VEJAM A RESPOSTA DE LEONARDO BOFF A "ISTO É INDEPENDENTE"
- (N° Edição: 2116-28.Mai – 2010)
ISTOÉ : O sr. ainda é católico?
LEONARDO BOFF : Sou "católico apostólico franciscano". Acho que São Francisco foi o último
cristão verdadeiro, e talvez o primeiro depois do Único, que foi Jesus Cristo.
O franciscanismo me inspira mais do que o romanismo porque o romano é apenas
uma qualificação geográfica.
Fonte:http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/76149_O+PAPA+DEVERIA+RENUNCIAR+?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage
GRIFO MEU: O que o Sr
Genésio (Nome real de Leonardo Boff), desonestamente OMITE é que São Francisco
foi um FIEL E OBEDIENTE CATÓLICO APOSTÓLICO ROMANO(PROFESSADO PELO VOTO DE OBEDIÊNCIA),
sempre submisso a Igreja Romana, e assim morreu deixando prescrito a seus
filhos espirituais a serem também submissos ao papa, e à Igreja nos seus
LEGÍTIMOS SUCESSORES, conforme lemos das REGRAS FRANCISCANAS (a não ser que o Sr.
Genésio Boff seja UM SEDEVACANTISTA).
VEJAMOS
O QUE DIZEM OS FATOS SOBRE SÃO FRANCISCO,O AUTENTICO CRISTÃO CONFORME LEONARDO
BOFF!
Regra Bulada
da Ordem dos Frades Menores - Esta Regra foi aprovada em 1221 pelo Papa Honório
III. Outra Regra não Bulada foi aprovada verbalmente pelo Papa Inocêncio III.O original
desta Regra com a aprovação e assinatura papal conserva-se atualmente no Sacro
Colégio de Assis como preciosa relíquia, e outra cópia está no Vaticano.
1- A Regra e
a vida dos Frades Menores:
Observar o
santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em Obediência, Pobreza e
Castidade. Frei Francisco promete
obediência e reverência a Sua Eminência o Papa Honório e a seus sucessores,
canonicamente eleitos e a igreja de Roma. E os demais irmãos estarão
obrigados a obedecer a Frei Francisco e a seus sucessores.
Fonte: http://pt.scribd.com/doc/7040527/Vida-e-Obra-de-sao-Francisco-de-Assis
Uma Análise de Jesus Cristo Libertador de
Leonardo Boff - A Hermenêutica da Teologia da Libertação:
(Por: Augustus Nicodemus Lopes)*
Com
a queda do muro de Berlim, a fragmentação da Rússia e a derrocada do comunismo
no mundo inteiro, as teologias que de alguma forma estavam associadas ao
marxismo caíram em descrédito. A teologia da libertação, em suas variadas
formas, não foi exceção. Embora ainda presente em alguns círculos acadêmicos e
eclesiásticos, perdeu no Brasil boa parte da influência que dantes exercera,
tanto na Igreja Católica quanto entre protestantes. O que justificaria, então,
um artigo sobre a teologia da libertação? Ou mais ainda, um artigo que aborda
um aspecto dessa teologia, no caso, a cristologia? É que os princípios
hermenêuticos que produziram tal cristologia não desapareceram. Continuam
presentes e reaparecendo sob diferentes formas. Meu
assunto neste artigo, portanto, é muito mais a hermenêutica e os princípios
interpretativos por detrás da teologia da libertação do que propriamente o
Cristo libertador social que ela produziu. O ponto de partida não poderia ser
outro senão a obra clássica de 1972, escrita por Leonardo Boff, Jesus Cristo Libertador.1Boff
foi sacerdote franciscano (atualmente está fora do sacerdócio católico),
recebeu sua formação teológica no Brasil, sua terra natal, e em Munique, na
Alemanha. Como professor de teologia em Petrópolis, ele escreveu diversos
livros sobre teologia da libertação, muitos dos quais foram traduzidos para o
inglês e outros dos principais idiomas modernos. A sua influência no movimento
latino-americano da teologia da libertação ficou evidente quando o Papa João
Paulo II o penalizou em 1985 com um ano de silêncio por causa do seu livro Igreja, Carisma e Poder. Atualmente, tendo abandonado a batina, o ex-frei Boff continua escrevendo e
publicando, embora tenha também abandonado a militância característica de
muitos teólogos católicos da libertação. Da teologia da libertação, passou para
a teologia da ecologia e ultimamente publica livros de auto-ajuda, embora ainda
preserve vestígios da antiga preocupação social e da opção pelos pobres.2 O ex-frei saiu do cenário teológico
mas os livros que publicou enquanto teólogo da libertação continuam sendo
usados e estudados. Sua influência persiste em muitos quartéis da comunidade
evangélica. Esse fato talvez justifique o presente artigo.
Boff ganhou reconhecimento no cenário acadêmico, entre outras
coisas, através de seu livro Jesus
Cristo Libertador. Por que Boff escreveria uma cristologia da
libertação?
Primeiro, porque os
teólogos da libertação não querem entender sua teologia simplesmente como um
outro ramo ou divisão da teologia, mas como uma
nova maneira de fazer teologia. Como Kloppenburg o exprime: "A idéia
de libertação deveria estar presente em todos os pontos de todas as áreas da
teologia e deveria ser um novo princípio de síntese."3 Portanto, os
teólogos da libertação gostam de escrever cristologias, eclesiologias e até
hermenêuticas da perspectiva da libertação sócio-política.4
Segundo,
porque no início do movimento, Boff e outros teólogos da libertação entenderam
que podiam sustentar a maioria das suas asseverações a partir da figura do
Jesus histórico. Juntamente com o Êxodo e o ministério dos profetas do Antigo
Testamento, a carreira terrena de Jesus é vista como fundamental para a base
bíblica do movimento.Teólogos
da libertação lêem o texto a partir das necessidades da sociedade contemporânea
em que vivem. Uma leitura dessa perspectiva destaca os textos que tratam da
libertação dos oprimidos. Um bom exemplo é a Revista
de Interpretação Bíblica Latino-Americana, editada pela Editora Vozes e
produzida por estudiosos católicos da teologia da libertação. Segundo está na
contracapa, a revista "parte do pressuposto que as dores, utopias e
poesias dos pobres são uma mediação hermenêutica decisiva para a leitura da
Bíblia em nossas terras." Alguns dos temas abordados pela revista são:
"Mundo Negro e Leitura Bíblica" e "A Opção pelos Pobres como
Critério de Interpretação," entre outros. Essa leitura das Escrituras, via
de regra, denuncia as interpretações tradicionais como sendo uma cortina de
fumaça para defender os interesses da classe média masculina, branca, saxônica
e americana.A
cristologia de Boff (uma cristologia escrita da perspectiva dos oprimidos,
trazendo esperança de libertação) acompanha normalmente os principais
postulados da teologia da libertação. O que torna notável o trabalho de Boff
entre outras cristologias latino-americanas é, antes de tudo, o seu estilo
fácil de ler e a sua linguagem teológica de "pé no chão." Além disso,
Boff é mais positivo e otimista quanto à ressurreição de Cristo que outras
cristologias da libertação.5 E, ao contrário de muitos dos seus colegas,
ele por vezes critica o uso do marxismo como uma ferramenta de análise social.Os
compromissos hermenêuticos de Boff são explicados e defendidos na primeira
parte de Jesus Cristo
Libertador. Ali, ele dedica-se a explicar suas convicções e os métodos de
interpretação que usa. Existem, evidentemente, várias outras pressuposições que
não são abordadas diretamente. A segunda parte da obra trata do Jesus
histórico. A ênfase mais no histórico do que no dogmático é vital para a
teologia de Boff. As ferramentas que ele usa para redescobrir Jesus são as
disciplinas do método histórico-crítico, que também são discutidas na primeira
parte. A reflexão de Boff sobre a pessoa de Jesus, que ele denomina o processo
cristológico, entra na terceira parte. A última seção tenta relacionar os seus
resultados com uma leitura sócio-analítica da sociedade latino-americana.O
propósito deste artigo é entender as pressuposições hermenêuticas de Boff e
como elas afetam a sua cristologia. Também objetiva analisar criticamente
algumas dessas pressuposições à luz do que entendemos ser uma hermenêutica
bíblica, calcada nos fundamentos da Reforma protestante. Uma das limitações
desta análise é que não será tentada uma avaliação e crítica dos compromissos
filosóficos de Boff. Ao adotar o método crítico-histórico de interpretação do
Novo Testamento, Boff basicamente está assumindo alguns elementos da filosofia
de Kant. Isto só será mencionado de forma breve ao discutirmos a adoção, por
parte de Boff, de uma dicotomia entre fé e razão.
I. Entendendo a interpretação de boff
O
enfoque da cristologia de Boff, como também o de outras cristologias
latino-americanas, está posto sobre a vida e o ministério de Jesus como pessoa
humana.
As razões dadas por autores liberacionistas são estas:
1) meditar
sobre a vida humana de Jesus, em vez de especular sobre a sua divindade, é mais
diretamente pertinente para uma situação de opressão;
2) o contexto do
ministério de Jesus na Palestina, ocupada pelos romanos, é adequadamente
semelhante ao contexto da América Latina de hoje;
3) a vida humana de Jesus
fornece pistas sobre como os latino-americanos podem realizar o seu potencial
humano amordaçado.6
Portanto, é
crucial para Boff apresentar Jesus como uma figura histórica e concreta.
O Uso do Método Histórico-Crítico
Desde
o início de Jesus Cristo Libertador, Boff deixa claro como irá empreender a sua
busca do Jesus histórico. Ele irá essencialmente seguir os métodos e resultados
da crítica histórica e das várias disciplinas relacionados com a mesma, com
respeito aos Evangelhos. O método histórico-crítico é uma leitura do Evangelho
que procura ver o texto sagrado como se fosse um texto comum e o submete à
análise racional quanto ao seu conteúdo, e literária quanto à sua composição.
Como resultado do emprego dessa ferramenta, para Boff, os Evangelhos não se
constituem em biografias históricas mas em testemunhos da fé, o fruto da
meditação piedosa e subjetiva da comunidade primitiva. Os Evangelhos são uma
interpretação teológica dos eventos, ao invés de uma descrição objetiva e
desinteressada do Jesus histórico de Nazaré. Juntamente com outros estudiosos
histórico-críticos, Boff acredita que os Evangelhos são o produto final de um
longo processo de reflexão sobre Jesus e representam a cristalização do dogma
primitivo da igreja. Eles contêm muito pouco do Jesus histórico (como ele era e
como ele viveu), mas muitas coisas relativas à reação de fé dos seus
seguidores. Adotando os pressupostos do liberalismo clássico, Boff afirma que a
comunidade primitiva de cristãos tomou grandes liberdades ao defrontar-se com
as palavras de Jesus, interpretando-as e modificando-as e também criando novos
ditos, sempre no esforço de fazer Cristo e sua mensagem presentes na sua vida
(pp. 50-51). Chegaram mesmo a criar interpretações e colocá-las na boca de Jesus
(p. 49); as predições de Jesus quanto à sua morte, foram vaticina ex eventu,
isto é, foram colocadas na sua boca pelos discípulos, após a sua morte (p.
128).7 A suposição explícita de Boff é que, a fim de se conhecer Jesus, é
preciso confrontar criticamente os relatos literários sobre ele, os Evangelhos,
usando os métodos da crítica histórica, para peneirá-los em busca do
significado original do texto e ir além das interpretações posteriores (ver pp.
46-51).Severino
Croatto, outro conhecido teólogo católico da libertação que adota os
pressupostos do método histórico-crítico, mantém o mesmo ceticismo quanto à
historicidade (veracidade) dos relatos sobre a saída de Israel do Egito, como
contidos no livro de Êxodo. Ele sugere que o relato do Êxodo como o temos na
Bíblia, particularmente a vocação de Moisés, as pragas do Egito, a páscoa
apressada e a travessia do mar "não são episódios do acontecimento da
libertação, mas expressões de seu sentido, como projeto e atuação de Deus ou
como memória festiva." Insiste em que não se deve ler os fatos narrados
nos textos bíblicos "como se tivessem acontecido na forma em que estão
contados."8 Numa postura
típica de teólogos liberacionistas, Croatto adere ainda a um conceito de cânon
onde a inspiração é entendida como um fenômeno textual apenas, resultado da
tentativa da igreja cristã de "fechar" o sentido,9 e o conceito
de revelação é reinterpretado para significar toda manifestação de Deus na
história. "A Bíblia é a leitura da fé dos eventos paradigmáticos da
história salvífica, a leitura paradigmática de uma história de salvação que
ainda não terminou," afirma Croatto.10 Ele
afirma ainda que o fenômeno da revelação e sua interpretação é um ciclo que se
repete na história da igreja.11 Entretanto,
ele deixa sem resposta a questão se uma leitura paradigmática moderna de
eventos supostamente pertencentes à história da salvação hoje, deveria ser
recebida pela igreja como Escritura.A
concepção das Escrituras por parte de teólogos da libertação que se utilizam do
método histórico-crítico é geralmente a mesma: não reconhecem atributos das
Escrituras tais como inspiração, inerrância, necessidade, autoridade,
perspicuidade e suficiência. Boff não é exceção.12 Para ele, os Evangelhos
não são investidos de autoridade em sua forma canônica e nem são suficientes.
Como será discutido a seguir, outros elementos tais como análise social e
compromisso com a praxis são indispensáveis, segundo Boff, para
conhecer a Jesus.13 Essa abordagem histórico-crítica das Escrituras irá
influenciar toda a sua obra.Os
críticos em geral têm reconhecido que os teólogos da libertação se utilizam de
várias e diferentes fontes de análise e conhecimento. A sua abordagem é mais
"eclética." Eles normalmente se utilizam de diferentes métodos, com
pequena preocupação quanto a um sistema total coerente. Por exemplo, Boff se
utiliza de todo um espectro de abordagens, como se pode observar facilmente na
orientação bastante divergente das obras citadas na sua bibliografia. Sem
dúvida, ele tenta tirar proveito da erudição disponível. Porém, o seu
compromisso com métodos histórico-críticos tem levado os críticos a observarem
que ele está usando uma ferramenta desenvolvida na Europa para produzir uma
obra que se jacta de ser algo originário da América Latina. Embora o próprio
Boff faça uma ressalva (ver pp. 56-7), a literatura predominantemente
estrangeira citada na sua bibliografia confirma essa crítica.14 Como um
crítico comenta, "ao fim, a pessoa se encontra dentro do mundo intelectual
da teologia européia."15 A extrema dependência de Boff de uma
metodologia e teologia estrangeiras, e a sua conseqüente falta de
originalidade, tem suscitado a crítica de que a sua cristologia não é nativa,
sendo antes uma aplicação da moderna cristologia européia a uma situação
latino-americana.16 Deste modo, Boff é inconsistente com a sua
reivindicação de ter produzido uma cristologia nativa.17 Essa
inconsistência é típica de teólogos liberacionistas que insistem na
contextualização da hermenêutica latina mas que defendem suas idéias usando ferramentas
trazidas da academia européia. A tese de Croatto, por exemplo, de que cada
leitura traz a produção de um novo significado é ardorosamente defendida a
partir do estruturalismo de Ferdinand de Saussure (suíço), da filosofia
hermenêutica de Paul Ricoeur (francês) e da hermenêutica reader-response de Hans-Georg Gadamer (alemão). O que
esses europeus produziram, sendo o resultado de suas próprias leituras,
serviria como base para uma hermenêutica latino-americana? Para uma resposta
positiva, é preciso admitir que há leituras e sentidos produzidos numa cultura
que são válidos para outras, e que não precisam passar por uma releitura –
conceito que vai de encontro à tese de Croatto e de outros estudiosos
liberacionistas que se utilizam das mesmas fontes.Boff
está consciente de que a busca do Jesus histórico iniciada no século XVII por
estudiosos críticos produziu resultados extremamente parcos. O Jesus da
história por eles reconstruído não tinha qualquer mensagem que pudesse ser
pregada pela igreja cristã. Boff está também consciente de que o método
histórico-crítico pode apenas nos provar que havia no século I vários
seguidores de Jesus que afirmavam que ele ressuscitou. Não pode provar a
ressurreição como fato. Assim, Boff destaca que a crítica histórica é limitada,
porque somente chega ao que Mateus, Marcos, Lucas, João e Paulo pensavam acerca
de Jesus. Dessa maneira, ela é inteiramente objetiva. Ela não pressupõe fé no
investigador e pouco se importa com a realidade que se oculta atrás de cada
interpretação (p. 51).18 Para se conhecer Jesus, porém, é necessário ir
além do esquema sujeito-objeto da pesquisa científica. Como Jesus é uma pessoa,
é necessária uma interação com essa pessoa antes que se possa compreendê-la (p.
37).Seria
de se esperar que Boff, ao criticar o caráter "objetivo" do método
histórico-crítico, não dependesse muito do mesmo. No entanto, a sua análise dos
Evangelhos é totalmente dependente da crítica da forma e das fontes. Isto cria
uma tensão interna na obra de Boff, pois enquanto aceita uma ferramenta que
considera objetiva, ele adota uma abordagem hermenêutica de Jesus que é
orientada para o leitor e, portanto, inerentemente subjetiva. Isto introduz
outra das importantes pressuposições hermenêuticas de Boff, que é a do
"círculo hermenêutico," conceito que começou com F. Schleiermacher e
recebeu fundamentação teórica do filósofo alemão Hans-Georg Gadamer.19
A Influência de Gadamer (Autonomia do texto):
A
teologia da libertação surgiu como produto da hermenêutica reader-response. Esse tipo de
hermenêutica surgiu no final da década de 60 e tornou-se proeminente durante a
década de 70. Ela enfatiza a relação recíproca entre o leitor e o texto, como
uma reação à nova crítica literária e ao estruturalismo, que ensinaram a
autonomia do texto. Seu suporte filosófico vem das obras do filósofo alemão
Hans-Georg Gadamer. Elas são uma reação contra a idéia de que somente o método
científico é totalmente objetivo e capaz de chegar à verdade. Em reação,
Gadamer enfatizou o papel dos pressupostos para a consciência e a compreensão. As idéias de Gadamer produziram diversos tipos de abordagens dentro dos estudos
bíblicos acadêmicos, entre elas as hermenêuticas liberacionistas. São aquelas
hermenêuticas que lêem o texto a partir de uma agenda definida, política ou ideológica,
via de regra. Os "leitores ideológicos" costumam apelar para os
princípios de Gadamer para justificar sua leitura do texto sagrado.Para
entender Boff é preciso entender um pouco os principais conceitos de Gadamer. Primeiro, o conceito de fusão de
horizontes. "Horizontes" são os mundos vivos do autor e do intérprete
que se fundem quando os dois se encontram no texto. O leitor expande o
horizonte do texto ao apropriar-se dele em uma nova situação histórica. O
texto, em troca, questiona o leitor a desafiar e expandir as estruturas e
pressuposições que trouxe ao texto. Nesse processo surge a fusão dos
horizontes. Em resumo, a hermenêutica de Gadamer se move do autor e do texto
para uma união entre o texto e o leitor, com raízes no presente em vez do passado.Segundo, rejeição da intenção autorial. O
sentido de um texto não é encontrado na pesquisa diacrônica em busca do sentido
original e histórico mas através do diálogo com o texto no presente. Portanto,
a intenção do autor não é decisiva para se estabelecer o sentido de um texto
para um determinado leitor.Terceiro, a importância das pressuposições do
leitor. Ao contrário da perspectiva negativa que o racionalismo tinha sobre as
pressuposições do leitor na interpretação, Gadamer tem uma abordagem bem
apreciativa e até afirma que as pressuposições são a chave para a compreensão
de um dado texto.Como
resultado, o sistema interpretativo de Gadamer acaba inexoravelmente no
subjetivismo. Gadamer não estabelece qualquer critério para definir se uma
interpretação é falsa ou verdadeira. Na verdade, todas são verdadeiras para
quem lê. Aqui a relativização da verdade alcança expressão clara. Portanto, seu
método é irremediavelmente subjetivo, ou seja, cada nova leitura pode produzir
sentidos diferentes e inovativos até para o mesmo leitor, e nenhum deles
conflitante com os demais.A
crítica clássica feita a Gadamer vem de E. D. Hirsch, em seu livro Validity in Interpretation ("Validade na
Interpretação").20 Hirsch critica Gadamer veementemente por rejeitar
a intenção do autor como norma para determinar o sentido do texto. Ele defende
que textos são expressões de pessoas individuais reais. Portanto, o sentido dos
textos não pode ser dissociado dos seus autores. Hirsh também critica Gadamer
por exagerar a influência do contexto do leitor na percepção do sentido do
texto. O exagero de Gadamer acaba por transformar o que é apenas uma
dificuldade numa impossibilidade. Hirsch também aponta uma falácia da
metodologia de Gadamer, que é confundir sentido com significado. O texto só tem
um sentido, que é aquele conscientemente pretendido pelo seu autor, e é
portanto uma entidade determinativa. Entretanto, o impacto desse sentido nos
leitores pode variar de contexto a contexto. É isso que chamamos de
significado. Admiradores de Gadamer têm tentado defendê-lo da acusação de
subjetivismo e relativismo, mas sem muito sucesso.21 O que prevalece é a
opinião generalizada de que seu método é irremediavelmente relativista.22 Os
conceitos de Gadamer fazem parte da matriz formadora da cristologia de
libertação de Boff, como veremos a seguir.
O Círculo Hermenêutico:
Boff
abraça a idéia de que não há como escapar ao "círculo hermenêutico."
De fato, ele torna esta premissa uma das pressuposições fundamentais da sua
hermenêutica. Segundo Boff, os historiadores se aproximam dos seus temas com os
olhos da sua época, com os interesses ditados pelo conceito de erudição
científica que eles e a sua época possuem. Por mais que tentem, eles nunca
podem escapar de si mesmos e chegar ao sujeito (pp. 16-19).
O papel do sujeito
no processo interpretativo é essencial:
Perguntar:
Quem és tu, Jesus de Nazaré? é perguntar por uma Pessoa. Perguntar por uma
pessoa é tocar num mistério insondável. Quanto mais conhecido, mais se abre ao
conhecimento. Não podemos perguntar por uma pessoa sem nos deixar envolver em
sua atmosfera. Assim, definindo a Cristo estamos definindo a nós mesmos. Quanto
mais nos conhecemos mais podemos conhecer a Jesus. Ao tentarmos num contexto de
América Latina situar nossa posição diante de Jesus, inserimos nessa tarefa
todas as nossas preocupações. Destarte ele prolonga sua encarnação para dentro
de nossa história e revela uma face nova, especialmente por nós conhecida e
amada (p. 45).Na
citação acima podem ser observados os principais elementos ou estágios do
círculo hermenêutico de Boff.23 Primeiramente, a pessoa aproxima-se de
Jesus da perspectiva da fé e inquire sobre ele. Em segundo lugar, a pessoa é
tocada por Jesus e então volta-se para si mesma e para a sua situação. Ela
aprende mais sobre si mesma e o seu contexto e torna-se consciente da realidade
ao seu redor. Em terceiro lugar, ela insere as preocupações do seu ambiente na
sua busca de Jesus, e novamente volta-se para ele. O círculo está fechado. Ou,
na colocação de Berryman, as pessoas das comunidades de base "olham para a
Bíblia como um espelho para ver a sua própria realidade." Elas entendem a
Bíblia em termos da sua experiência e reinterpretam esta experiência em termos
dos símbolos bíblicos. A interpretação, assim, se move da experiência para o
texto e deste para a experiência. Neste tipo de leitura das Escrituras as
pessoas encontram tanto afirmação — naquelas passagens que enfatizam o
amor preferencial de Deus para com os pobres — quanto desafio — como no mandamento de Jesus de amar
os inimigos.24
Boff
chama isto de "hermenêutica existencial."
Segundo o seu entendimento,
toda compreensão sempre envolve um sujeito, que é o leitor. É impossível o
acesso direto à realidade sem passar por um sujeito, porque é o sujeito
concreto, com os seus condicionamentos, possibilidades e limitações específicas,
que vai até o objeto. Compreender significa interpretar, sempre e
inevitavelmente. Nós sempre vamos ao objeto (no caso, os textos bíblicos) com
idéias já concebidas, derivadas do nosso ambiente, educação e da atmosfera
cultural que respiramos (p. 51). Ironicamente, Boff parece não estar consciente
da influência dos seus próprios ideais de humanidade perfeita quando ele
descreve o que pensa ser o Jesus histórico. Como um crítico pondera, parodiando
a crítica famosa de Albert Schweitzer ao Jesus histórico reconstruído pelos
liberais, Boff vê o seu próprio rosto — ou pelo menos o seu rosto ideal — no
fundo de um grande poço, ao representar Jesus como "uma pessoa de
extraordinário bom senso, imaginação criativa e originalidade" (pp. 94ss).25 Outro
aspecto importante do círculo hermenêutico de Boff é que o leitor não somente
interage com o texto em um nível puramente teórico, ele também interage com o
seu contexto social, comprometendo-se com a praxis,
que normalmente é orientada para a atividade social. Desse modo, a praxis é
somada ao círculo como um dos seus estágios mais importantes, uma vez que é
vista como essencial para a compreensão. Assim, para Boff, a hermenêutica não
pode ser entendida simplesmente como a arte de compreender textos antigos; ela
também significa compreender todas as manifestações da vida e saber como
relacioná-las com a mensagem evangélica (p. 54).A
utilização da praxis como chave hermenêutica é defendida
igualmente por Croatto. Ele sustenta que entre os diversos eixos semânticos da
Bíblia há o tema da liberdade, que se constitui num horizonte de compreensão
para uma releitura do Êxodo como conteúdo liberador pelas comunidades eclesiais
de base.26 A posição metodológica de Croatto com respeito à
reserva-de-sentidos de um texto deveria pressupor que pode haver uma
pluralidade de possíveis leituras e interpretações de qualquer texto bíblico.
A
BÍBLIA FOI ESCRITA APENAS PARA LIBERTAR E SALVAR APENAS OS POBRES? OU TODOS
PECADORES?
" Tem rico que é tão pobre, que a única coisa que tem é dinheiro..." (D. Helder Câmara).Lógico que não,entretanto, ele privilegia uma leitura feita a partir da situação do pobre, da
perspectiva do oprimido.27 Para ele, uma leitura apropriada das Escrituras
só é possível a partir da situação do oprimido. Nesse caso, a mensagem da
Bíblia se torna inacessível, inapropriada e não direcionada a quem não for pobre? Já que "liberdade"
como tema ou eixo semântico da Bíblia tem seu conteúdo determinado pela
perspectiva de quem lê, como defende Croatto, não tornaríamos a Bíblia, ao fim,
em depositária de mensagens para qualquer ideologia?28 De
acordo com Boff, há vários resultados da adoção consciente de um círculo
hermenêutico para a cristologia.
1)- Primeiro,
todo relato escrito da vida de Jesus, como os Evangelhos canônicos,
necessariamente refletirá em parte a vida de seu autor. A partir do exemplo dos
autores dos Evangelhos fica claro que não existe algo como uma biografia
histórica de Jesus que seja cientificamente clara. O que Mateus escreveu, por
exemplo, foi resultado de sua interação com Jesus, de suas próprias
pré-concepções e do ambiente em que vivia. A conclusão é que cada um procura
responder à pergunta "quem é Jesus" dentro das suas próprias preocupações
vitais (pp. 17-19).
2)- Segundo,
a fim de realmente compreender quem é Jesus, é preciso aproximar-se dele como
alguém tocado e atraído por ele. Esse "toque" de Jesus nada tem a ver
com o conceito evangélico de um encontro pessoal com Cristo através da pregação
do Evangelho ou da leitura das Escrituras. O Jesus de Boff pode ser encontrado
fora das Escrituras. Jesus penetrou no subconsciente da nossa cultura
ocidental. Ele está sempre presente ali e pode a qualquer momento ser evocado e
revivido como uma experiência de fé. Somente dentro deste arcabouço, declara
Boff, podemos entender de certa maneira as novas experiências de Cristo que
estão ocorrendo entre jovens de hoje (nas comunidades eclesiais de base?), sem
a mediação da igreja e das Escrituras. Tais experiências são mediadas pelo
substrato da nossa cultura, por meio da qual Jesus prolonga a sua encarnação
(pp. 52-3).29 O ensino de Boff, então, é que a interação com Jesus, que
conduz ao entendimento dentro do círculo hermenêutico, não depende necessariamente
da revelação bíblica.Embora
Boff esteja correto em reconhecer a influência das pré-convicções na
interpretação, ele pode ser criticado por ter exagerado o valor da
"autoconsciência hermenêutica" como caminho para se livrar do círculo
hermenêutico. Tem-se a impressão de que, para Boff, a consciência das próprias
pressuposições libera o indivíduo da circularidade inevitável da hermenêutica
da teologia da libertação e possibilita um melhor entendimento de Jesus. Uma
crítica que geralmente se faz contra a adoção do círculo hermenêutico como
fundamental, é que aqueles que se ocupam com a luta social e com a política,
pela justiça, ao lado dos marxistas e outros ativistas, não têm nenhum modo de
saber se estão agindo de acordo com os ensinos das Escrituras, ou se, antes,
estão usando-as para legitimar uma instância política ou ideológica particular.30Lendo-se
a obra de Croatto, fica-se com a nítida impressão de que sua hermenêutica é
conscientemente desenvolvida visando legitimar a causa dos pobres e oprimidos.
Já que supostamente Deus está engajado na luta em favor dos oprimidos, a Bíblia
deve ser lida dessa perspectiva. Apesar de afirmar que o texto é polissêmico
(comporta um número ilimitado de sentidos), afirma também que a leitura mais
apropriada da Bíblia é aquela feita a partir da situação de opressão e pobreza. Aqui percebe-se uma notável semelhança entre o conceito do
"mais-que-sentido-literal" da proposta de Croatto (e das novas
hermenêuticas em geral) e as alegorias de Orígenes e dos escolásticos
medievais: desprezam o sentido gramático-histórico e valorizam um sentido que
está além do texto, o qual é alcançado através do horizonte do leitor (no caso
de Filo e Orígenes, o platonismo; no caso de Boff e Croatto, a praxis
liberacionista). Tal ênfase, desprezando o sentido histórico e gramatical,
acaba por achar sentidos no texto bíblico que absolutamente não faziam parte do
que era pretendido pelo autor.31
Descontinuidade entre Modelos Históricos
Boff
ensina que, como pessoas limitadas a um período histórico, nunca podemos
compreender e captar totalmente a proposta de Deus, nem a totalidade da
realidade como tal. Somente através de modelos
históricos esta compreensão
torna-se possível. Um modelo é um mediador entre a proposta de Deus e a resposta
humana, entre natureza e liberdade, subjetividade e objetividade, indivíduo e
sociedade. Para Boff, considerando-se que a revelação está sempre em processo,
um modelo sempre deve ser confrontado com a realidade, enriquecido, criticado,
corrigido e mantido aberto ao crescimento interno (p. 55). As religiões do
mundo são articulações históricas dessa proposta-resposta dialética. Desde que
ainda não foi obtida uma síntese completa, a revelação está sempre em processo;
ela tem de ser continuamente traduzida para novos contextos históricos e
sociais (p. 55; ver também pp. 277-8). Deste modo, fica validado um modelo
latino-americano de fazer cristologia.Por
trás deste conceito está a suposição de Boff de que a história da salvação é
tão extensa quanto o mundo e é a história da auto-comunicação de Deus e da
resposta humana à proposta divina (p. 54).
O que Boff quer dizer com a
"proposta de Deus"?
Não é a revelação de Deus na Escritura, mas na
história do mundo. Para se responder ao que Deus está propondo dentro de uma
determinada cultura, é preciso desenvolver um modelo compatível com aquela
cultura, a fim de se entender e responder a Deus. Em termos de modelos
religiosos, somente uma cristologia desenvolvida a partir de um contexto de
opressão pode habilitar os pobres e os oprimidos a responderem à proposta
libertadora de Deus.As
implicações são óbvias. Uma cristologia refletida e vitalmente testada na
América Latina precisa ter características próprias; ela deve reler os antigos
textos do Novo Testamento com preocupações tomadas do contexto da América
Latina (pp. 56-7). A conseqüência da pressuposição acima é que, sendo a
cristologia da libertação concebida a partir de um contexto de opressão e
dominação que prevalece na América Latina, ela requer um compromisso
socio-político específico para romper com tal situação de opressão.32 Ela
procura criar um estilo e desenvolver o conteúdo da cristologia de tal maneira
que possa destacar as dimensões libertadoras presentes na carreira histórica de
Jesus.33 Este seria o único modelo competente para fazer com que se
responda à revelação de Deus num contexto latino-americano.Ao
assumir a concepção acima, Boff parece negar implicitamente qualquer
continuidade no conhecimento de Deus e na resposta a ele entre diferentes gerações
ou culturas separadas no tempo ou geograficamente. Pode-se observar que uma das
inferências últimas desta concepção é que fica impossível a comunicação dos
conteúdos teológicos de um modelo histórico entre diferentes gerações e
culturas. Se a revelação de Deus (proposta) somente pode ser entendida e
corretamente respondida dentro dos parâmetros de um determinado contexto
(resposta), e se contextos variam e diferem entre si, os conteúdos de um modelo
cristológico desenvolvidos em um certo momento da história e dentro de uma
certa cultura, não serão comunicados inteligivelmente fora do contexto original
onde ele foi produzido. Pode-se argumentar, então, que a cristologia
liberacionista do próprio Boff fica isolada de toda a reflexão cristológica
anterior e não pode ser julgada a partir de qualquer referencial histórico. Olhando de outra perspectiva, não resta nenhuma base para Boff criticar
qualquer outro modelo cristológico. Todavia, uma das características destacadas
na abordagem de Boff é a crítica que faz às cristologias tradicionais.Este
conceito pode ser levado um passo adiante. Desde que os indivíduos são
diferentes e têm compromissos diferentes, com pressuposições derivadas de
diferentes contextos culturais e históricos, também pode-se argumentar que não
pode haver comunicação inteligível de um conteúdo teológico entre duas pessoas. A implicação da ênfase na descontinuidade dos modelos históricos é que somente
Boff realmente pode entender a sua cristologia da libertação — e ninguém mais.
Dependência da Análise Social
A
fim de construir-se um modelo para entender a Cristo, diz Boff, é necessário
adotar uma mediação em nossa leitura das Escrituras. O significado original das
Escrituras não é mais imediatamente compreensível a nós hoje, por causa da
grande distância cultural e lingüística entre nós e a Bíblia. É necessário
construir uma ponte, isto é, interpretar, ou, em outras palavras, ter uma
mediação hermenêutica. Por meio dessa mediação hermenêutica, é desenvolvido um
critério teológico com o qual se pretende ler o texto. O critério adotado por
Boff é a análise social da realidade.34 Boff
ensina que toda cristologia da libertação dependerá de análise social e de hermenêutica.
A análise social enfoca a realidade a ser mudada e a hermenêutica considera a
relevância teológica de tal análise. A análise social é considerada em termos
de Jesus Cristo e assim garante o caráter teológico da teoria e da praxis da
libertação.35
Ele afirma:
A
Cristologia da Libertação pressupõe e depende de uma prática social específica
concebida para romper com o contexto existente de dominação e dar aos grupos
sociais oprimidos a oportunidade de se libertarem das formas existentes de
dominação.36Em
outras obras, Boff menciona a necessidade de "uma leitura analítica
sociológica e estrutural da realidade que seja tão científica quanto
possível."37 Em Jesus Cristo Libertador fica óbvio que Boff adotou,
como outros teólogos da libertação, algumas categorias seletas da tradição
analítica marxista. Por outro lado, não seria justo dizer que Boff utiliza o
marxismo in totum como um ponto de referência determinante. O seu propósito é
tomar qualquer verdade que possa ser encontrada no marxismo e apropriar-se da
mesma.38 Muitos críticos duvidam que ele tenha conseguido fazer isto.Outra
inconsistência interna do pensamento de Boff torna-se clara neste momento. Numa
parte anterior do seu livro, ele faz a tentativa de descartar o método
histórico-crítico por causa do seu suposto caráter científico e da sua
conseqüente objetividade. Parece que Boff teve de fazer esta crítica a fim de
alcançar um certo grau de consistência interna, desde que a sua hermenêutica é
orientada para o leitor (subjetiva). Porém, aqui Boff argumenta em favor de uma
ferramenta inteiramente científica de análise social. Essa ferramenta
constitui, juntamente com a hermenêutica, a base da sua cristologia. A
ferramenta adotada é o marxismo, que vê a si mesmo como uma disciplina
científica e objetiva. Além de estar equivocado quanto ao caráter objetivo e
cientificamente neutro do marxismo como ferramenta de análise social, Boff
aumenta a tensão objetiva-subjetiva inerente ao seu sistema.
O
Leitor como Locus do Significado: Exegese (extraio) ou Eisegese (injeto)? - A
verdade está no texto, ou no leitor?
Não
há uma resposta clara à pergunta "qual é o ‘locus’ de significado na
cristologia de Boff?" Ou seja, se existe sentido,
onde ele se localiza? No texto? No leitor? Por um lado, ao utilizar métodos
histórico-críticos para peneirar dos Evangelhos os textos originais que não
tinham sido editados, Boff está assumindo implicitamente a pressuposição do
método histórico-crítico tradicional, de que, em última instância, o
significado está relacionado com a autoria.Por
outro lado, Boff acredita que o significado literal dos textos não pode ser
absolutizado, mas meramente entendido como uma apreensão exemplar dentro de um
modelo específico. O texto deve estar aberto a outros modelos que captam a
realidade de um modo diferente e assim enriquecem a nossa compreensão da
revelação de Deus no mundo (p. 55).Assim,
o significado original dos Evangelhos é válido para nós, não como uma verdade
universal, mas como um referencial histórico de como a igreja primitiva
entendeu Jesus. O texto irá fornecer outros significados válidos quando lido
por latino-americanos. Boff sempre insiste em que cada geração, cada cultura e
até mesmo cada grupo social, deve entender os textos do Evangelho de maneiras
condicionadas pelo seu próprio contexto. Obviamente, ele segue um modelo
hermenêutico mais orientado para o leitor e adota o conceito de que o
significado está localizado no leitor – conceito central nas hermenêuticas do
assim chamado pós-modernismo.Isto
se reflete na sua abordagem dos dogmas, que é basicamente a abordagem de Karl
Rahner. Para Rahner, os dogmas são uma fixação verbal e doutrinária das
verdades fundamentais do cristianismo para um determinado período de tempo,
desenvolvida com o auxílio dos instrumentos de expressão oferecidos por aquele
ambiente cultural (p. 197). Conseqüentemente, conclui Boff, se desejamos ser
cristãos e ortodoxos não basta simplesmente recitar fórmulas antigas e
veneráveis: nós devemos viver o mistério que a fórmula contém. Em outras
palavras, o que foi significativo como verdade para gerações passadas, não o é
para as presentes.Para
ilustrar o seu conceito de significado, Boff utiliza o ícone de uma vasilha
frágil que preserva uma essência preciosa; a essência preciosa pode ser
representada de maneira imperfeita com diferentes aparências, que são as nossas
fórmulas e dogmas, mas a essência deve ser preservada.Croatto
segue na mesma linha. A tese principal de sua obra Hermenêutica Bíblica é que a Bíblia não deve ser vista como
um depósito fixo que já disse tudo — o que realmente importa não é o que ela
disse, mas o que ela diz. No
ato de escrever sua mensagem, os autores bíblicos desapareceram. Sua morte,
entretanto, traz riqueza semântica. A tentativa que fizeram de enclausurar o
sentido acaba por abrir a possibilidade de novos sentidos. Croatto chega ao
ponto de afirmar que a tarefa do intérprete não é fazer exegese – a tarefa de descobrir o sentido
primário do texto – mas eisegese,
isto é, entrar no texto com novas questões que produzirão, por sua vez, novos
sentidos.
Comentando esse aspecto da obra de Croatto, Moisés Silva observa:
Apesar
de ninguém estar defendendo que devemos voltar aos tempos da alegorese descontrolada de alguns
intérpretes patrísticos e medievais, a busca de um sentido no texto bíblico que
vá além do pretendido pelo autor original certamente parece, à primeira vista,
jogar fora séculos de progresso hermenêutico.39 Silva
demonstra a fragilidade das hermenêuticas centradas no leitor dizendo que
Croatto ficaria profundamente ofendido (e com razão) se esse alguém lesse seu
livro e afirmasse que Croatto defende que a melhor hermenêutica é a
fundamentalista ou concordista, ou ainda, que seu livro oferece base para uma
ética política que justifica pressões imperalistas dos Estados Unidos na
América Latina. Tal interpretação do livro de Croatto seria quase um insulto
pessoal ao autor, comenta Silva. Croatto poderia dizer que o leitor não
entendeu o que ele quis dizer. Poderia até mesmo tentar processar tal
intérprete por difamação ou calúnia. Entretanto, estaria sendo incoerente com
sua própria tese.40
Fé e Praxis como Requisitos para a Compreensão
Um
aspecto importante das pressuposições de Boff é a prioridade no processo
hermenêutico que ele atribui à fé. De acordo com ele,não podemos simplesmente falar sobre Jesus como falamos sobre outros objetos.
Só podemos falar a partir dele, como quem está tocado pela significação de sua
realidade. A ele vamos com aquilo que somos e temos, inseridos dentro de um
contexto histórico e social inevitável. Com os nosso olhos vemos a figura de
Cristo e relemos os textos sagrados que falam dele e a partir dele (p. 56).Mais
do que outros teólogos da libertação, Boff afirma a primazia da fé na
interpretação dos Evangelhos. Assim sendo, ele censura a crítica histórica
porque ela não pressupõe a fé no investigador (p. 51). Em uma divergência
surpreendente da busca do Jesus histórico empreendida na Europa, ele diz que
qualquer cristologia que enfatize o Jesus histórico às custas de um Jesus
dogmático é inadequada. O Jesus histórico só pode ser entendido na dimensão da
fé, da mesma maneira que a Igreja Primitiva identificou o Jesus histórico
físico com o Cristo ressurreto em glória. A história, afirma, sempre vem a nós
em uníssono com a fé (pp. 25-6, 89-90).Aqui
Boff parece diferir dos seus colegas da América Latina, que normalmente tomam o
contexto social como o ponto de partida. Essa divergência, porém, é apenas
superficial. No jargão teológico de Boff, "ser tocado pelo significado da
realidade de Jesus" é algo que pode acontecer sem a mediação das
Escrituras. É assumir um compromisso ao lado dos pobres e oprimidos, enquanto
se reconhece que foi isto o que Jesus fez. Falar tendo Jesus como um ponto de
partida não significa conversão e submissão ao seu senhorio, como
tradicionalmente se entende; antes, significa falar a partir de um compromisso
com a libertação social ou a praxis. Assim, a fé, na teologia de Boff, não é
sustentada pelas Escrituras, mas pela praxis.
Para citar Berryman:
A
firmeza da fé não vem de conceitos particulares — até mesmo aqueles da teologia
da libertação ou da própria Bíblia — mas do compromisso com um certo tipo de
vida, exemplificada em Jesus Cristo e vivida nos nossos dias por muitos homens
e mulheres comuns da América Latina. No compromisso dos seus irmãos e irmãs, os
teólogos vêem a sua própria fé fortalecida e validada.41 Conforme
já destacamos, outro aspecto da hermenêutica de Boff é que a correta
interpretação dos textos bíblicos vem através da praxis, ou seja, do
envolvimento social e político em favor dos oprimidos. Ele diz: "Assumir
uma clara posição social em favor dos oprimidos tem exigido de muitos uma
verdadeira conversão hermenêutica."42 É somente quando alguém se
compromete com o programa de libertação que será capaz de ter conhecimento de
Cristo. Boff segue Bultmann na afirmação de que compreensões preliminares
provisórias são a maneira pela qual alguém se abre ao texto bíblico.43 Mas,
como pondera Goldingay, os teólogos da libertação em geral acrescentam que essa
abertura do leitor ao texto não é somente uma questão de mente, mas também de vontade
e de ação. O modo como alguém vive influencia inevitavelmente a sua maneira de
ler a Bíblia. Qualquer leitura da Escritura ocorre no contexto de algum
compromisso.44 Portanto, o
compromisso com a libertação funciona como uma condição essencial para entender
os Evangelhos. Somente quando alguém se compromete dessa maneira ele será
capaz de ler as Escrituras de modo relevante para o homem contemporâneo que
vive em uma condição opressiva.45
O
conceito de praxis em Boff é, em muitos aspectos, semelhante à concepção
marxista.
É o poder humano básico para transformar o ambiente pela atividade
criativa, que em grande parte é determinado pelo modo existente de produção
econômica. A forma mais criativa de praxis é a "praxis
revolucionária," que desafia e transforma a praxis política conservadora das
sociedades capitalistas.46 Volf
pondera que, ao colocar a praxis como um pré-requisito essencial para o
entendimento, a teologia da libertação propõe inverter a relação tradicional
entre teoria e prática. Até recentemente, a teologia colocaria o entendimento
antes da praxis. A teologia da libertação coloca a praxis no centro, no qual a
reflexão teológica deve começar e para onde ela deve retornar. Essa rotação na
metodologia tem as suas raízes em Marx e Hegel.47Volf
destaca que existem duas pressuposições básicas por trás da ênfase de Boff na
praxis. Primeiramente, uma aceitação implícita da conclusão da sociologia do
conhecimento de que não há tal coisa como o "conhecimento autônomo."
O conhecimento está sempre ligado a uma determinada situação de vida. Isto
forma a base dos ataques de Boff contra as cristologias dominantes que não
estão conscientes da conexão entre teologia e prática.48 Em segundo lugar,
uma aceitação implícita do conceito marxista de que a verdade não está no reino
das idéias, mas no plano da história.49
Este
último ponto é ilustrado pelo conceito de Boff sobre "estrutura
crística."
Ele fala da "estrutura crística" que existe dentro da realidade humana e foi manifestada de maneira absoluta
e exaustiva em Jesus de Nazaré. Essa "estrutura crística" existiu
antes do Jesus histórico; ela pré-existe
dentro da história da humanidade. Toda vez que um ser humano se abre para
Deus e para o outro, ali nós temos o verdadeiro cristianismo e a estrutura
crística emerge. Assim, o cristianismo pôde existir antes do cristianismo, de
um modo anônimo. Ele recebeu o seu nome com Jesus Cristo. Assim, da mesma
maneira que a terra era redonda antes de Magalhães tê-lo demonstrado, o
cristianismo existiu antes de Jesus Cristo e alcançou nele a sua revelação mais
elevada (pp. 268-75).Portanto,
desde que a verdade existe na história, particularmente na "estrutura
crística," a essência do cristianismo, para Boff, é o viver concreto e
consistente numa estrutura crística. Este viver deve seguir a Jesus de Nazaré:
abertura total a Deus e aos outros. A conclusão inevitável é a seguinte:
"Não é o que é cristão e católico que é bom, verdadeiro e justo. Mas o
bom, verdadeiro e justo é que é cristão e católico" (p. 272).
II. OS
RESULTADOS DA HERMENÊUTICA DE BOFF
Em
resumo, Boff propõe que leiamos os Evangelhos tendo os seguintes pontos em
mente:
1.
O Jesus que nos é apresentado nos Evangelhos não corresponde ao Jesus que realmente existiu. É apenas o Cristo da fé e da reflexão da igreja.
2.
É preciso ler os Evangelhos com os olhos de latino-americanos oprimidos e deixar que nossa experiência de opressão nos leve a Jesus, e dele retornemos à nossa realidade com esperança de libertação.
3.
Precisamos entender Jesus por nós mesmos e elaborar uma cristologia compatível com nossa geração, com nossa história e nossa situação. A reflexão
sobre Cristo feita por gerações anteriores não pode substituir a nossa própria.
4.
Devemos ler as Escrituras com a mente crítica de um analista social e ver os relatos em termos da luta entre opressores e oprimidos. Para isso, podemos usar a análise crítica social do marxismo. A
figura de Jesus Cristo como libertador social e suas implicações para a igreja
latino-americana, conforme expostas por Boff, são resultado dessas convicções
acima.
No
que se segue, procurarei resumir as principais conclusões de Boff quanto aos
pontos cruciais de sua cristologia.
ATENÇÃO! Uma análise crítica será oferecida mais ao
fim deste artigo!
A. O Jesus Histórico
Virtualmente
todas as cristologias latino-americanas tendem a enfocar o Jesus histórico em
contraste com o Cristo da fé. De acordo com elas, é o lado humano de Jesus, e
não a reflexão da igreja sobre a sua pessoa e natureza, que inspira e empolga a
cristologia da libertação. Boff trata inicialmente do Jesus histórico.À
pergunta "O que Jesus Cristo realmente queria?", Boff responde: Jesus
não pregou nem a si mesmo, nem a igreja, mas o reino de Deus. O reino de Deus é
a realização de uma utopia fundamental do coração humano, a transfiguração
total deste mundo. Ele está livre de tudo aquilo que aliena os seres humanos,
livre da dor, do pecado, das divisões e da morte. O que Jesus queria era fazer
as pessoas e os seus discípulos entenderem que o conteúdo teológico da
expressão "reino de Deus" era muito mais profundo do que eles
imaginavam. Exigia conversão das pessoas e uma transformação radical do mundo
humano. Essa nova ordem já foi introduzida por ele (pp. 64-7).De
acordo com Boff, Jesus Cristo veio como libertador
da condição humana. Na religião judaica do tempo de Jesus, tudo estava
prescrito e determinado: primeiro as relações com Deus e depois as relações
entre os seres humanos. A consciência sentia-se oprimida por prescrições legais
insuportáveis. Jesus levantou um impressionante protesto contra toda essa
escravização humana em nome da lei. A sua atitude fundamental foi de liberdade
diante da lei. Essa liberdade era para o bem, e não para a libertinagem.É
preciso concordar com Frances Young que uma das decepções com a obra de Boff é
que ela tem pouco a dizer que seja realmente novo. O quadro do Jesus histórico
que emerge da maneira como ele trata os Evangelhos é, em grande parte,
dependente das idéias dos estudiosos alemães pós-bultmannianos, especialmente
Bornkamm, que se dedicaram a "redescobrir" o verdadeiro Jesus, busca
esta iniciada no século 17, com Reimarus, após o surgimento do racionalismo. Sob este aspecto, Jesus Cristo Libertador tem muitos paralelos com obras tais
como Sendo um Cristão, de Hans Küng. De acordo com Young, apesar de sua
erudição, o livro carece de coerência interna e de rigor intelectual, e mui
otimisticamente apela ao Jesus histórico contra o Jesus do cristianismo
estabelecido.A
pesquisa e o relato de Boff sobre as várias técnicas empregadas na busca do
Jesus histórico são elucidativos. Não obstante, às vezes o quadro de Jesus que
emerge da sua cristologia se baseia somente numa simples citação de textos, e
ocasionalmente até mesmo num fundamentalismo baseado puramente na teologia de
Lucas.50
B. O Cristo da Fé
O
significado do Cristo da fé para a América Latina, especialmente para o Brasil,
pode ser resumido no que ele chama de "elementos de um cristologia em
linguagem secular."
Destaco esses elementos:
1)- Cristo é o ponto ômega da evolução, o homo
revelatus, e o futuro como presente. Aqui, Boff
recorre especialmente a Teilhard de Chardin. Como o homo revelatus, Cristo realizou
as aspirações messiânicas do coração humano (pp. 254-6). Este primeiro elemento
está sujeito a críticas em vários aspectos. Um deles é que Boff desenha um
Jesus que dificilmente acabaria rejeitado e crucificado por seu próprio povo. Seu Jesus é o cumprimento de tudo aquilo por que os seres humanos naturalmente
se esforçam. Dessa perspectiva, acabam sendo minimizados os conflitos que Jesus
despertou. Para Boff, Jesus não era "contra nada. Ele é a favor do amor, da
espontaneidade e da liberdade" (pp. 81-2). Outro aspecto: Boff ignora
totalmente a raiz mais profunda dos problemas sociais, que é a corrupção do
coração humano. Os seres humanos não são vistos como radicalmente escravizados
por forças hostis e pelo seu próprio pecado — e assim necessitando de um
libertador distintamente divino com um poder redentor além da capacidade
humana.51
2)- Cristo como conciliação de opostos e ambiente
divino. Como tal,
Cristo é mediador entre Deus e os seres humanos, não no sentido evangélico
tradicional, mas no sentido de realizar a esperança fundamental que as pessoas
têm de experimentar o inexperimentável. Ele também representa a conciliação de
opostos humanos, criando pela cruz uma nova humanidade, um milieu divin (pp. 256-8). Aqui fica evidente como
as pressuposições hermenêuticas de Boff o levaram a esta visão humanística da
mediação de Cristo. Ao adotar a crítica da forma e das fontes, Boff conclui que
as passagens dos Evangelhos que tratam da expiação e da redenção, bem como as
passagens do Novo Testamento que afirmam que Cristo morreu pelos nossos pecados,
são interpretações posteriores da comunidade palestina. Elas não têm nenhuma
raiz no Jesus histórico. Elas simplesmente refletem a reação de fé da igreja
primitiva ao Senhor ressurrecto. O conceito da morte vicária de Cristo é apenas
uma interpretação entre outras muitas possíveis interpretações, que não deve
ser absolutizada (pp. 146-7). Ao enfatizar a libertação no nível social e
estrutural, geralmente em categorias de opressor e oprimido, Boff minimiza a
implicação da morte de Cristo para expiar os pecados individuais e pessoais.
Pouca ou nenhuma atenção é dada à justificação pessoal e ao perdão de pecados
como resultados diretos da morte de Cristo.Como
David Peterson observa, o método de Boff o leva a depreciar o significado de
grande parte do material do Novo Testamento a fim de obter a sua interpretação
da relevância de Cristo para a cultura latino-americana.
Diz Peterson:
Os
leitores que permanecem convencidos de que a interpretação dada pelo Novo
Testamento sobre a pessoa e obra de Cristo continua normativa para todas as
gerações continuarão a buscar os melhores métodos para tornar o Cristo do
testemunho apostólico relevante para as pessoas do nosso tempo e de várias
culturas.52 - Jesus Cristo é o arquétipo da individuação mais
perfeita. Baseado na
terminologia de Jung, Boff declara que a busca dos seres humanos é alcançar a
integração de todos os dinamismos da sua vida consciente, subconsciente e
inconsciente, que é o processo de individuação. Cristo é a concretização mais
perfeita e completa do Selbst (arquétipo de Deus). Como tal, ele
assume um significado transcendental para a humanidade, porque ele abre a
possibilidade de uma realização total (pp. 260-2).Uma
vez mais pode-se concordar com Fingers, de que a ênfase humanística na
cristologia de Boff se parece com a desacreditada abordagem liberal européia e
norte-americana na qual a pessoa humana evolui mui natural e suavemente até
Deus, e a história evolui mui inevitavelmente para tornar-se divina.53 Outros
críticos consideram o capítulo 10 de Jesus
Cristo Libertador, no qual Boff trata da divindade de Cristo e do
significado de Calcedônia, como a parte mais insatisfatória do livro (pp.
204-10). Existe um persistente obscurecimento do problema da singularidade de
Cristo e mesmo da sua união conosco em nossa humanidade. O problema mais
fundamental é provavelmente a suposição de que escatologia e evolução podem ser
igualadas.54
III.
UMA AVALIAÇÃO DA HERMENÊUTICA DE BOFF a partir de UMA PERSPECTIVA REFORMADA
Até
agora temos procurado apontar algumas incoerências e inconsistências internas
na hermenêutica de Boff, no decorrer de nossa análise. No que se segue,
procuraremos oferecer uma crítica externa da hermenêutica de Boff. Faremos isto
partindo do que consideramos uma hermenêutica comprometida com as Escrituras, e
com o sistema doutrinário que elas nos ensinam, representado na teologia
reformada.
A. Paralelismo com o Pelagianismo
Para
começar, a estrutura do pensamento e da teologia de Boff (que inevitavelmente
influenciam sua hermenêutica) é basicamente pelagiana.
Pelágio foi condenado por heresia nos primórdios da igreja cristã por ensinar
que o homem nasce sem pecado e sem qualquer inclinação pecaminosa inata, e que
é essencialmente neutro,
podendo conhecer a Deus e praticar o que é reto, sem que necessariamente
necessite de uma intervenção divina para isto. A "neutralidade" do
homem é pressuposta na obra de Boff, bem como nas obras dos eruditos liberais
em todo mundo. No caso de Boff, em particular, o pelagianismo era inevitável,
não só por causa do seu background católico romano, mas
principalmente por causa da integração do seu pensamento com muito da erudição
européia moderna, cuja cosmovisão é distintamente pelagiana.
Em
sua epistemologia, Boff assume o conceito de "conhecimento inato."
De
acordo com esse conceito, todos os homens têm noções comuns vagas sobre Deus,
sobre si mesmos e sobre a realidade, que formam a base de uma área de
concordância para diálogo e interação entre sistemas filosóficos de homens não
regenerados e uma visão cristã do mundo. É somente a partir dessa base que
alguns dos princípios hermenêuticos de Boff podem operar, especialmente o uso
de uma ferramenta crítica como o marxismo.Da
perspectiva do pensamento reformado, Boff evidentemente não levou a sério o
ensino das Escrituras acerca da queda do homem e suas conseqüências para a
epistemologia. De acordo com as Escrituras, o intelecto do homem (como também a
sua vontade e afetos) está hoje em um estado anormal. O homem, como tal, não é
"neutro." A razão do homem continua funcionando, mas funciona de
forma errada (ver 1 Co 2.14). O homem natural se vê, e ao mundo ao seu redor,
através de um conjunto de pressuposições. Entre elas está a convicção de que o
juízo último quanto ao que pode ou não pode ser realidade, jaz dentro dele, na
sua capacidade de raciocínio. Outra convicção é que sua própria interpretação
da realidade é válida para si mesmo; e ainda, que os fatos existem como bruta
facta ("fatos brutos"), por si mesmos.55 Acredito que Cornelius
Van Til está correto ao afirmar que todos os homens não regenerados interpretam
Deus, a realidade e eles mesmos de um modo errado, porque rejeitaram a validade
da interpretação de Deus contida nas Escrituras. Qualquer sistema construído pelo
homem natural necessariamente trará as marcas destas convicções. Tudo no
sistema será filtrado por estas pressuposições. E o marxismo não seria uma
exceção.O
marxismo é um bloco indivisível, portanto, cujos elementos não podem ser
separados um do outro. Teoricamente, Boff não poderia quebrar o marxismo em
pedaços e escolher tudo que julga ser verdade nele, sem correr o risco de
adotar categorias anti-cristãs. Exatamente porque não reconhece que o único
verdadeiro conhecimento inato que todos os homens têm em comum é o conhecimento
de Deus (um conteúdo específico que é suprimido nos corações dos homens caídos,
cf. Romanos 1), Boff permanece sem qualquer base para uma confrontação ética
direta entre o homem e Deus, e assim, ele também permanece sem um critério pelo
qual venha a diferenciar a verdade do que é falso em um sistema como o
marxismo.
B. Cristo sem Escrituras?
Como
foi mostrado acima, na hermenêutica de Boff a interpretação se move da
experiência ao texto. Há uma interação ativa entre o leitor e as Escrituras,
que é mediada pela fé e pela praxis. Praxis é o centro donde a compreensão vem e
vai. O leitor entende a Bíblia em termos das suas experiências (praxis)
e reinterpreta o que experimenta em termos de símbolos bíblicos. Boff também
insiste que nós só podemos falar tendo Jesus Cristo como nosso ponto de partida
(ver p. 43). Isto significa que, para ele, Jesus Cristo é a sua pressuposição
mais fundamental.Os
reformados certamente admitiriam que Boff está correto ao prestar atenção à
influência das pressuposições no raciocínio, e ao aceitá-los positivamente em
sua própria interpretação. Ele aparenta estar perfeitamente consciente de que
não há algo como "linguagem neutra" ou interpretação verdadeiramente
objetiva.A
grande diferença, claro, é que no sistema reformado é o Cristo atestado nas Escrituras que se constitui no ponto de partida
de toda a pregação,56 enquanto que, na cristologia da libertação, é o Jesus
histórico reconstruído através do método histórico-crítico e interpretado à luz
do modelo cristológico da teologia da libertação na América Latina. Assim,
enquanto Boff enfatiza a praxis, a teologia reformada diz que as Escrituras, em
todos os seus atributos (necessidade, autoridade, perspicuidade e suficiência)57 é
a pressuposição fundamental.Poderia
ser argumentado que a ênfase de Boff na praxis como uma condição para o
conhecimento não é antibíblica. Apoio para a conexão íntima entre conhecer a
Deus e fazer a sua vontade pode ser achado nas Escrituras. Só para mencionar um
exemplo, Jesus diz em João 7.17: "qualquer que fizer a sua vontade,
conhecerá a doutrina, se é de Deus, ou se eu falo de mim" (ver também Cl
1.9; Fp 1.9; Rm 1.18; Jo 3.20-21; 1 Jo 4.8). Porém, tem que ser notado que, em
termos bíblicos, a pressuposição para o conhecimento correto é a prática correta (e vice-versa). E como se pode definir
a prática correta? Aqui jaz a diferença fundamental entre Boff e os reformados,
neste aspecto. Para Boff, uma análise social da situação determinará os
parâmetros de praxis, enquanto que no sistema calvinista as Escrituras são o
único juiz de toda ação.
C. Deus Rejeitado como Fonte de Conhecimento?
Vejamos
agora as pressuposições de Boff sobre "conhecimento!"
Como demonstrado acima, para ele o
conhecimento não é autônomo, mas sempre amarrado a uma situação particular
da vida. A verdade, também, não reside no reino das idéias, mas no nível da
história. Enfatizando este ponto, Boff está criticando a cristologia
tradicional que, segundo ele pensa, não vê a conexão entre teologia e prática.A
rejeição da concepção platônica da realidade por parte de Boff é bem-vinda em
alguns sentidos. Do ponto de vista bíblico, entretanto, sua consciência dadependência do conhecimento (em contraste com a
autonomia do mesmo), não é radical o bastante. Tal conceito simplesmente
transforma o conhecimento em uma função da história e da sociedade, e não em
algo dependente do conhecimento de Deus. Na hermenêutica de Boff o conhecimento
não é autônomo porque está preso à história; do ponto de vista bíblico o conhecimento humano não é
autônomo porque depende do conhecimento de Deus. Ou seja, ele é, como
designou Van Til, analógico ou adquirido. Este aspecto desaparece na epistemologia
de Boff. Fica-se com a clara impressão de que o homem pode conhecer, à parte de
Deus. Pode-se conhecer a Jesus através de um compromisso com a libertação
social, o que Boff chama de "conversão hermenêutica." O papel de Deus
como Criador, e portanto como o fundamento de todo o conhecimento humano, está
ausente no tratamento que Boff faz do tema "como podemos conhecer a
Jesus."
D. Separação Radical entre Fé e Razão
O
impacto da filosofia de Immanuel Kant no pensamento e na hermenêutica modernos
é maior do que podemos perceber à primeira vista. É interessante que o próprio
Kant, refletindo sobre a interpretação bíblica, chegou a sugerir o que parece
um retorno ao sistema alegórico de interpretação. Fazendo uma distinção entre
interpretação autêntica (literal e relacionada com a intenção
do autor bíblico) e a interpretação doutrinária (obtida do ponto de vista moral e
prático), Kant sustenta que somente a última, por não estar preocupada com o
sentido que o autor sacro quis transmitir com suas palavras, é que pode
verdadeiramente ser considerada como "o único método evangélico e bíblico
de ensinar ao povo a religião universal, verdadeira e interior."58Kant
influenciou os principais responsáveis pela formação das hermenêuticas
modernas, como F. Schleiermacher, W. Dilthey, R. Bultmann, para mencionar
apenas alguns. Não é sem razão que as hermenêuticas pós-modernas soam tão
similares ao sistema alegórico antigo e medieval.59
O
conceito de Boff sobre a relação entre fé e razão é kantiano (alegórico)!
Seguindo a
distinção de Kant entre númeno e fenômeno,
ele diz que conhecimento não pode ser adquirido ou recebido somente pela razão
e pela ciência.60 Aqui a "fé" entra. Fé é um modo positivo de se
comportar diante das questões mais cruciais da vida humana, do mundo e de Deus. Pela fé, a dimensão do conhecimento que vem somente pela razão científica é
transcendido e penetra-se em outro domínio, onde decisões livres são o fator
determinante sobre o qual se baseia outro universo de compreensão. Fé e razão
científica não são antagônicos; são apenas duas dimensões diferentes dentro do
mesmo domínio e não dois modos de conhecer (p. 31) Como Kant, Boff separa fé e
razão e as coloca em dois planos distintos, para evitar a colisão entre ambas.Duas
críticas podem ser feitas a esta tentativa. Primeiro, o dualismo
númeno-fenômeno, que é a base para o dualismo fé-razão aceito por Boff, não
pode ser mantido à luz das Escrituras. O Deus da Bíblia não permanece somente
no domínio do númeno – ele
intervém e age também dentro do fenômeno. Uma distinção entre fé e razão não
deve ser forçada ao ponto de provocar uma separação radical entre ambas. Boff
insiste nesta distinção para enfatizar a prioridade da fé na reflexão
cristológica. Porém, insistindo neste ponto, Boff está puxando o tapete de debaixo
dos próprios pés, pois, ao contrário de Bultmann, ele gostaria de ver uma
continuidade entre o Jesus histórico e o Cristo da fé. Esta continuidade é
essencial para a sua cristologia, visto que sua reconstrução de Jesus como
libertador da condição humana é supostamente derivada do Jesus histórico.Segundo,
ao adotar implicitamente a distinção de Kant entre fé e razão, Boff assume
outro postulado da filosofia moderna, a saber, a autonomia que o homem tem de,
dentro do domínio do fenomenal, conhecer e entender a realidade à parte de Deus
(o que também chega bem perto da concepção católica romana de revelação
natural). Isto, claro, vai de encontro ao ponto mais essencial da Escritura,
isto é, que Deus é a condição primária para o conhecimento do homem.Também,
estabelecendo esta distinção, Boff permite uma transferência de toda a reflexão
sobre a cristologia do Novo Testamento – doutrinas como a encarnação,
ressurreição, propiciação e redenção (que Boff considera produtos da fé dos
apóstolos) — para o númeno, causando em última análise uma separação entre elas
e o Jesus histórico — algo que Boff não desejaria.
E. Falta de Base Escriturística para a Fé - O
que é fé, para Boff?
Ele responde, citando Boaventura, que "a fé é o poder da
fala gaguejante", quando o homem é confrontado com o mistério de Cristo como o
futuro da humanidade (p. 31). Na cristologia de Boff, a fé não depende da
revelação de Deus (Escrituras), sendo somente uma resposta existencial ao
Cristo. Poder-se-ia inquirir como este Cristo pode ser conhecido, à parte das
Escrituras? Não há qualquer resposta clara na cristologia de Boff para essa
pergunta.Tem-se
a impressão de que para Boff o Cristo exaltado se tornou uma realidade dentro
da história (a possibilidade de vitória sobre a morte, alienação, opressão e
pecado), realidade esta que pode ser invocada ou reavivada por qualquer um, a
qualquer hora, pela fé. Transparece do pensamento de Boff que só há conversão
quando alguém se entrega à causa dos pobres e dos oprimidos. A fé acontece
quando alguém se conscientiza de que Cristo é o futuro do homem e a esperança
de libertação.Fé,
como entendida por Boff, poderia ser descrita como uma "fé cega." Não
tem base bíblica nem evidência bíblica para sua fundamentação.61 Além
disso, não é considerada como um dom de Deus por meio do qual o homem pode vir
a conhecê-lo. Ela nasce da autonomia da razão, que é característica central do
sistema de Boff.
F. Omissão da Obra Iluminadora do Espírito Santo
Boff
falha ao admitir implicitamente a "razão em geral," não distinguindo
entre a razão do não regenerado e a razão do cristão. Conforme o ensino
bíblico, a razão humana está em um estado de anormalidade por causa da queda,
e, portanto, não pode ser o juiz da realidade. A razão no homem regenerado tem
como seu propósito receber e reinterpretar a revelação que Deus fez de si mesmo
nas Escrituras.62 Boff assume que a razão humana natural pode captar a
verdade sem o pré-requisito da regeneração. Regeneração e iluminação do
Espírito Santo com relação à revelação estão completamente ausentes da
epistemologia de Boff.A
crítica que Van Til faz à visão católica romana da razão bem pode ser aplicada
a Boff aqui. Embora sustente que a razão está enfraquecida e deve ser
complementada para poder chegar a conhecer os mistérios de Deus, o catolicismo
romano continua a viver uma tensão entre esta visão e a sua visão da autonomia
da razão.63
Conclusão:
A
cristologia de Boff, bem como a teologia da libertação em geral, não desfruta
mais do prestígio acadêmico que gozou em décadas recentes. Entretanto, os
pressupostos, métodos e ferramentas empregados continuam a ser usados em outras
manifestações teológicas modernas.Para
muitos, o liberalismo teológico se extinguiu. De fato, ele teve seu momento
histórico. Mas os pressupostos que motivaram seu surgimento, não somente os
filosóficos, mas especialmente os religiosos (o ateísmo, o evolucionismo e o
agnosticismo são religiões!) continuam a operar por detrás de movimentos e
sistemas teológicos contemporâneos. Mesmo
sendo uma tentativa de reconstruir um Jesus histórico que tivesse cara de
latino-americano, a cristologia da libertação empregou as ferramentas críticas
nascidas no liberalismo alemão. O retrato do Jesus Cristo libertador dos pobres
latinos passou, mas as ferramentas que o criaram continuam em atividade hoje.
NOTAS
1
Leonardo Boff, Jesus Cristo
Libertador: Ensaio de Cristologia Crítica Para Nosso Tempo (São Paulo: Vozes, 1972). A pesquisa
para este artigo foi feita na sexta edição (1977). Outras obras de Leonardo e
Clodovis Boff aqui citadas foram pesquisadas na biblioteca do Seminário
Teológico Westminster (Filadélfia), onde os livros de Leonardo e Clodovis Boff
disponíveis estão traduzidos para o inglês.
2
Suas duas últimas publicações nessa linha são A
Águia e a Galinha – Uma Metáfora da Condição Humana (São Paulo: Vozes, 1997) e O Despertar da Águia – O Diabólico
e o Simbólico na Construção da Realidade (São
Paulo: Vozes, 1998). Da sua fase ecológica temos Ecologia – Grito da Terra, Grito
dos Pobres (São Paulo: Ática,
1996).
3
Bonaventure Kloppenburg, Temptations
for the Theology of Liberation, Synthesis
Series nº 65 (Chicago, 1974), 13.
4
O livro Hermenêutica Bíblica de J. Severino Croatto, teólogo
católico, é um exemplo de uma hermenêutica escrita dessa perspectiva: Hermenêutica Bíblica: Para Uma
Teoria da Leitura como Produção de Significado (São Paulo: Paulinas-Sinodal, 1986). O
original foi publicado em Buenos Aires: Ediciones La Aurora, 1984.
5
Isso não significa que Boff creia na literalidade da ressurreição de Jesus.
Embora faça freqüentes menções à ressurreição de Jesus em Jesus Cristo Libertador, ele
não parece acreditar numa ressurreição física e literal de Jesus. Ele insiste que
não foi a revivificação de um cadáver mas a transformação radical e a
transfiguração da realidade terrestre de Jesus, a concretização do Reino de
Deus na vida de Jesus (p. 224), seguindo assim a tendência geral do liberalismo
clássico de espiritualizar a ressurreição. Harvey Conn comenta: "Boff não
leva em conta o túmulo vazio. Aceita as aparições de Jesus após a morte como
sendo trans-subjetivas, isto é, as histórias das aparições testemunham de um
impacto que o mistério impôs aos discípulos" (Harvey Conn e Richard Sturz, Teologia da Libertação, Coleção
Pensadores Cristãos [São Paulo: Mundo Cristão, 1984], 92).
6
Ver a resenha de Thomas Fingers sobre Jesus
Cristo Libertador em Sojourners 11 (Maio 1982), 36-37.
7
Ver Conn e Sturz, Teologia da
Libertação, 92.
8
Croatto, Hermenêutica Bíblica,
37-38. Outra obra mais recente na mesma direção é Philip R. Davies, In Search of "Ancient
Israel," em Journal for the Study of the Old
Testament, Supplement Series 148 (Sheffield:
JSOT, 1992).
9
Croatto, Hermenêutica Bíblica,
43.
10 Ibid., 65.
11 Ibid., 65-66.
12
Ver a análise de Conn e Sturz, Teologia
da Libertação, 91.
13 Praxis, do grego pra/ssw, significa fazer, agir, praticar ou
exercitar um arte, uma ciência ou uma habilidade. Na teologia da libertação, o
termo é usado para o engajamento sócio-politico da igreja em favor dos pobres e
oprimidos.
14
Apenas como exemplo, nas notas referentes ao capítulo sobre hermenêutica, Boff
refere-se a diversas obras sobre o assunto, especialmente a G. Stachel, R.
Marle, H. Cazelles, F. Ferré, W. Kasper, R. Bultmann (Glauben und Verstehen),
J. Moltmann, L. Wittgenstein (Tractatus Logico-Philosophicus), H. D.
Bastian e Hans Gadamer (Truth and Method). Boff parece ter sido
influenciado especialmente por Moltmann, Bultmann, Wittgenstein e Gadamer. A
influência de Gadamer pode ter sido mais indireta, através do irmão de Boff,
Clodovis, que publicou o mais competente tratamento da metodologia teológica escrita
por um latino-americano. Nesta obra ele usa extensivamente as idéias de
pensadores como Bachelard, Bourdier, Gadamer, Habermas, Ricouer, Piaget, e
Foucault, bem como dos principais teólogos modernos (Phillip Berryman, Liberation Theology: Essential Facts
about the Revolutionary Movement in Latin America and Beyond [Nova York: Pantheon Books, 1987],
81). Ver ainda Conn e Sturz, Teologia
da Libertação, 90.
15
Michael L. Cook, "Jesus from the Other Side of History: Christology in
Latin America," Theological
Studies 44 (1983), 258-287.
Ver p. 269.
16 Ibid., 270. Ver também as críticas de Robert
Kress, "Theological Method: Praxis and Liberation," Communio 6 (1979), 132. Defendendo Boff, Ferm
responde que tais críticas não se justificam, desde que Boff deixa clara sua
discordância de pensadores europeus. "A teologia da libertação não é
indivisível, mas rica e variada" (Deane W. Ferm, Third World Liberation Theologies -
An Introductory Survey [New
York: Orbis Books, 1986] 44). Entretanto, apesar de discordar dos europeus,
Boff utiliza-se profusamente do que produziram.
17
Boff nega que a teologia da libertação tenha como mentores Bultmann ou Marx
(Leonardo Boff e Clodovis Boff, Liberation
Theology: From Confrontation to Dialogue (San
Francisco: Harper & Row, 1986), 19-20. Apesar disso, a influência do
pensamento desses dois está indiscutivelmente estampada nessa obra de Boff.
18
Apesar de Boff reconhecer a realidade e a influência de compromissos básicos
para uma compreensão da pessoa de Jesus, ele parece acreditar ingenuamente que
existe neutralidade e objetividade no campo da ciência. Para uma breve
discussão do caráter subjetivo do método histórico-crítico, ver Vern S.
Poythress, Science and
Hermeneutics, Foundations of
Contemporary Interpretation, vol.6; ed. Moisés Silva (Grand Rapids: Zondervan,
1988), especialmente pp.18-20.
19
Sua obra clássica é Verdade e
Método: Traços Fundamentais de uma Hermenêutica Filosófica (Petrópolis: Vozes, 1997), original
alemão 1986.
20
Eric D. Hirsch, Validity in
Interpretation (New Haven:
Yale University Press, 1967).
21
Ver por exemplo o artigo de Oscar A. Campos, "Gadamer: Subjectivismo y
Relativismo en la Hermeneutica," Vox
Scripturae 8:1 (1998), 73-93.
Sua conclusão de que Gadamer não é subjetivista nem relativista, na minha
opinião, não ficou devidamente provada no artigo.
22
Segundo Joel C. Weinsheimer, Gadamer chegou ao ponto de sugerir que a verdade
na interpretação é questão de gosto pessoal (Gadamer´s Hermeneutics: A
Reading of Truth and Method [New
Haven: Yale University Press, 1985], 111).
23
A definição de círculo hermenêutico adotada por Boff segue a conceituação
clássica de Juan Luís Segundo, em The
Liberation of Theology (Dublin:
Gill and MacMillan, 1977), 8.
24
Berryman, Liberation Theology, 60-62.
25
Frances Young, resenha de Jesus
Cristo Libertador, em Theology 84 (1981), 57-59.
26
Croatto, Hermenêutica Bíblica,
47ss.
27
Ver J. Severino Croatto, Exodus:
A Hermeneutics of Freedom (Maryknoll:
Orbis Books, 1981), 14-15 e 81-82.
28
Essa crítica é feita a Croatto por M. Daniel Carroll, "God and His People
in the Nations’ History: A Contextualised Reading of Amos 1-2," Tyndalle Bulletin 47/1 (1996), 48-49. Ver também a seção
sobre teologia da libertação latino-americana na obra de Anthony Thiselton, New Horizons in Hermeneutics: The
Theory and Practice of Transforming Biblical Reading (Grand Rapids: Zondervan, 1992),
313-557, 587-90, 602-19.
29
Esse ponto merece mais atenção do que pode receber neste artigo. Basta
notarmos, no momento, que Boff adota o pensamento de que o Cristo cósmico está
encarnado na história, sociedade e estrutura humanas e, portanto, está presente
em todas as formas de religião (Leonardo Boff, New Evangelization: Good News to
the Poor [Nova York: Orbis
Books, 1991], 71-72).
30
Esta é a crítica de J. Emmette Weir, em "The Bible and Marx: A Discussion
of the Hermeneutics of Liberation Theology," Scottish Journal of Theology 35 (1982), 337-350. Ver p. 347.
31
Para a relação entre a alegorese e as novas hermenêuticas, ver
Joseph W. Trigg, Biblical
Interpretation, Message of the Fathers of the Church 9 (Wilmington, DE: M. Glazier, 1988),
50-55; John Rogerson et al., The
Study and Use of the Bible, The
History of Christian Theology 2
(Basingstoke e Grand Rapids: Marshall Pickering e Eerdmans, 1988), 389-91.
32
Ver Leonardo Boff, Jesus
Christ Liberator: A Critical Christology for Our Time (Nova York: Orbis Books, 1978), 265.
Nessa edição inglesa do livro de Boff foi acrescentado material que não aparece
no original português.
33 Ibid., 266.
34
Leonardo Boff e Clodovis Boff, Salvation
and Liberation: In search of a Balance between Faith and Politics (Nova York: Orbis Books; Melbourne,
Austrália: Dove Communications, 1984), 8-9, também pp. 50-55.
35
Boff, Jesus Cristo Libertador, 272.
36 Ibid., 267.
37
Ver Leonardo Boff, Liberating
Grace (Nova York: Orbis
Books, 1979), 79.
38
Ver sua apologia veemente em Leonardo Boff e Clodovis Boff, Liberation Theology: From
Confrontation to Dialogue (San
Francisco: Harper & Row, 1986), 48-49; 65-72.
39
Ver Walter C. Kaiser, Jr. e Moisés Silva, An
Introduction to Biblical Hermeneutics: The Search for Meaning (Grand Rapids: Zondervan, 1994), 234.
40 Ibid., 246.
41
Berryman, Liberation Theology,
60-62.
42
Boff, Jesus Christ Liberator,
267. Aqui se percebe nitidamente a influência de Moltmann: "Ler a Bíblia
com os olhos do pobre é algo diferente de lê-la com o estômago cheio"
(Jürgen Moltmann, The Church
in the Power of the Spirit[Londres: SCM Press, 1978], 17).
43
R. Bultmann, Essays
Theological and Philosophical (Londres
e Nova York: SCM Press e Macmillan, 1955), 234-261. Ver a análise de Anthony
Thiselton do ensino de Bultmann sobre pré-conhecimento ou pressupostos em The Two Horizons: New Testament
Hermeneutics and Philosophical Description with Special Reference to Heidegger,
Bultmann, Gadamer, and Wittgenstein (Grand
Rapids: Eerdmans, 1980), 236-239.
44
John Goldingay, "Marx and the Bible: The Hermeneutics of Liberation
Theology," Horizons in
Biblical Interpretation 4
(1982), 133-161. Ver especialmente pp. 133-4.
45
Steve G. Mackie, "Praxis as the Context for Interpretation: A Study of
Latin American Liberation Theology," Journal
of Theology of South Africa 24
(1978), 31-45. Ver pp. 40-41.
46 Ibid., 32-33.
47
Miroslav Volf, "Doing and Interpreting: An Examination of the Relationship
Between Theory and Practice in Latin America Liberation Theology," Themelios 8:3 (1983), 11-12.
48 Ibid., 13.
49 Ibid., 14.
50
Frances Young, resenha de Jesus
Christ Liberator, em Theology 84 (1981), 57-59.
51
Thomas Fingers, resenha de Jesus
Christ Liberator, em Sojourners 11 (Maio 1982), 36-37.
52
David Peterson, resenha de Jesus
Christ Liberator, em The Reformed Theological
Review 39:2 (1980), 49.
53 Ibid.
54
Young, resenha, 57-59.
55
Ver Cornelius Van Til, Doctrine
of Scripture (Nutley, NJ:
Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1967), 13.
56
Confira os argumentos de Cornelius Van Til, "My Credo," em Jerusalem and Athens, ed. E. R.
Geehan (Nutley, NJ: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1971), 3.
57
Cornelius Van Til, An
Introduction to Systematic Theology (Nutley,
NJ: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1974), 133-135.
58
Citado por James M. Robinson, no prefácio da obra de Albert Schweitzer, The Quest of the Historical Jesus (Nova York: Macmillan, 1968), p.xvii.
59
Ver a análise de Moisés Silva, Has
the Church Misread the Bible? Foundations
of Contemporary Interpretation, vol. 1, ed. Moisés Silva (Grand Rapids:
Zondervan: 1987), 111-118.
60 Númenos, na filosofia de Kant,
são "as coisas em si mesmas", que não podem ser classificadas de
acordo com o conhecimento humano. São as coisas que essencialmente escapam ao
conhecimento humano, em contraste com fenômenos,
aquelas coisas que são aparentes à consciência humana e objeto da experiência
humana. O númeno,
entretanto, mesmo não sendo perceptível ao conhecimento e à experiência humana,
está por detrás das coisas que aparecem (fenômenos), e é a base da
realidade.
61
Ver sobre isso C. Van Til, Christian
Theory of Knowledge (Nutley,
NJ: Presbyterian and Reformed Publishing Co., 1969), 32.
62
Van Til, An
Introduction to Systematic Theology, 24-26.
63 Ibid., 13.
Por: Augustus Nicodemus Lopes
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OS SOCIALISTAS, COMUNISTAS E NIILISTAS SÃO UMA PESTE MORTAL ... Subprodutos: Teologia(Heresia) da Libertação-TL, ditadura do relativismo, neo ateísmo, igualitarismo, aborto, uniões gays, marchas das vadias, fêmen...
Todos os S. Padres desde Pio IX, em 1846, após se certificarem das doutrinas dos socialistas e comunistas de caráter revolucionárias, atéias e marxistas e de pretensos ideais igualitaristas políticos, sociais e até religiosos com homens de todas as religiões, projetaram as mais veementes rejeições e condenações por anti cristianismo, massificação compulsiva e alienação de conteúdo, e complementando o enunciado acima que é do S Padre Leão XIII: ...QUE SE INTRODUZEM COMO A SERPENTE POR ENTRE AS ARTICULAÇÕES MAIS ÍNTIMAS DOS MEMBROS DA SOCIEDADE HUMANA, E A COLOCA NUM PERIGO EXTREMO - Encicl. "Quod Apostolici Muneris".
Assim, sequencial e unanimemente, incluindo-se o S Padre Bento XVI, reitera-o sobre esse mal que nos avizinha, com a sedutora dialética de supostos propósitos humanitários e fraternais em meio a uma diversidade conflitante; em termos, muito cativantes, no entanto, uma infernal cilada; Encicl. "Libertatis Nuntius".
Note-se que nos países onde se instalam, por suposta igualdade e fraternidade praticam toda e qualquer atrocidade para alcançarem seus objetivos de poder opressor, materialista e ateu - os países-prisões como Cuba, Coréia do Norte etc.- os exemplos, e eles orientam-se sob os "10 mandamentos de Stálin", veja-os na net - nos quais se pautam para agir e alcançar as metas: "todos os meios justificam os fins" e "mentir", à consecução dos ideais revolucionários e de poder é "virtude" a se imitar; tinham tempos atrás mais de 100.000.000 de mortos e o número é crescente sempre ao apoderarem do poder; na China, por ex., além de nenhuns direitos individuais, há seguidas denúncias até de macabras indústrias de fetos dessecados, provenientes de abortos, dos quais é mais ativa do mundo, com as bênçãos de seitas diversas cristãs e da Igreja Católica Patriota Chinesa, versão apóstata da Igreja Católica A. Romana
Os candidatos e partidos socialistas e comunistas são arquiinimigos da Igreja Católica - idem a herética Teologia da Libertação-TL e asseclas, como o Boff, Betto, Susin, Libanio, etc., - por ela os hostilizar por paganizar o mundo; aliás, seus membros apresentando-se como católicos, indo às Eucaristias e até comungando(!) será apenas para angariar votos; também: de acordo com a pressão popular ou conveniência de momento da ideologia socialista mudam de posição; entre eles o "mentir" é virtude e "todos os meios justificam os fins".
Já o S Padre Pio XII, proferiu a seguinte sentença: "DESSE MODO, TODOS OS CATÓLICOS QUE PRESTAREM FAVORES OU SE FILIAREM A PARTIDOS SOCIALISTAS-COMUNISTAS, ESCREVEREM LIVROS FILO-COMUNISTAS OU REVISTAS ESTÃO EXCLUÍDOS DOS SACRAMENTOS; OS QUE DEFENDEREM, PROPAGAREM OU DECLARAREM O MATERIALISMO DOS COMUNISTAS ESTÃO EXCOMUNGADOS AUTOMATICAMENTE." Votar, por ex., é apoiar, defender, propagar, etc. Encíclica " Noscitis et Nobiscum ", de 1849.
Todas as duras condenações e mais reservam-se a católicos desobedientes à Igreja, eleitores de candidatos e de partidos socialistas e comunistas defensores de aborto, pedofilia, uniões gays, indistinção sexual, etc. e que, além dos pecados pessoais e de traição à Igreja, responderão ainda por se associarem ao corpo místico de Satanás, apostasiando-se; aliás, Karl Marx, grande líder comunista, era satanista.
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