O Maniqueísmo é
gnóstico uma religião que se originou na Babilônia, no século dC 3d.Seu
fundador foi um nobre persa de ascendência chamado Mani (ou Manes),
c.216-c.276. Maniqueísmo foi muito tratada como uma heresia cristã, mas é mais
claramente entendido como uma religião independente, aproveitando a diversos
recursos do Cristianismo , Zoroastrianismo, e Budismo.A cerca da idade
de 24, Mani recebeu uma especial revelação de Deus, segundo a qual ele foi
chamado para o perfeito incompleto religiões fundada por profetas anteriores -
Zaratustra, Buda e Cristo.Sobre o ano 242, ele empreendeu uma extensa viagem
como um pregador itinerante, proclamando-se o "Mensageiro da
Verdade", o Paraclete prometida por Cristo.Viajando por todo o Império
Persa e, tanto quanto Índia, ele reuniu um número considerável de seguidores.Ele sucumbiu com a
crescente hostilidade de Zoroastra sacerdotes e finalmente foi executado por
heresia. O maniqueísmo foi a essência do princípio da absoluta Dualidade:
conflito entre o primitivo Deus, representada por luz e do espírito, e Satanás,
representado pela escuridão e ao mundo material.Os seres humanos, criados por
Deus, eram na sua essência divina, mas eles exercidas dentro deles sementes da
escuridão, semeada por Satanás, porque os seus materiais de órgãos.
Salvação, como ensinado por Mani,
requer a libertar as sementes de luz, a alma, a partir do material escuridão em
que está preso
Isto é conseguido pelo estrito celibato ascético e práticas. Aqueles que são perfeitos para tornar-se-ia
definir três "focas" em suas vidas: um sobre a boca, só para falar a
verdade e que se abstenham de carne ou comida impura de qualquer natureza,
sobre as mãos, para que se abstenha de guerra, matando, ferindo ou vida ;
Sobre o peito, para tornar impossíveis as obras da carne. Este triplo selo
aplica-se somente ao eleger ou pura; ouvintes siga um código menos exigente. Os
imperfeitos são destinados ao contínuo renascimento em um mundo material de
órgãos. O Maniqueísmo negou a realidade
do corpo de Cristo e rejeitou a noção de livre arbítrio, adaptado do
cristianismo batismo, a Eucaristia, e um terceiro sacramento da remissão dos
pecados no momento da morte. Por causa de sua atitude para com o mundo
material, Maniqueísmo encarado como um mal físico, e não uma entidade moral.As
mulheres eram consideradas forças das trevas, vinculam os homens para a polpa.
O imperador bizantino
Justiniano emitiu um édito contra o Manichaeans, e Santo Agostinho, que por 9
anos tinha sido um Manichee, escreveu e falou contra esta heresia, assim como
descreveu a sua própria experiência em sua Confessions. O Maniqueísmo
desapareceu no Ocidente por volta do século 6o, embora as suas doutrinas
reapareceu no ensinamento da Bogomils, Albigenses, e outras seitas durante a
Idade Média. No Oriente, Maniqueísmo sobreviveram até o 13 º século.Filosofia
dualística que divide o mundo entre bem, ou Deus, e mal, ou o Diabo. A matéria
é intrinsicamente má e o espírito intrinsicamente bom. Com a popularização do
termo, maniqueista passou a ser um adjetivo para toda doutrina fundada nos dois
princípios opostos do bem e do mal.
A igreja cristã de
Mani era estruturada a partir dos diversos graus do desenvolvimento interior.
Ele mesmo a encabeçava como apóstolo de Jesus Cristo. Junto a ele eram mantidos
doze instrutores ou filhos da misericórdia. Seis filhos iluminados pelo sol do conhecimento
assistiam a cada um deles. Esses "epíscopos" (bispos) eram
auxiliados por seis presbíteros ou filhos da inteligencia. O quarto círculo
compreendia inúmeros eleitos chamados de filhos e filhas da verdade ou dos
mistérios, sua tarefa era pregar, cantar, escrever e traduzir. O quinto círculo
era formado pelos auditores ou filhos e filhas da compreensão. Para
esse ultimo grupo as exigencias eram menores, eles deviam seguir sobretudo, os
dez mandamentos seguintes como fio condutor da sua vida cotidiana:
1. Não adorar nenhum
ìdolo.
2. Purificar o que
sai da boca: Não jurar, não mentir, não levantar falso testemunho ou caluniar.
3. Purificar o que
entra pela boca: Não comer carne, nem ingerir alcool.
4. Venerar as
mensagens divinas.
5. Ser fiel ao seu
cônjuge e manter a continencia sexual durante os jejuns.
6. Auxiliar e
consolar aqueles que sofrem.
7. Evitar os falsos
profetas.
8. Não assustar,
ferir, atormentar ou matar animais.
9. Não roubar nem
fraudar.
10. Não praticar
nenhuma magia ou feitiçaria.
O NEO-MANIQUEÍSMO DA ESQUERDA
O Maniqueísmo
baseava-se na crença na existência de dois princípios opostos e inconciliáveis
- um, naturalmente, bom; e outro, naturalmente, mau.Em larga medida, até pela
origem geográfica, tratava-se duma variante tardia do mazdaísmo. O
Neo-maniqueísmo baseia-se em idêntica crença, promovida, entretanto, a dogma. Possui
uma mira ontológica de alcance ilimitado. Não se trata apenas, agora, de quem é
de esquerda é NATURALMENTE BOM, PURO E SANTO, e
aqueles que discordam e não colaboram com seu modus operandos é exponencialmente
os pérfidos e a encarnação do mau. E aí, na essência, garantem-nos todos os seus
profetas e beatos, até os seus atos infames
são excelentes e justificáveis.
As condições de surgimento do fanatismo
O fanatismo não surge
do nada. O perigo do fanatismo são as bases reais e até sinceras, que o
possibilitam e a sutil extrapolação da verdade por uma hábil e calculada
retórica que - insisto, a partir de certas verdades - descamba para o exagero e
para o erro. O que se confirma que a sinceridade não é o critério da
verdade, pois uma pessoa pode estar sinceramente enganada. Naturalmente, isto só
pode ser feito fora do âmbito estritamente racional e lógico, de preferência em
ambientes de massa, altamente emotivos (embalados por hinos, chavões, gritos de
guerra,gestos e linguagens próprias do “grupo”). O fanatismo floresce sobretudo no
âmbito do ressentimento, da revanche, da superação de uma humilhação. E
ainda mais se os ressentidos julgam que se trata de uma humilhação injusta e
indevida, sobretudo em contraste com um período de esplendor perdido e que deve
ser recuperado a todo custo. O quadro se completa se, além disso, for
possível identificar um inimigo (real ou imaginado), responsável pelo atual
período de decadência.
Não sejamos ingênuos.
Não convém esquecer, por exemplo, que Hitler não era meramente um
desequilibrado que por métodos de terror enganou o povo alemão.
Hitler
apresentava-se como a real esperança de uma Alemanha humilhada e ressentida
pelo esmagador Tratado de Versailles que lhe fora imposto (cabe lembrar que, em
certos meios cristãos, Hitler era bem visto: por exemplo, Julián Marías conta
em suas memórias que na Espanha oficialmente católica pós-guerra civil: “Hitler
e Mussolini eram os ‘salvadores da civilização ocidental’ e piedosas senhoras
punham o retrato de Hitler ao lado da imagem de Nossa Senhora do Pilar. A
encíclica de Pio XI Mit brennender Sorge, contra os erros e perigos do nacional-socialismo,
era proibida”; para aquele catolicismo oficial, o Führer era visto até mesmo
como o “salvador da cristandade”).Do mesmo modo, em outros campos, um Palmeiras
na segunda divisão, uma Argentina falida, na qual os prêmios de programas de
auditório de televisão são simplesmente empregos de carteira assinada, apresentam
condições ideais para a irrupção de fanatismos, desde que surja o líder
carismático (no sentido weberiano) como a possibilidade concreta de “virar o
jogo”.
Quanto mais glória,
quanto mais história, quanto mais orgulho tiver havido antes da decadência,
quanto mais “indevida” for a situação de miséria atual, tanto mais êxito fácil
alcançará o líder que souber canalizar os ressentimentos da massa que, guiada
pela retórica e pelos resultados espetaculares da seita ou do movimento, não se
importará muito com a supressão da liberdade e a falta de ética dos métodos
utilizados.
Afinal, o grupo de eleitos estão convencidos de que estão em uma
missão e eles são os “autênticos fiéis” executores da mesma. Junte-se a isto
uma total ausência dos padrões mais elementares do rigor intelectual e a vontade
dos seguidores de aceitar qualquer bobagem apocalíptica, ou as palavras de um
pseudo intelectual, e ai teremos o
quadro completo.Um dos aspectos mais assustadores no fanatismo político e religioso
é o fato de que os iluminados, precisamente porque se assenhorearam da verdade
absoluta e são os procuradores absolutos de toda verdade e conhecimento para
todas as questões humanas, nunca reconhecem um erro e não hesitam em valer-se
da mentira para caluniar aqueles que eles julgam inimigos da causa.
COMO SUPERAR TUDO ISTO DE FORMA PRUDENTE?
Precisamente porque é
na prática que tudo se resolve, a primeira investida das seitas é contra a
virtude da Prudentia, a arte de decidir.Para bem entender o grandioso
significado da Prudentia, virtude cardeal que é o melhor antídoto contra o
fanatismo, vale a pena tentar conhecer o seu significado clássico.Baseados em
quê tomamos nossas decisões? A arte de decidir bem, reta e adequadamente, era
denominada pelos antigos Prudentia. Originariamente, a virtude da Prudentia
nada tem a ver com a encolhida cautela a que, hoje, chamamos prudência;
Prudentia (a legítima, a verdadeira) é, pura e simplesmente, a arte de decidir
corretamente.
Estudando o tratado De Prudentia de Tomás de Aquino, deparamos com uma
doutrina maravilhosa e riquíssima e, além do mais, de extrema atualidade.
Encontramos, por exemplo, que a Prudentia é uma virtude intelectual; seu
princípio é a inteligência reta, o olhar límpido capaz de ver a realidade e,
com base na realidade vista, tomar a decisão boa, para “fazer a coisa certa”.
A inteligência da
Prudentia é uma virtude e não se confunde com dotes de inteligência, digamos,
de Q.I., porque só o homem bom consegue ter a inteligência que não distorce o
real (pense-se, por exemplo, na dificuldade de ver a realidade por conta de
preconceitos, inveja, egoísmo etc.). Virtude da inteligência, mas da
inteligência do concreto: a Prudentia não é a inteligência que versa sobre
teoremas ou princípios abstratos e genéricos, não! ela olha para o “tabuleiro”
de nossas decisões concretas, do aqui e agora, e sabe discernir o lance certo,
moralmente bom.Entre muitos outros pontos geniais (o papel da memória na
Prudentia, por exemplo) da doutrina clássica, destacaria aqui seu critério para
saber o que é bom: a realidade! Saber discernir, no emaranhado de mil
possibilidades que esta situação me apresenta (que devo dizer a este aluno?,
compro ou não compro?, devo responder a este mail? etc.), os bons meios concretos que me
podem levar a um bom resultado e, para isto, é necessário um único requisito:
ver a realidade.Mas este ver a realidade (por mais assintótico que
possa ser, como em toda virtude) é só uma parte da Prudentia; a outra parte,
ainda mais decisiva (literalmente), é transformar a realidade vista em decisão
de ação: de nada adianta saber o que é bom, se não há a decisão de realizar
este bem.
A prudentia é assim a arte de exercer bem a liberdade
Os fanáticos de nosso
tempo, que ignoram o verdadeiro significado da clássica Prudentia, atentam
contra ela de diversos modos: em sua dimensão cognoscitiva (a capacidade de ver
o real, por exemplo aumentando o ruído - exterior e interior – que nos impede
de “ouvir” o real) e em sua dimensão preceptiva: o medo de enfrentar o peso da
decisão, que tende a paralisar os imprudentes (pois é, a Prudentia toma
corajosamente a decisão boa!).Já se pode avaliar, assim, a relação entre
abolição da prudentia e fanatismos. A grande tentação da imprudência (sempre no
sentido clássico) é a de delegar a outras instâncias o peso da livre decisão
que, para ser boa, depende só da pessoal visão da realidade.Certamente, há
absolutos na moral (não existem homicídios ou adultérios bons); refiro-me aqui
à indevida absolutização do relativo. O regime Taliban, por exemplo, pretendia
tornar dispensável o discernimento de cada fiel, por meio de um extenso e
detalhado sistema de normas, que determinava inclusive as formas verbais de que
a torcida podia se valer num jogo de futebol: ante a alegria do gol, a
exclamação devia ser: “Al-hamdu lillah” (louvor a Deus); ante uma roubada do
juiz, Allahu Akbar (“Deus é grande”) e, em qualquer caso: Allah (qualquer
palavrão estava proibido pelo Ministério do Vício e da Virtude).Mesmo sem
chegar a extremos como o da criação de um Ministério do Vício e da Virtude, a
tentação é a de tornar dispensável a virtude pessoal da prudentia: deixando
tudo definido, previsto e operacionalizado num código a ser escrupulosamente
consultado e obedecido.Para além de leis
secas, rigidezes e literalidades, as religiões correm ainda outro risco de
imprudentia: no afã de libertar-se do peso da responsabilidade de decidir, o
crente transfere o “abacaxi” para Deus (ou para o sobrenatural, ou para o
iluminado pastor da comunidade). Certamente, Deus pode inspirar-nos em nossas
dificuldades de decisão e a Ele devemos humildemente recorrer para pedir luzes
e discernimento. O problema, nisso como em tudo, são os abusos.A base dos
fanatismos, nunca é demais insistir, é o medo, sobretudo o medo à liberdade.
Daí sua pretensão de erradicar a prudentia e, portanto, o risco de abusar da liberdade pessoal.
Temperança e neo-maniqueísmo: medo ao mundo, exaltação do
negativo.
A melhor análise da
temperança e, por contraste, do maniqueísmo que lhe é oposto, encontra-se no
clássico Das Viergespann [26] de Josef Pieper, inspirado na genial antropologia
de S. Tomás de Aquino. A idéia fundamental, legitimamente cristã, da temperança
como virtude cardeal, é simplesmente a de que as forças fundamentais da
auto-realização são as mesmas que, se mal empregadas, podem levar à
auto-destruição. Com isto se afirma uma visão do mundo extremamente positiva e
saudável: o mundo é bom, foi criado por Deus; a matéria (a comida, a bebida, o
sexo) é boa, foi criada por Deus; a reta afirmação do próprio eu é boa; etc. A
temperança é, para Tomás, o bom gerenciamento da dinâmica dessas forças
fundamentais em ordem à auto-realização. A ênfase nunca é na repressão, na
negação dessas forças.
Bem diferentes são as
coisas para o maniqueísmo; a antiga heresia do maniqueísmo que, sempre de novo,
reaparece
aos olhos dos cristãos como se fosse a mais pura ortodoxia. O maniqueísmo é a
heresia de origem oriental que afirma um princípio positivo do mal,
identificado com a matéria, o mundo, etc. Não é de estranhar, portanto,
que o neo-maniqueísmo exagere no apreço pela virtude da temperança e a erija
como a principal das virtudes. Na verdade, não se trata de um apreço pela
virtude, mas por uma pseudo-temperança, desvirtuada de seu caráter essencial,
fundamentalmente positivo.
O neo-maniqueísmo
odeia o mundo, não vê o mundo como criação de Deus e, conseqüentemente, vê o
diabo (afinal, para o maniqueu, o mal tem um princípio positivo: o mau) por
todas as partes.Nessa pregação não há o menor respeito pela inteligência, não
há o mínimo senso do ridículo, não há sequer a necessidade da verdade: se é
“por Deus” e pela causa ideológica vale tudo, inclusive mentir.
Por que esta aversão
ao mundo? O sentimento básico do fanático é o medo, o medo à alegria, o medo ao
mundo, o medo às outras religiões, medo do outro, medo do diferente, medo,
medo.Para vencer este medo, vale-se da distorção de outra virtude cardeal: a
Fortaleza.
Minha perplexidade
fundamental refere-se à dicotomia (um bocado maniqueísta) que estabelece a
divisão entre músicos de satanás / músicos de Deus. Sou ardente admirador da
(divina) música clássica e MPB brasileira e fico a me indagar se, segundo
esta visão, são "de Satanás":
Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Cartola, Pixinguinha, Maria Betânia, Elizete
Cardoso e tantos outros para não citar os Roberto Carlos e as infinidades de
duplas e cantores sertanejos (ou country, como preferem alguns), ou mesmo
roqueiros como Renato Russo, que musicou o hino à caridade do Apóstolo São
Paulo "ainda que eu falasse a língua dos homens e falasse a língua dos
anjos..." etc. Já o Papa João Paulo II, pelo contrário, dirige sua
"Carta aos Artistas" a TODOS os artistas (e não somente aos cristãos)
dizendo-lhes:
"Ninguém melhor do que vós, artistas, construtores geniais de
beleza, pode intuir algo daquele pathos com que Deus, na aurora da criação,
contemplou a obra das suas mãos. Infinitas vezes se espelhou um relance daquele
sentimento no olhar com que vós - como, aliás, os artistas de todos os tempos
-, maravilhados com o arcano poder dos sons e das palavras, das cores e das
formas, vos pusestes a admirar a obra nascida do vosso génio artístico, quase
sentindo o eco daquele mistério da criação a que Deus, único criador de
todas as coisas, de algum modo vos quis associar".
E diz também o Papa
no ponto 10 dessa Carta (e parece estar a falar da música popular brasileira):
"De facto a arte, mesmo fora das suas expressões mais
tipicamente religiosas, mantém uma afinidade íntima com o mundo da fé, de
modo que, até mesmo nas condições de maior separação entre a cultura e a
Igreja, é precisamente a arte que
continua a constituir uma espécie de ponte que leva à experiência
religiosa"
Será que a música clássica
e a MPB brasileira, imensamente rica, é o reino de Satanás? Ou será que ele
(Satanás) não prefere a música "religiosa" insossa, fanática, com
heresias e de má qualidade, que se recusa a celebrar o mundo como Criação?
CONCLUSÃO:
Milton Santos disse
que – “A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando apenas
conseguem identificar o que os separa e não o que os une”. Sendo assim, para aqueles que
detêm o monopólio da força, na manutenção do poder, é indispensável que busquem
alimentar a fragilidade levantada por Milton, de modo que torne o povo alienado
e subserviente aos seus interesses.Essa alienação é construída, no
livro 1984 de Orwell, pelo “estado de ódio”, em que a sociedade é erigida sob
pilares contrários à paz, fazendo com que os indivíduos sejam influenciados a
viverem em constante ódio e medo. Há uma série de atividades ligadas ao ódio,
como os dois minutos de ódio, executados diariamente e a semana do ódio. Nessas
ocasiões, de forma automatizada e repetitiva os indivíduos são impelidos pelo
Partido a exprimirem seu ódio pelos inimigos deste. O próprio
protagonista da história, Winston Smith, que é contrário as idéias do Partido,
em dada situação dos dois minutos do ódio, se vê gritando de forma inflamada
contra os opositores do Partido, comportando-se de acordo com a massa ou como
ele diz – “fazer o que todo mundo fazia, era uma reação instintiva”. Desse
modo, através da ingerência da vida das pessoas e da repetição das suas
artimanhas políticas, o Partido, em 1984, tornava as pessoas facilmente
alienadas ao seu discurso. Esse recurso é o mesmo utilizado no
Admirável Mundo Novo de Huxley, em que por meio da repetição, as pessoas
internalizam as idéias que lhes são passadas como verdades, afinal – “Sessenta
e duas mil repetições formam uma verdade”. Ao submeterem os indivíduos
ao estado de ódio (ou estes se deixarem submeter), o Partido consegue fazer com
que estes esgotem suas energias com o discurso alienante, de maneira que não
consigam ter energia e tempo para perceber as correntes que os prendem. Assim,
o Partido se mantém no poder com uma oposição muito débil, que pouco pode fazer
para mudar a situação estabelecida.
O cenário político brasileiro atual comporta-se do mesmo modo que o
Partido em 1984. Alimenta-se o ódio por qualquer posição contrária a suas
“ideologias”, fazendo com que haja uma ruptura dualista entre “petralhas” e
“coxinhas”. Basta qualquer manifestação de pensamento para que as brigas
comecem e tomem horas a fio, sobretudo, no Facebook. Até mesmo, declarações sem
cunho político-partidário geram declarações que apenas confirmam que vivemos no
estado de ódio da distopia de Orwell.
Sem nos darmos conta
(ou sem querer nos darmos) estabelecemos um maniqueísmo, fragmentando o povo
entre bem e mal, sendo que o discurso que alimenta esse ódio é produzido tão
somente por demônios, de tal forma que escolher um lado e defendê-lo como o
lado do “bem” é no mínimo ingenuidade, para não dizer mau-caratismo mesmo.
Enquanto o povo se divide, nessa guerra de ódio, os partidos revezam-se no
poder, com pouquíssima mudança de ideologia e sem qualquer pensamento que
privilegie a probidade e o bem comum.Para o Partido, no
livro 1984, ou para a classe política brasileira, seja situação ou oposição, de
direita ou de esquerda (se isso quer dizer ainda alguma coisa), o poder se dá
pela construção de – “Um mundo de medo, traição e tormento, um mundo de pisar
ou ser pisado, um mundo que se tornará cada vez mais impiedoso, à medida que se
refina”. Dessa forma, devemos reconsiderar o modo como facilmente nos
ludibriamos e, como disse Milton, nos tornamos cegos que apenas identificam as
diferenças que nos formam e esquecem que a soberania é popular, mas, se o povo
está se digladiando em uma guerra de ódio, o poder passa a ser daqueles que
conseguem fazer desse ódio a fonte da sua vitória.
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