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Iniciado "processo de beatificação da princesa Isabel do Brasil," a redentora católica!

Written By Beraká - o blog da família on quinta-feira, 1 de dezembro de 2011 | 12:25





O arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, recebeu ontem, dia 19 de outubro, o pedido formal de abertura do processo de bem-aventurança e beatificação da princesa Isabel.O Prof. Hermes Rodrigues Nery, acompanhado de seu filho, João Victor, 12 anos, entregou-lhe uma carta formalizando o pedido, e apresentou os argumentos e justificativas para a abertura do processo. No encontro, esteve presente o príncipe Dom Antonio João de Órleans e Bragança, da casa Imperial do Brasil.Dom Orani explicou que como primeira providência deverá ir até a Arquidiocese de Paris, dado que a princesa Isabel faleceu na França, em 14 de novembro de 1921. Feito isso, será constituída uma Comissão para o início dos estudos e pesquisas, sob a supervisão do beneditino Dom Roberto Lopes.A carta com o pedido foi assinada pelo prof. Hermes Rodrigues Nery, coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida e Movimento Legislação e Vida, da Diocese de Taubaté, e Mariângela Consoli de Oliveira, secretária-Executiva da Associação Nacional pró-Vida e Pró-Família, com sede em Brasília (DF).














Leia com exclusividade a carta entregue a Dom Orani, escrita ao som da “Alma Redemptoris Mater“, de Palestrina.





São Bento do Sapucaí, 19 de outubro de 2011





À Vossa Excelência Reverendíssima




DOM ORANI JOÃO TEMPESTA - DD. Arcebispo da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro






“Mas meu coração é o mesmo para amar minha pátria e todos aqueles que nos são tão dedicados” - (Princesa Isabel do Brasil, durante o exílio).













Com efusiva alegria lhe escrevemos, agradecendo desde já a acolhida, neste dia em que a Igreja celebra a festa de São Pedro de Alcântara (+ 1572), para solicitar-lhe de modo muito especial a abertura do "processo que permita declarar serva de Deus a Princesa Isabel do Brasil" (1846-1921), para posteriormente alcançar a sua beatificação. Seu exemplo de vida, que exigiu coerência e coragem em momento decisivo da nossa história, especialmente no difícil campo político, pode servir de referência aos que hoje sentem-se tentados ao desânimo, ao ceticismo e ao indiferentismo, ou pior ainda, aos que não se empenham mais aos sacrifícios necessários no exercício de funções públicas, tendo em vista o verdadeiro bem comum. Preparada desde cedo para ser rainha do Brasil, quis a Providência que exercesse a Regência por três p eríodos, e como governante mulher, zelosa de suas prerrogativas e deveres, empenhou-se vivamente para liquidar de vez no Brasil, a ignominiosa escravidão. Ao assinar a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, seu nome fulgurou glorioso na história nacional. Testemunharam os que conviveram com ela, o vigor límpido de seu caráter, seu autêntico patriotismo, a sensibilidade na busca de soluções efetivas que dessem ao Brasil condições a um desenvolvimento social pautado nos princípios e valores do humanismo integral, para corrigir distorções e abusos que atentassem contra a dignidade da pessoa humana, refletindo em ações concretas o que Leão XIII imprimiria em sua memorável Rerum Novarum. Quando as circunstâncias exigiram dela uma tomada de posição, ousou correr riscos em defesa dos fragilizados, decidindo em favor daqueles que mais necessitavam um olhar compassivo, tomando decisões que refletiram um desejo sincero e profundo de melhoria conjuntural para viabilizar um panorama social brasileiro menos perverso. “Carinhosa ao extremo, devotada à família, ela q ueria que todas as mães sentissem a ventura de se verem livres para melhor se dedicarem aos seus entes queridos. Vibrava nela, de modo intenso, o sentimento da solidariedade cristã”1 Nesse sentido, teve percepção do momento histórico em que viveu e não protelou os encaminhamentos necessários, agindo com firmeza, enfrentando resistências e dissabores, sem deixar de ser fiel às suas convicções humaníssimas e cristãs, ciente de que “todo cristão, no curso de sua vida, deve fazer frente a situações que exigem opções fundamentais, que comprometem até o fundo a sua caridade para com Deus e para com os homens, oferecendo-lhe, assim, a oportunidade de praticar a virtude de modo heroico”.2















No momento em que se viu com o destino da Nação em suas mãos, não recuou diante das dificuldades. A hora requeria muito mais que discursos em tribuna, mas a energia e a coragem para o bem. No tocante à abolição, “a herdeira do trono não era uma mulher só de palavras. Organizava festividades com o intuito de angariar fundos para diversos grupos abolicionistas – ela mesma contribuía financeiramente – possuía papel de destaque na Comissão Libertadora, protegia escravos fugitivos e apoiava quilombos abolicionistas, no que era apoiada por seu marido, o Conde d’Eu.”3 Enquanto muitos dissimulavam e evitavam as questões incômodas, ela olhou de frente e decidiu para o bem de todos. Não apenas na questão magn a de sua vida – a emancipação dos escravos – mas também nos fatos corriqueiros do cotidiano, expressava uma dulcíssima benevolência, marcante de sua personalidade de temperamento forte, mas magnânimo, com uma “ternura mesclada à bondade sem limites e capaz dos mais assinalados sacrifícios”.4 Tinha consciência de que a sua condição de herdeira do trono brasileiro (cujo sangue descendia do cristianíssimo São Luiz), a levava a procurar na sobriedade e na generosidade um exemplo de conduta digna dos valores da sua fé cristalina. Machado de Assis ao descrever numa crônica publicada noDiário do Rio de Janeiro a sua festa de casamento, observou: “Uma das coisas que fez mais efeito nesta solenidade foi a extrema simplicidade com que trajava a noiva imperial”.Da Princesa Isabel, conta-nos um de seus principais biógrafos: Ela “herdou do avô nítidos traços do seu temperamento, em que se condicionam a maneira forte de querer, a liberalidade dos sentimentos e o gênio voluntarioso. Sua impetuosidade e a desenvoltura dos gestos corajosos e enérgicos, são ainda atributos que lhe vieram do avô, como do avô era a sua natureza comunicativa, alegre, expansiva, donde o seu gosto pelas festas, pelas reuniões cheias de vozes e movimento. Bem educada e instruída, coisas que faltaram ao avô, era correta nos seus modos convenientes, geridos por seu alto senso de moralidade. Destemida, tinha ela a coragem e mesmo o desassombro de colocar, sem subterfúgios, o que aprazia os seus sentimentos acima dos preconceitos da época. Daí ter, certa feita, religiosa que era, chegado a ajudar suas criadas na lavagem de uma igreja, vassoura em punho, sem se lhe dar com a estranheza que isto causara em muitas pessoas, inclusive nos meios políticos. Franca e leal para consigo mesma, jamais faltara aos seus compromissos morais e sociais. Caracterizava-a, distintamente, a firmeza de convicção e a indomabilidade que sempre pusera à prova, quando se decidia por alguma coisa, e de que são exemplos frisantes a preferência dada ao médico francês que a assistiu nos seus partos e a sua sanção à lei que aboliu a escravidão no país.”E acrescenta: “A princesa tivera uma infância bem cuidada: (…) A religião lhe penetrara o espírito e lhe abrira as portas amplas de um mundo de meditações utilíssimas, notadamente para a vida de uma mulher de sua condição, do seu porte, do seu gênio impulsivo, de sua voluntariosidade. De caráter firme e impoluto, animada que sempre fora de um sentimento de dignidade incorruptível, jamais abandonaria ela os hábitos e os exemplos da infância e da mocidade, fruídos no sadio e austero ambiente paterno, de tanta respeitabilidade e tão em harmonia com o seu feitio religioso, aprimorador de sua moral. De tal sorte lhe foi atuante e benéfica a educação recebida que, ao formar o seu lar, timbrara em prosseguir nos mesmos passos palmilhados na infância, tratando a todos com doçura e afabilidade. Não tinha, como a Imperatriz ta mbém não tinha, nem protegidas nem validas. Diz Heitor Lyra: ‘Se cultivavam um círculo restrito de amigas, com as que têm aliás todo o mundo, de uma forma meramente pessoal e privada, não lhes faziam , mesmo a estas, outras concessões que não fossem a de um puro sentimento de amizade franca e desinteressada, de parte a parte, que se refletia apenas no círculo caseiro do Palácio, sem nenhum alcance lá fora, na política ou na administração, mesmo nas dependências do Paço’. Foi virtuosa por índole e convicção. E como o avô, possuía uma qualidade admirável: não guardava rancor de pessoa alguma. Foram ambos, medularmente nobres”.7E ainda: “Do pai, por exemplo, herdara, a generosidade, a desambição, sobretudo o desapego ao dinheiro e aos bens materiais (…) Já a ânsia da caridade, o sonho de contribuir para a felicidade do próximo, a religiosidade, vieram-lhe da mãe, piedosa e mansa por excelência.”Como esposa e mãe deu exemplos admiráveis de fidelíssima amorosidade. Dedicada, sempre presente, preocupada com todos, com mais de cinquenta anos de sólida vida matrimonial na rocha da fidelidade aos princípios e valores cristãos. “Se formosa não era, possuía uma alma digna de ser muito amada”.9 Na véspera de suas núpcias, anotou: “Confessamos e comungamos, de manhã. Deus faça que sempre viva feliz com o meu amado Gaston, como espero e creio”.10 E foi, de fato, um casamento regado com afetuosidade mútua, correspondência volitiva, daquele respeito e até admiração que um nutria pelo outro, e de uma força unitiva especialmente nas horas mais difíceis de privação e provação, como vividas na guerra do Paraguai, e a injustiça do longo exílio, que a fez morrer distante do País que tanto amava e que tanto quis trabalhar pelo seu bem.Muita apreensão lhe causou a guerra do Paraguai, em que o despótico caudilho Solano Lopez desejava desposar uma das filhas de dom Pedro II. Com o agravamento da saúde de Luiz Alves de Lima e Silva, posteriormente Duque de Caixas, foi o Conde d’Eu chamado a ocupar o comando da guerra, na pior fase do conflito. “Ao faltar o esposo tudo lhe faltava, o abandono em que ficou foi doloroso”.11 (…) Tinha-se habituado tanto a viver junto a ele, sempre com ele e para ele, que a sua ausência mormente naquele transe, a desalentava”.12Mas o dever era um imperativo. “Ele, cioso da condição que o seu casamento imp unha e desejoso de ajudar o Brasil, não pensava senão em demandar o campo de batalha, à frente de nossas frentes militares”.13 Sofreu então Isabel a angústia de ver o marido partir para a guerra, quando tudo estava tão incerto. E o esposo aceitou com prontidão a difícil missão.A vitória brasileira, em março de 1870, confirmou o sentimento de dever cumprido, cabendo ressaltar que “nem de leve cogitamos de impor tributos de vitória a nenhuma povoação ou cidade tomada, nem recolhemos indenização alguma do Paraguai, numa inequívoca demonstração de que lutamos contra o algoz que nos afrontou e agrediu, e não contra o seu povo, digno de todo o respeito e admiração pelos sofrimentos que enfrentou.”14 Dignidade no comando reconhecida até pelos adversários. “Sob as galas da vitória, o regresso de Gastão de Órleans foi festejado com entusiasmo. (…) Feliz, imensamente feliz estava a princesa Isabel ao ter novamente o esposo ao lado.”15  Em uma de suas viagens empreendidas à Europa, com seu esposo, é significativo destacar seu encontro pessoal com Dom Bosco, em maio de 1880.Mas foi sem dúvida a abolição que a elevou em nossa história, porque sua atuação como governante foi decisiva para o êxito definitivo de uma causa que até hoje toca tão profundamente a alma do povo brasileiro.











“A princesa Isabel, que sabia do interesse que o seu pai nutria pela emancipação dos que viviam sob o guante da escravidão, a mourejar nas usinas e fazendas, secundava-o nas simpatias pela solução de tão grave problema social, vindo dos longes de nossa colonização. No fundo, talvez nem ela própria soubesse porque, possuindo um trono, mimada por todos desde o nascimento, e, pois, totalmente distante da dolorosa realidade escravista, condoía-se tanto por aqueles que não tinham sequer um travesseiro de sua propriedade sobre que pudessem descansar a cabeça para adormecer sob a exaustão do trabalho servil. Era entretanto a piedade cristã, que lhe falava alto ao coração; era a sua sensibilidade religiosa, que a fazia colocar os postulados da liberdade acima de todas as conveniências político-econômicas, e o ansei o de ver o Brasil elevado social e moralmente perante as nações isentas do escravismo. (…) E Isabel, comungando dos sentimentos do pai e do esposo, não se conformava com o regime escravocrata, razão porque não ocultava suas preferências pelo abolicionismo. Dessa posição advieram-lhe acerbas e injustas campanhas das áreas escravistas. Mas como recorda o cônego Manfredo Leite, (…) ‘é mister reconhecer que o manancial onde se lustrou toda essa perfeição moral de d. Isabel, e onde ela hauriu essas energias para as fecundidades da sua bondade e da sua generosidade, foi incontestavelmente a pureza dos princípios cristãos, aos quais tanto se afeiçoou e com os quais se identificou sua larga existência, ora calma e deslisando na amenidade, ora batida pelas tribulações e agitada pelos infortúnios, que põem sobre a sua fronte uns toques dessa beleza dos mártires’” 16 Em 300 anos, de 1550 a 1850 (quando foi promulgada a Lei Eusébio de Queiroz), “segundo a incontestada autoridade de Silvio Romero, nada menos de doze milhões de escravos africanos foram trazidos pelo tráfico às nossas plagas”17. O abolicionismo foi uma daquelas grandes idéias-força (lançada em 1758 pelo advogado baiano Manuel da Rocha), que tomam uma tal proporção, “que uma vez surgidas não param mais, no decurso do tempo, até sua conversão em ato”.18 Isabel foi quem tornou em ato essa grande idéia-força, que custava por se concretizar, devido a resistência dos que ainda queriam viver de um sistema sócio-econômico de cruel abuso de poder. Afinal, os traficantes enriquecidos exerciam muita influência e grandes proprietários fizeram de tudo para retardar o fim da escravidão. Temia-se inclusive a convulsão social, incitamentos e explosões de violência, pois Isabel não desejava repetir aqui os embates de uma guerra civil sangrenta, em episódios traumáticos como ocorreram nos Estados Unidos da América. Teve pouco tempo à frente do País, numa hora grave e decisiva, e teve de agir com sabedoria e determinação. A abolição era uma grande idéia-força que precisava ser concretizada sem derramamento de sangue. Este foi um dos desafios políticos do Segundo Reinado, por isso dom Pedro II estimulou o gradualismo do movimento abolicionista, e Isabel evitou postergar o que há muito já devia ter sido feito, e com sua precisão e coragem política soube fazer história. Pagou caro por isso, perdendo a coroa, que tanto havia se preparado para honrá-la, mas ganh ou mais do que isso: a glória de em vida ser chamada de Redentora, mesmo tendo que amargar um injustíssimo ostracismo, longe daqueles que tanto amava.Temia-se que a abolição da escravatura provocasse graves distúrbios, falência da produção cafeeira, desordem pública, etc. Mas contra tais argumentos, vozes patrióticas, como as de Joaquim Nabuco, entre outros, de excelso valor ético e cívico, se ergueram para demonstrar com fatos, que a abolição significaria a condição imprescindível para o progresso social brasileiro. Muitos abolicionistas eram vistos como idealistas. “A raça negra nos deu um povo!” Bradou a voz de Nabuco, ecoando por toda a Nação esta verdade incontestável. E acrescentou: “Ela construiu o nosso País!” No momento em que a Princesa Isabel assumiu o governo, sabia que não devia fraquejar diante daquela questão tão candente, que se arrastava por décadas, cuja solução era desejada por seu pai, o Imperador, mas que dependia de deliberação da Câmara e do Senado, e não era tão fácil assim decidir, porque a pressão contrária muito forte poderia colocar em risco sua própria vida e a da própria Monarquia brasileira. Com a sua decisão em cortar de vez aquele nó górdio que maculava o Brasil, “os republicanos entraram paralelamente em campo, dispostos a solapar o regime monárquico”.19 O barão de Cotegipe sugeriu à Regente “manter-se neutra, nessa questão, como a rainha Vitória”. 19 O que Isabel não aceitou, recordando assim, dessa forma, o que nos lembra a severa afirmativa de Dante Aleghieri: “Os lugares mais quentes do inferno são destinados aos que, em tempo de grandes crises, mantêm-se neutros.” Com um gabinete tão hostil, a demissão do ministério foi inevitável, “diante da firmeza da Regente”.20 E assim foi possível chegar ao 13 de maio festivo, em que por meio de uma subscrição popular foi oferecida à Princesa Isabel a pena de ouro para a assinatura da Lei da Abolição. “Isabel alegre, satisfeita, feliz, toma o barão de Cotegipe pelo braço, leva-o à janela de onde por vezes contemplava a praça, hoje 15 de novembro, e mostrando-lhe a multidão em delírio, pergunta-lhe a voz afável e doce: / – Então, sr. Barão. V. Excia. acha que foi acertada a adoção da lei que acabo de assinar? / Cotegipe, que podia iludir-se e exagerar, como se iludiu e exagerou nas calamitosas previsões do efeito dessa lei, mas que tinha muito de clarividente, fita-a com carinho e responde-lhe, profético: – Redimistes, sim, Alteza, uma raça; mas perdestes vosso trono…”21 Ela que também havia sancionado a Lei do Ventre Livre (em 28 de setembro de 1871, a histórica “sessão das flores”), no período de sua primeira regência, havia sido coroada com a glória da Lei Áurea, e, em seguida, com a proclamação da República, a sofrer o banimento no estrangeiro.“No exílio a que foi forçada e onde passou, impiedosamente, o resto da sua existência, que se prolongou por 32 anos sem poder rever sua terra e sua gente, experimentou ela, principalmente no começo, os mais rudes golpes que lhe alancearam o coração. Primeiro, o desaparecimento da mãe estremecida; logo a seguir o pai a quem verdadeiramente adorava. Pouco depois, a perda de todos os seus bens imóveis, transferidos sem remuneração alguma para o patrimônio nacional, exatamente quando mais necessitava de recursos financeiros em terras estranhas; quase três anos adiante, uma nova nota plangente era vibrada na pauta do seu destino: o duque de Nemours, seu sogro, falecia no mesmo apartamento do Hotel des Réservoirs, em Versalhes, onde o Imperador se hospedara antes. Paradoxalmente, porém, se a morte do duque enlutou a alma do casal d’Eu, o triste evento veio desafogar-lhe os dias carentes, terrivelmente críticos, tornando-os menos sombrios e até mais confortáveis. Isso porque , no ano seguinte ao do seu desaparecimento, passou ao conde d’Eu a plena posse da casa em que habitavam em Bolonhe-sur-Seine e pouco mais tarde, também a do histórico castelo d’Eu, onde passaram a residir pelo resto de suas vidas”.22Talvez nenhuma outra figura política brasileira viveu tanto tempo privada de seus direitos mais legítimos, pois a República lhe banira tudo. E a cada ano que passava no exterior e a idade avançava, apertava-lhe a dor da saudade, das manhãs luminosas do Corcovado, da sua cidade natal, cuja data de seu batismo coincidiu com o triste 15 de novembro, até despedir-se de vez deste mundo, muito próximo também a esta data, um dia antes, em 14 de novembro de 1921. Exílio muito penoso, porque foi uma viagem sem volta. Um desterro em condições muito humilhantes, que se prolongou até o final de sua vida. Mesmo o seu pai, que governou por durante por mais de 40 anos o Brasil, morreu como um hóspede num quarto de hotel, em Paris.“E o mais singular é que, à medida que o tempo ia passando, mais na princesa se acentuava este traço característico do pai: quanto maior era a saudade que a pungia, maiores eram o carinho e a dedicação que consagrava aos brasileiros. Possuída cada dia mais de uma grandeza de alma que se refletia na suavização cada vez maior do semblante , dir-se-ia ter passado a viver melhor quando se viu desenganada de reconquistar para ela, ou para o filho, o trono que lhe fora destinado ao nascer. Atingida, finalmente, a conformidade, que tanto lhe custou a aceitar, diariamente se encaminhava para a capela do seu castelo, e, joelhos no pequeno genuflexório colocado em frente ao altar, orava para que o Brasil fosse bem sucedido e Deus se servisse de guardar as instituições que o engrandecessem no futuro. Curiosa nobreza de sentimentos cívicos, que a fazia cada vez mais devotada à sua terra e sua gente”.23






Sobre como a princesa Isabel suportou a dureza de seu longo exílio, escreveu Assis Chateaubriand:





“Apagada a sua estrela política, depois de vencida a tormenta da abolição, ela não tinha a expressão dura, uma palavra amarga para julgar um fato ou um homem do Brasil. No mais secreto do seu coração, só lhe encontrávamos a indulgência e a bondade, e este espírito de conduta, esse desprendimento das paixões em que se viu envolvida, era a maior prova de fidelidade, no exílio, à pátria distante. Mais de trinta anos de separação forçada não macularam a alvura dessa tradição de tolerância, de anistia dos agravos do passado, que ela herdara do trono paterno.” 24Isabel sabia que “um rei cristão tem por função sobretudo (…) governar bem o seu reino, cuidar tanto de seu corpo físico como de seu corpo político e permanecer entre seus súditos”.25 Foi o que procurou fazer nos períodos de sua Regência, e daí a sua dor de não poder permanecer entre os seus, mas mesmo de longe, o seu olhar e o seu coração estavam voltados para o Brasil. No exílio, ela se portou com a dignidade de Imperatriz do Brasil, cujos sofrimentos a purificou, e em todos os momentos permaneceu solícita aos muitos brasileiros que a procuravam e a amavam













“A Princesa Isabel reinou, verdadeiramente, no exílio! Aí é que a sua realeza excede o principado político das regências que lhe couberam por motivo das viagens do Imperador à Europa. Ali é que ela surge diante da posteridade com o perfil de uma autêntica Rainha’. Razão por que, ‘todos os brasileiros, pretos e brancos, deveriam ter o culto dessa Rainha de doçura e de bondade. Eu abençoo os que a baniram, porque foi no exílio que ela deu toda a medida da majestade e da magnanimidade do seu coração. Ela viveu no desterro como símbolo da fraternidade, com afirmação da Pátria, acima dos partidos e dos regimes. Debaixo da sua meiguice, da sua adorável simplicidade, quanta fortaleza de caráter, quanto heroísmo, quantas obras valorosas!”26






Caríssimo Dom Orani,






Muito teríamos a dizer ainda sobre as virtudes santificadoras da Princesa Isabel, que merecem serem melhor estudadas e conhecidas, porque nesses 90 anos decorridos de sua morte, ao longo do século XX e começo deste século, as sombras ideológicas que dominaram o cenário cultural e político do Brasil tudo fizeram para encobrir o perfume e a luz desta vida radiosa em nossa história, e que hoje pensamos ser possível fazer justiça. Nesse sentido, solicitamos a Vossa Reverendíssima, a nomeação de um prelado da vossa Arquidiocese para ser o postulador desta causa, que certamente permitirá aos brasileiros conhecerem melhor e a amar mais aquela que muito fez pelo bem do nosso País. Não temos dúvida, de que o acesso aos documentos, às fontes históricas, revelarão uma vida edificante que muito motivará aos brasileiros e de modo especial aos fiéis católicos, a perseverarem na esperança de seguir o caminho de verdade e vida proposto por Nosso Senhor Jesus Cristo, via certa da salvação. E que a Virgem Maria Santíssima, Mãe de Deus e Rainha do Céu, interceda por esta causa, para o bem de todos.




Gratíssimos!





Prof. Hermes Rodrigues Nery - Coordenador da Comissão Diocesana em Defesa da Vida – Movimento Legislação e Vida - Diocese de Taubaté




Mariângela Consoli de Oliveira - Secretária-Executiva - Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família/Brasília – DF







PRINCESA ISABEL: "SUA CATOLICIDADE E A LEI DO VENTRE LIVRE" 











Artigo escrito por Sua Alteza Imperial e Real o Príncipe Dom Antonio de Orleans e Bragança, terceiro na linha de sucessão ao Trono e à Coroa do Brasil, e originalmente publicado no Caderno Especial “ArqRio História”, da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, em sua edição nº 4, referente à semana de 3 a 9 de outubro de 2021. 






No dia 28 de setembro de 1871, há precisamente 150 anos, a Princesa Isabel, Regente do Império na ausência de seu pai, o Imperador Dom Pedro II, assinou a Lei do Ventre Livre. A partir daquela data, seriam livres todas as crianças nascidas no Brasil, ainda que de mães escravas. Em outras palavras, em território brasileiro jamais nasceria um escravo. A importância dessa lei foi superada, na perspectiva histórica, pela Lei Áurea, que a Princesa Isabel assinaria 17 anos depois, a 13 de maio de 1888. 





Mas, de fato, a Lei do Ventre Livre já determinou um golpe mortal e irreversível ao nefando sistema escravista até então vigente no Brasil. A Princesa tinha 25 anos quando assinou a Lei do Ventre Livre, e 42 anos quando firmou a Lei Áurea.











Abolicionista de todo o coração, trabalhou com afinco pela aprovação de ambas as leis, chegando mesmo a inspirar e animar os experientes políticos da Assembleia Geral do Império nos momentos em que o desânimo, causado pelas longas e acaloradas discussões, superava o otimismo. 




Católica devota, ela muitas vezes punha-se a rezar, rogando a proteção divina para os que trabalhavam pela aprovação da lei. “Nobre, maternal e bondosa”, como a definiu Plínio Corrêa de Oliveira, pensador católico e monarquista do século XX, a Princesa conjugava em si todas as boas características de seus antecessores – Dona Maria I, Dom João VI, Dom Pedro I e Dom Pedro II – e também a Fé católica, e uma piedade profunda e autêntica recebidas, sobretudo, de sua mãe, a Imperatriz Dona Teresa Cristina. Pode-se mesmo dizer que a Princesa representou, na História do Brasil, o modelo de Soberana católica, pois estava de acordo com o pensamento sublimemente consignado pelo bem-aventurado Papa Pio IX em sua encíclica “Quanta Cura”: 






“Os Estados subsistem quando tomam por fundamento a Fé católica!”





É por isso que o falecido Padre Leme Lopes, S.J., com justiça referiu-se a ela como “Isabel, a Católica”, aplicando-lhe a mesma designação que a História conferiu à Rainha Isabel de Castela, que reconquistou Granada e, com suas joias, financiou a primeira viagem de Cristóvão Colombo ao Novo Mundo. 





A Igreja Católica teve também um papel preponderante no processo de abolição da escravatura, pois desde sempre reconheceu que o homem deveria ser naturalmente livre. 






Aos olhos de Deus, ensinou o Apóstolo Paulo, “não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher, todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3, 26-28). Nisso, o ensinamento da Igreja afastou-se da tradição clássica greco-romana, que afirmava ser a escravidão algo natural e inevitável.





Por outro lado, a Igreja sabia também que a escravidão – fruto do pecado e uma herança infeliz do paganismo – não poderia ser abolida precipitadamente e sem uma conveniente preparação dos espíritos. 






Uma abolição precipitada poderia causar muito mais malefícios do que benefícios, particularmente para os libertos. Há em nosso continente dois tristes exemplos de emancipações apressadas, que geraram verdadeiros monstros: o malogrado Haiti, com um terrível banho de sangue; e os Estados Unidos, com uma Guerra Civil fratricida, seguida por um século de segregação racial. 




Era necessário, pois, preparar o terreno lenta e gradualmente, mas com muita sabedoria e muita determinação, como foi feito no Brasil ! 





-Em 1850, a Lei Eusébio de Queirós proibiu o tráfico de negros vindos da África. 


-Em 1871, aprovou-se a Lei do Ventre Livre, objeto de estudo deste artigo. 


-E então, em 1885, a Lei dos Sexagenários concedeu liberdade aos escravos maiores de 60 anos. 





Somente com essas leis, ao cabo de algumas décadas, estaria completamente extinta a escravidão no Brasil. Mas a catolicidade e o senso de justiça da Princesa Isabel exigiam mais. Assim, no dia 13 de maio de 1888, quando era Regente pela terceira vez, ela assinou a Lei Áurea, libertando todos os escravos do Brasil, gesto pelo qual conscientemente sacrificou seu trono, mas pelo qual recebeu o título de glória de ‘A Redentora’. 






A Princesa não queria parar por aí. Ela queria mais!





Tinha um amplo projeto de, no Terceiro Reinado que sobreviria ao falecimento de Dom Pedro II, desenvolver um amplo projeto de inserção condigna dos ex-escravos na sociedade e na economia do Império. Foi com esse objetivo que ela, correspondendo-se com o piemontês São João Bosco, fundador dos salesianos e precursor do ensino profissionalizante, conseguiu trazer os salesianos para o Brasil. A Princesa esperava que os salesianos exercessem seu apostolado, sobretudo com os antigos escravos. Infelizmente, com a Proclamação da República, esse projeto foi abortado e os negros se viram esquecidos e abandonados pelo novo regime. As tristes consequências desse injusto abandono até hoje se fazem sentir. 





Essa foi a Princesa Isabel, de quem tenho a honra e a responsabilidade de ser bisneto e herdeiro dinástico. Acredito que ela recebeu de Deus Nosso Senhor o prêmio de sua vida exemplar e de suas boas ações. Acredito que ela, junto ao Trono de Deus e aos pés de Nossa Senhora Aparecida, está rezando pelo nosso Brasil, neste momento tão difícil e ao mesmo tempo tão decisivo da nossa História.





Dom Antonio de Orleans e Bragança






Bibliografia:




1. Hermes Vieira, Princesa Isabel – Uma Vida de Luzes e Sombras, p. 145, Edições GRD, São Paulo, 3ª edição, 1990


2. Tullo Goffi, Dicionário de Espiritualidade, Heroismo, p. 476; Paulus, 2ª edição, 1993.


3.http://www.casaruibarbosa.gov.br/dados/DOC/artigos/o-z/FCRB_EduardoSilva_Camelias_Leblon_abolicao_escravatura.pdf4.  Hermes Vieira,



4.Princesa Isabel – Uma Vida de Luzes e Sombras, p. 27, Edições GRD, São Paulo, 3ª edição, 1990.




5. Ib. p. 52.
6. Ib. p. 11.
7. Ib. p. 12.
8. Ibidem.
9. Ib. p. 69.
10. Ib. p. 42.
11. Ib. p. 75.
12. Ibidem.
13. Ib. p. 76.
14. Ib. p. 90.
15. Ib. p. 91.
16. Ib. p. 93.
17. Ib. p. 99.
18. Ib. p. 100.
19. Ib. p. 147.
20. Ib. p. 152.
21. Ibidem.
22. Ib. p. 161.
23. Ib. pp. 231-232.
24. Ib. p. 232.
25. Ibidem.

26. Jacques Le Goff, São Luis, p. 147, Ed. Record, 3ª edição, 2002.


27. Hermes Vieira, Princesa Isabel – Uma Vida de Luzes e Sombras, p. 233, Edições GRD, São Paulo, 3ª edição, 1990







Fonte: http://diasimdiatambem.com/2011/10/20/prologo-da-beatificacao-da-princesa-isabel/








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Anônimo
30 de julho de 2024 às 09:55

“A Princesa Isabel reinou, verdadeiramente, no exílio! Aí é que a sua realeza excede o principado político das regências que lhe couberam por motivo das viagens do Imperador à Europa. Ali é que ela surge diante da posteridade com o perfil de uma autêntica Rainha’. Razão por que, ‘todos os brasileiros, pretos e brancos, deveriam ter o culto dessa Rainha de doçura e de bondade. Eu abençoo os que a baniram, porque foi no exílio que ela deu toda a medida da majestade e da magnanimidade do seu coração. Ela viveu no desterro como símbolo da fraternidade, com afirmação da Pátria, acima dos partidos e dos regimes. Debaixo da sua meiguice, da sua adorável simplicidade, quanta fortaleza de caráter, quanto heroísmo, quantas obras valorosas!”

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CIDADÃO DO MUNDO, NORDESTINO COM ORGULHO, Brazil
Neste Apostolado APOLOGÉTICO (de defesa da fé, conforme 1 Ped.3,15) promovemos a “EVANGELIZAÇÃO ANÔNIMA", pois neste serviço somos apenas o Jumentinho que leva Jesus e sua verdade aos Povos. Portanto toda honra e Glória é para Ele.Cristo disse-nos:Eu sou o caminho, a verdade e a vida e “ NINGUEM” vem ao Pai senão por mim" (João14, 6).Defendemos as verdade da fé contra os erros que, de fato, são sempre contra Deus.Cristo não tinha opiniões, tinha a verdade, a qual confiou a sua Igreja, ( Coluna e sustentáculo da verdade – Conf. I Tim 3,15) que deve zelar por ela até que Ele volte(1Tim 6,14).Deus é amor, e quem ama corrige, e a verdade é um exercício da caridade. Este Deus adocicado, meloso, ingênuo, e sentimentalóide, é invenção dos homens tementes da verdade, não é o Deus revelado por seu filho: Jesus Cristo.Por fim: “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é nega-la” - ( Sto. Tomás de Aquino).Este apostolado tem interesse especial em Teologia, Política e Economia. A Economia e a Política são filhas da Filosofia que por sua vez é filha da Teologia que é a mãe de todas as ciências. “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao vosso nome dai glória...” (Salmo 115,1)

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