|
(Peritos e Teólogos com o papa Paulo VI) |
-Sinais dos tempos
-Igreja povo de Deus
-Sacerdócio comum dos fiéis
-Teologia do laicado
-Diálogo ecuménico
-Liberdade religiosa.
Estes e outros
temas, hoje comuns no catolicismo, devem-se a homens (e algumas mulheres) que
criaram novos conceitos teológicos, elaboraram sínteses admiráveis, lutaram
pelas suas convicções, por vezes com grande sofrimento. Foram esses teólogos os
principais protagonistas do Concílio Vaticano II, que decorreu entre 1962 e
1965. Sem os seus nomes, a história da Igreja Católica nas últimas cinco
décadas teria sido radicalmente diferente.
Vale a pena, por isso, recordar alguns, que porventura nos soam
mais familiares:
-Karl Rahner,
-Yves Congar,
-Marie-Dominique Chenu,
-Henri de Lubac,
-Jean
Daniélou,
-Edward Schillebeeckx,
-Joseph Ratzinger,
-Hans Küng,
-Johann Baptist
Metz,
-Bernard Häring,
-Hans Urs von Balthasar, entre outros(as).
Naquele
tempo, a teologia era ainda, e sobretudo, europeia! Centrava-se em três escolas
importantes:
1)- A escola
dominicana de Saulchoir (na altura, próxima de Évry e, desde 1971, em Paris).
2)- Os jesuítas de
Fourvière.
3)- E a Escola Alemã
(de Tubinga, Münster e Munique, entre outros centros de investigação).
Era a "nouvelle théologie", assim chamada depreciativamente no início, com vários dos
seus autores a serem marginalizados (ou mesmo forçados ao exílio).
Mais tarde,
esses mesmos autores seriam reabilitados, ao ponto de se tornarem protagonistas,
enquanto peritos e redatores, de vários dos documentos centrais e de algumas
das teses mais importantes do Concílio. Rosino Gibellini,
autor de: A teologia do século XX (ed. Loyola, Brasil), recorda que, o
pensamento conciliar deve muito a um artigo fundador de Yves Congar
(1904-1995), intitulado: "Uma conclusão teológica para a Investigação sobre as
Razões Atuais da Incredulidade", publicado em 1935 na revista La Vie
Intellectuelle. O artigo seguia-se a um inquérito da mesma revista, publicado
durante os dois anos anteriores, sobre as razões da descrença na sociedade
francesa naquele tempo. No texto de Gibellini (acessível na internet, em
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/517231-o-papel-da-teologia-no-concilio-e-o-estatuto-os-teologos-e-teologas-hoje),
o teólogo cita a ideia de fé desencarnada do dominicano de Saulchoir:A fé, por assim dizer, desencarnou-se, esvaziada do seu sangue humano.
Para o teólogo (que mais tarde recusaria ser cardeal por ter que ser ordenado
bispo, só aceitando o título no final da vida, quando João Paulo II o dispensou
da ordenação episcopal), era necessária uma linguagem de encarnação da fé para
superar o divórcio entre a Igreja e o mundo.Trinta anos antes do
Concílio, esta era uma ideia percursora do mesmo. Essa preocupação ficaria
aliás plasmada em documentos como a Gaudium et Spes, a Constituição sobre a
Igreja no mundo atual. Ao refletir sobre o ateísmo, por exemplo, a GS propõe
que uma das formas de contrariar esse fenómeno é a vida íntegra da Igreja e dos
seus membros.Nas décadas
anteriores ao Vaticano II, vários movimentos importantes, alguns deles vindos
do século XIX, confluíram para um ambiente que tornou quase inevitável a
convocação de um concílio que encetasse a reforma da Igreja.A catequese e a liturgia renovaram-se e ganharam novo impulso, tal como
a missionariedade, vêm daí muitas das congregações missionárias, bem como a
ideia da catequese alargada, primeiro às crianças e, depois, a todas as faixas
etárias.O movimento bíblico
dinamiza-se, através da utilização das várias ciências, abrindo caminho ao
acesso de todos ao texto original, ao contrário da proibição que subsistira
durante séculos; a ação pastoral e social da Igreja alargava-se, através de
movimentos como a Ação Católica e a criação de instituições de solidariedade. A
arte sacra procurava novas linguagens na arquitetura, pintura ou artes
decorativas, que nos levassem na contemplação do belo aquilo que era essencial.
O Concílio teve uma
germinação longa, diz frei Bento Domingues (cuja colaboração para a pesquisa
para este texto foi fundamental). Em entrevista ao Mensageiro, o teólogo e
frade dominicano recorda a ideia de Chenu:"A teologia do Vaticano II preparou-se com um agiornamento solidificado. Neste
processo, a teologia teve também o seu papel, procurando reler as novas
dinâmicas do catolicismo como motivação e consequência de uma nova forma de a
Igreja se relacionar com o mundo. Mas este processo não foi linear. Muitos
teólogos insistiam na repetição de fórmulas estafadas, de uma neoescolástica
sem consequência, que Congar apelidava de
teologia barroca pelo superlativo da linguagem apenas na exterioridade."Durante anos, esta
linha parecia ainda dominar. Mas sucessivamente, o aparecimento de diversas
obras de alguns dos teólogos acima referidos, não isento de polémicas, foi
lançando as bases da nova teologia.
Algumas das obras significativas deste movimento foram:
1)- Verdadeira e
falsa reforma na Igreja (1950) e Pontos chave para uma teologia do laicado
(1953), ambas de Congar.
2)- "Meditações
sobre a Igreja" (1953), de Henri de Lubac.
3)- "Ensaio
sobre o mistério da história" (1953), de Daniélou.
4)- "Escritos
sobre a Teologia" (1954), de Rahner.
5)- "Por
Uma Teologia do Trabalho" (1955), de Chenu.
6)- "A
Justificação" (1957), de Hans Küng, que abriu várias portas ao diálogo
ecuménico.
7)- Também, as obras
do jesuíta Teilhard de Chardin, que começaram a ser publicadas postumamente a
partir de 1955, ainda envoltas na polémica que já se verificara durante a sua
vida, contribuem, decisivamente, para a mudança de paradigma na relação da
Igreja com o mundo.
Este movimento até mesmo pela natural e milenar prudência da
Igreja, seria fortemente contrariado pela encíclica "Humani generis" do Papa Pio
XII!
O qual pretendia tratar das opiniões falsas que ameaçam a
doutrina católica, como diz o próprio cabeçalho do documento. Embora afirmando
que a fé católica era compatível com a ciência, condenava os erros daqueles que
se deixavam influenciar por conjecturas opináveis das ciências positivas, que
se opõem à doutrina que Deus revelou.
No seu parágrafo 30, diz o texto papal:
“Qualquer verdade, que a mente humana procurando com retidão, descobre,
não pode estar em contradição com outra verdade já alcançada, pois Deus,
verdade suprema, criou e rege a humana inteligência, de tal modo que não opõe
cada dia novas verdades às já adquiridas. Por esse motivo o cristão, seja
filósofo, seja teólogo, não abraça apressada e levianamente qualquer novidade
que no decurso do tempo se proponha, mas deve sopesá-la com suma diligência e
submetê-la a justo exame a fim de que não venha a perder a verdade já adquirida
ou a corrompa, com grave perigo em detrimento da mesma fé.”
Sinais
dos tempos, lugares teológicos!
Apesar deste
documento, logo depois da convocação do Concílio, em 1959, o Papa João XXIII
chamou para as comissões de preparação ou como peritos teológicos da assembleia,
vários dos teólogos que, até aí, tinham sido proscritos ou condenados. No
início dos trabalhos conciliares, escreve Rosino Gibellini no texto já citado,
havia 210 peritos; mas as atas do Concílio registam, no final da assembleia, um
total de 480 nomes. E a estes devem acrescentar-se os nomes de 23 mulheres que,
chamadas como auditoras pelo Papa Paulo VI, acabaram também por ter um papel
decisivo em vários documentos, conforme se pode ler no livro: As 23 Mulheres do
Concílio (ed. Paulinas).Um dos conceitos que
foi introduzido pelos mentores da nova teologia foi o de sinais dos tempos.
Retirada do evangelho, a expressão tornar-se-ia uma das chaves na convocação da
assembleia conciliar e em vários dos seus documentos. Marie-Dominique Chenu (1895-1990)
vira o seu livro Le Saulchoir: uma escola de teologia (1937) ser incluído no
Index por traduzir uma nova teologia inclinada para o semi-modernismo, o
relativismo e o subjetivismo, como criticava o teólogo Pietro Parente, no L’ Osservatore Romano.
Teólogos
que fomentaram a reforma litúrgica
(Jackson Erpen -
Cidade do Vaticano)
Um encontro realizado
em 1909 em Malines, assinalou o início do movimento litúrgico no século XX,
encontrando eco na Holanda, Bélgica, Itália e França. O movimento litúrgico
foi particularmente ativo nos países de Língua alemã. No nosso espaço Memória
Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar no programa de hoje
sobre “os teólogos que fomentaram a reforma litúrgica.” Damos
continuidade neste espaço a memória histórica ao tema da reforma litúrgica que
encontrou sua expressão máxima com a Constituição Sacrosanctum Concilum do
Concílio Vaticano II.
O objetivo
desta reforma, era de que o texto e as cerimônias deveriam ser ordenadas de tal
modo, que exprimissem mais claramente as coisas santas!
O que
eles significam, e que o povo cristão pudesse compreendê-las facilmente,
participando (não somente assistindo), à medida do possível, plena e ativamente da celebração comunitária.O padre Gerson Schmidt, incardinado na arquidiocese de Porto
Alegre, que tem nos acompanhado neste percurso dos documentos conciliares, nos
fala sobre os teólogos que fomentaram a reforma litúrgica.
S.C. - Os sinais mais
claros na reforma da liturgia:
A reforma litúrgica
não se deu de um dia para outro, como se tivesse acontecido um Pentecostes
tão somente no Concilio Vaticano II. Houve um tempo de longa
preparação, motivados pelos movimentos de renovação litúrgica, pelos teólogos,
liturgistas e também pelas reformas dos papas anteriores ao concilio: Pio X, Pio XI e Pio XII.Importante recordar o mérito do
Papa Pio X, que na reforma da música sacra, no Motu Proprio tra
le Sollectudini (1903) já defende o conceito de participação ativa dos fiéis. Lembramos que Pio X
também introduziu as reformas do Breviário, promoveu a comunhão cotidiana e
também antecipou a Primeira Eucaristia para as crianças. Se hoje
as crianças de 9 anos em diante fazem a Primeira Comunhão, se deve a esse Papa
Pio X o mérito de antecipar a eucaristia, através dos decretos Sacra
Tridentina Synodus(1905) e Quam Singulari(1910).
Já o Papa Pio XI, na constituição apostólica Divinus Cultus sanctitatem (1928), pediu com mais vigor a participação ativa dos
fiéis nos mistérios cristãos. Nesse constituição apostólica Divinus Cultus, diz assim no
número IX:
“A fim de que os
fiéis tomem parte mais ativa no culto divino, restitua-se para o povo o uso do
canto gregoriano, no que ao povo tocar. É
necessário, na verdade, que os fiéis, não como estranhos ou mudos espectadores,
mas verdadeiramente compreendedores e compenetrados da beleza da Liturgia,
assistam às sagradas funções de tal modo que alternem a sua voz - segundo as
devidas normas e instruções, mesmo em procissões e outros momentos solenes -,
com a voz do sacerdote e a do coro. Porque, se isto felizmente suceder, não
haverá já mais que lamentar esse triste espetáculo em que o povo nada responde,
ou apenas responde com um murmúrio fraco e confuso às orações mais comuns
expressas na língua litúrgica e até em língua vulgar”.
Pio XI ainda falou assim nesse documento:
“As disposições de Pio X se logrou a restauração das mais diletas formas de
arte e o consolador reflorescimento do espírito religioso, já que o povo
cristão, compenetrado por um mais profundo sentimento litúrgico, começou a
tomar parte mais ativa no rito eucarístico, na oração pública e na salmodia”.
Aqui o Papa Pio XI já reconhece uma maior participação do povo cristão na
liturgia: “ (o povo) começou a tomar
parte mais ativa no rito eucarístico, na oração pública e na salmodia”.
O movimento Litúrgico, como toda a
renovação na Igreja, tinha seus oponentes!
Até hoje eles
existem. A Magna
Charta que dá força ao Movimento Litúrgico é a encíclica Mediator
Dei, de Pio XII (1939-1958), que vai dar ao movimento litúrgico um caráter
eclesial, a partir do magistério ordinário. O Sumo Pontífice institui, em 1948,
15 anos antes do Concilio, uma comissão para a Reforma Litúrgica.
Pio XII, em 1947, quase 20 anos antes do Concílio
Vaticano II, dizia assim na Encíclica Mediator Dei, que falava sobre a Liturgia, no número 46:
“Em verdade, não poucas são as causas pelas quais se explica
e desenvolve o progresso da sagrada liturgia durante a longa e gloriosa
história da Igreja. Assim, por
exemplo, uma formação mais certa e ampla da doutrina católica sobre a
encarnação do Verbo de Deus, sobre os sacramentos, sobre o sacrifício
eucarístico, e sobre a virgem Maria Mãe de Deus, contribuiu para a adoção de novos ritos, por meio dos quais a luz, mais
esplendidamente brilhante na declaração do magistério eclesiástico, veio a
refletir melhor e mais claramente nas ações litúrgicas para unir-se com maior
facilidade à mente e ao coração do povo cristão”.
Também nesse encíclica, Pio XII já falava, por três vezes, da
participação consciente dos fiéis na liturgia. Recordemos o número 73 dessa
Encíclica Mediator Dei:
“É necessário, pois, veneráveis
irmãos, que todos os fiéis tenham por
seu principal dever e suma dignidade participar do santo sacrifício
eucarístico, não com assistência passiva, negligente e distraída, mas com tal
empenho e fervor que os ponha em contato íntimo com o sumo sacerdote, como
diz o Apóstolo: "Tende em vós os mesmos sentimentos que Jesus Cristo
experimentou", oferecendo com Ele e por Ele, santificando-se com Ele (Mediator Dei, 73).
ATENÇÃO! Pio XII aprovou os ritos em duas línguas,
recuperou o sentido e importância da Vigília Pascal (1951), fez a Reforma da
Semana Santa(1955) e autorizou na liturgia a recitação de perícopes na
língua vernácula, a língua mãe de cada país.
Tiveram também influencia fundamental, como aqui já
apontados noutras ocasiões, alguns encontros internacionais de liturgia:
O congresso de liturgia pastoral em Assis-Roma(1956) e a Semana Internacional
de Estudos em Nimega (1956),
onde houve expressiva participação de renomados bispos e cardeais.Esse caminho
percorrido por Pio XII foi prosseguido pelo seu sucessor, Papa João XXIII
(1958-1963) com a codificação das rubricas do Missal em 1960, a reforma de
grande parte do Pontificale
Romanum(1960) e a reforma do Ordo do sacramento batismal para os adultos,
em 1962, já às portas do Concílio.Um ano antes de sua morte, João XXIII, em
1962, aprovou a nova edição do Missale Romanum. Papa João
XXIII convocou o Concílio Vaticano II com o objetivo de renovação da Igreja e
de se reformular a forma de explicar a doutrina católica ao mundo moderno. Era
aclamado mundialmente como o “Papa bom” por causa de sua simpatia, sua simplicidade
e sua jovialidade.A Constituição Sacrosantum Concilium, portanto, não caiu do céu, mas é
fruto de todo um clamor que vinha dos novos tempos, da nova compreensão da
liturgia, motivada pelos centros teológicos, que fomentaram os princípios
contidos na SC. Anselm Schott, por
exemplo, tinha publicado em 1884 um missal popular, das formas de participação
do povo, que teve grande difusão nos anos sucessivos.Em 1909, em Malines,
por ocasião do Katholikentag (palavra alemã, que se traduz por “dia do
Católico”), o bispo Lambert Beauduin(+1960) defendeu o fortalecimento da
liturgia celebrada com a participação do povo. Esse encontro de Malines assinalou o início
do movimento litúrgico no século XX, encontrando eco na Holanda, Bélgica,
Itália e França.O movimento litúrgico foi particularmente ativo nos países de
Língua alemã (Helmut Hoping, A Constituição Sacrosanctum Concilium. In: As
constituições do Vaticano II, Ontem e hoje, org. Geraldo B. Hackmann e Miguel
de Salis Amaral, Edições CNBB, 2015, p.104).
Os
grandes teólogos desse movimento litúrgico foram: Odo Casel-OSB (+1948) e Romano Guardini (+1968)!
Guardini já havia
escrito, durante a I Guerra Mundial (1914-1918) a sua obra magistral intitulada
“O Espírito da Liturgia”, que terá uma influência enorme nessa reforma. Bento
XVI foi aluno e admirador confesso de Romano Guardini!
|
(Romano Guardini) |
O destino realmente
singular de Romano Guardini é o fato de ter sido uma espécie de 'mestre' para
nada menos do que três papas. Paulo VI promoveu pessoalmente as suas primeiras
traduções a partir do pequeno livro La coscienza, que aconselhava aos seus
estudantes da Federação das Universidades Católicas Italianas. Bento XVI se percebe até mesmo como uma espécie de discípulo espiritual
e intelectual do grande pensador. Finalmente, o Papa Francisco passou alguns
meses na Alemanha para ler e estudar Guardini.
O primeiro teólogo da liturgia que se ocupou da celebração
enquanto tal foi Odo Casel (1948), pioneiro também por oferecer uma reflexão do
culto cristão sobre bases direta e primariamente teológicas. Para ele:
“A celebração é uma epifania, uma manifestação do divino na ação ritual, o elemento principal do ato celebrativo é a presença-atualização da salvação na ação sagrada e ritual, na qual intervém a prece da Igreja. A ação sagrada é imitação simbólica do agir divino (mimésis), mas ao contrário do que ocorre na celebração das religiões naturalistas, apoia-se numa palavra pronunciada como anúncio da intervenção divina(Palavra de Deus, portanto, a celebração é memorial, mas a presença é Real) e na súplica que se seguiu como resposta à proclamação.” (J. L. Martin, No Espírito e na Verdade, I, p. 187).
|
(Frei Odo Casel-OSB) |
Odo Casel preparou
terreno para a Teologia do Mistério Pascal e Romano Guardini, entre os
tesouros, a ideia fundamental da Igreja como Corpo Místico, ambos conceitos
contemplados e valorizados nos documentos do Concílio Vaticano II.
A grande
geração de teólogos do Vaticano II “não tem sucessores”, afirma José María
Castillo!
A reabilitação plena
do teólogo José María Castillo e de sua obra teológica, foi feita pelo Papa
Francisco que declarou: “Leio com muito prazer seus livros, que
fazem muito bem às pessoas”. Com esta frase, Francisco ‘abençoou’ o
teólogo espanhol no Vaticano, onde há duas décadas cassaram sua ‘venia
docendi’. Por outro lado, convida Religión Digital a “continuar apostando na
renovação de uma Igreja em saída”. José María Castillo Sánchez ( Puebla de Don
Fadrique , província de Granada , 16 de agosto de 1929) é um sacerdote católico
espanhol da Sociedade de Jesus até 2007, escritor e teólogo com extensa
produção. Ele entrou no noviciado da Companhia de Jesus em 1946, aos dezessete
anos, mas ficou doente e os médicos aconselharam sua partida.Em 1947, ele
entrou no seminário de Guadix. Foi ordenado sacerdote em dezembro de 1954, pelo
bispo de Guadix Rafael Álvarez Lara. Depois de servir como pastor em uma cidade
em Granada, ele terminou sua graduação na Faculdade de Teologia de Granada (1955)
e voltou à Companhia de Jesus (1956).Em 1962, alguns dias antes da abertura do
Concílio Vaticano II , ele foi a Roma para fazer doutorado em Teologia , na
Universidade Gregoriana , onde defendeu sua tese de doutorado sobre Afetividade
nos Exercícios, de acordo com Francisco Suárez , em 1964. Lá, iniciou sua
atividade de treinamento e ensino, primeiro em Córdoba com os estudantes
jesuítas das ciências humanas e depois em Granada com os teólogos, como
professor de teologia dogmática na Faculdade de Teologia, desde 1968. Ao mesmo
tempo, começa a ampla produção teológica. Ele se caracterizou, além de muitas
conferências, lotes de exercícios, reuniões e workshops com o clero secular ,
ao qual ele pertencia há anos.A década de 1970 é marcada pela mudança na vida
de Castillo, pelo Concílio Vaticano II , pelo general Pedro Arrupe (desde
1965), pelas mudanças sociopolíticas ocorridas na Espanha, pelo contato com as
jovens gerações de jesuítas e uma atividade intensa como professor, e suas
viagens à América Latina, que se tornarão constantes a partir de 1988. A
teologia de Castillo será uma referência entre os anos 60 e 70.
|
(José María Castillo e Papa Francisco) |
“Pela lei da vida, a grande geração de teólogos, que tornou
possível a renovação teológica realizada pelo Concílio Vaticano II, está se
extinguindo por completo. E nas décadas seguintes, infelizmente, não surgiu uma
geração nova que tenha podido continuar o trabalho que os grandes teólogos do
século XX iniciaram”, escreve José María Castillo, teólogo espanhol, em
artigo publicado por Religión Digital, 15-05-2017. A tradução é de André
Langer.
Os estudos bíblicos,
alguns trabalhos históricos e alguma coisa também no que se refere à
espiritualidade, são âmbitos do fazer teológico que se mantiveram dignamente.
Mas mesmo movimentos importantes, como ocorreu com a Teologia da Libertação,
dão a impressão de que estão desmoronando. O que aconteceu na Igreja? O que
está acontecendo conosco? A primeira coisa que deveríamos considerar é que é
muito grave o que estamos vivendo nesta ordem de coisas. Os outros campos do
saber não param de progredir: as ciências, os estudos históricos e sociais, as
mais diversas tecnologias sobretudo, nos surpreendem a cada dia com novas
descobertas. Ao passo que a teologia (falo especificamente da católica) segue
firme, inacessível ao desânimo, interessando cada dia a menos pessoas, incapaz
de dar resposta às perguntas que tantas pessoas se fazem e, sobretudo,
empenhada em manter, como intocáveis, supostas “verdades” que eu não sei como
podem continuar a defender neste momento da história.
1)- Como podemos
continuar a falar de Deus, com a segurança com que dizemos o que Ele pensa e o
que Ele quer, sabendo que Deus é o Transcendente, que – portanto – não está ao
nosso alcance?
2)- Como é possível
falar de Deus sem saber exatamente o que dizemos?
3)- Como se pode
garantir que “por um só homem o pecado entrou no mundo”?
4)- Vamos apresentar
como verdades centrais da nossa fé o que na realidade são mitos que têm mais de
quatro mil anos?
5)- Com que
argumentos podemos garantir que o pecado de Adão e a redenção desse pecado são
verdades centrais da nossa fé?
6)- Como é possível
defender que a morte de Cristo foi um “sacrifício ritual” que Deus necessitou
para perdoar as nossas maldades e salvar-nos?
7)- Como se pode
dizer às pessoas que o sofrimento, a miséria, a dor e a morte são “bênçãos” que
Deus nos manda?
8)- Por que
continuamos a manter rituais litúrgicos que têm mais de 1.500 anos e que já
ninguém entende, nem sabe por que continuam a ser impostos às pessoas?
9)- Acreditamos
realmente naquilo que nos dizem em alguns sermões sobre a morte, o purgatório e
o inferno?
Enfim, a lista de
perguntas estranhas, incríveis e contraditórias seria interminável. E, enquanto
isso, as igrejas estão vazias ou com algumas pessoas idosas, que vão à missa
por inércia ou por costume. Simultaneamente, os nossos bispos põem a boca no
céu por assuntos relacionados ao sexo, ao passo que se calam (ou fazem
afirmações tão genéricas que equivalem a silêncios cúmplices) diante da
quantidade de abusos de menores cometidos por clérigos, abusos de poder
cometidos por aqueles que administram esse poder para abusar de alguns, roubar
a outros e humilhar os que estão ao seu alcance. Insisto em que, na minha
modesta maneira de ver, o problema está na pobre, paupérrima, teologia que
temos: Uma teologia que não leva a sério o mais importante da teologia cristã,
que é a “encarnação” de Deus em Jesus Cristo. O apelo de Jesus a “segui-Lo”. A
exemplaridade da vida e do projeto de vida de Jesus. E a grande pergunta que os
crentes teriam que enfrentar: como vamos apresentar o Evangelho de Jesus neste
tempo e nesta sociedade em que vivemos? Termino insistindo em
que o controle de Roma sobre a teologia foi muito forte, desde o final do
Pontificado de Paulo VI até a renúncia do papado de Bento XVI. O resultado é
muito nefasto: na Igreja, nos seminários e nos centros de estudos teológicos há
medo, muito medo. E sabemos muito bem que o medo bloqueia o pensamento e
paralisa a criatividade. A organização da Igreja, nestas questões, não pode
continuar como esteve tantos anos. O Papa Francisco quer uma “Igreja em saída”,
aberta, tolerante, criativa. Mas, vamos continuar com este projeto?
Infelizmente, na Igreja há muitos homens, com bastões de comando, que não estão
dispostos a largar o poder, assim como eles o exercem. Bom, se é assim, vamos
em frente! Logo teremos liquidado o pouco que ainda resta...(Mateus 16,18: “Pois também eu te digo
que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do
inferno JAMAIS prevalecerão contra ela...”)
Considerações sobre as críticas ao
Concílio Vaticano II
(Commentby Veritatis Splendor)
“Põe tu confiança no Senhor, e
segue os seus caminhos. Ele te exaltará e possuirás a terra; a queda dos ímpios
verás com alegria” (Sl 36,34).
1. Introdução
Vivemos um tempo em que graças a Deus, os inimigos internos da Igreja estão
levando golpes muito duros. Duros pela força da verdade com que a Mãe
Igreja vem ensinando seus filhos todos, principalmente aqueles que a acusam de
conivência com o erro e os que sedentos de novidades ignoram sua irrefutável, eterna, santa e perene
doutrina. A Motivação deste trabalho é expor algumas considerações
nossas sobre tudo isto que recentemente vem acontecendo acerca do Concílio
Ecumênico do Vaticano II.
2. Questionar é
diferente de acusar pejorativamente!
Alguns dos nossos caríssimos leitores têm nos questionado
acerca de nossa defesa do Vaticano II. Alegam que nós estamos defendendo uma
aceitação burra do Concílio. Ora, isso não é verdade. Ao demonstrar que através
de um Concílio Ecumênico a Igreja exerce de forma solene seu poder sobre toda a
Igreja, estamos mostrando que as críticas ao Concílio devem se dar nos
justos limites da razão e do bom senso.Por exemplo: “uma mãe que sempre criou e educou seus filhos com todo
amor em meio a tantas diversidades, sempre mostrando que é digna de confiança.
Certo dia, um de seus filhos acha estranha a forma como esta mãe se expressa ao
falar sobre um determinado assunto, ou ainda como se comporta frente a uma
situação nova. O que deve fazer este filho? Deve exigir esclarecimentos, confiando em todo testemunho que sua mãe
lhe deu ou deve acusá-la de ter perdido a vergonha na cara? O que deveria
esperar esta mãe? E se ainda esta mãe demorasse a esclarecer seu filho?Esta
situação hipotética nos traz lições preciosas. Seja numa relação entre pais e
filhos, marido e mulher, onde o testemunho do tempo construiu toda uma
estrutura de confiança, amor e idoneidade, quebrar esta relação, por conta da
desconfiança e da intriga seria como abrir mão de um tesouro precioso. Se
tratando da Igreja, instituição divina, fundada por Cristo, assistida por Deus
Uno e Trino, a coisa é ainda mais grave.” Se há algo que não compreendemos, ou que achamos inadequado,
devemos pedir orientação e esclarecimento aos nossos pastores e em último caso
exigir explicações da Santa Sé. Isso é bem diverso que acusar a Igreja de
ter promulgado o erro pelo seu Magistério, é bem diferente de dizer que a Igreja
oferece uma Missa herética (qual a heresia?). Movimentando-se de uma
coisa para a outra, deixamos de questionar e passamos a acusar, postura que é
muito grave. O Católico pode e deve exigir esclarecimento sobre a Fé e a
Doutrina, direito adquirido pela Tradição e promulgado no CDC (cân 212), porém
sem ferir a unidade, autoridade e a idoneidade da Santa Igreja.
A IGREJA É INFALÍVEL EM MATÉRIA DE FÉ E
MORAL EM SEU MAGISTÉRIO SOLENE!
Vão dizer: temos o dever de apontar
os erros e quem erra. Muito bem, no entanto a Igreja não erra! Não pode errar
JAMAIS EM VIRTUDE DE NOSSA SALVAÇÃO! Pois ela é a Coluna e sustentáculo da verdade! (I Tim 3,15). Assim, sobre a Igreja não se aponta erros, mas, pode-se pedir se necessário, MELHORES E MAIORES esclarecimentos! Simples assim!
3. A Contradição dos
tradicionalistas:
Todo aquele que assume uma postura anti-Vaticano II acaba por
cair em uma contradição que o leva invariavelmente a uma heresia. É dogma que a
Igreja é Santa e que pecadores são seus membros, isto é, seus filhos. Se a Igreja é Santa e não pode
ensinar o erro, como então ela ensinou o erro no Vaticano II? Vão dizer que
isso foi possível porque ela não fez uso de dogmas. Ora, de qualquer forma, se
a Igreja promulgou os erros que deveria combater, então Ela pecou. Não há
saída para os tradicionalistas!
Os ensinamentos de um Concílio "são
ensinamentos da Igreja!"
Não são ensinamentos de um Papa ou dos Bispos. Se a Igreja
ainda por cima, criou um novo catecismo, emitiu novos documentos e atualizou
sua doutrina social com base no Vaticano II, e neste Concílio houve a
promulgação do erro, então a Igreja infalível afundou ainda mais o pé na jaca.
Como explicam os
tradicionalistas: a Igreja Santa ter pecado?
Caem na mesma sinuca em que se
meteram os protestantes. Não é de se espantar que agora, tanto os
tradicionalistas quanto protestantes acusam a Igreja de traição, infidelidade e
abandono da Palavra de Deus. Outra contradição deles é negar o Vaticano II principalmente
por “supostamente” não ter declarado dogmas, mas utilizam especulações de
teólogos (até os modernistas), jornalistas e agências de notícias como se
fossem dogmas declarados. Uma “Constituição Apostólica” é um documento do
Magistério Pontifício, ou seja, promulgado pessoalmente pelo Santo Padre, cujo
conteúdo, com valor de decreto, abrange o ensinamento definitivo da Igreja a
respeito de um determinado assunto. Trata-se, portanto, de um tipo particularmente
solene e importante de documento da Igreja.
Dependendo do conteúdo
específico, as Constituições Apostólicas podem ser “subdivididas” em dois tipos:
1)- Constituição Dogmática, quando contêm matéria de fé em
que todo católico deve crer.
2)- Constituição Pastoral, quando contêm diretrizes da Igreja
sobre a sua ação prática junto aos fiéis.
ATENÇÃO!!! Nada impede, porém, que um documento pontifício seja
classificado apenas genericamente como “Constituição Apostólica”, sem a
especificação “dogmática” ou “pastoral”. Durante o Concílio Vaticano II
(1962-1965), foram promulgadas quatro Constituições Apostólicas de relevância
histórica. Todos nós, católicos, deveríamos conhecê-las e lê-las na íntegra,
para aprender mais sobre a nossa Igreja e sobre a nossa fé, particularmente
consideradas na perspectiva da nossa época.
VAMOS A VERDADE DOS FATOS: VEJAMOS AGORA AS DUAS CONSTITUIÇÕES “DOGMÁTICAS” DO CONCÍLIO VATICANO II:
1)- DEI VERBUM (A
Palavra de Deus)
-Tipo: Constituição Dogmática.
-Tema: a relação entre as Sagradas Escrituras e a Tradição.
-Promulgação: Papa Paulo VI, 18 de Novembro de 1965.
2)- LUMEN GENTIUM (A
Luz dos Povos)
-Tipo: constituição dogmática.
-Tema: a natureza e a constituição da Igreja como instituição
e como Corpo Místico de Cristo.
-Promulgação: Papa Paulo VI, 21 de novembro de 1964.
Interessante que os
tradicionalistas julgam o Concílio Vaticano II por sua história, mas não
utilizam o mesmo critério para dos Concílios anteriores, pois nem tudo que foi
promulgado nos concílios anteriores tiveram caráter dogmático. Realmente no
mundo do erro, a coerência não é uma virtude muito apreciada.
O IBP (Instituto Bom Pastor): A tábua
de salvação dos tradicionalistas?
O IBP (Instituto Bom Pastor) “é uma sociedade de vida
apostólica de direito pontifício instituída conforme as normas do direito
canônico (can, 732); seus membros querem exercer seu sacerdócio dentro da
tradição doutrinal e litúrgica da Santa Igreja Católica Romana”. É
formado por padres dissidentes da FSSPX (Fraternidade Sacerdotal São Pio X).Os tradicionalistas dizem que a Igreja na ereção do IBP
acolheu padres que não aceitam a Missa Nova e nem o Vaticano II. Ensinam que se
Roma acolheu em plena comunhão padres lefebvristas, logo não é errado ao
católico recusar a Missa Nova nem o Concílio. Este tipo de abordagem fica ainda
mais convincente pelo fato de membros do IBP possuírem laços de amizade com
líderes ou adeptos tradicionalistas. Um amigo muito querido chegou a indicar-me
a leitura das declarações do Superior do IBP, Pe. Philipe Laguérie, onde este
reconheceria haver erros no Vaticano II (2) e a falta de legitimidade (não
confundir com legalidade) da Missa Nova (3).Com toda certeza, diante de todo
este cenário é muito tentador aderir à cartilha anti-Vaticano II. Ainda mais
quando se trabalha muito bem com a psicologia das pessoas, com palavras
amáveis, gestos de carinho, demonstração de piedade, enfim um verdadeiro
espetáculo de sedução que pretende levar as pessoas a enxergarem somente aquilo
que o "guru tradicionalista" deseja.
Trarei informações que julgo serem de
grande relevância, para que as “viseiras-de-burro” possam cair permitindo um
maior raio de visão - O acolhimento do IBP junto à Santa Sé:
Há uma diferença sutil, porém significativa entre tolerância
e aceitação. Um erro pode ser tolerado quando o bem a
ser conquistado é maior do que se poderia conseguir atacando-o. Claro que este
bem desejado inclui o próprio extermínio do erro. Não significa que esta
aceitação temporária, esta tolerância seja um reconhecimento do erro (cisma)
como se fosse algo correto.Por exemplo: num relacionamento verdadeiramente ecumênico (não relativista) com um
protestante, isto é, visando a sua conversão à Verdade confiada por Cristo à
Sua Igreja, posso até tolerar o erro da Sola Scriptura (não combatê-lo num
primeiro momento), visando mostrar ao protestante somente pela Escritura
incompleta que ele tem, o Esplendor da Verdade, que conseqüentemente o levará a
abandonar a Sola Scriptura. A Igreja ao acolher os padres que abandonaram a
FSSPX e que constituem o IBP age da mesma forma. A Igreja cede para conquistar,
recua para avançar, se cala para ser ouvida! São sutilezas da diplomacia
romana.
PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR:
1)- Se com a acolhida dos ex-membros da FSSPX, a
Igreja está reconhecendo os supostos erros do Vaticano II, e dando apoio a quem
nega o Concílio, o que justifica o fato desta porta não ter sido mais
alargada e acolhido toda a FSSPX?
2)- O que justifica o fato do Papa Bento XVI dizer através do
seu Motu Proprio que libera a Missa de S. Pio V, mas que a questão sobre D.
Lefebvre ainda não está resolvida?
3)- Por que no mesmo Motu Proprio, o Papa Bento XVI reconhece
a ortodoxia da Missa Nova?
4)- Por que a Congregação da Doutrina da Fé ratificou e
defendeu o subsistit in do Vaticano II?
Há informações muito importantes que
devem ser consideradas e aprofundadas aqui:
Os estatutos do IBP são experimentais. Ora, se o quadro é
como os tradicionalistas o pintam, por que acolher lefebvristas com estatutos
temporários ou experimentais? Não seria mais adequado acolhê-los com estatutos
não-experimentais?A experiência do IBP na Igreja é uma experiência de amor, de
reconciliação. Não de licenciar o ataques ao Concílio!
Já
que nossos desafetos gostam tanto do que veiculam as agências de notícias,
proponho a leitura das linhas abaixo:
“O Arcebispo de Bordeaux e
Presidente da Conferência Episcopal de França, Cardeal Jean-Pierre Ricard
explicou que o Santo Padre tomou a decisão de erigir este novo Instituto. Deste
modo, continua-se dá a vontade de propor uma experiência de reconciliação e de
comunhão que terá que afirmar e aprofundar-se com os fatos. Os estatutos do
Instituto do Bom Pastor foram aprovados com caráter experimental...” (fonte: ACI) - Como era de se esperar, a Santa Sé acolheu os padres do IBP
num gesto de esperança de uma futura total reconciliação. A Igreja concedeu-lhes todas as
condições para que eles possam convencer-se de que o Vaticano II não é um mal
em si, mas que o mal está na sua leitura liberalista.
O IBP
está licenciado a rejeitar o Vaticano II?
Em 11 de setembro de 2006, a ACI veiculou o acolhimento dos
padres do IBP junto à Roma, informando o mundo católico sobre a ereção do
mesmo. Esta notícia foi comentada no sítio do Prof. Felipe Aquino. Tal comentário
rendeu-lhe duros ataques do Prof. Orlando Fedeli (como era de praxe), que o
acusou de ter falseado a verdade. Na polêmica foi envolvido o Pe. Rafael Navas
Ortis, Superior do IBP na América Latina (4).Um estudo bem consistente de toda
aquela polêmica é digno de um livro. Com efeito, há informações ali que os
leitores menos atentos deixam passar com facilidade. Por isso, nos satisfaremos
em dizer que:“O Prof. Felipe Aquino não se
enganou de todo, e que todo aquele circo no qual o Pe. Navas acabou envolvido,
seja porque não leu o que escreveu o Prof. Felipe Aquino, ou porque não entendeu
a missão do próprio instituto do qual faz parte, foi muito bem arquitetado para
ser utilizado como suposta prova contra o Vaticano II.”
Em 5 de outubro de 2006 (isto
é, poucos dias após a controvérsia acima referida), o Cardeal Jean-Pierre
Ricard, que é o supervisor do IBP junto à Santa Sé através da Comissão Ecclesia
Dei, declarou que:
“Os padres do IBP devem aceitar o
atual magistério do Papa e dos Bispos, acrescentou ainda que eles devem deixar clara
sua posição de conformidade com o magistério atual que se expressou no Concílio
do Vaticano II, bem como os documentos promulgados por ele. Insiste o Cardeal
que, a oferta de amor estendida aos padres do IBP, não deve reabrir questões
sobre o caminho tomado pela Igreja durante os últimos 40 anos...”(5) - Um mês depois desta entrevista (aproximadamente em 06 de
Novembro de 2006), Pe. Philipe Laguérie é chamado à Roma para dar explicações
sobre suas declarações dinamitosas sobre o Concílio do Vaticano II. Fato este
que chegou a ser ridicularizado pela FSSPX (6).
Ora, será mesmo que
o IBP tem licença para atirar pedras no Vaticano II?
No ano de 2007, na oportunidade da visita do Santo Padre ao
Brasil, um Bispo amigo nosso e de grande importância entre os fiéis
tradicionalistas, recebeu a informação do Card. Castrillon Hoyos (presidente da Comissão
Ecclesia Dei, e que assinou os estatutos do IBP), de que IBP não está
autorizado a rejeitar o Vaticano II, confirmando o que havia dito Card.
Ricard, supervisor do IBP.
Claro que há uma
diferença entre não poder rejeitar o Concílio e ser obrigado a aceitá-lo!
Ora, não se pode esperar de um luterano recém convertido ao Catolicismo
que o mesmo use imediatamente incenso ou que tenha em casa uma imagem de Nossa
Senhora. Aplicando isso aos padres do
IBP, não se pode esperar que estes homens que outrora estavam na FSSPX, de uma
hora para a outra, como num passe de mágica, admitam tudo o que a Igreja
ensinou e fez depois do Vaticano II. É compreensível que os padres do IBP,
tenham muitas reservas quanto ao Concílio. Porém, é significativo que eles não
tenham permissão para serem franco-atiradores do Concílio, cospindo no prato que comem da Santa Mãe Igreja. E é aí que está
o detalhe, é aí que está a sutileza de toda questão.Lembremos que a Igreja com a ereção do IBP abriu um caminho
de reconciliação aos dissidentes da FSSPX, cujos frutos ainda se esperam,
conforme atestamos nas palavras do Card. Ricard:“Se dá a vontade de propor uma
experiência de reconciliação e de comunhão que terá que afirmar e aprofundar-se
com os fatos. Completa o purpurado que: somente o futuro mostrará se esta
experiência foi uma iniciativa promissora ou uma falsa esperança...”(5).
A oferta de amor
da Igreja ao IBP já começou a dar frutos!
Já é possível notar uma mudança de postura no próprio IBP.
Pe. Laguérie já reconhece o poder do Papa de reformar a Liturgia (3), levando-o
a aceitar a legalidade da Missa Nova. Esta tese é fortemente contestada pela
FSSPX (7), o que rendeu críticas desta aos ex-correligionários. Pe. Tenoüarn, membro do IBP e secretário do Pe. Laguérie, já
admite não só a legalidade da Missa Nova, mas também sua legitimidade. É o que
podemos constatar em sua declaração em Valerus Actuelles (França) em 1 de
dezembro de 2006:“Apenas do ponto de vista destas diferenças de tom, que não é necessário
fazer grande exagero, mas que existem, e a nossa conversa mostra isso, creio
que se faz necessário aceitar a diferença de ritos, e também que se possa
preferir de forma fundamentada e profunda, não apenas subjetiva ou estética, o
rito tradicional. Depois de dizê-lo, bem entendido, se em nome dessa
preferência se anatemizam todos os demais, e
se declara que o rito novo não é legítimo, não estaremos fazendo nada pela
Igreja...” - Claro que esta mudança de postura é enxergada por alguns tradicionalista como traição à causa
tradicionalista. O que é melhor trair falsos mestres, ou trair a Deus?
Os verdadeiros
tradicionalistas estão em Roma!
Desde o término do Concílio quando D. Lefebvre começou a
liderar a frente anti-Vaticano II, muitos de seus adeptos acabaram por
reconhecer os próprios erros. Dois belíssimos exemplos e bem conhecidos são os
padres da Fraternidade Sacerdotal São Pedro (FSSP) e os padres da Administração
Apostólica Pessoal São João Maria Vianney (Padres de Campos-RJ). Eles
assim como o IBP retornaram à Igreja cheios de reservas ao Vaticano II.Os passos que o IBP está dando,
eles já deram no passado. E o Esplendor da Verdade acabou os convencendo de que
os erros não estão no Vaticano II.
|
(RIBETON, RIFAN e FELLAY) |
Como é belíssimo
ver, Pe. Vicent Ribeton, um ex-lefebvrista declarar:
“Não creio que celebrar a missa segundo o novo ordo, evidentemente com a
observância das rubricas, possa, em si,
constituir uma desordem moral objetiva. Dizer o contrário equivaleria a afirmar
que a Igreja teria promulgado um rito intrinsecamente mau, o que parece
impossível de sustentar sem cair no sedevacantismo. Não estou convencido de
que o novo rito exprima muito adequadamente cada uma das realidades que se
atualizam no altar, mas isso não
significa, por essa razão, que seja heterodoxa. De fato, as condições de
validade e de ortodoxia de um rito constituem um mínimo, e a Igreja sempre
assumiu ritos de maior ou menor riqueza, até mesmo, perdoem-me a expressão, de
certa pobreza...”(8)
Pe. Leonel Franca (9) ensinou certa vez que: “Os dois maiores obstáculos à Verdade são o orgulho e a vaidade. Porém, almas sinceras são capazes de resistir bravamente às forças impetuosas destes inimigos poderosos. Foram o orgulho e a vaidade que cegaram Satanás que era eminente Anjo de Luz. Este seduzido por si próprio e imbuído de sua própria ilusão convenceu outros anjos a seguirem-no. Se os dois grandes obstáculos da Verdade causaram tanto mal até mesmo aos anjos, que grandes males não farão a uma pobre alma humana?”
De forma análoga, pessoas de mentes de grande inteligência e
capacidade, seduzidos por si mesmos e imbuídos de suas próprias ilusões, acabam
por seduzir a outros levando-os a pensar que a recepção do IBP pela Igreja é
uma aceitação ao ataque ao Vaticano II. Nada mais falso! O Novo
Catecismo da Santa Igreja é atualizado pelo Magistério do Vaticano II. O mesmo
se aplica ao Compêndio do Catecismo que é um resumo daquele. A Doutrina Social
da Igreja é riquíssima em referências ao Vaticano II, o mesmo, seu compêndio.Os últimos Papas ensinaram citando
os documentos do Concílio, o Motu Proprio do Papa Bento XVI o ratifica. Vários
ex-lefebvristas hoje defendem o Concílio.
|
(recado válido tanto para progressistas quanto tradicionalistas) |
O Vaticano II faz parte da Tradição de sempre da Igreja! É continuidade e não ruptura! Rezemos para
que mais católicos acordem do encanto da sedução sedevacantista e de um tradicionalismo manco, cego, engessado, e percebam que fora do Magistério
da Igreja que é auxiliado pelo Espírito Santo e prometido por Jesus que estaria com esta mesma igreja (conf. Mateus 28,20), desde Pedro até o atual papa, não há outra Verdade. Rezemos para que o
IBP e outros movimentos cismáticos, ajudem a Santa Sé não só a dar a justa hermenêutica do Concílio, mas também, que através deste trabalho reconheça sua ortodoxia. Só podemos desejar
ao IBP todas as bênçãos e sabedoria do Pai, do Filho e do Espírito Santo,oferecendo todo o
nosso amor, orações e apoio no que precisarem.
(1) IBP. Instituto Bom Pastor Website: O que é o Instituto
Bom Pastor? Disponível em http://www.ibp-la.org/ibp/?ss=que_es&l=pt. Último
acesso em 05/08/2007.
(2) LAGUÉRIE, Pe. Philipe. Instituto Bom Pastor Website: Pôr
em surdina os assuntos que irritam? Disponível em http://www.ibp-la.org/articulos/?ss=blog_ibp&a=surdina&l=pt.
Último acesso em 05/08/2007.
(3) LAGUÉRIE, Pe. Philipe. Instituto Bom Pastor Website:
Direito ou Ilegalidade? Disponível em
http://www.ibp-la.org/articulos/?ss=blog_ibp&a=surdina&l=pt. Último
acesso em 05/08/2007.
(4)Disponível em
http://www.montfort.org.br/index.php?secao=veritas&subsecao=igreja&artigo=carta_felipe_aquino&lang=bra.
Último acesso em 09/08/2007.
(5)publicada em
http://www.cwnews.com/news/viewstory.cfm?recnum=46909.
(6)Disponível em http://www.fsspx-brasil.com.br/page%2007-c-IBP_no_confessionario_do_Cal_Ricard.htm.
Último acesso em 09/08/2007.
(7)Disponível em
http://www.fsspx-brasil.com.br/page%2005-6d-delirio-doutrinal-ibp.htm. Último
acesso em 05/08/2007.
(8) RIBETON, Vicent. Declaração no Forum Catholiqué, em 13 de
Novembro de 2006.
(9) Foi o primeiro reitor da PUC-RJ. Viveu na primeira metade
do século XX. Ficou conhecido por sua sabedoria e santidade. Suas obras mais famosas
são: A Psicologia da Fé e O Problema de Deus, ambas editadas pela Puc-Rio/Loyola.
------------------------------------------------------
APOSTOLADO BERAKASH: Como você pode ver, ao contrário de outros meios midiáticos, decidimos por manter a nossa página livre de anúncios, porque geralmente, estes querem determinar os conteúdos a serem publicados. Infelizmente, os algoritmos definem quem vai ler o quê. Não buscamos aplausos, queremos é que nossos leitores estejam bem informados, vendo sempre os TRÊS LADOS da moeda para emitir seu juízo. Acreditamos que cada um de nós no Brasil, e nos demais países que nos leem, merece o acesso a conteúdo verdadeiro e com profundidade. É o que praticamos desde o início deste blog a mais de 20 anos atrás. Isso nos dá essa credibilidade que orgulhosamente a preservamos, inclusive nestes tempos tumultuados, de narrativas polarizadas e de muita Fake News. O apoio e a propaganda de vocês nossos leitores é o que garante nossa linha de conduta. A mera veiculação, ou reprodução de matérias e entrevistas deste blog não significa, necessariamente, adesão às ideias neles contidas. Tal material deve ser considerado à luz do objetivo informativo deste blog. Os comentários devem ser respeitosos e relacionados estritamente ao assunto do post. Toda polêmica desnecessária será prontamente banida. Todos as postagens e comentários são de inteira responsabilidade de seus autores e não representam necessariamente, a posição do blog. A edição deste blog se reserva o direito de excluir qualquer artigo ou comentário que julgar oportuno, sem demais explicações. Todo material produzido por este blog é de livre difusão, contanto que se remeta nossa fonte. Não somos bancados por nenhum tipo de recurso ou patrocinadores internos, ou externo ao Brasil. Este blog é independente e representamos uma alternativa concreta de comunicação. Se você gosta de nossas publicações, junte-se a nós com sua propaganda, ou doação, para que possamos crescer e fazer a comunicação dos fatos, doa a quem doer. Entre em contato conosco pelo nosso e-mail abaixo, caso queira colaborar:
filhodedeusshalom@gmail.com
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.