Entrevista ao postulador dos três
padres assassinados pela guerrilha marxista-maoísta em 1991. (Serão beatificados
dia 05/12/2015)
Frei Angelo Paleri, da Ordem dos Frades Menores
Conventuais, é o postulador dos dois sacerdotes mártires pertencentes à sua
ordem, assassinados pelo Sendero Luminoso no dia 8 de agosto de 1991, e do
sacerdote italiano Sandro Dordi, também morto por este grupo criminoso no dia
25 de agosto do mesmo ano.
Aos frades poloneses, Michal
Tomaszek e Zbigniew Strzakowski, depois de executá-los, colocaram neles um
cartaz com os dizeres:
“Assim morrem os llames (servidores)
do capitalismo”, mas o
motivo era pela caridade que realizavam, pois, segundo os criminosos, com os
alimentos que distribuíam aos camponeses, evitavam que entrassem na luta armada
e confundiam as pessoas, porque a religião é o ópio dos povos.Frei Paleri, leitor assíduo de ZENIT, compartilha
com os nossos leitores nesta entrevista – realizada em Roma há pouco – diversos
detalhes impressionantes do martírio destes três sacerdotes, que deram a sua
vida nos Andes por seguir a Cristo, e que serão beatificados na cidade peruana
de Chimbote, neste sábado, 5 de dezembro.
1)- ZENIT: Qual era o contexto em que se
encontravam os religiosos?
- Frei Angelo: Ambos os irmãos foram mortos na
noite do 9 de agosto e Dom Sandro, o sacerdote diocesano italiano, pela tarde
do 25 de agosto. Trabalhavam a poucos quilômetros de distância. Nesse momento
Chimbote estava na mira do grupo marxista-maoísta, Sendero Luminoso, porque
estava no seu objetivo conquista-la como já acontecia em outras regiões. Sendero
tinha dito que se o bispo Bambarén não renunciava, matariam um missionário por
semana. Temos até a carta de Bambarén colocando a sua renúncia à
disposição do Papa. Não temos uma resposta oficial do papa João Paulo II a
mons. Bambarén, sabemos sim que o bispo, na semana seguinte, viajou para Lima.
Em uma carta dizia, estarei em Lima com a Conferência Episcopal.
2)- ZENIT: Teriam sofrido outros ataques?
- Frei Angelo: Nove meses antes, em uma viagem
à região em uma caminhonete, o bispo encontrou-se com uma barreira a estrada.
Don Sandro quis sair para remover as pedras e Bambarén disse-lhe para dar
marcha ré e voltar rapidamente. Houve também duas bombas contra o palácio
episcopal em Chimbote.
3)- ZENTI: E a polícia, o exército?
- Frei Angelo: Os guerrilheiros tinham dominado
a região do Pariacoto na pré-cordilheira, lá não havia nem política nem
exército. O prefeito que foi assassinado junto com os dois frades tinha sido
eleito por um movimento popular. O terceiro frei que não estava lá tinha sido
colocado quando foi a eleição do prefeito para contar as mãos levantadas.
4)- ZENIT: Atacaram os sacerdotes por
algum fato especial ou porque eram religiosos e basta?
- Frei Angelo: Uma coisa muito repetida pelo Sendero
é que não queriam as ajudas de alimentação. Em cada paróquias haviam pessoas
encarregadas e que faziam chegar os alimentos aos povos distantes: Pariacoto
está na pré-cordilheira, mas a paróquia chega até regiões a 4 mil metros de
altura, falamos dos Andes. Eles diziam: “são ajudas dos
imperialistas... Enquanto os religiosos, párocos e a Igreja distribui ajuda
material as pessoas estão tranquilas e não se envolvem na ação violenta, não se
rebelam”. Estas acusações foram dirigidas aos dois irmãos. Os guerrilheiros
chegaram dentro da Igreja, depois da celebração eucarística. Mais ainda, alguém
lhes tinham avisado aos irmãos que viram os senderistas no povo.
5)- ZENIT: Fizeram alguma espécie de
tribunal popular?
- Frei Angelo: Neste caso dos freis o julgamento
foi na Igreja. Não estavam presentes as pessoas do povoado. “Vocês
confundem as pessoas, a religião é o ópio dos povos”, disseram. Também pediram
a chave da caminhonete porque diziam “foi dada pelo imperialismo”,
embora eles tenham dito que foi dada aos frades pelo ministro geral de Roma.
Antes não tinham carro e viajavam a cavalo ou com transportes públicos.
6)- ZENIT: O que aconteceu quando
acabaram as acusações?
- Frei Angelo: A seguir foram levados para
frente do município, junto com o prefeito que tinha sido eleito graças à
influência do Sendero, mas agora o acusavam de não ser dóceis às suas
exigências. Este prefeito disse: “Vocês são diferentes do que pensávamos”.
Jogaram-nos na caminhonete e no veículo conseguiu entrar uma freira peruana,
que depois foi jogada pra fora da caminhonete. Pararam depois da ponte e o
explodiram.
7)- ZENIT: Os dois frades poloneses, se
deram conta de que iam ser assassinados?
- Frei Angelo: Os irmãos entenderam porque uma
semana antes, outro sacerdote espanhol, Miguel Company, levou um tiro na
cabeça, mas não morreu. Pe. Miguel no carro disse algo do tipo, por que querem
nos matar, e o outro responde: Miguel, fiquemos tranquilos, e começaram a rezar
a Ave Maria. Neste ponto foi quando empurraram fora a freira. Um quilômetro depois
o executaram. Um com um tiro na cabeça, outro com dois tiros, um dos quais na
cabeça. E lhes colocaram um cartaz em um pedaço de papel que dizia: “Assim
morrem os llamas (servidores)
do capitalismo”. O caminho levava para o Pueblo Viejo, localizado um pouco
mais acima, onde escutavam os tiros. A rua que depois levava para Huaráz. Na
Igreja estavam também outros três jovens peruanos postulantes a frades. E um
quarto que se teme que tenha sido um infiltrado.
8)- ZENIT: Quem eram os sacerdotes
poloneses?
- Frei Angelo: Os poloneses eram frades
recém-ordenados sacerdotes, era o momento do Solidariedade. Os dois tinham
saído antes da queda do muro de Berlim.
9)- ZENIT: Por que os sacerdotes
poloneses são beatificados junto com o sacerdote italiano?
- Frei Angelo: O bispo Bambarén pediu ao nosso ministro geral se poderia juntar nesta causa o sacerdote diocesano,
claramente com autorização do bispo de Bérgamo. E foi autorizado.
Fonte: Agência Zenit
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