A desculpa dos
vencedores (E A REVANCHE DOS PERDEDORES)
Em
1962, a guerra revolucionária, uma estratégia de expansão violenta do comunismo
internacional, erigira regimes comunistas na Europa, Ásia, África e em Cuba. No
auge da guerra fria grassavam guerrilhas comunistas na América Latina.
Brasileiros, ainda nos governos Jânio e Jango, foram enviados à China para
treinamento de guerrilha. Prestes, agradecendo homenagem do governador Miguel
Arraes, no Recife, disse: "Nós, comunistas, estamos no governo, mas ainda
não no poder”.
Um
recado para o Exército, que não esquecera a Intentona Comunista de 1935 e
estudava, como de sua obrigação, os tipos de guerra revolucionária
bem-sucedidas. O que vimos como ameaça concreta, diz-se hoje, era paranóia
anticomunista.
Em seguida, ocorreram os
motins. Sargentos ocuparam, em ação armada, parte de Brasília, prenderam
ministro e foram vencidos à bala. Marinheiros, no Rio, abandonaram navios de
guerra, desembarcaram, foram homiziados nos sindicatos dos metalúrgicos do Rio.
Fuzileiros navais, enviados para prendê-los, confraternizaram com eles.
No Congresso, veementes
discursos ligavam os fatos a um estado real da guerra revolucionária. As
mulheres, terços à mão, ombrearam com 1 milhão de paulistas alarmados, na
passeata de São Paulo, rezando por Deus e pela liberdade. Epidemia paranóica? Da grande imprensa também,
que se permitiu bradar "basta!" ao presidente Jango. E a paranóia
levou o bispo Paulo Evaristo Arns a ir ao encontro das tropas do general
Mourão, que desciam de Juiz de Fora, para abençoá-las contra o imaginado perigo
comunista, e ajudou a depor um presidente constitucional.
Desse alarme generalizado,
censurado hoje como pretexto, nasceu o 31 de Março de 1964.No
poder, cometemos o erro de reerguer a combalida economia brasileira, início do
"milagre brasileiro". Em 1965, comunistas
reagruparam-se na nobre missão de derrotar a perversa ditadura militar e erigir
a ditadura do proletariado, a do paraíso soviético. Dividiram-se em muitas
facções. Do contrário, teriam assumido o poder no Brasil os valentes
militantes comunistas Carlos Marighella, Carlos Lamarca, Amazonas Pedroso, José
Dirceu, Apolônio de Carvalho e outros valiosos quadros. Prestes e Brizola, não.
Aquele, porque contrário à
saga da luta armada; este, rejeitado por fracassar a guerrilha de Caparaó,
vergonhosamente presa sem dar um tiro, desperdiçando milhões de dólares de
Fidel Castro. Bravamente, nossos comunistas
seqüestraram diplomatas, a começar pelo embaixador dos Estados Unidos, país de
quem, "lacaios, havíamos cumprido a ordem de derrubar Jango". Não só
isso, como ainda, em seu lugar, pôr o general Castelo Branco, exigência de que
teria sido emissário o adido americano, general Vernon Walters, que ficara
amigo de Castelo Branco na FEB, na Itália. Centenas do lado da ditadura
foram mortos - como deviam ser -, pois eram "antipatriotas e
antipovo". Lamarca matou logo dois: um segurança de banco e um tenente da
PM paulista, seu refém. Agente da famigerada CIA e financiadores da repressão
foram "justiçados". Sentinelas, o corpo destroçado por explosivo
acionado por ousados terroristas, foi o preço inevitável da luta popular e
patriótica.
Perderam os comunistas
intrépidos combatentes na luta armada, mas não morreram em vão. Aos seus
descendentes, o governo de esquerda indenizou com R$ 150 mil cada. Ruas têm hoje
seus nomes. Monumentos são projetados para perpetuar sua memória. Os
sobreviventes, quando não indenizados, foram promovidos ao posto mais alto,
receberam os atrasados em ressarcimento de preterição, ampliando a anistiazinha
concedida por lei pelos militares. A última extensão, no atual
governo, está reparando a violência contra centenas de marinheiros e
fuzileiros, legitimando o motim que foi um dos pretextos para o golpe de 64. O
presidente da comissão especial que já indenizou 280 famílias de vítimas do
regime militar, com R$ 100 mil ou R$ 150 mil cada, "vê com bons olhos a
ampliação" dos trabalhos, para contemplar outras vítimas, enquanto Lula,
se for eleito presidente, acaba de prometer publicamente estender as
indenizações e reinterpretar a lei de anistia para punir os torturadores, que
se beneficiaram da anistia recíproca. Eis a versão dos vencidos.
Diante disso, os vencedores
pedem desculpas em nome das centenas dos que morreram certos de lutar pela
Pátria e cujas famílias não mereceram receber indenizações. Em nome,
igualmente, da memória dos covardemente assassinados; dos que tombaram no
atentado terrorista no aeroporto do Recife; do soldado sentinela do II Exército
cujo corpo se fragmentou, despedaçado pelo explosivo dos terroristas, que dessa
ignomínia se vangloriam em livro premiado em Cuba; do tenente da PM paulista,
refém de Lamarca, o crânio esfacelado a coronhadas; dos seguranças brasileiros
de embaixadores estrangeiros; dos vigilantes de banco privado; do major alemão,
aluno da Escola de Estado Maior do Exército, abatido no Rio "por
engano".Tomando de Cecília Meireles
os versos "são doces mortes livres do peso de prantos", esses que
para os assassinos não tinham pai nem mãe, nem geraram filhos, pois eram os
lixos da revolução leninistas.Pedem desculpas, ainda, os
que tiveram a carreira militar interrompida, ou cassados seus títulos
acadêmicos, devido à acusação não comprovada de tortura, baseada numa única
testemunha facciosa; os que na história rescrita pelos vencidos, amplamente
divulgada nas escolas, são meros golpistas usurpadores do poder movidos pela
paranóia anticomunista.
São quase mortos vivos a
sofrer o revanchismo dos que, derrotados pelas armas, são vitoriosos pela
versão que destrói os fatos, nutrida no governo de esquerda moderada. Todos pedem desculpas aos
comunistas que combateram e venceram, até porque há 300 anos se diz que, na
vida, não há como escapar das injúrias do tempo e das injustiças dos homens.
Pergunta que não quer Calar: Cristo
na sua volta e julgamento, só vai olhar e salvar quem estiver na esquerda ? Lá
só tinham os Justos e os mocinhos? Não tinha nenhum bandido na esquerda? A direita só tinha os bandidos ? Não tinha
nenhum mocinho? Religião e opção político-partidária define caráter?...
Pensemos nisto e façamos "justiça
imparcial" dando a Cesar o que é de César!
Jarbas Passarinho - presidente da Fundação Milton Campos, foi senador
(PPB-PA) e ministro de Estado.
Fonte: http://www.rberga.kit.net/hp64/hp64/jarbasp_3.html
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