, assalta
os cofres do Estado. Eles também apelam à violência. Veja as mortes dos
prefeitos de Santo André e de Campinas.
3)- Há luz no fim do
túnel em outras legendas partidárias?
Os outros partidos são cúmplices. Hoje não se
pode falar de esquerda e de direita, o que se tem é um sistema único.
Destruíram o quadro partidário do Brasil.
4)- O senhor defende que
a polarização entre direita e esquerda ficou no passado?
O Brasil não tem uma direita há muito tempo. Nas
últimas eleições presidenciais, os discursos de todos os candidatos eram
semelhantes. O Partido Democratas foi inspirado na esquerda americana. Portanto, não
pode ser considerado exemplo de partido conservador.
5)- Como o senhor
classifica o eleitor brasileiro? Desinformado e provinciano ou consciente,
engajado, universalista?
O povo brasileiro é profundamente conservador.
Sobretudo no aspecto social. É maciçamente contra o aborto, o feminismo
radical, as quotas raciais, o gayzismo organizado. No entanto, não há político
que fale em nome do povo: estão todos comprometidos com os lobbies bilionários
que protegem esses movimentos.
6)- Então a seu ver,
falta hoje no quadro partidário quem traduza ou represente politicamente o
pensamento da sociedade?
Não há candidato que defenda os valores em que o
povo acredita. Aí fica esse vácuo. E a nossa suposta direita está mais
interessada em comer dinheiro do governo. Se só há candidatos de esquerda,
então o eleitor vai votar em quem? Durante as eleições, os candidatos camuflam o
seu radicalismo, mas depois de eleitos, quando se sentem firmes no poder, tiram
a máscara. Na eleição seguinte, o contingente de eleitores novos não sabe o que
se passou e confia de novo em candidatos que já enganaram a geração anterior.
7)- Por que os
brasileiros votam em pessoas, em lugar de partidos?
O discurso dos partidos não é nítido. Numa
eleição na Inglaterra, por exemplo, você tem uma direita e uma esquerda bem
definidas. Você sabe quem é quem. Aqui nos Estados Unidos ninguém ignora que a
Hillary Clinton é de esquerda, que o Glenn Beck é de direita, tal como todo
mundo sabia que Ronald Reagan era de direita e Jimmy Carter era de esquerda. Apesar disso, nas
últimas eleições, os americanos parecem que copiaram o Brasil: a postura dos
democratas e dos republicanos foi igual, os candidatos ficaram jogando confete
um no outro.
8)- Há algum otimismo de
sua parte quanto ao futuro do quadro político brasileiro, o senhor acredita em
melhoras?
Poder melhorar sempre pode. Mas depende da ação
humana. O nível de coragem política diminuiu assustadoramente no Brasil. As
novas gerações são muito covardes. Se o Brasil ficar assim mais cinco anos, ele
não se levantará mais. Veja o caso do filme que foi lançado sobre a biografia
do Lula. Se aqui o governo financiasse um filme sobre a vida do Obama, isso
daria em impeachment. No Brasil, a realização do filme do Lula não
gerou nenhum protesto organizado. A reação está vindo do povo, que não vai ver
o filme no cinema.
9)- No seu modo de ver,
como se dará à disputa entre a ministra Dilma Rousseff (PT) e o governador de
São Paulo, José Serra (PSDB), nessas eleições presidenciais?
Os dois candidatos vão promover um campeonato de
esquerdismo. Como o Serra tem alguns aliados conservadores, talvez ele venha
com um discurso mais moderado, e sua eleição dê uma folga para que a direita
possa se reconstruir, se ainda houver nela alguém interessado mais nisso do que
em bajular a esquerda e participar do banquete de verbas públicas.
10)- Para o senhor a ausência
de discursos e de programas de direita empobrece a política brasileira?
O que o Brasil tem é um unipartidarismo
disfarçado. Fui contra a exclusão da esquerda, durante o regime militar, como
hoje sou contra a exclusão da direita. A normalidade do sistema deve estar
acima das preferências partidárias, mas a esquerda se colocou acima do sistema,
engoliu o Estado e o transformou em instrumento do partido. Note que nem mesmo
os militares fizeram isso: no Parlamento, na mídia e nas cátedras
universitárias havia mais esquerdistas naquele tempo do que direitistas hoje.
Os milicos foram autoritários, mas não totalitários. Hoje estamos
caminhando para o totalitarismo perfeito e indolor.
Fonte:Jornal de Brasília
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