*Fr.
Marcos Sassatelli
Há poucos
dias, num Encontro, uma pessoa - que, por sinal, exerce um ministério de muita
responsabilidade na Igreja - estava fazendo algumas colocações sobre o novo ano
pastoral.
À pergunta, feita por um participante do Encontro,
sobre qual seria a posição da Igreja diante dos inúmeros assassinatos de jovens
que acontecem todo dia, o palestrante - demostrando falta de interesse pelo
assunto - respondeu:
"Fazer Notas (na imprensa) não adianta
nada, o que precisamos fazer é evangelizar”. Sem maiores comentários, continuou
suas colocações.
Muitos dos que estávamos presentes, ficamos
indignados com a afirmação. O palestrante demonstrou ter uma visão equivocada e
reducionista do que seja evangelizar.Evangelizar significa anunciar a Boa
Notícia do Reino de Deus - que é a Boa Nóticia de Jesus de Nazaré - e,
consequentemente, denunciar tudo aquilo que é contrário a essa Boa Notícia.
O anúncio e a denúncia (oral e/ou por
escrito) são partes integrantes, ou seja, constitutivas da Evangelização. Na
perspectiva do Evangelho, uma não pode existir sem a outra. Anunciar sem
denunciar é trair a Palavra de Deus.
O anúncio e a denúncia levam, pois, os seguidores e
seguidoras de Jesus a um compromisso radical com a Vida. "Eu vim para que
todos e todas tenham Vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). "Jesus,
tendo amado os seus discípulos que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo
13,1), ou seja, até não poder mais, até dar a Vida. "Ninguém tem maior
amor do que aquele que dá a Vida pelos amigos” (Jo 15,13).
Os cristãos e cristãs são chamados a ser no
mundo "profetas e profetisas da Vida” (Documento de Aparecida - DA, 471).
O nosso referencial é sempre a prática de Jesus.
Vejamos - por exemplo - como Jesus se comportou com os doutores da Lei e
fariseus, e com Herodes.
Jesus denuncia e condena a
hipocrisia religiosa dos doutores da Lei e fariseus:
"Ai de vocês, doutores da Lei e
fariseus, hipócritas! Vocês fecham o Reino do Céu para os homens. Nem vocês
entram, nem deixam entrar aqueles que desejam. Ai de vocês, doutores da Lei e
fariseus hipócritas! Vocês exploram as viúvas, roubam suas casas e, para
disfarçar, fazem longas orações. Por isso, vocês vão receber uma condenação
mais severa” (Mt 23, 13-14).
E a ladainha das maldições de
Jesus continua:
"Ai de vocês, guias cegos! (...) Cegos
insensatos! (...) Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus, hipócritas! Vocês
dão o dízimo da hortelã, da erva doce e do cominho, e deixam de lado os
ensinamentos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a
fidelidade. (...) Vocês coam um mosquito e engolem um camelo. Ai de vocês,
doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês limpam o copo e o prato por fora,
mas por dentro vocês estão cheios de ganância e cobiça. (...) Limpe primeiro o
copo e o prato por dentro, e assim o lado de fora também ficará limpo. Ai de
vocês, doutores da Lei e fariseus hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados:
bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão.
Assim também são vocês: por fora parecem justos diante dos outros, mas por
dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça” (ib. 16-28).
Com palavras ainda mais fortes,
Jesus denuncia:
"Serpentes,
raça de cobras venenosas (víboras)! Como é que vocês poderão escapar da
condenação do inferno?” (ib. 33).
Por que Jesus denunciou a
hipocrisia religiosa dos doutores da Lei e dos fariseus com palavras tão duras,
desrespeitosas e ofensivas?
De acordo com o palestrante acima citado, Jesus -
no lugar de fazer isso - não deveria ter "evangelizado” os doutores da Lei
e os fariseus?
A denúncia de Jesus não é uma advertência
para nós, que muitas vezes - como Igreja - silenciamos e nos omitimos diante
das injustiças, por covardia e medo de desrespeitar e ofender os poderosos e os
governantes? (No caso atual, o DESGOVERNO PTISTA) "A verdade vos
libertará!” (Jo 8,32).
Jesus vai até o fim. Diante das
reações que a sua atividade provoca, Ele não tem medo das autoridades:
Em
determinado momento, algumas pessoas se aproximam de Jesus e dizem: "Vá
embora daqui, porque Herodes quer te matar”. Jesus responde: "Vão dizer a
essa raposa: eu expulso demônios, e faço curas, hoje e amanhã, e no terceiro
dia terminarei o meu trabalho. Entretanto, preciso caminhar hoje, amanhã, e
depois de amanhã, porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém” (Lc
13, 31-33).
Por que Jesus chamou Herodes - uma "autoridade
constituída” - de "raposa”?. Não é um comportamento desrespeitoso e
ofensivo? Sempre de acordo com o palestrante acima citado, no lugar de fazer
isso, Jesus não deveria ter "evangelizado” Herodes?
Enfim, tenho certeza que se Jesus vivesse
hoje - na era das comunicações, da informática e, sobretudo, da internet -
faria suas denúncias não só oralmente, mas também por escrito, usando a mídia e
as redes sociais.
Sem hesitação e medo de ser instrumentalizado (como
costumam dizer as chamadas "pessoas prudentes”, que na realidade são
"pessoas covardes”), Jesus faria também Notas na imprensa, que -
contrariando mais uma vez a afirmação do palestrante acima citado - serviriam
muito e seriam certamente de grande valia para o cumprimento de sua missão.
A prática de Jesus sempre nos incomoda, nos
questiona e nos compromete. Que coragem Jesus demonstrou! Que firmeza e que
coerência Ele sempre teve! Quantos mártires, da América Latina e do mundo,
seguiram o seu exemplo! E nós?...
Estamos no tempo da Quaresma e vivendo a Campanha
da Fraternidade, que tem como tema "Fraternidade e Tráfico Humano” e como
lema "É para a Liberdade que Cristo nos Libertou” (Gl 5,1).
O Tráfico de Seres Humanos é atualmente um dos
maiores crimes da humanidade e um grande desafio para todos/as nós. Peçamos que
o Espírito Santo - o Amor de Deus - provoque uma verdadeira "revolução” na
nossa vida.
*Fr. Marcos Sassatellié frade dominicano, doutor em
Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP), professor aposentado de
Filosofia da UFG. E-mail: mpsassatelli@uol.com.br
Fonte: Adital
*Caso queira saber mais e participar de nosso apostolado, bem como agendar palestras e cursos em sua paróquia, cidade,pastoral, e ou movimento da Igreja, entre em contato conosco pelo e-mail:
filhodedeusshalom@gmail.com
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.