Sua curta existência
foi pontilhada de atos admiráveis, pois tudo praticava com espírito de inteira
elevação e sublimidade:“Nossa perfeição não
consiste em fazer coisas extraordinárias, mas em executar bem as ordinárias...”,
costumava dizer. O Santo Monge Religioso passionista
(1838-1862), que colocou a bandidagem para correr, é celebrado no dia
27 de Fevereiro. Em 1860, após a batalha de Castelfidardo, cerca de vinte mercenários
renegados, ligados ao exército de Garibaldi, apareceram na cidade para pilhá-la
e aterrorizar os moradores. Irmão Gabriel, com a autorização do reitor do
seminário, caminhou desarmado para o centro da cidade para enfrenta-los. Um dos
mercenários, que estava prestes a violentar uma jovem, ridicularizou-o por vir
sozinho enfrentá-los. Possenti, numa rápida manobra, tirou o revólver da
cintura do mercenário e ordenou que ele soltasse a mulher. Enquanto o homem o obedecia,
ele rendeu outro soldado que se aproximava e apropriou-se de outro revólver. Ao
verem o que estava acontecendo, os demais mercenários acorreram em defesa dos
companheiros para subjugar o impertinente monge.Nesse momento, uma pequena
lagartixa atravessou a rua entre Possenti e a tropa que se aproximava. Quando
por um breve momento o animal parou, Possenti fez pontaria e matou-o com um
único tiro certeiro. Apontando agora os
dois revólveres para os mercenários, Possenti ordenou que todos largassem suas
armas imediatamente. Diante da exibição de pontaria, os soldados mercenários obedeceram.
Possenti ordenou, também, que eles apagassem todos os focos de incêndio que
haviam iniciado e que deixassem a cidade imediatamente.Após a retirada dos
mercenários, o povo agradecido levou Possenti nos braços até o seminário
chamando-o de “O salvador de Isola”.
Francesco Possenti
nasceu em 1 de março de 1830 em Assis, Itália, o décimo de treze filhos de
Sante Possenti, um advogado que exercia o cargo de prefeito. Sua mãe, Angese
Frisciotti, era de nobre descendência, e morreu quando Gabriel tinha apenas
quatro anos.Ele era uma criança vivaz e feliz, com uma tendência de ser
desobediente e ficar com raiva cada vez que foi repreendido pelo pai.O
comandante da guarnição militar de Spoleto ensinou o menino a manejar a pistola
e o fuzil. Gabriel era considerado exímio cavaleiro e atirador, a caça sendo
seu lazer favorito. Ele começou a frequentar o colégio dos jesuitas em
Spoleto aos 13 anos. Durante seus anos na escola, ele se mostrou um aluno
inteligente e genial, agradando tanto os professores quanto os colegas. Durante
esse tempo ele mostrou um amor para as coisas do mundo. Seus biógrafos dizem
que ele era elegante, grande dançarino e não perdia uma festa. Ele frequentava
o teatro e lia romances, reconhecendo mais tarde quão perigosas essas
atividades eram para a sua alma. Com essas estrepolias e vida de playboy
desregrada, ninguém acreditou quando ele disse que após completar seus estudos
iria tornar-se padre. Na verdade, durante uma grave doença que o acometeu, ele
fez a promessa que, se ficasse bom, dedicaria sua vida a Deus. Passada a doença
é claro que esqueceu o prometido. Porém, outra vez caiu enfermo e novamente
repetiu a promessa. Depois de curado e mais uma vez esquecer o prometido,
estava ele assistindo uma procissão que passava com uma grande imagem de Nossa
Senhora, quando os olhos da Virgem fitaram-no fixamente e ele ouviu as
palavras: "Cumpra sua promessa!". Abalado após o sinal divino
ele decidiu cumprir o prometido e, com vinte anos de idade, entrou para o
seminário local onde recebeu o nome de irmão Gabriel.No dia primeiro de
março de 1838 recebeu o nome de Francisco Possenti, ao ser batizado em Assis,
sua cidade natal. Quando sua mãe Inês Friscioti morreu, ele tinha quatro anos
de idade e foi para a cidade de Espoleto onde estudou em instituição marista e
Colégio Jesuíta, até aos dezoito anos. Isso porque, como seu pai Sante Possenti
era governador do Estado Pontifício, precisava mudar de residência com
frequência, sempre que suas funções se faziam necessárias em outro pólo
católico.Possuidor de um
caráter jovial, sólida formação cristã e acadêmica, em 1856 ingressou na
congregação da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, fundada por São Paulo da
Cruz, ou seja, os Passionistas. Sua espiritualidade foi marcada fortemente pelo
amor a Jesus Crucificado e a Virgem Dolorosa.Depois foi acolhido
para o noviciado em Morrovalle, recebendo o hábito e assumindo o nome de Gabriel
de Nossa Senhora das Dores, devido à sua grande devoção e admiração que nutria
pela Virgem Dolorosa. Um ano após emitiu os votos religiosos e foi por um ano
para a comunidade de Pievetorina para completar os estudos filosóficos. Em 1859
chegou para ficar um período com os confrades da Ilha do Grande Sasso. Foi a
última etapa da sua peregrinação. Morreu aos vinte e quatro anos, de
tuberculose, no dia 27 de fevereiro de 1862, nessa ilha da Itália.As anotações
deixadas por Gabriel de Nossa Senhora das Dores em um caderno que foi entregue
a seu diretor espiritual, padre Norberto, haviam sido destruídas. Mas, restaram
de Gabriel uma coleção de pensamentos dos padres; cerca de 40 cartas
testemunhando sua devoção à Nossa Senhora das Dores e um outro caderno, este
com anotações de aula contendo dísticos latinos e poesias italianas.Foi beatificado em
1908, e canonizado em 1920 pelo Papa Bento XV, que o declarou exemplo a ser
seguido pela juventude dos nossos tempos.São Gabriel de Nossa
Senhora das Dores, teve uma curta existência terrena, mas toda ela voltada para
a caridade e evangelização, além de um trabalho social intenso que desenvolvia
desde a adolescência. Foi declarado co-patrono da Ação Católica,
pelo Papa Pio XI, em 1926, e padroeiro principal da região de Abruzzo,
pelo Papa João XXIII, em 1959.
O Santuário de São
Gabriel de Nossa Senhora das Dores, meta de incontáveis peregrinações e
assistido pelos Passionistas, é um dos mais procurados da Itália e do mundo
cristão. A figura atual deste Santo jovem, mais conhecido entre os devotos como o
‘Santo do Sorriso’, caracteriza a genuína piedade cristã inserida nos
nossos tempos e está conquistando cada dia mais o coração de muitos jovens, que
se pautam no seu exemplo para ajudar o próximo e se ligar à Deus e à Virgem
Mãe.Gabriel de Nossa Senhora das Dores, a quem Leão XIII chamava o São Luiz
Gonzaga de nossos dias, nasceu em Assis a 1 de março de 1838, filho de Sante
Possenti di Terni e Inês Frisciotti. No mesmo dia que viu a luz do mundo,
recebeu a graça do batismo, na mesma pia, em que foi batizado o grande
patriarca S. Francisco, na Igreja de S. Rufino.O pai deste Santo, já com vinte e dois anos era
governador da cidade de Urbânia, cargo que sucessivamente veio a ocupar em S.
Ginésio, Corinaldo, Cingoli e Assis. Como um dos magistrados dos Estados
Pontifícios, gozava de grande estima do Papa Pio IX e Leão XIII honrava-o com
sua sincera amizade. A mãe era de nobre família de Civitanova d’Ancona. Estes
dois cônjuges apresentavam modelos de esposos cristãos, vivendo no santo temor
de Deus, unidos no vínculo de respeito e amor fidelíssimo, que só a morte era
capaz de solver. Deus abençoou esta santa união com treze filhos, dos
quais Gabriel era o undécimo. Este, no batismo recebeu nome de Francisco, em
homenagem a seu avô e ao Seráfico de Assis.Dando testemunho da
educação que recebiam na família, no Processo da beatificação do Servo de Deus,
os seus irmãos declararam: “Nós fomos educados com o máximo cuidado, no que diz
respeito à piedade e à instrução. Nossa mãe era piedosíssima e nos educou
segundo as máximas da nossa santa Religião”. Nos braços, sobre os joelhos de
uma mãe profundamente religiosa o pequeno Francisco aprendeu os rudimentos da
vida cristã e pronunciar os santos nomes de Jesus e Maria.A grande felicidade
que na infância reinava, experimentou um grande abalo, quando inesperadamente o
anjo da morte veio visitar aquele lar e arrebatar-lhe a mãe. D.
Inês sentindo a última hora se aproximar, na compreensão do seu dever de mãe
cristã reuniu todos os filhos à cabeceira do leito mortal, estreitou-os, um por
um, ao seu coração, selou a sua fronte com o último beijo, deu-lhes a bênção,
distinguindo com mais carinho os de tenra idade, entre estes, Francisco;
munida de todos os sacramentos, confortada pela graça de Deus, na idade de 38
anos deixou este mundo, para, na eternidade, perto de Deus, receber o prêmio de
suas raras virtudes.Do pai, o próprio filho Francisco ao seu diretor espiritual
deu o seguinte testemunho:Meu pai, declarou,
tinha por costume levantar-se bem cedo. Dedicava uma hora à oração e meditação;
se neste tempo alguém desejava falar-lhe, havia de esperar pelo fim das
práticas religiosas. Terminadas estas, ia à igreja assistir a santa Missa e
costumava levar consigo os filhos, os que não fossem impedidos. Finda a santa
Missa metia-se ao trabalho. À noite reunia seus filhos e dava-lhes sábios
conselhos e úteis exortações. Falava-lhes dos deveres para com Deus, do
respeito devido à autoridade paternal e do perigo das más companhias. “Os maus
companheiros, dizia ele, são os assassinos da juventude, os satélites de
Lúcifer, traidores escondidos e por isso para os temer e deles ter cuidado”. Os biógrafos de
Francisco fazem ressaltar em primeiro lugar a extraordinária bondade de coração
do menino, principalmente para com os pobres. Muitas vezes ficou ele sem a
merenda, por tê-la dado aos pobres. Entre seus irmãos era ele o anjo da
paz, sempre pronto para desculpar e para defendê-los, quando acusados
injustamente. Não suportava a injúria, fosse ela atirada a si ou a um dos seus.
Com a maior facilidade se desfazia de objetos de certo valor, com que tinha
sido homenageado. Assim presenteou a um de seus irmãos de uma bela corrente de
prata, que tinha recebido de um parente. Estes belos traços no caráter de
Francisco não afastam certas sombras que nele subsistiam também. Os
que o conheciam meigo, bondoso, compassivo, sabiam-no também ser nervoso,
impaciente, irascível.Por felicidade sua o senhor Sante, seu pai não
era daqueles que desculpam os caprichos de seus filhos, pretextando serem
crianças, sem pensar que mais tarde terão de pagar bem caro esta
condescendência e fraqueza. O verdadeiro amor cristão fê-lo combater sem
tréguas todos os defeitos. Francisco era obediente e tinha grande respeito ao
pai, o que aliás não impedia que diante de uma severa repreensão desse largas
ao seu gênio impulsivo, com palavras e gestos demonstrando o seu
descontentamento, sua raiva. Mas tudo isto era fogo fátuo. Logo voltava
às boas; sua boa índole não permitia, que estas revoltas interiores durassem
muito tempo. Era encantador ver, momentos depois, o menino desfeito em pranto,
procurar o pai e por seus modos ingênuos e infantis, assegurar-se do perdão e
do amor do Sr. Sante. Este, fingindo não dar crédito a estas demonstrações,
retrucava bruscamente: “Nada de carícias; quero ver fatos”. Então o menino se
atirava ao colo do pai, beijava-o e sentia-se feliz, em ter voltado a paz, com
o perdão paterno. Nesta escola de sábia pedagogia Francisco cedo aprendeu
combater e vencer seus defeitos.Por algum tempo Francisco ficou entregue aos
cuidados de um mestre; depois freqüentou o colégio dos Irmãos das Escolas
Cristãs, onde fez rápidos progressos, figurando sempre entre os melhores
alunos. Na idade de sete anos fez a sua primeira confissão. Um ano depois, em
junho de 1846 recebeu o sacramento da confirmação. Tudo isto prova que o menino
já se achava bem instruído nas verdades da nossa fé, graças ao sólido ensino
que lhe dispensavam os beneméritos Irmãos Sallistas. Nesse mesmo tempo caiu
também a data da sua primeira comunhão, para qual se preparou com todo o
esmero. Testemunha de vista desse grandioso ato diz: “O fervor com que o
vi chegar-se da sagrada mesa, o espírito de fé, que se estampava no seu
semblante, o vigor dos seus afetos foram tais, que se chegava a crer ser ele
levado por um Serafim”. Esses sentimentos de
fé e de piedade, aquelas chamas de amor ao SS. Sacramento não mais se separaram
do coração de Francisco nos anos de sua mocidade, nem no meio de uma vida
dissipada de certo modo mundana. Não menos certo é que a freqüente recepção da santa
comunhão preservou-o de graves desvios no meio das tentações do
mundo.Terminados os estudos elementares, o pai pensou em procurar para
Francisco uma educação mais elevada, de acordo com a sua posição social e
confiou seu filho aos Padres Jesuítas que na cidade de Spoleto dirigiram um
colégio. Neste educandário passou Francisco os anos todos de sua mocidade no
mundo e chegou a cursar os quatro semestres de estudos filosóficos. Estudante
inteligente e cumpridor exato de seu dever que era, deixou boa memória naquele
colégio e formavam-se as mais belas esperanças a seu respeito. Ano não passava,
que não tirasse um prêmio; no fim dos seus estudos foi distinguido com uma
medalha de ouro. Mestres e colegas igualmente o estimavam. Tudo nele encantava:
os seus modos delicados e gentis, a modéstia no falar, o sorriso benévolo que
lhe afloravam aos lábios, o garbo com que se sabia ver em circunstâncias mais
solenes, os sentimentos nobres que dominam em todo o seu proceder. Aos seus mestres
devotava sempre a máxima estima e profunda gratidão. Das práticas de piedade
era rígido observador e com regularidade freqüentava os santos sacramentos. Não
há dúvida, que, dada a ocasião, o seu gênio impetuoso e quente o levava a
transportes de veemência e de cólera. Mais estes excessos eram sempre seguidos
de lágrimas de arrependimento e de penitência . Desde a sua infância mostrou
devoção particular a Nossa Senhora das Dores, uma imagem da qual se conservava
em sua família; e cabia-lhe a ele adorná-la de flores e manter acesa uma
lâmpada diante da estátua. Afirma um dos seus irmãos, Eurique Possenti, que viu
Francisco, no último ano que passou em casa, usar de cilício de couro com
pontinhas de ferro. Outro testemunho, da família Parenzi, declara: “Sua
conduta religiosa e moral tem sido irrepreensível; dada a grande vigilância de
meus pais, não teria sido admitido em nossa família, se não fosse realmente
virtuoso”.Para completar a imagem do jovem estudante e assim melhor
poder compreender a mudança que nele mais tarde se efetuou, tenha aqui lugar a
descrição da solene distribuição de prêmios, da última em que Francisco tomou
parte no colégio dos Jesuítas em Spoleto, em setembro de 1856. Os melhores
alunos tinham sido escolhidos para abrilhantar a cerimônia com discursos e
declamações poéticas. Entre eles Francisco ocupava o primeiro lugar. Ninguém se
lhe igualava em elegância exterior, no garbo de representar, na graça de
declamar, na graciosidade da gesticulação, no timbre encantador da voz. Podendo
representar no palco, parecia estar no seu elemento e fazia-o com toda a
naturalidade e perfeição.Em sua aparência não
deixava nada a desejar: tudo obedecia às exigências da última moda: o cabelo
esmeradamente penteado, o traje elegante e ricamente adornado, as luvas
brancas, gravata de seda, sapatos luzidios e artisticamente acabados, a tudo
isso Francisco ligava máxima importância. Em certa ocasião recitou com tanto
ardor e tamanho foi o entusiasmo que excitou no auditório, que o delegado
apostólico Mons. Guadalupe, que presente se achava, ao pai de Francisco que ao
seu lado se achava disse: “se vosso filho aqui presente estivesse, abraçava-o
em vosso lugar”.As raras qualidades morais, que o adornavam, a figura simpática
e atraente na flor da mocidade, a extrema vivacidade que nele se observava, não
deixaram de emprestar-lhe um leve sombreado de vaidade, que de algum modo
chegou a dominá-lo. Esta vaidade se lhe patenteava na exigência que fazia no
modo de se trajar, sempre na última moda, de perfumar o cabelo e este sempre
tratado com cuidado, de se aborrecer com uma nódoa por mais insignificante que
fosse, no fato, no amor que tinha a divertimentos alegres e aos esportes
mundanos. O inimigo das almas tirou proveito dessas fraquezas. Se não conseguiu
roubar-lhe a inocência, não foi porque não lhe poupasse contínuos assaltos, bem
sucedidos. A paixão pelo teatro, a verdadeira mania por bailes, o amor à
leitura de romances eram tantos escolhos, tantos perigos, que é de admirar que
o jovem Francisco não caísse presa das ciladas diabólicas. Tão pronunciada era
sua paixão às danças, que lhe importou a alcunha de “bailarino”. Assim um dos
seus mestres, Pe. Pinceli, Jesuíta, quando soube da inesperada fuga de Possenti
do mundo para o convento, disse: “O bailarino fez isto? Quem esperava uma tal
coisa! Deixar tudo e fazer-se religioso no noviciado dos Padres Passionistas!”Francisco bem conhecia o perigo em que
nadava, e não faltava quem o chamasse à atenção, o lembrasse da necessidade da
oração, da vigilância, da mortificação, da devoção a Jesus e Maria, de não
perder de vista a eternidade, etc. Em uma carta que lhe escreveu o Pe.
Fedeschini, S. J. há todos estes avisos; o conselho de fugir das más
companhias, de dar desprezo à vaidade no vestir e falar, de largar o respeito
humano, de fazer meditação diária e receber os sacramentos.Com todas as
leviandades e suas perigosas tendências para o mundo, Francisco não deixava de
ser um bom e piedoso jovem, a quem homens sábios e virtuosos não pudessem
escrever com confiança, benevolência e estima e cujas palavras não fossem
aceitas com respeito e gratidão.“Muitas vezes”, diz
quem bem o conhecia,“Possenti sentiu o chamado de Deus, de deixar a vida no
mundo e trocá-la com o estado religioso”. Seu diretor, Pe. Norberto,
Passionista, declara: “A vocação, se bem que descuidada e sufocada, estava nele
havia muito tempo e ele a sentiu desde os mais tenros anos. Muitas vezes o
servo de Deus disse-me isto, lastimando a sua ingratidão e indiferença”. O mesmo
sacerdote relata: “A sua vocação se manifestou do seguinte modo: Não sei em que ano foi,
sentiu-se ele acometido de um mal, que o fez pensar na morte. Teve então a
inspiração de prometer a Deus entrar numa Ordem religiosa, caso recuperasse a
saúde. A promessa foi aceita, pois melhorou prontamente e em pouco tempo se
achou restabelecido. A promessa ficou como se não fosse feita. O jovem tornou a
dar o seu afeto ao mundo e se entregou à dissipação como antes. Não tardou que
Deus lhe mandasse outra enfermidade, uma inflamação interna e externa da garganta,
tão grave, que parecia a morte iminente já na primeira noite, tornando-se-lhe
dificílima à respiração. Novamente o enfermo recorreu a Deus e invocando Santo
André Bobola, aplicou ao lugar dolorido uma estampa do mesmo Santo,e renovou a
promessa de abraçar o estado religioso. As melhoras se acentuaram quase
instantaneamente e teve o enfermo uma noite tranqüila e não mais voltaram as
angústias da dispnéia. Deste extraordinário favor o jovem se lembrou sempre com
muita gratidão. Manteve também por algum tempo o propósito de fazer-se
religioso, mas diferindo-lhe a execução, o amor ao mundo voltou e no mundo
continuou a viver”. Das paixões de
Francisco, uma das mais fortes foi a da caça. A esta paixão ele pagava tributos
bem pesados e seu diretor espiritual não hesitou em atribuir a este esporte a
cruel moléstia, que o ceifou na flor da idade. Certa vez, em pular uma cerca,
chegou a cair e com tanta infelicidade, que quebrou-lhe um osso do nariz. O
fuzil disparou e o projétil passou-lhe rentinho pela testa, pouco faltando que
lhe rebentasse o crânio. Francisco reconhecendo logo a providência deste aviso,
renovou a sua promessa. Ficou com as cicatrizes, mas deixou-se ficar no mundo.A
graça divina também não se deu por vencida. Rejeitada três vezes, tentou um
quarto golpe, mais doloroso ainda. De todos de sua família Francisco dedicava
terníssima amizade a sua irmã Maria Luzia, nove anos mais velha que ele, e esta
amizade era correspondida com todo afeto. Em 1855 irrompeu em Spoleto a cólera
e Maria Luiza foi a primeira vítima da terrível epidemia. Foi no dia Corpus
Christi, e a notícia alcançou Francisco, quando, na procissão, levava a cruz. A
morte da irmã feriu profundamente o coração do jovem e mergulhou sua alma em
trevas nunca antes experimentadas. Perdeu o gosto de tudo e se entregou a uma
tristeza inconsolável. Parecia, que com este golpe a graça divina
tivesse removido o último obstáculo de a promessa se cumprir. Assim
ainda não foi. Todo acabrunhado, Francisco manifestou ao pai sua resolução de
entrar para o convento chegando a dizer que para ele tudo se tinha acabado
nesta vida. Possenti, receando perder seu filho a quem muito amava, não recebeu
bem a comunicação e pediu-lhe nunca mais tocasse neste assunto. Aconselhou-o a
se distrair, a afastar os pensamentos tristes a procurar a sociedade,
freqüentar o teatro; chegou a insinuar-lhe a idéia de procurar a amizade de uma
donzela distinta, de família igualmente conceituada, na esperança de nos
entendimentos inocentes ela conseguir de fazê-lo esquecer-se dos seus intentos
religiosos. Na igreja
metropolitana de Spoleto gozava de uma veneração singular uma imagem de Nossa
Senhora; a esta imagem chamava simplesmente “a Icone”. Na oitava do dia 15 de
agosto esta imagem era levada em solene procissão por dentro da igreja e não
havia quem não se ajoelhasse à sua passagem. Em 1856 Francisco Possenti
achava-se no meio dos fiéis e todo tomado de amor por Maria Santíssima, os seus
olhos se fixavam na venerada imagem como que esperando por uma bênção especial.
Pois, quando a “Icone” vinha aproximando-se do jovem, parecia ela lhe atirar um
olhar todo especial e lhe dizer: “Francisco, o mundo não é para ti; a vida no
convento te espera”. Esta palavra, qual uma seta de fogo cravou-lhe no coração;
assim saiu da igreja desfeito em lágrimas. Estava resolvido a realizar desta
vez o plano de alguns anos. Tratou, porém, de não dar por enquanto nenhuma
demonstração do seu intento. Embora certo de sua vocação, mas desconfiando
da sua fraqueza, e para não ser vítima de uma ilusão procurou seu mestre no
liceu e diretor espiritual Pe. Bompiani, Jesuíta e a ele se abriu inteiramente,
fazendo do conselho do mesmo depender sua resolução definitiva. O exame foi feito
com toda sinceridade e tendo tomado em consideração todos os fatores influentes
no passado da vida do jovem, o Pe. Bompiani não duvidou de se tratar de uma
vocação verdadeira e animou o jovem a seguí-la. Consultas que fez com mais dois
sacerdotes de sua inteira confiança, tiveram o mesmo resultado. Francisco se
resolveu então a pedir sua admissão na Congregação dos Passionistas. Comunicar
ao pai a resolução tomada, não foi fácil. Mas desta vez o Sr. Sante, homem
consciencioso, vendo a aflição e a firmeza de seu filho, não mais se opôs;
tomado, porém, de espanto quando soube que a Congregação por Francisco
escolhida, a dos Passionistas, era de todas a mais austera. Se bem que não se
opusesse à vontade do filho, tratou de procrastinar a execução do seu plano e
impor condições.Francisco, porém, ficou firme. Tomou ainda e pela última vez,
parte na solenidade da distribuição dos prêmios, no colégio dos Jesuítas, fez
como sempre um papel brilhante no palco, despediu-se dos seus professores, dos
seus amigos e em companhia de seu irmão Luiz, da Ordem Dominicana, por ordem de
seu pai, fez uma visita a seu tio Cesare, cônego da Basílica de Loreto e a um
parente de seu pai, Frei João Batista da Civitanova, guardião de um convento
dos capuchinhos, levando para ambos carta de Sante Possenti em que este pedia
examinassem a vocação do jovem. Tanto o cônego como o capuchinho carregaram
bastante as cores da vida austera na Congregação dos Passionistas, que
absolutamente não lhe conviria, a ele, moço de dezoito anos, acostumado a
seguir às suas vontades, sem restrição de comodidades. A visita à Santa Casa em
Loreto Francisco aproveitou largamente para recomendar-se a N. Sra. Não mais
arredou do caminho encetado. De Loreto foi para convento Morrovale, dos
Passionistas onde já em 21 de setembro de 1856 recebeu o hábito com o nome de
Gabriel dell’Adolorata. Admitido no noviciado, escreveu ao pai e aos
irmãos, comunicando-lhes o fato. Ao pai pede perdão, aos irmãos recomenda amor
filial e boa conduta. A carta, embora de simplicidade encantadora, é um
documento admirável de sentimento filial e católico. Aos companheiros seus de
estudo dirigiu cartas também. Despede-se, pede perdão de maus exemplos que
julgava ter dado; aconselha-os a fugir das más companhias, do teatro, das más
leituras e das conversas inúteis. Convencidíssimo da
sua vocação religiosa, longe do mundo, da sociedade e da família, não mais teve
outro ideal que subir as culminâncias da perfeição. Inconfundível era sua
personalidade no meio dos seus companheiros do noviciado. Sem perder as notas
características do seu caráter, a jovialidade, a alegria de espírito, a
amenidade de trato, era ele inexcedível não só na exatidão do cumprimento dos
exercícios regulares, como também na prática das virtudes cristãs e monásticas.
E se perscrutarmos as causas profundas desta mudança radical na vida de
Gabriel, duas conseguiremos encontrar, aliás suficientes e esclarecedoras: o
ardente amor a Jesus Crucificado, à Santa Eucaristia, sua devoção singular a
Mãe de Deus, em particular à Nossa Senhora das Dores e sua inalterada
mortificação, por meio da qual deu morte aos seus desordenados apetites, um por
um.
Tendo corrido o ano
de provação, Gabriel foi admitido à profissão e mandado para várias casas da
Congregação, com o fim de completar os seus estudos de teologia. Durante os
anos de preparação para o sacerdócio, superiores e companheiros viram no santo
jovem o modelo mais perfeito de todas as virtudes, e cumpridor exatíssimo dos
seus deveres.Quando chegou à idade de vinte e três anos, anunciaram-se os primeiros
sintomas da moléstia, que no prazo de um ano havia de levá-lo ao túmulo: a
tuberculose pulmonar. O longo tempo da sua enfermagem Gabriel o aproveitou para
ainda mais se aprofundar na sua devoção predileta à Sagrada Paixão e Morte de
Jesus Cristo e à Maria Santíssima, mãe das dores. Em fevereiro de 1862
ainda pôde andar e receber a santa comunhão na igreja, junto com seus
companheiros. Inesperadamente o mal se agravou; foi preciso avisá-lo para
receber os últimos sacramentos. A notícia assustou-o por um momento só; mas
imediatamente recuperou a habitual calma, que logo se transformou numa alegria
antes nunca experimentada. O modo de receber o santo viático comoveu e edificou
a todos que assistiram.Não mais largava a imagem do crucificado, que cobria de
beijos, e ao seu alcance tinha a estátua de N. Sra. das Dores, que
freqüentemente apertava ao seu peito, proferindo afetuosas jaculatórias, como
estas: “Minha mãe, faze
depressa!” “Jesus, Maria, José, expire eu em paz em vossa companhia!” “Maria,
mãe da graça, mãe da misericórdia, do inimigo nos protegei, e na hora da morte
nos recebei”.
Poucos momentos antes
do desenlace, o agonizante, que parecia dormir, de repente, todo a sorrir,
virou o rosto para esquerda, fixando olhar para um determinado ponto. Como que
tomado de uma grande comoção diante de uma visão impressionante, deu um
profundo suspiro de afeto e nesta atitude, sempre sorridente, com as mãos
apertando as imagens do crucifixo e da Mater dolorosa, passou desta vida para a
outra.Assim morreu o santo jovem na idade de vinte e quatro anos, na manhã de
27 de fevereiro de 1862. Foi sepultado na igreja da Congregação, em Isola Del
Gran Sasso. Trinta anos depois fêz-se o reconhecimento do seu corpo. Nesta
ocasião com o simples contacto de suas relíquias verificou-se a cura prodigiosa
de uma jovem que a tuberculose pulmonar tinha reduzido ao último estado. Reproduziram-se
aos milhares os prodígios que foram constatados à invocação do Santo.Em 1908 o
Papa Pio X inscreveu o nome de Gabriel da Virgem Dolorosa no catálogo dos
Beatos e em 1920 Bento XV decretou-lhe as solenes honras da canonização. Pio XI
estendeu a sua festa a toda a Igreja, em 1932.
Mas, por que o consideram Padroeiro da SANTA E Legítima Defesa?
O título de “salvador
de Isola” o explica. Do site
da Saint Gabriel Possenti Society, entidade laica sediada em Cabin
John, MD (Estados Unidos da América), consta que o seminário Passionista onde
estudava Gabriel Possenti, em 1860, localizava-se em na pequena comunidade de
Isola del Gran Sasso. Como escreveu John M Snyder, fundador e presidente da
mencionada Sociedade, em carta ao Papa João Paulo II, em 05/03/2001: “Nossa devoção a São Gabriel Possenti justifica-se porque seu exemplo nos mostra que a santidade não é
antagônica às demais virtudes humanas como coragem e determinação.Gabriel
Possenti, em cujo íntimo ardiam a compaixão e a devoção à Virgem Dolorosa,
compreendeu com clareza, sem falsos moralismos, e sem falsa humildade, que o ato de empunhar e empregar armas de fogo, se
necessário, em legítima defesa de indefesos, não afasta o ser humano da senda do Bem.
Antes o coloca entre aqueles que têm permanente disposição neste mundo para
travar o Bom Combate.”
Artigos do Catecismo da Igreja Católica, sobre o direito à
LEGITIMA DEFESA:
CIC §1909: Por fim, o
bem comum envolve a paz, isto é, uma ordem justa duradoura e segura. Supõe, portanto, que a autoridade assegure,
por meios honestos, a segurança da sociedade e a de seus membros, fundamentando
o direito à legítima defesa pessoal e coletiva.
CIC §2263: A legítima
defesa das pessoas e das sociedades não é uma exceção à proibição de matar o
inocente, que constitui o homicídio voluntário. "A ação de defender-se pode acarretar um duplo efeito: um é a
conservação da própria vida, o outro é a morte do agressor. Só se quer o
primeiro; o outro, não."
CIC §2264: O amor a si mesmo permanece um princípio
fundamental da moralidade. Portanto, é legítimo fazer respeitar seu próprio
direito à vida. Quem defende sua vida não é culpável de homicídio, mesmo se for
obrigado a matar o agressor: Se alguém, para se defender, usar de violência
mais do que o necessário, seu ato será ilícito. Mas, se a violência for
repelida com medida, será lícito. E
não é necessário para a salvação omitir este ato de comedida proteção para evitar
matar o outro, porque, antes da de outrem, se está obrigado a cuidar da própria
vida.
CIC
§2265: A legítima defesa pode ser não somente um
direito, mas um dever grave, para aquele que é responsável pela vida de outros.
Preservar o bem comum da sociedade exige que o agressor seja impossibilitado de
prejudicar a outrem. A este título os legítimos detentores da autoridade têm o direito de repelir pelas armas
os agressores da comunidade civil pela qual são responsáveis.
CIC
§2266:
Corresponde a uma exigência de tutela do bem comum o esforço do Estado destinado a conter a difusão de comportamentos
lesivos aos direitos humanos e às regras fundamentais de convivência civil.
A legítima autoridade pública tem o direito e o dever de infligir penas
proporcionais à gravidade do delito. A pena tem como primeiro objetivo reparar
a desordem introduzida pela culpa, quando essa pena é voluntariamente aceita
pelo culpado tem valor de expiação.
Assim, a pena, além de defender a ordem pública e de tutelar a segurança das
pessoas, tem um objetivo medicinal: na medida do possível, deve contribuir à
correção do culpado.
São Gabriel Possenti,
rogai por nós!
-----------------------------------------------------
Apostolado Berakash – Trazendo a Verdade: Se você gosta de
nossas publicações e caso queira saber mais sobre determinado tema, tirar
dúvidas, ou até mesmo agendar palestras e cursos em sua paróquia, cidade,
pastoral, e ou, movimento da Igreja, entre em contato conosco pelo
e-mail:
filhodedeusshalom@gmail.com
+ Comentário. Deixe o seu! + 1 Comentário. Deixe o seu!
Gostei, bem interessante estava com muitas dúvidas.
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam a adesão às ideias nelas contidas por parte deste apostolado, nem a garantia da ortodoxia de seus conteúdos. Conforme a lei o blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a), desde que a resposta não contenha palavrões e ofensas de cunho pessoal e generalizados. Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos.