A MENTIRA PROPAGADA PELOS ESPÍTRITAS: “Os primeiros
cristãos professavam a teoria da reencarnação. Foi somente em 533, num sínodo
de Constantinopla, que a Igreja imprudentemente a condenou, introduzindo a ideia do inferno.”
o Que
houve propriamente nesse concílio de Constantinopla?
Em resposta,
analisaremos primeiramente a doutrina das antigas fontes do Cristianismo no
tocante à reencarnação; a seguir, deter-nos-emos sobre o citado sínodo de
Constantinopla.
I. Antigos
documentos cristãos e sobre a reencarnação:
1.
Sagrada Escritura:
Nem o Velho nem o
Novo Testamento dão testemunho que de algum modo insinue a doutrina da
reencarnação. Ao contrário, a Escritura professa categoricamente uma só
existência do homem sobre a terra, após a qual cada um é definitivamente julgado: «Foi
estabelecido, para os homens, morrer uma só vez; depois do que, há o
julgamento» (Hebr 9,27). Ao bom ladrão arrependido dizia Jesus: «Hoje mesmo
estarás comigo no paraíso» (Lc 23,43).ATENÇÃO !!!Os principais textos
bíblicos concernentes a este assunto ( Ressurreição x Re-encarnação (Mt 11,14;
17,12; Jo 1,21; 3,3; 9,1-3) já foram considerados em «P.R.» 3/1957, qu. 8. Dispensamo-nos,
pois, de os analisar novamente aqui, e passamos ao testemunho dos antigos escritores
cristãos:
2.
Os Padres da Igreja:
Os
adeptos da reencarnação não raro proferem afirmações como a seguinte:«A Igreja primitiva
não repele absolutamente o ensino reencarnacionista. Os primeiros padres e,
entre eles, S. Clemente de Alexandria, S. Jeronimo e Rufino, afirmam que ele
era ensinado como verdade tradicional a um certo número de iniciados»
(Campos-Vergal, Reencarnação ou Pluralidade das Existências. S. Paulo 1936,
41).Contudo os autores desta e de
semelhantes proposições não tratam de as comprovar citando os textos sobre os
quais se apoiam; é o que tira a autoridade a tais assertivas.Quem, ao contrário,
investiga diretamente as obras dos antigos escritores da Igreja, chega a
conclusão bem diferente da do trecho acima transcrito.
Percorramos, portanto, os escritos dos principais Padres citados
pelos reencarnacionistas modernos:
1)- S. Ireneu († 202)
rejeitava explicitamente a tese da reencarnação, lembrando que em nossa
memória não nos fica vestígio algum de existências anteriores; de outro lado,
advertia, a fé cristã ensina a ressurreição da carne, a qual é incompatível com
a reencarnação das almas em novos corpos (cf. Adv. haer. II 33).
2)- Tertuliano (†
220), usando do seu estilo mordaz, opunha-se ao reencarnacionismo em famosa
passagem («De anima» 28-35), que assim se pode resumir:Pitágoras, que
afirma lembrar-se das suas anteriores existências, é vergonhosamente mentiroso:
asseverava, por exemplo, ter tomado parte na guerra de Troia; como explicar
então que, depois, se tenha mostrado tão pouco valente? Pois, fugindo da
guerra, não veio ele à Itália? E, se em vida anterior foi, segundo afirmava, o
pescador Pirro, como se lhe justificará a aversão pelo peixe? (Sabe-se que
Pitágoras nunca comia peixe). E Empédocles? Não pretendeu ser peixe numa existência
anterior? Deve ser por isso que se atirou na cratera de um vulcão: com certeza
quis ser frito. É tão absurda a migração das almas para corpos de animais que
nem os próprios herejes ousaram defendê-la. – Tertuliano afirmava outrossim
que a reencarnação contraria a noção de justiça de Deus, a qual exige que a
punição afete o próprio corpo que cometeu o pecado, e não algum outro. Clemente de
Alexandria († 215) tinha a doutrina da reen¬carnação na conta de arbitrária,
pois nem as reminiscências nô-la atestam nem a fé cristã.«Se tivéssemos
existido antes de vir a este mundo, deveríamos agora saber onde estávamos,
assim como o modo e o motivo pelos quais viemos a este mundo» (Eclogae XVII).
Clemente notava que nunca a Igreja professara tal doutrina, a qual só fôra
sustentada por conventículos de herejes ditos «gnósticos» (Basilidianos e
Marcionitas).
3)- São Gregório de
Nissa († 394) é explicitamente citado pelos reencarnacionistas como adepto de
sua doutrina. Quem, porém, examina os escritos deste
autor, verifica que Gregôrio considera a reencarnação como fábula injuriosa à
dignidade hu¬mana, pois não hesita em atribuir ao homem, ao animal irracional
(ave, peixe, rã…) e à planta o mesmo princípio vital (cf. «De hominis opificio»
28).Se, não obstante, os
reencarnacionistas modernos apelam para a autoridade de S. Gregório de Nissa,
isto se deve ao fato de que em alguns pontos foi discípulo de Orígenes (do qual
falaremos no § 2 desta resposta).
4)- São Jerônimo (†
421) é por vezes nominalmente citado em favor da reencarnação. Contudo seria
difícil ou impossível justificar essa «procura de patrocínio» em S. Jerônimo,
pois o S. Doutor se pronunciou diretamente contrário à teoria, e isto, precisamente
ao comentar o texto (muito caro aos reencarnacionistas) de Mt 11, 14, em que
São João Batista é designado como Elias:«João é chamado Elias, observa
S. Jerônimo, não segundo a mentalidade de tolos filósofos e de alguns herejes,
que introduzem a doutrina da metempsicose, mas pelo fato de ter ele vindo cheio
da fôrça e do zelo de Elias, como atesta outra passagem do Evangelho» (cf. Lc
1,17).
5)- Sto. Agostinho (†
430) é tido por Allan Kardec como um dos maiores divulgadores do espiritismo,
pois, conforme o Codificador, terá sido adepto da reencarnação.Na
verdade, Sto. Agostinho, no livro X c. 30 «De civitate Dei», mostra conhecer as
doutrinas reencarnacionistas de Platão, Plotino e Porfirio, que ele assim
comenta:«Se
julgamos ser indigno corrigir o pensamento de Platão, por que então Porfirio
modificou a sua doutrina em mais de um ponto, e em pontos que não são de
pequenas conseqüências? É certíssimo que Platão ensinou que as almas dos homens
retornam até mesmo para animar corpos de animais. Esta opinião foi também
adotada por Plotino, mestre de Porfirio. Mas não lhe agradou, e com muita
razão. É verdade que Porfirio admitiu que as almas entram em sempre novos
corpos: ele, de um lado, sentia vergonha em admitir que sua mãe pudesse algum
dia carregar às costas o filho, se lhe acontecesse reencarnar-se no corpo de
uma mula; mas, de outro lado, não tinha vergonha em acreditar que a mãe pudesse
transformar-se numa jovem e desposar o seu próprio filho! Oh, quanto mais nobre
é a fé que os santos e verazes anjos ensinaram, fé que os Profetas dirigidos
pelo Espírito de Deus anunciaram, … fé que os Apóstolos apregoaram por todo o
orbe! Quanto mais nobre é crer que as
almas voltam uma só vez aos seus próprios corpos (no momento da ressurreição
final) do que admitir que elas tomem tantas vezes sempre novos corpos!» (De
civitate Dei X 30).
Considerações
análogas se poderiam multiplicar caso se quisesse continuar a percorrer a
antiga literatura cristã. Isto escaparia, porém, ao intento do presente artigo.Os dizeres de Sto.
Agostinho, fazendo eco à sentença de escritores mais antigos, principalmente
dos mais evocados pelos reencarnacionistas, já bastam para mostrar que vão
seria procurar nos Padres da Igreja tutela e autoridade para a doutrina da
reencarnação.Quem, com sinceridade, observa
a documentação patrística, é levado a concluir que na realidade a Igreja
antiga, longe de ensinar a reencarnação, se lhe opôs abertamente.Eis,
porém, que a história registra o caso de Orígenes, do Origenismo e do Concilio de
Constantinopla (543), caso assaz controvertido, ao qual devemos agora voltar a
nossa atenção:
II. Orígenes: O origenismo e constantinopla
É o nome de Orígenes
que por excelência dá ocasião a que alguns escritores modernos asseverem, terem
os antigos cristãos admitido a doutrina da reencarnação, prosseguindo destarte
uma tradição pré-cristã. Será preciso, portanto, considerar antes do mais: Quem era Orígenes? - Orígenes
(185-254) foi mestre de famosa Escola Catequética ou
Teológica de Alexandria (Egito) numa época em que os autores cristãos começavam
a confrontar a revelação do Evangelho com as teses da sabedoria humana anterior
a Cristo. As fórmulas oficiais de fé da
Igreja não eram então muito definidas; a
teologia (ou seja, a penetração lógica e sistemática das proposições reveladas)
ainda estava em seus primórdios; em conseqüência, ficava margem assaz ampla
para que o estudioso arquitetasse teorias e propusesse sentenças destinadas a
elucidar, na medida do possível, os artigos da fé.Orígenes entregou-se
a tal tarefa, servindo-se da filosofia de seu tempo e, em particular, da
filosofia platônica.Ao realizar isso, o
mestre fazia questão de distinguir explicitamente entre proposições dogmáticas,
pertencentes ao patrimônio da fé e da Igreja, e proposições hipotéticas, que
ele formulava em seu nome pessoal, à guisa de sugestões, para penetrar o
sentido das verdades dogmáticas; além disto, professava submissão ao magistério
da Igreja caso esta rejeitasse alguma das suas teses. Ora, entre as suas
proposições pessoais, Orígenes formulou algumas que de fato vieram a ser
repudiadas pelo magistério eclesiástico:Assim,
inspirando-se no platonismo, derivava a palavra grega «psyché» (alma) de
«psychos» (frio), e admitia que as almas humanas, unidas à matéria tais como
elas atualmente se acham, são o produto de um resfriamento do fervor de
espíritos que Deus criou todos iguais e destinados a viver fora do corpo; a
encarnação das almas, portanto, e a criação do mundo material dever-se-iam a um
abuso da liberdade ou a um pecado dos espíritos primitivos, que Deus terá
punido ligando tais espíritos à matéria. Banidos do céu e encarcerados no
corpo, estes sofrem aqui a justa sanção e se vão purificando a fim de voltar a
Deus; após a vida presente, alguns ainda precisarão de ser purificados pelo
fogo em sua existência póstuma, mas na etapa final da história todos serão
salvos e recuperarão o seu lugar junto a Deus; o mundo visível terá então
preenchido o seu papel e será aniquilado.Note-se bem: o
alexandrino propunha tais idéias como hipóteses, e hipóteses sobre as quais a
Igreja não se tinha pronunciado (justamente porque pronunciamentos sobre tais
assuntos ainda não haviam sido necessários).Não havia, pois, da
parte de Orígenes a intenção de se afastar do ensinamento comum da Igreja a fim
de constituir uma escola teológica própria ou uma heresia («heresia» implica em
obsti¬nação consciente contra o magistério da Igreja).A desgraça de Orígenes,
porém, foi ter tido muitos discípulos e admiradores.Estes atribuíram valor
dogmático às proposições do mestre, mesmo depois que o magistério da Igreja as
declarou contrárias aos ensinamentos da fé.
É preciso observar, outrossim, o seguinte:
(tese semelhante a de Orígenes sobre a encarnação)
O mestre alexandrino admitiu como possível a
preexistência das almas humanas. Ora esta não implica necessariamente em reencarnação;
significa apenas que, antes de se unir ao corpo, a alma humana viveu algum
tempo fora da matéria; encarnou-se depois, dai não se segue que se deva encarnar
mais de uma vez (o que seria a reencarnação propriamente dita).
Atenção! "Orígenes se
pronunciou diretamente contrário" à doutrina da reencarnação!
Com efeito, em certa passagem de
suas obras, considera a teoria do gnóstico Basílides, o qual queria basear a
reencarnação nas palavras de S. Paulo: «Vivi outrora sem lei…» (Rom 7,9).
Observa
então contrariamente Orígenes:
Basilides não
percebeu que a palavra «outrora» não se refere a uma vida anterior de S. Paulo,
mas apenas a um período anterior da existência terrestre que o Apóstolo estava
vivendo; assim, concluía o alexandrino, «Basílides rebaixou a doutrina do
Apóstolo ao plano das fábulas ineptas e ímpias» (cf. In Rom VII).Contudo os discípulos de
Orígenes professaram como verdade de fé não somente a preexistência das almas
(Como mera teoria insinuada por Orígenes), mas também a reencarnação (que o
alexandrino não chegou de modo nenhum a propor, nem como hipótese). Os principais
defensores destas idéias, os chamados «origenistas», foram monges que viveram
no Egito, na Palestina e na Síria nos séc. IV - VI. Esses monges, como se
compreende, levando vida muito retirada, entregue ao trabalho manual e à
oração, eram pouco versados no estudo e na teologia; admiravam Orígenes
principalmente por causa dos seus escritos de ascética e mística, disciplinas
em que o alexandrino mostrou realmente ter autoridade).Não tendo, porém estes monges cabedal
para distinguir entre proposições categóricas e meras hipóteses do mestre, os
origenistas professavam cegamente como dogma tudo que liam nos escritos de
Orígenes; pode-se mesmo dizer que eram tanto mais fanáticos e buliçosos quanto
mais simples e ignorantes.A tese da
reencarnacão, desde que começou a ser sustentada pelos origenistas, encontrou
decididos oponentes entre os escritores cristãos mesmos, que a tinham como
contrária à fé.Um dos testemunhos
mais claros é o de Enéias de Gaza († 518), autor do «Diálogo sobre a imortalidade
da alma e a ressurreição», em que se lê o seguinte raciocinio:
«Quando castigo meu filho ou meu
servo, antes de lhe infligir a punição, repito-lhe várias vezes o motivo
pelo qual o castigo, e recomendo-lhe que não o esqueça para que não recaia na
mesma falta! Sendo assim, Deus, que estipula as correções , não haveria de
esclarecer os culpados a respeito do motivo pelo qual Ele os
castiga? Haveria de lhes subtrair a recordação de suas faltas, dando-lhes
ao mesmo tempo a experimentar muito vivamente as suas penas? Para que
serviria o castigo se não fosse acompanhado da recordação da culpa? Só
contribuiria para irritar o réu e levá-lo à demência. Uma tal vitima não
teria o direito de acusar o seu juiz por ser punida sem ter consciência de
haver cometido alguma falta?» (ed. Migne gr. t. LXXXV 871).
Sem
nos demorar sobre este e outros testemunhos anti-reencarnacionistas do séc. V,
passamos imediatamente à fase culminante da luta origenista.Na realidade, a
corrente dos origenistas ou o origenismo na primeira metade do séc.VI provocou
famosa celeuma teológica!
Como
se terá desenrolado?
No início do séc.
VI estava o origenismo muito em voga nos mosteiros da Palestina, tendo como
principal centro de propagação o cenóbio dito da «Nova Laura», ao sul de Belém:
aí gozavam de apreço as doutrinas referentes à preexistência das almas, à
reencarnação e à restauração de todas as criaturas na ordem inicial ou na
bem-aventurança celeste. Em 531, o abade São
Sabas, que, com seus 92 anos de idade, se opunha enérgicamente ao origenismo, foi
a Constantinopla pedir a proteção do Imperador para a Palestina devastada pelos
samaritanos, assim como a expulsão dos monges origenistas. Contudo alguns dos
monges que o acompanhavam, sustentaram em Constantinopla opiniões origenistas;
regressou à Palestina, para aí morrer aos 5 de dezembro de 532.Após a morte de S.
Sabas, a propaganda origenista recrudesceu, invadindo até mesmo o mosteiro do
falecido abade (o cenóbio da «Grande Laura»); em conseqüência, o novo abade,
Gelásio, expulsou do mosteiro quarenta monges.Estes, unidos aos da
Nova Laura, não hesitaram em tentar tomar de assalto a Grande Laura. Por essa
época, os origenistas (pelo fato de combater uma famosa heresia cristológica
dita «monofisitismo») gozavam de prestígio mesmo em Constantinopla, tendo sido
dois dentre eles nomeados bispos: Teodoro Askidas, para a sede de Cesaréia na
Capadócia; e Domiciano, para a de Ancira.Com o passar do tempo, a
controvérsia entre os monges da Palestina se tornava cada vez mais acesa,
exigindo em breve a intervenção de instancia superior. Foi o que se deu em 539
num sínodo reunido em Gaza, o origenismo foi denunciado ao legado papal Pelágio.Este voltou a
Constantinopla na companhia de monges de Jerusalém encarregados pelo Patriarca
desta cidade de pedir ao Imperador o seu pronunciamento contra o origenismo. A
petição foi de fato transmitida, logrando o almejado êxito.Justiniano, Imperador,
comprazia-se em disputas teológicas; de bom grado, portanto, escreveu um
tratado contra Orígenes, de tom extremamente violento, equiparando as sentenças
do alexandrino aos erros dos pagãos, maniqueus e arianos. Concluía
com uma série de dez anátemas contra Orígenes, dos quais especial atenção
merecem os seguintes:
1. Se alguém disser
ou julgar que as almas humanas existiam anteriormente, como espíritos ou poderes
sagrados, os quais, desviando-se da visão de Deus, se deixaram arrastar ao mal
e por este motivo perderam o amor a Deus, foram chamados almas e relegados para
dentro de um corpo à guisa de punição, seja anátema.
5. Se alguém disser
ou julgar que, por ocasião da ressurreição, os corpos humanos ressuscitarão em
forma de esfera, sem semelhança com o corpo que atualmente temos, seja anátema.
9. Se alguém disser
ou julgar que a pena dos demônios ou dos ímpios não será eterna, mas terá fim,
e que se dará uma restauração («apokatástasis», reabilitação) dos demônios,
seja anátema.
Justiniano em 543
enviou o seu tratado com os anátemas ao Patriarca Menas de Constantinopla, a
fim de que este também condenasse Orígenes e obtivesse dos bispos vizinhos e
dos abades de mosteiros próximos igual pronunciamento. Assim intimado, Menas reuniu
logo o chamado «sínodo permanente» (conselho episcopal) de Constantinopla, o
qual, por sua vez, redigiu e promulgou quinze anátemas contra Orígenes, dos
quais os quatro primeiros nos interessam de perto:
1. Se alguém crer na
fabulosa preexistência das almas e na repudiável reabilitação das mesmas (que é
geralmente associada àquela), seja anátema.
2. Se alguém disser
que os espíritos racionais foram todos criados independentemente da matéria e
alheios ao corpo, e que vários deles rejeitaram a visão de Deus, entregando-se
a atos ilícitos, cada qual seguindo suas más inclinações, de modo que foram
unidos a corpos, uns mais, outros menos perfeitos, seja anátema.
3. Se alguém disser
que o sol, a lua e as estrelas pertencem ao conjunto dos seres racionais e que
se tornaram o que eles hoje são por se terem voltado para o mal, seja anátema.
4. Se alguém disser
que os seres racionais nos quais o amor a Deus se arrefeceu, se ocultaram
dentro de corpos grosseiros como são os nossos, e foram em conseqüência
chamados homens, ao passo que aqueles que atingiram o último grau do mal
tiveram como partilha corpos frios e tenebrosos, tornando-se o que chamamos
demônios e espíritos maus, seja anátema. O
papa Vigílio e os demais Patriarcas deram a sua aprovação a esses anátemas!
A
MENTIRA ESPÍRITA CAINDO POR TERRA!
Como se vê, tal condenação foi
promulgada por um sínodo local de Constantinopla reunido em 543, e não, como se
costuma dizer, pelo II concílio ecumênico de Constantinopla, o qual só se realizou
em 553.Neste concílio
ecumênico, a questão da preexistência e da sorte póstuma das almas humanas não
voltou à baila; verdade é que Orígenes aí foi condenado
juntamente com alguns herejes por causa de erros cristológicos (cf. anátema XI
proferido pelo mencionado concílio ecumênico).Os historiadores
recentes rejeitam a opinião de autores mais antigos segundo os quais o II
concílio ecumênico de Constantinopla se teria ocupado com a doutrina
origenística concernente à preexistência das almas.Em todo e qualquer
caso, não houve condenação de Orígenes em 533, como afirmam certos escritores
reencarnacionistas modernos, os quais por sua pouca meticulosidade se mostram
destituidos de autoridade para tratar do assunto.Na verdade, a
doutrina da reencarnação deve ser tida como positivamente condenada pela Igreja
não somente na base dos testemunhos dos Padres anteriormente citados neste
artigo (os quais representam o magistério ordinário da Igreja), mas
principalmente por efeito das declarações explícitas do II concílio ecumênico
de Lião (1274):
«As almas… são imediatamente
recebidas no céu», e do concílio ecumênico de Florença (1439): «As almas…
passam imediatamente para o inferno a fim de aí receber a punição» (Denzinger,
Enchiridion 464. 693).
Quanto à doutrina do
inferno, ela está contida na Sagrada Escritura e sempre foi professada pelos
cristãos; cf. «P. R.» 371957, qu. 5.
Errôneo,
portanto, seria dizer que ela se deve a algum concilio do séc. VI - Em
conclusão, observamos o seguinte:
a) a doutrina da reencarnação
nunca foi comum, nem é primitiva, na Igreja Católica (atestam-no os depoimentos
dos antigos escritores cristãos aqui citados);
b) após Orígenes (séc. III),
ela foi professada por grupos particulares de monges orientais, pouco versados
em Teologia, os quais se prevaleciam de afirmações daquele mestre alexandrino,
exagerando-as (daí a designação de «origenistas»);
c) mesmo dentro da
corrente origenista, a teoria da reencarnação não teve a voga que tiveram, por exemplo,
as teses da preexistência das almas e da restauração de todas as criaturas na
bem-aventurança inicial;
d) por isto as
condenações proferidas por bispos e sínodos no séc. VI sobre o orígenísmo
versaram explícitamente sobre as doutrinas da preexistência e da restauração
das almas (o que naturalmente implica na condenação da própria tese da
reencarnação, na medida em que esta tese depende daquelas doutrinas e era
professada pelos orígenístas);
e) a doutrina da
reencarnação foi rejeitada não somente pelo magistério ordinário da Igreja
desde os tempos patrístícos, mas também pelo magistério extraordinário nos
concílios ecuménicos de Lião II (1274) e de Florença (1439).
D. Estêvão Bettencourt O. S. B. - Revista Pergunte e Responderemos, 051 – 1962
Lembremo-nos que grande parte do
antigo testamento era e continuou sendo patrimônio do judaísmo e não há sequer
menção por mínima que seja do reencarnacionismo em suas linhas (ou será
que os espíritas vão dizer também, que os Judeus adulteraram as escrituras para
negar a re-encarnação atendendo a Constantinopla? Concílio ao qual não são submissos e nem lhes devem obediência?).
conheça OS PRINCIPAIS TEMAS E DECRETOS DOS 21 CONCÍLIOS UNIVERSAIS DA IGREJA:
1.º )- Papa São Silvestre I - Niceia I - 20 de Maio a 25 de Julho de 325:
Primeiro a reunir a
Cristandade. Condena o Arianismo como heresia e exila Ário. Proclama a
igualdade de natureza entre o Pai e o Filho. Redação do Símbolo ou Credo que se
recita na missa.
2.º)- Papa São Dâmaso I - Constantinopla I -
Maio a Julho de 381:
Afirma a natureza
divina do Espírito Santo. Estabelece que o bispo de Constantinopla receberá as
honras logo após o de Roma.
3.º)- Papa São Celestino I - Éfeso - 22
de Junho a 17 de Julho de 431:
Condena o
Nestorianismo como heresia. Afirma a unidade pessoal de Cristo e a maternidade
divina de Maria. (A Igreja Assíria do
Oriente não reconhece este concílio e nenhum dos posteriores).
4.º)- Papa São Leão I, Magno - Calcedónia - 8 de
Outubro a 1 de Novembro de 451:
Condenação do
monofisismo. Afirma a unidade das duas naturezas, completas e perfeitas em
Jesus Cristo, humana e divina. É escrita a carta dogmática "Tomo a
Flaviano" pelo Papa Leão I. (as Igrejas não
calcedonianas não reconhecem este concílio e nenhum dos posteriores).
5.º)- Papa Vigílio - Constantinopla II
- 5 de Maio a 2 de Junho de 553:
Condena as "heresias Cristológicas de Orígenes" e
outros ensinos já condenados em outros concílios regionais. Condena os documentos nestorianos designados Os Três Capítulos.
6.º)- Papa Santo Agatão - Constantinopla III - 7
de Novembro de 680 a 16 de Setembro de 681
Dogmatiza as duas
naturezas do Cristo (100% homem e 100% Deus).Condena o monotelismo.
7.º )- Papa Adriano I - Niceia II - 24 de
Setembro a 23 de Outubro de 787:
Regula a questão da
veneração de imagens (ícones). Condena os iconoclastas.
8.º)- Papa Adriano II - Constantinopla IV - de
Outubro de 869 a 28 de Fevereiro de 870:
Condenação e
deposição de Fócio, Patriarca de Constantinopla. Encerra temporariamente o
primeiro Cisma Ocidental.
9.º )- Papa Calisto II - Latrão I
- 18 de Março a 6 de Abril de 1123:
Encerra a Questão das
investiduras. Independência da Igreja perante o poder
temporal.
10.º)- Papa Inocêncio II - Latrão II - Abril de
1139:
Torna "obrigatório o celibato" para o clero na Igreja
Ocidental. Fim do cisma do Antipapa
Anacleto II
11.º )- Papa Alexandre III - Latrão III - Março de 1179:
Normas para a eleição
do Papa (maioria de 2/3) e da nomeação de bispos (idade mínima de 30 anos).
Excomungam-se os barões que, na França, apoiavam os Cátaros.
12.º)- Papa Inocêncio III - Latrão IV - DE 11 a 30 de Novembro de 1215:
Determina que todo o
cristão, chegado ao uso da razão, é obrigado a receber a Confissão e a
Eucaristia na Páscoa. Condenação dos Albigenses, Maniqueístas e Valdenses.
Definição de transubstanciação.
13.º )- Papa Inocêncio IV - Lião I - 28 de Junho a 17 de
Julho de 1245:
Tratou da deposição do controverso Frederico II - Imperador do Sacro Império Romano e rei da Itália de 1220 até sua morte, além de rei da Sicília a partir de 1198 e rei de Jerusalém entre 1225 e 1228 em direito de sua esposa a rainha Isabel II. (Em agosto de 1253, depois de muita preocupação com a insistência da ordem Franciscana na pobreza absoluta, Inocêncio IV finalmente aprovou a regra da Segunda Ordem dos Franciscanos, as Irmãs Clarissas, fundada por Santa Clara de Assis, amiga de São Francisco).
14.º )- Papa Beato Gregório X - Lião II - 7
de Maio a 17 de Julho de 1274:
Tentativa de
reconciliação com a Igreja Ortodoxa. Regulamentação do conclave para a eleição
papal. Cruzada para libertar Jerusalém. Institui o conceito dogmático de
Purgatório.
15.º )- Papa Clemente V - Vienne - 16 de
Outubro de 1311 a 6 de Maio de 1312:
Supressão dos
Templários. Discute-se a questão dos bordéis de Roma e a nomeação de um
arcebispo em Pequim, na China.
16.º)- Papa Gregório XII e Papa Martinho V - Constança - 5
de Outubro de 1414 a 22 de Abril de 1418:
Extingue o Grande
Cisma do Ocidente. Condenação das heresias de John Wycliffe e de Jan Hus. Decreta
a supremacia do concílio sobre o Papa (posteriormente ab-rogado pelo Concílio
Vaticano I). Eleição do Papa Martinho V
17.º )- Papa Eugênio IV - Basileia-Ferrara-Florença (1431-1432):
Sanciona o cânon católico (relação oficial dos livros da Bíblia), tenta
nova união com as Igrejas orientais ortodoxas. Reconhecimento no romano pontífice de poderes sobre a Igreja
Universal. Ratifica o dogma do Purgatório.
18.º)- Papa Júlio II e Papa Leão X - Latrão V - 10
de Maio de 1512 a 16 de Março de 1517:
Condenação do
concílio cismático de Pisa (1409-1411) e do conciliarismo. Reforma da Igreja.
19.º )- Papa Paulo III, Papa Júlio III, Papa Marcelo II, Papa
Paulo IV e Papa Pio IV - Trento - 13 de Dezembro de 1545 a 4 de Dezembro de 1563 (durou 18 anos sob 5 papas):
Reforma geral da Igreja, sobretudo por causa do protestantismo. Confirmação da doutrina acerca dos sete sacramentos e dos dogmas
eucarísticos. Decreta a versão da
Vulgata como autêntica.
20.º )- Beato Pio IX - Vaticano
I - 8 de Dezembro de 1869 a 18 de Julho de 1870 (interrompido pelos inicios dos conflitos da primeira guerra nundial):
Reforça a ortodoxia estabelecida no Concílio de Trento. Condena as ideologias Racionalistas, o Naturalistas e Modernistas. Dogmas
sobre o Primado do Papa e da infalibilidade papal na definição expressa de
doutrinas de fé e de costumes.
21.º )- Beato João XXIII e Papa Paulo VI - Vaticano II - 11 de Outubro
de 1962 a 8 de Dezembro de 1965:
Abertura ao diálogo com o mundo
moderno. Reforma da Liturgia. Constituição e pastoral da Igreja, Revelação
divina, liberdade religiosa, novo ecumenismo (visto que o modo tradicional de
ecumenismo é bem diferente, como mostra a Encíclica Mortalium Animos, de Pio
XI), e estabelece o apostolado dos leigos.Este Concílio gera
muitas polêmicas, inclusive pelo seu dito caráter pastoral (apesar de duas Constituições Dogmáticas: a Dei Verbum, Sobre a Revelação Divina, e a Lumen Gentium, Sobre a Igreja).Os ditos
tradicionalistas dizem que o Concílio Vaticano II rompe de modo herético com a
tradição bimilenar da Igreja: a Missa Tridentina e o Canto Gregoriano perdem
importância; o modo como todos os sete sacramentos são celebrados sofreu também
mudanças, porém, não na sua esseência.
Fonte:
Wikpedia
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