Por: Eduardo Migowski
Desde a queda da URSS
o Capitalismo segue triunfante e impondo
sua hegemonia, mas será que isso o torna algo bom e o socialismo algo que deve ser
esquecido? Para ter uma resposta é necessário entender a origem do Socialismo,
bem como as mudanças que provocou no mundo, inclusive no próprio Capitalismo.
“A causa a que devotei boa parte
da minha vida não prosperou. Eu espero que isto me tenha transformado em um
historiador melhor, já que a melhor história é escrita por aqueles que perderam
algo. Os vencedores pensam que a história terminou bem porque eles estavam
certos, ao passo que os perdedores perguntam
por que tudo foi diferente? e esta é uma pergunta muito mais relevante.” (Eric Hobsbawm)
Imagine uma comunidade ideal, numa ilha distante:
Isolada do restante do mundo. Tal sociedade seria formada por 54
distritos e não haveria propriedade privada. A terra, principal fonte de
riquezas, seria de uso comum. A jornada de trabalho duraria no máximo seis
horas. Haveria também total liberdade de crença, de religião e todos os homens
seriam iguais ao nascer. Seria um mundo ideal, sem hierarquias. Enfim, uma
utopia. E foi exatamente esse o nome escolhido pelo escritor do texto no
qual aparecem essas confabulações, “Utopia”, escrita em 1516. Seu autor não foi Marx, Engels ou
Lênin. Mas do filósofo inglês Thomas More. More morreu em 1535
decapitado por se recusar a abandonar a fé católica. Por tal motivo, tornou-se
Santo da Igreja.
Apesar das semelhanças, More não pode ser considerado um
socialista, nem muito menos Jesus Cristo!
O que diferencia o Cristão do
Comunista na defesa da justiça e dos menos favorecidos é o COMO SE FAZ ESTA DEFESA, o primeiro de forma evangélica, o segundo de forma IDEOLÓGICA e muitas
vezes ateia, onde os fins justificam os meios.
A palavra socialismo,
tal qual conhecemos hoje, aparece somente em 1820. Tal doutrina é produto dos
desdobramentos daquilo que o historiador inglês Eric Hobsbawm chamou de Dupla
Revolução:
1)-A Revolução
Industrial (1750)
2)-A Revolução
Francesa (1789).
Porém, há uma
semelhança fundamental entre ambas. Tanto as ideias de More, quanto as
socialistas, nascem do espanto ante as imperfeições da realidade. No
primeiro caso, era a Inglaterra de Henrique XVIII. No segundo, os
desdobramentos da Revolução Industrial.
A palavra utopia quer dizer “lugar nenhum”. Utopias são, portanto,
modelos ideais. Aparentemente perfeitos e, por isso,
inalcançáveis para sociedades formadas por homens imperfeitos. Mas nem por isso
elas podem ser descartadas. A ideia de perfeição nos permite perceber as
contradições e as injustiças do mundo em que vivemos. Pensar outras realidades,
outros mundos possíveis, nos obriga a caminhar, a agir, mesma sabendo que não
há uma linha de chagada.
O Mundo antes do Socialismo
Até 1789, o liberalismo era a
ideologia dominante. Os liberais
pregavam a liberdade irrestrita do indivíduo. Seus teóricos argumentavam que a
busca do prazer individual seria o caminho para o bem estar geral. O
problema é que, a despeito da coerência teórica, a realidade cotidiana teimava
em demonstrar o contrário.
A primeira Revolução, a Industrial, mudou em definitivo o
modo de vida das populações europeias!
A máquina substituiu
o trabalho manual. Quem ditava o ritmo do trabalho, doravante, seriam as indústrias. Eram
elas que davam emprego à população que saia dos campos e migrava para as
cidades. E esse número aumentava de forma jamais vista:
Entre 1801 e 1851, a população de Birminghan cresceu de 73 mil para 250 mil.
Em Liverpool, de 77 mil para 400 mil habitantes. Os efeitos desse crescimento
descontrolado dos centros urbanos são bem conhecidos por nós brasileiros:
miséria, violência epidemias, poluição entre outros.
O trabalho nas fábricas requeria pouca especialização - Poderia
ser realizado por qualquer pessoa
O amplo mercado
mundial, criado pelas navegações que vinham ocorrendo desde o século XVI,
proporcionava uma demanda quase que infinita para os produtos manufaturados. O
fluxo de ouro e prata, do novo para o velho mundo, garantia excedente de
capital. Eram estas as condições daquele contexto:
1)-Demanda elástica.
2)-Mão de obra farta
e barata.
3)-Grande quantidade
de capital, que permitiram o salto industrial europeu.
Sem maiores
preocupações com a demanda, a lógica nas primeiras décadas da modernidade era
aumentar incessantemente a produção. O trabalhador era levado ao limite da
exaustão física e mental. Se o trabalho era repetitivo e simples, por que não
poderia ser realizado por mulheres e crianças? A mão de obra infantil e
feminina foi amplamente utilizada, em jornadas diárias que chegavam até 18
horas. Três vezes mais da imaginada por More três séculos atrás.
Aos poucos, as cidades inglesas foram sendo divididas em
grupos com interesses antagônicos:
-Não havia direitos
sociais.
O Estado pouco intervia, e quando o fazia era em favor dos empresários. Um
exemplo é a Lei dos Pobres que entregava às fabricas os filhos dos indigentes
que passavam a trabalhar por contrato, muitas vezes sem nenhuma remuneração. O
livro Oliver Twist, de Charles Dickens, retrata esse drama de forma magistral.
-A negociação
salarial era feita diretamente entre o funcionário e o patrão. Ora, num ambiente de
miséria, de fome e de superlotação das cidades, seria fácil supor que qualquer
valor seria aceito como salário. Não era uma negociação trabalhista, mas uma
luta pela sobrevivência.
-As cidades estavam
amontoadas de gente, os trabalhadores competiam entre si e poderiam ser
trocados sem grandes dificuldades.
Segundo Hobsbawm, haviam três alternativas para o
trabalhador pobre:
1)-Lutar para se
tornarem parte do patronato, o que era quase impossível para quem isoladamente não
possuía o mínimo de recursos, ou coletivamente pelas cooperativas que eram
impedidas.
2)-Se resignar com a
realidade de exploração.
3)-Poderiam se
rebelar. Mas se rebelar em nome do quê? Um dos primeiros métodos foi a quebra
das máquinas. O maior símbolo do progresso era visto também, pelo homem pobre, como a
causa da sua exploração. Mas tal gesto não transformaria a sociedade.
Seria preciso pensar em novas formas de organizar a produção.
O Socialismo surge como uma reação a uma ordem injusta
A Europa estava cada
vez mais distante do modelo de More. Porém, é justamente quando os sonhos se
afastam das expectativas palpáveis que eles se tornam utopia. O estilo vida
tradicional se esvairia, as certezas sumiam. O futuro era incerto. A realidade
esmagava os homens. Só restava o desejo de um futuro diferente. Mas
quando? Sem perspectivas concretas, o horizonte seria preenchido por novas
utopias.
A atomização do
indivíduo liberal os deixava vulneráveis. O trabalhador precisava se alimentar
e o empresário detinha os meios de produção. Numa “negociação livre”, o segundo
ditaria as regras. A organização dos operários era uma necessidade básica. Uma estratégia
de sobrevivência. Porém, não seria simples. O Estado
não era um árbitro imparcial, como muitos pensavam. Em 1791 a Lei
Chapelier, escrita ainda no início da Revolução Francesa, proibia as
associações operárias. Argumentava-se que os sindicatos prejudicavam a
livre concorrência e o funcionamento natural da economia.
Sem amparo legal, as manifestações contra a precarização da vida urbana
logo tomariam a forma de motins e rebeliões.Na França a “Conspiração dos
Iguais”, liderada por Graco Babeuf, fazia a incomoda pergunta se o homem pobre
era realmente um cidadão.
Na Inglaterra,
segundo levantamento do historiador Eric Hobsbawm, houve sublevações nos anos
de 1811-1813, 1815-1817, 1819, 1826, 1829-1835, 1836-1842, 1843-1844 e
1846-1848. Muitos desses levantes eram reativos e tinham caráter espontâneo. As insatisfações eram generalizadas, porém havia poucas
propostas verdadeiramente revolucionárias. O socialismo emergiu
desses descontentamentos difusos. Seu objetivo era canalizar essas forças e
transformá-las num projeto político genuinamente operário.O socialismo,
portanto, pode ser definido como uma resposta alternativa a um contexto social
de intensa exploração e desigualdade.
Mas como se organizaria a sociedade socialista?
E como seria possível
alcançar tal transformação? A base comum do movimento era a crítica à
propriedade privada. Porém, a partir desse momento, as divergências parecem não
ter fim. Como transformar a sociedade: reforma ou revolução? Tais noções não são
antagônicas. As reformas, caso sejam feitas num ritmo acelerado, podem
também ser revolucionárias. A modernidade havia dado dois exemplos. A Revolução
Industrial havia sido social e econômica. Novos métodos de trabalho, de disciplina,
de organização e novas tecnologias haviam suprido de forma mais eficiente as
demandas existentes. Num curto espaço de tempo, a paisagem urbana dos grandes
centros urbanos seria transformada de forma definitiva.
O outro modelo seria o da Revolução Francesa
Protótipo de uma
revolução armada, em que a população sai às ruas para derrubar um governo pela
força. Qual desses métodos era mais eficaz para superar o capitalismo?
Sobravam respostas, mas faltavam consensos.
Utópico, cristão, libertário ou reformista: as diversas
vertentes do socialismo
O economista suíço
Jean de Sismundi apresentou uma teoria rival à tese liberal sobre a
concorrência capitalista. Segundo Sismundi, o livre mercado não favoreceria o
interesse coletivo. Muito pelo contrário, a disputa entre capitalistas os
obrigaria a baixar os salários dos operários e a aumentar o número de horas
trabalhadas, para conquistar uma vantagem temporária sobre seus rivais. O
resultado seria um mundo de instabilidade econômica, de guerras, de violência e
de miséria.
Após a crise de 1929, tais ideias ajudarão a reformar o
capitalismo com o aparecimento da socialdemocracia
Aprendemos a
relacionar o socialismo ao ateísmo. Hitler, por exemplo, afirmava nos seus
discursos a necessidade de se combater o “bolchevismo/ateu”, como se ambos
fossem sinônimos. Porém, no início do movimento havia uma estreita correlação
entre os princípios religiosos e as práticas socialistas. Robert Owen, um rico empresário,
orientado pela ética cristã, passou a defender o socialismo. Na sua concepção,
o socialismo seria simplesmente a melhoria da qualidade de vida dos operários. Seus
funcionários desfrutavam de melhores condições de trabalho, os filhos deles
recebiam educação e os salários eram muito acima da média. Com tais práticas,
Owen colocou em questão o dogma liberal que dizia ser necessário baixar os
custos de produção para obter lucros crescentes. No século XX, empresários
conservadores, como Henry Ford, defenderão ideias parecidas.
Um rico burguês, cristão, pode ser um socialista!
Owen demonstrou que sim. Mas nem todos concordavam. Se a intervenção de
um empresário fora capaz de melhorar a vida dos trabalhadores, por que tal
modelo não poderia ser ampliado?
Outras correntes
socialistas defendiam a necessidade de uma interferência externa para garantir
o interesse coletivo. O francês Saint Simon, por exemplo, queria
uma economia planificada e organizada pelo Estado. Com certeza você já
ouviu essas teses em algum lugar. Pois bem, ela foi defendida pela primeira vez
por um Conde, isso mesmo, um nobre Francês!
Atualmente, muitos criticam a economia planificada!
A nacionalização das
empresas e da terra. Dizem que seria um caminho para o totalitarismo. Pois
bem, as primeiras críticas ao despotismo Estatal vieram dos próprios
socialistas.
A “utopia” de Charles Fourier
Esta por exemplo,
seria organizada por unidades de produção e consumo, denominados
“Falanstérios”. Os falanstérios seriam como “feudos comunais”. Ou seja,
unidades independentes, formadas por associação voluntárias de indivíduos, em
que todos viveriam em cooperação mútua.
O filósofo também defendia a liberdade sexual e nos falanstérios a
prática sexual era livre de interdições morais. Tais experiências serão
resgatadas no século XX pelas comunidades hippies e pelos movimentos de defesa
das minorias.
O filósofo anarquista/socialista francês Joseph Proudhon
criou uma proposta mais refinada de uma sociedade livre da coerção do Estado!
Conhecida como mutualismo, tais noções defendiam o fim da competição
capitalista e sua substituição pela cooperação. As propriedades seriam
coletivas e os lucros seriam repartidos de acordo com o volume de trabalho. Esta proposta se tornou a base daquilo que hoje é conhecido
como “economia solidária”.Organizações sindicais do mundo inteiro, como
no caso brasileiro da CUT, organizaram-se tendo o mutualismo como referência!
Mas, sem dúvida, o pensador socialista mais importante do
século do XIX foi o alemão Karl Marx
Ao contrário do que
muitos imaginam, a obra de Marx foi dedicada ao estudo do capitalismo, não do
comunismo.
Não existe um
manual de como organizar uma sociedade comunista em seus escritos. Há apenas
algumas indicações vagas. No
“Manifesto Comunista”, por exemplo, que foi escrito para ser um panfleto
político, há algumas indicações interessantes:
-Em um trecho, por
exemplo, é dito que o operário organizado “arrancará pouco a pouco” o capital
da Burguesia.
-Em outra parte, o
Manifesto propõe algumas medidas que poderiam ser imediatas, como: confisco da
propriedade dos emigrados rebeldes, a expropriação da propriedade fundiária, a
nacionalização das comunicações e dos bancos, a criação de um ensino público e
gratuito, a adoção do imposto progressivo e o fim do direito a herança.
Muitas dessas propostas acabaram sendo adotadas, com
êxitos variados!
O imposto progressivo
é, ou foi, aplicado por praticamente todos os países de capitalismo avançado. A
Finlândia, principal referência em educação no século XXI, oferece ensino
público e gratuito a toda população.
O fim do direito a herança pode ser perfeitamente justificado usando o
discurso liberal de meritocracia. Num mundo pautado pela livre concorrência, a
riqueza individual deveria vir do esforço, não da posição familiar.
O Socialismo real sempre será Leninista Stalinista
Os pensadores
socialistas tinham países como França e Inglaterra como base para suas
reflexões. Imaginavam que a revolução aconteceria num país industrializado. Isso
tinha um motivo. Todas as nações haviam se desenvolvido por meio de intensa
exploração da mão de obra. Era preciso excedentes financeiros para
investir em indústrias. Para Marx, por exemplo, o socialismo nasceria de uma
contradição básica do capitalismo. Se, por um lado, nesse sistema a capacidade
produtiva é ampliada, por outro, o trabalhador é relegado à miséria.
O socialismo seria encalçado quando o operário organizado passasse a
controlar os meios de produção, que seria usado para o bem estar coletivo. Nada
disso aconteceu na Rússia.
Os bolcheviques
conquistaram o poder num país atrasado, em ruínas. Destruído por sucessivas
guerras. Pior, a esperada “Revolução Mundial” não ocorreu. Estavam isolados e
cercados por inimigos.
A modernização era uma questão de sobrevivência. Mas como ela seria
realizada? Nesse caso, a literatura marxista pouco poderia ajudá-los. Os
bolcheviques tinham muitas suposições, mas não havia um plano de governo.
Estavam lidando com problemas novos, para os quais não havia soluções claras.
Segundo o historiador
Daniel Aarão Reis, após medidas emergenciais como o Comunismo de Guerra e a
NEP, duas propostas para a construção do socialismo passaram a dominar os
debates:
1)-A primeira, cujo o
principal expoente era N. Bakharin, defendia uma aliança entre o camponês e o
operário. O desenvolvimento industrial seria precedido do enriquecimento da
população rural. O projeto era interessante, mas havia um problema. A URSS era um país
pária num mundo em desordem. O desenvolvimento industrial era urgente, pois a
qualquer momento outra guerra poderia “explodir”. Por isso, homens como
Preobrazhensky afirmavam ser prioridade o investimento na indústria pesada.
2)-Quando Stalin
assumiu o controle do país, o segundo modelo seria adotado. O georgiano dizia
que a Rússia estava 100 anos atrasada em relação ao ocidente. Ou os soviéticos
se modernizavam em 10 anos ou desapareceriam. O desenvolvimento comunista foi,
portanto, uma luta contra o relógio. Sob o comando de Stalin, a URSS começou um
novo processo de transformações. Uma revolução imposta de cima. A
modernização foi realizada de improviso e de modo forçado. Foi
fortalecido o órgão central, a GOSPLAN, responsável pelo planejamento
econômico. Este estabelecia metas de produção a serem alcançadas de cinco em
cinco anos, eram os planos quinquenais. O capital excedente viria do campo. Mas
como ficaria o camponês? A agricultura seria coletivizada de modo forçado, bem
diferente do modelo de associações voluntárias. Os trabalhadores também pouco
opinavam, as determinações vinha da burocracia do partido.
O modelo stalinista se estruturaria da seguinte forma:
1)-Estado
monopartidário
(Partido único).
2)-Cultura ideológica
única
(Extermínio de outras culturas, incluindo a Cultura Judaico-Cristã).
3)-Centralização
política
(O poder não emana do povo, mas do dirigente/ditador).
4)-Economia planificada (Se produz e consume
não o que quer, mas o que os dirigentes acham que o povo precisa).
5)-Mobilização do
operário
(Não pela recompensa, mas pela punição).
6)-Coletivização da
agricultura
(Tudo para o Estado e pelo Estado, o homem é apenas mera engrenagem do aparelho
estatal).
As unidades produtivas foram dividias em basicamente
duas:
1)-Kolkhoses
(cooperativas agrícolas).
2)-Sovkhoses(fazendas
estatais).
Ao contrário do que se imaginava, a revolução
não acabou com a antagonismo entre as classes; muito pelo contrário, eles se
intensificaram, pois ao destruir a classe entre patrões e empregados,
Clero e leigos, surgiram as novas classes: Poderosos dirigentes do partido
único e povo dirigido, militares, artesãos, cooperativistas e pessoas comuns. A
conformação do socialismo soviético foi uma verdadeira guerra
contra os chamados Kulags, como eram conhecidos os agricultores mais
abastados.
Stalin iniciou uma cruzada contra os camponeses, com
resultados catastróficos!
Os números são
assustadores. Em retaliação, os trabalhadores do campo se recusavam a semear a terra,
matavam o gado. A produção de grãos despencava enquanto a população das
cidades crescia vertiginosamente. Em 1913 fora produzido 80, 1 toneladas de
grãos. Até a Segunda Guerra Mundial, tal marca só foi superada em duas
oportunidades – em 1930 e em 1937 – no restante houve queda.
Havia constantes crises de desabastecimento. O regime ia endurecendo.
Stalin acusava os kulags de estarem sabotando a revolução. Muitos deles foram
presos e enviados para os Gulags, campos de trabalho forçado.
Se o modelo
stalinista pode ser considerado como a concretização da utopia socialista, certamente é uma utopia bem diferente
daquela proposta pelo Católico Ingles More:
Na Utopia havia um Rei, mas as cidades mandavam representantes para
discutir os problemas locais. Tal medida visava impedir que houvesse uma
centralização excessiva. Todo cidadão deveria trabalhar
no campo e na cidade. Isso seria uma forma de cada indivíduo experimentar diferentes
formas de trabalho e entender as dificuldades de cada área. Tal prática
também uniria o mundo rural ao urbano. Nada poderia estar mais distante da
experiência soviética.
Mas seria precipitado
afirmar categoricamente o fracasso da economia planificada. Olhando para os
números da indústria, os resultados foram positivos. Foi esse setor que
impulsionou o crescimento econômico. A produção de aço, por exemplo, saltou de
4,9 toneladas em 1929 para 18,4 em 1940. Nunca houve tamanha expansão na história
Russa.
O I Plano Quinquenal ostentou uma média de crescimento de 13,2% ao ano.
O II Plano Quinquenal atingiu a impressionante marca de 16,1%. Até a década de
1950, o crescimento dos países socialistas era superior ao dos países
capitalistas. A Rússia finalmente alcançaria o patamar de uma potência mundial.
Houve bons resultados
também na área da educação. O analfabetismo foi erradicado. Antes de 1917,
metade da população não sabia ler. O nível de escolaridade obteve avanços em
todas as áreas. Como podemos ver, os resultados foram muito contraditórios. Não é
tarefa simples avaliá-los só de forma positiva, ou negativa. Na
verdade, dependendo do olhar, é possível chegar a conclusões totalmente
díspares.
Se, por um lado, os socialistas pegaram um país destruído, atrasado, e o
transformaram na segunda maior potência mundial em poucas décadas; por outro,
isso foi conquistado com enormes sacrifícios de vidas humanas em nome de uma
ideologia imposta. Por ironia da história, a Revolução Industrial carrega essa
mesma ambiguidade.
O socialismo soviético, depois dessa disparada inicial,
foi perdendo fôlego e se mostrou incapaz de se reformar!
O modelo era
eficiente como forma de desenvolver países dependentes, atrasados. Mas
quando a modernização era conquistada, ele ia perdendo fôlego. Hobsbawm
usa uma interessante imagem para explicar tal fenômeno. Segundo o historiador é
como um condutor entrasse num carro e acelerasse fundo até atingir a marca de
100 km/h, nesse momento o freio de mão é acionado e o carro vai perdendo força
até finalmente retornar a inércia.
Fazendo o Mea Culpa - Por que isso ocorreu?
1)-O Regime não conseguiu fazer a transição de uma produção extensiva, baseada no aumento da capacidade produtiva; para a intensiva, que buscava o crescimento da produtividade do trabalho.
2)-A principal causa era que desde o início os
bolcheviques apelaram para o voluntarismo do operário, sem oferecer motivações recompensatórias.
3)-Havia pouco
estímulo para as empresas já existentes procurarem modernizar as bases
produtivas para aumentar a produção. A inovação tecnológica era limitada.
4)-A corrida
armamentista também deslocava parte do excedente produzido para a fabricação de
armas. Para isso, os bens de consumo eram relegados a um plano secundário.
5)-Com poucas opções
de consumo, o trabalhador tinha poucos estímulos para aumentar sua renda.
Criando um círculo vicioso. Se ele não produzia, não havia o que comprar. Se
não havia o que comprar, não havia motivo para trabalhar.
6)-Quando, após da
década de 1970, os países capitalistas sofreram um boom tecnológico com a
invenção do microchip, os soviéticos não tinham mais forças para acompanhar
tais transformações.
Considerações finais
Após essa rápida
retomada do processo histórico, podemos chegar a algumas conclusões. Como
vimos, o socialismo emerge das promessas não cumpridas da modernidade.
Praticamente todos os intelectuais socialistas eram entusiastas da Revolução
Industrial. Diante da diversidade de modelos, seria impossível afirmar de forma
categórica se o socialismo deu certo ou não. Apenas análises
descontextualizadas e simplificadoras responderiam tal questionamento de modo
cabal. Nossa análise tentou mostrar que não existe o
socialismo, mas socialismos. Tal
tradição doutrinária é muito mais fértil se analisada como práticas que buscam
reformar o capitalismo e não apenas pelo seu corpo doutrinário. Isto é:
Tão importante quanto entender a concepção de propriedade privada em
Proudhon, seria analisar como o mutualismo poderia ser, e foi, aplicado em
contexto específicos.
O capitalismo produz crises cíclicas
Ao mesmo tempo em que
o livre-mercado expande a produção, ele achata a renda de grande parte da
população. Portanto, buscar formas de reformar o capitalismo não é apenas uma
postura ideológica, mas uma necessidade.
Em 1920 isso ficou claro e a socialdemocracia emergiu como uma tentativa
de encontrar um meio termo entre doutrinas antagônicas. Deu certo. Os trinta
anos mais prósperos da história da humanidade (1945/1975) foram pensados dessa
forma.
Desconsiderando tais
fatos, nos anos 1990, alguns especialistas chegaram a dizer que a história
havia acabado com o fim da cortina de ferro. A liberdade e a democracia haviam
vencido. A globalização trataria progresso econômico para todos. Nada poderia
estar mais distante da realidade. Em 2008, outra grave crise cíclica foi
produzida. O livre mercado está sendo questionado até na maior economia mundial, a
vitória do Donald Trump foi fruto dessas insatisfações. E o socialismo começa a
ser reformulado e atualizado. Não é mais possível simplesmente
descartá-los como algo que não funciona. Vivemos num mundo em desordem,
imperfeito. E, como tal, a ideia de perfeição sempre subsistirá, como um
espectro.
Ao contrário da utopia comunista, a utopia capitalista não promete o
paraíso terrestre. Não prega a revolução. Prega a
reforma do capitalismo para a humanidade alcançar novo patamar civilizatório. Para
Marx, a superação da desigualdade se daria com o fim do capitalismo. Os
pensadores capitalistas pensam diferente: a
desigualdade não é intríssica ao capitalismo ou a globalização. Ela é produto
de escolhas políticas e econômicas. O mesmo raciocínio vale para a
devastação ambiental.
Houve também mudanças
estruturais. O chão de fábrica de hoje nada tem a ver com o das primeiras
revoluções industriais e de uma sociedade estruturada em classes. A classe operária, tida como redentora por
Marx, hoje quer fazer a roda da história girar para trás. O capital também se
modificou.
A posição de Alfred Marshall em relação ao capitalismo de
sua época e às possibilidades de mudança social devem também, ser levada em
consideração.
Apesar de ser um
grande defensor do sistema de liberdade econômica, Marshall considerava fundamental
sanar o problema da pobreza e da indigência que assolava e degradava física,
moral e intelectualmente boa parte da população. Todavia, ao contrário
dos socialistas e coletivistas que visavam extinguir as principais instituições
vigentes (a concorrência, a propriedade privada, o trabalho assalariado, entre
outras), Marshall vislumbrava uma sociedade melhor ainda sob a égide dessas
instituições capitalistas. Essa situação melhor poderia ser atingida
por meio até da intervenção do Estado e de mudanças importantes nos valores dos
indivíduos - que envolveriam a adoção de uma postura mais nobre e cavalheiresca
no seu agir econômico, ou seja, um capitalismo ético e humanista.
O que está errado é
achar, como Marx diz, que quem produza riqueza é o trabalhador e o capitalista
só o explora. É bobagem. Sem a empresa, não existe riqueza. Um depende do
outro. O empresário é um intelectual que, em vez de escrever poesias, monta
empresas. É um criador, um indivíduo que faz coisas novas.A visão de que só um lado produz
riqueza e o outro só explora é radical, sectária, primária. A partir dessa
miopia, tudo o mais deu errado para o campo socialista. O fato é que o
comunismo não foi fundado nem por Marx, Engels, Jesus Cristo e nem por Ramsés
II. Talvez encontremos algum inventor genial na origem do arame para cortar
manteiga e da pólvora de canhão. Mas não encontramos nenhum na origem do
comunismo, assim como na origem do capitalismo.
Os movimentos sociais não são questão de invenção.Engels, e a seguir a
ele Marx, juntaram-se a um movimento que já estava bem consciente da sua
própria existência. Nunca pretenderam ter inventado a palavra ou a coisa. Sobre
a sociedade comunista propriamente dita, nem sequer escreveram muito. Ajudaram
o movimento e a teoria comunista a livrar-se das brumas da utopia para a
praxis. Incitaram os proletários a não fundarem o seu movimento sobre os planos
deste ou daquele reformador, sobre as revelações deste ou daquele iluminado.
Os verdadeiros
revolucionários não idolatram as ideias de Marx e Engels, ou de David Hume e
Adam Smith, pois sabem que estas são fruto de uma época
determinada, a qual estão condicionadas, e que têm os seus
limites. Porém, não podemos deixar morrer a utopia, porque a utopia não é de
esquerda nem de direita, mas faz parte do universo humano. A direita não tem
que ficar complexada pelo facto de a esquerda se crer utópica, nem a esquerda
tem que ficar complexada se a direita também, quiser ser utópica.
O Importante é que não deixemos de perseguir a utopia na sociedade, na
economia e na política, mas de forma plural, porque só assim se foge ao
populismo antissistema. A ausência de pluralidade, não serve a democracia, não
serve o Estado de direito, não serve a Constituição e, sobretudo, não serve a
humanidade que não é uniforme, mas plural.
Há realmente muito pouca gente interessada em demonstrar
as vantagens e, principalmente, o lado moral e ético do capitalismo
Poucos se dão conta,
por exemplo, de que, no livre mercado, os indivíduos só são recompensados
quando satisfazem as demandas dos outros, ainda que isso seja feito
exclusivamente visando aos próprios interesses.
Ao contrário de outros modelos, o capitalismo não pretende extinguir
aquele certo egoísmo dosado e sadio inerente à condição humana, mas que nos
obriga constantemente a pensar na satisfação do próximo, se quisermos
prosperar. Além disso, para obter sucesso em grande
escala, você tem de produzir algo que agrade e seja acessível a muitas pessoas,
inclusive aos mais pobres, e não apenas aos mais abastados. Sob todos os
aspectos o capitalismo é bem melhor moralmente e socialmente que o socialismo. Deveríamos bater mais nessa
tecla de que a superioridade moral também é espantosa, e que um abismo
intransponível separa um modelo baseado em trocas voluntárias de outro voltado
para a “igualdade” forçada, que leva ao caos e à degradação de valores básicos
da civilização.
Quando você abastece
seu carro, ou quando o avião aterrisa, escutamos o piloto agradecendo pela
escolha da companhia aérea. Não por acaso, quando um cliente entra numa loja, a
primeira coisa que ouve do vendedor é: “Em que posso ajudá-lo?”. E a última
coisa que ambos dizem, depois de uma compra, é um duplo “obrigado!”. Um sinal
inequívoco de que aquela transação foi vantajosa para ambos”, pois nesta
relação é satisfeito o princípio: de cada um conforme a sua capacidade, e para
cada um conforme a sua necessidade”.
O capitalismo fortalece os laços de cooperação e cordialidade, enquanto
o socialismo leva ao cinismo, à inveja e ao uso da força para se obter o que se
demanda. É verdade que o capitalismo produz resultados
materiais bem superiores, mas esse não é “apenas” seu grande mérito: ele é
também um sistema bem melhor sob o ponto de vista moral. No capitalismo quem
chega ao topo elas estão mais ligadas ao mérito individual, enquanto na
burocracia socialista elas dependem de favores e coação.No socialismo,
os que chegam ao topo são os piores, os mais cínicos e mentirosos, os
populistas, os bandidos, os exploradores, os inescrupulosos, basta ver os
exemplos onde esta experiência se instalou e no que se transformou.
Portanto, antes de perguntar: Onde o capitalismo deu
certo? Pergunte: Onde e por que não deu certo?
E terá como óbvia
resposta histórica: nos países que tem governos com inspirações de esquerda e ditatoriais.
A diferença entre o capitalismo e o socialismo, é que no capitalismo você é o
senhor do seu futuro. Obviamente existirão injustiças, mas a sociedade avança e
no final, distribuímos mais riquezas a nível global que os regimes ditos
comunistas.
Se o homem é movido pelo dinheiro (anteriormente era por comida, terras,
poder) o que moveria a população em uma sociedade estratificada? A verdade é
que governo Robin Wood (conf. Venezuela e Brasil da era Ptista) só dá certo
enquanto os ricos ainda produzem. Quando estes param, vem o desastre logo a
seguir.
Quantos países
capitalistas você viu se recuperar de enormes crises (Grande
Recessão/bolhas,etc), aprenderam com os próprios erros e continuarem
capitalistas sem precisar apelar para o extermínio de seu próprio povo? Agora
me diga: quantos de regimes socialistas se reergueram e mantiveram o modelo sem
ter que apelar para a opressão ditatorial? Por último, um homem (estado)
nunca será perfeito a tal ponto de saber o que é melhor para
todo mundo. É melhor que cada um
decida o que é melhor pra si. É óbvio que um governo central com seis
burocratas dirigindo um país não vai ter a capacidade de ditar rumos a esses
milhões de pessoas. Não tem cabimento.No Bonde da História prevalece sempre a
razão, e assim caminha a humanidade, pois não acredito em cultura e nem em
ideologia de escritório, ou seja, naquelas criadas em uma sentada ou canetada
por pseudo iluminados, mas naquela testada na história da humanidade com
tentativas de erros e acertos e naturalmente prevalecida, pois este tal
Comunismo dito científico, de científico não tem absolutamente nada, pois tudo
que é científico se caracteriza pela repetibilidade em laboratório, coisa que
nenhum laboratório social Comunista mundo afora em suas tentativas de
implantação o fez até agora, pois tudo descambou em ditaduras sanguinárias e
desumanas de esquerda.
O documentário “Era
das Utopias”, do Cineasta brasileiro Sílvio Tendler traz uma interessante reflexão:
“Com lágrimas e sangue se construiu a história do socialismo. A luta por
igualdade consumiu muitas vidas. Transformou os sonhos em pesadelos, pesadelos
geraram novos sonhos, novas utopias.E, desse modo, a história continua. Rumo
a lugar-nenhum".
Adaptado de: http://voyager1.net/historia/o-papel-do-socialismo-na-historia/
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