“Vem vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora não
espera acontecer...” (Geraldo Vandré).
Vocês que são meus
contemporâneos, devem se lembrar muito bem desses versos, cantados por Geraldo
Vandré na época da “Contra Revolução
Comunista dos militares no Brasil”; porém tranquilizem-se, não vai aqui
nesse contexto nenhuma conotação política, mas sim uma conotação para com a
vida.
Às vezes,
simplesmente não existem respostas nem explicação. Apenas a vida. Apenas as
pessoas. Apenas o momento.Apenas o mundo. Apenas a dor e o amor. E se
insistirmos em não aceitar, em brigar, em nos rebelar, em nos revoltar, conseguiremos
tão somente mais dor e menos amor. Aceite que você não tem o controle
total sobre todas as coisas, que você não pode decidir sozinho, que o universo
tem seu próprio ritmo. Faça o que está ao seu alcance; faça a sua parte, bem
feito e da melhor maneira que puder. E o que não puder, entregue e espere, porque
embora diga sabiamente a música "quem sabe faz a hora, não espera
acontecer", tem ocasiões nesta vida em que quem sabe espera acontecer e respeita
a hora de não fazer, até que um dia, de repente aquilo acontece.
O homem na sua
existência é um ser limitado. O mundo que o cerca e no qual ele habita e o
modifica, é um mundo limitado. Mas por algum propósito a sua razão está aberta
ao ilimitado, vislumbra no transcendente a totalidade de seu ser. O homem de fé
crê em seu Deus, como na resposta dada por Jesus a um fariseu e doutor da lei
sobre o maior dos mandamentos: “Amarás ao Senhor teu Deus com todo seu
coração, toda a sua alma e sua inteligência” (Mt 22,37), mas nesse
“todo”, Jesus afirma também que o homem pode crer com sua incompreensão,
atitude humilde ante o transcendente e situações imanentes, que o leva a um
silêncio, não resignado, mas de profundo amor e reverência:
“Cremos que Deus pode ser aquilo que nós não compreendemos. Acima da
razão que quer explicações, há o mistério que pede silêncio e reverência...”
Há pessoas que
preferem sacrificar sua própria vida a negar suas convicções. Mas isso não os
diferencia daqueles que entregam a vida para não trair seu país ou uma ideologia
política, que quer antecipar um tempo novo. Porém, o mártir vai mais além:
ele entrega a sua vida como testemunho do evangelho, e não de uma ideologia. Sua
morte era um sinal de que nada era mais importante do que ser fiel ao
seguimento de Jesus Cristo, mesmo que isso significasse a morte.
A sua convicção se
centra na verdade em que ele acredita e que a partir daquele momento torna-se o
testemunho de uma Igreja que professa a mesma fé. As catacumbas nos apresentam
o lado mais eloqüente da vida cristã dos primeiros séculos, pois constituem uma
escola de fé, de esperança e de caridade. Remete-nos às lembranças daqueles
tempos em que grandes mártires caminhavam para o martírio conscientes e
esperançosos de que algo melhor lhes esperava. De que o prêmio a sua fidelidade
e ao projeto de Jesus é o que em breve contemplariam:
“Ficai alegres e contentes, porque será grande para vós a recompensa no
céu” (Mt5,11).
Ao longo da história dos
primeiros séculos não faltaram exemplos de gratuidade recebida e gratuidade
oferecida. Transformaram essa gratuidade em característica primordial da
experiência cristã e de sua transposição ativa para a sociedade.
Na raiz da controvérsia Pelagiana estava o
questionamento: É o homem ou Deus quem quer e decide?
Para essa pergunta
Agostinho mostra que o ponto de partida de nossas decisões, chamadas livres, há
forças secretas, independentes de nossa vontade. Nesse sentido ele afirma que o
livre arbítrio é suficiente para fazer o mal, mas não é capaz, por sí mesmo de chegar
ao bem. Para tal é necessário o auxílio de Deus em forma de graça.A graça
divina e a aceitação dessa pelo homem, criam espontaneamente, na natureza
humana, uma nova natureza, uma sobrenatureza que faz como que o homem aja como
filho de Deus.
Nessa total entrega a
Deus, Balthasar compreende a verdadeira fé, onde se mistura a ausência com a
presença, o silêncio com a Revelação: essa é a dialética divina. Na compreensão
de Balthasar é nesse ausentar-se do cristão que reside a sua presença mais
ativa, mais significativa:
“Também o cristão é com Cristo um ausente do mundo, para estar presente nele
desde Deus, de modo mais intenso, embora incompreensível. A missão cristã no
mundo supõe esse estar morto para o mundo, não apenas na própria entrega ao
seguimento de Jesus, como caminho terreno, mas também enquanto a dialética da
imanência, sempre maior em sua transcendência, toma corpo no cristão, sabendo
que o tempo esconde o que é eterno...”
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