por *Francisco José
Barros de Araújo
Atenção! Não se deixe enganar! Toda moeda, e toda história tem três lados!
Parece um velho e surrado jargão, mas nunca deixa de ser verdadeiro: “toda moeda tem três lados.” Para descobrir se algo realmente é “verdade”, é preciso ouvir, no mínimo, três opiniões. Recordo-me de quando trabalhei em um setor de compras: meu supervisor sempre exigia três orçamentos antes de autorizar qualquer compra. Ele costumava dizer que, com apenas dois orçamentos, eu teria apenas os extremos dos preços, sem a referência do meio — a média, a medida da realidade. Assim também é na vida: só compreendemos melhor os fatos quando analisamos diversos pontos de vista, e não apenas os extremos. Se as três opiniões forem divergentes, forme a sua própria, com base nas consequências positivas e negativas de cada uma. Jamais aceite o primeiro “sim” sem refletir, e nunca desista diante do primeiro “não”. Afinal, é impossível julgar uma pessoa ou uma situação apenas por um episódio isolado. Ninguém é completamente bom ou mau por causa de um único ato. Entretanto, quando as consequências negativas se repetem continuamente, é sinal de que há algo errado. Errar é humano — mas permanecer no erro é orgulho, e orgulho é sempre um caminho perigoso.
Todos nós erramos, e erramos muito — ainda que alguns pareçam errar mais que outros. Por isso, precisamos respeitar e suportar-nos mutuamente, pois o respeito é uma via de mão dupla: se você deseja ser respeitado, respeite primeiro. A maior parte das desavenças que vemos por aí nasce justamente da falta de respeito e empatia com o próximo. Muitos enxergam apenas os fatos, mas não os interpretam com imparcialidade. Criticam, rotulam e desmerecem quem pensa diferente — mesmo quando todos buscam, no fundo, o mesmo ideal: o bem comum.
É comum ouvirmos que “preconceito não existe”, ou que “as pessoas estão sensíveis demais”, como se desconsiderar a dor alheia fosse um sinal de força. No entanto, esse tipo de postura apenas revela arrogância e falta de escuta. Cada opinião, ainda que equivocada, é fruto de vivências e experiências pessoais que merecem ser compreendidas antes de serem julgadas.
Quem nunca se viu diante de duas pessoas conhecidas apresentando versões opostas de um mesmo fato, sem saber em qual acreditar? Saiba de uma coisa: nenhuma das versões contém a verdade completa. E isso não significa que alguém esteja mentindo ou agindo de má-fé. Significa apenas que somos humanos — limitados, subjetivos e marcados pela imperfeição. Nossa percepção é ferida pelo orgulho e pelas emoções, e por isso enxergamos o mundo não como ele é, mas como somos por dentro.
Cada um tem uma personalidade, uma história
de vida e um jeito único de enxergar o mundo!
Isso faz com que quando cada um
de nós quando contamos, ou vemos um fato, o influenciamos com nossas
particularidades a ele. Sendo assim, não necessariamente por maldade ou
benefício próprio, quando contamos algo a alguém, sempre tem uma diferenciação,
por mais pequena que seja, da realidade do fato em si mesmo (de conto em conto, sempre se retira, ou aumenta um ponto!).
É fácil perceber quando a gente entra em contato com a versão dos demais participantes fica muito mais complicado acreditar numa verdade única e absoluta do fato, ou pessoa. Somos geralmente levados a confiar, ou desconfiar no narrador de uma história, simplesmente porque é tudo o que temos, e temos uma visão de mundo diferente. E SE a história tivesse sido contata pelo personagem X? Qual seria a minha conclusão sobre o mesmo assunto?
Imaginem a vida, paixão, morte, e ressurreição de jesus Cristo contada por Judas, aquele que entregou Jesus?
Teríamos
um outro modo à nossa disposição, de ver o mesmo fato, concorda? Pensar em "perspectivas" é lembrar, sempre, que cada um tem a sua, pois todo ponto de vista
é a vista de um ponto! É bacana quando a gente consegue ter outros pontos de vista, até contraditórios, para entender
um pouco melhor o "conjunto completo da obra".
Estar cego(a) e fechado(a) de forma fanática e orgulhosa em um
ponto de vista, levará você a perder grandes oportunidades de aprender e evoluir
-Somos um constante vir a ser! Quantas mudanças já tivemos e fizemos ao longo da vida? Você é o(a) mesmo(a) de 10 anos atrás? Houve mudanças em você?
-Feliz daquele(a) que está sempre mudando para poder permanecer fiel a seus
princípios!
Tenhamos sim, a humildade de reconhecer que um dia já fomos muito diferentes
do que somos hoje, e que no futuro poderemos ser diferentes do que somos e
pensamos agora! A verdade, é justamente a parte REAL da história sem nenhuma potência
associada, mas o que ela simplesmente é!
"A verdade é OBJETIVA! Não está no observador,
mas, no objeto observado! O obeservador pode mudar, o objeto não!
Como potência associada, posso incluir a raiva que
sinto naquele momento, o medo, o peso de histórias passadas, o momento atual em
que vivemos. Tudo isso contribui para que você enxergue somente o seu ponto de
vista.
Ceder e ter a humildade de escutar o outro lado da história, sentir o
que o outro sente e se colocar no lugar do outro é, sim, um aprendizado de
vida, é um treinamento que requer constância. No dia em que você conseguir
ouvir uma história, e dela ser participante, tenha absoluta certeza, que você deu mais um passo na sua
trajetória de maturidade humana!
O desafio hoje em dia não é acumular informação e, sim, saber discernir a informação que chega até nós!
Conceitos, temos aos montes, mas o verdadeiro aprendizado para a
maturidade humana, está em aplicar tais conhecimentos adquiridos. A informação
é importante quando agregada à prática. O discernimento é igual à proporção
entre informação e conhecimento, o resto é desperdiçado.
As experiências
negativas são tesouros que alimentam o bom discernimento!
É necessário estudá-las
para entendê-las a fim de que se tornem realmente formação. Aquele aspecto
vivenciado e entendido dará frutos, pois a vivência já existiu!
A clareza e assertiva da decisão depende de como você vê o
fato sob várias perspectivas, e isso não é tarefa fácil !
Então, para que perder tempo com coisas que não agregam bons valores? Se o seu
ponto de vista for absolutista em qualquer situação, principalmente com as de ordem sociológicas, que são mutáveis, pois não fazem parte das cieências exatas, o(a) levará ao fracasso e a decepções.
No exercício do amor, do dar e receber, é que damos oportunidade de
desenvolver quatro princípios fundamentais: o amor, o respeito, a dignidade, e a
simplicidade. Quem consegue ter esses princípios bem estabelecidos se adequa a
qualquer meio.
-Para desenvolver o princípio do amor é preciso sair da teoria e
praticar esse princípio, para que haja a troca necessária. “Ponha amor onde não
há amor e colherá amor...”(São João da Cruz).
-O princípio do respeito se
concretiza quando você reconhece o espaço do outro e o seu.
-O princípio da
dignidade é que dá sustentação a superação das intolerâncias tão comum nos dias
de hoje.
-O princípio da dignidade reconhece que você é tão digno quanto o
outro. Quando eu me sinto digno, eu me posiciono com firmeza. Eu não sou mais
pessoa que você, e você não é mais pessoa do que eu.
-O princípio da
simplicidade é a capacidade de expressar o seu conteúdo de forma simples na medida
da compreensão do outro, e não da minha.
CONCLUSÃO – A Porta Estreita da Verdade É O TERCEIRO LADO DA MOEDA!
Normalmente, julgamos os outros de forma equivocada não porque sejamos maus, mas porque temos preguiça de compreender. Falta-nos disposição para analisar com calma as crenças, valores e motivações do próximo. É mais fácil apontar o erro do outro do que examinar os nossos próprios desequilíbrios interiores. Assim, seguimos alimentando preconceitos e repetições de injustiça, sem perceber que o verdadeiro julgamento é o que cada um deve fazer de si mesmo diante da própria consciência.
Tudo começa a mudar quando passamos a reconhecer quem realmente somos — seres limitados, incoerentes, mas capazes de crescer e se transformar. Quando tomamos consciência de nossos limites e contradições, nasce dentro de nós a energia do equilíbrio, que dissolve os bloqueios do orgulho e do ressentimento. É nesse momento que o perdão se torna possível: não apenas o perdão concedido ao outro, mas também aquele que damos a nós mesmos. Somente então podemos alcançar um novo nível de entendimento e humanidade, no qual desaparecem os falsos julgamentos e os rótulos. Nesse estado de consciência, passamos a olhar o outro como Cristo olha: não como inimigo ou adversário, mas como imagem e semelhança de Deus. Todo ser humano, independentemente de sua condição — seja rico ou pobre, cidadão exemplar ou aquele marginalizado pela sociedade —, possui uma dignidade que deve ser respeitada e amada. Amar como Cristo amou é, acima de tudo, reconhecer o valor divino escondido na fragilidade humana.
E assim voltamos ao ponto de partida: “toda moeda tem três lados.” Não basta escolher entre cara ou coroa, entre o “certo” e o “errado” segundo nossas preferências. É preciso lembrar que a verdade habita a lateral da moeda, o espaço estreito que une os opostos. É ali, na zona de equilíbrio, que se encontra a sabedoria da moderação, a prudência que evita os extremos e a humildade que busca compreender antes de condenar. Essa “lateral” da moeda simboliza a porta estreita de que fala Jesus no Evangelho:
“Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita, pois eu afirmo a vocês que muitos vão querer entrar, mas não poderão.” (Lucas 13,24)
Entrar por essa porta estreita da verdade que poucos conseguem, é um convite à reflexão e ao autodomínio. Exige esforço, renúncia e coragem para vencer o orgulho, ouvir o outro e compreender que ninguém detém toda a verdade. A porta estreita é o caminho da empatia, da compaixão e da verdade interior — o único que nos conduz à verdadeira liberdade e à paz que vem de Deus.
*Francisco José
Barros de Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme
diploma Nº 31.636 do Processo Nº 003/17 - Perfil curricular no
sistema Lattes do CNPq Nº 1912382878452130.
Referências Bibliográficas
-BÍBLIA. Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamento. Tradução da CNBB. 12. ed. São Paulo: Paulus, 2019.
-BENTO XVI. Jesus de Nazaré: do Batismo no Jordão à Transfiguração. São Paulo: Planeta, 2007.
-LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. Tradução de Gabriele Greggersen. 12. ed. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2017.
-FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Tradução de Walter Schlupp e Carlos C. Aveline. 41. ed. Petrópolis: Vozes, 2019.
-SANTO AGOSTINHO. Confissões. Tradução de J. Oliveira Santos e A. Ambrósio de Pina. 25. ed. Petrópolis: Vozes, 2018.
-FROMM, Erich. A arte de amar. Tradução de Milton Amado. 17. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2020.
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A verdade nem sempre está nos extremismos, mas geralmente no meio, é menor e estreita, por que exige esforço de compreensão do quadro geral, igual aquilo que Jesus propôs e, Lucas 13,24: "Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita, pois eu afirmo a vocês que muitos vão querer entrar, mas não poderão..."
Perfeito!
Ana Lúcia MG
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