COMENTÁRIO DO BLOG BERAKÁ: Se algumas ideologias
históricas, situadas no tempo (kyrós), se auto intitulam como a última etapa da
organização social (não porque realmente o são, mas simplesmente porque ainda não se ousou
ultrapassá-las com as naturais rupturas do processo filosófico). A
questão que se coloca é: por que este imediatismo de querer implantar estas
ideologias pela força, ou pelas armas? E não pela própria verdade Intrínseca? Desde as
relações primordiais dos homens com os deuses houve uma necessidade de se
conceituar a temporalidade e firmá-la como consequência dessa relação. Salvas
as devidas proporções, não foi diferente com a Teologia.Os aspectos
fundamentais da Teologia da História que nasce de um Deus, o Singular absoluto,
o Cristo, e a sua participação na História empírica que encontra uma sintonia
profunda na soteriologia vétero e neotestamentária. O problema é de se entender
de que forma um único sujeito pode ser a divisa para a História em sua
totalidade. O autor que se toma hoje como referência nessa discussão, é o pensamento
do teólogo Hans Urs von Balthasar em seu livro Teologia da História,
destacando-se a originalidade como é tratada a História no viés teológico.
No breve livro Somente o Amor é Digno de Crédito
(1963), o teólogo suíço
Hans Urs Von Balthasar explica a sua posição teológica no
contexto da história da teologia cristã. A teologia da idade patrística,
medieval e renascentista superou o caminho cosmológico, apresentando o
cristianismo como o cumprimento da interpretação do mundo a partir da
antiguidade. A teologia da época moderna operou uma mudança e a prática da via
antropológica: o cristianismo apresenta-se como a mais profunda interpretação do
homem. Mas, para Von
Balthasar, tanto a via cosmológica, quanto a via antropológica
são interpretações redutivas, uma vez que usam o cosmos e a existência humana
como critérios para justificativa do cristianismo, que , ao contrário, tem em
si mesmo e exibe por si só a sua justificativa.
A terceira via, a via
balthasariana,
é a via do amor: “Somente
o amor é digno de crédito”. Claro que o amor revelado em
Cristo, não este amor criado aos moldes dos gostos e preferências humanas. Hoje
em dia não há palavra mais desgastada que a palavra amor. Hoje, o amor significa "tô afim", significa apenas
desejo momentâneo e meramente genital. Os membros do Estado Islâmico dizem
que "amam" matar os infiéis, os drogados "amam"
as drogas, os defensores do casamento gay dizem que os gays podem se casar
porque "se amam". Os defensores da poligamia também querem se casar, porque se amam.
Daqui a pouco os defensores do incesto, da Zoofilia e da pedofilia dirão o
mesmo.
A palavra "amor" deveria sofrer
uma moratória, fosse apenas usada com o mesmo respeito que os judeus usam a
palavra Deus (no tetragrama YWHW). Eles têm medo de falar a palavra Deus, por
receio de usar a palavra em vão. Deveríamos
hoje também reverenciar a palavra AMOR, pois o mundo hoje "ama" os pecados e odeia as virtudes.
Na revelação cristã é
o amor absoluto de Deus, que, em Cristo por si só, vem ao encontro do homem,
Deus se auto apresenta em Cristo na glória de seu amor absoluto. Essa via
recebe o nome de Estética
Teológica, não no sentido de uma teologia estética, que mostra
como o cristianismo promove seu senso estético e as artes, mas em um sentido
mais forte seja subjetivo, seja objetivo. A fé cristã, no seu polo subjetivo, é
a percepção e visão da Forma (Gestalt),
como polo objetivo, que aparece na figura histórica do Cristo, como Verbo de
Deus feito homem, revelação da glória de Deus e da sua vontade universal de
salvar.
Deus não deu a
Abraão, nas palavras proferidas, o primeiro comando para acreditar. Isso que
perceberam como verdadeiro, era a verdade de uma ação de Deus nas suas
comparações de intervenções na história. Somente séculos mais tarde, talvez
essas ações se expressou em sua autenticidade, e por isso tornou-se credível. E
isso já não no sentido de “no início era a ação”, de Faust e Fichte, já que o drama
entre Deus e o homem é sempre já palavra-significado-lógos. Jamais, na história
da igreja, a referência a uma pluralidade de mistérios para acreditar satisfez
como resposta última: sempre se tem como alvo um ponto unitário em que se
encontre sua justificativa para o pedido de acreditar que é feito para o
homem.Um logos também de caráter e natureza particulares, mas, no entanto, tão
persuasivo, de fato tão esmagador e irresistível que, fugindo das “verdades históricas
contingentes”, confere-lhes caráter de necessidade. Sim, os milagres e as
profecias que se realizaram têm a sua parte (se bem que seu valor e seu poder
interpretativo parecem consideravelmente reduzidos a partir dos tempos da
crítica bíblica do iluminismo), mas o ponto de referência a que se referem
acha-se colocado além dele. A Patrística,
a Idade Média,
o Renascimento,
cujos epígonos chegaram até os dias de hoje, colocaram esse ponto sobre o plano
cósmico, enquadrando-o na história do universo; a era moderna, a partir do Iluminismo, ao
contrário, transferiu-o para um plano antropológico. Se a primeira tentativa
resulta limitada e confinada dentro dos limites do tempo e da história, a
segunda faliu como sistema: aquilo que Deus pretende dizer ao homem por
intermédio de Cristo não pode receber sistematização nem no mundo como um todo,
nem nos seres humanos, em particular; isso é absolutamente teológico, de fato,
melhor ainda, teopragmático: é ato de Deus nas comparações com o homem, ato que
se explica antes do homem e para ele (e, portanto, assim pode encontrar nele e
com ele a sua explicação). Desse ato deve ser dito que ele só é digno de crédito
apenas como amor:
queremos dizer o amor
próprio de Deus, cuja manifestação é a da glória de Deus. (Resenha
comentada da obra: "Teologia da História" de Hans Urs Von Balthasar)
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