“Ortega
y Gasset dizia que as únicas ideias que valem são as ideias dos náufragos: na
hora em que um sujeito está se afogando, agarrado a uma tora de madeira para
não morrer, as coisas nas quais ele ainda acredita nesse momento são fundamentais para ele; o resto é brincadeira, superficialidade. Nós temos de buscar na
filosofia essa mesma seriedade total, porque é ela que vai nos dar o critério
do certo e do errado, do verdadeiro e do falso.” (Olavo de Carvalho)
Ortega y Gasset
explica maravilhosamente sua defesa ao conservadorismo e
explica o porquê que, no geral, o conservadorismo é o que MOVE a humanidade pra
frente (diferente da propaganda que fazem seus críticos) e porquê o
caráter revolucionário (de rupturas sobre rupturas) é, no geral, um agente de
estagnação:
“A razão histórica nos mostra a vaidade de toda revolução geral, de tudo
quanto seja uma tentativa de transformação súbita de uma sociedade e começar de
novo a história. As revoluções tão incontinentes em sua
pressa tem sempre violado, pisado e rasgado o direito fundamental do homem, tão
fundamental que é a própria definição de sua substância: o direito à
continuidade. Todos os animais irracionais se defrontam a cada manhã com
o fato de terem esquecido quase tudo o que viveram no dia anterior, e seu
intelecto tem de trabalhar sobre um mínimo material de experiências. O tigre de hoje é idêntico ao de seis mil anos atrás, porque
cada tigre tem de começar de novo a ser tigre, como se antes nunca tivesse
existido outro. O homem, ao contrário, devido a seu poder de lembrar, acumula
seu próprio passado, toma posse e o aproveita. O homem nunca é o primeiro
homem: desde o início já existe a partir de certo nível de passado acumulado.
Este é o tesouro único do homem, seu privilégio e sua marca. E, de todo esse
tesouro, a maior riqueza não consiste no que parece certo e digno de ser
conservado: o importante é a memória dos erros, que nos permite não cometer os
mesmos sempre. O verdadeiro tesouro do homem é o tesouro dos seus erros,
a longa experiência da vida decantada gota a gota durante milênios. Por isso
Nietzsche define o homem superior como o ser da mais longa memória”
E completa:
“Romper a continuidade com o passado, querer
começar de novo, é aspirar a descer e plagiar o orangotango. Alegro-me que
tenha sido um francês, Dupont-White, que em 1860 se atreveu a clamar:” La
continuité est un droit de l’homme; elle est un hommage à tout ce qui le
distingue de la bête.” Isso é ser um povo de homens: poder hoje continuar em
seu ontem sem por isso deixar de viver para o futuro, poder existir no
verdadeiro presente, uma vez que o presente é apenas a presença do passado e do
porvir, o lugar onde o pretérito e futuro efetivamente existem.”
Ortega y Gasset — A Rebelião das Massas.
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