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ANÁLISE CRÍTICA DA OBRA DE ANTÓNIO DAMÁSIO: "O ERRO DE DESCARTES"

Written By Beraká - o blog da família on domingo, 19 de agosto de 2012 | 17:10








QUEM É ANTÔNIO DAMÁSIO?




Por: Fonseca, M.J.M.




António Rosa Damásio - (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1944) é um médico neurologista, neurocientista português que trabalha nos estudo do cérebro e das emoções humanas. Atualmente é professor de Neurociência na University of Southern California. Entre os anos de 1996-2005 Damásio trabalhou no hospital da University of Iowa.Licenciou-se em Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde veio também a doutorar-se. Após uma estadia no Centro de Investigação da Aphasia de Boston (EUA), regressou ao Departamento de Neurologia do Hospital Universitário de Lisboa.















Publicou o seu primeiro livro: O Erro de Descartes - Emoção, Razão e Cérebro Humano assim como O Sentimento de Si (2001), eleito um dos dez livros do ano pelo New York Times. Também escreveu "Ao encontro de Espinosa". Recebeu, entre muitos outros prémios, o Prémio Pessoa e o Prémio Príncipe das Astúrias de Investigação Científica e Técnica em Junho de 2005. Em 2010 editou o seu mais recente livro "O Livro da Consciência"Estudioso de neurobiologia do comportamento humano e investigador das áreas cerebrais responsáveis pela tomada de decisões e conduta. Observou o comportamento em centenas de doentes com lesões no córtex pré-frontal, permitindo concluir que, embora a capacidade intelectual se mantivesse intacta, esses doentes apresentavam mudanças constantes do comportamento social e incapacidade de estabelecer e respeitar regras sociais.Os seus estudos debruçam-se sobre a área designada por ciência cognitiva, e têm sido decisivos para o conhecimento das bases cerebrais da linguagem e da memória.



Fonte: Wikpedia






ALGUMAS CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS





1)-O título oficial deste painel promovido pelo Departamento de Ciência da Educação é "Análise crítica da obra O ERRO DE DESCARTES de António Damásio". Para título desta comunicação eu própria "O ERRO DE Damásio acerca do Erro de Descartes" ou "Como distinguir um neurocientista de um filósofo". Talvez no fim de me ouvirem me ajudem a decidir por um deles.





2)-Dada a minha formação académica e profissional, centrar-me-ei nos aspectos em que a obra de Damásio toca os domínios da filosofia.


3)-Situar-me-ei, nessa análise, a partir do ponto de vista de Descartes e daquela que é a interpretação consensual da filosofia cartesiana.


4)-De algum modo me considero, portanto, advogada de defesa de Descartes.


5)-Daqui não pode nem deve inferir-se que me coloco simultaneamente como advogada de acusação de Damásio - o que é, aliás, manifestamente impossível no âmbito dos códigos legais.


6)-Por outro lado, o que está em análise é a obra, esta obra, e não o autor. Mas analisar o texto ou a obra implica sempre um diálogo a três: o autor, o texto ou a obra, o leitor. Por isso, por vezes, é muito difícil manter a análise na obra sem passar pelo autor, já que o texto interpela-nos, nós interpela-mos o texto e, às vezes, interpelar o texto é também interpelar o seu autor.


7)- Devo dizer que escrevi um texto algo longo sobre o assunto presente. Dado o tempo disponível, achei melhor encurtá-lo, vincando apenas as ideias fundamentais. Espero ser breve mas clara e espero ser sintética (que é coisa que não sou) mas inteligível.
Posto isto, comecemos, então, essa análise.






E comecemos pelo título, como não podia deixar de ser.



1. O TÍTULO






Curioso o título para um livro que, confessadamente, não trata de Descartes nem sequer da filosofia "embora tenha sido por certo acerca da mente, do cérebro e do corpo", (Damásio(1995):20) daquilo que o autor designa, numa palavra, por neurociência. Isto mesmo é confirmado pela contagem (não muito rigorosa evidentemente) do número de vezes que aparece o nome de Descartes. Vinte e cinco vezes Descartes . Seis vezes cartesiana. Trinta e uma vezes no total em duzentas e setenta e umas páginas!(1)Ora, se assim é, a primeira questão que coloco é esta: Porque não inverteu o autor o título? O sub-título passa a título principal e o título a sub-título:






EMOÇÃO, RAZÃO E CÉREBRO HUMANO.




O erro de Descartes






E uma Segunda questão: E porquê O Erro de Descartes e não de Platão ou Kant, por exemplo? Autores a que o texto faz referência. "Mas há quem possa perguntar por que motivo incomodar Descartes e não Platão cujas ideias sobre o corpo e a mente são muito mais exasperantes." (Damásio(1995):255) Infelizmente o autor não responde à sua própria pergunta!A única resposta que encontrámos é indireta e é aquela que o autor dá para justificar o título e a escolha de Descartes. Descartes é "a figura emblemática que moldou a abordagem mais difundida respeitante à relação mente-corpo." (Damásio (1995):20) - Ora, desta opinião não são os profissionais e os especialistas da filosofia, que consideram, precisamente, que essa figura emblemática é Platão e não Descartes.(2) Sendo assim, parece, desde logo, que o título é inadequado.O próprio autor parece Ter consciência disto mesmo, porquanto afirma que, de facto, o livro não é sobre Descartes e, assim, Descartes é meramente um pretexto.




Porquê, então, este título?
Porquê, então, Descartes?
Poderia propôr algumas explicações, entre outras:
Por marketing?
Para chamar a atenção?
Por moda?




Atentemos na última hipótese. Não deixa de ser curioso que títulos deste género, que direta ou indiretamente evocam Descartes, tenham ultimamente vindo a lume e nada tenham a ver com a filosofia. Curioso também que vão já em largas reimpressões. Por exemplo:



  • Nunes dos Santos, Existes, logo pensa, 9ª edição, 1988.
  • O próprio livro de Damásio que já vai, nesta data, em 12ª edição e todas publicadas entre Maio de 1995 e Agosto do mesmo ano.
  • Até a banda desenhada glosa Descartes.(3)



Indubitavelmente, Descartes está hoje na ordem do dia. É um autor pleno de atualidade.E, de fato, quem não conhece Descartes e o seu famoso " penso, logo existo"? E toda a gente conhece o Discurso: todos o lemos quando passámos pela escola. O homem comum, com uma cultura geral média, conhece melhor Descartes que Platão ou Kant. Quem não sabe que o "penso, logo existo" é uma afirmação cartesiana? Quanto a Platão ou Kant, que afirmações famosas lhe pode atribuir o homem comum? O próprio Damásio considera que o "penso, logo existo" é uma afirmação "talvez mais famosa da história da filosofia." (Damásio (1995):254)Tiremos então a ilação que parece óbvia. O título não podia ser outro senão O Erro de Descartes porque Descartes é mais conhecido que qualquer outro filósofo e isso, aliado ao facto de que Descartes, afinal, e a crer em Damásio, errou, é garantia de sucesso ou, pelo menos, desperta a nossa atenção.






Os Erros de Descartes







Descartes errou , segundo Damásio. Mas afinal em que errou Descartes? Qual foi, então o Erro de Descartes?Para dizer a verdade, foram vários os erros de Descartes na perspectiva de Damásio. Enunciemo-los:


Primeiro, o mais fundamental, sob o ponto de vista de Damásio, aquele que vai ser alvo de todas as críticas, é o erro do dualismo.


Segundo: Mas Descartes cometeu outros erros, aliás "bem mais espectaculares"! (Damásio (1995):255)


Por exemplo, os erros presentes na explicação que dá para a circulação do sangue ( o calor é que faz circular o sangue) ou para a explicação do movimento dos músculos ( por recurso aos "espíritos animais"). (Cf. Damásio (1995):255)No que diz respeito a estes últimos, Damásio não lhes atribui qualquer importância, porquanto "há muito tempo que sabemos que ele estava errado nestes aspectos concretos." (Damásio (1995):255)






Restam os outros dois, o erro do dualismo e o do mecanicismo.





Destes, o erro mais grave e decisivo é o erro do dualismo pois o dualismo "continua a prevalecer" e a influenciar a ciência e a cultura hodiernas. ( Cf. Damásio (1995):255)Apresentados os erros de Descartes, segundo Damásio, cumpre agora apreciá-los, saber se Descartes efetivamente errou e se Damásio tem ou não razão.






O Erro do Dualismo:






Comecemos pela análise daquela que é, na perspectiva de Damásio, o único erro autêntico - o do dualismo.






Em que consiste este erro? 



Na radical separação e diferença entre corpo e alma, res cogitans e res extensa, matéria e espírito. Erro patente, desde logo, e segundo Damásio, no "penso, logo existo" - que é a formulação que aparece no Discurso do Método (publicado em 1637).Mas Descartes dá outras formulações desse mesmo princípio, formulações essas que mutuamente se esclarecem. "Cogito, ergo sum " nos Princípios da Filosofia(publicada em 1644) e "sum res cogitans" nas Meditações Metafísicas ( publicada em 1642). SouSou o quê? Sou uma coisa que pensa, existo porque penso e enquanto penso, eis o que significam essas formulações. Se deixar de pensar, deixo de existir porque deixo de ter garantia, a certeza e a consciência da minha existência. Por isso, pensar e existir são, no fundo, uma só e mesma coisa e Descartes pode falar de intuição na apreensão desta única verdade. Mas o grande problema, para Damásio, reside no fato de " como sabemos que Descartes via o ato de pensar como uma atividade separada do corpo, esta afirmação celebra a separação da mente, a 'coisa pensante' (res cogitans) do corpo não pensante, o qual tem extensão e partes mecânicas (res extensa)." (Damásio (1995:254)







E se isso é, de algum modo, pelo menos na aparência, verdade, tenho, contudo, algumas objeções a propor:




1ªobjeção:




O dualismo patente na acusação de Damásio e Descartes é uma consequência do sistema, não é uma opção primeira do sistema cartesiano. Isto é, Descartes não parte do dualismo, ele chega ao dualismo, resultando isso da forma como Descartes põe os problemas. Por outro lado, o dualismo nunca satisfez o próprio Descartes que, por isso, o tentou ultrapassar, até porque como explicar que no homem a res cogitans ( a mente ) coexista e se relacione com a res extensa ( o corpo ). Daí o recurso cartesiano à glândula pineal - actual hipófise - ( a que Damásio alude algumas vezes ) como forma de explicar a intersecção e a inter-relação entre a mente e o corpo.E se a explicação pela glândula pineal mereceu algum louvor, o próprio Damásio o atesta quando afirma "curiosamente essa interligação [do corpo com a mente, a razão, o sentimento, a emoção] ocorre de forma intensa não muito longe da glândula pineal" (Damásio (1995):138), também é verdade que tal explicação não satisfaz ninguém nem o próprio Descartes. Ouçamo-lo: "é necessário saber que a alma está verdadeiramente unida a todo o corpo, e que em rigor não se pode dizer que exista numa das suas partes com exclusão das outras, pois o corpo é uno e de um certo modo indivisível". (Descartes (1968):115) Ao ouvir este texto quase se diria que estávamos a ouvir Damásio!




2ªobjecção - Damásio engana-se na interpretação que faz de Descartes:




1)-Primeiro erro de interpretação:






Descartes procura uma resposta para uma questão metafísica e não para uma questão de origem, como Damásio afirma. Ora Descartes não se questiona de onde vem ou provem a mente. Interroga-se pelo SER.O que é que existe? E responde: Existe o pensamento (primeira existência e primeira verdade fora de toda a dúvida), existe Deus (Segunda existência e Segunda verdade) e existe o Mundo (terceira existência e terceira verdade).Mas estes primeiro, segundo e terceiro não aparecem por ordem de importância ou por ordem de origem. Correspondem meramente à ordem da fundamentação do sistema. E por isso a uma só só questão - o que é que existe? - um só resposta: existe o pensamento, Deus e o Mundo.






2)-Segundo erro de interpretação:







Descartes não procurava uma fundação lógica para a filosofia, como Damásio afirma, procurava, quando muito, uma fundação lógico-metodológica e gneseológica - e isto é verdade ao nível do Discurso. Mas a autêntica fundamentação que Descartes busca é uma fundação ontológica e metafísica, que só ela garante a outra fundamentação lógico-gnoseológica, porquanto se quero conhecer, quero conhecer coisas que realmente existam, caso contrário p meu conhecimento seria ilusão, falsidade, mentira, fantasmagoria, porque conhecimento de nada, de algo que não existia.Mas mais. Quando se procura um primeiro princípio fundante - como é o caso de Descartes - é evidente que esse princípio, como qualquer princípio, é indemonstrável. É que o princípio funda mas não é fundado.Os princípios, portanto, não se provam, aceitam-se (ou não). São fruto, em última análise, de uma opção/decisão e objecto de uma crença.Ora como pode Damásio considerar errado o primeiro princípio cartesiano se, como princípio que é, não se pode demonstrar a sua verdade ou falsidade?Para mais, Damásio faz a mesma coisa que Descartes, aparentemente sem se aperceber disso, radicando a confusão no sentido indiscriminado que Damásio dá ao tempo origem, que considera sinónimo de princípio.Ora, na terminologia filosófica, tais termos não são, de modo nenhum, equivalentes. Princípio é fundamento e origem é causa. E, de fato, Damásio não se pergunta apenas pela origem (causa) da mente, pergunta também, antes de mais, pelo princípio.E na resposta que dá, onde, aliás, está bem patente a confusão terminológica referida, coloca-se nos antípodas de Descartes.






"Para nós, portanto, no princípio foi a existência e só mais tarde chegou o pensamento. E para nós, no presente quando vimos ao mundo e nos desenvolvemos começamos ainda por existir e só mais tarde pensamos na medida em que existimos, visto o pensamento ser, na verdade, causado(4) por estruturas e operações do ser." (Damásio (1995):254)






Damásio a formular o seu próprio princípio metafísico! A existência!






No princípio era a existência e é a existência que na sua própria evolução, desenvolvimento e complexificação permite o aparecimento do pensamento.E o que é verdade para a perspectiva filogenética, também o é na perspectiva ontogenética. Portanto, primeiro existimos. Existimos sem pensar. Depois, mais tarde , pensamos, existimos e pensamos.. À existência acrescentou-se o pensamento.E, tal como é posta, a afirmação é também uma afirmação dualista. Porque primeiro existe uma coisa e depois outra diferente da primeira.Parece, portanto, que Damásio sofre do mesmo mal de que acusa Descartes: Uma doença chamada dualismo agudo... ou crónico, dependendo da perspectiva.







3ª objecção:






Um dos aspectos cruciais da argumentação de Damásio contra Descartes consiste em considerar que este erro do dualismo é imperdoável, porquanto é uma concepção errada que perdura até hoje e determina ainda hoje o modo como conhecemos as relações mente-corpo.Ora a minha objeção vai no sentido de considerar que o dualismo já estava presente em concepções anteriores a Descartes - por exemplo em Platão que destingue matéria e forma, Kosmos aisthetos e Kosmos noetos, corpo e razão.E que dizer do Cristianismo que, mais que nenhuma outra força cultural, marcou decisivamente a nossa tradição ocidental? E que destingue alma de corpo, espírito de matéria, bem e mal... E só o primeiro polo destas dicotomias é valorizado! Porquê, pois, atribuir a Descartes a culpa do dualismo, se ele não foi o primeiro nem sequer o último dos dualistas?






3.2. - O Erro do Mecanicismo:




O segundo erro de Descartes: o mecanicismo. Erro que, tal como o anterior, ainda não foi refutado e continua a perdurar nos nossos dias.Muito curioso que, relativamente a este erro, Damásio só o enuncie, parecendo que, de repente, foi atacado por algum ataque de amnésia que o fez esquecer-se de o refutar.Primeira conclusão: o erro do mecanicismo perdura e, neste caso, pode perdurar já que Damásio não o desfaz.







Última conclusão: o mecanicismo, afinal, não é um erro! Há aqui, indubitavelmente, uma contradição em Damásio.





De qualquer forma, também o mecanicismo não é apenas uma concepção cartesiana. Ele é o modelo que preside à interpretação do mundo e da natureza na moderna concepção de ciência, desde os seus inícios no século XVII e já antes de Descartes, com Kepler, Copérnico e Galileu. (5)Consiste o mecanicismo em considerar que tudo na natureza se explica analogamente ao funcionamento de uma máquina, em que tudo acontece sempre da mesma maneira, as mesmas causas provocando sempre os mesmos efeitos.Logo, a hipótese do mecanicismo é indissociável da hipótese da causalidade. E se o mecanicismo é um erro então a ciência é um erro!Podemos compreender, então, o súbito ataque de amnésia de que parece ser vítima Damásio e porque é que ele não desfaz este pretenso erro (???...) - (Resposta): É que Damásio é ele mesmo um mecanicista! Aliás, como cientista , não podia deixar de o ser.Por isso só posso concluir que não foi Descartes o culpado de "os biólogos adotarem até hoje, uma mecânica de relojoeiro como modelo dos processos vitais" (Damásio (1995):253-254), como afirma Damásio.E posso mesmo concluir mais: que Damásio adopta "uma mecânica de relojoeiro como modelo dos processos vitais" (Damásio (1995):254) e neurológicos ou não afirme ele que o cérebro é causa da mente !




Diz Damásio:






"Poderíamos começar com um protesto e censurá-lo [a Descartes] por Ter convencido os biólogos a adoptarem até hoje uma mecânica de relojoeiro como modelo dos processos vitais. Mas talvez isso não fosse muito justo." (Damásio (1995):253-254)





Convenhamos que, de facto, não é nada justo! E Damásio sabe-o bem ! No Post-Scriptum (Damásio (1995):258-271) dirige uma última crítica a Descartes - A negligência cartesiana da mente, por parte da biologia e da medicina ocidentais, tem tido duas consequências principais:





1)- A primeira situa-se no campo da ciência. O esforço para compreender a mente em termos biológicos em geral atrasou-se várias décadas e pode dizer-se que só agora começa. (...)




2)- A Segunda consequência negativa relaciona-se com o diagnóstico e com o tratamento eficaz das doenças que nos confrontam" (Damásio (1995):261)), a saber, as doenças da mente.






Ora, mais uma vez sou obrigada a contradizer Damásio:





Mas aqui Descartes nem sequer precisa que o defendam. Ele próprio se defende e contradiz Damásio quando no Discurso afirma "De maneira que esse eu, isto é, a alma pela qual sou o que sou é mais fácil mesmo de conhecer que o corpo" (Descartes (1968):40) ou quando afirma nas Meditações, e é o título da Segunda Meditação "Da natureza do espirito humano: que se conhece melhor que o corpo". (Descartes (1976):117)E não resisto a citá-la como ela foi escrita originalmente pelo próprio Descartes em latim "De natura mentis humanae: quod ipsa sit notior quam corpus." (Descartes (1970):36) E provando que a mente é mais simples e fácil de conhecer que o corpo, Descartes aventura-se no estudo da alma ou da mente escrevendo o Tratado das Paixões da Alma, publicado em 1649. Não parece, de modo nenhum, a não ser por um erro muito grosseiro ou má-fé, que possamos acusar Descartes de ter esquecido a mente e de, por essa razão, ser igualmente culpado pelo atraso no estudo da mente!







4. UMA NÃO-CONCLUSÃO:






Posto isto, não estejam à espera de uma conclusão, não me peçam uma conclusão, não me podem sequer pedir que conclua. De fato, é uma impossibilidade concluir.Há muito ainda por explicar, nada está fechado e, portanto, concluído. Tudo está aberto e permanece, ainda, em aberto.






Nota em alegação final:



A única "conclusão" que posso "concluir", em resposta ao repto que me foi lançado no início, é que, em face do exposto, julguem os senhores, distintos jurados!E penso que não podem proferir outro veredicto no caso que esteve presente neste Tribunal de Damásio versus Descartes, a não ser o do réu, o acusado, não é culpado mas inocente!Aliás, é essa a minha profunda convicção ou não teria aceitado esta defesa quando me foi proposta.O veredicto de inocência que espero, já está, por isso, implícito num dos títulos que vos propus.






BIBLIOGRAFIA





ALQUIÉ, Ferdinand, A Filosofia de Descartes, Lisboa, Editorial Presença, 1980 (col. Biblioteca de Textos Universitários).


BEYSSADE, M., Descartes, Lisboa, Edições 70, s.d., (col. Biblioteca Básica de Filosofia).


CHÂTELET, Franços, Platão, Porto, Rés, s.d., (col.Diagonal).


COTTINGHAM, A Filosofia de Descartes, Lisboa, Edições 70, 1989, (col. O Saber da Filosofia).


DAMÁSIO, António R., O Erro de Descartes. Emoção, Razão e Cérebro Humano, 12ª edição, Lisboa, Publicações Europa-América, 1995, (col. Forum da Ciência, 29).


DESCARTES, R., Discurso do Método e Tratado das Paixões da Alma, 5ª edição, Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1968.


DESCARTES, R., Meditações sobre a Filosofia Primeira, Coimbra, Livraria Almedina, 1976. (Trata-se de tradução portuguesa da obra Méditations Métaphysiques).


DESCARTES, R., Méditations Métaphysiques, 4ª ediçaão, Paris, P.U.F., 1970, (Col. S.U.P.). Edição bilingue em Francês e em Latim.


DESCARTES, R., Princípios da Filosofia, 3ª edição, Lisboa, Guimarães Editores, 1978.


FONSECA, Maria de Jesus M., Em Torno do Conceito de Ciência, in: CUNHA, Vasco e SILVA, Sónia (Coord.), VIVA A CIÊNCIA 94, Viseu, Edição do Departamento Cultural do I.P.V. , 1995, 123-138.


GOSCINNY e UDERZO, Astérix Legionário, Lisboa, Meribérica, s.d.


KOYRÉ, A., Considerações sobre Descartes, Lisboa, Editorial Presença, 1980 (col. B.U.P.).


MORENTE, M. G., Fundamentos de Filosofia. Lições Preliminares, 8ª edição, S.Paulo, Editora Mestre Jou, 1980.


NIGEL, Thomas, O Problema Mente-Corpo, in: NIGEL, Thomas, Que Quer Dizer Tudo Isto? Uma Iniciação à Filosofia, Lisboa, Gradiva, 1995, (col. Filosofia Aberta, 1), 29-37.


NUNES DOS SANTOS, Existes, logo pensa! Máximase aforismos, 9ª edição, Porto, Menabel, 1988.


PLATÃO, Fédon. Diálogo sobre a Imortalidade da Alma., 2ª ed., Coimbra Atlântica, 1954, (col. Biblioteca Filosófica).


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SEARLE, John, Mente, Cérebro e Ciência, Lisboa, Edições 70, 1987, (col. Biblioteca de Filosofia Contemporânea, 1.).


SEVERINO, A Filosofia Moderna, Lisboa, Edições 70, s.d., (col. O Saber da Filosofia).







NOTAS:




1.É evidente que esta contagem não é rigorosa já que não foi feita por computador.

2.Cf. F. Châtelet, Platão, Porto, Rés, s.d.

3. Goscinny e Uderzo, Astérix Legionário, 41 e 42, 3ª tira.

4. O sublinhado é nosso.

5. A concepção de ciência e o paradigma mecanicista que subjaz à ciência moderna foi o tema da nossa comunicação no VIVA A CIÊNCIA do ano passado. Cf. Maria de Jesus Fonseca, Em Torno do Conceito de Ciência,in: Cunha, Vasco e Silva, Sónia, VIVA A CIÊNCIA 94, Viseu, Ed, do Departamento Cultural do IPV, 1995, 123-138.






FONTE: http://www.ipv.pt/millenium/ect2_mjf.htm






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