"A indulgência é a remissão, diante de Deus, da pena temporal
devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel
bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da Igreja que,
como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro
das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos."
Essa definição é uma declaração densamente compactada que resume uma longa (e às vezes problemática) história a respeito das indulgências.
A linguagem cuidadosa responde a uma série de questões que surgiram ao longo dos anos.A primeira parte da definição responde a dois dos mais frequentes erros a respeito das indulgências: afirmar que elas perdoam os pecados e distribuem gratuitamente ingressos para o Céu. Não fazem nenhuma dessas duas coisas, pois só é possível ganhar uma indulgência após o perdão dos pecados (uma graça própria do sacramento da Penitência) e quando satisfeitas as condições para lucrar a indulgência. Infelizmente, as falsidades foram perpetuadas pela prática ilegítima de clérigos que espalhavam mentiras e exigiam pagamentos dos penitentes.
O Papa
Bonifácio IX condenou tais mentiras, bem como a venda de indulgências, em 1392,
mas a situação permaneceu a mesma por séculos. De fato, a prática era tão comum
que um dos Contos da Cantuária, de Geoffrey Chaucer, é dedicado justamente a um
pardoner, isto é, “vendedor de indulgências”. No século XVI, o Concílio de
Trento (em parte respondendo às objeções de Martinho Lutero sobre as
indulgências) incumbiu os bispos da tarefa de extirpar todo tipo de erro. São
Pio V reabilitou a eficácia espiritual das indulgências quando, em 1567,
proibiu a concessão de qualquer indulgência em troca de dinheiro.
Na verdade, o que os traficantes de indulgências vendiam — e
aparentemente não lhes faltavam clientes — era a graça a preço de banana: não o
perdão de um pai amoroso que requer uma resposta de quem o ganha, mas uma forma
rápida de aliviar uma consciência culpada.
No entanto, como deixa clara a definição da Igreja, o pecado tem como consequência não apenas a culpa, mas também, os castigos decorrentes da má ação. Observe que a definição menciona apenas a remissão das penas temporais. A punição eterna, que é a separação de Deus por toda a eternidade, só pode ser perdoada e purificada através da Confissão sacramental. Depois da Confissão, Deus permite que as penas temporais permaneçam, pois elas nos acusam da maldade do pecado e nos impelem à conversão. Numa audiência geral de setembro de 1999, o Papa São João Paulo II definiu as penas temporais como parte do processo de cura dos “efeitos negativos provocados pelo pecado” na pessoa. Os efeitos negativos resultam num “apego nocivo” às coisas criadas (Catecismo, § 1472), que deve ser purificado e subordinado ao amor de Deus — o qual, diga-se de passagem, encoraja-nos a estabelecer um vínculo saudável com as coisas criadas. As penas, ou o processo de cura, nos preparam para nos apresentarmos diante de Deus tal como Ele nos criou, sem a vergonha ou a culpa causada pelo pecado. A purificação obviamente não se limita às indulgências. Uma pessoa também pode praticar atos de piedade, fazer penitências e, principalmente, realizar obras de caridade, todas as quais também levam à purificação (Indulgentiarum Doctrina, n. 11).
As indulgências, contudo, são uma maneira de a Igreja, “como
ministra da redenção”, intervir por um penitente, servindo-se da autoridade que
Deus lhe conferiu para eximir todas as punições temporais por conta de pecados
(indulgência plenária), ou uma parte delas (indulgência parcial), pelo emprego
da satisfação conquistada por Cristo e pelos santos. Em outras palavras,
trata-se de uma aplicação da comunhão dos santos, que acertadamente vem em
auxílio de um irmão ou irmã que precisa de ajuda. São Paulo já exortava os
gálatas a “carregar os fardos uns dos outros” (Gl 6, 2).
Porém,
para receber a indulgência, o penitente precisa ter as disposições necessárias
e cumprir as condições predeterminadas, pois ninguém pode ser salvo ou curado
sem seu próprio consentimento e esforço pessoal. Assim como antigamente um
indivíduo podia ver na compra de uma indulgência um jeito fácil de limpar a
consciência, outro penitente pode fingir ou pensar que a prática de um punhado
de boas obras paga qualquer pena. Tal atitude se contrapõe à contrição e a
qualquer esforço de conversão.
Vamos deixar que as próprias teses de Lutero sobre as Indulgências falem por si mesmas!
31 Tão raro como quem é penitente
de verdade, é quem adquire autenticamente as indulgências, ou seja, é raríssimo.
38 Mesmo assim, a
remissão e participação do papa de forma alguma devem ser desprezadas, porque (como disse) constituem declaração do perdão divino.
41
Deve-se pregar com muita cautela sobre as indulgências apostólicas, para que o
povo não as julgue erroneamente como preferíveis às demais boas obras do
amor.
56 Os tesouros da Igreja, dos quais o papa concede as
indulgências, não são suficientemente mencionados nem conhecidos entre o
povo de Cristo.
71 Seja
excomungado e maldito quem falar contra a verdade das indulgências apostólicas.
91 Se, portanto, as
indulgências fossem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do
papa, todas essas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo
teriam surgido.
Conclusão: Tudo conforme o magistério da Igreja até hoje!
Como ganhar uma indulgência?
Como regra geral, uma indulgência plenária é outorgada sob as
seguintes condições:
-O penitente tem de realizar a obra à qual a indulgência está anexa, e fazer antes, uma Confissão sacramental.
-Participar da Comunhão eucarística.
-Oferecer orações nas sants e boas intenções do Santo Padre, o papa.
Para receber a indulgência plenária:
O penitente também precisa ter a disposição de se desapegar de qualquer pecado. Se essa disposição não for plena, ou se as condições não forem satisfeitas, então a indulgência será parcial (sempre referente a pena temporal, e não à culpa), contanto que o penitente tenha um coração contrito e leve a cabo ao menos uma parte das ações.
Poucas pessoas discordarão de que o aspecto mais desafiador desses requisitos não são as condições, especialmente para alguém que já reza e frequenta os sacramentos. As obras a praticar também não são nada pesadas — na maioria das vezes consistem em oração, leitura das Escrituras ou obras de misericórdia corporais ou espirituais etc. O aspecto verdadeiramente desafiador é o desapego de todo e qualquer pecado. Uma pessoa pode até estar contrita de seus pecados, mas desapegar-se de todo e qualquer pecado é outra história. Alguém poderia perguntar se é mesmo possível que isso aconteça e por que sequer nos deveríamos dar ao trabalho de ir atrás de indulgências em primeiro lugar. Para citar Jesus: “Aos homens isso é impossível, mas a Deus tudo é possível” (Mt 19, 26). Jesus pronunciou essas palavras depois de dizer a um jovem rico e aos Apóstolos que eles tinham de ser perfeitos. O jovem partiu triste, e os Apóstolos disseram que isso era impossível. Mas Jesus não falou que eles teriam de fazê-lo com suas próprias forças. Ele disse a eles que o seguissem. Também vale lembrar que a palavra “perfeito” em português traduz a palavra grega teleios, que não significa sem falha, mas pleno e ordenado para o seu fim próprio. Em outras palavras, Jesus estava dizendo ao jovem e aos Apóstolos para subordinarem tudo ao relacionamento com Deus, e assim eles estariam unidos a Deus, o fim próprio de todo homem e toda mulher. De modo similar, a Igreja usa o dom das indulgências para ajudar homens e mulheres a seguirem Jesus até o Céu. A Igreja sabe que, por si próprio, um indivíduo não consegue crescer em santidade ou perfeição (teleios). É impossível superar os efeitos assoladores do pecado e o mal que existe no mundo sem a graça de Deus e a prática da virtude. De fato, deste lado do Céu existe sempre o risco de escolher pecar novamente, mesmo quando se recebe uma indulgência. Mas quem permanecer perto de Jesus, quem o seguir, gozará da plenitude da salvação. Portanto, por que não oferecer uma ajuda às pessoas que querem buscar a Deus de todo o coração? As indulgências não são um requisito da fé nem um preceito da Igreja, mas se as usamos bem, elas gradualmente nos treinam na virtude e na disciplina. Recomendando-nos a oração e as obras de misericórdia, elas nos ajudam a dar as costas para o pecado e a nos voltar a Deus e ao próximo. De fato, um penitente na terra, como membro sofredor da comunhão dos santos, pode pedir a Deus que aplique uma indulgência lucrada não a si mesmo, mas a alguém no Purgatório, a fim de que essa pessoa se purifique e entre mais depressa no Céu.Somente Deus sabe com exatidão de que maneira se dá a remissão das penas temporais na vida de alguém. Uma pessoa pode ser libertada imediatamente dos grilhões do álcool ou da pornografia, enquanto outra só se vê livre depois de anos de esforço ou no Purgatório. A graça de Deus pode ser vista em ambas as situações. Quando bem empregada, a indulgência é uma ferramenta eficaz para curar em nós os efeitos do pecado e abrir-nos mais inteiramente à graça de Deus. De fato, não precisamos conjecturar o que acontece quando respondemos ao amor de Deus com um coração contrito e disposição a crescer na santidade: à medida que desenvolvemos hábitos de oração e caridade, tornamo-nos um pouco menos egoístas e gananciosos, ganhamos um pouco mais de paciência e ficamos com o coração mais generoso; focamos mais no amor a Deus e ao próximo e, finalmente, permitimos que Jesus nos atraia para si.
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Martinho Lutero JAMAIS poderia ser considerado como "REFORMADOR"; muito menos, "PAI" de uma reforma inexistente. Essas assim chamadas 95 "teses" revelam-se notoriamente inconsistentes, vazias, desprovidas de sustentação bíblica. Não se consegue compreender por que razão cristãos de todo o mundo as têm como "referência" ou "marco". E nem se diga, aqui, a respeito de várias heresias escritas e defendidas pelo mesmo Lutero em livros de sua autoria. E nem se relembre, aqui, seu furioso anti-semitismo, por efeito do qual esse padre lançou inacreditáveis, chulas e ridículas ofensas contra os judeus em livro chamado "SOBRE OS JUDEUS E SUAS MENTIRAS", algumas das quais eu teria vergonha de aqui reproduzir, mormente extraídas da versão em inglês (ON THE JEWS AND THEIR LIES), que é mais extensa do que a versão em português.
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