Cristãos
perseguidos
Por Rodrigo Cardoso – Isto É
Imagine
um país onde a filiação religiosa deva constar no documento de identidade de
todos os cidadãos, onde sua crença implique restrições para ocupar postos de
trabalho, ter acesso à educação e se casar. No Egito, predominantemente
islâmico, isso acontece e as principais vítimas da intolerância religiosa são
os cristãos, que representam 10% da população.
Na
semana passada, o mundo testemunhou um derramamento de sangue no país. Vinte e
cinco pessoas – a maioria fiéis coptas, como são chamados os cristãos que não
seguem o Alcorão – morreram no domingo 9, no Cairo, em confronto com outros
civis e o Exército. Tanques passavam por cima dos manifestantes sem dó.
Carregando cruzes e imagens de Jesus, milhares de pessoas estavam nas ruas em
um protesto inédito contra a opressão histórica patrocinada pelos muçulmanos.Os
representantes do cristianismo se revoltaram depois de mais um incêndio sofrido
por uma igreja copta. “A primavera no mundo árabe parece que acordou muita
gente, inclusive os coptas”, diz o sacerdote católico Celso Pedro da Silva,
professor emérito da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da
Assunção, de São Paulo. Com o estado de insegurança que domina o Egito após a queda do ex-presidente
Hosni Mubarak, em fevereiro, grupos muçulmanos tentam demarcar mais territórios
em meio à indefinição do poder público. E os coptas, historicamente
marginalizados pelo governo, estão levantando a voz.Há
severas restrições – só para citar uma fonte de discriminação – para a
construção e reformas de templos cristãos, patrulha que não ocorre entre os
muçulmanos. Em solo egípcio há apenas duas mil igrejas perante as 93 mil
mesquitas.Na
quinta-feira 13, o papa Bento XVI manifestou-se no Vaticano: “Uno-me
à dor das famílias das vítimas e de todo o povo egípcio, desgarrado pelas
tentativas de sufocar a coexistência pacífica entre suas comunidades.”
O
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu proteção à minoria copta e
afirmou estar profundamente preocupado com o Egito. A intolerância religiosa contra os cristãos não ocorre só no Egito. Um
levantamento feito, em maio, pela Comissão sobre Liberdade Religiosa
Internacional dos Estados Unidos mostra quanto a violência anticristã está
disseminada mundo afora.Na
China, segundo a comissão, pelo menos 40 bispos católicos estariam presos ou
desaparecidos. Na Nigéria, cerca de 13 mil pessoas teriam morrido em conflitos
violentos entre muçulmanos e cristãos desde 1999.Mais:
na Arábia Saudita, lugares de cultos não muçulmanos são proibidos e livros
escolares seguem pregando a intolerância a outras etnias. Irã e Iraque também
são citados.No
primeiro, mais de 250 cristãos teriam sido presos arbitrariamente desde meados
de 2010. Já o país vizinho registra uma das maiores quedas no número de
cristãos da sua história – em oito anos, esse grupo caiu pela metade e soma, hoje,
500 mil.“Os
atos de violência têm como objetivo pressionar a população a abandonar suas
terras”, explica Keith Roderick, secretário-geral da Coalizão para a Defesa dos
Direitos Humanos.Infelizmente tem funcionado. O Oriente Médio, berço do cristianismo, era
constituído, no início do século XX, por cerca de 20% de seguidores de Jesus
Cristo. Estimam os especialistas que o povo cristão atualmente não represente
nem 2% dos habitantes daquela região.
O
papa Bento XVI chama a investida dos muçulmanos de “conquista à base da
espada” (Em pleno sec. XXI ?).
No
ano passado, o Sumo Pontífice manifestou-se a favor da libertação de uma
paquistanesa cristã condenada à forca por blasfêmia, no Paquistão, país onde
mais de 30 pessoas foram assassinadas com essa justificativa.Asia
Bibi, então com 45 anos, teria dito ao ser insultada por mulheres muçulmanas:“O
que Maomé fez por vocês? Jesus, pelo menos, sacrificou-se por mim”.Graças
à pressão internacional, a pena não foi cumprida, mas Asia aguarda novo
julgamento.Ela
é a primeira mulher na história a receber uma pena de morte por conta de
perseguição religiosa. Um título que nenhum país deveria se orgulhar.
Fonte:
Revista Isto É
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