por *Francisco José Barros de Araújo
As Procissões são, ou não, bíblicas? será apenas uma invenção dos Católicos ?
A prática das procissões e peregrinações ocupa, desde os primórdios do cristianismo, um lugar privilegiado na expressão da fé católica. Entretanto, não são raras as objeções de que tais manifestações seriam meras invenções humanas, acréscimos posteriores sem fundamento bíblico. Essa percepção, contudo, revela desconhecimento tanto da Escritura quanto da Tradição viva da Igreja. O Antigo e o Novo Testamento estão repletos de exemplos de procissões, caminhadas sagradas e atos simbólicos de seguimento, nos quais o povo de Deus expressava publicamente sua fé, sua penitência e sua esperança. As peregrinações, por sua vez, recordam a condição da Igreja como Povo de Deus em caminho rumo à Casa do Senhor. Assim, a procissão cristã, longe de ser um costume inventado, é uma expressão visível da vida espiritual, profundamente enraizada na revelação bíblica e na experiência litúrgica da Igreja. À luz das Escrituras, veremos que as procissões são, antes de tudo, uma forma concreta de imitar Cristo e seus santos, testemunhando publicamente a fé daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6).
Atentemos
para estas passagens bíblicas que fundamentam a procissão e a imitação dos
santos
-Efésios 5,1:Sede,
pois, imitadores de Deus, como filhos amados;
- 1 Cor 11,1: Sêde meus
imitadores como eu sou de cristo
-Hebreus 6,12: de
modo que vocês não se tornem negligentes, mas imitem aqueles que, por meio da
fé e da paciência, recebem a herança prometida.
-Hebreus 13,7:
Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos
quais imitai, atentando para a sua maneira de viver.
-Tiago 5, 10-11
Irmãos, tenham os profetas que falaram em nome do Senhor como exemplo de paciência
diante do sofrimento.Como vocês sabem, nós consideramos BEATOS aqueles que
mostraram perseverança. Vocês ouviram falar sobre a perseverança de Jó e viram
o fim que o Senhor lhe proporcionou. O Senhor é cheio de compaixão e
misericórdia.
-Josué 6,6-9:Josué,
filho de Nun, convocou os sacerdotes e disse-lhes: Levai a arca da aliança, e
sete sacerdotes estejam diante dela tocando as trombetas.E disse em seguida ao
povo: Avante! Dai volta à cidade, marchando os guerreiros diante da arca do
Senhor. Logo que Josué acabou de
falar, os sete sacerdotes, levando as sete trombetas, retumbantes, puseram-se
em PROCISSÃO diante do Senhor, tocando os seus instrumentos; e a arca da
aliança do Senhor os seguiu.Marcharam os guerreiros diante dos sacerdotes que
tocavam a trombeta, e à retaguarda seguia a arca; e durante toda a marcha
ouvia-se o retinir das trombetas.
-NEEMIAS 12,31: Então fiz subir
os príncipes de Judá sobre o muro, e ordenei dois grandes coros em procissão,
um à mão direita sobre o muro do lado da porta do monturo.
-Lucas 19,36-38:Seguindo
Jesus muitíssima gente estendia as suas vestes pelo caminho, e outros cortavam
ramos de árvores, e os espalhavam pelo caminho.E a multidão que ia adiante, e a
que seguia, clamava, dizendo: Hosana ao Filho de Davi; bendito o que vem em
nome do Senhor. Hosana nas alturas!
AFINAL, A PROCISSÃO É ALGO ESTRANHO ÀS ESCRITURAS?
Em todas as Procissões Católicas o que vai a frente de toda elas é a Cruz Processional de bronze, uma
alegação à serpente de bronze no deserto lembrado pelo próprio Cristo:
“E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo.E do
modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho
do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida eterna...”(João
3,14-16).
Portanto toda
procissão é uma peregrinação de seguimento e imitação de Cristo, e ou uma
recomendação explícita a seguir um exemplo ou imitação de seguimento de Cristo
feito em perfeição ao Cristo Pobre, casto e obediente feito por um santo canonizado,
bem como a virgem Maria, sua primeira dicípula, aquela que perseverou até o fim
(Na Cruz e em Pentecostes).Os Salmos 120-134
formam um pequeno livreto, um saltério dentro do Saltério, que poderia ser
intitulado: SALTÉRIOS DAS PEREGRINAÇÕES
E OU ROMARIAS À CASA DO SENHOR. Cada um destes Salmos
tem semelhantemente o título de "Cântico de romagem" ou "Cântico
das Subidas,”Poderiam ser cânticos sobre "subir" do cativeiro da
Babilônia para Jerusalém ( Ver Esdras 7,9).Provavelmente, estes cânticos foram
cantados por "peregrinos" subindo em procissões para Jerusalém, para
as festas Judaicas no Templo.Vem à lembrança o Salmo 84, quando os Filhos de Coré
cantam:
"Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos
Exércitos!" O salmista ali está
longe da casa de Deus, com muitas saudades dos "átrios do Senhor”.
Estes quinze Salmos
amplificam o tema dos peregrinos saudosos dos pátios de Deus. Há um desejo intenso por parte dos "sem
lar" de estarem "na Casa do Senhor" (134:1), porque é onde mora
o Senhor (132:14). Portanto, o salmista
está alegre "quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor" (122:1).
Mas, antes que pudessem permanecer na casa de Deus, eles tinham que fazer uma
PEREGRINAÇÃO, uma viagem cheia de perigos e armadilhas. Esta viagem ficava deprimente, às vezes:
"A nossa alma está saturada do escárnio dos que estão à sua vontade
e do desprezo dos soberbos" (123:4).
Mas continuavam caminhando, sabendo que: "O nosso socorro está em o
nome do Senhor, criador do céu e da terra" (124:8).
Por volta do ano 125 d.C., Aristides escreveu numa carta
a um amigo:
"Se qualquer homem justo entre os cristãos passa deste mundo, eles
se regozijam e oferecem graças a Deus, e acompanham em procissão o seu corpo
com cânticos de agradecimento, como se ele estivesse partindo de um lugar para
outro próximo."
Realmente precisamos fazer a peregrinação antes de
ficarmos permanentemente na casa do Senhor. Como dizem os Salmos:
Nós, também, precisamos acampar "em Meseque" e habitar
"nas tendas de Quedar"! (120:5). Ficamos desiludidos com este mundo e
repetimos as palavras daqueles que estão cansados dos lábios mentirosos e da
língua enganadora (120:2), fartos de morar tanto tempo com aqueles que odeiam a
paz (120:6), enjoados das atitudes arrogantes daqueles que são demasiadamente
orgulhosos para confiar em Deus (123:4); exaustos de "sendas
tortuosas" (125:5).
Nós, também estamos acostumados a perguntar:
"De onde me virá
o socorro?" A resposta: "Do
Senhor, que fez o céu e a terra" (121:1-2).
Tentações e provações são a sina dos
moradores da terra. Mas para aqueles
cujos corações estão postos na peregrinação, estas mudanças induzem-nos a
concentrar nossa atenção diretamente no Senhor que fez o céu e a terra. Assim, aguardamos o Senhor e temos esperança
no Senhor e em sua palavra (130:5, 6), e gozamos a vida simples de um peregrino
(131:13). Um espírito quieto e calmo
prevalece, porque, apesar do tumulto à nossa volta, Deus ainda está no
céu. Então: "Entremos na sua morada, adoremos ante
estrado de seus pés" (132:7).Pagamos o preço por
nos tornarmos estrangeiros na terra, mas podemos gozar o preço porque sabemos
que grandes cousas o Senhor tem feito; "por isso, estamos
alegres"(126:3).
Semeamos em lágrimas aqui, mas colheremos em
alegria. "Quem sai andando e
chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes"
(126:6).
Nosso propósito,
aqui, é semear, às vezes em lágrimas. A colheita
virá mais tarde. Mas o saber que
colheremos alegra-nos agora. Por isso
mesmo agora podemos saborear um pouco do que estaremos fazendo em toda a
eternidade: estar "na Casa do
Senhor", erguer nossas "mãos para o santuário", e bendizer ao
Senhor (134:1-2).
Este portanto é o
significado das procissões:
Seguimento do Cristo Pobre, casto, e obediente, bem
como seguir o exemplo daqueles que o imitaram perfeitamente.E como somos Igreja
Peregrina, estamos ainda a caminho em procissão a casa do Senhor que fez o Céu
e a terra.
Conclusão
À luz das Sagradas Escrituras e da tradição viva da Igreja, compreende-se que as procissões não são um simples ornamento devocional, mas expressão teológica profunda da fé em Cristo. Elas simbolizam o seguimento do Senhor, que caminha à frente de seu povo sob o sinal da Cruz — assim como a serpente de bronze foi erguida no deserto para dar vida aos que olhavam com fé (Jo 3,14-16). Cada procissão é, portanto, um ato de peregrinação espiritual, imagem da jornada da Igreja terrena em direção à Jerusalém celeste. Seguir a cruz processional é confessar, em gesto e movimento, que “nossa pátria está nos céus” (Fl 3,20). Ao recordar o exemplo dos santos e da Virgem Maria, os fiéis renovam o desejo de imitar suas virtudes, perseverando na fé até o fim. Assim, as procissões revelam seu sentido mais profundo: são o retrato visível da Igreja Peregrina, que avança unida, guiada pela fé e sustentada pela esperança, rumo à eterna morada do Senhor.
*Francisco José
Barros de Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme
diploma Nº 31.636 do Processo Nº 003/17 - Perfil curricular no
sistema Lattes do CNPq Nº 1912382878452130.
BIBLIOGRAFIA
-ARBEX, Pedro, Mons. Teologia orante na liturgia do Oriente. São Paulo: Editora Ave-Maria, 1998.
-BENTO XVI. A infância de Jesus. São Paulo: Planeta, 2012.
-CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola, 2000.
-CONGAR, Yves. A Tradição e as tradições: ensaio histórico. São Paulo: Paulinas, 1984.
-GUARDINI, Romano. O espírito da liturgia. São Paulo: Cultor de Livros, 2018.
-JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Dies Domini: sobre a santificação do domingo. São Paulo: Paulinas, 1998.
-RATZINGER, Joseph (Bento XVI). Introdução ao espírito da liturgia. São Paulo: Loyola, 2001.
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Infelizmente na maioria das procissões do santos não levam mais a cruz processional.
Este portanto é o significado das procissões:
Seguimento do Cristo Pobre, casto, e obediente, bem como seguir o exemplo daqueles que o imitaram perfeitamente.E como somos Igreja Peregrina, estamos ainda a caminho em procissão a casa do Senhor que fez o Céu e a terra.
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