Quando
chegaram para João Batista, alguns até com ar de deboche, disseram:
“João, tem um tal de Jesus ai, que faz milagres, prega
melhor que você, e está arrastando multidões !”
João
compreendeu que estava na hora de sair de cena e deixar que Ele agora crescesse,
ele diminuísse e desaparecesse, e disse com muita tranquilidade e alegria:
“É preciso agora que Ele cresça e que eu diminua e
desapareça, fui enviado apenas para preparar-lhe o seu caminho...”
Na
caminhada espiritual, após nascermos em Cristo (Jo 3), somos permanentemente
desafiados pelo Evangelho a crescermos em Cristo. Enquanto o nascimento é
um ato, o crescimento é um processo para toda a vida que visa nos aproximar de
um padrão de espiritualidade por Paulo denomina de “a medida da estatura da
plenitude de Cristo” (Ef 4,13b). Mas este desafio é fácil, viável,
factível e atingível? Sim, desde se absorva um princípio de vida aqui
magnificamente descrito por João Batista: “convém que Jesus cresça e que eu
diminua” (v. 30).Podemos
resumir a resposta de João Batista, dada a partir do v. 27, em uma só
expressão: “convém que Ele cresça e que eu diminua”. Nela João Batista
demonstra a real consciência de seu papel no contexto das relações de
Deus entre os homens. Com ele, assim, aprendemos duas verdades importantes:
1ª)- EU PRECISO DIMINUIR - João Batista, olhando para Jesus e para si
mesmo, ficou plenamente convicto da necessidade urgente da expansão do Senhorio
de Jesus no seu coração, junto ao seu povo e, acima de tudo, na liderança
espiritual que até então ele exercia. Não somos chamados a anunciar a nós
mesmos. Mas como isto aconteceria se ele insistisse em ser o mesmo João? O que
antes era uma perspectiva profética, agora era uma realidade indubitável e
inevitável: no grande enredo das intervenções divinas na história humana ele,
que fora personagem central de um capítulo importantíssimo, precisava sair de
cena. Por quais razões?
a)- Porque sua
provisão vinha exclusivamente do céu (v. 27), nada do que João fizera, até
então, não foi fruto de sua capacidade, mas resultado direto de um
chamado e uma capacitação vinda graciosamente do céu, ou seja, de Deus; não
somos auto suficientes, por isso precisamos receber a suficiência do Alto
que só é dada àqueles que se humilham (Tiago 4,6).
b)- Porque sua identidade
era humana (v. 28), gosto muito da primeira referência do evangelista João a
seu xará João Batista: “houve um homem enviado por Deus cujo nome era João” (Jo
1,6), na qual fica pontuada sua relevância (“enviado por Deus”), mas também sua
insignificância (“houve um homem”). Pessoas grandemente usadas por Deus
não são “Cristo” na terra, mas apenas seus “precursores”, ou seja,
facilitadores de Sua penetração no coração humano para promover salvação,
santificação e missão (conf. I Cor. 3,6). Usando uma linguagem figurada de
esponsalidade, João Batista imagina o novo movimento de Deus entre os homens
como um bem sucedido casamento: Jesus era o noivo que viera em busca de Sua
noiva, a igreja, com a finalidade de estabelecer com ela uma aliança que
envolvia salvação e libertação do pecado em suas raízes. Seu papel, como amigo
de Dele, consistia em facilitar esta conexão que permitiria uma nova
aliança com Deus baseada essencialmente na graça (Jo 1,17), ou seja, no
Seu desempenho como verdadeiro libertador, e não na mera capacidade do homem de
satisfazer por suas realizações as expectativas divinas. João batista viveu
assim, a transição da velha aliança para a nova aliança, do velho testamento
para o novo testamento. Este era o seu papel, ser um elemento de
transição. Vislumbrou a beleza desta nova aliança, mas não estava nos
planos divinos que ele a experimentasse. Estamos ainda vivos porque Jesus tem
desejado nos usar como conectores entre Ele e os homens, mas uma vez
estabelecida esta conexão muitas vezes Ele também nos tira de cena.Santa
Tersinha do menino Jesus entendeu muito bem isto muito cedo em sua vida, ao
confidenciar em seus escritos:
“Quero ser nas mãos de Deus como o seu brinquedo que Ele e me use e me abuse
a seu bel prazer, depois me deixe em um canto, e se quiser venha me usar novamente..."
João
batista e todos os santos e santas da Igreja, entenderam que a sua diminuição
era imprescindível para que acontecesse o crescimento de Cristo.
2ª)- JESUS PRECISA CRESCER (v. 30 “Convém que
Ele cresça….”) - Os
especialistas bíblicos divergem se as palavras seguintes foram ditas por
João Batista ou por João evangelista. Mas cabe aqui, com certeza, uma
convergência: é o próprio Deus que está falando usando um instrumento humano. Por
que Jesus precisa crescer?
a)-
Primeiramente porque é sua missão é universal e soberana sobre todas e sobre todos.
Sua soberania é resultado de sua origem: veio das “alturas, do céu”, ou seja,
Ele é o próprio Deus que se fez carne e veio habitar entre nós (João 1,1-14).
Esta é a sua identidade: divino, eterno, supremo, único, inigualável. João,
apesar de importante, era apenas como nós, simplesmente humano, e portanto, temporário, frágil e limitado. Esta é a
lógica compreendida por João batista que era versado nas escrituras vero
testamentárias: o humano se submete ao divino, o barro ao oleiro, o servo ao
Senhor.
b)-
Entretanto, dizer que Jesus é soberano pode passar para alguns, a falsa idéia
de que Ele é um Deus desligado, desconectado, alienado, distante e indiferente.
João tinha de Jesus uma visão diametralmente oposta:Jesus falava de realidades
que Ele tinha “visto e ouvido” (v. 32), ou seja, falava com conhecimento de causa,
profundidade e coerência. O acolhimento de Sua palavra proporcionava uma
genuína e extraordinária experiência com Deus que “certifica que Deus é
verdadeiro” (v. 33). Ele é a última e definitiva palavra de Deus aos homens (Jo
6,68; 7,46).A Sua palavra era uma revelação do Espírito e evidencia o desejo de
Deus em repartir conosco de forma abundante, pela palavra de Jesus, este mesmo
Espírito (v. 34; Jo 1,33; 7,38-39).
c)-
João Batista percebeu a autoridade de Jesus de forma inequívoca quando batizou
Jesus, pois viu sobre Ele um reconhecimento do Espírito e do Pai (Mt 3,13-17).
Jesus tinha plena consciência desta extraordinária autoridade (Mt 11,27; 28,18).
Como homem, temos a tendência de querer resolver todas as coisas porque
achamos que somos hábeis, inteligentes, competentes, criativos e ousados. O
resultado desta atitude é frustração e fracasso. Quando entregamos tudo nas
mãos de quem tudo pode,é a partir dai que as coisas acontecem verdadeiramente e
com a eficácia do alto, e já não pelo poder do nosso braço.
“A igreja existe para nada mais
do que, atrair os homens a Cristo e fazer deles pequenos Cristos. Se ela não
está fazendo isto, todas as catedrais, ministros, missões, sermões e até mesmo
o próprio estudo bíblico simplesmente serão desperdício de tempo...” (C. S.
Lewis).
A
unção é fundamental para que a igreja avance em direção ao propósito de Deus.
Mas infelizmente, ao longo da história, ela tem dado excessiva ênfase à unção,
sem um correto entendimento da graça. Há um grande problema nisso, pois a unção
de Deus requer muita responsabilidade.
Lembremos do exemplo de Saul, um
homem ungido por Deus que se desviou do seu caminho. Porem, mesmo desviado, a
unção do Senhor continuava sobre ele, tanto que Davi não ousava feri-lo,
sabendo que era um ungido do Senhor.
Quando
Deus nos unge Ele espera que ajamos de acordo com o que nos foi dado;
precisamos ter muita responsabilidade e temor quanto a isso. Mas
há algo que vai além da unção: a glória de Deus. Quando a glória divina
se manifesta, o homem sai de cena e só o Senhor aparece:
“E quando eles
uniformemente tocavam as trombetas e cantavam para fazerem ouvir uma só voz,
bendizendo e louvando ao Senhor, e quando levantavam eles a voz com trombetas,
e címbalos, e outros instrumentos músicos, para bendizerem ao Senhor, porque
era bom, porque a sua benignidade dura para sempre, então, a casa se encheu de uma nuvem, a saber, a Casa do Senhor; e não
podiam os sacerdotes ter-se em pé, para ministrar, por causa da nuvem, porque a
glória do Senhor encheu a Casa de Deus.” (2Cr 5,13-14).
A
glória de Deus somente se manifesta quando o homem é humilhado, e quebrado;
quando sua capacidade chega ao fim. Na verdade o nosso fim é o começo de Deus, pois
se o grão não morre, não gera vida. Quando estamos cheios da unção
falamos e fazemos muitas coisas; quando a glória de Deus se manifesta todas as
nossas palavras e ações ficam atrapalhadas, e sem sentido, não conseguimos nem
mesmo ficar de pé em sua presença, onde todas as obras são postas a prova do
fogo abrasador e purificador.Nós realmente não podemos fazer nada para Deus,
pois Jesus Cristo cumpriu toda a exigência do Pai. Infelizmente todos nós seres
humanos, temos muita dificuldade em entender e viver essa realidade. Estamos
sempre tentando fazer algo para agradar a Deus e merecer o Seu amor. Somos como
aquele filho que critica o pai por receber bem em casa o filho arrependido (Lc
15,25-32). Viver assim torna a nossa vida muito amarga, e não glorifica a Deus.
Temos
muitas coisas para dizer e fazer; defendemos-nos quando deveríamos permitir que
o Senhor fosse o nosso Juiz (Gn 50,19). Não permitimos sermos humilhados.
Ficamos inquietos quando tentamos cumprir nossa lista de coisas espirituais e
não sabemos por onde começar. Precisamos orar sim, mas com o espírito correto.
Se a oração não for acompanhada do mais profundo quebrantamento e interesse
pelo assunto para apresentar a Deus, nada vale. Serão apenas vãs repetições. A
oração eficaz é aquela que o nosso espírito ora, pois desta forma há conexão
com o Espírito de Deus. Só podemos orar assim quando estamos quebrantados, quando
não há nenhuma interferência da alma. Precisamos aprender que nós não sabemos
orar apropriadamente (Rm 8,26) e somos chamados a descansar neste fato, para
que o Senhor seja glorificado,pois o Espírito vem em auxílio a nossa fraqueza.
CONCLUSÃO
Por
mais estranho que possa parecer, as pessoas com mais intimidade com Senhor não
são aquelas que estão envolvidas em grandes empreendimentos na igreja, mas são
aquelas que se reclinam ao peito do Senhor e ouvem atentamente suas palavras.
Este
era o exemplo de João e também o de Maria, a irmã de Marta. Quando olhamos para
pessoas assim podemos pensar que elas não estão fazendo nada, ou fazendo pouco
para suas qualidades espirituais. Mas justamente elas são espirituais porque se
movem lentamente, ao sopro do Espírito. Agitação e ansiedade tem sido a grande
marca dos dias atuais; pessoas correm sem rumo de um lado para o outro.
Essa correria tem trazido reflexos negativos para o corpo de cristo, levando
muitos a viver uma vida sem propósito. O sentido de falta de propósito na vida
tem criado uma verdadeira onda mundial de pessoas deprimidas. Precisamos estar
atentos a este laço mortal.Então, chegamos agora a um momento crucial: este
culto e esta mensagem só terá valido a pena se você e eu estivermos realmente
convencidos de que não temos outra saída senão a de João Batista: “convém que
Jesus cresça e que eu diminua”. Este é um processo duro e extremamente difícil
e que precisa se estender até o último minuto de nossas vidas. Ele incomoda,
doi, fere, machuca, sangra e nos mata para que gere vida. Envolve reconhecer
sinceramente quem nós somos, pecadores, orgulhos e um nada soberbo que se
acaha. Precisamos saber quem Jesus é: Nosso Senhor e Salvador, mas antes de
tudo nosso amigo, que não nos quer como seus simples servos, mas estabelecer
uma relação de amizade. Você está disposto(a) a viver isto? Morrer para si
mesmo(a) e deixar que ressuscitemos com Ele ?
Apostolado
Berakash
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