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Os Teólogos que influenciaram na produção Teológica do Concílio Vaticano II

Written By Beraká - o blog da família on sábado, 18 de janeiro de 2020 | 13:10

(Peritos e Teólogos com o papa Paulo VI)




Temas comuns hoje como: 




-Sinais dos tempos 


-Igreja povo de Deus 


-Sacerdócio comum dos fiéis 


-Teologia do laicado 


-Diálogo ecuménico 


-Liberdade religiosa. 



Estes e outros temas, hoje comuns no catolicismo, devem-se a homens (e algumas mulheres) que criaram novos conceitos teológicos, elaboraram sínteses admiráveis, lutaram pelas suas convicções, por vezes com grande sofrimento. Foram esses teólogos os principais protagonistas do Concílio Vaticano II, que decorreu entre 1962 e 1965. Sem os seus nomes, a história da Igreja Católica nas últimas cinco décadas teria sido radicalmente diferente. 




Vale a pena, por isso, recordar alguns, que porventura nos soam mais familiares:




-Karl Rahner, 


-Yves Congar, 


-Marie-Dominique Chenu, 


-Henri de Lubac, 


-Jean Daniélou, 


-Edward Schillebeeckx, 


-Joseph Ratzinger, 


-Hans Küng, 


-Johann Baptist Metz, 


-Bernard Häring, 


-Hans Urs von Balthasar, entre outros(as).



Naquele tempo, a teologia era ainda, e sobretudo, europeia! Centrava-se em três escolas importantes:






1)- A escola dominicana de Saulchoir (na altura, próxima de Évry e, desde 1971, em Paris).


2)- Os jesuítas de Fourvière.


3)- E a Escola Alemã (de Tubinga, Münster e Munique, entre outros centros de investigação).




Era a "nouvelle théologie", assim chamada depreciativamente no início, com vários dos seus autores a serem marginalizados (ou mesmo forçados ao exílio). 







Mais tarde, esses mesmos autores seriam reabilitados, ao ponto de se tornarem protagonistas, enquanto peritos e redatores, de vários dos documentos centrais e de algumas das teses mais importantes do Concílio. Rosino Gibellini, autor de: A teologia do século XX (ed. Loyola, Brasil), recorda que, o pensamento conciliar deve muito a um artigo fundador de Yves Congar (1904-1995), intitulado: "Uma conclusão teológica para a Investigação sobre as Razões Atuais da Incredulidade", publicado em 1935 na revista La Vie Intellectuelle. O artigo seguia-se a um inquérito da mesma revista, publicado durante os dois anos anteriores, sobre as razões da descrença na sociedade francesa naquele tempo. No texto de Gibellini (acessível na internet, em http://www.ihu.unisinos.br/noticias/517231-o-papel-da-teologia-no-concilio-e-o-estatuto-os-teologos-e-teologas-hoje), o teólogo cita a ideia de fé desencarnada do dominicano de Saulchoir:A fé, por assim dizer, desencarnou-se, esvaziada do seu sangue humano. Para o teólogo (que mais tarde recusaria ser cardeal por ter que ser ordenado bispo, só aceitando o título no final da vida, quando João Paulo II o dispensou da ordenação episcopal), era necessária uma linguagem de encarnação da fé para superar o divórcio entre a Igreja e o mundo.Trinta anos antes do Concílio, esta era uma ideia percursora do mesmo. Essa preocupação ficaria aliás plasmada em documentos como a Gaudium et Spes, a Constituição sobre a Igreja no mundo atual. Ao refletir sobre o ateísmo, por exemplo, a GS propõe que uma das formas de contrariar esse fenómeno é a vida íntegra da Igreja e dos seus membros.Nas décadas anteriores ao Vaticano II, vários movimentos importantes, alguns deles vindos do século XIX, confluíram para um ambiente que tornou quase inevitável a convocação de um concílio que encetasse a reforma da Igreja.A catequese e a liturgia renovaram-se e ganharam novo impulso, tal como a missionariedade, vêm daí muitas das congregações missionárias, bem como a ideia da catequese alargada, primeiro às crianças e, depois, a todas as faixas etárias.O movimento bíblico dinamiza-se, através da utilização das várias ciências, abrindo caminho ao acesso de todos ao texto original, ao contrário da proibição que subsistira durante séculos; a ação pastoral e social da Igreja alargava-se, através de movimentos como a Ação Católica e a criação de instituições de solidariedade. A arte sacra procurava novas linguagens na arquitetura, pintura ou artes decorativas, que nos levassem na contemplação do belo aquilo que era essencial.




Uma germinação longa!





O Concílio teve uma germinação longa, diz frei Bento Domingues (cuja colaboração para a pesquisa para este texto foi fundamental). Em entrevista ao Mensageiro, o teólogo e frade dominicano recorda a ideia de Chenu:"A teologia do Vaticano II preparou-se com um agiornamento solidificado. Neste processo, a teologia teve também o seu papel, procurando reler as novas dinâmicas do catolicismo como motivação e consequência de uma nova forma de a Igreja se relacionar com o mundo. Mas este processo não foi linear. Muitos teólogos insistiam na repetição de fórmulas estafadas, de uma neoescolástica sem consequência, que Congar apelidava de  teologia barroca pelo superlativo da linguagem apenas na exterioridade."Durante anos, esta linha parecia ainda dominar. Mas sucessivamente, o aparecimento de diversas obras de alguns dos teólogos acima referidos, não isento de polémicas, foi lançando as bases da nova teologia. 



Algumas das obras significativas deste movimento foram:





1)- Verdadeira e falsa reforma na Igreja (1950) e Pontos chave para uma teologia do laicado (1953), ambas de Congar.



2)- "Meditações sobre a Igreja" (1953), de Henri de Lubac.



3)- "Ensaio sobre o mistério da história" (1953), de Daniélou.



4)- "Escritos sobre a Teologia" (1954), de Rahner.



5)- "Por Uma Teologia do Trabalho" (1955), de Chenu.



6)- "A Justificação" (1957), de Hans Küng, que abriu várias portas ao diálogo ecuménico.



7)- Também, as obras do jesuíta Teilhard de Chardin, que começaram a ser publicadas postumamente a partir de 1955, ainda envoltas na polémica que já se verificara durante a sua vida, contribuem, decisivamente, para a mudança de paradigma na relação da Igreja com o mundo.




Este movimento até mesmo pela natural e milenar prudência da Igreja, seria fortemente contrariado pela encíclica "Humani generis" do Papa Pio XII! 






O qual pretendia tratar das opiniões falsas que ameaçam a doutrina católica, como diz o próprio cabeçalho do documento. Embora afirmando que a fé católica era compatível com a ciência, condenava os erros daqueles que se deixavam influenciar por conjecturas opináveis das ciências positivas, que se opõem à doutrina que Deus revelou. 




No seu parágrafo 30, diz o texto papal:





“Qualquer verdade, que a mente humana procurando com retidão, descobre, não pode estar em contradição com outra verdade já alcançada, pois Deus, verdade suprema, criou e rege a humana inteligência, de tal modo que não opõe cada dia novas verdades às já adquiridas. Por esse motivo o cristão, seja filósofo, seja teólogo, não abraça apressada e levianamente qualquer novidade que no decurso do tempo se proponha, mas deve sopesá-la com suma diligência e submetê-la a justo exame a fim de que não venha a perder a verdade já adquirida ou a corrompa, com grave perigo em detrimento da mesma fé.”







Sinais dos tempos, lugares teológicos!










Apesar deste documento, logo depois da convocação do Concílio, em 1959, o Papa João XXIII chamou para as comissões de preparação ou como peritos teológicos da assembleia, vários dos teólogos que, até aí, tinham sido proscritos ou condenados. No início dos trabalhos conciliares, escreve Rosino Gibellini no texto já citado, havia 210 peritos; mas as atas do Concílio registam, no final da assembleia, um total de 480 nomes. E a estes devem acrescentar-se os nomes de 23 mulheres que, chamadas como auditoras pelo Papa Paulo VI, acabaram também por ter um papel decisivo em vários documentos, conforme se pode ler no livro: As 23 Mulheres do Concílio (ed. Paulinas).Um dos conceitos que foi introduzido pelos mentores da nova teologia foi o de sinais dos tempos. Retirada do evangelho, a expressão tornar-se-ia uma das chaves na convocação da assembleia conciliar e em vários dos seus documentos. Marie-Dominique Chenu (1895-1990) vira o seu livro Le Saulchoir: uma escola de teologia (1937) ser incluído no Index por traduzir uma nova teologia inclinada para o semi-modernismo, o relativismo e o subjetivismo, como criticava o teólogo Pietro Parente, no L’ Osservatore Romano.




Teólogos que fomentaram a reforma litúrgica




(Jackson Erpen - Cidade do Vaticano)




Um encontro realizado em 1909 em Malines, assinalou o início do movimento litúrgico no século XX, encontrando eco na Holanda, Bélgica, Itália e França. O movimento litúrgico foi particularmente ativo nos países de Língua alemã. No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar no programa de hoje sobre “os teólogos que fomentaram a reforma litúrgica.” Damos continuidade neste espaço a memória histórica ao tema da reforma litúrgica que encontrou sua expressão máxima com a Constituição Sacrosanctum Concilum do Concílio Vaticano II.











O objetivo desta reforma, era de que o texto e as cerimônias deveriam ser ordenadas de tal modo, que exprimissem mais claramente as coisas santas!

 




O que eles significam, e que o povo cristão pudesse compreendê-las facilmente, participando (não somente assistindo), à medida do possível,  plena e ativamente da celebração comunitária.O padre Gerson Schmidt, incardinado na arquidiocese de Porto Alegre, que tem nos acompanhado neste percurso dos documentos conciliares, nos fala sobre os teólogos que fomentaram a reforma litúrgica.





S.C. - Os sinais mais claros na reforma da liturgia:






A reforma litúrgica não se deu de um dia para outro, como se tivesse acontecido um Pentecostes tão somente no Concilio Vaticano II. Houve um tempo de longa preparação, motivados pelos movimentos de renovação litúrgica, pelos teólogos, liturgistas e também pelas reformas dos papas anteriores ao concilio: Pio X, Pio XI e Pio XII.Importante recordar o mérito do Papa Pio X, que na reforma da música sacra, no Motu Proprio tra le Sollectudini (1903) já defende o conceito de participação ativa dos fiéis. Lembramos que Pio X também introduziu as reformas do Breviário, promoveu a comunhão cotidiana e também antecipou a Primeira Eucaristia para as crianças. Se hoje as crianças de 9 anos em diante fazem a Primeira Comunhão, se deve a esse Papa Pio X o mérito de antecipar a eucaristia, através dos decretos Sacra Tridentina Synodus(1905) e Quam Singulari(1910).





Já o Papa Pio XI, na constituição apostólica Divinus Cultus sanctitatem (1928), pediu com mais vigor a participação ativa dos fiéis nos mistérios cristãos.  Nesse constituição apostólica Divinus Cultus, diz assim no número IX:







“A fim de que os fiéis tomem parte mais ativa no culto divino, restitua-se para o povo o uso do canto gregoriano, no que ao povo tocar. É necessário, na verdade, que os fiéis, não como estranhos ou mudos espectadores, mas verdadeiramente compreendedores e compenetrados da beleza da Liturgia, assistam às sagradas funções de tal modo que alternem a sua voz - segundo as devidas normas e instruções, mesmo em procissões e outros momentos solenes -, com a voz do sacerdote e a do coro. Porque, se isto felizmente suceder, não haverá já mais que lamentar esse triste espetáculo em que o povo nada responde, ou apenas responde com um murmúrio fraco e confuso às orações mais comuns expressas na língua litúrgica e até em língua vulgar”.




Pio XI ainda falou assim nesse documento:

 




“As disposições de Pio X se logrou a restauração das mais diletas formas de arte e o consolador reflorescimento do espírito religioso, já que o povo cristão, compenetrado por um mais profundo sentimento litúrgico, começou a tomar parte mais ativa no rito eucarístico, na oração pública e na salmodia”. Aqui o Papa Pio XI já reconhece uma maior participação do povo cristão na liturgia: “ (o povo) começou a tomar parte mais ativa no rito eucarístico, na oração pública e na salmodia”.





O movimento Litúrgico, como toda a renovação na Igreja, tinha seus oponentes!





Até hoje eles existem. Magna Charta que dá força ao Movimento Litúrgico é a encíclica Mediator Dei, de Pio XII (1939-1958), que vai dar ao movimento litúrgico um caráter eclesial, a partir do magistério ordinário. O Sumo Pontífice institui, em 1948, 15 anos antes do Concilio, uma comissão para a Reforma Litúrgica. 




Pio XII, em 1947, quase 20 anos antes do Concílio Vaticano II, dizia assim na Encíclica Mediator Dei, que falava sobre a Liturgia, no número 46:







“Em verdade, não poucas são as causas pelas quais se explica e desenvolve o progresso da sagrada liturgia durante a longa e gloriosa história da Igreja. Assim, por exemplo, uma formação mais certa e ampla da doutrina católica sobre a encarnação do Verbo de Deus, sobre os sacramentos, sobre o sacrifício eucarístico, e sobre a virgem Maria Mãe de Deus, contribuiu para a adoção de novos ritos, por meio dos quais a luz, mais esplendidamente brilhante na declaração do magistério eclesiástico, veio a refletir melhor e mais claramente nas ações litúrgicas para unir-se com maior facilidade à mente e ao coração do povo cristão”.






Também nesse encíclica, Pio XII já falava, por três vezes, da participação consciente dos fiéis na liturgia. Recordemos o número 73 dessa Encíclica Mediator Dei:







“É necessário, pois, veneráveis irmãos, que todos os fiéis tenham por seu principal dever e suma dignidade participar do santo sacrifício eucarístico, não com assistência passiva, negligente e distraída, mas com tal empenho e fervor que os ponha em contato íntimo com o sumo sacerdote, como diz o Apóstolo: "Tende em vós os mesmos sentimentos que Jesus Cristo experimentou", oferecendo com Ele e por Ele, santificando-se com Ele (Mediator Dei, 73).





ATENÇÃO! Pio XII aprovou os ritos em duas línguas, recuperou o sentido e importância da Vigília Pascal (1951), fez a Reforma da Semana Santa(1955) e autorizou na liturgia a recitação de perícopes na língua vernácula, a língua mãe de cada país. 








Tiveram também influencia fundamental, como aqui já apontados noutras ocasiões, alguns encontros internacionais de liturgia:  O congresso de liturgia pastoral em Assis-Roma(1956) e a Semana Internacional de Estudos em Nimega (1956), onde houve expressiva participação de renomados bispos e cardeais.Esse caminho percorrido por Pio XII foi prosseguido pelo seu sucessor, Papa João XXIII (1958-1963) com a codificação das rubricas do Missal em 1960, a reforma de grande parte do Pontificale Romanum(1960) e a reforma do Ordo do sacramento batismal para os adultos, em 1962, já às portas do Concílio.Um ano antes de sua morte, João XXIII, em 1962, aprovou a nova edição do Missale Romanum. Papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano II com o objetivo de renovação da Igreja e de se reformular a forma de explicar a doutrina católica ao mundo moderno. Era aclamado mundialmente como o “Papa bom” por causa de sua simpatia, sua simplicidade e sua jovialidade.A Constituição Sacrosantum Concilium, portanto, não caiu do céu, mas é fruto de todo um clamor que vinha dos novos tempos, da nova compreensão da liturgia, motivada pelos centros teológicos, que fomentaram os princípios contidos na SC.  Anselm Schott, por exemplo, tinha publicado em 1884 um missal popular, das formas de participação do povo, que teve grande difusão nos anos sucessivos.Em 1909, em Malines, por ocasião do Katholikentag (palavra alemã, que se traduz por “dia do Católico”), o bispo Lambert Beauduin(+1960) defendeu o fortalecimento da liturgia celebrada com a participação do povo.  Esse encontro de Malines assinalou o início do movimento litúrgico no século XX, encontrando eco na Holanda, Bélgica, Itália e França.O movimento litúrgico foi particularmente ativo nos países de Língua alemã (Helmut Hoping, A Constituição Sacrosanctum Concilium. In: As constituições do Vaticano II, Ontem e hoje, org. Geraldo B. Hackmann e Miguel de Salis Amaral, Edições CNBB, 2015, p.104).





Os grandes teólogos desse movimento litúrgico foram: Odo Casel-OSB (+1948) e Romano Guardini (+1968)!



Guardini já havia escrito, durante a I Guerra Mundial (1914-1918) a sua obra magistral intitulada “O Espírito da Liturgia”, que terá uma influência enorme nessa reforma. Bento XVI foi aluno e admirador confesso de Romano Guardini!







(Romano Guardini)







O destino realmente singular de Romano Guardini é o fato de ter sido uma espécie de 'mestre' para nada menos do que três papas. Paulo VI promoveu pessoalmente as suas primeiras traduções a partir do pequeno livro La coscienza, que aconselhava aos seus estudantes da Federação das Universidades Católicas Italianas. Bento XVI se percebe até mesmo como uma espécie de discípulo espiritual e intelectual do grande pensador. Finalmente, o Papa Francisco passou alguns meses na Alemanha para ler e estudar Guardini.






O primeiro teólogo da liturgia que se ocupou da celebração enquanto tal foi Odo Casel (1948), pioneiro também por oferecer uma reflexão do culto cristão sobre bases direta e primariamente teológicas. Para ele:




“A celebração é uma epifania, uma manifestação do divino na ação ritual, o elemento principal do ato celebrativo é a presença-atualização da salvação na ação sagrada e ritual, na qual intervém a prece da Igreja. A ação sagrada é imitação simbólica do agir divino (mimésis), mas ao contrário do que ocorre na celebração das religiões naturalistas, apoia-se numa palavra pronunciada como anúncio da intervenção divina(Palavra de Deus, portanto, a celebração é memorial, mas a presença é Real) e na súplica que se seguiu como resposta à proclamação.” (J. L. Martin, No Espírito e na Verdade, I, p. 187).







(Frei Odo Casel-OSB)







Odo Casel preparou terreno para a Teologia do Mistério Pascal e Romano Guardini, entre os tesouros, a ideia fundamental da Igreja como Corpo Místico, ambos conceitos contemplados e valorizados nos documentos do Concílio Vaticano II.






A grande geração de teólogos do Vaticano II “não tem sucessores”, afirma José María Castillo!






A reabilitação plena do teólogo José María Castillo e de sua obra teológica, foi feita pelo Papa Francisco que declarou: “Leio com muito prazer seus livros, que fazem muito bem às pessoas”. Com esta frase, Francisco ‘abençoou’ o teólogo espanhol no Vaticano, onde há duas décadas cassaram sua ‘venia docendi’. Por outro lado, convida Religión Digital a “continuar apostando na renovação de uma Igreja em saída”. José María Castillo Sánchez ( Puebla de Don Fadrique , província de Granada , 16 de agosto de 1929) é um sacerdote católico espanhol da Sociedade de Jesus até 2007, escritor e teólogo com extensa produção. Ele entrou no noviciado da Companhia de Jesus em 1946, aos dezessete anos, mas ficou doente e os médicos aconselharam sua partida.Em 1947, ele entrou no seminário de Guadix. Foi ordenado sacerdote em dezembro de 1954, pelo bispo de Guadix Rafael Álvarez Lara. Depois de servir como pastor em uma cidade em Granada, ele terminou sua graduação na Faculdade de Teologia de Granada (1955) e voltou à Companhia de Jesus (1956).Em 1962, alguns dias antes da abertura do Concílio Vaticano II , ele foi a Roma para fazer doutorado em Teologia , na Universidade Gregoriana , onde defendeu sua tese de doutorado sobre Afetividade nos Exercícios, de acordo com Francisco Suárez , em 1964. Lá, iniciou sua atividade de treinamento e ensino, primeiro em Córdoba com os estudantes jesuítas das ciências humanas e depois em Granada com os teólogos, como professor de teologia dogmática na Faculdade de Teologia, desde 1968. Ao mesmo tempo, começa a ampla produção teológica. Ele se caracterizou, além de muitas conferências, lotes de exercícios, reuniões e workshops com o clero secular , ao qual ele pertencia há anos.A década de 1970 é marcada pela mudança na vida de Castillo, pelo Concílio Vaticano II , pelo general Pedro Arrupe (desde 1965), pelas mudanças sociopolíticas ocorridas na Espanha, pelo contato com as jovens gerações de jesuítas e uma atividade intensa como professor, e suas viagens à América Latina, que se tornarão constantes a partir de 1988. A teologia de Castillo será uma referência entre os anos 60 e 70.








(José María Castillo e Papa Francisco)




“Pela lei da vida, a grande geração de teólogos, que tornou possível a renovação teológica realizada pelo Concílio Vaticano II, está se extinguindo por completo. E nas décadas seguintes, infelizmente, não surgiu uma geração nova que tenha podido continuar o trabalho que os grandes teólogos do século XX iniciaram”, escreve José María Castillo, teólogo espanhol, em artigo publicado por Religión Digital, 15-05-2017. A tradução é de André Langer.




Eis o artigo:





Os estudos bíblicos, alguns trabalhos históricos e alguma coisa também no que se refere à espiritualidade, são âmbitos do fazer teológico que se mantiveram dignamente. Mas mesmo movimentos importantes, como ocorreu com a Teologia da Libertação, dão a impressão de que estão desmoronando. O que aconteceu na Igreja? O que está acontecendo conosco? A primeira coisa que deveríamos considerar é que é muito grave o que estamos vivendo nesta ordem de coisas. Os outros campos do saber não param de progredir: as ciências, os estudos históricos e sociais, as mais diversas tecnologias sobretudo, nos surpreendem a cada dia com novas descobertas. Ao passo que a teologia (falo especificamente da católica) segue firme, inacessível ao desânimo, interessando cada dia a menos pessoas, incapaz de dar resposta às perguntas que tantas pessoas se fazem e, sobretudo, empenhada em manter, como intocáveis, supostas “verdades” que eu não sei como podem continuar a defender neste momento da história.





Dou alguns exemplos:




1)- Como podemos continuar a falar de Deus, com a segurança com que dizemos o que Ele pensa e o que Ele quer, sabendo que Deus é o Transcendente, que – portanto – não está ao nosso alcance?



2)- Como é possível falar de Deus sem saber exatamente o que dizemos?



3)- Como se pode garantir que “por um só homem o pecado entrou no mundo”?



4)- Vamos apresentar como verdades centrais da nossa fé o que na realidade são mitos que têm mais de quatro mil anos?



5)- Com que argumentos podemos garantir que o pecado de Adão e a redenção desse pecado são verdades centrais da nossa fé?



6)- Como é possível defender que a morte de Cristo foi um “sacrifício ritual” que Deus necessitou para perdoar as nossas maldades e salvar-nos?



7)- Como se pode dizer às pessoas que o sofrimento, a miséria, a dor e a morte são “bênçãos” que Deus nos manda?



8)- Por que continuamos a manter rituais litúrgicos que têm mais de 1.500 anos e que já ninguém entende, nem sabe por que continuam a ser impostos às pessoas?



9)- Acreditamos realmente naquilo que nos dizem em alguns sermões sobre a morte, o purgatório e o inferno?




Enfim, a lista de perguntas estranhas, incríveis e contraditórias seria interminável. E, enquanto isso, as igrejas estão vazias ou com algumas pessoas idosas, que vão à missa por inércia ou por costume. Simultaneamente, os nossos bispos põem a boca no céu por assuntos relacionados ao sexo, ao passo que se calam (ou fazem afirmações tão genéricas que equivalem a silêncios cúmplices) diante da quantidade de abusos de menores cometidos por clérigos, abusos de poder cometidos por aqueles que administram esse poder para abusar de alguns, roubar a outros e humilhar os que estão ao seu alcance. Insisto em que, na minha modesta maneira de ver, o problema está na pobre, paupérrima, teologia que temos: Uma teologia que não leva a sério o mais importante da teologia cristã, que é a “encarnação” de Deus em Jesus Cristo. O apelo de Jesus a “segui-Lo”. A exemplaridade da vida e do projeto de vida de Jesus. E a grande pergunta que os crentes teriam que enfrentar: como vamos apresentar o Evangelho de Jesus neste tempo e nesta sociedade em que vivemos? Termino insistindo em que o controle de Roma sobre a teologia foi muito forte, desde o final do Pontificado de Paulo VI até a renúncia do papado de Bento XVI. O resultado é muito nefasto: na Igreja, nos seminários e nos centros de estudos teológicos há medo, muito medo. E sabemos muito bem que o medo bloqueia o pensamento e paralisa a criatividade. A organização da Igreja, nestas questões, não pode continuar como esteve tantos anos. O Papa Francisco quer uma “Igreja em saída”, aberta, tolerante, criativa. Mas, vamos continuar com este projeto? Infelizmente, na Igreja há muitos homens, com bastões de comando, que não estão dispostos a largar o poder, assim como eles o exercem. Bom, se é assim, vamos em frente! Logo teremos liquidado o pouco que ainda resta...(Mateus 16,18: “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno JAMAIS prevalecerão contra ela...”)




Considerações sobre as críticas ao Concílio Vaticano II




(Commentby Veritatis Splendor)




“Põe tu confiança no Senhor, e segue os seus caminhos. Ele te exaltará e possuirás a terra; a queda dos ímpios verás com alegria” (Sl 36,34).




1. Introdução



Vivemos um tempo em que graças a Deus, os inimigos internos da Igreja estão levando golpes muito duros. Duros pela força da verdade com que a Mãe Igreja vem ensinando seus filhos todos, principalmente aqueles que a acusam de conivência com o erro e os que sedentos de novidades ignoram sua irrefutável, eterna, santa e perene doutrina. A Motivação deste trabalho é expor algumas considerações nossas sobre tudo isto que recentemente vem acontecendo acerca do Concílio Ecumênico do Vaticano II.




2. Questionar é diferente de acusar pejorativamente!




Alguns dos nossos caríssimos leitores têm nos questionado acerca de nossa defesa do Vaticano II. Alegam que nós estamos defendendo uma aceitação burra do Concílio. Ora, isso não é verdade. Ao demonstrar que através de um Concílio Ecumênico a Igreja exerce de forma solene seu poder sobre toda a Igreja, estamos mostrando que as críticas ao Concílio devem se dar nos justos limites da razão e do bom senso.Por exemplo: “uma mãe que sempre criou e educou seus filhos com todo amor em meio a tantas diversidades, sempre mostrando que é digna de confiança. Certo dia, um de seus filhos acha estranha a forma como esta mãe se expressa ao falar sobre um determinado assunto, ou ainda como se comporta frente a uma situação nova. O que deve fazer este filho? Deve exigir esclarecimentos, confiando em todo testemunho que sua mãe lhe deu ou deve acusá-la de ter perdido a vergonha na cara? O que deveria esperar esta mãe? E se ainda esta mãe demorasse a esclarecer seu filho?Esta situação hipotética nos traz lições preciosas. Seja numa relação entre pais e filhos, marido e mulher, onde o testemunho do tempo construiu toda uma estrutura de confiança, amor e idoneidade, quebrar esta relação, por conta da desconfiança e da intriga seria como abrir mão de um tesouro precioso. Se tratando da Igreja, instituição divina, fundada por Cristo, assistida por Deus Uno e Trino, a coisa é ainda mais grave.” Se há algo que não compreendemos, ou que achamos inadequado, devemos pedir orientação e esclarecimento aos nossos pastores e em último caso exigir explicações da Santa Sé. Isso é bem diverso que acusar a Igreja de ter promulgado o erro pelo seu Magistério, é bem diferente de dizer que a Igreja oferece uma Missa herética (qual a heresia?). Movimentando-se de uma coisa para a outra, deixamos de questionar e passamos a acusar, postura que é muito grave. O Católico pode e deve exigir esclarecimento sobre a Fé e a Doutrina, direito adquirido pela Tradição e promulgado no CDC (cân 212), porém sem ferir a unidade, autoridade e a idoneidade da Santa Igreja.





A IGREJA É INFALÍVEL EM MATÉRIA DE FÉ E MORAL EM SEU MAGISTÉRIO SOLENE!














Vão dizer: temos o dever de apontar os erros e quem erra. Muito bem, no entanto a Igreja não erra! Não pode errar JAMAIS EM VIRTUDE DE NOSSA SALVAÇÃO! Pois ela é a Coluna e sustentáculo da verdade! (I Tim 3,15). Assim, sobre a Igreja não se aponta erros, mas, pode-se pedir se necessário, MELHORES E MAIORES esclarecimentos! Simples assim!












3. A Contradição dos tradicionalistas:






Todo aquele que assume uma postura anti-Vaticano II acaba por cair em uma contradição que o leva invariavelmente a uma heresia. É dogma que a Igreja é Santa e que pecadores são seus membros, isto é, seus filhos. Se a Igreja é Santa e não pode ensinar o erro, como então ela ensinou o erro no Vaticano II? Vão dizer que isso foi possível porque ela não fez uso de dogmas. Ora, de qualquer forma, se a Igreja promulgou os erros que deveria combater, então Ela pecou. Não há saída para os tradicionalistas!




Os ensinamentos de um Concílio "são ensinamentos da Igreja!"





Não são ensinamentos de um Papa ou dos Bispos. Se a Igreja ainda por cima, criou um novo catecismo, emitiu novos documentos e atualizou sua doutrina social com base no Vaticano II, e neste Concílio houve a promulgação do erro, então a Igreja infalível afundou ainda mais o pé na jaca.






Como explicam os tradicionalistas: a Igreja Santa ter pecado?






Caem na mesma sinuca em que se meteram os protestantes. Não é de se espantar que agora, tanto os tradicionalistas quanto protestantes acusam a Igreja de traição, infidelidade e abandono da Palavra de Deus. Outra contradição deles é negar o Vaticano II principalmente por “supostamente” não ter declarado dogmas, mas utilizam especulações de teólogos (até os modernistas), jornalistas e agências de notícias como se fossem dogmas declarados. Uma “Constituição Apostólica” é um documento do Magistério Pontifício, ou seja, promulgado pessoalmente pelo Santo Padre, cujo conteúdo, com valor de decreto, abrange o ensinamento definitivo da Igreja a respeito de um determinado assunto. Trata-se, portanto, de um tipo particularmente solene e importante de documento da Igreja.





Dependendo do conteúdo específico, as Constituições Apostólicas podem ser “subdivididas” em dois tipos:






1)- Constituição Dogmática, quando contêm matéria de fé em que todo católico deve crer.



2)- Constituição Pastoral, quando contêm diretrizes da Igreja sobre a sua ação prática junto aos fiéis.




ATENÇÃO!!! Nada impede, porém, que um documento pontifício seja classificado apenas genericamente como “Constituição Apostólica”, sem a especificação “dogmática” ou “pastoral”. Durante o Concílio Vaticano II (1962-1965), foram promulgadas quatro Constituições Apostólicas de relevância histórica. Todos nós, católicos, deveríamos conhecê-las e lê-las na íntegra, para aprender mais sobre a nossa Igreja e sobre a nossa fé, particularmente consideradas na perspectiva da nossa época.





VAMOS A VERDADE DOS FATOS: VEJAMOS AGORA AS DUAS CONSTITUIÇÕES “DOGMÁTICAS” DO CONCÍLIO VATICANO II:













1)- DEI VERBUM (A Palavra de Deus)




-Tipo: Constituição Dogmática.

-Tema: a relação entre as Sagradas Escrituras e a Tradição.

-Promulgação: Papa Paulo VI, 18 de Novembro de 1965.






2)- LUMEN GENTIUM (A Luz dos Povos)




-Tipo: constituição dogmática.


-Tema: a natureza e a constituição da Igreja como instituição e como Corpo Místico de Cristo.


-Promulgação: Papa Paulo VI, 21 de novembro de 1964.




Interessante que os tradicionalistas julgam o Concílio Vaticano II por sua história, mas não utilizam o mesmo critério para dos Concílios anteriores, pois nem tudo que foi promulgado nos concílios anteriores tiveram caráter dogmático. Realmente no mundo do erro, a coerência não é uma virtude muito apreciada.





O IBP (Instituto Bom Pastor): A tábua de salvação dos tradicionalistas?

















O IBP (Instituto Bom Pastor) “é uma sociedade de vida apostólica de direito pontifício instituída conforme as normas do direito canônico (can, 732); seus membros querem exercer seu sacerdócio dentro da tradição doutrinal e litúrgica da Santa Igreja Católica Romana”. É formado por padres dissidentes da FSSPX (Fraternidade Sacerdotal São Pio X).Os tradicionalistas dizem que a Igreja na ereção do IBP acolheu padres que não aceitam a Missa Nova e nem o Vaticano II. Ensinam que se Roma acolheu em plena comunhão padres lefebvristas, logo não é errado ao católico recusar a Missa Nova nem o Concílio. Este tipo de abordagem fica ainda mais convincente pelo fato de membros do IBP possuírem laços de amizade com líderes ou adeptos tradicionalistas. Um amigo muito querido chegou a indicar-me a leitura das declarações do Superior do IBP, Pe. Philipe Laguérie, onde este reconheceria haver erros no Vaticano II (2) e a falta de legitimidade (não confundir com legalidade) da Missa Nova (3).Com toda certeza, diante de todo este cenário é muito tentador aderir à cartilha anti-Vaticano II. Ainda mais quando se trabalha muito bem com a psicologia das pessoas, com palavras amáveis, gestos de carinho, demonstração de piedade, enfim um verdadeiro espetáculo de sedução que pretende levar as pessoas a enxergarem somente aquilo que o "guru tradicionalista" deseja.






Trarei informações que julgo serem de grande relevância, para que as “viseiras-de-burro” possam cair permitindo um maior raio de visão - O acolhimento do IBP junto à Santa Sé:







Há uma diferença sutil, porém significativa entre tolerância e aceitação. Um erro pode ser tolerado quando o bem a ser conquistado é maior do que se poderia conseguir atacando-o. Claro que este bem desejado inclui o próprio extermínio do erro. Não significa que esta aceitação temporária, esta tolerância seja um reconhecimento do erro (cisma) como se fosse algo correto.Por exemplo: num relacionamento verdadeiramente ecumênico (não relativista) com um protestante, isto é, visando a sua conversão à Verdade confiada por Cristo à Sua Igreja, posso até tolerar o erro da Sola Scriptura (não combatê-lo num primeiro momento), visando mostrar ao protestante somente pela Escritura incompleta que ele tem, o Esplendor da Verdade, que conseqüentemente o levará a abandonar a Sola Scriptura. A Igreja ao acolher os padres que abandonaram a FSSPX e que constituem o IBP age da mesma forma. A Igreja cede para conquistar, recua para avançar, se cala para ser ouvida! São sutilezas da diplomacia romana.




PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR:





1)- Se com a acolhida dos ex-membros da FSSPX, a Igreja está reconhecendo os supostos erros do Vaticano II, e dando apoio a quem nega o Concílio, o que justifica o fato desta porta não ter sido mais alargada e acolhido toda a FSSPX?




2)- O que justifica o fato do Papa Bento XVI dizer através do seu Motu Proprio que libera a Missa de S. Pio V, mas que a questão sobre D. Lefebvre ainda não está resolvida?




3)- Por que no mesmo Motu Proprio, o Papa Bento XVI reconhece a ortodoxia da Missa Nova?




4)- Por que a Congregação da Doutrina da Fé ratificou e defendeu o subsistit in do Vaticano II?





Há informações muito importantes que devem ser consideradas e aprofundadas aqui:





Os estatutos do IBP são experimentais. Ora, se o quadro é como os tradicionalistas o pintam, por que acolher lefebvristas com estatutos temporários ou experimentais? Não seria mais adequado acolhê-los com estatutos não-experimentais?A experiência do IBP na Igreja é uma experiência de amor, de reconciliação. Não de licenciar o ataques ao Concílio! 





Já que nossos desafetos gostam tanto do que veiculam as agências de notícias, proponho a leitura das linhas abaixo:

 



“O Arcebispo de Bordeaux e Presidente da Conferência Episcopal de França, Cardeal Jean-Pierre Ricard explicou que o Santo Padre tomou a decisão de erigir este novo Instituto. Deste modo, continua-se dá a vontade de propor uma experiência de reconciliação e de comunhão que terá que afirmar e aprofundar-se com os fatos. Os estatutos do Instituto do Bom Pastor foram aprovados com caráter experimental...” (fonte: ACI) - Como era de se esperar, a Santa Sé acolheu os padres do IBP num gesto de esperança de uma futura total reconciliação. A Igreja concedeu-lhes todas as condições para que eles possam convencer-se de que o Vaticano II não é um mal em si, mas que o mal está na sua leitura liberalista.






O IBP está licenciado a rejeitar o Vaticano II?





Em 11 de setembro de 2006, a ACI veiculou o acolhimento dos padres do IBP junto à Roma, informando o mundo católico sobre a ereção do mesmo. Esta notícia foi comentada no sítio do Prof. Felipe Aquino. Tal comentário rendeu-lhe duros ataques do Prof. Orlando Fedeli (como era de praxe), que o acusou de ter falseado a verdade. Na polêmica foi envolvido o Pe. Rafael Navas Ortis, Superior do IBP na América Latina (4).Um estudo bem consistente de toda aquela polêmica é digno de um livro. Com efeito, há informações ali que os leitores menos atentos deixam passar com facilidade. Por isso, nos satisfaremos em dizer que:“O Prof. Felipe Aquino não se enganou de todo, e que todo aquele circo no qual o Pe. Navas acabou envolvido, seja porque não leu o que escreveu o Prof. Felipe Aquino, ou porque não entendeu a missão do próprio instituto do qual faz parte, foi muito bem arquitetado para ser utilizado como suposta prova contra o Vaticano II.”






Em 5 de outubro de 2006 (isto é, poucos dias após a controvérsia acima referida), o Cardeal Jean-Pierre Ricard, que é o supervisor do IBP junto à Santa Sé através da Comissão Ecclesia Dei, declarou que:







Os padres do IBP devem aceitar o atual magistério do Papa e dos Bispos, acrescentou ainda que eles devem deixar clara sua posição de conformidade com o magistério atual que se expressou no Concílio do Vaticano II, bem como os documentos promulgados por ele. Insiste o Cardeal que, a oferta de amor estendida aos padres do IBP, não deve reabrir questões sobre o caminho tomado pela Igreja durante os últimos 40 anos...”(5) - Um mês depois desta entrevista (aproximadamente em 06 de Novembro de 2006), Pe. Philipe Laguérie é chamado à Roma para dar explicações sobre suas declarações dinamitosas sobre o Concílio do Vaticano II. Fato este que chegou a ser ridicularizado pela FSSPX (6).






Ora, será mesmo que o IBP tem licença para atirar pedras no Vaticano II?






No ano de 2007, na oportunidade da visita do Santo Padre ao Brasil, um Bispo amigo nosso e de grande importância entre os fiéis tradicionalistas, recebeu a informação do Card. Castrillon Hoyos (presidente da Comissão Ecclesia Dei, e que assinou os estatutos do IBP), de que IBP não está autorizado a rejeitar o Vaticano II, confirmando o que havia dito Card. Ricard, supervisor do IBP.





Claro que há uma diferença entre não poder rejeitar o Concílio e ser obrigado a aceitá-lo!






Ora, não se pode esperar de um luterano recém convertido ao Catolicismo que o mesmo use imediatamente incenso ou que tenha em casa uma imagem de Nossa Senhora. Aplicando isso aos padres do IBP, não se pode esperar que estes homens que outrora estavam na FSSPX, de uma hora para a outra, como num passe de mágica, admitam tudo o que a Igreja ensinou e fez depois do Vaticano II. É compreensível que os padres do IBP, tenham muitas reservas quanto ao Concílio. Porém, é significativo que eles não tenham permissão para serem franco-atiradores do Concílio, cospindo no prato que comem da Santa Mãe Igreja. E é aí que está o detalhe, é aí que está a sutileza de toda questão.Lembremos que a Igreja com a ereção do IBP abriu um caminho de reconciliação aos dissidentes da FSSPX, cujos frutos ainda se esperam, conforme atestamos nas palavras do Card. Ricard:“Se dá a vontade de propor uma experiência de reconciliação e de comunhão que terá que afirmar e aprofundar-se com os fatos. Completa o purpurado que: somente o futuro mostrará se esta experiência foi uma iniciativa promissora ou uma falsa esperança...”(5).





A oferta de amor da Igreja ao IBP já começou a dar frutos!





Já é possível notar uma mudança de postura no próprio IBP. Pe. Laguérie já reconhece o poder do Papa de reformar a Liturgia (3), levando-o a aceitar a legalidade da Missa Nova. Esta tese é fortemente contestada pela FSSPX (7), o que rendeu críticas desta aos ex-correligionários. Pe. Tenoüarn, membro do IBP e secretário do Pe. Laguérie, já admite não só a legalidade da Missa Nova, mas também sua legitimidade. É o que podemos constatar em sua declaração em Valerus Actuelles (França) em 1 de dezembro de 2006:“Apenas do ponto de vista destas diferenças de tom, que não é necessário fazer grande exagero, mas que existem, e a nossa conversa mostra isso, creio que se faz necessário aceitar a diferença de ritos, e também que se possa preferir de forma fundamentada e profunda, não apenas subjetiva ou estética, o rito tradicional. Depois de dizê-lo, bem entendido, se em nome dessa preferência se anatemizam todos os demais, e se declara que o rito novo não é legítimo, não estaremos fazendo nada pela Igreja...” - Claro que esta mudança de postura é enxergada por alguns  tradicionalista como traição à causa tradicionalista. O que é melhor trair falsos mestres, ou trair a Deus?






Os verdadeiros tradicionalistas estão em Roma!





Desde o término do Concílio quando D. Lefebvre começou a liderar a frente anti-Vaticano II, muitos de seus adeptos acabaram por reconhecer os próprios erros. Dois belíssimos exemplos e bem conhecidos são os padres da Fraternidade Sacerdotal São Pedro (FSSP) e os padres da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (Padres de Campos-RJ). Eles assim como o IBP retornaram à Igreja cheios de reservas ao Vaticano II.Os passos que o IBP está dando, eles já deram no passado. E o Esplendor da Verdade acabou os convencendo de que os erros não estão no Vaticano II.








(RIBETON, RIFAN e FELLAY)






Como é belíssimo ver, Pe. Vicent Ribeton, um ex-lefebvrista declarar:






Não creio que celebrar a missa segundo o novo ordo, evidentemente com a observância das rubricas, possa, em si, constituir uma desordem moral objetiva. Dizer o contrário equivaleria a afirmar que a Igreja teria promulgado um rito intrinsecamente mau, o que parece impossível de sustentar sem cair no sedevacantismo. Não estou convencido de que o novo rito exprima muito adequadamente cada uma das realidades que se atualizam no altar, mas isso não significa, por essa razão, que seja heterodoxa. De fato, as condições de validade e de ortodoxia de um rito constituem um mínimo, e a Igreja sempre assumiu ritos de maior ou menor riqueza, até mesmo, perdoem-me a expressão, de certa pobreza...”(8)






Conclusão:












Pe. Leonel Franca (9) ensinou certa vez que: “Os dois maiores obstáculos à Verdade são o orgulho e a vaidade. Porém, almas sinceras são capazes de resistir bravamente às forças impetuosas destes inimigos poderosos. Foram o orgulho e a vaidade que cegaram Satanás que era eminente Anjo de Luz. Este seduzido por si próprio e imbuído de sua própria ilusão convenceu outros anjos a seguirem-no. Se os dois grandes obstáculos da Verdade causaram tanto mal até mesmo aos anjos, que grandes males não farão a uma pobre alma humana?”











De forma análoga, pessoas de mentes de grande inteligência e capacidade, seduzidos por si mesmos e imbuídos de suas próprias ilusões, acabam por seduzir a outros levando-os a pensar que a recepção do IBP pela Igreja é uma aceitação ao ataque ao Vaticano II. Nada mais falso! O Novo Catecismo da Santa Igreja é atualizado pelo Magistério do Vaticano II. O mesmo se aplica ao Compêndio do Catecismo que é um resumo daquele. A Doutrina Social da Igreja é riquíssima em referências ao Vaticano II, o mesmo, seu compêndio.Os últimos Papas ensinaram citando os documentos do Concílio, o Motu Proprio do Papa Bento XVI o ratifica. Vários ex-lefebvristas hoje defendem o Concílio.








(recado válido tanto para progressistas quanto tradicionalistas)







O Vaticano II faz parte da Tradição de sempre da Igreja! É continuidade e não ruptura! Rezemos para que mais católicos acordem do encanto da sedução sedevacantista e de um tradicionalismo manco, cego, engessado, e percebam que fora do Magistério da Igreja que é auxiliado pelo Espírito Santo e prometido por Jesus que estaria com esta mesma igreja (conf. Mateus 28,20), desde  Pedro até o atual papa, não há outra Verdade. Rezemos para que o IBP e outros movimentos cismáticos, ajudem a Santa Sé não só a dar a justa hermenêutica do Concílio, mas também, que através deste trabalho reconheça sua ortodoxia. Só podemos desejar ao IBP todas as bênçãos e sabedoria do Pai, do Filho e do Espírito Santo,oferecendo todo o nosso amor, orações e apoio no que precisarem.






Notas:






(1) IBP. Instituto Bom Pastor Website: O que é o Instituto Bom Pastor? Disponível em http://www.ibp-la.org/ibp/?ss=que_es&l=pt. Último acesso em 05/08/2007.

(2) LAGUÉRIE, Pe. Philipe. Instituto Bom Pastor Website: Pôr “em surdina” os assuntos que irritam? Disponível em   http://www.ibp-la.org/articulos/?ss=blog_ibp&a=surdina&l=pt. Último acesso em 05/08/2007.

(3) LAGUÉRIE, Pe. Philipe. Instituto Bom Pastor Website: Direito ou Ilegalidade? Disponível em http://www.ibp-la.org/articulos/?ss=blog_ibp&a=surdina&l=pt. Último acesso em 05/08/2007.

(4)Disponível em http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=carta_felipe_aquino&lang=bra. Último acesso em 09/08/2007.

(5)publicada em http://www.cwnews.com/news/viewstory.cfm?recnum=46909.

(6)Disponível em http://www.fsspx-brasil.com.br/page%2007-c-IBP_no_confessionario_do_Cal_Ricard.htm. Último acesso em 09/08/2007.

(7)Disponível em http://www.fsspx-brasil.com.br/page%2005-6d-delirio-doutrinal-ibp.htm. Último acesso em 05/08/2007.

(8) RIBETON, Vicent. Declaração no Forum Catholiqué, em 13 de Novembro de 2006.

(9) Foi o primeiro reitor da PUC-RJ. Viveu na primeira metade do século XX. Ficou conhecido por sua sabedoria e santidade. Suas obras mais famosas são: A Psicologia da Fé e O Problema de Deus, ambas editadas pela Puc-Rio/Loyola.





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