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(Ivanado Santos: terceiro da esquerda para a direita) |
Por *Ivanaldo
Santos
No final do século XIX e início do XX a sociedade
presenciou um movimento de mudança no campo das ideias. De um lado, havia uma
crítica as ideias metafísicas (Deus, realidade, homem, bem, justiça, etc) e, do
outro, um pragmatismo ético, em grande medida, guiado pela noção que os “fins
justificam os meios”. A consequência desse pragmatismo foram as ditaduras
socialistas, o terror representado pelo nazi-fascismo e a alienação oriunda do
liberalismo. Nesse momento havia uma ânsia pelo novo,
o novo a qualquer custo. Por causa disso, até mesmo o uso da palavra “deus”,
fora do contexto das religiões, era visto com pessimismo. Nem tudo é crítica
nesse momento. Trata-se de um momento histórico responsável, dentre outros
fatores, pelo desenvolvimento da filosofia analítica, pela pesquisa no campo da
linguagem, pelo desenvolvimento de novos modelos na lógica e na semântica.
Na segunda fase do século XX, viu-se que
a ânsia pelo novo havia esfriado, que havia um repensar da crítica a
metafísica. Já no final do século XX a ânsia pelo novo passava por um claro
momento de decadência e até mesmo de abandono. Chegamos as primeiras décadas do século
XXI e, ao contrário do século XX, é um momento marcado, dentre outros fatores,
pelo renascimento do sagrado, pela revalorização da liturgia, pelo retorno dos
problemas clássicos da filosofia e por um repensar ético, mais profundo, sobre
o ser humano. Esse retorno dos problemas clássicos e o
repensar ético está sendo chamado, até o presente momento, de “giro
ético-ontológico” da sociedade contemporânea, ou seja, os problemas que, por
razões diversas, o pensamento ocidental achava que estavam superados ou mortos
estão de volta à pauta das discussões. Problemas como, por exemplo, a
existência ou como encontrar a Deus? O sentido da realidade? O que é a justiça?
O que é ou como praticar a caridade? No entanto, esse retorno não é puramente
abstrato, distante dos problemas reais e do cotidiano do ser humano. Trata-se
de um retorno pautado num debate ético sobre a mais nobre missão do ser humano
na sociedade e como, o mesmo homem, fundamentado numa consciência ética, poderá
melhorar o seu próprio cotidiano, preservar a natureza e contribuir para o
desenvolvimento do planeta Terra e até mesmo do cosmo. É dentro desse contexto que a Igreja é
convocada para ajudar, incentivar e impulsionar o giro ético-ontológico da
sociedade contemporânea. Existem várias formas da Igreja se fazer presente,
viva dentro do atual renascimento dos problemas metafísicos e éticos. No entanto,
vamos apresentar apenas duas formas de participação.
1)-A primeira forma é a Igreja, por meio de
sua rede de universidades, centros de estudos, seminários, mosteiros e
conventos, poder incentivar e participar diretamente dos debates em torno do
giro ético-ontológico. Essa participação deverá ocorrer por meio do intercâmbio
da tradição da Igreja – da patrística, passando pelo Idade Média, até chegar a
sociedade contemporânea, alicerçada em nomes como, por exemplo, Santo Agostinho
e Santo Tomás de Aquino – com os dilemas, problemas, conflitos e desesperos do
mundo e do ser humano. A Igreja tem que ser portadora da mensagem ética,
incentivadora do debate sobre os temas metafísicos mais caros ao ser humano!
2)-A segunda forma é a Igreja ser voz de
moderação dentro do giro ético-ontológico. Ela precisa guiar o debate para evitar
os fanatismos, os exageros, a radicalização. O giro ético-ontológico precisa
ser guiado pelo "bom senso".
*Prof, Dr Ivanaldo Oliveira dos Santos Filho, mais
conhecido no meio acadêmico como Ivanaldo Santos, possui Graduação em Filosofia
pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1999), Especialização em
Metafísica pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2001), mestrado em
Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2002), doutorado
em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(2005), pós-doutorado em Estudos da Linguagem pela Universidade de São Paulo
(2011) e pós-doutorado em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (2016). Atualmente é professor adjunto IV da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Tem experiência na área de Estudos da
Linguagem, Linguística, Ensino e Educação, com ênfase em Filosofia da
Linguagem, Filosofia Analítica e Análise do Discurso, atuando principalmente
nos seguintes temas: Wittgenstein, jogos de linguagem, filosofia analítica,
Foucault, leitura, dialética, Platão, Nietzsche, Tomás de Aquino, (neo)tomismo,
filosofia contemporânea e análise cultural. É líder do Grupo de Estudos do
Discurso (GRED) da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, membro do GT
Filosofia da Linguagem da ANPOF, sócio fundador da Sociedade Brasileira de
Filosofia Analítica (SBFA), membro da Associação Brasileira de Linguística
(ABRALIN) e membro do Instituto Jacques Maritain do Brasil (IJMB), e colabora
também, com o nosso apostolado na coluna: Pensando e Repensando com Ivanaldo
Santos.
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