São partidos aparentemente diferentes, mas que nasceram na mesma escola. Um estado democrático
pode ter dezenas de partidos políticos, mas a alternância é quase sempre
bipartidária e segue os princípios básicos da dialética. No Brasil, segue as
rixas do alambrado. No Reino Unido, o Partido Conservador e Trabalhista se
revezam há décadas no Poder. Nos Estados Unidos, o racha está nas entranhas da
sociedade: ou a família é republicana, ou é democrática, ou quer pagar menos
impostos e acusa de “socializante” a iniciativa de tornar serviços essenciais
públicos, ou acredita em programas sociais e regulação da economia. Italianos
costumavam calcular seu racha com matemática pura: metade do país amava o papa,
metade queria enforcá-lo. A democracia-cristã se contrapunha ao PCI (Partido
Comunista Italiano). O cenário lembra muito o brasileiro atual que, com o
avanço da bancada do amém, nos divide entre defensores de um estado laico e
crentes. Lá como aqui, são mais de 30 partidos divididos em democratas-cristão,
comunistas, marxismo-leninismo, ecologistas, liberalismo, neofascismo,
trotskismo, sem contar a Usei (União Sulamericana de Emigrantes Italianos), que
representa a italianada de dupla-cidadania que vive no exterior. Quem manda lá
é o PD, herdeiro dos Comunistas, contra Força Itália, sob influência de um
morto-vivo, Silvio Berluscone. Mas precisam da aliança com o Cinco Estrelas
para governar, partido liderado pelo ex-palhaço Beppe Grillo. Como aqui
precisam do PMDB e de outros palhaços.PT votou contra
Tancredo em 1985 e desligou três deputados que votaram nele, José Eudes, Bete
Mendes e Airton Soares. Votou contra a Constituição em 1988 e o
Plano Real, grande marca do PSDB. Arrependeu-se, aprendeu a fazer alianças e passou
a governar o País. Na sala, tem um elefante imóvel, o PMDB, pesado
fardo da governabilidade, que por vezes se irrita e quebra a mobília, partido
que sempre anuncia que sairá por conta própria nas próximas eleições. A
irritação do elefante rendeu frutos: o PT votou com o PSDB na reforma política
(voto distrital misto), contra seu aliado PMDB, e apoiou o projeto do senador
José Serra (PSDB-SP), que aumentava o prazo de internação do Estatuto da
Criança e Adolescente.Muitos defendem que
PT e PSDB deveriam se unir e realizar uma colonoscopia para tirar pólipos da
política brasileira. Mas esta relação tem altos e baixos, como toda paixão mal
resolvida. Ambos nasceram das lousas da USP. Já dividiram técnicos: Francisco
Weffort, petista histórico, trabalhou em administrações tucanas, como o
economista João Sayad em administrações petistas.
Entre o partido do operário e do professor, que
combateram juntos a ditadura, já rolou churrasco com champanhe, como listou
Rodrigo Silva, do site Spotniks:
1)- PT e PSDB
ajudaram a construir a nova esquerda brasileira sob influência de Florestan
Fernandes. Serra e Sérgio Motta foram da AP, como Plínio de Arruda Sampaio,
Cristovam Buarque e Aloizio Mercadante. José Aníbal, amigo de adolescência de Dilma,
foi um dos fundadores do PT, antes de ser presidente do PSDB.
2)- Lula e FHC quase
criaram um partido no final da década de 1970. Conta Weffort: “Apesar das
muitas afinidades, prevaleceu a divergência. Daquele grupo, uns saíram para
criar o PT e outros, anos depois, o PSDB.” Para Eduardo Suplicy, que os reuniu,
um tinha dificuldade de aceitar a liderança do outro.
3)- Lula e Suplicy
dividiram a casa da praia de FHC em 1976 em Ubatuba.
4)- Pasmem !!! Lula
distribuiu santinho em portas de fábrica com FHC, apoiando sua candidatura ao
Senado em 1978.
5)- O PSDB com
Brizola apoiou Lula contra Collor no segundo turno das eleições para a
presidência de 1989. O tucano Pimenta da Veiga anunciou: “Tenho também a alegria de saber
que, pela primeira vez, aqui se reúnem representantes de todas as forças
progressistas do país. Eu estou certo que isso terá desdobramentos. Acho que
deve ser assim, porque o Brasil deseja mudanças em profundidade, e só essas
forças progressistas podem fazer essas mudanças.”
6)- Em 1993, antes do
plebiscito que decidiria sobre o sistema de governo do país, Lula
e FHC planejaram que o operário seria presidente e o sociólogo
primeiro-ministro.
7)- FHC ajudou a
tranquilizar o mercado na eleição de Lula em 2002. Enviou seu ministro-chefe da
Casa Civil, Pedro Parente, à Casa Branca, para avalizar o futuro governo
petista, instruiu seu ministro da Fazenda, Pedro Malan, a construir uma agenda
comum junto ao homem forte de Lula, Antonio Palocci, com o Tesouro dos Estados
Unidos, o FMI e Wall Street.FHC relatou: “Lula conversou comigo no dia da posse. E
foi bonita aquela posse… Na hora de ir embora, o Lula levou a mim e a Ruth até
o elevador. E aí ele grudou o rosto em mim, chorando. E disse: ‘Você deixa aqui
um amigo’. Foi sincero, não é?”
8)- Um tucano,
Henrique Meirelles, deputado federal do PSDB, foi o homem forte da economia do
governo Lula. FHC ironizou: “Eu também comemoro a melhoria na distribuição de
renda. A política dele é a minha.”
9)- Com Márcio Thomaz
Bastos, em encontros secretos em que estava Palocci, FHC jogou areia na
possibilidade de impeachment de Lula em 2005, no auge do escândalo do Mensalão.
10)- PT e PSDB se
coligaram em 999 disputas de prefeituras nas últimas eleições municipais. Em
149 casos, chapas que contaram com o PT foram encabeçadas por candidatos a
prefeito pelo PSDB.
Na Itália, o PD se
aliou a Berlusconi para a voz no Parlamento Europeu com uma grande coalizão
aumentar e falar grosso com a Alemanha. FHC tirou do forno a panela do
impeachment de Dilma e enfraqueceu o movimento. Nem tudo são flores... Mas os
dois partidos são pó do mesmo giz.
Por: Marcelo Rubens Paiva – Estadão
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