Desde a Idade Média, a Igreja desempenhou um papel central na organização e transmissão do conhecimento, sendo responsável pela criação das primeiras universidades europeias. Esses centros de estudo não surgiram meramente como espaços de instrução técnica, mas como locais destinados à comunhão do saber universal, onde se buscava compreender a realidade em sua totalidade, integrando filosofia, artes, ciências e espiritualidade.
Com o tempo, o desenvolvimento das faculdades e departamentos especializados fragmentou esse conhecimento, conduzindo àquilo que alguns chamam de “idiotização especializada”: somos mestres em áreas cada vez mais restritas, mas perdemos a percepção do todo. Nesse contexto, a Teologia assumia um papel único, pois possuía a capacidade de articular e dar sentido a todos os ramos do saber, funcionando como matriz do conhecimento. Filósofos e cientistas medievais, como Tomás de Aquino, refletiam sobre o mundo natural, as leis da lógica e a moralidade a partir de princípios teológicos, reconhecendo que toda verdade é, em última instância, expressão de uma ordem universal.
Esse olhar integrador possibilitou o surgimento das primeiras disciplinas científicas, estabelecendo bases para a física, a matemática, a medicina e a filosofia natural. Com o avanço da modernidade, a especialização se tornou necessária para aprofundar o conhecimento em cada área, mas também criou uma "fragmentação do saber", levando o homem contemporâneo a perceber a realidade em partes desconexas. Recuperar a visão original da Teologia, portanto, não significa reduzir outras áreas ao campo religioso, mas resgatar a capacidade de compreender a totalidade do conhecimento humano, reconhecendo que todas as ciências, em seus fundamentos, nasceram a partir de um horizonte unificador. É nesse sentido que a Teologia permanece como a mãe das ciências, pois ela integrava, explicava e orientava o desenvolvimento intelectual em direção à compreensão do todo.
Como nasceu a ideia de “Universidade” na Idade Média
Muita gente imagina que o nome universidade vem diretamente da ideia de “reunir todos os saberes do universo em um só lugar”. De certo modo, isso acabou se tornando verdade — mas a origem medieval do termo é um pouco diferente.
Universitas: uma corporação de mestres e alunos
Na Idade Média, a palavra latina universitas significava simplesmente “corporação” ou “associação”. Assim como existiam as guildas de comerciantes ou artesãos, a universitas magistrorum et scholarium era a corporação de mestres e estudantes que se reuniam para ensinar, aprender e proteger seus direitos.Esse nome, com o tempo, deu origem ao termo universidade.
Studium generale: o centro do saber
Além disso, havia o termo "studium generale", que designava uma escola de ensino superior reconhecida pela Igreja ou pelo Papa e aberta a estudantes de toda a cristandade. Essas instituições tinham caráter internacional e reuniam diferentes áreas do saber: teologia, filosofia, direito, medicina, artes liberais.
O dia das grandes discussões: disputatio
Dentro das universidades, aconteciam eventos solenes chamados disputationes. Neles, mestres e alunos reuniam-se em público para discutir grandes questões filosóficas, teológicas ou científicas. Era como concentrar todo o conhecimento disponível em um só dia de debate.Essas disputas ajudavam a sintetizar e organizar o saber, funcionando como verdadeiros congressos acadêmicos medievais.
Portanto, o nome universidade nasceu da palavra universitas, que significava corporação de mestres e alunos. Mas, com o tempo, o termo ganhou o sentido mais amplo que conhecemos hoje: o de um lugar onde todo o saber é produzido e democratizado.
Essa transformação se deve ao trabalho das universidades medievais, reconhecidas como studia generalia, e à prática das disputationes, que reuniam em um só momento o melhor do pensamento da época.
Por que a Teologia é considerada a mãe de todas as Ciências?
Por *Francisco José Barros Araújo
Confesso que, como admirador da boa filosofia (embora nesta área seja apenas um autodidata, pois minha formação acadêmica é em Teologia), custei a aceitar a afirmação de que a Teologia seria a mãe da Filosofia. Por muito tempo tentei colocá-las em pé de igualdade, como irmãs — ou, no máximo, como primas legítimas. Afinal, a Filosofia sempre me pareceu ampla demais para não conter em si até mesmo a própria Teologia. Via a Teologia como o estudo da lógica e da economia divina, enquanto a Filosofia, por sua vez, me parecia tratar da realidade em sua totalidade. Nesse raciocínio, o divino faria parte da própria realidade, e, portanto, a Filosofia, por abranger “tudo o que é”, incluiria também o objeto de estudo da Teologia. Logo, parecia-me contraditório considerar a Teologia maior ou anterior à Filosofia. Entretanto, a Teologia cristã — que podemos considerar a forma mais plena de Teologia — não se limita a um esforço puramente humano de raciocínio. Ela se fundamenta na Economia da Revelação, ou seja, na autocomunicação de Deus à humanidade. A partir dessa Revelação, a razão pode exercer sua função: averiguar, analisar e discernir a realidade sob uma luz mais alta, anterior e análoga à própria filosofia. É nesse ponto que, historicamente, compreendemos que a Teologia — não no sentido restrito e moderno que hoje lhe damos, mas como conhecimento de Deus e de seu desígnio — aparece como matriz originária de todas as ciências. Assim, Teologia e Filosofia não são rivais, mas caminham em diálogo: ambas investigam a verdade e a nossa relação com ela. E, como a tradição cristã nos recorda, a verdade última não é uma ideia abstrata, mas uma Pessoa: Deus mesmo é a Verdade. Quem encontra a verdade — ou, melhor dizendo, quem se deixa encontrar por ela — entra inevitavelmente em relação com o próprio Deus.
A Teologia parte da Verdade, e tem como meio e fim a própria verdade de si mesmo e de tudo que nos cerca! A Verdade está expressa no logos (para Heráclito de Éfeso - Sec.V a.C. - é o conjunto harmônico de leis que comandam o universo, formando uma inteligência cósmica onisciente, onipotente, onipresente, lógica e ordenada, que se plenifica compreensivamente no pensamento humano). Só agora entendo mais claramente como a Teologia é superior e anterior a Filosofia!
Embora por vezes se amalgamem, por buscarem o mesmo fim, a verdade, como seu objeto de estudo. Quando observamos as ciências naturais e as estudamos, percebemos que elas são regidas por leis perfeitas, imutáveis e eternas. Ora, se através da razão, o homem, único ser racional que chega a esse conhecimento, ele também percebe que essas leis não depende dele para acontecer, logo as leis naturais são de origens sobrenaturais e refletem a perfeição de quem as elaborou: uma inteligência lógica e superior, que denominamos Deus.
O
filósofo Platão foi o primeiro a distinguir entre realidade imanente e
transcendente. Para ele, existem duas ordens de realidade: uma material e
sensível, apreendida pelos sentidos, e outra imaterial e suprassensível,
acessível apenas à razão.
De
forma geral:
-Imanência
refere-se a algo que contém em si mesmo seu princípio e seu fim.
-Transcendência
refere-se a algo que possui um fim externo, superior a si mesmo.
Desde
Platão, a Filosofia busca compreender a relação entre esses dois conceitos, que
são antagônicos, debatendo sua validade e hierarquia. Acredita-se, por exemplo,
que é possível alcançar o transcendente a partir da imanência, ou seja,
encontrar o superior no próprio interior das coisas.
O
desenvolvimento histórico do conceito
-Aristóteles
e o estoicismo: propuseram que a natureza das coisas contém uma ordem imanente,
da qual se pode extrair um princípio transcendente.
-Tomismo
e neo-escolástica: retomaram essa ideia no contexto da Teologia Cristã,
conciliando razão e fé.
-Kant:
transformou o direito natural em algo imanente ao homem, tornando-o criação da
razão humana, não uma imposição transcendente.
-Hegel:
propôs que o espírito universal pensa através do homem, tornando a razão
imanente à história, e introduziu o conceito de historicismo, em que a
liberdade e o desenvolvimento social seguem leis racionais imanentes.
-Julius
Binder e Husserl: exploraram a imanência em termos do reino do espírito e das
essências, considerando-as anteriores à experiência e imanentes aos objetos,
apreendidas pela consciência.
-Escolas
institucionalistas e estruturalistas: defendem que a realidade social possui
uma ordem imanente, valores e dever-ser próprios, e que o direito é expressão
externa dessa ordem interna das comunidades.
-Durante
a Idade Média, a discussão sobre imanência e transcendência dividiu os
pensadores:
-Neoplatônicos
(como Agostinho): enfatizavam a superioridade da transcendência divina.
-Aristotélicos
(como Tomás de Aquino): defendiam a validade da realidade imanente.
Imanência
e transcendência na religião
-Imanência:
presente em religiões panteístas, como o hinduísmo e algumas tradições
africanas. Aqui, Deus não está separado da matéria, mas permeia tudo, sendo uma
força organizadora da realidade. Em filosofia, Spinoza exemplifica isso com a
máxima Deus sive natura (“Deus, ou seja, a natureza”), em que Deus é imanente e
presente em tudo.
-Transcendência:
presente nas tradições judaico-cristã e islâmica. Deus é visto como uma
entidade primeira, exterior à matéria, criadora de tudo. No cristianismo,
entretanto, Jesus Cristo é a expressão imanente do Deus transcendente, reunindo
os dois conceitos.
A CIÊNCIA A SERVIÇO DA TEOLOGIA
A palavra “ciência”, do latim scientia, significa conhecimento. Ela nasce do esforço humano em buscar verdades objetivas, capazes de iluminar a inteligência e distinguir o certo do errado a partir da experiência. Ora, se Deus é a Verdade primeira, a Causa não causada de todas as causas, afastá-lo da equação do saber é lançar o conhecimento humano no vazio. Sem Ele, tudo se fragmenta, perde sentido e conduz inevitavelmente ao caos.
Foi exatamente isso que ocorreu na França do século XIX. Sob a influência de uma elite de pseudo-filósofos — alguns até bem-intencionados, mas limitados —, Deus foi expulso das universidades. Esses intelectuais, embalados por ideais iluministas, acreditavam poder substituir a Deus, governando o mundo unicamente pela razão, usada de forma radical e arbitrária, onde os fins justificavam qualquer meio. O resultado foi o nascimento de um “cientificismo ateu”: um saber reduzido, fechado em si mesmo, incapaz de dialogar com a dimensão mais profunda da realidade.
A teologia, que outrora era considerada a “mãe das ciências” por oferecer uma visão global e unificadora do saber (daí o nome universidade, lugar do conhecimento universal), foi relegada ao esquecimento. O que restou foram faculdades fragmentadas, cada uma ocupada com o seu pequeno campo de estudo, mas sem capacidade de dialogar com o todo. Dessa fragmentação surgiu o especialista “departamentalizado”, que sabe muito de um ponto específico, mas perdeu a visão de conjunto — tornando-se, muitas vezes, um idiota especializado.
Assim, o conhecimento, que deveria ser complementar e harmônico, passou a ser concorrente, e pior: arrogante, julgando-se autossuficiente e excluindo os demais. O resultado é um saber orgulhoso, confuso e decadente, que não dialoga com os outros ramos da experiência humana e rejeita a lógica suprema e universal de Deus.
Desse terreno infértil brotaram as chamadas “filosofias desconstrutivistas”, que, em vez de edificar, limitam-se a destruir; em vez de oferecer caminhos seguros, multiplicam ambiguidades; em vez de servir à verdade, fomentam confusão. O homem moderno, afastado da fonte da sabedoria, se vê diante de especialistas que sabem derrubar, mas já não sabem construir nada sólido, duradouro ou verdadeiro.
Vejamos como Tomás de Aquino entende e define a “Teologia”
Era necessário existir para salvação do homem, além das demais ciências que são pesquisadas pela razão humana, uma doutrina fundada na revelação divina. Primeiro porque o homem está ordenado para Deus, como para um fim que ultrapassa a compreensão da sua razão limitada e condicionada pelos sentidos naturais. Ora, é preciso que o homem, que dirige suas intenções e suas ações para um fim, antes, conheça esse fim. Com efeito, a verdade sobre Deus pesquisada pela razão humana chegou a um pequeno número de pessoas depois de muito tempo e infelizmente cheia de erros.
No entanto, do
conhecimento experimentado (e não meramente especulativo) dessa verdade,
depende a salvação e verdadeira libertação do homem. Assim, para que a salvação
chegasse aos homens com mais facilidade e maior garantia, era necessário fossem
eles instruídos a respeito de Deus por revelação divina, respeitando o
desabrochar de seu entendimento, aquilo que denominamos na teologia de “marcha
ascendente da revelação”. Ante o advento das ciências “EXATAS”, tonou-se
ambíguo referir-se à teologia como ciência. Todavia,
Santo Tomás entende a palavra "ciência" no sentido Aristotélico, ou
seja, o grau mais perfeito do conhecimento humano, o que conhece a essência de
uma coisa como princípio explicativo desta coisa e de todas as propriedades das
quais dar-se conta a experiência. Haverá demonstração científica quando,
a partir da definição da essência, eu puder mostrar a conveniência necessária
de tal propriedade ao objeto considerado. A aplicação da ciência aristotélica à
teologia como saber humano sobre Deus parecia fadada ao fracasso. Por isso o
dilema: fé ou ciência.
A
doutrina sagrada pode ser considerada uma ciência?
Agostinho diz: "A esta
ciência pertence apenas aquilo pela qual a fé, bem salutar, é gerada,
alimentada, definida, corroborada".
A
doutrina sagrada é ciência! Mas existem dois tipos de ciência:
-Algumas procedem de
princípios lógicos que são conhecidos e provados à luz natural do intelecto, como
a matemática, geometria, enfim, as ciências exatas!
-Outras, procedem de princípios
conhecidos à luz de uma ciência também lógica, mas superior! É desse modo que a
doutrina sagrada procede de princípios lógicos, mas conhecidos à luz de uma
ciência superior, a saber, da ciência dos bem aventurados. E assim como a
música e a medicina aceitam os princípios que lhe são passados pelo aritmético,
assim a doutrina sagrada aceita os princípios revelados por Deus. Portanto, deve-se dizer que os princípios de toda e qualquer
ciência, ou são evidentes por si, ou se apoiam no conhecimento de uma ciência
superior, que não são criados, mas apenas descobertos por quem os estuda, ou
seja, são revelados!
Embora entre as ciências
filosóficas, umas sejam especulativas e outras práticas, a doutrina sagrada
leva em consideração outros elementos além da práxis:
-O livre-arbítrio: Não
obriga ninguém, deixa livre!
-Experiência: Sem
experimentar e deixar-se encontrar pela verdade, fica-se estagnado no ciclo da
razão e da perda do logos, levando ao desespero.
-Soberania de Deus: Este último
é o mais problemático, pois Deus não é manipulável conforme a nossa vontade!
Como fazer experiências com alguém que é livre, soberano e acategoremático?
As outra ciências, comparadas à doutrina sagrada, são chamadas suas servas, como nos é revelado em Provérbios 9,1-6:”A Sabedoria enviou suas servas a clamar nos altos da cidade...” Entre as ciências especulativas deve-se considerar como a mais excelente aquela que é a mais certa ou a que tem a matéria mais excelente. É mais certa, porque as outras recebem sua certeza da luz natural da razão humana, que pode errar, ao passo que ela recebe a sua da luz da ciência divina, que não pode enganar-se. E ela tem a matéria mais excelente, pois se refere principalmente ao que, por sua sublimidade, ultrapassa a razão, ao passo que as outras disciplinas consideram apenas o que está sujeito a razão.Entre as ciências práticas, a mais excelente é a que está ordenada a um fim mais alto como acontece com a política em relação a arte militar, pois o bem do exército está ordenado ao bem da cidade. Ora, o bem dessa doutrina é a bem-aventurança eterna, à qual se ordenam todos os outros fins das ciências práticas. Portanto, é claro sob qualquer dos ângulos, a ciência sagrada é a mais excelente!Deve-se dizer que nada impede que aquilo que é mais certo por sua natureza, seja para nós, menos certo devido as limitações de nosso intelecto aliado ao livre-arbítrio. A dúvida pode surgir em alguns a respeito dos artigos de fé não deve ser atribuída à incerteza das coisas, mas à fraqueza do intelecto humano, por isso, deve-se dizer que a ciência sagrada pode tomar emprestada alguma coisa às ciências filosóficas. Não que lhe seja inevitável e absolutamente necessário, mas em vista de melhor manifestar o que ela própria ensina.
Na teologia, seus princípios não vêm de nenhuma outra ciência, mas de Deus imediatamente, por revelação. Portanto, ela não toma emprestado das outras ciências como se lhe fossem superiores, mas delas se valem como servas, e inferiores.
Que a ciência sagrada se valha das outras ciências, não é por falha ou deficiência sua, mas por falha do intelecto humano que é limitado. A partir dos conhecimentos naturais, de onde procedem as outras ciências, nosso intelecto é mais facilmente introduzido nos objetos que ultrapassam a razão e são a matéria desta ciência. Esta doutrina é, por excelência, uma sabedoria, entre, entre todas as sabedorias humanas, não só num gênero particular, mas de modo absoluto. Compete ao sábio ordenar e julgar; o julgamento de coisas inferiores se faz mediante uma causa suprema desse gênero. Por exemplo, o artífice que preparou os planos da casa merece o título de sábio de arquiteto, em relação a técnicos inferiores incumbidos da talha das pedras ou do corte das madeiras. Tratando da vida humana em seu conjunto, o homem prudente será chamado sábio quando ordenar os atos humanos a um devido fim. Por conseguinte, quem considera simplesmente a causa suprema de todo universo, que é Deus, merece por excelência ser chamado de sábio. Ora, a doutrina sagrada trata muito propriamente de Deus enquanto causa suprema; saber, não somente do que se pode saber por intermédio das criaturas, e que os filósofos alcançaram, “... pois o que se pode conhecer de Deus é para ele manifesto”, diz o apóstolo Paulo na Carta aos Romanos 1,19-32 - mas também do que só Deus conhece de si mesmo, e comunicado aos outros por revelação (economia). Assim a doutrina sagrada merece o nome de sabedoria superior.Ora, o conhecimento da ciência sagrada é obtido pela revelação e não pela razão natural. Portanto, não pertence à doutrina sagrada estabelecer os princípios das outras ciências, mas apenas julgá-los. Tudo o que nessas ciências se encontrar como contrário à verdade da ciência sagrada deve ser condenado como falso, conforme diz na Carta aos Coríntios: “Nós destruímos os raciocínios pretensiosos e todo o poder altivo que se ergue contra o conhecimento de Deus” (2 Cor 10,5).
Desde
os primórdios da história humana a busca pelo divino é uma realidade inerente
ao homem – "O homem é um ser religioso!"
E, junto com essa busca surgiram as conjecturas, ideias inatas e empíricas, formulações fabulosas, racionais e irracionais, as mais diversas sobre a divindade e sua atuação na esfera humana. Isto é; juntamente com o homem nasceu a teologia, primeira de todas as ciências. No decorrer da história vemos a preocupação humana com o entendimento adequado de algo que lhe parecia lógico, mas superior ao seu entendimento. Cada povo formulou sua teologia própria, antes de formular qualquer outra ciência, e muito antes do nascimento de qualquer religião de alcance mundial, desde a mais primitiva das religiões, a anímica.
A AUTÊNTICA TEOLOGIA SE FAZ DE JOELHOS!
Ao longo da história, a teologia ocupou um lugar de destaque como a mãe de todas as ciências. Foi dela que brotaram os fundamentos para a filosofia, a ética, o direito, a política e até mesmo para as ciências naturais. Contudo, nos tempos atuais, ela tem sido frequentemente relegada ao descrédito, muitas vezes reduzida a mera especulação filosófica ou a uma prática confinada ao espaço privado da religião, como se não tivesse nada a oferecer ao debate público e acadêmico. Esse desprestígio, no entanto, não é causado apenas pela secularização do mundo moderno. Grande parte da responsabilidade recai sobre aqueles que deveriam honrar e valorizar a teologia: professores, instituições e estudantes.
Muitas faculdades de teologia perderam sua identidade, transformando-se em centros de “achologia” mais do que de reflexão séria
-Professores, em alguns casos, tratam a disciplina com superficialidade, sem transmitir sua nobreza e relevância.
-Alunos, por sua vez, muitas vezes não assumem o estudo da teologia com a devida seriedade, encarando-a como um curso de pouco retorno financeiro ou de mera utilidade eclesiástica.
Mas a teologia não é apenas uma carreira acadêmica ou uma ferramenta pastoral. Ela é, antes de tudo, a ciência que busca compreender a verdade última: Deus mesmo, fonte e sentido de toda a realidade. Isso significa que sua relevância não se restringe às igrejas ou seminários; a teologia ilumina também áreas como a ética, a ecologia, a política, o direito, a biologia, a filosofia e tantas outras dimensões do saber humano.
O que precisamos, portanto, é recuperar a postura autêntica diante dessa ciência tão sublime. A verdadeira teologia só pode ser feita de joelhos — em atitude de humildade, reverência e oração. Não basta especular sobre Deus; é preciso deixar-se transformar por Ele. Não basta escrever sobre a verdade; é necessário viver a verdade que é o próprio Cristo.
Professores e estudantes de teologia têm hoje uma missão: reabilitar a grandeza dessa disciplina diante da sociedade e marcar sua geração com a seriedade de um conhecimento que integra razão e fé, reflexão e vida. Devemos ter orgulho de sermos estudiosos da teologia, conscientes de que ela é capaz de transformar não apenas a Igreja, mas também o mundo, pois nos conduz à experiência daquilo que é mais profundo e essencial: a realidade de Deus.
Assim, fazendo teologia de joelhos, unindo estudo e oração, razão e espiritualidade, poderemos transformar o mundo de dentro para fora — pela verdade que liberta, pela sabedoria que orienta e pela vida que se rende ao próprio Deus.
Texto adaptado da Suma Teológica Vol 1; Questão 1; artigos de 1-8
UM
PASSEIO SOBRE AS CORRENTES TEOLÓGICAS MAIS RECENTES (nova teologia):
A princípio, depois da escolástica e da reforma protestante, a teologia sofreu uma revolução copernicana, com a proliferação de teólogos independentes (fazendo mais ACHOLOGIA do que Teologia séria e acadêmica). Rotulou-se a partir daí, os teólogos que faziam teologia baseada no tripé da Igreja (tradição, palavra e magistério) como “teólogos da corte, ou teólogos de pescoço voltado para Roma” – considerando quase que como uma ofensa ao pensar teológico (e não uma virtude, ou prudência) fazer teologia dessa maneira, os resultados estão ai: teólogos e teologia para todos os gostos, uma verdadeira torre de babel. Essa chamada "Nova Teologia" surge principalmente, do pensamento de teólogos protestantes do século XX, como por exemplo, Karl Bath, Rudolf Bultmann ou Dietrich Bonhoeffer, que marcaram e influenciaram decisivamente o Concílio do Vaticano II.
Podemos
descrever a "Nova Teologia" em sete pontos principais:
1º)-A Nova Teologia tende, aparentemente, a separar a fé, por um lado, da religião, por outro lado, e mesmo a contrapôr a fé à religião. A religião é considerada (pela Nova Teologia) como expressão mítica e/ou contingente da fé, condicionada pelo ambiente histórico do passado, e que se tornou inaceitável no mundo contemporâneo1 dominado pelo racionalismo, pela ciência e pela tecnologia. Esta recusa da religião, por parte da Nova Teologia, é também a recusa de todo o aspecto cultural ou ritual da religião, ou seja, a Nova Teologia tende a negar o culto religioso todo, por um lado, e nega qualquer valor em confronto com aquilo a que chama “fé autêntica”. A renúncia à importância do aspecto cultural da fé tende a diminuir ou anular mesmo a distância entre as diferentes religiões2, sendo esta tendência reforçada pelo panteísmo declarado de muitos teólogos da Nova Teologia.
2º)-A fé, segundo a Nova Teologia, pode e deve prescindir de todo e qualquer elemento sobrenatural. O sobrenaturalismo é – segundo a Nova Teologia – precisamente o resíduo da religião mítica tradicional que deve ser erradicada da cultura antropológica, o que significa que não existe um mundo diferente daquele em que o homem vive e age; não existe um sobremundo do qual o mundo humano constituiria apenas a aparência e o vestíbulo3. A Nova Teologia não é senão a aceitação plena e simples do racionalismo moderno tal como foi afirmado pelo Iluminismo. Já não há lugar para o mistério de Deus, e Deus não está para além dos limites do conhecimento ou dos poderes humanos, no acessível e no inexprimível: Deus reside na própria natureza do homem enquanto tal. Este é o sentido da afirmação de Bonhoeffer4 de que Deus se encontra no centro do homem e do seu mundo.
3º)- Deus não é transcendente no sentido de ser uma substância ou uma realidade qualquer, separada da Natureza e do mundo, e dotada de causalidade própria, podendo intervir nos acontecimentos do mundo e modificá-los. A causalidade de Deus identifica-se com a causalidade natural e histórica5, e até mesmo a iniciativa divina da Graça opera por meio da livre escolha (livre-arbítrio) dos homens. Trata-se, sem dúvida alguma, do panteísmo clássico, expresso na fórmula de Espinoza de Deus sive Natura que identifica a causalidade divina com a mundana e histórica.
4º)-A transcendência negada a Deus (pela Nova Teologia) constitui, pelo contrário, a índole da realidade humana6. O ser do homem é transcendente na medida em que a existência do homem indivíduo se encontra sempre em relação com a existência dos outros: existir, diz Bonhoeffer, significa existir para os outros. - “O transcendente não é um dever-ser infinito e inatingível (Deus), mas sim o homem próximo, determinado de vez em quando e atingível”.
5º)- Jesus Cristo incorpora a noção de transcendência do ponto anterior. A divindade de Cristo é interpretada pela Nova Teologia como o modelo, a antecipação ou o anúncio daquilo que o homem é ou deverá ser no decurso da sua história no mundo (utopia). A Igreja Católica tradicional diz que "Jesus é Deus”, e a Nova Teologia7 diz que “Deus é Jesus”, o que significa que Deus se negou a Si Mesmo ao tornar-se carne, e deixou de existir como espírito transcendente ou desencarnado8.
6º)- A
Nova Teologia (principalmente de linha protestante), partilha o doutrina do Milenarismo, mas tende a dar à
escatologia um sentido puramente mundano (a utopia do Mundo Melhor, em que os
seres humanos serão perfeitos e o Mal será erradicado: acontecerá, então, o
paraíso na Terra sem males).
7º)- Com a negação do valor da religião, por um lado, e de todas as formas de culto religioso, por outro lado, a Nova Teologia tende a identificar-se ou com a ética (filosofia), ou com a política.Mas trata-se de uma ética humana e mundana que não implica renúncia, resignação ou sacrifício, exaltando até – como fez Nietzsche – os valores naturais e humanos: a saúde, a alegria de viver faustosamente do ponto de vista material, a sexualidade livre e o bem-estar do corpo9. William Hamilton escreveu mesmo:
“A
morte de Deus é o acontecimento menos abstrato que se pode imaginar: conduz
imediata e plenamente a modificações políticas revolucionárias e conduz também
às tragédias e delicias deste mundo.”10
Podemos dizer que o cenário teológico
anda razoavelmente calmo, depois de algumas décadas de “furor”, temos algumas
correntes teológicas em destaque:
1)-Teologias Secularizantes,
de fundo existencialista (como a da morte de Deus), com seus expoentes: Altizer,
Hamilton, Robinson, Vahanian, Van Buren e outros menos cotados.
2)-Veio a "Teologia da esperança", de Moltmann, e sua quase gêmea, próxima a ela, a "teologia
da história", de Pannenberg.
3)-Apogeu da teologia da libertação, que foi a grande estrela
dos últimos anos. Com ela, a teologia saiu de salas de aula e
gabinetes de teólogos para a mídia secular. Parte disto se deveu ao uso de
categorias marxistas de pensamento como princípio hermenêutico, ou seja, como a
ótica pela qual se interpreta a Bíblia. Como o marxismo é o ópio dos
intelectuais, isso a projetou muito. Além disso, ela “pegou carona” no impulso
dado pelas teologias secularizantes, porque sua cristologia se tornou em
“jesuologia”, tomando o homem Jesus e não o Cristo, como referencial.
Centrou-se no homem para os outros, o libertador social, o reformador, mais que
no Salvador. O Reino de Deus se tornou reino dos homens e a evangelização se
tornou militãncia ideológica e luta política. Em termos gerais, é isso.
4)-Passamos pela teologia situacional, de
Fletcher, que mereceu, acertadamente, o título de "ética da situação". Era mais
práxis que teologia. Chamá-la de “corrente teológica” era uma impropriedade.
-Pragmatismo: doutrina segundo a qual o valor da verdade é determindado pela funcionabilidade.
-Relativismo: conceito filosófico segundo a qual a verdade é um valor subjetivo, não havendo imposição moral absoluta.
-Positivismo: segundo essa cosmovisão, as declarações de fé são voluntaristas e não racionais.
-Existencialismo: que coloca o homem no centro do universo.
5)-A teologia do processo, de Hartshorne, baseando-se
nas idéias de Whitehead, não tem sido empolgante, embora abraçada por algumas lideranças Cristãs. A idéia de um Deus finito e temporal, negando-se assim sua
transcendência e sua sobrenaturalidade (mesmo que se diga que não), mostrando o
homem como necessário para Deus, levou Carl Henry a perguntar como Deus “se
arranjava” para ser, antes da criação do homem. Mas seus proponentes são
sábios. Sabem que se abrirem demais o jogo, perdem suas ovelhas, que não querem
um deus patético ou um deus do seu tamanho. Isto mantém o avanço da teologia do processo
razoavelmente estagnado o Brasil.
6)-Mais presentemente, há uma "teologia do neomisticismo alienante", que centra a vida cristã em louvor, cura e prosperidade, dentro de um prédio, num determinado lugar, sob o comando de determinadas pessoas (um neo-sacerdotalismo). Substituiu a fé engajada na vida, que salga e ilumina o mundo. É atraente, mas de certa forma também, é alienante para a vida das igrejas porque torna o evangelho numa festa, e não em compromisso (salvo excessões, para não ser injusto com generalizações). Há muito de ingenuidade própria dos jovens neste movimento, bem como muito de comércio religioso. É uma postura intimista, movimento, e não uma teologia propriamente dita. Chamar este movimento misticista de teologia é inadequado. É mais uma espiritualidade do que teologia.
7)-Há, também, uma teologia baseada no neofundamentalismo, próprio de sociedades que enfrentam momentos que trazem insegurança, e fazem brotar guetos ideológicos, em busca de segurança. Isto traz o patrulhamento ideológico (geralmente de quem tem o poder contra quem tem o pensamento) e o patrulhamento intelectual (dos que têm o pensamento e ironizam e sarcastizam os discordantes ou os leva a se apresentarem como mártires do pensamento). É até irônico, mas há um fundamentalismo dos teólogos liberais para quem, fora de suas proposições, não há saber teológico nem erudição.
Todas estas coisas merecem reflexão teológica. Teologia não é abstração. É a vida da própria igreja! É vivencial, e não jogo de palavras
Há teses teológicas que as pessoas comuns não entendem (e por vezes penso que nem seus proponentes entendem o que falam) e servem apenas para deixar a idéia de que a teologia é desnecessária e confusa. Este cenário e outros aspectos aqui não focalizados, mas patentes aos olhos do observador atento, permitem entrever três temas que suscitaram e ainda suscitarão grandes discussões teológicas nos próximos anos e para os quais devemos nos preparar:
1º)-A "teologia da salvação". Não é a heilgeschichte, a história da salvação. É uma questão nos seguintes termos: só existe salvação no cristianismo? A fé de uma pessoa tem muito a ver com a geografia. Um nepalês dificilmente ouvirá o evangelho. Deus condenou essas pessoas à perdição eterna por culpa de situação geográfica e política? Knitter, Schillebeeck, Hans Küng, Congar, Pannenberg, Rahner e outros têm discutido este assunto. C. S. Lewis também se ocupa dele. Lembremos que Justino Mártir e Orígenes consideravam Sócrates e Heráclito como cristãos, e que Agostinho dizia que chegou a Cristo por intermédio de Platão. Questões como exclusivismo, inclusivismo e universalismo deverão ser mais discutidas. A resposta terá que ser bem fundamentada. Se dissermos que essas pessoas estão perdidas eternamente, estamos brincando com evangelização e missões mundiais, nos moldes como as fazemos. Se dissermos que não estão perdidas teremos que rever até mesmo o conteúdo de nossas afirmações soteriológicas.
2º)-Teologia moral - Questões éticas - A teologia moral contemporânea precisa ir além das preocupações situacionais ou micro-éticas, como defendia Joseph Fletcher, ou das pequenas questões que dominam grande parte do debate ético em algumas igrejas — fumo, vestes, bebidas e entretenimento. Hoje, os desafios são globais e demandam reflexão profunda: manipulação genética com fins comerciais, clonagem, criogenia, meio ambiente e questões de sexualidade e identidade exigem um olhar ético mais amplo.Portanto, é necessário dar prioridade à macro-ética, voltada para o bem comum e para questões que impactam a humanidade como um todo, ao invés de se concentrar exclusivamente na micro-ética, limitada a situações individuais ou normas ritualísticas.
Dentro desse contexto, observamos dois extremos éticos conflitantes:
1º)-O rigorismo dos Rad Trad
-Imposição de normas pesadas que nem eles próprios conseguem cumprir.
-Dogmatização da liturgia (apenas a tridentina é válida) e da catequese (somente o catecismo romano).
-Negação do Concílio Vaticano II e, em alguns casos, defesa do sedevacantismo, tratando o Papa atual com desrespeito e linguagem ofensiva.
2º)-O relativismo da nova teologia de Alberto Maggi
Maggi afirma que “pecado e culpa são invenções das religiões”. Segundo ele, a religião teria criado o conceito de pecado para induzir culpa e exercer controle sobre as pessoas. Jesus, nesse entendimento, não morreu pelos pecados humanos, mas teria sido vítima da ganância e do poder das instituições religiosas.Essa visão minimiza a dimensão moral do pecado e transforma a teologia em um discurso psicológico ou sociológico, em vez de espiritual e redentivo.
Esses dois extremos evidenciam a necessidade de uma teologia moral equilibrada:
Não se trata de amarrar os fiéis com regras intransponíveis, mas também não se pode reduzir a moralidade a meras interpretações sociais ou conveniências humanas.A teologia moral verdadeira deve confrontar os grandes desafios da humanidade, iluminando-os com a Palavra de Deus, oferecendo orientação ética sem perder a dimensão espiritual.
Em suma, a ética cristã contemporânea exige coragem, reflexão e discernimento para lidar com problemas globais e complexos, evitando tanto o rigorismo paralisante quanto o relativismo que nega a realidade do pecado e da redenção.
3º)-A possibilidade de vida fora da Terra. Precisamos dar respostas a essa possibilidade: serão pecadores? Qual o papel da obra de Cristo para eles? A ciência contemporânea, com a descoberta de exoplanetas e condições potencialmente habitáveis, abre a fascinante hipótese de vida extraterrestre. Para a teologia cristã, isso levanta questões profundas: se houver vida inteligente fora da Terra, esses seres seriam sujeitos ao pecado? Qual seria o papel da obra redentora de Cristo em relação a eles?
Não há uma resposta definitiva nos textos bíblicos, mas podemos refletir a partir de princípios teológicos:
-A universalidade da criação: A Escritura afirma que Deus é Criador de tudo o que existe (Gn 1; Jo 1,3). Se existem seres em outros mundos, eles também participam da obra divina. Isso sugere que a criação não é exclusiva da Terra, e que a diversidade da vida faz parte do plano divino.
-O pecado e a liberdade: O pecado, segundo a teologia, decorre do uso inadequado da liberdade. Se seres extraterrestres possuem inteligência e liberdade moral, é plausível que também possam escolher entre o bem e o mal. Assim, a noção de pecado não seria limitada aos humanos da Terra, mas uma realidade possível em qualquer criatura racional.
-A obra de Cristo e a redenção: A obra de Cristo é, por essência, universal. Em Colossenses 1,16-20, lemos que todas as coisas foram criadas por meio dele e para ele, e que ele reconcilia tudo consigo. Portanto, se existirem seres extraterrestres, é coerente pensar que a redenção, de alguma forma, também lhes seria acessível — seja pela encarnação única de Cristo, seja por um plano divino adaptado à sua realidade.
-Humildade e abertura teológica: Como seres humanos, não conhecemos todas as dimensões da criação. Por isso, precisamos de humildade ao abordar essas questões, reconhecendo que nossa teologia é construída a partir da experiência terrestre. O encontro com vida extraterrestre seria uma oportunidade para expandir nosso entendimento da obra de Deus e do alcance de sua graça.
Em suma, a possibilidade de vida fora da Terra não é uma ameaça à fé cristã, mas um convite à reflexão teológica: nos lembra que o plano divino é maior do que imaginamos, e que a obra de Cristo pode ultrapassar os limites do que conhecemos, oferecendo a todos os seres racionalmente livres a possibilidade de comunhão com Deus.
Conclusão: A verdadeira teologia e o papel do homem
O cenário teológico é fascinante. Ele nos permite pensar, criar e refletir tendo a Palavra de Deus como fundamento. A teologia não deve fornecer respostas prontas nem se transformar em uma camisa de força que tolha o pensamento. Ela propõe questões, instiga reflexões e abre caminhos para compreender a realidade à luz de Deus.
É essencial que o diálogo teológico seja marcado pela humildade e pelo respeito, sem tachar aqueles que pensam diferente de hereges ou incrédulos. O nosso tempo oferece grandes oportunidades para teologar de forma livre e crítica, desenvolvendo discernimento para o bem-estar do povo de Deus.
A verdadeira teologia consiste em examinar o mundo e as correntes de pensamento à luz das Escrituras, buscando nelas respostas para nossa sociedade. O verdadeiro teólogo é aquele que deseja conhecer o que Deus quer nos ensinar, sem distorcer Sua Palavra para justificar ideias próprias, como advertiu Helmut Thielicke ao comentar que a teologização de Deus como “ele” — distanciando-o da relação pessoal — levou ao erro desde o diálogo com a serpente.
A boa teologia é “feita de joelhos”, humilde e libertadora. Ela salva e eleva o ser humano, em contraste com o que alguns chamam de pseudo-teologia ou “achologia”, que aprisiona o homem aos seus instintos mais perversos. Diferente dos animais, o ser humano é dotado de razão, consciência e liberdade, capaz de analisar suas ações, prever consequências e aperfeiçoar-se através da experiência, construindo valores, hábitos e convicções.Infelizmente, muitos homens hoje agem de forma contrária a essa vocação: destroem-se física, moral e espiritualmente; ignoram limites naturais; e maltratam o próximo e a criação. Embora possuam capacidade para o altruísmo e para a justiça, frequentemente cederam a comportamentos irresponsáveis e violentos, esquecendo que toda a criação terá um fim e que o Criador pedirá contas pelo uso que fizemos da razão e do poder que nos deu.Portanto, teologar é também reconhecer a grande responsabilidade do homem: viver segundo a verdade e a justiça, exercendo a inteligência e a liberdade como instrumentos de Deus, e não apenas de si mesmo. A teologia nos lembra que somos chamados a agir com sabedoria, misericórdia e humanidade, na construção de um mundo mais justo e conforme a vontade divina.
Notas
1.
"História da Filosofia", de Nicola Abbagnano, Livro XIV, § 864.
2. o
que pode fazer surgir uma religião global, como defende implicitamente o
"papa Francisco".
3.
ibidem
4. e
também do "papa Francisco", ou do Frei Bento Domingues
5.
ibidem.
6.
influência do Existencialismo.
7. que
é a Igreja Católica modernista do "papa Francisco"
8. The
Gospel of The Christian Faith, 1967, por Altizer.
9. Tom
F Driver, “New Theology” nº 3, 1965, páginas 118-132.
10.
“Deus Morreu”, 1967, pág. 190
*Francisco José
Barros de Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme
diploma Nº 31.636 do Processo Nº 003/17 - Perfil curricular no
sistema Lattes do CNPq Nº 1912382878452130.
------------------------------------------------------
📌 Gostou
do conteúdo?
👉 Clique
aqui para seguir o Blog Berakash
👉 Clique aqui e siga em nosso
canal no YouTube
A Paz em
Cristo e o Amor de Maria, a mãe do meu Senhor (Lucas 1,43)
Postar um comentário
Todos os comentários publicados não significam nossa adesão às ideias nelas contidas.O blog oferece o DIREITO DE RESPOSTA a quem se sentir ofendido(a).Os comentários serão analisados criteriosamente e poderão ser ignorados e ou, excluídos se ofensivos a honra.