Detalhes sobre a vida de Sócrates derivam de três fontes contemporâneas: os diálogos de Platão, as peças de Aristófanes e os diálogos de Xenofonte. Não há evidência de que Sócrates tenha ele mesmo publicado alguma obra. Alguns autores defendem que ele não deixou nada escrito pois, além de na sua época a transmissão do saber ser feita, essencialmente, pela via oral, Sócrates assumia-se como alguém que sabe que nada sabe. Assim, para ele, a escrita fecharia o conhecimento, deixando-o de forma acabada, amarrando o seu autor ao estrito contexto de afirmações inamovíveis: se essas afirmações contemplam o erro, a escrita não só o perpetua como garante a sua transmissão. Sócrates era filho de Sofronisco,um escultor, e Fainarete, uma parteira, Sócrates nasceu em Alopece, Ática. Durante sua infância, ajudou seu pai no ofício de escultor. Porém, muitas vezes, seus amigos zombavam da sua incapacidade de trabalhar o mármore. Mesmo quando aparecia uma oportunidade de ajudar o seu pai, sempre acabava atrapalhando. Seu destino foi apontado, pelo próprio Oráculo de Delfos, como o de ser um grande educador, mas foi somente por influência da sua mãe que ele pôde descobrir sua verdadeira vocação. Sócrates foi casado com Xântipe, que era bem mais jovem que ele, e teve com ela um filho, Lamprocles. Porém, segundo Aristóteles e seu discípulo Aristóxenes, Sócrates teria tido outra esposa, Mirto, com quem teve os filhos Sofronisco e Menexêno. Segundo relato posterior de Diógenes Laércio, ela teria sido a segunda esposa e era filha de Aristides, o Justo. Sátiro e Jerônimo de Rodes, também citados por Diógenes Laércio, dizem que, pela falta de homens em Atenas (muitos eram recrutados para a guerra e morriam em combate), era permitido a um ateniense, mesmo casado, ter filhos com outra mulher, e que Sócrates teria tido Xântipe e Mirto ao mesmo tempo. Armand D'Angour argumenta que Mirto fora na verdade a primeira esposa de Sócrates, conforme evidenciado pela sua omissão nos relatos de Xenofonte e Platão, que eram jovens quando encontraram com um Sócrates em idade adulta avançada e nem a teriam conhecido. Seu amigo Críton criticou-o por ter abandonado seus filhos quando se recusou a tentar fugir para evitar sua execução. Este fato mostra que ele (assim como outros discípulos) não teria entendido nada da mensagem que Sócrates passa sobre a morte (diálogo Fédon). Em certas ocasiões, parava o que quer que estivesse fazendo, ficava imóvel por horas, meditando sobre algum problema. Conta-se que, um dia, Sócrates foi levado junto à sua mãe para ajudar em um parto complicado. Vendo sua mãe realizar o trabalho, Sócrates logo filosofou:
"Minha mãe não irá criar o bebê, apenas ajudá-lo-á a nascer e
tentará diminuir a dor do parto. Ao mesmo tempo, se ela não tirar o bebê, logo
ele irá morrer, e igualmente a mãe morrerá!"
Sócrates concluiu, então, que, de certa forma, ele também era um parteiro. O conhecimento está dentro das pessoas (que são capazes de aprender por si mesmas). Porém, eu posso ajudar no nascimento deste conhecimento. Concluiu ele. Por isso, até hoje os ensinamentos de Sócrates são conhecidos por maiêutica (que significa parteira em grego). Assim, logo sua vocação falou mais alto e ele partiu para aprender filosofia, vindo a ser discípulo dos filósofos Anaxágoras e Arquelau. Seu talento logo chamou a atenção. Tanto que foi chamado pela Pítia (sacerdotisa do templo de Apolo, em Delfos, na Antiga Grécia) de o mais sábio de todos os homens! Na obra de Xenofonte, Sócrates aparece declarando que se dedicava àquilo que ele considerava a arte ou ocupação mais importante: "maiêutica, o parto das ideias". A maiêutica socrática funcionava a partir de dois momentos essenciais:
-Um
primeiro, em que Sócrates levava os seus interlocutores a pôr em causa as suas
próprias concepções e teorias acerca de algum assunto;
-E um
segundo momento, em que conduzia os interlocutores a uma nova perspectiva
acerca do tema em abordagem.
Daí que a maiêutica consistisse num autêntico parto de ideias, pois, mediante o questionamento dos seus interlocutores, Sócrates levava-os a colocar em causa os seus preconceitos acerca de determinado assunto, conduzindo-os a novas ideias acerca do tema em discussão, reconhecendo, assim, a sua ignorância e gerando novas ideias, mais próximas da verdade. Sócrates tinha o hábito de debater e dialogar com as pessoas de sua cidade. Ao contrário de seus predecessores, ele não fundou uma escola, preferindo também realizar seu trabalho em locais públicos (principalmente nas praças públicas e ginásios), agindo de forma descontraída e descompromissada, dialogando com todas as pessoas, o que fascinava jovens, mulheres e políticos de sua época.
Platão afirma que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas. Sua pobreza era prova de que não era um sofista!
Várias fontes, inclusive os Diálogos de
Platão, mencionam que Sócrates tinha servido ao exército em várias batalhas. Na
Apologia de Sócrates, Sócrates compara seu período no serviço militar a seus
problemas no tribunal, e diz que qualquer pessoa no júri que imagine que ele
deveria se retirar da filosofia deveria também imaginar que os soldados
devessem bater em retirada quando era provável que pudessem morrer em uma
batalha. Estrabão conta que, após uma derrota ateniense em que Sócrates e
Xenofonte haviam perdido seus cavalos, Sócrates encontrou Xenofonte caído no
chão, e carregou-o por vários estádios, até que a batalha terminou.
Do julgamento à morte de Sócrates
"Eu
predigo-vos portanto, a vós juízes, que me fazeis morrer, que tereis de sofrer,
logo após a minha morte, um castigo muito mais penoso, por Zeus, que aquele que
me infligis matando-me. Acabais de condenar-me na esperança de ficardes livres
de dar contas de vossas vidas; ora é exatamente o contrário que vos acontecerá,
asseguro-vos...Pois se vós pensardes que matando as pessoas,
impedireis que vos reprovem por viverem mal, estais em erro. Esta
forma de se desembaraçarem daqueles que criticam não é nem muito eficaz nem
muito honrosa." (Sócrates).
O julgamento e a execução de Sócrates são
eventos centrais da obra de Platão (Apologia e Críton). Sócrates admitiu que
poderia ter evitado sua condenação a morte, bebendo antes o veneno chamado
cicuta, se tivesse desistido da vida justa. Mesmo depois de sua condenação, ele
poderia ter evitado sua morte se tivesse escapado com a ajuda de amigos.
Platão considerou que "Sócrates foi condenado por questões
evidentemente políticas"
Já "Xenofonte
atribuiu a acusação a Sócrates a um fato de ordem pessoal, pelo desejo de
vingança". O propósito não era a morte de Sócrates mas sim afastá-lo de Atenas
e, se isso não ocorreu, deveu-se à genialidade obstinada de Sócrates, que não
abriu mão de seus postulados filosóficos nem mesmo para salvar a própria
vida.
O Julgamento de Sócrates
Tão logo as ideias de Sócrates foram se espalhando pela cidade, ele ganhava mais e mais discípulos. Assim, pensavam eles: Como um homem poderia ensinar de graça e pregar que não se precisavam de professores como eles? E mais: Eles não concordavam com os pensamentos de Sócrates, que dizia que para se acreditar em algo, era preciso verificar se aquilo realmente era verdade. Logo, Sócrates começou a fazer vários inimigos, assim causando uma grande intriga. Mas eis que a guerra do Peloponeso estourou, todos os homens entre 15 e 45 anos de idade foram enviados para lutar. Sócrates, pela sua habilidade de fazer as pessoas o seguirem, foi escolhido então como um dos generais. Ao final da guerra, com a intenção de salvar os poucos soldados que estavam vivos, Sócrates ordena que todos voltem rapidamente para Atenas, mas deixassem os mortos no campo de batalha - contrariando uma lei que obrigava o general a enterrar todos os seus soldados mortos, ou morrer tentando. Assim, ao chegar, ele é preso. Usando toda a sua capacidade de persuasão, Sócrates consegue convencer a todos de que era melhor deixar alguns mortos do que morrerem todos, uma vez que se todos morressem, ninguém poderia enterrá-los. Desta forma, ele consegue a liberdade.
Ficou livre por mais 30 anos, quando foi preso novamente, acusado
de 3 crimes:
1- Não acreditar nos costumes e nos deuses
gregos;
2- Unir-se a deuses malignos que gostam de
destruir as cidades;
3- Corromper jovens com suas ideias.
Os acusadores de Sócrates foram: Ânito, Meleto e Lícon
•Anito
- era considerado um líder democrático, pois atuou junto a Trasíbulo na
reconquista democrática de Atenas contra o regime oligárquico dos Trinta
Tiranos, no entanto, feriu um dos principais pilares da Democracia Ateniense, o
julgamento, pois subornou um júri dez anos antes de acusar Sócrates.Ele
representava a classe dos políticos, sendo um homem rico, filho de um pai que
subiu economicamente de classe social, através do trabalho como curtidor de
couro (que Sócrates comenta em Mênon 90a). Portanto, ele também representava os
interesses do setor de manufatura, sendo poderoso e influente e considerado o
grande manipulador do proceso de Sócrates.Na antiguidade, circulava um
discurso chamado Acusação de Sócrates, escrito por Polícrates, onde alguns
autores antigos acreditavam ter sido a acusação de Anito contra Sócrates.
•Meleto
- era um poeta trágico novo e desconhecido. Foi o acusador oficial, porém nada
exigia que ele como acusador oficial fosse o mais respeitável, hábil ou
temível, mas somente aquele que assinava a acusação. Representava a classe dos
poetas e adivinhos.
•Lícon
- Pouco se sabe de Lícon. Era um retórico obscuro e o seu nome teve pouca
importância e autoridade no decorrer da condenação de Sócrates. Representava a
classe dos oradores e professores de retórica. Talvez Lícon pretendesse a
condenação de Sócrates, devido ao seu filho ter-se deixado corromper
moralmente, filosoficamente e sexualmente por Callias, e Callias era um
associado de Sócrates.
Estas 3 acusações
foram assim proferidas por Meleto:
"...Sócrates é culpado do crime de não reconhecer os deuses
reconhecidos pelo Estado e de introduzir divindades novas; ele é ainda culpado
de corromper a juventude. Castigo pedido: a morte"
A Condenação de Sócrates
"O processo e a condenação de Sócrates
testemunham o perigo que a ignorância faz correr ao saber, que o mal faz correr
à virtude. Mas este perigo não é senão aparente, pois, na realidade, é o justo
que triunfa dos seus carrascos. Se bem que seja vítima deles, o triunfo de
Sócrates sobre os seus juízes data do dia da sua execução." (Jean Brun)
Dada, a ele, a chance de se defender destas acusações, Sócrates mostra toda a sua capacidade de pensamento. Em sua defesa, ele mostra que as acusações eram contraditórias, questionando: Como posso não acreditar nos deuses e ao mesmo tempo me unir a eles? Mesmo assim, o tribunal, constituído por 501 cidadãos, o condenou. Mas não à morte, pois sabiam que se o condenassem à morte, milhares de jovens iriam se revoltar. Condenaram-no a se exilar para sempre, ou a lhe ser cortada a língua, impossibilitando-o assim de ensinar aos demais. Caso se negasse, ele seria morto.
Após
receber sua sentença, Sócrates proferiu:
"Vocês me deixam a escolha entre duas coisas: uma que eu sei
ser horrível, que é viver sem poder passar meus conhecimentos adiante. A outra,
que eu não conheço, que é a morte, escolho pois o desconhecido!"
Ao se dirigir aos atenienses que o julgaram, Sócrates disse que:
"lhes
era grato e que os amava, mas que obedeceria antes aos
deuses do que a eles, pois, enquanto tivesse um
sopro de vida, poderiam estar seguros de que não deixaria de filosofar, tendo, como
sua única preocupação, andar pelas ruas a fim de persuadir seus concidadãos,
moços e velhos, a não se preocupar nem com o corpo nem com a fortuna tão
apaixonadamente quanto com a alma, a fim de torná-la tão boa quanto
possível."
Sócrates, então, deixou o tribunal e foi para a prisão. Como existia uma lei que exigia que nenhuma execução acontecesse durante a viagem votiva de um navio sagrado a Delos, Sócrates ficou a ferros por 30 dias, sob custódia de onze magistrados encarregados em Atenas da polícia e da administração penitenciária.
Durante estes 30 dias, ele recebeu os seus amigos e conversou com
eles. Declarando não querer absolutamente desobedecer às leis da pátria,
Sócrates recusava a ajuda dos amigos para fugir.
E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em palestras espirituais com os amigos. Chegado o momento da execução, pouco antes de beber o veneno, Sócrates, de forma irônica e sarcástica (como de costume), proferiu suas últimas palavras:
“Críton, somos devedores de um galo a Asclépio; pois bem, pagai a minha dívida. Pensai nisso!”
Após essas palavras, Sócrates bebeu a cicuta (Conium maculatum) e, diante dos amigos, aos 70 anos, morreu por envenenamento. Platão, no seu livro Fédon, assim narrou a morte de seu mestre: “Depois de assim falar, levou a taça aos lábios e, com toda a naturalidade, sem vacilar um nada, bebeu até à última gota.Até esse momento, quase todos tínhamos conseguido reter as lágrimas; porém quando o vimos beber, e que havia bebido tudo, ninguém mais aguentou. Eu também não me contive: chorei à lágrima viva. Cobrindo a cabeça, lastimei o meu infortúnio; sim, não era por desgraça que eu chorava, mas a minha própria sorte, por ver de que espécie de amigo me veria privado. Critão levantou-se antes de mim, por não poder reter as lágrimas. Apolodoro, que, desde o começo, não havia parado de chorar, pôs-se a urrar, comovendo, seu pranto e lamentações, até o íntimo de todos os presentes, com exceção do próprio Sócrates.
-Que é isso,
gente incompreensível? Perguntou. Mandei sair as mulheres, para evitar esses
exageros. Sempre soube que só se deve morrer com palavras de bom agouro.
Acalmai-vos! Sede homens!
Ouvindo-o falar dessa maneira, sentimo-nos envergonhados e paramos de chorar. E ele, sem deixar de andar, ao sentir as pernas pesadas, deitou-se de costas, como recomendara o homem do veneno. Este, a intervalos, apalpava-lhe os pés e as pernas. Depois, apertando com mais força os pés, perguntou se sentia alguma coisa. Respondeu que não. De seguida, sem deixar de comprimir-lhe a perna, do artelho para cima, mostrou-nos que começava a ficar frio e a enrijecer. Apalpando-o mais uma vez, declarou-nos que no momento em que aquilo chegasse ao coração, ele partiria. Já se lhe tinha esfriado quase todo o baixo-ventre, quando, descobrindo o rosto – pois o havia tapado antes – disse, e foram suas últimas palavras: Critão (exclamou ele), devemos um galo a Asclépio. Não te esqueças de saldar essa dívida! "Assim farei!", respondeu Critão. Vê se queres dizer mais alguma coisa. A essa pergunta, já não respondeu. Decorrido mais algum tempo, deu um estremeção. O homem o descobriu; tinha o olhar parado. Percebendo isso, Critão fechou-lhe os olhos e a boca. Tal foi o fim do nosso amigo, Equécrates, do homem, podemos afirmá-lo, que entre todos os que nos foi dado conhecer, era o melhor e também o mais sábio e mais justo.”
No Fédon,
Sócrates dá razões para crer na imortalidade. Quando Sócrates foi condenado à
morte, comentou, alegremente, que, no outro mundo, poderia fazer perguntas
eternamente sem ser condenado a morrer, porque agora era imortal!
Ruptura e legado de Sócrates
Sócrates provocou uma ruptura sem precedentes na história da Filosofia grega, por isso ela passou a considerar os filósofos entre pré-socráticos e pós-socráticos. Enquanto os filósofos pré-Socráticos, chamados de naturalistas, procuravam responder a questões do tipo: "O que é a natureza ou o fundamento último das coisas?" Sócrates, por sua vez, procurava responder à questão: "O que é a natureza ou a realidade última do homem?". Os sofistas, grupo de filósofos (título negado por Platão) originários de várias cidades, viajavam pelas pólis, onde discursavam em público e ensinavam suas artes, como a retórica, em troca de pagamento. Sócrates se assemelhava exteriormente a eles, exceto no pensamento. Platão afirma que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas. Sua pobreza era prova de que não era um sofista. Para os sofistas, tudo deveria ser avaliado segundo os interesses do homem e da forma como este vê a realidade social (subjetividade), segundo a máxima de Protágoras :"O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são." - Isso significa que, segundo essa corrente de pensamento, as regras morais, as posições políticas e os relacionamentos sociais deveriam ser guiados conforme a conveniência individual. Para este fim, qualquer pessoa poderia se valer de um discurso convincente, mesmo que falso ou sem conteúdo. Os sofistas usavam, de fato, complicados jogos de palavras, no discurso para demonstrar a verdade daquilo que se pretendia alcançar. Este tipo de argumento ganhou o nome de sofisma. Em resumo, a sofística destruía os fundamentos de todo conhecimento, já que tudo seria relativo (relativismo) e os valores seriam subjetivos, assim como impedia o estabelecimento de um conjunto de normas de comportamento que garantissem os mesmos direitos para todos os cidadãos da pólis. Tanto quanto os sofistas, Sócrates abandonou a preocupação em explicar e se concentrou no problema do homem. No entanto, contrariamente aos sofistas, Sócrates travou uma polêmica profunda com estes, pois procurava um fundamento último para as interrogações humanas ("O que é o bem?" "O que é a virtude? "O que é a justiça?); enquanto os sofistas situavam as suas reflexões a partir dos dados empíricos, o sensório imediato, sem se preocupar com a investigação de uma essência da virtude, da justiça do bem etc., a partir da qual a própria realidade empírica pudesse ser avaliada. Sócrates contribuiu para que as pessoas se apercebessem da descoberta da evidência que é a manifestação do mestre interior à alma. Conhecer-se a si mesmo seria conhecer Deus em si. Aquilo que colocou Sócrates em destaque foi o seu método, e não tanto as suas doutrinas. Sócrates baseava-se na argumentação, insistindo que só se descobre a verdade pelo uso da razão. O seu legado reside sobretudo na sua convicção inabalável de que mesmo as questões mais abstratas admitem uma análise racional.
A Filosofia de Sócrates - O seu pensamento desenvolveu-se de 3 grandes ideias:
a) a crítica aos sofistas;
b) a arte de perguntar;
c) a consciência do Homem.
Método Socrático
O método socrático consiste em uma técnica
de investigação filosófica, que faz uso de perguntas simples e quase ingênuas
que têm, por objetivo, em primeiro lugar, revelar as contradições presentes na
atual forma de pensar do aluno, normalmente baseadas em valores e preconceitos
da sociedade, e auxiliá-lo assim a redefinir tais valores, aprendendo a pensar
por si mesmo.
Ideias filosóficas de Sócrates
As crenças de Sócrates, em comparação às de Platão, são difíceis de discernir. Há poucas diferenças entre as duas ideias filosóficas. Consequentemente, diferenciar as crenças filosóficas de Sócrates, Platão e Xenofonte é uma tarefa difícil e deve-se sempre lembrar que o que é atribuído a Sócrates pode refletir o pensamento dos outros autores. Se algo pode ser dito sobre as ideias de Sócrates, é que ele foi moralmente, intelectualmente e filosoficamente diferente de seus contemporâneos atenienses. Quando estava sendo julgado por heresia e por corromper a juventude, usou seu método de elenchos para demonstrar as crenças errôneas de seus julgadores. Sócrates acreditava na imortalidade da alma e que teria recebido, em um certo momento de sua vida, uma missão especial do deus Apolo Apologia, a defesa do logos apolíneo "conhece-te a ti mesmo". Sócrates também duvidava da ideia sofista de que a arete (virtude) podia ser ensinada para as pessoas. Acreditava que a excelência moral é uma questão de inspiração e não de parentesco, pois pais moralmente perfeitos não tinham filhos semelhantes a eles. Isso talvez tenha sido a causa de não ter se importado muito com o futuro de seus próprios filhos. Sócrates frequentemente dizia que suas ideias não eram próprias, mas de seus mestres, entre eles Pródico e Anaxágoras de Clazômenas.
O estudo da Virtude em Sócrates (ética das virtudes)
O estudo da virtude se inicia na chamada ética das virtudes com Sócrates, para quem a virtude é o fim da atividade humana e se identifica com o bem que convém à natureza humana. Sócrates acreditava que o melhor modo para as pessoas viverem era se concentrando no próprio desenvolvimento ao invés de buscar a riqueza material. Convidava outros a se concentrarem na amizade e em um sentido de comunidade, pois acreditava que esse era o melhor modo de se crescer como uma população. Suas ações são provas disso: ao fim de sua vida, aceitou a sentença de morte quando todos acreditavam que fugiria de Atenas, pois acreditava que não podia fugir de sua comunidade. Acreditava que os seres humanos possuíam certas virtudes, tanto filosóficas quanto intelectuais. Dizia que a virtude era a mais importante de todas as coisas.
A Política em Sócrates
Diz-se que Sócrates acreditava que as
ideias pertenciam a um mundo que somente os sábios conseguiam entender, fazendo
com que o filósofo se tornasse o perfeito governante para um Estado. Opunha-se
à democracia aristocrática que era praticada em Atenas durante sua época; essa
mesma ideia surge nas Leis de Platão, seu discípulo. Sócrates acreditava que,
ao se relacionar com os membros de um parlamento, a própria pessoa estaria
fazendo-se hipócrita.
Paradoxo Socrático
Os "paradoxos socráticos" são
posições éticas defendidas por Sócrates que vão contra a opinião (doxa)
comum. Os principais paradoxos são:
1."A
virtude é um conhecimento";
2. Sócrates afirmava que "Ninguém faz o mal voluntariamente, mas por ignorância, pois a sabedoria e a virtude são inseparáveis."
3."As virtudes constituem uma unidade";
4."É
preferível sofrer injustiça do que cometê-la" (Górgias 469 b-c) ou
"jamais se deve responder à injustiça pela injustiça, nem fazer mal a
outrem, nem mesmo àquele que nos fez mal" (Críton 49 c-d).
Sócrates era um pensador que "levava a coerência
intelectual tão a sério" que estava disposto a morrer, para dela não
abdicar!
“...Por
que essas pessoas que querem vos difamar, vão dizer que eu sou um sábio, ainda
que eu não o seja. Se tivessem esperado um pouco mais, conseguiriam o que
querem pelo curso natural das coisas. Vocês podem ver que estou avançado em anos de vida,
e próximo da morte. Digo isso não para todos vocês, mas sim para os que votaram
pela minha execução, e eu ainda tenho algo mais a dizer a eles. Sem dúvida
pensais que fui condenado por falta daqueles argumentos que eu poderia ter
usado, se eu pensasse que era justo não deixar nada por dizer ou por fazer,
para garantir a minha absolvição. Nada mais distante da verdade. Não foi a falta
de argumentos que causou a minha condenação, e sim a desfaçatez, a ousadia e a
falta de pudor dos meus julgadores, assim como o fato de que me recusei a
dirigir-me a vocês da maneira que mais prazer lhes daria, de
ouvir meu choro e meus lamentos, fazendo e dizendo todo o tipo de coisas que eu
considero indignas de mim, mas que vocês estão habituados a ouvir de outras
pessoas. Mas eu não
admito que devesse recorrer ao servilismo porque estava em perigo, e não me
arrependo agora de ter-me assim defendido. Prefiro muito mais a morte como
resultado desta defesa, do que viver por ter agido da outra forma. Num Tribunal, como na guerra, nem eu nem ninguém
deve usar suas artimanhas para escapar da morte a qualquer custo. Nas guerras,
muitas vezes é óbvio que se pode escapar de ser morto, entregando suas armas e
a si mesmo à misericórdia dos seus inimigos. Em qualquer tipo de perigo, há
sempre muitos meios de escapar à morte, se você for suficientemente sem
escrúpulos para não ser fiel a nada nem a ninguém. O difícil não é evitar a
morte, mas sim, evitar proceder mal...Assim sairemos daqui: eu julgado por vós digno
de morte; eles julgados pela verdade, culpados de impostura e de
injustiça...Quanto ao futuro, quero fazer uma previsão aos que me condenaram.
Encontro-me naquele momento de uma vida, em que o dom da profecia está mais ao
alcance dos homens, um pouco antes de morrer... Eu afirmo a vocês, meus carrascos, que, tão logo esteja morto, a vingança fará tombar sobre vocês, uma punição bem mais dolorosa
do que a minha morte. Vocês me condenaram à morte na crença de que, por meio
dela, se livrarão da crítica à sua conduta, mas eu afirmo, o resultado será
exatamente o oposto... Se vocês
esperam que cesse a denúncia da sua maneira errada de viver, condenando as
pessoas à morte, existe algo de muito errado no seu raciocínio. Esta forma de
escapar à crítica não é nem possível nem honrosa. Melhor forma, e a mais fácil
não é calando a boca de outros, mas tornarem-se pessoas justas. Esta é a minha
última mensagem aos que me condenaram...Mas eis que chegou a hora de partir, eu
para morrer, vós para viver. Qual de nós terá melhor sorte? Ninguém o sabe,
somente os deuses...”
BIBLIOGRAFIA:
-COTRIM,
Gilberto. Fundamento da Filosofia, 2000;
-GUTHRIE,
William K. C.. Socrates. Cambridge: University Press, 1994;
-MAGALHÃES-VILHENA,
V. de. O problema de Sócrates. O Sócrates histórico e o Sócrates platônico.
Lisboa: Gulbenkian, 1984;
-MOSSÉ,
Claude. O processo de Sócrates. Tradução de Arnaldo Marques. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1987;
-SPINELLI,
Miguel. Questões Fundamentais da Filosofia Grega. São Paulo: Loyola, 2006, pp.
45–186;
-WOLFF,
Francis. Socrate. Paris: Presses Universitaires de France, 2007
Fonte: Wikipedia
Sócrates
não era Cristão, ele nasceu em 470 a.C – Porem, vendo toda sua trajetória de
vida,é possível nos convencer da Salvação fora da Igreja para aqueles(as) que
sem culpa, não receberam a mensagem do evangelho, mas, que serão julgados pela
prática da justiça, pois assim está escrito:
Atos
10,35: "antes, porém, de todas as nacionalidades, Deus recebe todo aquele que o
teme e pratica a justiça”.
Romanos
2, 12-29: “Todo aquele que pecar sem a lei também sem a lei perecerá, e todo
aquele que pecar sob a lei pela lei será julgado. Porque não são os que ouvem a
lei que são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei é que serão
declarados justos. De fato, quando os gentios, que não têm a lei, praticam
naturalmente o que ela ordena, tornam‑se lei para si mesmos, embora não possuam
a lei. Mostram que as exigências da
lei estão gravadas no coração deles.
Disso dão testemunho também a sua
consciência e os pensamentos deles, ora acusando‑os, ora defendendo‑os. Isso tudo se verá no dia
em que Deus julgar os segredos dos homens...”
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