O apogeu da
Cidade de Deus na História realizou-se na Cristandade medieval, durante o
século XIII. Foi o tempo das Catedrais, do Feudalismo, das Universidades.Foi o tempo
das Cruzadas e da Cavalaria. Foi o tempo em que São Tomás e São Boaventura
ensinavam na Sorbonne. Foi o tempo da Suma Teológica. Foi o tempo dos grandes
santos, tais como São Francisco e São Domingos!
Não foi, porém, um período sem males!
Foi a época
de Frederico II, dos hereges cátaros, dos hereges Espirituais Franciscanos, dos
Fraticelli e da irrupção do milenarismo joaquimita. Foi a época de Dante e de
seus Fedeli d’Amore. Como
foi o tempo da edição do Roman de
la Rose, livro imoralíssimo — o mais lido da Idade Média — e que dava um
programa para destruir a Igreja, defendendo as mais escandalosas teses
heréticas que acabaram triunfando na Modernismo ideológico.Neste trabalho, pretendemos dar uma visão de
conjunto das Revoluções que destruíram a sociedade medieval, procurando
instituir uma sociedade igualitária em lugar da sociedade hierárquica que a
Igreja estabelecera na Cristandade medieval. Muitos
autores descreveram as linhas gerais dessas revoluções. Não é, pois, uma tese
nova que vamos demonstrar. Leão XIII
tratou, em parte, dessa visão histórica na encíclica Parvenu. Monsenhor Gaume foi outro autor que tratou da Revolução
com competência, mostrando como ela foi a colocação do Homem no lugar de Deus.Plínio
Corrêa de Oliveira deu-nos a exposição das Três Revoluções em aulas, que assistimos como alunos dele, na
PUC em 1952, tema do qual ele voltou a tratar no opúsculo Revolução e Contra Revolução. Não
negamos, como é de justiça, que foi ele quem nos abriu, pela primeira vez, essa
perspectiva histórica. Deus o pague por isso. Porém é de justiça também que
diga que ele nos deu a exposição apenas das Três Revoluções, mas sem
nunca tratar da ação da Gnose e do Panteísmo nessas Revoluções.
I – A SOCIEDADE EM GERAL E A SOCIEDADE MEDIEVAL
A Sociedade
Medieval, sendo conseqüência da aplicação da doutrina cristã ensinada pela
Igreja, tinha que ser hierárquica e não igualitária. Estudamos as razões desse
anti-igualitarismo da sociedade católica em nosso trabalho Desigualdade ou Igualdade de
Direitos: considerações sobre um mito.Como toda
sociedade retamente organizada, a sociedade medieval era formada por Estados e
não por castas como era de regra nas sociedades pagãs. Havia três
Estados na Sociedade Medieval: o Clero,
a Nobreza e o Povo, sendo que este era formado
pela Burguesia, pelos Camponeses e Artesãos. Era o que
formava a famosa “pirâmide maldita” do linguajar marxista dos
professores de cursinho.Tais
professores se esquecem de dizer que, em todos as sociedades, em todos os
tempos, existiu sempre essa mesma estrutura.Toda sociedade é, portanto,
necessariamente piramidal, pois os sábios que dirigem serão sempre minoria.
Não há como fugir desse esquema. Uma sociedade
horizontal – igualitária — nunca existiu e nunca poderá existir!E isso é
assim pela própria natureza dos homens e das coisas. Deus fez tudo com
desigualdade, por isso toda sociedade é necessariamente hierárquica.*GRIFO
MEU: O Próprio Marx nunca tentou construir uma sociedade absolutamente
Igualitária, pois ele mesmo defendia o Princípio: “A cada um conforme sua
necessidade e a cada qual conforme sua capacidade...”
Já Platão
mostrara, no diálogo República, que,
para existir uma sociedade, é preciso em primeiro lugar, que existam pessoas
que produzam os bens necessários à vida. Tais bens são os alimentos e objetos
necessários para viver.Portanto,
não pode haver sociedade se não houver camponeses que produzam os alimentos, e artesãos que produzam utensílios,
móveis, vestes, etc.
Em primeiro
lugar, há a necessidade do trabalho agrícola e artesanal.Ora, se camponeses e
artesãos produzirem só o absolutamente necessário para a sua manutenção e a de
suas famílias, como eles não podem produzir tudo que precisam, ver-se-ão sem possibilidade
de adquirir bens que lhes sejam necessários e dos quais têm falta.Daí,
camponeses e artesão serem obrigados a produzir mais do que necessitam, para
poderem trocar sobras do que produziram por objetos de que precisam. O comércio
nasce dessa necessidade de troca de bens. Portanto, além de camponeses e
artesãos nasce quase imediatamente o grupo dos comerciantes, que fazem circular e trocar os bens produzidos.
Porém, onde
há bens, surgem logo os que querem se apossar desses bens de modo injusto. Isso
exige, então, a proteção desses bens pela força armada. Daí, a existência de um
grupo armado para guardar os bens produzidos.Surge o
grupo social militar que tem por fim a proteção dos bens e da propriedade
particular. É assim que toda sociedade tem sempre um tal grupo armado para
fazer respeitar o direito e a justiça. São os militares, ou nobres, porque
devem dar a vida para proteger a justiça e os direitos das pessoas.
Deixar no topo da sociedade a força com o poder supremo, manter no ápice da
sociedade os que detêm o uso da espada equivale a colocar a força material
acima de tudo, o que gerará abusos. É preciso então colocar acima da força da
espada, acima da força material um grupo que controle a força física pela
sabedoria. Por isso, mesmo nas sociedades pagãs havia um grupo sacerdotal,
considerado mais prudente e sábio para controlar a mera força das armas.
Daí, toda sociedade ser
formada, esquematicamente, por:
a) produtores de bens (camponeses
e artesãos) e de encarregados de fazer circular os bens através do comércio
(comerciantes);
b) militares que
guardam o direito aos bens pelo emprego da força militar ( guerreiros ou
nobres);
c) supostos sábios,
que devem controlar o uso da força material, para evitar abusos.
Tanto isso
tem que ser assim, que até a sociedade soviética, que se pejava de ser
igualitária, foi obrigada a se render à natureza, mantendo essa estrutura, pois
lá também havia a famosa “pirâmide maldita”. Na própria
URSS Comunista havia:
a) O proletariado (camponeses e operários)
produtores de bens necessários à vida, e funcionários encarregados da
circulação dos bens, e mesmo um certo pequeno grupo de comerciantes;
b) Os militares que garantiam a “ordem” social;
c) Os “sábios”: Os
membros do Partido Comunista que dirigiam e controlavam a força em razão de seu
conhecimento ideológico supostamente sábio e verdadeiro.
Portanto,
nem na URSS havia, então, a igualdade. Pena que professores de cursinho,
profissionais da mídia e padres de passeata não sejam capazes de ver o
evidente.Será que, no Brasil do PTBrás,
no Brasil do mensalão, os canonizados pela CNBB como “católicos à sua maneira”, estabelecerão
realmente a igualdade da utopia? Esse mesmo esquema era o da sociedade medieval.Na sociedade
medieval havia, sim, a pirâmide social natural, na qual os mais sábios, os que
tinham maiores responsabilidades e virtudes — necessariamente os menos
numerosos — dirigiam os mais numerosos, e de funções menos importantes.
1)- No alto
da sociedade medieval estava o Clero,
única ordem social instituída diretamente por Cristo, para guiar os homens
na prática dos mandamentos — da lei natural — a fim de dar glória a Deus e
alcançar o céu.O Clero era constituído, como até hoje o é, e sempre o será,
pelo Papa, Bispos e Padres. Cardeais, Arcebispos, Monsenhores são apenas
títulos honoríficos, e não graus da Sagrada Hierarquia estabelecida por
Cristo.
2)- O
Segundo Estado, ou Ordem, era a Nobreza
feudal cujos componentes eram o Imperador, os Reis, os Príncipes,
os Duques, Condes e Barões.
3)- O
Terceiro Estado era formado pelo Povo,
e era constituído pelos Burgueses, Camponeses e Artesãos. A Burguesia era o grupo
dos que exerciam trabalho não manual, e habitava nas cidades, como, por
exemplo, os comerciantes, os advogados, os médicos, os professores, etc.Abaixo
deles, estavam os que exerciam trabalhos manuais.Os Artesãos faziam os
instrumentos e objetos necessários para a vida social, enquanto os camponeses
cultivavam a terra e criavam o gado. Os artesãos também possuíam uma hierarquia interna,
dividindo-se em Mestres, Companheiros e Aprendizes.
Esquematicamente, a escala social medieval poderia ser assim
representada:
Clero
|
Nobreza
|
Povo: Burguesia
|
Camponeses
e
Artesãos:
Mestres
Companheiros
Aprendizes
Todavia, um
ponto que convém desde agora salientar é que essa organização social não era de
castas, como eram as sociedades pagãs, ou Hindus.Na sociedade medieval, qualquer pessoa podia mudar
de grupo social.Assim,
qualquer camponês poderia se tornar sacerdote, e passaria para a primeira
camada da sociedade. E, entrando no clero, tendo valor, esse camponês poderia
alcançar altas dignidades, e até mesmo chegar a ser Papa, como, aliás,
aconteceu por diversas vezes, na Idade Média. São Gregório VII, por exemplo,
foi o Papa mais importante da Idade Média e tinha origem camponesa, sendo filho
de um cabreiro (Régine PERNOUD, 1981, p.101).
O Abade
Suger era filho de servo da gleba, e, mesmo assim se tornou Abade de São Denis,
e foi Regente da França. O Arcebispo de Paris, Maurice de Sully, que
ordenou a construção da famosa catedral de Notre-Dame de Paris, era de
família pobre. O Papa Urbano VI era filho de um sapateiro. O Clero foi
o grande instrumento de ascensão e promoção social na Idade Média.O camponês
também poderia ascender à nobreza, pela pratica de um heroísmo. Santa Joana
d’Arc foi enobrecida por sua proeza militar.Por outro lado, qualquer pessoa de Estado mais elevado poderia ser rebaixada:
um clérigo podia ser reduzido ao estado leigo como punição de certos crimes. Um
nobre poderia perder seu título e seus privilégios por causa de crimes, ou, por
vezes, por exercer o comércio, visto que a Nobreza consiste em usar todas as
qualidades próprias em proveito de outrem, enquanto o comerciante usa de todas
as suas qualidades para obter lucro para si. Mas, em Repúblicas que viviam do
comércio — como Genova e Veneza — o comércio era obrigatório para os nobres,
pois seu esforço redundaria em proveito geral daquela sociedade e daquela
República. Portanto,
não havia castas na Idade Média. Esse foi um dos grandes bens que a Igreja
proporcionou à civilização na Idade Média: acabar com as castas!A sociedade medieval tinha, pois, como pilares de sua estrutura, em primeiro
lugar, o Papa, aceito como autoridade suprema, pois era o Vigário de Cristo na
Terra; e, em segundo lugar, o princípio da desigualdade de direitos, já que se
admitia, com o Evangelho e com São Tomás de Aquino, que Deus não fez e não quer
os homens iguais, mas semelhantes.Portanto,
para destruir a sociedade medieval, era preciso derrubar esses dois pilares: o
Papa e a desigualdade de direitos. E foi o que fizeram aqueles que desejavam
destruir a Cidade de Deus, e fazer triunfar a Cidade do Homem. Substituíram o Teocentrismo pelo Antropocentrismo. Colocaram o Homem no lugar
de Deus.
II
– CAUSAS RELIGIOSAS E FILOSÓFICAS DA REFORMA E DO RENASCIMENTO
Estaria fora
do âmbito dos limites e escopo deste trabalho dar todas as causas que
prepararam o triunfo da Reforma protestante sobre o Papado, no século XVI.Mas convém acenar, pelo menos em poucas
pinceladas, a alguns dos fatos principais que prepararam a revolta e o
êxito de Lutero. Entre esses fatos, aos quais fazemos apenas alusão, devem
ser considerados como mais importantes:
1 — O atentado de Anagni. Em 1203, o Rei da França, Felipe IV, o Belo,
mandou seu ministro — um neto de cátaros – Guillaume de Nogaret, atacar o
castelo do Papa Bonifácio VIII, em Anagni, contando com a ajuda de Sciarra
Colonna, o qual, então, teria esbofeteado o Papa com seu güante de ferro. Esse
fato é o próprio símbolo do fim da ordem medieval.
2 — O
Cativeiro de Avignon. Felipe
IV, o Belo, obrigou o Papa Clemente V a transferir a Santa Sé para Avignon, na
Provença, onde os Papas ficaram por cerca de 70 anos, tornando-os,
praticamente, “capelães” dos Reis da França. Isto fez o Papado perder o
prestígio de juíz imparcial da Cristandade, levando Alemanha e Inglaterra, as
principais potências rivais da França, a desconfiarem da autoridade e dos
julgamentos papais. E isso favoreceu, duzentos anos depois, a adesão da
Alemanha e da Inglaterra ao Protestantismo.
3 — O Grande Cisma do Ocidente.
No século XV, houve uma crise no Papado, tendo sido eleitos anti-papas. A
Igreja, durante certo tempo, teve dois pretendentes ao papado, e mesmo, em
período menor, três papas, um verdadeiro, e dois anti-papas. A Cristandade se
dividiu, e a autoridade papal sofreu sério dano, o que preparou a revolta de
Lutero.
"Heresias precursoras" do
Protestantismo - Citaremos apenas algumas delas que foram das
principais causas preparatórias do Protestantismo:
a) A Gnose irracionalista de Mestre Eckhart (1300), cuja mística e moral foram adotados por Lutero, apesar de
terem sido anatematizadas pelo Papa João XXII em 1319. Eckhart defendia até
mesmo a santidade do pecado, que também Lutero defenderá.
b) A heresia medieval dos valdenses cuja revolta contra o papado e cuja recusa de venerar os santos
serão adotadas pelos protestantes.
c) As heresias franciscanas – Desde o século XIII, as heresias surgidas entre os franciscanos
– a dos Espirituais, a dos Pseudo Apóstolos ou dos Fraticelli, a dos Beguinos,
defendendo uma Igreja absolutamente pobre, prepararam a revolta protestante.
d) O Catarismo que minou a autoridade papal e dividiu profundamente a
Cristandade. O catarismo foi propagado sub-repticiamente pelos trovadores
do “trobar clus” e
pelos poetas pertencentes ao grupo dos “Fedeli d’ Amore”, aos quais pertenceu Dante. A obra Le Roman de La Rose, de
Guillaume de Lorris e de Jean de Meung, publicado em 1278, no século XIII, além
de ser um livro imoralíssimo, defendia grande número de teses modernas, como o
contrato social, o amor livre, e expunha como destruir a Igreja. Dante traduziu
em resumo essa obra para o italiano como nome de Il Fiore, e Chaucer a traduziu para o inglês
e) O Milenarismo Joaquimita – Desde o século XIII, os hereges espirituais franciscanos
esperavam um grande castigo e o retorno à pobreza da Igreja primitiva. Depois
desse enorme castigo, e depois da era de Deus Pai, e da era do Filho, um “Papa
angélico” e um “Grande Imperador” instaurariam o Reino do
Espírito Santo, ou a era do Amor – a Civilização do Amor — na Terra, reino em
que a lei seria abolida, e na qual tudo seria possuído em comum.
f) O Humanismo influenciou
também os estudos bíblicos por seu espírito crítico e racionalista, minando a
fé no texto da Vulgata. Erasmo foi o exemplo típico desse tipo de Humanismo. O
seu Novo Testamento clássico se opôs à Vulgata, tornando-se o grande precursor
da Bíblia alemã de Lutero, atacando ao mesmo tempo a patrística, o Papado e a
guarda da Escritura pela Igreja.
g) As heresias de Wyclef e de João Huss que foram em grande parte assumidas por Lutero e pelos
anabatistas.
h) O Cabalismo “Cristão” que propagou a Gnose judaica — a Kabbalah – nos meios intelectuais
e eclesiásticos nos séculos XV e XVI. Pico de Mirandola, na Itália, e Reuchln,
na Alemanha foram os grandes difusores da Cabala nos meios reformistas e
renascentistas. O cabalismo cristão penetrou no clero que homens como o Cardeal
Egidio de Viterbo — o Superior Geral da Ordem a que pertencia Lutero — e o
famoso exegeta Cornélio a Lapide aceitaram os métodos cabalistas de
interpretação da Sagrada Escritura.
Os erros filosóficos que prepararam
a Reforma e o Renascimento.
a) A Filosofia univocista de Duns Scoto:
No seu famoso Discurso na Universidade de Regensburg (Ratisbona),
Bento XVI apontou o início de toda decadência do Ocidente, na filosofia voluntarista
de Duns Scoto.Disse o Papa Bento XVI:“Por
honestidade, é preciso anotar neste ponto, que, na tardia Idade Média,
desenvolveram-se tendências na teologia que rompiam esta síntese entre o
espírito grego e o espírito cristão. Em contraste com o assim chamado
intelectualismo agostiniano e tomista, iniciou-se com Duns Scoto uma
impostação voluntarística, que afinal levou à afirmação de que, de Deus,
conheceríamos apenas a “voluntas ordinata”. Além dela, existiria a liberdade de
Deus, em virtude da qual Ele teria podido criar e fazer também o contrário de
tudo aquilo que efetivamente fez. Aqui se esboçam posições que, de todo modo,
podem aproximar-se daquelas de Ibn Hazn e poderiam levar até à imagem de um
Deus-Arbítrio, que não estivesse ligado nem mesmo à verdade e ao bem. A
trascendência e a diversidade de Deus vinham acentuadas de modo tão exagerado,
que também nossa razão, o nosso senso do verdadeiroo e do bem, não seriam mais
um verdadeiro “specquemo” de Deus, cujas possibilidades abissais permaneceriam
para nós eternamente inatingíveis e escondidas por trás de suas decisões
efetivas.Em contraste com isso, a fé da
Igreja sempre se ateve à convicção que entre Deus e nós, entre o seu eterno
Espírito criador e a nossa razão criada existe uma verdadeira analogia, na
qual, certamente as dissemelhanças são infinitamente maiores que as
semelhanças, não todavia até o ponto de abolir a analogia e a sua linguagem
(cfr Lateranense IV). Deus não se torna mais divino pelo fato que
O distanciemos bem longe de nós num voluntarismo puro e impenetrável, mas
o Deus verdadeiramente divino é aquele Deus que se mostrou como “Logos” e como
“Logos” agiu, e age, cheio de amor em nosso favor. Certamente, o amor
"ultrapassa" o conhecimento, e é por isso capaz de perceber mais do
que o mero pensamento (cfr Ef 3,19), todavia, ele permanece o amor do
Deus-”Logos”, para o qual o culto cristiano é “espiritual" – um culto que
concorda com o Verbo eterno e com a nossa razão” (cfr Romani
12,1). (Bento XVI, Discurso na Universidade de
Ratisbona, “O melhor do pensamento
grego é “parte integrante da fé cristã”, 12 de Setembro de
2006,http://www.quemesa.espressonline.it/dettaglio.jsp?id=83303). Resumidamente,
Duns Scoto divergiu da Filosofia tomista em alguns pontos fundamentais que
darão início ao desmoronamento de toda a Escolástica, quer pelo misticismo de
Eckhart, quer pelo racionalismo voluntarista de Ockham:
1) Univocidade do ser: Para Duns
Scoto, o conceito de ser seria unívoco, e não analógico, como ensinava o
tomismo. Portanto, ou se identificava o mundo a Deus, pela negação da matéria,
ou Deus ao mundo, pela negação de todo o sobrenatural. Daí, Duns Scoto
negar o princípio da analogia do ser.
2) Negação da analogia: Esse erro
levaria ao repúdio do mundo caindo na Gnose, com Eckhart, quer à
identificação de Deus com o mundo, caindo no panteísmo racionalista de Ockham.
3) Voluntarismo: a vontade divina não agiria com
base na Sabedoria: Não havendo analogia, Duns Scoto acabava por
negar que toda a ação de Deus partia do Princípio, do Verbo. E “No princípio era o Verbo” (Jo
I,1). Deus criou tudo em sua sabedoria. Todas as coisas criadas foram
feitas pelo Verbo, e sem Ele nada foi feito. Por isso, tudo é inteligível, pois
todo ser é verdadeiro. O Verum é um transcendental do
ser. Para Duns Scoto isso não seria assim. Para ele, Deus poderia ter
feito um mundo ao contrario deste que Ele criou. Toda ordem seria arbitrária e
não teria fundamento na Sabedoria de Deus, e Deus poderia ter feito um decálogo
oposto ao que deu no Sinai, erro esse que será explicitamente defendido por
Ockham. Daí, Duns Scoto colocar a vontade acima do intelecto, o amor acima
e independente do Conhecimento. Como disse o Papa Bento XVI em Ratisbona: “Em
contraste com o assim chamado intelectualismo agostiniano e tomista, iniciou-se
com Duns Scoto uma impostação voluntarística, que afinal levou à afirmação de
que, de Deus, conheceríamos apenas a “voluntas ordinata”. Além dela, existiria
a liberdade de Deus, em virtude da qual Ele teria podido criar e fazer também o
contrário de tudo aquilo que efetivamente fez”.
b) O Irracionalismo e a
filosofia dialética do gnóstico Mestre Eckhart.
Mestre Eckhart negará a analogia tomista, afirmando
existir no ser criado uma intrínseca oposição dialética. Se Deus era Ser, a
criatura seria não-ser. Se Deus fosse o nada absoluto, então a criatura seria ser.
Ser e não ser se oporiam em todas as coisas, como o ying e o yang da doutrina
do taoísmo. Para Eckhart, a razão enganaria o homem. A matéria seria má. Toda
intelecção seria absurda e o homem nada poderia desejar, nem mesmo se poderia
desejar o céu ou a virtude, nem se deveria desejar amar a Deus, devendo-se
atingir um nada sem desejo, como no budismo.Para Eckhart, só existiria o
universal, e jamais o individual, visto que a individualidade provinha da
matéria, princípio do mal.A Filosofia de Eckhart vai ser um misticismo
inteiramente gnóstico, que servirá de base para os erros dos Irmãos do Livre
Espírito.Eckhart foi condenado por João XXII já em 1329, enquanto na opinião
comum dos historiadores, a Idade Média iria terminar somente em 1453.
c) A filosofia nominalista, racionalista e panteísta de Guilherme de
Ockham, foi condenada também por
João XXII, anulava toda noção de verdade e de moral universais.Para Ockham, não existiria o universal, mas apenas
o indivíduo. Portanto, a matéria era alçada à condição de única realidade. Nada
haveria de universal, nem verdade e nem lei. Ockham vai lançar as bases do
materialismo, do racionalismo e do empirismo da filosofia moderna.De Ockham nascerá a idéia da supremacia da matéria
sobre o espírito, do Imperador sobre o Papa; do Estado sobre a Igreja. E Ockham
foi contemporâneo e inimigo de Eckhart.
d) As novas "doutrinas políticas estatistas."
Os erros da filosofia política de Marsílio de
Pádua, autor do Defensor Pacis, prepararam
o Estado Moderno, absolutamente laico, independente da Igreja e livre de toda a
Moral. Lutero vai defender não só a completa independência
do Estado em relação à Igreja e ao Papa, como também vai atribuir ao Soberano
poderes religiosos fazendo do Rei um papa em seu reino.
e) A Decadência da
Filosofia Escolástica:
No século
XV, as heresias de Eckhart e de Ockham, assim como os primeiros influxos
secretos da Cabala, levaram a Filosofia ao delírio.Alguns
filósofos como Jean de Méricourt e Nicolau d´Autrecourt defenderam a tese da santidade
do pecado, que Lutero transformará em tese básica da moral protestante.
f) O Humanismo
A Academia
Platônica de Florença, dirigida por Marsílio Ficino, que aceitou e difundiu as
doutrinas gnósticas do Hermes Trismegisto, influiu poderosamente no
Renascimento. Botticelli, Verrochio, Leonardo, Michelangelo foram artistas que
expressaram a Gnose hermética em suas obras de Arte, com o fim de combater a
doutrina católica.Essa
influência do hermetismo na modernidade foi de tal grau, que Francês A. Yates
afirmou: “Foi a magia, com o auxílio da Gnose, que começou e imprimiu à
vontade um nova direção” (Francês A. Yates, Giordano Bruno e a Tradição Hermética,
Editora Cultrix, São Paulo, 1995, p. 180).
III – AS TRÊS REVOLUÇÕES DESTRUIDORAS DA SOCIEDADE MEDIEVAL
Tendo visto o esquema da sociedade medieval e as causas mais remotas da
Revolução protestante de Lutero, vejamos agora como se concatenaram as três
revoluções destruidoras da Sociedade medieval.Esse quadro
é que nos foi explicado por Plínio Corrêa de Oliveira, em 1952, em suas aulas
na PUC, e que ele expôs, de modo bem sucinto e muito superficialmente, em seu
pequeno opúsculo Revolução e
Contra Revolução, editado em 1959, livro que é tido como uma espécie de
Bíblia ou Corão da TFP e dos Arautos do Evangelho, todos eles cultuadores de
Plínio como santo e profeta de um reino milenarista, que estaria sempre para
surgir, e que é sempre adiado para… “o
ano que vem… Em Jerusalém”.Vejamos, então, agora esse quadro das três
revoluções: Antes,
porém, uma nota importante: uma Revolução só eclode, quando se dá a síntese
dialética do Panteísmo racionalista com a Gnose irracionalista, dando-se o
curto circuito dialético-revolucionário.
1a Revolução: A Reforma e o Renascimento (1517)
A data de
1517 foi posta, aí, por ser o ano da revolta de Lutero, e a de um ano do período
de apogeu do Renascimento.A Reforma luterana defendeu as seguintes idéias
fundamentais:
1 —
Igualdade Religiosa.O
luteranismo resultou da síntese dialética da Gnose irracionalista de Mestre
Eckhart com a filosofia racionalista do nominalismo de Ockham.Pelo livre exame
da Bíblia, Lutero fez de
cada fiel um Papa. Lutero proclamou que cada fiel, ao ler a Bíblia, seria
inspirado diretamente pelo Espírito Santo, de tal modo que a interpretação de
cada um seria infalivelmente verdadeira. Cada um, lendo a Bíblia, poderia
identificar sua razão com o próprio Espírito Santo.Desse modo,
o Papa se tornava desnecessário. E não só o Papa, mas também todo o clero. Para
quê ouvir a explicação da religião por um membro do clero, se era possível
receber sempre a inspiração divina do próprio Espírito Santo?Cada fiel era o
seu próprio Papa, Bispo e Sacerdote.O
Protestantismo, negando a autoridade divina e infalível do Papa, caiu na
contradição de tornar todo mundo Papa. Foi o livre exame da Bíblia que derrubou
o Clero como classe social. Lutero, negando o poder papal, derrubou o pilar
fundamental da sociedade medieval.
2 — Cada
Príncipe seria o chefe do Estado e da Religião em seus territórios. Lutero, por
política, para obter a proteção da Nobreza contra o poder do Imperador, tirou a
primeira conseqüência do livre exame: cada príncipe
seria um papa em suas terras.Desse modo, ele apoiava as teses de Ockham e de
Marsílio de Pádua a respeito da supremacia do Estado sobre a Igreja, do
Imperador sobre o Papa.Isso agradou muito a muitos nobres alemães que
estavam em grande crise econômica.Com efeito,
os impostos feudais haviam sido fixados para sempre lá pelo século VIII. Com o
tempo e com a inflação crescente, especialmente após as descobertas marítimas e
o conseqüente enorme afluxo de ouro, os preços aumentaram muito, e como esses
nobres recebiam uma renda fixada pelo costume, eles ficaram arruinados. A esses nobres empobrecidos Lutero oferecia o CANTO DAS SEREIAS: "o poder
religioso, o que significava dominar as riquezas e terras da Igreja."Naturalmente,
muitos nobres se deixaram arrastar pela tentação de se apoderar das riquezas da
Igreja, e, por isso, apoiaram a Reforma luterana.Outros
nobres, menos afetados pela crise econômica, apoiaram Lutero, por causa que
tinham aderido aos princípios do
humanismo pagão, como foi o caso do Duque da Saxônia, o maior protetor de
Lutero.
3 —
Maior liberdade na Moral.O princípio
luterano de que a salvação vinha pela Fé sem as obras, e que quanto mais alguém
pecasse, mais provaria que acreditava no perdão de Deus atraiu para Lutero
todos os que desejavam pecar à vontade. Padres corruptos apoiaram Lutero,
porque ele defendeu o fim do celibato e dos votos
religiosos, especialmente o de castidade.Lutero defendeu também o divórcio e permitiu até a
bigamia do Príncipe Felipe de Hesse.Uma onda de
imoralidade arrastou para a Reforma luterana a multidão dos corruptos. Pela
Reforma, Lutero não pretendia, de modo algum, a reforma dos costumes
corrompidos do clero. Pelo contrário. O que Lutero queria era reformar a Moral
dos dez mandamentos, permitindo o que era proibido, tornando lícito, o que era
ilícito.Lutero adotou então a tese gnóstica e cabalista
da santidade do pecado, ao lançar seu princípio: “Crê firmemente, e peca
muito”. Era a
exaltação da mística gnóstica de Mestre Eckhart e dos Irmãos do Livre Espírito
que Lutero adotava, unindo o irracionalismo de Eckhart com o racionalismo da
filosofia nominalista de Ockham.Foi esse
curto circuito racionalista – irracionalista que deslumbrou ambas as correntes
heréticas que se digladiavam nas Universidades, e que, agora, se uniram
dialeticamente — por um pouco de tempo – na exaltação do profeta racionalista e
místico de Wittemberg.O Renascimento registrou, também ele, a
síntese dialética da ciência racionalista, então em desenvolvimento, com a Gnose
irracionalista do hermetismo:Leonardo foi
exemplo vivo dessa síntese, com seus estudos e invenções científicas, com a
magia hermética aprendida por ele através de Marsílio Ficino, na Academia
Platônica de Florença.O Renascimento
e o Humanismo defenderam idéias correlatas, senão idênticas, o primeiro nas
Artes, o segundo nas letras e na Filosofia. Reforma e Renascimento foram o
primeiro triunfo do Antropoteísmo, da Religião do Homem – do Humanismo — que
viria a alcançar seu triunfo final no Discurso de encerramento do Concílio
Vaticano II, quando Paulo VI declarou:“Reconhecei-lhe pelo menos este mérito, ó vós humanistas modernos,
que renunciais à transcendência das coisas supremas, e saibais reconhecer o nosso novo humanismo:
nós também, Nós mais do que qualquer outro, nós temos o culto do homem"(Paulo
VI, Discurso de Encerramento do
Concílio Vaticano II, 7 de Dezembro de 1965).
O Renascimento defendeu as seguintes
idéias fundamentais:
1 — O Soberano deveria ser chefe do Estado e da Religião:O Renascimento queria fazer ressurgir a cultura pagã greco-romana morta há mil
anos. Ora, pela cultura clássica, o Imperador era soberano absoluto dirigindo o
Estado e a Religião. César era até adorado como Deus.Conseqüentemente,
todo soberano seria independente do Papa, e governaria a Igreja em seus
territórios.Daí, Henrique VIII ter fundado a religião Anglicana. Daí, o
Galicanismo de Luis XIV.Vê-se claramente então que esta idéia fundamental do
Renascimento coincidia com a segunda idéia fundamental da Reforma Luterana.
2 — Moral pagã contra a Moral cristã.O Renascimento, adotando as doutrinas gnósticas do
Hermetismo, atacou a moral cristã, ensinada pelo Clero. Evidentemente, isto
opôs o Renascimento ao Clero católico, ainda que Papas e muitas autoridades
eclesiásticas de então adotassem a filosofia e a moral pagã do Renascimento.Resultado das
idéias da Reforma e do Renascimento foi a derrubada do Clero como Estado social
supremo na sociedade. Portanto, o lugar do Clero foi assumido imediatamente
pela Nobreza, elevada ao ápice social.O esquema da sociedade, após a Revolução da Reforma
e do Renascimento passou a ser o seguinte:
Nobreza
_ _ _ _
_ |
|
Burguesia $
| Camponeses e Artesãos
Estabelecendo
a igualdade religiosa, e elevando a Nobreza à antiga posição do Clero, Reforma
e Renascimento aumentaram a desigualdade política entre a Nobreza e a
Burguesia.Isto colocou o gérmen de uma nova Revolução.Pois se os homens são iguais na Religião, e se cada
fiel pode ser Papa, por que tanta desigualdade entre Nobreza e Povo?Não disse
Lutero que deveria ser aplicado ao Povo o princípio que todo fiel era um
sacerdócio real? Isto é, que o povo devia ser tido como Sacerdote e Rei? Por
que então tanta desigualdade na política, se todos eram iguais em coisa mais
fundamental como a religião?Se os homens
são iguais na religião, com maior razão deveriam ser iguais também
politicamente. Todos teriam igual direito de escolher seus governantes ou de
governarem, e não só o filho do Rei poderia ter o direito ao governo.Da Reforma protestante, então, nasceu a Revolução
Francesa de 1789.
2a Revolução: A Revolução Francesa de 1789
A Revolução Francesa aplicou os princípios e as
idéias da Reforma protestante à ordem política, através de seu lema de
Igualdade, Liberdade e Fraternidade.
1 - Igualdade política - A Revolução
Francesa de 1789, assim como sua predecessora, a Revolução Americana de
Washington, em 1776, aplicaram ao campo político os princípios revolucionários
da Reforma protestante. Assim como a Reforma defendeu a
igualdade religiosa, a Revolução Francesa defendeu a igualdade política. Todos
teriam direito de votar, para escolher um governante, e todos poderiam ser
votados para governar um país.
2 – Liberdades políticas - Além da
igualdade, a Revolução Francesa pregou a adoção das liberdades de religião e de
consciência; a liberdade política; a liberdade de imprensa; a liberdade de
educação; a liberdade de comércio separada de qualquer moral; a liberdade de
propaganda e a liberdade artística absoluta, hoje chamada liberdade de
expressão.São essas as liberdades para o erro e para o mal,
as liberdades que o Papa Leão XIII chamou, com Santo Agostinho, de liberdades
de perdição.Essas idéias
de igualdade e de liberdade políticas formam o cerne do liberalismo.Com essas
idéias de igualdade política a Revolução Francesa guilhotinou o Rei Luis XVI, e
liquidou a Nobreza e os direitos feudais. Todos os títulos nobiliárquicos foram
anulados e proibidos.
POVO PASSA DE SÚDITOS PARA CIDADÃOS:
Grifo meu: “Interessante
é que se na Revolução Francesa o povo passa de Súditos para Cidadãos, no Regime
Comunista é um retrocesso de Cidadania para a Vassalagem ao regime e seus
dirigentes.” - Todos os
súditos foram reduzidos à categoria de cidadãos.A Liberdade da Revolução Francesa
fez a Guilhotina e a Lei dos Suspeitos que permitia matar sem direito de
defesa, quem fosse acusado de suspeito de
ser contra a Revolução.A
Fraternidade era pregada com o lema: “La Fraternité ou la Mort”.
(Fraternidade ou Morte), lema que poderia muito bem ser assinado por Caim.A
única desigualdade que restou foi a econômica, distinguindo-se os cidadãos
apenas por sua fortuna.Com a
destruição da Nobreza como classe social, a Burguesia assumiu a liderança na
sociedade, e o dinheiro passou a ser o único critério de valor e de
classificação dos homens. Quem tivesse dinheiro, teria todos os valores.Desta forma, o esquema da sociedade passou a ser o
seguinte depois de 1789:
Burguesia $ |
_ _ _ _ _ _
_|
_ _ _ _ _ _ _|
| Camponeses e Artesãos
Com a aplicação da igualdade política, cresceu a
desigualdade entre Burguesia e as classes trabalhadoras manuais. Ascender socialmente ficou, então, muito mais difícil do que antes!Por outro
lado, se a igualdade era considerada um bem, quando aplicada à religião e à
política, por que deveria subsistir tanta desigualdade na economia e na
propriedade?Se a igualdade, em si mesma, é um bem, então
deveria haver também igualdade econômica e igualdade de propriedade. E foi o
que propugnou a Revolução Russa de 1917:
3a Revolução: Revolução Russa de 1917
As idéias fundamentais da Revolução Russa
foram duas:
1a Igualdade econômica: Isto quis ser alcançado pela eliminação do direito de propriedade
particular. Tudo passou a ser do Estado.
2a Liberdade Absoluta: Esta liberdade total do Homem só seria alcançada pelo ateísmo, que
livraria o homem da obediência aos mandamentos do Criador. Isto implicava na
negação de toda a propriedade e da família, defendendo-se mais do que o
divórcio, o amor livre. Negava-se ainda qualquer direito dos pais sobre os
filhos, que pertenceriam ao Estado.Essas três
revoluções formaram um processo de causas e de efeitos interligados, pois que a
Reforma foi mãe da Revolução Francesa, e esta gerou a Revolução Russa. Assim, como
um resfriado, se não for sanado, produz uma gripe, e esta, por sua vez, caso
não seja debelada, pode produzir uma pneumonia e levar à morte, assim o vírus
das três revoluções foi a idéia de igualdade como um bem em si mesma.A Revolução
é, pois, um processo histórico, que, em três etapas, — Reforma, Revolução
Francesa, Revolução Russa — destruiu a sociedade medieval, para implantar a
igualdade completa.
IV – ENSINAMENTO DE PIO XII SOBRE AS TRÊS REVOLUÇÕES
O Papa Pio
XII, tratando desse tema das três Revoluções, genialmente ensinou que elas
renegaram os três fundamentos da Fé
Católica: Deus, Cristo e a Igreja.
Foram "quatro os graus de apostasia", cada uma mais
profunda que a outra:
1º)-A
Reforma luterana proclamou que aceitava Deus e Cristo, mas que repudiava a Igreja!
2º) -Da crença católica em Deus, em Cristo e na Igreja, Lutero eliminou a
Igreja.Bastava crer apenas em Deus e em Cristo. E não na Igreja.Herege é aquele que coloca o seu juízo particular no lugar do juízo da
Igreja. Lutero, proclamando o livre exame da Bíblia, fez da essência da heresia
o princípio fundamental do protestantismo. O protestante é o herege por
excelência. O livre exame da Sagrada Escritura faz de cada protestante o seu
próprio Papa, e constitui cada indivíduo como o único membro de sua
“igreja”. Não há dois protestantes de uma mesma seita, porque cada um tem
a sua própria e única interpretação da Bíblia. Cada um deles se julga A
Igreja. No protestantismo, o homem
se faz a Igreja.Daí a multiplicidade das seitas protestantes, desde a Igreja
Evangélica Sabão, Sopa, e Salvação, até a seita Igreja Evangélica
Bola de Neve, aquela que vai para o abismo.Protestante é aquele que
acredita não que “o Verbo se
fez carne” – “Verbum caro
factum est” (Jo. I, 14), mas que o Verbo se fez livro: a Bíblia.Todo
protestante faz da bíblia um ídolo.
3º)- A
Revolução Francesa levou a apostasia mais adiante: não só negou a Igreja, mas
negou também a Cristo. Ela dizia aceitar apenas a Deus. Mas um Deus
vago,(GRANDE ARQUITETO),que ora foi o Ser Supremo, ora, a Razão. Para a
Revolução Francesa e para o Liberalismo, se há um Deus, não sabemos o seu nome.
Ela defendeu o deísmo.Ora, como Cristo é a Verdade, ao recusar Cristo, a Revolução Francesa repudiou a
Verdade objetiva.Daí, o
subjetivismo radical do Liberalismo — seguidor da Filosofia idealista
subjetivista dos filósofos alemães — e do Romantismo, que é o Liberalismo na
Arte. Cada sujeito teria a sua verdade pessoal. O que cada um pensasse, a
opinião de cada um, isso, seria o real.Assim como Lutero proclamou o livre
exame da Bíblia, o subjetivismo da Filosofia Idealista alemã e da Revolução
Francesa proclamou o livre exame do mundo. O livre exame da realidade.Ora, foi no
Verbo que Deus fez todas as coisas, e quando Deus tinha idéia de uma criatura
em sua Sabedoria — no Verbo — a coisa passava a existir. O subjetivismo da
Revolução Francesa, do Liberalismo e do Romantismo fazia de cada sujeito o
equivalente ao Verbo de Deus, pois o que cada sujeito pensasse assim seria a
realidade. O pensamento criaria o real. O indivíduo se colocava como o Verbo
divino. Negando a Cristo, cada indivíduo se colocava como Cristo. No subjetivismo, o homem se faz Cristo.No
subjetivismo liberal, a razão individual se torna completamente independente do
real, e se pretende geradora da verdade. Antes mesmo de introduzir o culto da
Razão em Notre Dame de Paris, o idealismo subjetivista já havia introduzido o
culto da Razão em cada cidadão.E se cada
razão individual gera o real a seu bel prazer, então se faz uma negação completa
do real, admitindo-se apenas o ideal subjetivo. Ora, a negação da realidade é a
negação da verdade enquanto tal. Recusar a verdade conhecida enquanto tal
é exatamente a definição de pecado contra o Espírito Santo. A recusa do real é
a recusa do ser como Deus o fez, que é o equivalente do verum e do bonum, dois
dos chamados transcendentais do ser. E é tipicamente atitude gnóstica negar o
bem da criação tal qual Deus a fez. Há, pois, um fundo de Gnose, no
liberalismo, e no subjetivismo, o que fará do Romantismo — liberalismo na
Arte–, um movimento gnóstico. Ser Romântico é ser revolucionário e ser também
um gnóstico. Negando a Verdade, o Liberalismo é mentiroso.
4º)-Finalmente,
numa quarta apostasia, se nega o próprio Deus.A Reforma negou a Igreja. Fez de
cada protestante a Igreja. A Revolução Francesa negou a Cristo. Fez de cada cidadão
o Verbo, Cristo, a Verdade.A Revolução Russa negou a Deus. Fez de cada homem
Deus.A Revolução Russa foi e é atéia. Para ela nada
vale: nem a Igreja, nem Cristo, nem Deus.O comunismo
é a suprema apostasia, que coloca o Homem no lugar de Deus. Ela foi o triunfo
da impiedade. Foi a instauração da Cidade do Homem triunfante no mundo sob a
forma de humanismo. Foi o triunfo do antropocentrismo iniciado na Idade
moderna. Com a revolução russa de 1917, o Homem se fez Deus.
V – FORMAS DE
GOVERNO INSTITUÍDAS EM CADA REVOLUÇÃO
Evidentemente, cada uma das
três revoluções instituiu uma forma de governo de acordo com sua
doutrina!
1 - A Reforma e o Renascimento instauraram uma Monarquia Absoluta,
que foi uma caricatura de Monarquia. Uma Monarquia hipertrofiada, anti
aristocrática, que solapou sua própria raiz. O monarca absoluto foi um tirano
que pretendia ser César, soberano, ao mesmo tempo, do Estado e da Igreja. Um
Rei que, conforme a Reforma, queria ser Papa, e, conforme o Renascimento,
queria ser César.Para isto os Reis absolutos deviam combater dois adversários:
o Papa e a Nobreza feudal. Deviam combater os direitos da Igreja e eliminar os
direitos feudais.Luis XIV,
típico Rei absoluto da França, afirmava; “L’ État c’ est moi” (O Estado sou eu) e pretendia ser o
único proprietário da França, afirmando que se havia propriedades particulares
em seu Reino, era por tolerância dele. No fundo, se comparado com São Luis, ele
parecia um Lênin coroado.Na religião,
ele favoreceu o Galicanismo, limitando o poder da Santa Sé sobre a Igreja, na
França. Nomeava Bispos, e abades a seu bel prazer, dando títulos e direitos
religiosos a seus cortesãos. Bulas papais só valiam na França caso o Rei as
permitisse.O Rei
absoluto tentava destruir todos os privilégios feudais, sem o conseguir. Tinha
menos poder que qualquer prefeito de hoje, mas pretendia ser um Trajano.O
palácio de Versailles, embora majestoso e esplêndido exemplar de arte barroca,
tinha todos os defeitos do racionalismo e do otimismo panteísta do barroco. Se
artisticamente era espetacular, fisicamente tinha o mau cheiro de uma sentina,
e moralmente tresandava luxúria.Também
Henrique VIII da Inglaterra foi um rei absoluto, que fundou uma nova religião:
o Anglicanismo. Essa seita começou, porque o rei queria divorciar-se,
e depois casar-se de novo. O que aconteceu seis vezes. Como na Roma
antiga pagã, o capricho de César foi lei.Se o
absolutismo monárquico fez triunfar a heresia na Inglaterra, enquanto na França
o Galicanismo foi menos pujante, isso foi porque desde o século XII, o Rei
Henrique II tentou instaurar o absolutismo impondo seus caprichos à Igreja, o
que levou ao martírio de São Thomas Becket.Os soberanos
absolutos instituíram as Cortes, reduzindo a Nobreza a um conjunto de “bibelots” corrompidos, ou a lacaios
servis. Fazendo uma Corte em que os nobres viviam como numa gaiola dourada (mordomias) sem
nada fazer, os soberanos absolutos destruíram a aristocracia.Depois do
que, sem o apoio de suas raízes nobres, ficou fácil para a Burguesia derrubar
um rei sem príncipes.Além disso,
os Reis absolutos, para colocar a Nobreza de lado, fizeram exércitos
permanentes constituídos por mercenários. O que lhes causava enormes despesas.
Para pagar tais despesas, e às do funcionalismo necessário a uma monarquia que
pretendia cuidar de tudo, os reis absolutos tiveram que se socorrer de
empréstimos dos grandes banqueiros burgueses.E quem paga,
manda.O Rei absoluto se enforcou num cifrão, antes de ter a cabeça decepada na
guilhotina.
2 - A Democracia liberal foi o regime instituído pela Revolução Francesa.Segundo a
doutrina Católica, há três formas de governo possíveis e legítimas, que buscam
o bem comum: a Monarquia simples, a Aristocracia e a Democracia. Não se julgue, porém, que a Democracia que a Igreja aceita a Democracia
liberal, regime movido a dinheiro, para controlar a propaganda, a mídia, e as
eleições. A Democracia liberal afirma a igualdade de direitos políticos, o
sufrágio universal, coloca a origem do poder no povo, não em Deus, o
direito de revolução, o ateísmo ou o indiferentismo do Estado face à Deus,
idéias essas todas condenadas pela Igreja. A Democracia
liberal quer a liberdade de religião, e a separação entre a Igreja e o Estado.A
união entre Igreja e Estado só não permite que as seitas heréticas propaguem
organizada e publicamente seus erros, pois o erro não tem direito de ser
publicamente ensinado.
3 – O regime de governo estabelecido pela Revolução Russa é pura e
simplesmente a Tirania Comunista.Na tirania
bolchevista, não se respeita a lei natural. Não há direito de propriedade
particular. Visa-se a destruição da família. Nega-se o direto dos pais a educar
os filhos. Admite-se o amor livre. O ateísmo é propagado pelo Estado e se
nega qualquer direito à religião.
VI – AS TRÊS REVOLUÇÕES NA FILOSOFIA
Assim como
houve três revoluções na Cristandade, houve necessariamente também três
revoluções na Filosofia, porque evidentemente cada Revolução se
fundamentava em uma cosmo-visão própria.Nessas
revoluções filosóficas, constatamos a existência de duas correntes, que, como
duas serpentes, uma vermelha outra branca, se enrolam uma na outra. Uma é a
serpente do Panteísmo racionalista. Outra a da Gnose irracionalista.O Panteísmo
racionalista diviniza o mundo material.A Gnose
irracionalista vê o mundo material como o calabouço do espírito divino nele
aprisionado. E o que dificulta a compreensão desse problema é o fato que tanto
o Panteísmo como a Gnose, admitindo um pensamento dialético, isto é, a
identidade dos contrários, fazem do espírito matéria sublimada, e da matéria
espírito cristalizado.Os contrários seriam idênticos. Portanto, para o
pensamento dialético, o racionalismo é a irracionalidade, e o irracionalismo
seria a racionalidade.
1a Revolução na Filosofia: o Cartesianismo
A Reforma e
o Renascimento resultaram da fusão dialética da Gnose irracionalista de Mestre
Eckhart com a filosofia racionalista do Nominalismo de Frei Guilherme de Ockham.
Daí, ser possível constatar dois veios dialeticamente opostos na Reforma e no
Renascimento.Na Reforma,
um é o Protestantismo racionalista com pretensões cientificista, no exame da
Bíblia, com clara tendência panteísta. Outro, o Protestantismo alumbrado,
pentecostal, que se crê movido irracionalmente pelo Espírito Santo, e que se
revela como claramente gnóstico.Por sua vez,
um é o Renascimento racionalista, epicurista e materialista. Outro é o
Renascimento gnóstico, mágico, irracionalista do hermetismo de Marsílio Ficino
e de seus discípulos, como Botticelli, Verrochio, Leonardo e Michelangelo.Por isso, a
Filosofia correspondente à primeira Revolução foi o Cartesianismo, que continha
em si, tanto um veio racionalista, como um veio irracionalista, subjetivista.No princípio da Filosofia Moderna de Descartes está a afirmação: "Cogito, ergo sum" ("Eu
penso,logo eu sou").No
cartesianismo, pela primeira vez a Filosofia deixa de partir do ser, para
partir do eu. O homem moderno não olha mais para a realidade exterior a si
mesmo, mas se volta para dentro de si. O primeiro conhecimento seria interior.Seria
o pensamento que daria existência ao real.É dessa
revolução antropocêntrica que nascerá, séculos depois, todo o subjetivismo e
relativismo da Modernidade. O conhecimento é do eu. O homem
deixa de buscar o conhecimento de Deus através das coisas criadas, mas a fonte
do conhecimento seria o eu e dele derivaria a realidade existente. A fonte do
conhecimento e do real estaria no mistério interior do homem, numa experiência
mística interior com algo imanente no homem.Tanto que o
próprio Descartes partiu de uma famosa experiência mística interior, de uma
visão que o “iluminou”.Deus estaria
no homem, e de modo substancial, como dizia a velha Gnose.Com Descartes o
imanentismo irrompia, de novo, na História. A filosofia cartesiana, pondo em
duvida o real, iniciava uma corrente negadora do conhecimento humano e,
portanto, defensora do irracionalismo. Descartes separou o intelecto humano da
realidade.Por outro lado — e dialeticamente — o método cartesiano afirmava
que a razão humana seria capaz de
conhecer toda verdade. Era o
otimismo racionalista panteísta e experimentalista, oriundo do nominalismo que
o cartesianismo aprofundava. Do cartesianismo, então, vão nascer duas
tendências opostas e dialeticamente iguais:
a) uma corrente
racionalista, materialista, tendente ao panteísmo, e que se manifestará mais
explicitamente no empirismo inglês, e, depois, nos filósofos da Enciclopédia, com
Voltaire, Diderot e D’ Alembert;
b) outra
corrente de caráter irracionalista, mística e gnóstica, que se manifestará mais
claramente no Pietismo protestante alemão, e no Quietismo francês, e cujo
principal divulgador foi Rousseau. Essa corrente irracionalista é que dará
nascimento à Filosofia idealista alemã.
Como a dialética faz coincidir os contrários como iguais, o racionalismo
e o irracionalismo se identificariam.Com efeito, mesmo um pensador moderno que não pode
ser elogiado, Karl Popper, mostrou o caráter dialético do racionalismo ao
mostrar que “O racionalismo é uma fé irracional na razão” (Karl Popper,
"A Sociedade Aberta e seu Inimigos",
ed. Edusp- Itatiaia, São Paulo- Belo Horizonte, 1974 , dois volumes, Vol. II,
p. 238).Pois se cada razão individual se
sabe limitada, como poderia a razão humana pretender entender
2a Revolução na Filosofia: o
Idealismo alemão
O fundamento mais profundo da Revolução Francesa e
do liberalismo que dela surgiu, sem excluir Rousseau, vem do Idealismo alemão
de Kant, e que foi posteriormente desenvolvido pelos gnósticos Fichte,
Schelling, Hegel e Schleiermacher.O
Idealismo alemão vai aplicar o livre exame de Lutero ao próprio ser. Kant foi
para o Protestantismo, — secundum
quid, claro – o que São Tomás foi para a Escolástica. O Idealismo vai
desenvolver as tendências subjetivistas subjacentes no “Cogito, ergo sum” de Descartes.Para o Idealismo alemão, a verdade seria subjetiva.
A idéia do sujeito conhecedor é que projetaria, na existência, o ser real. Da idéia
é que surgiria o mundo real. O ideal geraria o real.A verdade então não seria objetiva, mas sim
subjetiva, pessoal. Cada um teria
a sua verdade.Na Filosofia escolástica, a verdade foi definida como sendo a
correspondência entre a idéia do sujeito conhecedor com o objeto conhecido:
CONHECEDOR <——————————- VERDADE
IDÉIA DO
SUJEITO <——————————- OBJETO
CONHECIDO
A
inteligência capta o objeto como, analogamente, uma máquina fotográfica capta a
imagem de uma coisa. Todas as inteligências captam a mesma realidade.Por isso, a
verdade é Una, Imutável, Universal (em
qualquer lugar e em qualquer tempo, a verdade é sempre a mesma. 1 +1 = 2,
sempre e em toda parte) e Objetiva (é
o objeto que produz a idéia dele em nosso intelecto)Para a
filosofia idealista, a verdade seria o que o sujeito acha. A mera opinião
se identificaria com a verdade. Conseqüentemente, o Bem e a Beleza também
seriam meramente opinativos.Para o
Idealismo é a Idéia que produz o objeto. O pensar produziria o ser.Ora, isso só
é verdadeiro em um caso: no caso da criação de Deus. Isso só ocorreu com a
Sabedoria divina ao criar o mundo a partir do nada. Quando Deus
cogitou cada coisa, ela passou a ser tal qual Deus a concebera em seu Intelecto
divino. Por isso, está escrito que foi “na Sabedoria que Deus fez todas as coisas”, e que no Verbo de
Deus é que “todas as coisas foram feitas, e sem o Verbo nada
foi feito”.O Idealismo,
ao afirmar que, aquilo que cada sujeito pensa, passa a ser o real, faz de cada
inteligência individual, o próprio Verbo de Deus. O Idealismo divinizou o
homem.Foi do
Idealismo subjetivista que nasceu o relativismo, característico dos séculos
posteriores à Revolução Francesa e que hoje, no dizer de João Paulo II e de
Bento XVI, estabeleceu sua tirania sobre o mundo.
Não é só nos hospícios que cada louco tem a sua verdade! Na Democracia liberal
ocorre o mesmo! E se cada um tem a sua verdade própria, fica impossível
qualquer diálogo.
O Mundo
contemporâneo se tornou uma nova torre de Babel, onde cada um fala uma língua
particular, que ninguém mais entende. Todo mundo fala. Ninguém se entende. É a
era do Diálogo. É a era do ecumenismo, onde todos falam,supostamente se
respeitam, e ninguém se entende, e ninguém conhece mais a verdade objetiva.
3a Revolução
na Filosofia: o Marxismo ou Materialismo Histórico
Da afirmação
de que a verdade é subjetiva, isto é de que cada um tem a sua verdade pessoal,
logo se concluiu que então não há verdade.Para o
marxismo, havendo uma evolução contínua de tudo, não é possível ao intelecto
captar a idéia do que uma coisa é. Seria como se uma máquina fotográfica
estivesse sempre mudando, e como se o objeto que se quer fotografar mudasse
também continuamente. A fotografia seria impossível. A verdade não
existiria.Porém, essa frase: “a verdade não existe” é
auto-destrutiva.Pois, ou essa afirmação é certa, ou ela é errada!
1)-Se ela é
certa, nela estaria a única coisa da qual teríamos certeza, e nela estaria a
única verdade. Mas, então, a verdade existiria nela.
2)- Se a
frase acima afirma uma falsidade, então, o contrario dela estaria certo, e a
verdade existiria.
Nas duas
pontas do dilema, a conclusão é uma só: A VERDADE EXISTE.A negação da verdade pela doutrina marxista faz
com que, o comunista que realmente acreditasse nessa tese, teria cometido
o pecado contra o Espírito Santo consistente em negar a verdade conhecida como
tal, pecado para o qual não há perdão.
VII – AS TRÊS REVOLUÇÕES NA ARTE
A Arte,
segundo São Tomás, é a reta razão no fazer.Ela é a transposição de uma
Filosofia para um sistema de símbolos. O próprio Beethoven afirmava que havia
mais Filosofia em uma de suas sinfonias do que em um Tratado de Metafísica. Conforme Pio
XII, a Arte abre uma janela para o infinito. Com efeito, a Arte visa fazer
o homem conhecer a Deus através do conhecimento do bem, da verdade e da beleza
existentes nas coisas criadas. Daí, São Tomás definir: “Belo é o bem
claramente conhecido”. Ora, o que é se conhece claramente é a verdade.Portanto, Belo = Bem + Verdade.
1a Revolução na Arte: o
Renascimento
A Arte satisfaz a alma humana em seu desejo de Deus através do desejo de bem,
verdade e de beleza, dando um impulso à vontade para amar o bem; uma idéia
clara de verdade para a inteligência, e prazer estético, agradando a
sensibilidade.Ora, o
Renascimento, repudiou a idéia de que a Arte deveria ser moral. A aceitação da
falsa moral pagã fez o Renascimento querer representar prazerosamente o mal e o
pecado nas obras de arte.O Renascimento
afirmou a liceidade de representar o pecado com agrado e como bem. Prova disto
são as obras imorais nas artes plásticas e na literatura.Basta ler o
Príncipe de Machiavel para compreender a imoralidade do Renascimento. Basta
conhecer a doutrina gnóstica do hermetismo ensinada por Marsílio Ficino, para
estar convencido da imoralidade das obras renascentistas.Eliminado o
bem da obra de arte, o Renascimento colocou em primeiro lugar a satisfação do
intelecto.O
Renascimento admitia apenas que a arte devia ser clara, escandalosamente compreensiva, ainda
quando fosse esotérica, como nas obras de Botticelli, Leonardo e Michelangelo.
Nessas obras, a Gnose é clara para quem conhece o que significam aqueles
quadros e afrescos. (em trabalho futuro, exporemos o significado do verdadeiro Código usado
por esses pintores em suas principais obras). No
Renascimento é possível distinguir um veio racionalista, defensor do Panteísmo,
e outro veio irracionalista, mágico, e gnóstico seguidor da Gnose de Hermes
Trismegisto. Leonardo
reuniu esses dois erros dialeticamente opostos numa síntese muito
original. O racionalismo queria que as obras de Arte clássicas fossem
muito claras, obedecendo rigorosamente as leis da arte – (Unidade, variedade,
ordem, proporção, simetria, contraste, gradação, etc) — como também que
exprimissem muito clara, ou bem conseqüentemente, o que queriam. Claramente,
quando fossem obras exotéricas. Conseqüentemente, quando fossem feitas em
código, exprimindo doutrinas esotéricas.Além disso,
a obra de arte clássica deveria ser esteticamente agradável à sensibilidade.Portanto,
a obra de arte renascentista tinha como falha maior a ausência do bem que deixava
a vontade humana frustra e mutilava a obra de arte de um elemento essencial á
beleza que é o bem. Inicialmente,
os grandes gênios da Renascença conseguiram sintetizar o racionalismo panteísta
com o irracionalismo gnóstico. Porém, logo, esses opostos se repeliram, dando
origem à separação do Barroco otimista e alegre, do maneirismo tenebroso,
ilógico, inimigo da razão, pessimisticamente gnóstico.
Visto que esse tema é bem pouco conhecido, no Brasil, colocaremos aqui, alguma
citações retiradas de um nosso trabalho, mais extenso e específico sobre as Três Revoluções na Artert.org. br - As características do Maneirismo, filho do classicismo
hermético, em certo sentido, uma Contra Renascença, são, entre outras, as
seguintes:
1o - Rejeição da Realidade
Objetiva: "O maneirismo assinalou uma revolução na
história da arte (…) pela primeira vez a arte divergia
deliberadamente da natureza" (A. Hauser,Maneirismo, Ed.
Perspectiva, São Paulo, 1993, p. 16).
2o – Dualismo metafísico e
conseqüente pensamento dialético: Para o pensamento maneirista
"nada neste mundo existe de maneira absoluta, e o oposto de toda
realidade é também real e verdadeiro. Tudo se expressa em extremos opostos a
outros extremos, e é através desse pareamento paradoxal de opostos
que a afirmação significativa é possível. (…) a verdade tem
inerentemente dois lados, a realidade é bifronte e (…) aderir
à verdade e à realidade implica evitar toda super simplificação e abranger
coisas em sua complexidade" (A. Hauser, op. cit.,pp.
21-22). Daí, “a impossibilidade de alcançar a certeza a respeito
de qualquer coisa". (A. Hauser, op. cit. p. 21).
3o – Negação do conhecimento
racional e de certezas é, portanto, a terceira característica do
pensamento maneirista.
4o – Negação do ser;
só existe o devir - Negação da identidade do
ser: "Não somente a natureza da realidade externa e
objetiva se modifica de acordo com o ponto de vista subjetivo, não somente tudo
o que percebemos é ‘alterado e falsificado por nossos sentidos’, mas o ‘eu’
também muda tão acentuadamente de caso para caso que não há possibilidade de
captar sua verdadeira natureza (…) motivo pelo qual a dúvida é
lançada sobre a própria natureza e permanência do eu. Este foi o golpe
demolidor contra a fé na identidade do ser humano, do qual a cultura da
Renascença nunca se recuperou; sem isso não pode haver explicação para o
maneirismo, seja como visão de vida, seja como estilo artístico. A distorção
nas artes visuais, o uso exagerado e impaciente da metáfora na literatura, a
freqüência com que os caracteres no drama como outrem e questionam sua própria
identidade, são apenas meios de expressar o fato de que, enquanto o mundo
objetivo se tornou ininteligível, a identidade do ser humano foi abalada e se
tornou vaga e fluida. Nada era o que parecia ser, e tudo era diferente do que
denotava ser. A vida era disfarce e dissimulação e a própria arte ajudava não
só a mascarar a vida como a discernir sua máscara" (A. Hauser,
op. cit., p. 49).Expressão maior desse irracionalismo na arte foi,
posteriormente, o Romantismo. Foi do Maneirismo que vieram quer o
Romantismo lírico, sonhador, simbolista e gnóstico, assim como as correntes gnósticas
da Arte Moderna, como o Expressionismo, o Abstracionismo, e o Surrealismo, por
exemplo.
2a Revolução
na Arte: o Romantismo
Vimos que a Arte deve visar o Bem, a Verdade e a
Beleza. Assim como o Renascimento recusou buscar o bem através
da obra de arte, o Romantismo recusou buscar o bem e
a verdade. Na arte, o Romantismo quis buscar apenas o agradável.O
Renascimento separou a arte da moral, mas respeitou muito as leis da estética,
pois super exaltou a relação entre beleza e a razão. Ora, o Romantismo argumentou que
se o decálogo não devia ser respeitado na obra de arte, por que se deveriam
respeitar as leis estéticas, muito menos importantes do que os dez mandamentos?Deste modo, o Romantismo não fez mais do que tirar
as conseqüências lógicas dos princípios estéticos do Renascimento. Ele é uma
conseqüência do Renascimento e, além dessa relação lógica com ele, ele tem
também as mesmas fontes e princípios doutrinários: tanto quanto a Renascença, o
Romantismo é gnóstico e panteísta.Nele também se podem encontrar as
duas serpentes enroscadas do caduceu de Hermes. No romantismo lírico e
simbolista, se oculta a serpente gnóstica irracional e mágica. No Romantismo
racionalista do Naturalismo e do Realismo, se encontra a serpente do Panteísmo.O Romantismo vai levar mais adiante o processo
revolucionário na estética, declarando que a beleza nada tem a ver com a
verdade. A beleza não deveria ser nem moral nem lógica, mas apenas agradável,
satisfazendo então apenas à sensibilidade e não à inteligência (pela verdade) e
à vontade (pelo bem). E era lógico que o romantismo recusasse a união da beleza
com a verdade, dado que para a filosofia que o gerou – o idealismo – a verdade
objetiva não existe.Assim como o Romantismo esteticamente derivou do
Renascimento, teologicamente ele proveio do livre exame luterano. Lutero
asseverou que cada um podia interpretar a Bíblia a seu talante. O Idealismo e o
Romantismo afirmavam que cada um podia interpretar a realidade a seu modo
pessoal. O Romantismo, tanto como o idealismo, seu gerador, foi então o livre
exame da realidade.Para os idealistas assim como para os românticos,
na correspondência da idéia do sujeito ao objeto conhecido, o elemento
determinante era a idéia do sujeito. Era a idéia que criava o objeto. Portanto,
a verdade era subjetiva. Cada um tinha a sua verdade particular, não existindo
verdade objetiva. A realidade era subjetivizada, no sonho do lirismo, ou
renegada, no realismo e no naturalismo, por seus defeitos e falhas, por ser o
vale de lágrimas.Ora, essa rejeição da realidade e da verdade
conhecidas como tais coloca o Romantismo e o Idealismo como pecados contra o
Espírito Santo, pecado que não tem perdão. Daí, a impossibilidade quase total
de converter alguém que adira realmente ao Romantismo. Fala-se-lhe à
razão, ele responde com o sentimento. Argumenta-se-lhe com fatos, ele
contesta com mitos ou lendas. Coloca-se-lhes ante os olhos o real, ele contesta
com o sonho e a imaginação. Por isso é muito difícil
converter um romântico, porque nele há uma negação da verdade e da realidade
conhecidas como tais.Para o Romantismo, a beleza nada tinha que ver com
a verdade. Belo era o que agradava, ainda que fosse objetivamente feio. O
artista deveria, pois, se deixar levar por seu agrado pessoal e não pela razão.
A arte não teria que obedecer a nenhuma lei racional e objetiva. A estética
caía no subjetivismo e no relativismo.São conhecidas as raízes
esotéricas, cabalísticas e pietistas do Romantismo. As três raízes do
Romantismo – o esoterismo, o pietismo, o idealismo filosófico – eram
irracionalistas.Os esotéricos do século XVIII tinham uma doutrina tipicamente
gnóstica. Eles condenavam a razão e defendiam o sonho como meio de
apreensão do real:O mundo concreto seria falso. Ele era o produto do
pensamento – sonho da razão. O universo real só podia ser atingido pela
anulação da razão através do sonho, da hipnose magnética, do sonambulismo, do
"êxtase" ou das drogas. Ou por meio de uma intuição mística. A
anulação e a destruição da razão acabariam com a dualidade sujeito-objeto,
permitindo a unificação do eu com o mundo. E, nesta união, através do sonho,
seria reconstituída a inocência primeira do Éden e a união com a própria
divindade. Alcançar-se-ia a restauração do homem na inocência original.Os românticos esperavam para breve um Reino de Deus na terra – que Jacob
Boehme denominava o "tempo dos lírios", Lilienzeit –
reino do Amor, no qual a Lei seria abolida.Esse messianismo cabalista repercutiu no sonho
romântico de um futuro Reino do Amor, no qual ressoavam ecos das teorias
milenaristas do abade Joaquim de Fiore. Esperava-se para logo mais o
estabelecimento de um período de felicidade perfeita na terra, como uma volta
ao paraíso terrestre.Exemplo desse milenarismo romântico
se tem na expectativa certa seita a respeito de um “Reino de Maria”, em
que haveria cidades com ruas de cristal e catedrais de porcelana, com vitrais
de pedras preciosas…Todos os filósofos idealistas alemães foram
seguidores dos ideais gnósticos de Boehme, dos esotéricos e dos pietistas.
Quando eles descobriram as obras de Mestre Eckhart, eles viram nelas a
expressão de seu pensamento mais profundo.A visão dialética do ser da Gnose, de Eckhart e Boehme, será adotada por
Schelling, por Hegel e, depois, pelo próprio Marx.De todo modo, esotéricos, pietistas, idealistas
repudiavam a razão e levantavam contra ela a intuição – espécie de capacidade
mágica e não discursiva de que o homem seria dotado, e que lhe permitiria
alcançar o mundo invisível, passando por cima dos dados dos sentidos e dos
raciocínios lógicos.Essa mesma atitude face à realidade, à razão e ao
estudo, com super favorecimento à imaginação e ao sonho se encontra, por
exemplo, nos escritos de Plínio Corrêa de Oliveira, o “profeta” da TFP. E isso
revela uma aceitação, pelo menos em certo grau, da mentalidade revolucionária e
gnóstica do romantismo.G. Gusdorf, em sua importante obra a respeito do Romantismo afirma
explicitamente que:O Romantismo é uma renascença gnóstica (…) Schelling é um gnóstico, cujas convicções se
desenvolvem à medida que ele avança em idade, da mesma forma Baader;
a Naturphilosophie impõe à pesquisa científica códigos gnósticos.
(G. Gusdorf, Le Romantisme,
Payot, Paris,1993, I vol. p. 512).Também
Simone de Pétrement acusou a Gnose escondida sob os véus sonhadores e as brumas
misteriosas do Romantismo. Disse ela:"Pode-se dizer que reina, desde o romantismo, uma espécie de
dualismo pessimista e sentimental, análogo ao dos gnósticos. Ele consiste
sobretudo no sentimento que o homem está mal adaptado em sua própria condição,
que ele se acha angustiado, que ele precisa de outra coisa (como se ele fosse
estranho a si mesmo e ao mundo em que ele se acha, como s sua verdadeira
natureza não estivesse nesse mundo). Nós dissemos que os gnósticos são
românticos; nós poderíamos dizer igualmente que o Romantismo é gnóstico"
(Simone de Pétrement, Le Dualisme
chez Platon, les Gnostiques et Manichéens", PUF , Paris,
1947, p. 344).Com efeito,
o que a Revolução Francesa foi para a política, o Romantismo foi para a arte,
porque ambos, o Romantismo e a Revolução, são filhos do liberalismo.Ora, para o
liberalismo não existe verdade objetiva. Em criteriologia o liberalismo é
subjetivista: verdade é o que o sujeito considera como tal. A idéia que o homem
tem de um objeto variaria de sujeito para sujeito.Não havendo
verdade objetiva, o certo e o errado, o bem e o mal, o belo e o feio passam a
ser conceitos subjetivos. Belo é o que a pessoa considera tal. Belo é o que
agrada a um sujeito. Não haveria, portanto, nem beleza objetiva e nem regras de
beleza.O subjetivismo do romântico é uma revolta contra o racionalismo clássico e, ao
mesmo tempo, uma conseqüência dele. Lutero pregou o livre-exame da Bíblia. O
Renascimento "endeusou" a razão humana. Desses dois erros nasceu o
subjetivismo, pois que, sobre uma determinada questão, todas as opiniões seriam
certas e verdadeiras, ainda que contraditórias.O Romantismo foi o triunfo da imaginação sobre a razão, do subjetivo sobre o
objetivo, do sensível sobre o abstrato. O Romantismo é o sonho. É a imaginação
tentando negar a realidade e os sacrifícios que a vida traz consigo.O romântico sonha que na natureza não há nem espinhos nem lama. Seus
heróis – filhos de Rousseau – não têm pecado original, nem defeitos, nem
tentações. O Romantismo é uma tentativa de negar que o homem foi expulso
do Paraíso terrestre, ou a tentativa frustra de tentar voltar a ele,
clandestinamente, pela porta do sonho. O romântico é sentimental. Ele
busca sentir de modo exacerbado.Edouard
Schurré escreveu: "O sono, o sonho e o êxtase são as três portas abertas para o Além, de
onde nos vem a ciência da alma e a arte da adivinhação". (Edouard Schurré, Les Grands Initiés, in Alain
Mercier, op cit. p. 207).
3a Revolução na Arte: A Arte Moderna: negação da própria
Beleza!
O Renascimento separara a beleza do bem. O
Romantismo foi além, separando a beleza da verdade. A arte moderna fará a
última negação, ao repudiar a própria Beleza. Chegava-se ao fim do processo
anti-metafísico. A recusa de aceitar obonum levou ao repúdio
do verum e do pulchrum. Mas, de fato, o que se fez
foi repudiar o próprio ens, o próprio ser. A arte moderna é a
suprema manifestação de uma revolta metafísica. Ora, a essência da revolta
anti-metafísica é a Gnose. A arte moderna é uma arte que, repudiando o ser,
renega a Deus e o próprio homem, que é a sua imagem.Aniela Jaffé mostra que a arte moderna se constitui
como uma recusa ou fuga da Realidade. Paradoxalmente, a arte moderna que recusa
os dados racionais, pretende se apoiar nas descobertas da ciência moderna.
Diz A. Jaffé que freudismo, física nuclear e
biologia celular revelaram que o mundo que vemos não é real. Assim como nosso
verdadeiro eu estaria submerso nas profundidades misteriosas do inconsciente,
assim também o mundo material, analisado atomicamente, se desfaz em partículas
que são nada ou quase nada.Levada por esse mesmo espírito
desintegrador – negador – da realidade, a Arte Moderna, nega a realidade
objetiva, buscando uma "outra" Realidade superior e oposta àquela em
vivemos.Busca uma super realidade, desprovida de matéria,
exatamente como a que é proposta pela Gnose.Por isso, os artistas modernos,
em geral, consideram o universo criado como a obra de um Deus malvado, e que
seu inimigo, que a Bíblia chama de Serpente e Lúcifer, esse, sim, seria o deus
bom.
Hans Sedlmayr afirmou que a Arte Moderna revela “um
pensamento que renunciou totalmente à lógica, uma arte que renunciou à
estrutura, uma ética que renunciou ao pudor, um homem que renunciou a Deus"
(Hans Sedlmayr, La Rivoluzone dell’ Arte Moderna", Garzanti,
Milano, 1971, p. 111).Joaquim Inojosa no seu trabalho intitulado "O movimento Modernista em
Pernambuco" declarou: "Guerra à estética absoluta, à arte
oficial, à pintura de cópia. Guerra
ao belo como o fim da arte" (Apud Gilberto Mendonça
Teles, Vanguarda Européia e
Modernismo Brasileiro", Vozes, Petrópolis, 1977, p. 274). “Façamos corajosamente o "feio" em literatura, e matemos de
qualquer maneira a solenidade (…) É preciso cuspir cada dia no
Altar da Arte ! (…) Eu vos ensinei a odiar as bibliotecas e os museus,
preparando-vos para odiar a inteligência, despertando em vós a
divina intuição (…)" (F.T. Marinetti, Manifesto do Futurismo, Milano, 1912,
apud G. M. Teles , op cit. p. 93). A mesma
insuspeita Aniela Jaffé, tem textos impressionantes, confirmando o que dizemos:"O espírito em cujo mistério a arte estava submersa era um espírito
terrestre, aquele a que os alquimistas medievais chamavam de Mercúrio. Mercúrio
é o símbolo do espírito que estes artistas pressentiam ou buscavam por trás da
natureza e das coisas, "por trás da aparência da natureza - "O seu misticismo não era cristão, pois o espírito de Mercúrio é
estranho ao espírito "celeste". Na verdade, era o velho e tenebroso
adversário do Cristianismo que maquinava seu caminho arte adentro. Começamos a
ver aqui a verdadeira significação histórica e simbólica da "Arte Moderna".
tal como a os movimentos herméticos da Idade Média, ela deve ser compreendida
como um misticismo do espírito da terra, e, portanto, uma expressão de nossa
época de compensação ao cristianismo". (Aniela Jaffé, "O Simbolismo nas Artes Plásticas" ,
— in Carl G. Jung, "O
Homem e seus Símbolos" , Nova Fronteira, Rio de
Janeiro, — pág.263).É claro que
esse espírito da terra, identificado com o velho e tenebroso adversário
do cristianismo" tem um nome bem conhecido, que a própria Aniela Jaffé
vai acabar por exprimir:"No seu aspecto positivo, aparece como um "espírito da
natureza", cuja força criadora anima o homem, as coisas e o mundo. É o
"espírito ctônico" ou terrestre, que tantas vezes mencionamos neste
capítulo. No aspecto negativo, o inconsciente (aquele mesmo espírito)
manifesta-se como o espírito do mal, como uma propulsão destruidora.Como
já observamos", – prossegue Jaffé – "os alquimistas
personificaram neste espírito como o "espírito de Mercúrio", e
chamaram-no muito adequadamente de "Mercurius Duplex" (O Mercúrio de
duas caras, dual). Na linguagem religiosa do cristianismo, chamam-lhe
diabo." (A. Jaffé, op cit . pg. 267).Não há dúvida, pois, a Arte
Moderna é diabólica. Nela o Antropocentrismo se rebela contra o Criador, e,
pretendendo fazer o homem assumir o lugar de Deus, acaba por adorar o diabo.
VIII – AS TRÊS REVOLUÇÕES NA ECONOMIA
1a Revolução na Economia: o Mercantilismo:
O antropocentrismo da Modernidade
não podia senão desviar os olhos do homem para a terra. Em vez de ter por
finalidade alcançar o céu, o homem, considerando-se centro de tudo, só podia
colocar sua finalidade na terra e na matéria. Isto significou viver para este
mundo, para seus prazeres e para suas riquezas. O ouro passou a ser o fim do
homem, e não Deus.
2a Revolução
na Economia: o Capitalismo
Do Mercantilismo se passou ao
Capitalismo, que foi o liberalismo na economia!
3a Revolução na Economia: o Socialismo e o
Comunismo
Se o homem deve viver só para a
riqueza, se a vida é dinheiro, a vida existe apenas para produzir. Daí, Engels
ter definido o homem como um animal que trabalha. Com o Socialismo e o
Comunismo, o homem passou a ser visto como uma mera peça na engrenagem da
produção, visão para a qual o Capitalismo, o modo de produção capitalista, o
taylorismo, a produção em série, haviam muito contribuído.No Socialismo tolera-se a
propriedade particular apenas de bens de uso, sendo todo bem de produção
pertencente ao Estado.Na fase socialista, a família ainda é tolerada, mas mal
vista. Por essa razão, no socialismo, se admite o divórcio e se dá direito a
fazer aborto.No Comunismo, toda propriedade, quer de bens de uso, quer de bens
de produção, passa a ser do Estado. A família desaparece, instaurando-se o amor
livre, e os filhos passam a ser do Estado, que os “educa” no coletivismo.
Depois da queda do muro de Berlim,
parecia que não seria preciso mais provar como o socialismo é mentiroso, e como
ele só produz miséria, escravidão e terror. Mas, a sede de mentira e de absurdo
é inexaurível, no homem.Bem razão teve a Igreja ,quando, com Pio XI, condenou o
Socialismo como a antítese do Catolicismo, afirmando, na encíclica Quadragésimo Ano, que Catolicismo
e Socialismo são termos antagônicos, e que ninguém pode ser católico e
socialista, ao mesmo tempo. Como teve razão quando Pio XI, na encíclica Divini Redemptoris, condenou o
Comunismo como “intrinsecamente mau”.Claro que este quadro geral
apresenta apenas uma síntese, e que muito mais poderia ser dito destas três
revoluções, particularmente quanto às suas raízes gnósticas e panteístas,
causas maiores das crises revolucionárias, e não simplesmente as paixões, como
dizia e como escreveu Plínio Corrêa de Oliveira, simplificando, e, por isso,
torcendo e falseando o problema. Mas, esse aprofundamento, nós o faremos num
trabalho muito mais extenso em breve, Deo juvante.O Capitalismo tem como lema a
frase “Time is Money”, que na verdade, dever-se-ia traduzir não
como “tempo é dinheiro”, mas como “A Vida é dinheiro”, visto que a vida do homem se passa no
tempo. O Capitalismo respeitou ainda o direito de propriedade particular e a
livre iniciativa.
O direito de propriedade é um
direito natural e sagrado por dois mandamentos: não roubar, e não cobiçar as
coisas alheias.A livre iniciativa se fundamenta no próprio livre arbítrio
humano. Negar a livre iniciativa e o direito de propriedade particular
acarretam necessariamente a escravidão do homem pelo Estado.
FALHAS DO CAPITALISMO
1)- Mas, o capitalismo, sendo o liberalismo na economia, como o liberalismo,
separou a economia da Moral, e esse é o seu veneno maior. Para o liberalismo, o lucro passou a ser o fim fundamental, não se
considerando os meios de obtê-lo, se eram meios morais ou não.O capitalismo tem
nisso o seu erro maior. Por isso, o capitalismo também é revolucionário. E
quantos defendem o Capitalismo, como se nele houvesse apenas o bem do direito
de propriedade particular. Desse modo, a defesa do Capitalismo, sem distinção,
sem crítica de seus princípios imorais se torna uma defesa da Revolução.
2)- Outro ponto negativo do Capitalismo é a livre concorrência absoluta, que vê
como um mal qualquer intervenção do Estado na economia. É claro que um excesso
de intervenção do Estado na economia a atrofia, e a leva para o Socialismo, e,
conseqüentemente, produz a miséria.
3)- Mas, uma absoluta
não-intervenção do Estado permite que os grandes capitalistas eliminem os
pequenos comerciantes, e isso acaba por concentrar a riqueza nas mãos de
poucos, facilitando a introdução do Socialismo como salvadores messiânicos.Por isso, do Capitalismo
nascem logicamente o Socialismo e o Comunismo.
O homem, como disse Cortés, ficou com uma doença em
seu coração, que ele só queria “curar” com ouro. Na verdade, o ouro era um
falso remédio. Era, como a droga, um vício, que quanto mais se toma, mais
escraviza. O homem moderno se tornou escravo do ouro, o antropocentrismo foi um
modo de o homem adorar-se, por orgulho, de viver na avareza e na cobiça, pelo
amor da riqueza, e de viver nos prazeres, escravizado pela impureza. A Modernidade é a falsa cultura em que o homem
adora a si mesmo como a um Baal, ajoelhando-se diante dos três ídolos de seus
vícios principais: o ouro, o prazer e a soberba.Desse desejo de viver para a riqueza, nasceram os
sistemas econômicos revolucionários: o Mercantilismo, o Capitalismo e o
Socialismo.Do mesmo modo, que nos outros campos da atividade humana, houve também
três revoluções na Economia: o Mercantilismo, o Capitalismo, o Comunismo, um
causando o outro.O Mercantilismo — um capitalismo incipiente – foi o
sistema econômico do tempo do Renascimento e da Reforma. Ele foi o resultado do
abandono da concepção feudal, e vigorou praticamente em todo o período do
Absolutismo.O Estado absolutista, que adotou o sistema mercantilista, julgava que a
finalidade humana seria buscar a riqueza, e que esta consistia no simples
acúmulo de ouro.Tudo era organizado em função do ouro. As exportações de
um país deveriam ser pagas somente a ouro. Por sua vez, esse mesmo país somente
importaria através de pagamento com mercadorias, nunca pagando em ouro o que
comprava. Desse modo, o ouro deveria apenas entrar no país, jamais sair.Dever-se-ia proteger a produção, impedindo o quanto
possível as importações através de taxas elevadas, e favorecer a produção interna
por meio de incentivos.É o que se chamou de economia protecionista.O Mercantilismo, no fundo, coibiu o comércio. A
ambição, por medo de perder a riqueza, deixou de ganhar dinheiro.O Mundo
moderno, procurando as riquezas e não o Reino de Deus e sua justiça, aumentou a
insatisfação, concentrou a riqueza, e certamente aumentou o número de
miseráveis.
Fonte: Montfort
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Perfeito! Nunca tinha pensado no capitalismo nessa perspectiva! Concordo plenamente!
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