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A chave de leitura do "homine imperfectum" na antropologia Agostiniana

Written By Beraká - o blog da família on sexta-feira, 17 de janeiro de 2020 | 20:54




A antropologia agostiniana a partir de toda sua obra escrita e chegada até nós, busca o ponto de vista do EU, através do aprofundamento da história interior da vida, como também da busca da individualidade através das situações experiências afetivas vividas.







Em sua obra “Confissões” Santo Agostinho sob um enfoque religioso reflete sobre o “ser” espiritual, onde o ser humano se dá conta de forma sistemática dos componentes e dos sentidos de uma abordagem da sua experiência interior. É no relato da conversão que Santo Agostinho mostra a decisão histórica da vida como sendo a vida um fenômeno pleno de historicidade.  A antropologia agostiniana especifica que o homem quando não está contente consigo mesmo ele busca um novo “eu”, isto pode ser observado com a decisão histórica do próprio Agostinho quando num primeiro momento ele é um famoso professor de oratória a procura de fama e num segundo momento quando é acometido por uma doença decide interromper a sua carreira e objetivo para tomar uma outra decisão histórica que neste caso foi quando Agostinho abraça o cristianismo.O mais importante nesta decisão (segundo momento) é o seu domínio de uma história interior da vida (primeiro momento) para um desvio de sua função vital como forma de reação interior frente aos novos fatos de sua vida e doença, escolhendo o segundo momento como sua decisão histórica buscando um novo eu.Agostinho não nega a nova situação da fragilidade de sua saúde ao contrário por meio de SUA VONTADE, voluntariarismo, ele busca uma outra convicção de verdade para o seu projeto de vida, reelaborando em sua essência a sua pessoa espiritual como forma motivadora para o seu novo projeto de vida interior despertando uma nova motivação psicológica. A crença na realidade de Agostinho acentua que a unidade da vida somos nós que a formamos e que nós estamos sempre presentes para nós mesmos.



(Bartolomeu no Juízo Final de Michelangelo)





O sentimento imediato da vida e de tudo que nela acontece vem do paradoxo onde a vida escapa dando o sentido da fugacidade da vida; do pânico por constatar que a vida é inapreensível onde o homem teme o que nele é desconhecido; do ser passageiro onde tudo em mim é passageiro não conseguindo ser plenamente ele mesmo (homem inacabado), sem se dispersar não encontrando a realidade dando a sensação de insegurança, dispersão e nostalgia; a nostalgia como positividade é nela que o homem consegue se ultrapassar não estando acomodado com a vida que leva estando sempre presente os seus desejos principalmente os ligados a busca da felicidade desencadeando a culpabilidade por não extrair tudo o que pode de si; contradição, tensão e vontade são temas que supõe um adversário estando presentes na experiência religiosa de Agostinho manifestado pelo drama interior a que o homem está sujeito através das suas lutas interiores onde a esperança é a ação como forma de erguer como principio o valor ligado à tensão da vontade que é fator gerador de força e consciência da sua personalidade de estar vivo. Assim, é pela vontade que a vida emotiva é englobada assim como seus instintos e seus impulsos e por último o ser da revolta ou a revolta do ser onde o homem em Agostinho não se aceita como é e a busca da felicidade como algo impossível já o faz infeliz levando a revolta contra si próprio por não se admitir como ele é. Se considera como miserável ou um não-ser, Agostinho relaciona a felicidade com a saúde como um estado psicofísico ideal lavando a tensão ao seu grau extremo de sua vontade. Agostinho não aceita a idéia do ser humano ser reduzido a um número de possibilidades limitadas e ainda não definidas. Agostinho quer governar e ultrapassar a vida através da tensão e da vontade. Por isso acredita que a personalidade está em constante construção.





Esquematicamente as atitudes Agostinianas a partir de Confissões podem ser analisada em 4 fases: 





1) A tomada de consciência da situação.



2) A configuração espiritual de suas motivações pela abertura à significação capital de seu momento histórico vital.



3) A concepção das conseqüências desta experiência vivida, interpretação e compreensão da impossibilidade, ou, numa expressão fenomenológica, consciência do conteúdo de adversidade.



4) O engajamento: o motivo o faz engajar ou o motiva a dar à história interior de sua vida uma outra trajetória. Trata-se de uma decisão ativa de sua vontade, liberdade, a respeito do que deseja ser uma elaboração do que deve ser o outro Agostinho, outra vez usando um termo fenomenológico: é a consciência de possibilidade.






Agostinho atribuiu, assim como os filósofos gregos, grande importância ao desvendamento do que é o homem, considerado por ele, como um ‘grande abismo’ e um ‘grande problema’ e um “grande enigma” a descobrir:




“Grande abismo é o homem, Senhor! Tendes contados os seus cabelos, e nenhum se perde para Vós. Contudo, os seus cabelos são mais fáceis de contar que os afetos e movimentos do coração...” (Confissões, IV, 14, 22).



“Há, porém, coisas no homem que nem sequer o espírito que nele habita conhece...” (Confissões, X, 5, 7).



O ponto de partida de Santo Agostinho para a gênese da natureza humana foi explicar a natureza do homem num composto de corpo e alma, conforme vemos em sua obra Vida Feliz 2,7:






[Agostinho] – Será evidente a cada um de vós, que somos compostos de alma e corpo? Todos foram concordes, exceto Navígio, que declarou não saber.Mas, disse-lhe eu, pensas que ignoras tudo em geral, ou essa proposição é uma entre outras coisas que desconheces?




[Navígio] – Não creio que sou totalmente ignorante, respondeu ele.



[A.] – Podes, pois, dizer-nos alguma coisa do que sabes?




[N.] – Sim, posso!



[A.] – Se isso não te incomoda, dize-nos, pois.E como ele hesitasse, interroguei: Sabes, pelo menos que vives?




[N.] – Isso eu sei!



[A.] – Sabes, portanto, que tens vida, visto que ninguém pode viver a não ser que tenha vida?




[N.] – Isso também sei!



[A.] – Sabes, igualmente, que possuis um corpo? 



-Ele concordou.



[A.] – Sabes, então, que constas de corpo e vida?




[N.] – Sim, todavia tenho dúvidas se não existe alguma coisa a mais do que isso?




[A.] – Assim, não duvidas destes dois pontos: possuis um corpo e uma alma. Mas estás em dúvida se não existe outra coisa que seria para o homem um complemento de perfeição.





[N.] – É isso...









Desse modo, a união entre corpo e alma constituía, conforme Santo Agostinho, o conceito de homem total.
“Que o corpo se une à alma para formar e constituir o homem total e completo, conhecemo-lo todos. Testemunha-o nossa própria natureza...” (Cidade de Deus, X, 29, 2).Mesmo considerando a totalidade do homem em corpo e alma, Santo Agostinho atribuiu maior importância à alma pela sua característica de imutabilidade e simplicidade. “Quanto à criatura espiritual, tal como a alma comparada com o corpo, é certamente mais simples, ou seja, não é dotada de tanta multiplicidade como o corpo, mas também não é simples. É mais simples do que o corpo, porque não é uma massa que se difunde pelo espaço local, mas em cada corpo a alma está toda inteira; e toda está também em qualquer das partes do corpo. Assim, quando algo acontece na menor parte do corpo que influa na alma, embora não em todo o corpo, ela pode sentir, pois influi no seu todo. Mas como na alma uma coisa é a sua atividade, outra, a inércia, a agudeza, a memória, o desejo, o temor, alegria, a tristeza. E como esses sentimentos podem existir na natureza da alma uns sem os outros, e uns com mais intensidade, outras com menos, inumeráveis e variadíssimos, é sinal evidente de eu essa natureza não é simples, mas múltipla. Ora, tudo o que é simples é imutável, portanto toda criatura é mutável...” (Trindade, VI, 6, 8).




Alma e corpo se mostram contrários ainda pela sua composição, porque o corpo está sob classificações físicas diferentes das da alma:





“Existe certamente no corpo humano certo volume de carne, certa forma, certa ordem e distinção de membros, numa constituição saudável...” (Trindade, III, 2, 8).



“o corpo como nós [o definimos], ou seja, [é] qualquer natureza que ocupa espaço local pelo comprimento, largura e altura...” (Comentário Gênesis, VII, 21, 27).




“Por ser superior ao corpo, há independência da alma em relação a ele. Pois, reconhecemos com admiração que a natureza da alma é tal que não sofre alteração pela modificação do corpo...” (Livre arbítrio, III, 9, 28).





“A alma é considerada, portanto, a essência da razão humana, por isso, lhe é atribuído o domínio do corpo, é substância dotada de razão, apta a reger um corpo...”  (Potencialidade da alma, 13, 22).





Desse modo, a alma, por permitir ao homem raciocinar, o diferencia dos animais:





“E, certamente, uma grande coisa é o homem, pois feito à imagem e semelhança de Deus! Não é grande coisa enquanto encarnado num corpo mortal, mas sim enquanto é superior aos animais pela excelência da alma racional...” (Doutrina Cristã, I, 22, 20).





A alma é, nesse sentido, a imagem do próprio Deus. Não há uma dependência entre ela e o corpo nem mesmo alguma relação com outros seres da natureza.
“É evidente que nem tudo o que dentre as criaturas é semelhante a Deus pode-se denominar sua imagem, apenas o é a alma, à qual unicamente Deus lhe é superior. Só a alma é a expressão de Deus, pois natureza alguma se interpõe entre ela e ele...” (Trindade, XI, 5, 8). Por ser considerado parte da natureza humana, o corpo deve ser cuidado, pois, com os fins dos tempos, com a ressurreição da carne, o corpo também irá para o céu. Por isso, deve estar afastado de tudo o que for corruptível e que não seja digno de sua condição celeste.“Não quero, ademais, perguntar por que não crêem possa o corpo terreno estar no céu, se a terra toda se apóia sobre o nada. Talvez seja argumento de não menor probabilidade o tomado do centro do mundo, no sentido de nele se encontrarem as coisas mais pesadas. Desse modo tira à carne do homem a corrupção, dá-lhe a imortalidade, deixa-lhe a natureza, conserva-lhe a congruência da figura dos membros e suprime-lhe o retardamento do peso...” (Cidade de Deus, XIII, 18). Por conseguinte, o homem possui matéria e forma, está em sua condição mortal, sujeito às necessidades fisiológicas do seu corpo e as ações do tempo. Definido como uma criatura mutável e racional, é capaz, porém, de abrigar a verdade em si, Deus (o homem é capaz de Deus). Que lhe garante o conhecimento do imutável e o encontro com a verdadeira felicidade. Para Santo Agostinho, a alma deveria sobrepor-se ao corpo, entendido como a prisão da alma e fonte de todos os males, pois “o homem é uma alma que se serve de um corpo” (GILSON, 1995, p.228). Quando a alma se submetia ao corpo, ficava voltada para a matéria e não tem força para sair do estado de decadência em que se encontra. O homem deveria, portanto, desvencilhar-se das coisas externas, voltando-se às espirituais, as quais vão propiciar a aproximação de Deus.












“Mas para que falar de tudo isso, se agora não é o tempo de investigar, mas de me confessar a Vós? Era desgraçado, e desgraçada é toda alma presa pelo amor as coisas mortais. Despedaça-se quando as perde, e então sente a miséria que a torna miserável, ainda antes de as perder...”  (Confissões, IV, 6, 11).




Santo Agostinho separa o corpo em: corpóreo/carnal e alma/espiritual. Porém, para o bispo de Hipona, a alma é mais importante, uma vez que ela se encontra mais próxima a Deus.
“Aquelas nem sequer são as primeiras da criação. Com efeito, as vossas criaturas espirituais são superiores às corpóreas, ainda que estas se apresentem brilhantes e se movam no céu” (Confissões, III, 6, 10).Assim, o corpo é apresentado com a necessidade de um controle permanente e vigilante, ao qual a pressão implacável do saeculum não permitia dar trégua (BROWN, 1990). O corpo padece e está fadado a padecer, pois, diferentemente da alma, está submetido aos ciclos naturais, às flutuações do desejo e aos perigos da corrupção. Em suma, enquanto a alma é pensada em termos positivos, o corpo era o inviabilizador do homem de conquistar uma contemplação divina da vida.“Que eu amo, quando Vos amo? Não amo a formosura corporal, nem a glória temporal, nem a claridade da luz, tão amiga destes meus olhos, nem as doces melodias das canções de todo o gênero, nem o suave cheiro das flores, dos perfumes ou dos aromas, nem o maná ou mel, nem os membros tão flexíveis aos braços da carne. Nada disto amo, quando amo ao meu Deus. E contudo, amo uma luz, uma voz, um perfume, um alimento e um abraço, quando amo meu Deus, luz, voz, perfume e abraço do homem interior, onde brilha para a minha uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não arrebata, onde se exala um perfume que o vento não esparge, onde se saboreie uma comida que a sofreguidão não diminui, onde se sente um contato que a saciedade não desfaz. Eis o que amo, quando amo o meu Deus...” (Confissões, X, 6, 8).Pode-se afirmar que, para Santo Agostinho, o conhecimento verdadeiro está em Deus, fonte única de conhecimento e de verdade. Assim, cabe ao homem desvencilhar-se da sua materialidade, que lhe proporciona falsos conhecimentos e se aproximar cada vez mais do conhecimento verdadeiro. Para que isso ocorra, este homem deveria estar preparado.No entendimento agostiniano, para se ‘descobrir a verdade’ o corpo deve estar submetido às vontades da alma, porque só assim o verdadeiro conhecimento pode ser alcançado.



A importância do homem em Agostinho






Na antropologia agostiniana, o homem é tido como uma unidade, não havendo separação entre alma e corpo, mas o ser como totalidade. O homem é também aquele que faz um caminho neste mundo e é capaz, por sua natureza, de buscar Aquele que o criou. O homem tem em si uma dignidade ao ser criado como “Imago Dei”, por isso não é qualquer coisa. Ao ser dotado de razão, é capaz também de fazer suas próprias escolhas, tendendo para o bem ou para o mal. Ao fazer bom uso de seu livre-arbítrio, opta pela felicidade. Agostinho ver o homem como uma unidade, como ser itinerante, como aquele que vive para Deus; mostrando que o homem tem em sua história, uma origem, uma vocação e um destino último.






O Ser como Uno




Platão[1] separa a alma do corpo, como se o corpo fosse o cárcere da alma. Ao contrário, influenciado pela filosofia neo platônica, Agostinho propõe uma nova forma de conceber o homem, não separando corpo e alma, mas dizendo que alma não é prisioneira do corpo; ela está encarnada nele, como num todo. Não se separam: é uma unidade substancial. O homem é uma unidade substancial de corpo e alma.“Não é infreqüente afirmar-se que para Agostinho a essência do homem é uma alma que se utiliza de um corpo; todavia, é fora de dúvida que ele doutrina, clara e reiteradamente, que o homem se compõe de alma e corpo, graças a uma estreita união destes dois componentes, e que só o ser assim composto merece o nome de homem...” (BOEHNER; GILSON, 1991, p.180). Segundo Santo Agostinho, quando Deus criou o ser humano, o criou na plenitude do ser. Por isto, não se pode separar a matéria da forma, visto que Deus criou a unidade do homem. Portanto para Agostinho, o corpo se torna algo cheio de importância, por causa da encarnação do Verbo: “O próprio Filho de Deus vem habitar neste mundo, numa forma material. Por isto, afirma que a matéria também tem sua importância e não se separa da alma”












Mesmo não admitindo a separação, Agostinho admite que a alma é dotada de certa natureza especial, que eleva o homem a Deus, ao contrário do corpo que é transitório e limitado, estando sujeito às coisas deste mundo. A alma é capaz de fazer do homem participante de Deus, elevando-o através daquilo que tem de mais importante: sua racionalidade. Com isso, o homem é capaz de ter uma vida feliz, contemplando, de fato, seu Criador. Desta forma, afirma Agostinho (A Vida Feliz, 4- 33, 2007, p.154-155):“Portanto, ser feliz não é outra coisa do que não padecer necessidades, e isso também ser sábio. Agora, se me perguntardes o que vem a ser a sabedoria, conceito a cuja análise e aprofundamento a nossa razão tem-se consagrado até o presente quanto pode – dir-vos-ei que a sabedoria é simplesmente a moderação do espírito (modus animi). Isto é, aquilo pelo que a alma se conserva em equilíbrio, de modo a não se dispersar em excessos ou encolher-se abaixo de sua plenitude. Sem essa medida, a alma atira-se em excesso na direção dos prazeres, da ambição, do orgulho e de todas as outras paixões do mesmo gênero. Por elas, os intemperantes, e portanto infelizes, imaginam alcançar alegria e poder. Ora, eles encontram-se, na verdade, diminuídos pelas baixezas, pelo medo, tristeza, cupidez e outras paixões. Sejam quem forem, esses infelizes reconhecem eles próprios que tais coisas fazem a infelicidade do homem. Ao contrário, quando alguém, tendo encontrado a sabedoria, faz dela o objeto de sua contemplação, para me servir de uma expressão deste menino...(Adeodato, cf. III, 18), e a ele se apega (ad ipsam se tenet), sem se deixar seduzir por coisas vãs, sem se voltar mais para as aparências enganosas, cujo peso arrasta e submerge em profunda objeção, tudo se desfaz, por estar ele abraçado a seu Deus (amplexus a Deo suo)...”





A alma é principio vivificador, capaz de dominar o homem, elevando-o a Deus. Agostinho nos diz da alma, em sua obra Confissões, como dominadora do corpo:





“A alma comanda o corpo, e este lhe obedece imediatamente; comanda-se a si mesma, e esta resiste. A alma ordena à mão que se mova, e a obediência é tão fácil que mal se distingue a ordem da execução. No entanto, a alma é espírito, e a mão é matéria. (AGOSTINHO, Confissões, 8, 9- 21, 1984, p.220).







O ser itinerante






O itinerário do ser, segundo Santo Agostinho, é um caminho percorrido pelo ser humano em direção ao seu Criador. O autor nos apresenta o homem como um ser criado segundo a imagem e semelhança de Deus. O homem é um ser participante da perfeição de Deus como “Imago Dei”. Justamente por isso, Deus concede a ele o livre-arbítrio[2], possibilitando-o escolher por sua vontade. Quando, por esta vontade, o homem se afasta do seu Criador, que é o Sumo Bem, acaba caindo no pecado e o mal[3] passa a existir no mundo.Ao longo de toda a vida do homem, ele “cai” e se “levanta”: toda a história do ser humano é feita também de quedas. Dentro deste itinerário, segundo Agostinho, o homem tem sempre a oportunidade da conversão, uma vez que seu fim último sempre se dá no seu Criador. A conversão, a que se é chamado quando se vive uma vida de escravidão, é uma mudança de “rota”, na qual, contando com a graça de Deus, o homem é capaz de retornar ao Bem.“Um dom de Deus, que é a graça, e o livre-arbítrio. Sem o livre-arbítrio, não haveria problemas; sem a graça, o livre-arbítrio (depois do pecado original) não iria querer o bem ou, se o quisesse, não poderia realizá-lo. A graça, portanto, não tem o efeito de suprimir a vontade, mas sim de torná-la boa, pois que se havia transformado em má. Esse poder de usar bem o livre-arbítrio é precisamente a liberdade. A possibilidade de fazer o mal é inseparável do livre-arbítrio, mas o poder de não fazê-lo é a marca da liberdade, e encontrar-se confirmado na graça a ponto de não poder mais fazer o mal é o grau supremo da liberdade. Assim, o homem que está mais completamente dominado pela graça de Cristo é também o mais livre: libertas vera est Christo servire.” (REALE; ANTISERE, 1990, p.458). Santo Agostinho nos mostra que o homem foi criado por Deus exclusivamente para o bem. Ao usar mal o livre- arbítrio, a partir do qual, por sua vontade pode escolher entre o bem e o mal, o homem acaba se afastando da graça e vivendo no pecado. Porém, para Agostinho, o homem tem sempre a oportunidade de se converter e de caminhar na graça de Deus, vivendo sua liberdade.O itinerário do homem, para Agostinho, é sempre caminhar rumo a Deus, vivendo em sua justiça. A liberdade, na qual o homem foi criado, o faz viver somente o bem. Porém, isto só acontece pela graça de Deus em sua vida. Esta graça ajuda o homem a escolher, acima de tudo, o bem, deixando o pecado e o mal de lado.






O ser para Deus






Para Agostinho, o homem participa da criação divina. Por isto, caminha sempre em busca da Verdade. O que dá sentindo e unidade ao homem só pode ser o próprio Deus. O Amor de Deus para com a humanidade é tão grande, que Ele foi capaz de habitar este mundo para libertá-la do pecado. Pela encarnação do Verbo, na qual Deus envia seu Filho único, o homem torna-se digno, sendo reconhecido como filho no Filho.“Para Agostinho, o encontro com Deus se dá no interior do homem, pois Deus, enquanto criador, está tão próximo e tão íntimo de sua criatura, mais do que o próprio homem. Nesse sentido, o itinerário do homem, enquanto criatura é um itinerário para a verdade: alcançar a Verdade é ser iluminado pela graça divina. O próprio conhecimento da Verdade exprime o amor, à medida que a essência do homem é o amor, ou seja, expressão do amor daquele que o criou. Nesse sentido, Agostinho acredita que o homem, bom e justo, é sem dúvida aquele que ama a si mesmo e aos outros segundo a lei divina, pois amar o próximo é amar a Deus na sua obra. (GONÇALVES, 2012, p.139).





A Verdade, como nos diz Agostinho em sua obra Confissões, está dentro do próprio ser humano: 





“Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora” (CONFISSÕES, 10, 27-29).





Por isso, por natureza, o homem é iluminado por Deus através de sua razão e é capaz de buscar a Verdade que é o próprio Criador. Essa Verdade o leva a agir na justiça e a viver uma vida feliz. Assim, existe uma busca constante do Bem que o faz feliz. Tem a felicidade somente aquele que está em Deus. Ao viver irradiado pela luz da Verdade, o homem vive o amor e torna-se dependente do Amor dado por primeiro pelo seu Criador. Impelido por este amor, é capaz de amar também o próximo, que é obra da criação divina. A Luz divina habita em todo homem que está junto de Deus e que o busca constantemente. Esta busca o impulsiona a viver retamente o Bem. “Certo impulso interior que nos convida a lembrar-nos de Deus, a buscá-lo, a sentir sede dele, sem nenhum fastio, jorra em nós dessa mesma fonte da Verdade. É luz que esse misterioso sol irradia em nossos olhos interiores. E é dele que procede tudo o que proferimos de verdadeiro, ainda que temamos volver para ele nossos olhos ainda doentios ou recém-abertos, e de o fixarmos face a face. Esse sol revela-se a nós como sendo o próprio Deus, ser perfeito sem nenhuma imperfeição a diminuí-lo. Pois nele encontra-se toda perfeição, completa e íntegra, visto que Ele é, ao mesmo tempo, o Deus todo-poderoso.” (AGOSTINHO, A Vida Feliz, 4-35, 2007, p.156). Para Agostinho, quando o homem busca viver e agir na justiça de Deus, ele vive uma vida feliz, se afastando do mal e do pecado. Com isso, o fim do homem é sempre buscar seu Deus e Criador. O homem tem uma origem: foi criado por Deus; tem uma vocação, que é viver segundo a justiça divina, no amor e no bem; e o seu fim, que é o próprio Deus, capaz de fazê-lo plenamente feliz.





CONCLUSÃO:














A obra Sobre a Trindade (de trinitate), escrita por Agostinho de Hipona entre os anos de 400 e 416, representa um momento crucial na consolidação de seu pensamento. Dentre os vários temas de natureza filosófica e teológica presentes ao longo dos quinze livros que a compõem, destaca-se a reflexão acerca da constituição e da existência humana, desenvolvida a partir da convergência entre a discussão trinitária e a questão antropológica. Neste sentido, o presente artigo teve por objetivo discutir os conceitos que fundamentam a estrutura antropológica inacabada do homem, imagem de Deus, no filho, como modelo acabado, ao qual devemos nos configurar. Vimos que na "antropologia Agostiniana entende que o homem é mau por sua natureza decaída". Isso pode ser facilmente constatado na prática: Precisamos ensinar o que é errado para nossos filhos? Imagine a cena: um pai chama seu filho e lhe diz: "filho, hoje vou te ensinar a quebrar a TV e como bater na sua irmã". Já viram por aí alguma escola que ensina a roubar? Alguma escola que ensina a usar drogas? Alguma escola para corruptos? Para assassinos? Alguma escola de prostituição? Obviamente que não! Já sabemos, naturalmente, de tudo isso, sendo necessário, para passar da potência à prática, apenas a ativação, o startar do gatilho que existe dentro de nós. Às vezes, um símples estímulo já é o suficiente para desencadear todo mal em potência que carregamos.Por conta disso, o processo formativo precisa ser mais focado no certo; pois o errado naturalmente já o temos em nossa natureza decaída e pecaminosa, que ao entrar em contato com o mal logo é atraída por uma certa simpatia ímpar; uma identificação com o mal, de fato. Todos somos assim. Todos nós, sem exceção.Afirmar ser o homem totalmente depravado e mau em sua natureza significa dizer que todos os seus desejos, todas as suas atitudes  e até mesmo todos os seus amores são totalmente corrompidos e  tendem para o mal, numa relação quase simbiótica. Até mesmo o "amor de mãe" é maculado pelo desejo espúrio e oculto de auto-promoção. Exatamente por isso, também, não queremos saber de Deus, que é antítese de todo mal. Para querermos caminhar em direção a Deus é necessário que Ele mesmo mude completamente nossas entranhas, nossos desejos e implante, em nós, uma natureza diferenciada, tornando-nos "novas criaturas"; um parto espiritual, realmente. Um novo nascimento promovido pela ação Soberana do Espírito Santo, que concede essa "nova vida" apenas àqueles que Lhe aprouver conceder, de forma incondicional, sem méritos próprios do beneficiário e somente por Sua graça, que por definição é "favor não merecido". Mas há uma dimensão da bondade de Deus que pode ser chamada de "graça comum".  Essa é distribuída a todos sem exceção. Inclusive aos ímpios, blasfemos e ateus. A chuva, o oxigênio e o sol, por exemplo. Como diria o sabedoria experiencial do Judeu, acima de toda especulação filosófica:“A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe" (Provérbios 29,15). Freud costumava dizer: "dê-me uma criança e faço dela o que eu quiser".Para fazer da criança um verdadeiro "monstro social", entretanto, basta tão somente deixá-la entregue à sua própria natureza. Nada mais será necessário acrescentar-lhe. A formação humana é um desses instrumentos da "graça comum" de Deus, que servem como atenuadores da ação nefasta que a queda, no Édem, provocou no homem. Ela a pedagogia vai retirando esse "mal natural" do coração do homem, minimizando-o e aplacando-o a ponto de tornar possível a vida em sociedade. É por isso que, quanto mais um país investe, seriamente, em educação, mais ele se aproximará do ideal de justiça social, promovendo, assim, o bem social e uma convivência mais harmoniosa entre seus cidadãos, pois mais pessoas estarão com "menos mal" no coração. Pouca educação, por sua vez,é igual a "mais mal" no coração,  que resultará, impreterivelmente, em graves problema sociais, como a criminalidade, por exemplo. Muita educação, como já dissemos, é igual a "menos mal" no coração, consequentemente, menos problemas sociais, que trará como resultado um menor índice de criminalidade, inclusive. Já dizem alguns especialistas:“Cada escola que se abre no presente, é um presídio a menos que se fechará no futuro, o países desenvolvidos que investem seriamente em educação, podem confirmar isso.” Por fim, podemos concluir que a concepção de homem em Santo Agostinho se dá como uma unidade. Não se divide o corpo da alma, ou a matéria da forma, como faziam os gregos. Influenciado pelos neo platônicos, ele concebe o homem em uma unidade substancial de corpo e alma: o homem é a totalidade, a alma está encarnada no corpo como um todo.O homem, criado segundo a imagem e semelhança de Deus, torna-se participante da obra da criação. Assim, ele é dotado de dignidade, uma vez que o próprio Filho de Deus assumiu a carne humana: o ser humano é filho no Filho, pela da encarnação do Verbo. Por isso, o homem é dependente do amor de Deus que nos amou por primeiro. O caminho do homem é sempre buscar o seu Criador. E estando junto Dele, é capaz de viver uma vida justa e feliz, fugindo do mal e do pecado, vivendo no Bem.













REFERENCIAS





[1] Aqui estamos citando o Platão segundo o qual pensa existir um dualismo na concepção de homem. Para este o homem seria composto de duas partes separadas: corpo e alma. A alma estaria no corpo como prisioneira. O homem seria essencialmente alma.





[2]  O livre-arbítrio concedido ao homem por ele ser criado a imagem e semelhança de Deus é justamente para que o homem por sua própria vontade escolha o que fazer ou o bem ou o mal. Assim sendo, “[…] o homem é livre para fazer o bem e que não é forçado a cometer o mal por nenhuma necessidade. Se o homem peca, a culpa é sua. Agostinho insiste fortemente na bondade essencial e infinita de Deus” (AGOSTINHO, O livre-arbítrio, 9, p.18).





[3]  A origem do mal no mundo é algo de responsabilidade do próprio homem que escolhe o pecado ao invés da graça, por escolher seguir a sua própria vontade e paixão. “Ora, cometer o mal não é nada mais do que submeter sua vontade às paixões, ou preferir aos bens propostos pela fé eterna uma satisfação pessoal” (AGOSTINHO, O livre-arbítrio, 4, p.14).






BIBLIOGRAFIA: 






-Agostinho. A Trindade. Trad. de Frei Agustinho Belmonte, O.A.R. São Paulo: Paulus, 1994.




-AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução Maria Luiza Jardim Amarante. São Paulo: Paulus, 1984 (Coleção Patrística)




-AGOSTINHO, Santo. A Vida Feliz. Tradução Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 1998.




-AGOSTINHO, Santo. O livre-arbítrio. Tradução Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus, 1995.




-BOEHNER, Philotheus; GILSON, Etienne. História da Filosofia Cristã. Petrópolis: Vozes. 1991.




-GONÇALVES, Nailson dos Santos. Antropologia Agostiniana: O homem em direção a Deus. Revista Pandora, Número 40, 2012. Disponível em:“http://revistapandorabrasil.com/revista_pandora/filosofia_40/nailson.pdf” Acesso em: 21 maio. 2016.




-DHÊNIS ROSINA: “CORPO E EDUCAÇÃO: O DIÁLOGO ENTRE AS CONCEPÇÕES DE EPICURO, SÊNECA E SANTO AGOSTINHO”. (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá, como um dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Educação. Orientador: Prof. Dr. JOSÉ JOAQUIM PEREIRA MELO). Maringá, 2008.




-REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulinas. 1990. V.1.







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CIDADÃO DO MUNDO, NORDESTINO COM ORGULHO, Brazil
Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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