TORTAS DOCES (E DELICIOSAS) DE
MAÇÃS BICHADAS
Os catequistas têm, todos, o direito de ensinar. Todos têm o dever de opinar e, todos, o dever de corrigir ou aceitarem ser corrigidos. Defendi, uma vez, num artigo, o sacerdócio para mulheres. Dom Murilo Krieger, grande amigo de tantas horas, chamou-me a atenção, com o direito que tem um bispo de fazê-lo. Indicou-me o texto no qual João Paulo II pedia aos sacerdotes que deixassem este assunto para as autoridades. Imediatamente escrevi outro artigo pedindo desculpas à Igreja e dizendo que o Papa tinha mais direitos do que eu; eu voltava atrás em minha opinião. Quero pregar a Palavra de Deus e, por extensão, a da Igreja, mas não quero ensinar o que a Igreja não me autoriza a ensinar. Dias atrás atendi uma jovem em crise de baixa estima porque não conseguira realizar seu sonho de ser santa. Dizia que não dava tudo a Jesus! Perguntei o que ela entendia por “tudo”. Nunca soube de um santo que dera tudo a Deus. É impossível pelas próprias forças doar-nos tanto. Da sua conversa depreendi que estava impregnada do falso slogan: “Para Deus, ou tudo ou nada”! Perguntei-lhe se diante de grande e farta mesa com mais de 50 pratos, ela experimentaria todos e comeria de tudo, ou se, não podendo comer tudo e de tudo, não comeria nada... Riu-se. É claro que não experimentaria tudo, nem comeria tudo, mas comeria o que conseguisse digerir. Lembrei-lhe que a comunhão em Cristo não é diferente. Não temos capacidade moral, ética ou mental para experimentar todas as místicas e correntes de espiritualidade que a Igreja nos oferece. Ninguém conseguirá dar tudo a Jesus, e isso não significa que não deu nada! Nem os pais dão tudo aos filhos, nem as crianças dão tudo aos pais! Sugeri que trocasse o slogan que a norteava e que é bonito como marketing da fé, mas não se sustenta, pelo conceito do máximo possível dentro do mínimo admissível. Com graduação em pedagogia, ela imediatamente entendeu minha proposta. Pediu licença e escreveu no seu celular para twittar depois: Pensamento do Padre Zezinho scj: “Tentarei viver o máximo possível, dentro do mínimo admissível... Não buscarei mais a mística do ou tudo ou nada, porque nunca serei capaz de dar tudo a Deus. Mas poderei dar o meu máximo, que nunca será tudo!” Brinquei, dizendo que a anotação dela suportava 170 toques. Disse, ela com um sorriso: “Pois é...Se nem num twitter eu consigo dar tudo e tenho que fazê-lo por etapas, menos ainda na vida. Ficarei santa de pouquinho em pouquinho”. Tomemos cuidado com propostas radicais!
Francisco e Clara conseguiram chegar perto do tudo, mas, ainda assim, sofreram com seus limites. Nem Paulo, nem santo algum conseguiu dar tudo. Foram canonizados por terem chegado ao máximo possível! Não se contentaram com o nada, nem com o mínimo, mas traçaram a linha entre o mínimo tolerável e o máximo realizável. A frase de Paulo: “Posso tudo naquele que me dá forças”, está pontilhada desta psicologia.Estava dizendo que quem pode é Jesus! Já vi crianças atravessarem a correnteza forte de um rio. Conseguiram. Mas os pais estavam ao lado e as seguravam com cordas. Elas puderam porque os pais as sustentavam! Não foi tudo, mas também não foi nada. A santidade, que pode estar nos extremos, também pode estar no meio. Depende de aceitarmos nossos limites!
Já
comi tortas deliciosas feitas com as partes boas de maçãs bichadas!
Pe. Zezinho scj
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