A fenomenologia como um instrumento de terapia psicológica
Maria Izabel: Vamos começar entendendo um pouquinho o que é fenomenologia. Fenomenologia é uma escola filosófica fundada por Edmund Husserl, que começou na Alemanha, no fim do século 19 e na primeira metade do século 20; portanto fenomenologia é uma filosofia.A palavra fenomenologia tem origem grega e é formada de duas partes: “fenômeno” que significa “aquilo que se mostra”; não somente aquilo que aparece, mas aquilo que se manifesta, que se mostra; e “logia” que deriva da palavra “logos”, que para os gregos tinha muitos significados, mas neste caso da fenomenologia, vamos tomar a palavra “logos” como pensamento, como “capacidade de refletir”. Então podemos entender fenomenologia como reflexão sobre um fenômeno ou sobre aquilo que se mostra.
Mas nos perguntamos: o que é que se mostra? E como se mostra? Esse é o nosso problema! Quando em fenomenologia dizemos que alguma coisa se mostra, estamos dizendo que essa coisa se mostra para nós, se mostra para o ser humano, se mostra para a pessoa humana; e isso faz toda a diferença e tem grande importância para nós hoje porque as coisas se mostram para nós; isto é, nós é que buscamos o significado, o sentido daquilo que se mostra para nós. Mais do que dizer que ”as coisas se mostram”, precisamos dizer que “percebemos, que estamos voltados para essas coisas” que se mostram para nós, principalmente para aquilo que aparece no nosso mundo físico.Quando dizemos “coisas” não tratamos apenas do significado de coisas físicas, mas também das coisas abstratas e a um conjunto de situações, como por exemplo, o significado de coisa cultural, eventos, fatos, que não são de ordem estritamente física. Todas as coisas que se mostram para nós as tratamos como fenômenos que conseguimos compreender o sentido.O que mais interessa a nós pessoas humanas é compreender o sentido delas e não o fato delas se mostrarem. Aqui podemos perceber a grande contribuição de Husserl para ajudar a psicologia, (que é uma ciência particular e não uma filosofia) a compreender esse sentido que nem sempre é compreendido imediatamente. Precisamos fazer uma série de operações para podermos identificar o sentido de tudo àquilo que se manifesta a nós; e essas operações estão no campo de pesquisa da psicologia.O grande desafio da filosofia hoje e também o seu problema é buscar o sentido das coisas, dos fenômenos, tanto de ordem física quanto de caráter cultural, religioso etc., que se mostram á pessoa humana, no seu viver cotidiano.
5)- ZENIT: Quais dificuldades a pessoa pode superar com esse método?
Dra. Maria Izabel: A fenomenologia se preocupa em perceber o sentido do fato e a psicologia se preocupa em conhecer o processo que leva àquele fato. A compreensão dessa relação entre a filosofia fenomenológica que nos dá a estrutura da pessoa humana e o processo psicológico voltado para a subjetividade da pessoa que o vivencia e que só pode firmar-se dentro do si mesmo da pessoa, dá ao psicólogo a possibilidade da epoché (redução fenomenológica, que era o estilo próprio de Husserl fazer sua pesquisa).
Com esse método todas as vivências humanas podem ser analisadas, sejam elas consideradas positivas ou negativas, boas ou ruins, dificuldades ou possibilidades, porque essa relação permeia os estados corpóreos, os psíquicos e os que transcendem o corpo e o psíquico da pessoa humana. Podemos escolher o que queremos, mas precisamos conhecer o que escolhemos.
Dra. Maria Izabel: A psicoterapia que proponho no meu consultório é uma psicoterapia breve, onde procuro desenvolver da melhor forma que dou conta a epoché, ou redução fenomenológica proposta por Husserl, para conhecer junto com o meu paciente o sentido do seu sofrimento.
È uma psicoterapia de relação; é uma psicoterapia vivencial onde é evidenciada a capacidade da pessoa humana de se explicar e de se entender a si mesma através das suas vivências. Mas tudo isso é feito de um modo muito natural, nada complicado, tudo é muito simples e do jeito que a pessoa dá conta das suas vivências.A postura terapêutica é de aceitação e compreensão dos recursos que nascem da subjetividade do paciente, sem impor ou cobrar dele o que o terapeuta considera, conhece ou quer. Na sessão de terapia se vivencia e se busca juntos, do jeito que tanto o paciente quanto o terapeuta dão conta de chegar a vivência que deu origem ao sofrimento do paciente. O fio condutor é a análise da vivência.Só então o paciente é solicitado a se posicionar em relação àquela vivência.
Dra. Maria Izabel: Há! E impulsionada pela responsabilidade da minha experiência com o sofrimento humano no meu consultório, pretendo aprofundar sempre mais o estudo e a pesquisa da fenomenologia para ajudar a psicologia e a psicoterapia a responderem de maneira mais eficaz e profunda os anseios da pessoa humana.
Quero poder dar aos meus pacientes e as pessoas que me procuram para desvendar as causas psicológicas dos seus sofrimentos, condições de traçar um caminho próprio no conhecimento de si mesmos, possibilitando o confronto dos dizeres da fenomenologia com os seus empenhos pessoais.“Acredito que é partindo das nossas vivências dentro de nós que percebemos e podemos conhecer como somos feitos e o que é verdadeiramente humano.”
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