Jesus Cristo é a concretização
perfeita do casamento de Deus com a humanidade, prefigurada no Livro do
Gênesis, com Adão e Eva antes do pecado, e consumada no Livro do Apocalise com
as núpcias do Cordeiro. Esta é a intuição básica do Bem-Aventurado Papa João
Paulo II apresentada em sua Teologia do Corpo.O Bem-Aventurado Papa João
Paulo II deu continuidade à tradição iniciada pelo Papa Pio IX, em 1870, com as
chamadas Audiências Gerais. Elas acontecem desde então, às quartas feiras, e
são um modo de o Sumo Pontífice relacionar-se mais de perto com os peregrinos.
Nelas são proferidas as chamadas "catequeses". Enquanto ainda era cardeal, o Papa João Paulo II iniciou a
escrita de um livro que acabou não sendo nem terminado nem publico, justamente
por sua eleição. Tal livro, intitulado "Homem e Mulher Ele o Criou",
teve seus capítulos apresentados durante as Audiências Gerais do ano de 1979
até 1984.Foram 129 catequeses a respeito da chamada Teologia do Corpo, que
jogou a luz do Evangelho sobre a confusão moderna que se instalou sobre o
relacionamento entre homem e mulher. O Papa conseguiu apresentar a
sexualidade humana de maneira fiel ao ensinamento da Igreja e, ao mesmo tempo,
nova. A tradição foi apresentada de um
modo que o mesmo homem atual consegue entender. Em continuidade com a
tradição das chamadas “Audiências Gerais”, iniciada em 1870 por Pio IX, o Papa
S. João Paulo II começou logo após a sua eleição um ciclo de catequeses, entre
setembro de 1979 e novembro de 1984, a respeito da Teologia do Corpo, um
importante capítulo da antropologia teológica e moral familiar da Igreja
Católica. Trata-se de uma resposta suscitada pelo Espírito Santo à crescente
onda de ideias e práticas que, em sua essência, acabam por destruir a família,
o matrimônio e a própria dignidade humana.
Só o corpo, afirma o Papa, “é capaz de tornar visível o que é invisível:
o espiritual e o divino”; ele “foi criado para transferir para a realidade
visível do mundo o mistério oculto desde a eternidade em Deus e assim ser sinal
dele”.
Eis
aí a intuição fundamental de suas catequeses. Se o desejo era tornar conhecida
a beleza do grande projeto de Deus para o ser humano, mostrando como o corpo
humano, em toda a sua dimensão, foi pensado para expressar, pela linguagem de
uma casta fecundidade, aquele dom de si que é a nota característica de todo
amor autêntico e verdadeiro.
“Somente o homem casto e a mulher casta são capazes de amar
verdadeiramente” (João Paulo II)
A Teologia do Corpo desenvolvida pelo Papa
João Paulo II é resultado de 129 audiências pronunciadas no início de seu
pontificado, entre 1979 e 1984 sobre a sexualidade, o amor humano e a
família, oferecendo uma de suas maiores contribuições para a espiritualidade
conjugal. Num primeiro momento o Papa medita as Palavras de Cristo
sobre a Redenção do Corpo; depois trata do Sacramento do Matrimônio; e termina
trazendo uma reflexão sobre a Encíclica Humanae vitae, respondendo às interrogações
do homem de hoje. Para o Papa é preciso estabelecer uma autêntica espiritualidade
conjugal para compreender a família em seu valor autêntico e também a
valorização da vida:
“aqueles que desejam cumprir sua própria vocação humana e cristã no
matrimônio são chamados, antes de tudo, a fazer desta teologia do corpo a
essência de sua vida e de seu comportamento”.
A
Teologia do Corpo de João Paulo II traz grande contribuição para a sexualidade
humana e aprofundamento da compreensão do corpo e seu significado antropológico,
descobrindo, a partir do corpo, a pessoa com sua subjetividade e como dom de si
para o outro.O Papa afirma: “Pelo fato de o Verbo de Deus ter se feito
carne, o corpo entrou pela porta principal na teologia”, ou seja, pela
encarnação do Verbo o corpo ocupa um lugar central na teologia e na
espiritualidade cristã, Deus assume um corpo, elevando com isso a dignidade da
natureza humana.
Como compreender a
teologia do corpo?
Segundo
o Papa, no corpo acontece a revelação do mistério de Deus. “O corpo, e somente ele é capaz
de tornar visível aquilo que é invisível: o espiritual e divino. Ele foi criado
para transferir para a realidade visível do mundo o mistério invisível
escondido em Deus desde os tempos imemoráveis, e assim ser um sinal deste
mistério”, isto significa que Deus, ao criar homem e mulher à Sua
imagem e semelhança (Gn 1,27) imprimiu em nossos corpos o Seu mistério
invisível.
Para João Paulo II:
“O homem se torna ‘imagem e semelhança’ de Deus não somente através de
sua própria humanidade, mas também através da comunhão de pessoas que homem e
mulher formam desde o princípio. Em tudo isso, desde ‘o princípio’, nos é dada
a bênção da fertilidade vinculada à procriação humana”.
O
fato de Deus criar o corpo como um “sinal” de seu divino mistério, é a razão
pela qual o Papa fala do corpo como uma “teologia”, ou seja, no corpo Deus se
revela e por isto nele podemos conhecer os mistérios de Deus. Deus nos comunica
Sua vida “no” e “através do” corpo; “em” e “através do” Verbo tornado carne. Na
teologia do corpo o Papa João Paulo II apresenta a beleza da diferença sexual e
do nosso chamado à união sexual que possui uma linguagem inscrita por Deus que
proclama Seu mistério infinito e também torna este mistério presente para nós.
A teologia
do corpo é parte importante da antropologia teológica e moral familiar da
Igreja Católica,
por isto, o Papa João Paulo II aprofundou a partir de uma visão personalista e bíblica,
trazendo respostas aos questionamentos do homem moderno sobre temas da sexualidade
humana e familiar. A riqueza deste tema nos ajuda a compreendermos o valor e a beleza da
sexualidade humana vivida segundo o Evangelho. No seu ensinamento oficial, a
Igreja sempre viu no corpo algo positivo, porque a Encarnação é real: Jesus Cristo
assumiu um corpo. O corpo faz parte da nossa caminhada de fé. Mas não só,
cremos na ressurreição deste corpo: a ressurreição da carne a partir da
ressurreição de Jesus. Há a ascensão do corpo. Chamamos a Igreja de
Corpo de Cristo, a Eucaristia de Corpo de Cristo. Há uma unidade: é Jesus
inteiro. O corpo é nossa expressão, nosso sacramento.
O Romano Pontífice
afirma que:
"o corpo, de fato, e só ele, é capaz de tornar visível o que é
invisível: o espiritual e o divino. Foi criado para transferir para a realidade
visível do mundo o mistério oculto desde a eternidade em Deus e assim ser sinal
d´Ele." Esta é a intuição básica de toda sua teologia.
Segundo
ele, a observação do ser humano em sua integridade permite enxergar algo de
Deus. Da mesma forma, observando como Deus Se revelou em Jesus Cristo é
possível entender, no Deus que se fez carne, algo do ser humano. Esta circularidade
divina revelada no homem e do homem que se revela no Deus que se encarnou, teologia
e antropologia que se fecundam mutuamente, está contida no Capítulo 2 do
Gênesis:
E o Senhor Deus disse: "Não é bom que o homem esteja só. Vou
fazer-lhe uma auxiliar que lhe corresponda". Então o Senhor Deus formou da
terra todos os animais selvagens e todas as aves do céu, e apresentou-os ao
homem para ver como os chamaria; cada ser vivo teria o nome que o homem lhe
desse. E o homem deu nome a todos os animais domésticos, a todas as aves do céu
e a todos os animais selvagens, mas não encontrou uma auxiliar que lhe
correspondesse. Então o Senhor Deus fez vir sobre o homem um profundo sono, e
ele adormeceu. Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com carne. Depois,
da costela tirada do homem, o Senhor Deus formou a mulher a apresentou-a ao
homem. E o homem exclamou: "Desta vez sim, é osso dos meus ossos e carne
da minha carne! Ela será chamada
'humana' porque do homem foi tirada". (Gên 2, 18-23)
Esta
belíssima poesia, a primeira de amor, foi proclamada antes do pecado primeiro.
A união de Adão e de Eva no Paraíso, antes de o projeto de Deus ser distorcido
pela desobediência, logo no início da Bíblia, reflete um outro enlace narrado
no último Livro, as núpcias do Cordeiro, o casamento entre Deus e o homem.
É interessante notar o desejo de Deus em unir-se à humanidade. O ser
humano foi feito para este casamento último. É por isso que nenhum homem ou
mulher encontrará em seu companheiro aqui na Terra o preenchimento do coração,
porque somente em Deus será saciado o anseio do coração humano.
O
namoro ou o casamento não podem ser empecilhos para a aproximação com Deus. O relacionamento
de amor honesto, casto, de doação deve ser um trampolim para o Divino e o
desejo que se sente pelo sexo oposto deve refletir a busca pela verdadeira
felicidade que, como já foi dito, somente será saciada em Deus. Justamente por
causa disso é que o homem peca. O Diabo se apropria do instinto natural de todo
ser humano pela sexualidade e a perverte. Os homens passam, então, a procurar no sexo
um "deus alternativo". E este casamento encontra sua
plenitude na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é a união entre Deus e a
humanidade, numa só pessoa. E é por isso que o Papa João Paulo II diz: "Pelo
fato de o Verbo de Deus ter se feito carne, o corpo entrou pela porta principal
na teologia."Além desta preciosa intuição básica, o Papa João
Paulo II apresenta, em sua Teologia do Corpo, um método entusiasmante. O
universo filosófico-teológico a que ele pertencia era riquíssimo e é importante
deixar claro, ao menos para os estudantes de Filosofia, o quanto se pode
extrair dela. É possível elencar três chaves de leitura:
1. João Paulo II,estudou Santo Tomás de
Aquino no Angelicum em Roma, portanto, foi um tomista que usou o Aquinate para
entender São João da Cruz e a espiritualidade carmelitana.
2. Além de tomista, João Paulo II foi adepto do
"personalismo", portanto, cria no conceito de
"pessoa" e na relacionalidade presente na substância do ser humano.
3. Tomista e personalista, João Paulo II foi
também adepto da "fenomenologia", ou seja, corrente contrária ao
positivismo que tem seu ponto de partida nas experiência pessoais, extinguindo,
portanto, a separação entre o sujeito e o objeto.
AUDIÊNCIA GERAL - Quarta-feira,
8 de Abril de 1981
Pedagogia do corpo, ordem
moral e manifestações afetivas:
1.
Convém-nos agora concluir as reflexões e as análises baseadas nas palavras
ditas por Cristo no Sermão da Montanha, com que se referiu ao coração humano,
exortando-o à pureza: "Ouvistes que foi dito: Não cometerás
adultério. Eu porém digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher,
desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração" (Mt 5, 27-28).
Dissemos repetidamente que estas palavras, escutadas uma vez pelos ouvintes, em
número limitado, daquele Sermão, se referem ao homem de todos os tempos e
lugares, e fazem apelo ao coração humano, em que se inscreve a mais interior e,
em certo sentido, a mais essencial trama da história. É a história do bem e do mal (cujo início está ligado, no Livro do
Génesis, com a misteriosa árvore do conhecimento do bem e do mal) e, ao
mesmo tempo, é a história da salvação, cuja palavra é o Evangelho e cuja força
é o Espírito Santo, dado Aqueles que recebem o Evangelho com o coração sincero.
2.
Se o apelo de Cristo ao "coração" humano e, ainda antes, a sua
referência ao "princípio" nos consentem construir ou pelo menos
esboçar uma antropologia, que podemos chamar "teologia do corpo", tal
teologia é, ao mesmo tempo, pedagogia. A pedagogia tende a educar o homem,
pondo diante dele as exigências, motivando-as, e indicando os caminhos que
levam às realizações delas. Os enunciados de Cristo têm também este
fim: são enunciados "pedagógicos". Contêm uma pedagogia do corpo,
expressa de modo conciso e, ao mesmo tempo, o mais possível completo. Quer a
resposta dada aos Fariseus quanto à indissolubilidade do matrimónio, quer a
palavras do Sermão da Montanha a respeito do domínio da concupiscência,
demonstram, pelo menos indiretamente, ter o Criador assinalado como
característica do homem o corpo, a sua masculinidade e feminilidade; e que na
masculinidade e feminilidade lhe assinalou em certo sentido como característica
a sua humanidade, a dignidade da pessoa, e também o sinal transparente da
"comunhão" interpessoal, em que o homem mesmo se realiza através do
autêntico dom de si. Pondo diante do homem as inteligências conformes às
características a ele confiadas, o Criador indica simultaneamente ao homem,
varão e mulher, os caminhos que levam a assumi-las e a realizá-las.
3.
Analisando estes textos-chaves da Bíblia, até à raiz mesma dos significados que
encerram, descobrimos precisamente aquela antropologia que pode ser denominada
"teologia do corpo". E é esta teologia do corpo que funda depois o
mais apropriado método da pedagogia do corpo, isto é, da educação (melhor, da
auto-educação) do homem. O que adquire particular atualidade para o
homem contemporâneo, cuja ciência no campo da biofisiologia e da biomedicina
muito progrediu. Todavia, esta ciência trata o homem sob determinado "aspecto"
e portanto é mais parcial que global. Conhecemos bem as funções do corpo como
organismo, as funções ligadas com a masculinidade e a feminilidade da pessoa
humana. Mas tal ciência, de per si, não desenvolve ainda a consciência do corpo
como sinal da pessoa, como manifestação de espírito. Todo o desenvolvimento da
ciência contemporânea, relativo ao corpo como organismo, tem sobretudo o
carácter do conhecimento biológico, porque é baseado na separação, no interior
do homem, entre aquilo que é nele corpóreo e aquilo que é espiritual.
Quem se serve de um conhecimento tão unilateral das funções do corpo como
organismo, não é difícil que chegue a tratar o corpo, de modo mais ou menos
sistemático, como objeto de manipulações; em tal caso o homem cessa, por assim
dizer, de identificar-se subjetivamente com o próprio corpo, porque privado do
significado e da dignidade derivantes de este corpo ser próprio da pessoa.
Encontramo-nos aqui no limite de problemas, que muitas vezes exigem soluções
fundamentais, impossíveis sem uma visão integral do homem.
4.
Precisamente aqui vê-se claro que a teologia do corpo, como a deduzimos
desses textos-chaves das palavras de Cristo, se torna o método fundamental da
pedagogia, ou seja, da educação do homem do ponto de vista do corpo, na plena
consideração da sua masculinidade e feminilidade. Aquela pedagogia pode
ser entendida sob o aspecto de uma própria "espiritualidade do
corpo"; o corpo, de facto, na sua masculinidade ou feminilidade, é dado
como encargo ao espírito humano (o que de maneira estupenda foi expresso por
São Paulo na linguagem que lhe é própria) e por meio de uma adequada maturidade
do espírito torna-se, também ele, sinal da pessoa, de que a pessoa está
consciente, e autêntica "matéria" na comunhão das pessoas. Por
outras palavras: o homem, através da sua maturidade espiritual, descobre o
significado esponsal, próprio do corpo. As palavras de Cristo no Sermão da
Montanha indicam que a concupiscência, de per si, não desvela ao homem aquele
significado, antes pelo contrário, o ofusca e obscurece. O conhecimento
puramente "biológico" das funções do corpo como organismo,
relacionadas com a masculinidade e feminilidade da pessoa humana, só é capaz de
ajudar a descobrir o autêntico significado esponsal do corpo se caminha a par e
passo com uma adequada maturidade espiritual da pessoa humana. Sem
isto, tal conhecimento pode ter efeitos absolutamente opostos; isto é
confirmado por múltiplas experiências do nosso tempo.
5.
Deste ponto de vista, é necessário considerar com perspicácia as enunciações da
Igreja contemporânea. Uma adequada compreensão e interpretação delas, como
também a sua aplicação prática (isto é, precisamente, a pedagogia), requer
aquela aprofundada teologia do corpo que, afinal, deduzimos sobretudo das
palavras-chaves de Cristo. Quanto às enunciações contemporâneas da Igreja, é
necessário tomar conhecimento do capítulo intitulado "Dignidade do
Matrimónio e da Família e sua valorização", da Constituição pastoral do
Concílio Vaticano II (Gaudium et Spes, parte II, c. I) e, em seguida da
Encíclica Humanae vitae de Paulo VI. Sem qualquer dúvida, as palavras de
Cristo, a cuja análise dedicámos muito espaço, tinham como fim, apenas, a
valorização da dignidade do matrimónio e da família; daí a fundamental
convergência entre elas e o conteúdo de ambas as enunciações mencionadas, da
Igreja contemporânea. Cristo falava ao homem de todos os tempos e lugares; as
enunciações da Igreja tendem a actualizar as palavras de Cristo, e por isso
devem ser relidas segundo os princípios daquela teologia e daquela pedagogia
que nas palavras de Cristo encontram raiz e apoio.
É
difícil realizar aqui uma análise global das citadas enunciações do magistério
supremo da Igreja. Limitar-nos-emos a referir algumas passagens. Eis de que
modo o Vaticano II, pondo entre os mais urgentes problemas da Igreja no mundo
contemporâneo "a valorização da dignidade do matrimónio e da família"
caracteriza a situação existente neste campo: A dignidade desta instituição
(isto é, do matrimónio e da família) não resplandece em toda a parte com igual
brilho. Encontra-se obscurecida pela poligamia, pela epidemia do divórcio, pelo
chamado amor livre e por outras deformações. Além disso, o amor
conjugal é muitas vezes profanado pelo egoísmo, pelo amor do prazer e pelas
práticas ilícitas contra a geração" (Gaudium et Spes, 47). Paulo VI,
expondo na Encíclica Humanae vitae este último problema, escreve entre outras
coisas: "Pode-se ainda temer que o homem, habituando-se ao uso das
práticas anticoncepcionais, acabe por perder o respeito da mulher e (...)
chegue a considerá-la como simples instrumento de gozo egoísta e não já como
sua companheira respeitada e amada" (Humanae vitae, 17).
Não
nos encontramos porventura aqui na órbita da mesma solicitude, que uma vez
ditara as palavras de Cristo sobre a unidade e a indissolubilidade do
matrimónio, como também as do Sermão da Montanha, relativas à pureza do coração
e ao domínio da concupiscência da carne, palavras desenvolvidas mais tarde com
tanta perspicácia pelo Apóstolo Paulo?
6.
No mesmo espírito, o Autor da Encíclica Humanae vitae, falando das exigências
próprias da moral cristã, apresenta, ao mesmo tempo, a possibilidade de
cumpri-las, quando escreve:
"O domínio do instinto,
mediante a razão e a vontade livre, impõe indubitavelmente uma ascese, Paulo VI
usa este termo, para que as manifestações afetivas da vida conjugal sejam
segundo a reta ordem e em particular para que se observe a continência
periódica. Mas esta disciplina, própria da pureza dos esposos, bem longe de
prejudicar o amor conjugal, confere-lhe, pelo contrário, mais alto valor
humano. Exige contínuo esforço (precisamente esse esforço foi chamado acima
"ascese"), mas graças ao seu benéfico influxo os cônjuges desenvolvem
integralmente a sua personalidade enriquecendo-se de valores espirituais.
Ela... favorece a atenção para com o outro cônjuge, ajuda os esposos a banir o
egoísmo, inimigo do verdadeiro amor, e aprofunda o seu sentido de
responsabilidade..." (Humanae vitae, 21).
7.
Contentemo-nos com estas poucas passagens. Elas, particularmente a última, demonstram
de maneira clara, quanto é indispensável, para uma adequada compreensão do
magistério da Igreja contemporânea, aquela teologia do corpo, cuja base
procurámos sobretudo nas palavras do próprio Cristo. É exatamente esta, como já
dissemos, que se torna o método fundamental de toda a pedagogia cristã do
corpo. Fazendo referência às palavras citadas, pode-se afirmar que o fim da
pedagogia do corpo está precisamente em fazer que "as manifestações
afectivas", sobretudo as "próprias da vida conjugal", sejam
conformes à ordem moral, numa palavra, à dignidade das pessoas. Nestas palavras
volta o problema da recíproca relação entre o "ecos" e o
"ethos", de que já tratámos. A teologia, entendida como método
da pedagogia do corpo, prepara-nos também para as novas reflexões sobre a
sacramentalidade da vida humana e, em particular, da vida matrimonial.
O Evangelho da pureza
do coração, ontem e hoje:
Concluindo
nós com esta frase o presente ciclo das nossas considerações, antes de passar
ao ciclo sucessivo, em que a base das análises serão as palavras de Cristo
sobre a ressurreição do corpo, desejamos ainda dedicar um pouco de atenção à
"necessidade de criar clima favorável para a educação da castidade",
de que trata a Encíclica de Paulo VI (cf. Humanae vitae, 22), e
queremos centrar estas observações sobre o problema do "ethos" do
corpo nas obras da cultura artística, com particular referência às situações
que encontramos na vida contemporânea.
Fonte:
Vatican.va
Em
1985 foram publicadas 133 catequeses, pois algumas não haviam sido pronunciadas
em público. A edição italiana foi publicada em português pela EDUSC, em 2005. No
entanto, os textos do Papa, por serem bastante profundos, necessitam de uma espécie
de "tradução", ou seja, postos numa linguagem mais simples.
Um bom subsídio para iniciantes é o livro de Christopher West, "Teologia
do Corpo para Principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João
Paulo II", Editora Myrian, 2008. Outra obra que
será utilizada neste curso é o comentário do próprio Christopher West às
Catequeses, intitulado "Theology of the Body Explained (Revised): A
Commentary on John Paul's "Man and Woman He Created Them". Seguem fontes de
consultas para maiores aprofundamentos:
Bibliografia:
• João Paulo II, Teologia do Corpo: O Amor
Humano no Plano Divino. Trad. port. de José E. Câmara de B. Carneiro. São
Paulo: Ecclesiae, 2014. As catequeses também estão disponíveis aqui.
• _____. Amor e Responsabilidade.
(Publicado antes [1960] do início do pontificado.) Trad. port. de J. Jarski e
L. Carrera. São Paulo: Loyola, 1982.
• _____. Exortação Apostólica
"Familiaris Consortio", de 22 nov. 1981 (AAS 74 [1982] 81-191).
• _____. Carta Apostólica "Mulieris
Dignitatem", de 15 ago. 1988 (AAS 80 [1988] 1653-1729).
• _____. Carta "Gratissimam
Sane" às Famílias, de 2 fev. 1994 (AAS 86 [1994] 868-925).
• _____. Encíclica "Evangelium
Vitæ", de 25 mar. 1995 (AAS 87 [1995] 401-522).
• Leão XIII, Encíclica "Arcanum
Divinæ Sapientiæ", de 10 fev. 1880 (ASS 12 [1879] 385-402).
• Pio XI, Encíclica "Casti
Conubii", de 31 dez. 1930 (AAS 22 [1930] 539-592).
• Pio XII, Encíclica "Sacra
Virginitas", de 25 mar. 1954 (AAS 46 [1954] 161-191).
• Paulo VI, Encíclica "Humanæ
Vitæ", de 25 jul. 1965 (AAS 60 [1968] 481-503).
• Congregação para a Doutrina da Fé,
Declaração "Persona Humana", de 29 dez. 1975 (AAS 68 [1976] 77-96).
• Congregação para a Educação Católica,
Orientações Educativas sobre o Amor Humano, de 1 nov. 1983.
• Conselho Pontifício para as Famílias,
Sexualidade Humana: Verdade e Significado, de 8 dez. 1995.
• Christopher West, Teologia do Corpo para
Principiantes. Trad. port. de Cláudio A.
Casasola. Porto Alegre: Myrian, 2014.
• _____.
Theology of the Body Explained. 2.ª ed., Boston: Pauline Books & Media,
2008.
• George Weigel, Testemunho de Esperança.
Trad. port. de Sofia S. M. Mendes e Maria H. H. Temundo. Lisboa: Bertrand,
2000.
Apostolado
Berakash
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