Sabemos
e sentimos, na própria pele, que o mundo experimenta hoje profunda crise de
civilização, seja pelos adeptos da direita ou esquerda. No Brasil, o fenômeno
se agrava pela rapidez como passamos de país rural a país prevalentemente
urbano, em sessenta anos apenas, processo que a Europa fez em séculos. A crise
provoca, naturalmente, instabilidade de estruturas de convivência social, de
valores e de relações, trazendo-nos à beira do estado de “anomia”, do qual o
clássico da Sociologia, Durkheim, tratou magistralmente.
Por
toda parte há sentimentos de insegurança e de medo, e este é sempre mau
conselheiro. Em política, percebe-se um enfrentamento ideológico de estado permanente
de guerra; na sociedade em geral, cresce a agressividade e a violência, que
chegam bem perto de nós, nos assaltos de rua e de estradas, nos conflitos da
bandidagem, nas batalhas nas cadeias; no comportamento das instituições e das
pessoas agrava-se a tendência à intolerância e ao autoritarismo, até em
instituições que até há pouco eram vistas como tolerantes, capazes de conviver
em diversidade e respeitosas das diferenças, como é o ambiente universitário. Quando
se trata de organizações religiosas, pode haver um perigo a mais. Essas têm a
possibilidade de chegar até o interior das pessoas, a sua consciência e
“prendê-las” por dentro, disso há casos patéticos na história humana; pode
violentá-las, como se deu na Inquisição tanto Católica, quanto protestante. Quando
se chega a esse nível, quebram-se as fronteiras entre o Absoluto e o relativo,
entre o Transcende e as mediações contingentes, entre o Deus vivo e verdadeiro
e os ídolos, caricaturas suas, criadas à nossa imagem e semelhança.Quem sabe,
neste clima social de hoje em dia, talvez seja útil refletir sobre três
manifestações vindas de procedências bem distintas:
1)-
A primeira, de LAURENTINO GOMES, historiador, autor do livro “1808 – Como uma
rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e
mudaram a história de Portugal e do Brasil”, livro sobre a vinda de Dom João VI
e sua corte para o Brasil, São Paulo, 2007. Fala, na página 134, sobre recomendações oficiais de vigilância da
parte de autoridades, em 1798, no Brasil:
“Quem ousasse expressar opiniões em público contrárias ao pensamento
vigente na corte portuguesa corria o risco de ser preso, processado e,
eventualmente, deportado. Imprimi-las, então, nem pensar. Até mesmo reuniões
para discutir ideias eram consideradas ilegais”.
2)-
A segunda, de Frei Betto, o qual de vez em quando, quando não quer puxar a lata
para a sua sardinha esquerdopata, fala algo aproveitável, como esta em artigo
publicado em blog:
“Quase todos os líderes, sejam eles políticos, religiosos ou
empresariais, preferem que seus subordinados abdiquem da consciência crítica. E
ainda que tenham opinião diferente, tratem de omiti-la. O peixe morre pela
boca… Daí, o fenômeno degradante da humilhação voluntária. Para não perder
prestígio, manter a função ou se julgar bem vistos aos olhos do chefe, muitos
abaixam a cabeça e exibem os fundilhos. Qualquer crítica é tida como desvio
ideológico, heresia, conspiração ou traição”.
3)-
A terceira, de Papa Francisco, em entrevista ao jornal “El País”:
“Todos têm direito de discutir, e quem dera discutíssemos mais, porque
isso nos burila, nos irmana. A discussão irmana muito. A discussão com bom
sangue, não com a calúnia e tudo isso…”
E viva a democracia
!!!
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