(O esposo amado de nossas almas) |
Jesus Cristo tem uma noiva, a sua Igreja, que é
seu corpo. (Ef 1,22-23). Em Pentecostes, os primeiros membros da “noiva”
receberam o espírito santo com toda profusão de dons para o bem de seu corpo.
Isto era similar aos presentes de noivado, constituindo para a noiva espiritual
de Cristo um “penhor antecipado da sua herança, com o propósito de livrar por
meio dum resgate a propriedade do próprio Deus, para o seu glorioso louvor”.
(Ef 1,13-14).
O apóstolo Paulo falou daqueles aos quais havia
apresentado a verdade sobre Cristo e que se haviam tornado cristãos como que prometidos
em casamento, e exortou-os a permanecerem puros (Sem misturas) como virgem
casta de Cristo (2Cor 11,2 - 3) Esses prometidos em noivado a Cristo, enquanto
na terra, são considerados comprometidos,como os casados estão unidos por
compromissos recíprocos, e são convidados à refeição noturna das núpcias do Cordeiro (Ap 19,9.
O AMOR ESPONSAL EM SÃO JOÃO DA CRUZ
Em toda a obra de João da Cruz, a cor principal, a
principal tonalidade do amor de Jesus é a do Amor Esponsal. De fato, o amor de
Cristo Esposo é a realidade central, a mais profunda, que unifica todos os escritos
do doutor místico, e sobretudo, que nos permite uma interpretação
constantemente cristocêntrica.
No Evangelho, Jesus se define como
Esposo (cf. Mt 9,15) e este título cristológico se explica em todas as obras de
São João da Cruz, com toda a sua potência de amor, do amor infinito. Por outro
lado, é digno de nota que em todos os escritos do nosso santo, o termo “Esposo”
é utilizado muito mais que o termo “Cristo”.
Símbolo e conceito: matrimônio
espiritual e união com Deus
Em relação com o Esposo encontramos,
evidentemente, a Esposa, assim como o grande símbolo da sua união de amor, ou
seja, o matrimônio espiritual. A mesma realidade que São João da Cruz indica
conceitualmente em temos de “união com Deus”, ele a traduz de maneira ainda
mais rica e mais profunda quando usa a expressão simbólica de matrimônio
espiritual.
De fato, o símbolo do matrimônio espiritual é mais
explicitamente cristológico que o conceito “união com Deus”.
Neste grande poeta que é São João da Cruz, o símbolo vem
sempre antes do conceito: mais amplo que o conceito, este sempre o ilumina e
ultrapassa. Por isso, o matrimônio espiritual, que indica essencialmente a
relação com o Cristo Esposo, mostra que a união com Deus aqui tratada é sempre
união com Deus em Jesus, “por ele, com ele e nele”.
A teologia simbólica
Através
do uso da teologia simbólica, colocada em relação com a teologia especulativa,
que usa os conceitos, e sobretudo com a teologia mística, que vai além de
qualquer símbolo e conceito no silêncio da santa escuridão, São João da Cruz se
insere na posteridade de Dionísio, o Areopagita, uma das suas principais fontes
patrísticas. É nesta prospectiva patrística que convém interpretar a teologia
especulativa de São João da Cruz.
A linguagem simbólica é aquela
privilegiada da Revelação de Deus na Sagrada Escritura, porque é a linguagem
mais encarnada, aquela que anuncia a Encarnação no Antigo Testamento. É a
linguagem própria da Encarnação; o Verbo Encarnado se exprime de modo simbólico
nas parábolas e na instituição dos Sacramentos.
Assim, a simbólica cristã exprime aquilo que Charles Péguy
define com exatidão “a misteriosa ligação do carnal e do espiritual”: no homem
criado carne e espírito, e sobretudo em Jesus, o Verbo Encarnado “no qual
habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Col 2,9), Jesus, o Esposo
que “UNE” esponsal e definitivamente na
sua pessoa a Divindade e a humanidade.
Assim a ação simbólica de Deus,
unindo a divindade e a humanidade na pessoa do Deus-Homem vem reparar a
dramática separação causada pelo pecado, sugerido ao homem por uma vontade
diabólica.
A lógica do amor divino é simbólica: sempre une, recolhe,
enquanto a lógica do pecado é diabólica: divide e contrapõe.
A simbologia cristã expressa este grande mistério de
união, grande mistério de amor, do amor de Jesus. Em Jesus, Deus mesmo se
revela doando-se humanamente, Deus mesmo se comunica corporalmente dando-se
corporalmente, porque “nele habita corporalmente toda a plenitude da
Divindade”. A simbólica cristã é a expressão da comunhão total do homem com
Deus em Jesus; por isto a Virgem Maria foi a primeira a comunicar totalmente o
mistério de Jesus, com todo o seu ser, corpo e alma, ela da qual o Evangelho
diz que “recolhia” literalmente que “simbolizava” tudo no seu coração
(sumballousa) (Lc 2,19).
São João da Cruz, na sua teologia simbólica, recolhe a
intimidade do seu coração todo o conteúdo da Sagrada Escritura em relação à
palavra de Jesus que revela a si mesmo como Esposo.
Podemos afirmar que ele acolheu esta palavra com todo o
coração e nos convida a recebê-la do mesmo modo, sem medo, sem “desconfiança”,
mas com confiança na sua potência de amor.
Nos escritos do doutor e místico, a simbólica esponsal é
uma linguagem de amor extremamente forte e extremamente pura:
“a sua força é a mistura da sua pureza, uma pureza
virginal. Quanto mais o acolhemos, mais purificará o nosso coração. Dado que
todos somos chamados à santidade, não existe dúvida de que cada coração é
chamado à mesma realidade deste grandíssimo amor.”
Esplendor do coração humano no
amor de Jesus
Na escola dos santos, aprendemos a
descobrir sempre mais o esplendor do coração humano, a obra maravilhosa de
Deus, imagem e semelhança do seu mistério de amor. O coração humano foi feito
por amor e para o amor, para ser amado e para amar infinitamente, na mais
profunda comunhão com o coração de Jesus. O nosso coração humano poderia ser
comparado a um maravilhoso instrumento musical, um instrumento cujas cordas se
diferenciam de acordo com o coração ser de homem ou de mulher. Estas cordas são
principalmente aquela do amor materno e do amor paterno, do amor filial e do
amor fraterno e, enfim, do amor esponsal. No coração humano estas cordas são
essenciais. O pecado não as destruiu mas as desafinou, de tal forma que
frequentemente desafinam. O Espírito Santo as afina sem quebrá-las, e quando as
faz vibrar, emitem um maravilhoso som. A santidade, longe de ser uma mutilação
do coração humano, é a sua maturação mais plena no amor de Jesus.
Em São João da Cruz, a corda do amor esponsal vibra
harmoniosamente com todas as outras cordas:
“aquela do amor filial que responde ao amor paterno, a do
amor materno e a do amor fraterno. Trata-se de todas as vibrações do coração
humano no amor de Jesus.”
A alma-esposa: um “conceito simbólico”
É conveniente precisar o sentido
deste termo tão utilizado por João da Cruz: este é mais simbólico que
conceitual.
Podemos ainda dizer que nele a alma é um conceito
simbólico. Com efeito, do ponto de vista conceitual (teologia especulativa), a
alma é considerada na sua relação com o corpo, distinta do corpo e unida
intimamente ao corpo, enquanto do ponto de vista da teologia simbólica, a alma
indica a Esposa na sua relação com o Esposo, na união de amor mais íntima com
Jesus Esposo.
Principalmente neste último significado, João da Cruz fala
da alma(Humanidade); trata-se na realidade do homem todo inteiro, corpo e alma,
mas que é simbolizado por um nome feminino, a alma, como Esposa de Cristo.
Hoje falaríamos mais de bom grado de pessoa, um conceito que também tem a vantagem de ser um nome feminino.Vimos que o símbolo do matrimônio espiritual dá ao conceito de união com Deus todo um significado cristológico. É o mesmo para o símbolo da Esposa que projeta esta idêntica luz cristológica sobre o conceito de alma:
portanto, quando João da Cruz fala de alma, se está
referindo sempre à alma Esposa em relação com o Cristo Esposo.
O
outro paradoxo do matrimônio espiritual: A tensão escatológica entre o “já” e o “ainda não”
Deste ponto de vista, o matrimônio
espiritual é também um grande paradoxo, paradoxo do “já” e do “ainda não”: “já”,
da parte do Esposo, “ainda não” da nossa parte. É muito importante insistir
sobre o já para não considerar o matrimônio espiritual como distante graça
extraordinária, enquanto se trata da santidade naquilo que tem de mais normal.
Quando se lê João da Cruz se compreende melhor o grande
ensinamento do Concilio Vaticano II em relação ao chamado universal à santidade
(Lumem Gentium, V). Para o cristão é normal tornar-se santo, é anormal o
contrário. A santidade é simplesmente a graça do Batismo plenamente vivida,
plenamente desenvolvida.
O Batismo nos imergiu no Cristo morto
e ressuscitado; toda a verdade, a profundidade e a beleza desta imersão se
manifesta quando a alma alcança a santidade. Nas últimas estrofes do Cântico
Espiritual, João da Cruz mostra tudo isso de forma esplendida. A alma
correspondeu ao amor do seu Esposo na “profundeza do mistério da Cruz” e de
conseqüência pode agora penetrar na profundidade do mistério de Jesus, o
Deus-Homem.
Por:
Fr. François-Marie Léthel, o.c.d.
O AMOR ESPONSAL NA
VOCAÇÃO SHALOM
Amor Esponsal: chama viva que inflama e purifica o coração
capacitando-o a aderir incondicionalmente e com vigor a bem-aventurada vontade
do Pai.
“O Espírito Santo começou a trabalhar em nossas almas e a
levá-las ao cerne de nossa vocação: o amor esponsal a Nosso Senhor Jesus
Cristo” (Regras da Comunidade Shalom).
O amor esponsal a Jesus Cristo é o centro, a mola mestra
da vocação Shalom em todas as suas expressões. Este amor, característico das
almas a quem Jesus desposa, vive em nós com todas as suas exigências. Este é,
sem dúvida, um presente especialíssimo do Espírito para uma comunidade que
abriga casais, celibatários e sacerdotes. É uma “novidade do Espírito” que
constantemente renova a Igreja com o poder do seu Amor: “Todos são chamados a
possuir o amor esponsal, todos são almas esposas de Jesus. Todos devem buscar
ser as virgens prudentes que esperam o momento das núpcias mantendo acesa a
chama do amor em suas lâmpadas” (Regras da Comunidade Shalom).
Ao dizermos “sim” à vocação Shalom,
dizemos igualmente nosso “sim” ao amor incondicional a Jesus Cristo em sua
paixão, morte e ressurreição e, como Ele e com Ele, nos dispomos a unir
perfeitamente nossa vontade à vontade do Pai, seja como for, custe o que
custar, pois “um coração inflamado por este amor tudo realiza, a tudo se dispõe”
(Regras da Comunidade Shalom).
Estamos cientes de que tal amor é uma
grande graça que caracteriza a graça maior do nosso chamado de pertencer fiel e
sem medidas a Jesus Cristo para consumirmos nossa vida em total doação de amor
a Ele e ao seu Reino, servindo aos nossos irmãos e à Igreja.
O
amor esponsal sempre foi visto como algo próprio da relação da vida religiosa
com Jesus. Sempre foi associado ao celibato na vida religiosa consagrada.No
entanto, na Vocação, no Carisma Shalom o amor esponsal
"vem" como uma grande profecia para Igreja. É uma novidade do
Espírito, da Igreja.
O AMOR ESPONSAL no carisma Shalom é
para TODOS e para toda Igreja.
Somos
chamados a vivermos como almas esposas de Jesus: mulheres, homens, crianças,
idosos, adolescentes, jovens, solteiros, casados, celibatários...TODOS! Somos chamados
a nos relacionarmos desta forma com Jesus, como ALMAS ESPOSAS. Deus nos deu
essa pérola preciosa como o cerne de nosso carisma.
É
preciso que mais do que ouvir falar, passemos a experimentar dentro de nós
algumas das graças que este amor esponsal nos dá na vida com o Senhor, essa
forma que Deus quis que nós no Carisma Shalom,
nos relacionássemos com Jesus, como almas esposas do Senhor.A medida
que vamos experimentando este dom da esponsalidade, nossa alma é convocada a
agir e assumir características próprias desse relacionamento.
Existem
muitas vocações e é Deus quem escolhe como vai se manifestar no meio dos homens
para gerar um "relacionamento" e as características próprias desse
relacionamento. Cada vocação é chamada a se relacionar de uma forma, com Jesus
redentor, Jesus libertador, Jesus misericordioso,enfim, na Vocação Shalom
somos chamados a nos relacionar com Jesus como o Esposo de nossas almas. O
Amado da minha alma.
Muitos
homens podem se incomodar com essa forma de relacionamento com Jesus: o Esposo
da Alma, o Amado. Mas essa forma expressa o grau de intimidade com o Senhor
Jesus, o grau de intensidade. É algo concreto, real. Amar Jesus Cristo
esponsalmente é concreto e real,não é algo abstrato, que paira no ar,
que ninguém consegue tocar de tão alto, não é simplesmente suspiros
romantizados das almas tipo:
"Ahhh
sou alma esposa de Jesus..." NÃO! Porque esse amor é
experimentado na carne na nossa humanidade ferida, mas assumida pelo Cristo
esposo que se uniu a nossa humanidade de forma irrevogável e definitiva. Não é
uma união sacramental que contemple as duas dimensões do sacramento do
matrimônio que são a unitiva e a procriativa, até mesmo porque pensar desta
forma equivocada, como algumas celibatárias concebem, seria colocar os homens
celibatários em uma situação bastante constrangedora, pensando estarem
assumindo uma relação homo afetiva com Cristo.
O
amor esponsal é tão concreto que Moysés, o nosso fundador, escreve que é fruto de uma vida. Ele não sentou para
pensar o que seria o amor esponsal. Escreveu o que é fruto de sua experiência
intensa, concreta e real dele com Deus, e dos primeiros membros da comunidade
que também fizeram essa experiência.
Tudo
que vivemos na Vocação Shalom é próprio da manifestação do carisma
por meio de uma experiência de vida de um homem que fez uma experiência e tem
sua vida transformada, que depois comunica, partilha como
se possível fosse transpor tudo o que estava em seu coração, em seu
interior .Partilha e convida-nos a vivermos como almas esposas de Jesus.Para
melhor entendermos esta questão da experiência, é preciso sabermos que é
próprio da Cultura Judaica, a experiência com Deus do qual se faz memória, ao
contrário da Cultura grega que é especulativa. O Judeu experimenta Deus que intervém
na sua história pessoal e comunitária, já na cultura grega, se pensa naquilo
que possa ser Deus: Causa não causada de todas as causas. Cristo como pertencente a
esta cultura Judaica,nos traz a experiência de Deus como Pai, e revela aquilo
que ele também experimenta: A Paternidade divina.
Precisamos
como protagonistas deste novo, desta obra nova na Igreja,entender a intensidade
que é esse amor esponsal em nossas vidas.Não é um sentimento, uma ideia, não é
um conjunto de minhas aspirações, mas é uma vida, é um viver e morrer por
amor a Cristo, apesar de...É essa a forma que o Pai escolheu para nos
relacionarmos com seu Filho na eleição que Ele nos deu e que é profundamente
real,verdadeira e vivencial.
O
amor esponsal no carisma, na vocação Shalom tem marcas. Esse amor porta
marcas específicas. Encontramos as marcas desse amor em nossa vida, dentro de
nós Deus vai nos marcando e nos constituindo no Carisma. É algo intenso
verdadeiro.E quem nos dá essa experiência, quem gera em nos esse amor é o
Espírito Santo. É preciso nos abrir-se.Peçamos que o Espirito Santo aja em cada
coração que deseja compreender esse chamado. Portanto precisamos mergulhar no
entendimento que se portamos essa vocação o Senhor nos escolheu para sermos
almas esposas.Todas as marcas que carregamos desse amor já existem em nós.
O amor esponsal não é uma ideia é uma
experiência
Um
eleito de Deus na vocação Shalom é marcado pelo AMOR INCONDICIONAL A JESUS
CRISTO, por aquela vontade, aquela força que nos leva pra Ele como desejo, que
é muito mais que vontade, aí nasce o Shalom de Deus! Aí, não há nada e
nem ninguém que nos impeça de amar.É um AMOR SEM CONDIÇÕES.
Aí
vai acontecendo assim: cada vez mais vamos esquecendo de nós mesmos, das nossas
vontades, vamos nos esquecendo de nossos interesses, de nossa vida, e num
movimento de graça, vai surgindo um desejo profundo de amar a Jesus
incondicionalmente.Para fazer a vontade dEle, cuidar
dos interesses dEle, unir a minha vontade à dEle,por gratidão, apesar
de...
Muitas
vezes caimos na tentação do acho que não vou conseguir,e logo percebemos que é
meu coração se endurecendo no orgulho e na auto suficiência, como se dependesse
de mim,da minha vontade, do meu querer. Esquecemos da primazia da graça, da
qual sem ela, não podemos fazer nada.Ao dizer sim e fazer uma experiência
concreta e verdadeira com esse amo fica impossível voltar atras,
calar a voz que grita dentro em nós, conter os impulsos da nossa alma,pois ela
se inquieta e nos A.R.R.A.S.T.A. para tudo o que vem de Deus.
A
súplica ao Espirito Santo é necessária para nos conduzir e fazer-nos
compreender esse AMOR ESPONSAL que é o cerne da Vocação Shalom.
Via Sacra do Amor Esponsal - (Baseada no
Escrito “Amor Esponsal” da Comunidade Católica Shalom)
(Maria Emmir
Oquendo Nogueira - Co-fundadora da Comunidade Católica Shalom)
1)-PRIMEIRA ESTAÇÃO
JESUS É
CONDENADO À MORTE
V. Nós te adoramos, Amado Nosso, e te bendizemos.
R. Porque por tua santa cruz remiste o mundo e nos ensinaste
a medida do amor.
Do Evangelho de S. Marcos, 15, 14-15
Eles gritaram ainda mais: “Crucifica-O!” Pilatos, decidido a
satisfazer a multidão, soltou-lhes Barrabás e, quanto a Jesus, o entregou para
que o açoitassem e o crucificassem.
Meditação
No meio da
multidão, Esposo meu, olho, ansioso, o teu rosto. Quando ouves “Barrabás” sabes
que serás crucificado. No entanto, mesmo à distância, vejo em teus olhos a
esperança de poder dar-lhe uma segunda chance. A chance do Novo Testamento. Tu
sabes bem, Jesus, que Barrabás, assim como eu, é vaso de argila. Está dentre os
menores, os piores, os miseráveis. Nos desígnios de Misericórdia, o Pai, de
forma incompreensível, te troca pelo pior dos malfeitores. Misteriosamente,
Barrabás recebe a tua entrega total por ele em forma de segunda chance. Ele não
sabe o que se passa. Não consegue medir, nem imaginar. Eu, sim. E, em minha
miséria, uno-me a ele, Deus de minha vida, eu, o menor, o pior, e acolho a Ti,
dado em troca de mim. Acolho-te todo, sem nada deixar de acolher e, ao
acolher-te, entrego-me todo a Ti. Tu, tomas sobre ti todo o meu pecado e todo o
meu ser, dado em troca pelo Teu. Por isso, ainda que eu não abra a boca,
perdido na multidão, por causa do mistério escondido nesta troca, grito também:
“Crucifica-O!”
Aclamações
V. Jesus,
Esposo Meu, livremente entregue à cruz em meu lugar,
R. Tem piedade
de mim e ensina-me a entregar-me livremente pelos miseráveis.
V. Jesus,
Esposo Meu, trocado pelos menores, pelos piores,
R. Tem piedade
de mim e ensina-me a me dar por eles.
V. Venha teu
Reinado,
R. Cumpra-se
teu desígnio na terra como no céu.
Pai Nosso
2)-SEGUNDA ESTAÇÃO
JESUS É
CARREGADO COM A CRUZ
V. Nós te adoramos, Amado nosso, e te bendizemos
R. Porque por tua santa cruz remistes o mundo
Do Evangelho de São Marcos, 15,20
Depois de o terem escarnecido, tiraram-lhe o manto de
púrpura e vestiram-Lhe as suas roupas. Levaram-no, então, para O crucificarem.
Meditação
“O Amor não é
amado!” Com São Francisco, Amado meu, meu coração reconhece que, das mais
diversas formas te escarneceu, cuspiu-te na Face, enterrou-te a coroa com
pancadas surdas. Oh, meu Deus, não te amei! Esqueci de onde me tiraste, esqueci
que me escolheste e, envolto no dia a dia, escarneci de Ti, ignorei a Tua
vontade que é sempre amor. Perdoa-me, Deus de minha vida. Perdoa-me! Deixa-me
lavar teu sangue com minhas lágrimas. Deixa-me ungi-lo com meu arrependimento,
mais uma vez, mais uma vez! Ah, Senhor, o quanto deves me amar para perdoar-me
tantas vezes! Inflamo-me de gratidão por me amares tanto apesar de tantos
escárnios de minha parte. Vejo-te a caminhar para a cruz, pronto a amar sempre
mais e mais. Uno-me a esta cruz, que acende o teu amor. E Tu, loucamente, te
unes a mim, cuja ingratidão constante só te leva a amar mais.
Aclamações
V. Jesus
Cristo, Amor do Pai Inflamado,
R. Tem piedade
de mim, cujo pecado inflama teu amor!
V. Jesus
Cristo, Amor que não é amado,
R. Tem piedade
de mim, que me amo tanto, e me leva a amar sempre mais e mais
V. Perdoa-nos
nossas ofensas,
R. Como nós
também perdoamos aos que nos ofendem.
Pai Nosso
3)-TERCEIRA ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA PRIMEIRA VEZ
V. Nós te adoramos, Amado Nosso, e Te bendizemos,
R. Porque por Tua santa cruz remiste o mundo.
Do livro do profeta Isaías 53,4-6
Na verdade, ele suportou nossos sofrimentos e carregou
nossas dores, nós o tivemos como um contagiado, ferido de Deus e afligido. Ele,
ao contrário, foi trespassado por causa de nossas rebeliões, triturado por
causa de nossos crimes. Sobre ele descarregou o castigo que nos cura, e com
suas cicatrizes nos curamos. Todos nós andávamos perdidos como ovelhas, cada um
para seu lado, e o Senhor fez cair sobre ele todos os nossos crimes.
Meditação
Vejo-te, Amado
meu, por terra. Caído. Um cordeiro, um cordeirinho sangrando, caído sob a cruz.
Quero socorrer-te. Não me deixam! Quero rebelar-me, gritar diante de tamanha
injustiça. Não me deixas! Guardo, compungido, meu grito. Uno-me a ti em tua
queda. Entendo, vendo-te assim, que santo não é quem não cai, mas quem confia
inteiramente na misericórdia do Pai, como tu fazes agora. Olho ao meu redor,
atingido pelos gritos de ódio. Misteriosamente, eles passam por mim, mas não me
atingem. Atingem a ti, pois por recebê-los estás contagiado, ferido, afligido.
Os chicotes não te deixam. Nem te deixam as nossas quedas. Volto a olhar ao meu
redor e, agora, entendo: também eu devo deixar-me contagiar, acolher e
afligir-me – ferido – os vários gritos de ódio dos não-amáveis.
Aclamações
V. Amado,
Cordeiro de Deus, silencioso e caído, inteiramente abandonado ao Pai,
R. Tem piedade
de mim que não admito cair e nem sempre confio em tua misericórdia!
V. Cordeiro,
Esposo, entregue totalmente às nossas mãos assassinas,
R. Tem piedade
de mim e ensina-me a entregar-me, amorosamente, ao não-amável!
V. Não nos
deixes, Pai, sucumbir à prova,
R. E livra-nos
do Maligno.
Pai Nosso
4)- QUARTA ESTAÇÃO
JESUS ENCONTRA
SUA MÃE
Maria
encontra-se com Jesus
V. Nós te
adoramos, Filho, e te bendizemos,
R. Porque por
tua santa cruz remiste o mundo.
Do Evangelho
de São Lucas 2, 34-35,51
Simeão os
abençoou e disse a Maria, a mãe: “Vê: Este está posto de forma que todos em
Israel ou caiam ou se levantarem; será uma bandeira disputada, e assim ficarão
evidentes os pensamentos de todos. Quanto a ti, uma espada te atravessará.
Desceu com eles, foi a Nazaré e continuou sob sua autoridade. Sua mãe guardava
tudo isso em seu íntimo.
Meditação
Tu e eu a
vemos, Filho, e, nela, Tu e eu nos encontramos. Não é só a Mãe que encontras. É
na Mãe que, mais uma vez, te encontras, em Tua humanidade bendita. Vejo, no Teu
olhar a ela o mesmo que no dela a ti: “Deus! Só Deus! O Pai! Só o Pai! A
vontade do Pai! Fiat! Fiat!” Nenhum dos dois pensa em si. Ambos só vêm o
Esposo, o Pai, a Santa Vontade do Pai, o Amor do Pai, o amor ao Pai. Bebo,
ávido, até a última gota das lágrimas de alegria deste olhar. Há dor, mas é dor
de amor. E dor de amor, Amado – me ensinaste! – é alegria. É ressurreição.
Tira, Deus de minha vida, meus olhos de mim mesmo, e, por esta santa troca de
olhares, inflama-me para que eu busque cada vez mais o esquecimento de mim, de
minha própria vontade, de meus próprios interesses, de minha própria vida e
que, cada vez mais inflamado de amor por ti busque somente a Ti, a vontade do
Pai, os interesses Dele, a vida Dele, a obra Dele.
Aclamação
V. Jesus,
Filho de Deus, Filho de Maria, a ela unido em eterno “Sim”
R. Tem piedade
de mim e ensina-me a ser, como ela, sempre “sim”
V. Jesus,
unido a Maria no amor ao Pai, que aos dois basta,
R. Ensina-me a
buscar somente a Sua santa vontade e confiar que só Tu, Deus meu, me bastas.
V. Cumpra-se o
teu desígnio,
R. Na terra
como no céu.
Pai Nosso
5)-QUINTA ESTAÇÃO
JESUS É
AJUDADO PELO CIRENEU A LEVAR A CRUZ
20040216-paixao_cristo-06
V. Nós te
adoramos, Amado Humílimo, e te bendizemos,
R. Porque por
tua cruz remiste o mundo
Do Evangelho
de São Marcos, 15,21-22
Passava por
ali, voltando do campo, certo Simão de Cirene (pai de Alexandre e Rufo), e
forçaram-no a carregar a cruz. Conduziram-no al Gólgota (que significa Lugar da
Caveira).
Meditação
Vejo o
Cireneu, cansado depois de um dia de trabalho no campo, ser obrigado a
ajudarte, Amado meu. Por que não me escolheram a mim, penso, em meu orgulho.
Iria com o maior prazer, seria uma honra sem igual. Logo entendo o cuidado com
que o Pai preparou este teu caminho. O Cireneu era mais um a quem querias
beneficiar com a tua paixão. Primeiro, o malfeitor tinha uma segunda chance.
Agora, o pai de família, cansado do trabalho do campo, com a idade que teria,
talvez, o próprio José, teu pai adotivo. Também ele te ajudou. Terá o Pai
pensado nele? Tê-lo-á recompensado salvando este Simão? Nele, Senhor meu, pedes
a todas as famílias, a todos os pais e mães, que carreguem a Tua cruz, a
bendita e feliz cruz de morrer para que seus filhos tenham vida, de se darem
para que seus filhos, mesmo não tendo tudo, tenham a eles, sua presença, suas
renúncias, seu amor. É belo ver-Te em Teu caminho de cruz, a tocar os casais,
as famílias, a ensinar-lhes que também deles Te fizestes Esposo e também a eles
chamas ao Amor Esponsal vivido no marido, na mulher, nos muitos filhos.
Aclamação
V. Humilde
Amado, que te deixar ajudar por um cansado pai que vem do campo,
R. Tem piedade
de mim que me fecho em minha auto-suficiência.
V. Jesus
querido, que aprendeste o amor humano na família de Nazaré,
R. Tem piedade
de mim e ensina-me a rezar, amar e servir em família.
V. Pai nosso
do céu,
R. Seja
respeitada a santidade do teu nome.
Pai Nosso
8)-SEXTA ESTAÇÃO
A VERÔNICA
LIMPA O ROSTO DE JESUS
V. Nós Te
adoramos, Amado Único, e te bendizemos,
R. Porque por
tua cruz remiste o mundo.
Do livro do
profeta Isaías 53,2-3
Cresceu (…)sem
presença nem beleza para atrair nossos olhsares, nem aspecto que nos cativasse.
Desprezado e evitado pela gente, homem acostumado a sofrer, curtido na dor; ao
vêlo cobriam o rosto; desprezado nos o tivemos por nada.
Meditação
Correu a
Verônica entre a guarda. Enxugou-te o rosto, colheu o suor de exaustão;
comprimiu o sangue do sacrifício, secou as lágrimas de tantas emoções. Não
tinha filhos por quem chorar. Não tinha esposo, esta Verônica. Eras, naquele
momento, seu Esposo, seu Filho, seu Tudo. Amava-te, isso lhe bastava. O que
faria esta Verônica com o seu lenço, com o teu Rosto? Para minha surpresa, não
o guardou ciosamente. Posso vê-la, ainda virgem, ainda sem filhos, ainda sem
marido, com o mesmo lenço, a vestir os nus, a cobrir os que têm frio, a
enchê-lo de pão para os que têm fome, a encharcá-lo de água para os que têm
sede, a acenar trégua aos prisioneiros. Esperta como sempre, ungida de sua
virgindade consagrada, escorrega por entre as estruturas para amar-Te onde quer
que estejas. Entendeu, esta Verônica, que o amor ao irmão é maneira concreta de
mostrarmos o quanto te amamos.
Aclamações
V. Jesus, que
imprimes tua Face Santa em cada pessoa, em cada jovem,
R. Tem piedade
de nós e ensina-nos a pureza e a modéstia, que preservam em nós a
tua santa
imagem.
V. Amado
Esposo, que chamas tantos a se consagrarem inteiramente a Ti,
R. Tem piedade
de nós e ensina-nos a beleza de amar aqueles por quem destes a vida.
V. Pai do céu,
R. Dá-nos hoje
o pão de cada dia.
Pai Nosso
7)-SÉTIMA ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA
SEGUNDA VEZ
V. Nos te
adoramos, Cordeiro Amado, e te bendizemos,
R. Porque por
tua cruz remiste o mundo.
Do livro das
Lamentações 3, 1-2.9.16:
Eu sou um
homem que provou a dor sob a vara de sua cólera, porque ele me guiou e conduziu
para as trevas e não para a luz; (…) fechou-me a passagem com pedras, retorceu
minhas sendas (…) meus dentes rangem mordendo cascalhos, e me revolvo no pó.
Meditação
Novamente,
Amado meu, te vejo no chão! Sobrecarregado por meus pecados, conduzido para as
trevas, tu que és a Luz. Acolhes minha escuridão para que eu tenha a Luz.
Minhas trevas, porém, com a de todos os outros de todos os tempos, sugam o
brilho de tua humanidade. Cais sob o meu peso. Ergo-me sobre teu esmagamento.
Olho-te: o suor não consegue remoer o sangue que secou sobre tua pele. Os
primeiros escarros, já secos, mantêm grudados entre si os fios de tua barba. Os
escarros recentes formam grandes gotas esverdeadas que insistem em não cair.
Reconheço longinquamente teus olhos por entre as pálpebras inchadas. Os muitos
cortes, abertos, já não sangram tanto; escondem-se sob sangue coalhado e
salmoura. O cheiro de sangue fresco mistura-se com o de sangue velho e suor.
Doume conta, Senhor meu, que tu fedes. Caído por terra, tens o aspecto do
alcoólatra inchado jogado em nossas sarjetas e calçadas. Semi-escondido pela
cruz, assemelhas-te ao fétido miserável, a colher lixo e papel em sua carroça;
como tua cruz, pesa mais que ele. Como um mendigo fedorento a suor, sujo de
catarro e urina, faminto, tu olhas para mim, a pedir que te levante. És, assim,
tu mesmo, o não-amável que sou chamado a amar.
Aclamação
V. Senhor
Jesus, que te rebaixaste mais do que todos nós por amor a quem não te ama,
R. Tem piedade
de nós, que fugimos da crueza da participação de tua paixão e cruz. Ensina-nos
que isso é amor esponsal.
V. Cordeiro
esmagado por nossos pecados,
R. Tem piedade
de nós e ensina-nos a acolher-te quando estás sujo, fedorento, fraco e
deformado. Ensina-nos que isso é amor esponsal.
V. Pai do céu,
R. Venha o teu
Reinado!
Pai Nosso
8)-OITAVA ESTAÇÃO
JESUS ENCONTRA
AS MULHERES DE JERUSALÉM
V. Nós te adoramos,
Filho do Homem, e te bendizemos,
R. Porque por
tua cruz remiste o mundo.
Do Evangelho
de São Lucas 23, 28-31
Jesus
voltou-se e lhes disse: “Moradoras de Jerusalém, não choreis por mim; chorai
por vós e por vossos filhos. Porque chegará um dia em que se dirá: Felizes as
estéreis, os ventres que não pariram, os peitos que não amamentaram! Então
começarão a dizer aos montes: ‘Caí sobre nós’; e às colinas: ‘Sepultai-nos’.
Pois, se tratam assim a árvore viçosa, o que não farão com a seca?
Meditação
Ah, Senhor,
Filho de Deus, Filho do Homem! Como não ultrapassar o olhar da exegese e ver,
aqui, tua admoestação para a mulher, hoje! Não estamos nós vivendo um tempo no
qual as estéreis são consideradas felizes? Não estamos vivendo um tempo em que
as mulheres se fazem esterilizar para serem, secundo elas, mais felizes? Não
seremos nós as mulheres cujos ventres negam-se a parir, matando seus filhos
para viverem melhor? Não estão secando nossos peitos à força de hormônios para
a amamentação não deforma-los, para voltarmos mais cedo ao trabalho? Jesus, tu,
o Filho do Homem, Inocente, recebeste de nós o pior dos tratamentos em tua
paixão. Hoje, porém, Senhor, nós mulheres, te matamos nos abortos cirúrgicos,
nos abortos advindos do diu, das pílulas e demais métodos artificiais que não
deixam desenvolver-se nenhuma vida que consiga escapar ao seu cerco.
Criaste-nos para acolher e promover a vida, e eis-nos hospedando e provocando a
morte! Chamaste-nos a humanizar o homem e eis-nos ultrajando seu direito mais
básico! Criaste-nos para sermos presença disponível e eis-nos sendo ausência
ocupada! Fizeste-nos ternura e eis-nos rispidez, competição, ódio aos nossos
próprios filhos. Hoje, Jesus, não temos por quem chorar. Nem por nós – que
julgamos o choro sinal de fraqueza- nem por nossos filhos – que não existem
mais! Que fizemos, Senhor, que fizemos ao lenho verde!
Aclamações
V. Amado Filho
do Homem, acolhido por Maria sem restrições,
R. Tem piedade
de nós!
V. Jesus,
criança assassinada, criança solitária, criança abandonada,
R. Tem piedade
de nós!
V. Pai do céu,
R. Não nos
deixes sucumbir à prova!
9)-NONA ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA
TERCEIRA VEZ
V. Nós te
adoramos, Filho de Deus feito Homem, e te bendizemos
R. Porque por
tua santa cruz remiste o mundo
Do Livro das
Lamentações 3,27-32
É bom para o
homem carregar o jugo desde a sua mocidade. É bom ele sentar-se solitário e
silencioso quando o Senhor lho impuser; por sua boca no pó, onde talvez
encontre esperança; estender a face a quem o fere e suportar as afrontas.
Porque o Senhor não repele para sempre. Após haver afligido, tem compaixão,
porque é grande a sua misericórdia.
Meditação
Sei, Amado
meu, que esta tua terceira queda é a minha última oportunidade de cair contigo
e deixar-te cair comigo. Para ser tua alma esposa, é preciso que eu encontre o
segredo da queda. É preciso que me una a ti e aprenda a partilhar contigo o pó
e nele encontrar esperança. Ajuda-me, Senhor, a cairmos juntos. Ajuda-me a
fazer-me pequeno contigo, pois meu alvo é a santidade e a santidade nunca foi
para os grandes, para os que nunca caem e julgam tudo saber, tudo poder.
Desejo, meu Jesus, cair contigo. Não terei medo de ser esquecido, de ser
escarnecido, de ser rejeitado. Meu alvo, Amado meu, é a santidade, não o
sucesso. Desejo, meu Senhor, permitir que caias comigo; permitir que me ajudes
em minha solidão, em meu pó, no jugo que carrego desde a mocidade. Desejo,
contigo, estender a face ao que me fere, pois meu alvo, como já disse é a
santidade. Não só alvo, mas vocação, sem presunção nenhuma de grandeza. Nesta
queda conjunta, meu Querido, tua e minha, está a nossa esperança. Não é
exatamente lá, no pó, que ela se esconde? Não é na queda que ela se oculta? Não
é lá que ela sussurra o Teu Amor por mim? Esta queda, como as outras, é a minha
queda, a nossa queda, o nosso segredo para encontrar a pequenez, a confiança no
Amor, a esperança escondida no pó que se mistura ao teu sangue.
Aclamações
V. Jesus, que
escondeste no pó a virtude da esperança ,
R. Tem piedade
de mim e livra-me de querer encontrar-te nas grandezas.
V. Cristo, que
aceitas trilharmos juntos o caminho da queda,
R. Tem piedade
de mim e ensina-me a suportar as afrontas dos que me são mais caros.
V. Pai do céu,
R. Perdoa
nossas ofensas.
Pai Nosso
10)-DÉCIMA ESTAÇÃO
JESUS É
DESPOJADO DE SUAS VESTES
V. Nós te
adoramos, Cristo, Novo Adão, e te bendizemos,
R. Porque por
tua santa cruz remiste o mundo.
Do Evangelho
de São Marcos 15,24
Os soldados
repartiram entre si as suas vestes, sorteando-as para verem o que levava cada
um.
Meditação
É inevitável,
Senhor meu, ver-te, assim, despido, e não recordar que a santidade é a veste
nupcial para as bodas do Cordeiro. É inevitável, também, ver de quantas vestes
me visto. De quantas defesas, de quantas vontades, de quantas imagens, de
quantas teimosias. Inevitável ver de quanta vaidade me adorno, em quanto
orgulho me abrigo, em quanta altivez me defendo. Inevitável colocar-me, tão
altivo, tão protegido, tão cheio de mim mesmo, diante de ti, despido, ferido,
ensangüentado e sujo. Inevitável reconhecer o óbvio de qual das duas vestes é a
da santidade. Impossível não distinguir qual dos dois está preparado para as
núpcias! Quando, Senhor, te terei como meu único Amor, quando só tu me
bastarás, de fato, para que eu não só permita, mas deseje despojar-me de minhas
vestes tão baixas, deixando, feliz, que as disputem quem nelas se interesse e
que tirem a sorte como queiram, uma vez que minha fortuna é estar despido,
pronto para as nossas Bodas.
Aclamações
V. Jesus, Novo
Adão, vestido de nudez,
R. Tem piedade
de mim e dá-me a coragem do amor.
V. Jesus,
Noivo e Cordeiro,
R. Tem piedade
de mim e veste-me de tua nudez.
V. Pai do céu,
R. Venha o teu
Reinado.
11)-DÉCIMA PRIMEIRA ESTAÇÃO
JESUS É
PREGADO NA CRUZ
20040216-paixao_cristo-05
Meditação
Vejo-te,
Jesus, imóvel por alguns instantes, tomado da imobilidade do amor. Sei que logo
arquejarás, que em breve entrarás em tetania, em agonia, e consumarás teu sacrifício
de amor. No entanto, guardo como a um tesouro, este instante quando tu,
pregado, te entregas imóvel nas mãos do Pai e do Espírito, nas mãos dos homens.
Não estás pregado em um madeiro. Não! Pendes do amor absoluto e não encontras
outra causa para amar a não ser o próprio Amor! Talvez por isso, pendas,
imóvel, do ápice da Caridade. Aos teus pés, exponho a ti minha fraqueza,
desejando amar-te cada vez mais perdidamente, como se tu precisasses de
justificativas para amar até a consumação de ti mesmo.
Aclamações
V. Jesus,
Cordeiro Imóvel, vítima do Amor, pendente do Amor Absoluto,
R. Tem piedade
de mim e ensina-me que não há santidade sem cruz.
V. Jesus,
Pobre e Nu, vítima da Dor,
R. Tem piedade
de mim e ensina-me que os pobres são a salvação e a esperança da humanidade.
V. Pai do céu,
R. Seja
respeitada a santidade do Teu Nome!
12)-DECIMA SEGUNDA ESTAÇÃO
JESUS MORRE NA
CRUZ
Cristo
Meditação
Cristo, Ungido
do Pai, Sacerdote, Vítima, Altar, Esposo! Desejo dar-te o que me dás. E posso
dar-te mais que me dás, pois, dando-te a mim, comigo dou-te a ti, que és unido
a mim. Nunca irei sozinho ao Pai. Acolho a tua morte e vivo. Acolhes minha vida
e morres. Vida e morte, em tua cruz, são uma só coisa. Sacerdote e vítima, são
uma só coisa. Entrega e acolhida, uma coisa só. Tudo é amor. Tu morres por
todos. Eu morro por ti e sei que isso significa morrer por meu irmão. O amor é
assim: não permite que se morra por si mesmo. Tornamo-nos, assim, sacerdotes e
vítimas no Único Sacerdote, Única Vítima e, por isso, Único Esposo que, unido
às famílias e aos virgens, une-se agora aos sacerdotes em uma única Oferta, um
único Altar, únicos Esponsais com toda a família humana. “Pai, perdoai-lhes”,
ouço-te dizer. “Eu te absolvo dos teus pecados”, ouço-o dizer. “Fazei isso em
memória de mim!”, ouço-te. “Eis o Cordeiro de Deus”, ouço-o. É uma só esta voz
sacerdotal, esta voz esponsal que oferta a vida!
Aclamações
V. Jesus,
Sacerdote, Vítima, Altar, Esposo,
R. Tem piedade
de mim, ensina-me que só o amor da cruz é o teu, e que só ele permanece
V. Jesus,
Esposo Imolado,
R. Abre os
olhos de minha oração; que eu te veja, que eu veja!
V. Pai do céu,
R. Santificado
seja o teu nome!
Pai Nosso
13)-DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO
JESUS É
DESCIDO DA CRUZ
Meditação
Vejo-te,
Senhor, sendo lavado, às pressas e, cuidadosamente, lentamente, atentamente,
sem nenhuma pressa, desejo lavar-te ao lavar meu irmão. Sinto o cheiro do
lençol que te envolve: cheiro de linho cru. Carinhosamente, atento a todo
detalhe, uso todo o tempo do mundo para tecer o lençol que envolve meu irmão,
suas ofensas, seus queixumes. Inalo o perfume do óleo apressado e guardo-o na
memória, cuidadoso. Dele disponho para ungir meu irmão ferido, ofendido,
faminto, doente, moribundo. Pois é amando assim, concretamente, ao meu irmão,
que te estarei amando da forma mais perfeita. É assim que serei tua alma
esposa, no amor efetivo ao meu irmão. Assim, estarei fazendo a tua vontade:
“Que vos ameis como vos amo”. Assim, Esposo meu, te envolverei a cada dia, um
corpo inerte, sobre o qual não se tem esperança, sobre o qual se meneia a
cabeça. Em teu e meu coração, porém, sabemos, que não há caso perdido, não há
maldade humana, não há corpo inerte que, por causa do Amor, não vá encontrar a
ressurreição.
Aclamações
V. Jesus,
inerte nos braços dos homens,
R. Tem piedade
de nós e ensina-nos a amar nosso irmão.
V. Cristo,
Corpo Santo preparado às pressas,
R. Ensina-nos
a perfeição do amor: amar o outro como tu nos amas.
V. Pai do céu,
R. Também na
terra, seja feita a tua vontade.
14)-DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO
JESUS É
DEPOSITADO NO SEPULCRO
Meditação
Vejo-te,
Senhor, pelos olhos da Madalena. Observo como te colocam. Vejo como te ungiram.
Como não lembrar-me das outras unções? Fico atenta a como rolaram a grande
pedra, ao ângulo do qual a empurraram. Nada me escapa. Não te deixarei só.
Estarei contigo nas ruas, no trabalho, nas escolas, nos motéis, nos estádios,
nos bares, nas praias, nos shoppings. Estarei contigo onde a comida é farta e
onde bóia o minguado punhado de feijão na panela de ferro. Estarei contigo onde
o conhecimento ilumina e onde a ignorância cega. Estarei contigo onde a vida se
inicia e onde finda. Estarei contigo nos gritos de alegria e nos gemidos de
agonia. Estarei contigo, Amado meu, a velar-te no homem, em cada homem, ao
longo das nossas pobres noites. Até que venha a tua Ressurreição. Até que a
veja brilhar nos olhos deles, de cada um, e possa, eu mesmo, dormir em paz,
apoiado em teu braço, envolvido no estandarte da Caridade, sob as flores de
maçã da tua eternidade, Esposo meu.
V. Amado meu,
Esposo meu, enquanto aguardamos a Tua ressurreição,
R. Tem piedade
de mim e ensina-me a perfeição do único Amor.
V. Jesus,
Amado meu, Esposo meu, enquanto aguardamos a Tua vinda,
R. Tem piedade
de mim e ensina-me que amar é servir.
V. Pai do céu,
R. Daí-nos
hoje o pão deste dia.
Fonte: saopio.wordpress.com/via-sacra-do-amor-esponsal/
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