“O Portador deste transtorno é caracterizado por uma desconfiança de
estar sendo explorado, passado para trás ou traído, mesmo que não haja motivos
razoáveis para pensar assim. A Expressividade afetiva é restrita e modulada,
sendo considerado por muitos como um individuo frio. A hostilidade,
irritabilidade, e ansiedade são sentimentos frequentes entre os paranóides.O
Paranóide dificilmente ri de si mesmo ou de seus defeitos, ao contrário
ofende-se intensamente, geralmente por toda a vida quando alguém lhe aponta
algum defeito.Nos Distúrbios de Personalidade Paranóide, se caracterizam a
desconfiança, Hipersensibilidade, frieza nas suas relações, pelo fato de sempre
pensar que esta sendo traido ou passado para trás.”
Nos Distúrbios
delirante paranóide são encontrados com frequência os delírios: Delírios
persecutórios, Delírios de ciúmes, Delírios hipocondríaco, Delírio erótico e
Delírios de Grandeza os chamados delírios Megalomaníaco.Estudos recentes
mostraram, que indivíduos que dirigem a atenção a si mesmo, podem pensar que as
demais pessoas ao seu redor lhe dirigem a mesma atenção. confirma-se que essa
sistematização do pensamento auto-referente tendem a funcionar de forma
paranóide.
CARACTERÍSTICAS GERAIS:
1)- Preocupa-se com
dúvidas infundadas acerca da lealdade ou confiabilidade de amigos ou colegas.
2)- Tem normalmente
início no final da adolescência ou no começo da idade adulta.
3)- Reluta em confiar
nos outros por um medo infundado de que essas informações possam ser maldosamente
contra si ou deslizes.
4)- Percebe ataques a
seu caráter ou reputação que não são visíveis pelos outros e reage rapidamente
com raiva ou contra-ataque.
5)- Tendencia global
e injustificável para interpretar as ações das pessoas como deliberadamente
humilhantes ou ameaçadoras.
6)- Quase
invariavelmente há uma crença de estar sendo explorado ou prejudicado pelos
outros de alguma forma e, por causa disso, a lealdade e fidelidade das pessoas
estão sendo sempre questionadas.
7)- Sensibilidade
exagerada ás contrariedade ou a tudo que possa ser interpretado como rejeição,
uma tendência para distorcer experiências, interpretando-as como se fossem
hostis ou depreciativa.
8)- Supervalorizam
sua própria importância, as suas idéias são as únicas corretas e seus pontos de
vistas não devem ser contestados (auto valorizam execivamente).
9)- São desconfiadas,
teimosas, dissimuladoras e obstinadas, vivem numa solidão frequentimente confundida
como timidez, como se não houvessem no mundo pessoas com que pudessem partilhar
sua prodigalidade dignidade e seus sentimentos superiores.
10)- São extremamente
Sarcásticas em suas críticas, irônicas ao extremo nos comentários e contornam
as eventuais situações constrangedoras recorrendo a artimanhas teatrais e
chantagens emocionais.
CAUSAS
1)- Provável
predisposição hereditária.
2)- Acredita-se na
influência do caracter Biopsicosociocultural e religioso.
3)- Existem
evidencias de causas bioquímicas.
4)- Alto grau de
stress, situações novas conflitantes e angustiantes podem desencadeá-lo.
5)- Personalidades
portadoras do Ego fragilizado são mais suscetíveis.
6)- Criação Familiar
extremamente rigorosas, restritivas, muitos supersticiosas e brutais.
TRATAMENTO
Baseia-se na
Psicoterapia de orientação analítica ou comportamental. A procura pelo
atendimento é geralmente estimulada pelos amigos e familiares, que se sentem muito
incomodado pelo transtorno.Não se pode esquecer que muitas dessas
características fazem parte dos traços normais de muitos indivíduos e somente
quando esses traços são muitos rígidos e não adaptativo é que constituem um
transtorno.
APROFUNDAMENTO DO TRANSTORNO:
"Ela nunca confiava em ninguém, e por mais nobres que fossem as
intenções, sempre suspeitava nelas motivos mesquinhos ou baixos e fins
egoístas." - (Tchecov, A Esposa).
Personalidade é um
dos conceitos mais complexos em Psiquiatria (WANG E COL., 1995). Constitui a
essência do indivíduo, determinada multifatorialmente e percebida pelo meio
(ALPORT, 1966; WANG E COL., 1995). É composta pelo caráter - seus aspectos
cognitivos - e pelo temperamento - seus aspectos afetivo-conativos (PETERS,
1984).
Transtornos de
Personalidade são variações extremas da normalidade, causando prejuízo no
funcionamento do indivíduo, má adaptação social e sofrimento subjetivo (WANG E
COL., 1995). Para muitos, o Transtorno de Personalidade não existe, devendo-se
eliminar o conceito por ser teoricamente insatisfatório, confuso na prática e
cientificamente nocivo (KAUFMAN, 1980).
Aqui, será abordado especificamente o Transtorno de
Personalidade Paranóide, seu diagnóstico e terapêutica:
O Transtorno de
Personalidade Paranóide pode ser definido como entidade patológica distinta,
que independe da cultura e do grupo em que o indivíduo está inserido,
envolvendo um estilo global de pensar, sentir ou relacionar-se com os outros de
forma rígida e invariável (GABBARD, 1992). Constitui maneira de ser do
indivíduo, ego-sintônica, caracterizada por desconfiança e suspeita
persistentes em relação a outrem, interpretando motivações e ações de outros
indivíduos como malevolentes (GABBARD, 1992; GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
A Personalidade
Paranóide já havia sido descrita por Kraepelin em 1915, designando indivíduos
querelantes e constituindo característica pré-mórbida da Paranóia (GUNDERSON
& PHILLIPS, 1995). Kurt Schneider, em sua classificação assistemática das
Personalidades Psicopáticas, descreveu um tipo de psicopata, o fanático,
caracterizado pela supervalorização de certos complexos, ou seja, idéias ou
motivações que em virtude de sua exagerada acentuação afetiva adquiriam posição
dominante, uma preponderância tirânica sobre o psiquismo (BIRNBAUM, 1909;
SCHNEIDER, 1948; KAUFMAN, 1980). Haveria fanáticos ativos, lutadores, e
fanáticos silenciosos, dissimulados (SCHNEIDER, 1948).
É interessante
assinalar que o próprio Schneider evitou o termo "Psicopata
Paranóide", pois o principal nesses psicopatas seria a supervalorização de
complexos e não a propensão à autorreferência (SCHNEIDER, 1948). A respeito
disso, cabe salientar que a classificação de Kurt Schneider foi criticada por
"definições pouco esclarecedoras" (BONNET, 1983). Ao psicopata
fanático schneideriano corresponde o Transtorno de Personalidade Paranóide nas
nosologias atuais (CID - 10, DSM - IV). (GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
O Transtorno de Personalidade Paranóide ocorre entre 0,5 a 2,5% da população
geral, sendo mais comum em indivíduos do sexo masculino (GUNDERSON &
PHILLIPS, 1995). Estudos em famílias revelaram estreita relação com
Esquizofrenia e Transtornos Delirantes (GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
A etiologia do
Transtorno é incerta, provavelmente contando para esta fatores biológicos,
psicológicos e ambientais (KAUFMAN, 1980; GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
Diagnóstico e Quadro Clínico:
O diagnóstico do
Transtorno de Personalidade Paranóide é basicamente clínico.A CID - 10 (OMS,
1993) tem como critérios diagnósticos para o Transtorno os seguintes:
Sensibilidade excessiva a contratempos e rejeições; tendência a guardar
rancores persistentemente, isto é, recusa a perdoar insultos e injúrias ou
desafetos; desconfiança e tendência invasiva a distorcer experiências por
interpretar erroneamente ações amistosas de outrem como hostis; um combativo e
obstinado senso de direitos pessoais, em desacordo com a situação real;
suspeitas recorrentes, sem justificativa, com respeito à fidelidade sexual do
cônjuge ou parceiro sexual; tendência a experimentar auto-valorização
excessiva, manifestada em atitudes persistentes de auto-referência; preocupação
com explicações "conspiratórias", não substanciadas, para o que
ocorre.
Os critérios diagnósticos do DSM - IV (APA, 1994) para o
Transtorno de Personalidade Paranóide são:
Suspeita, sem base suficiente, de
que os outros o(a) estão explorando, agredindo ou enganando; preocupação ou
dúvidas injustificadas sobre a lealdade ou confiabilidade de amigos ou sócios;
relutância em fazer confidências, por temer que as informações sejam usadas
contra si; interpretação de significados ocultos em comentários amistosos;
dificuldade em perdoar insultos; hipervigilância a ataques à própria pessoa ou
reputação, podendo reagir de forma rápida e agressiva; suspeita, sem base
justificada, em relação à fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual. Devem estar
preenchidos quatro ou mais critérios e estão excluídos Esquizofrenia, Transtornos
do Humor com sintomas psicóticos, outros Transtornos Psicóticos e condições
médicas gerais.
Os pacientes com
Transtorno de Personalidade Paranóide são em geral reservados, silenciosos e
têm uma percepção notavelmente acurada do ambiente (GABBARD, 1992). São dotados
de arguta sensibilidade em questões de hierarquia e poder, apresentando
dificuldade em se relacionar com autoridades, talvez por medo de serem
dominados ou de mostrar sua vulnerabilidade (GABBARD, 1992; GUNDERSON &
PHILLIPS, 1995). Percebem as ameaças à sua autonomia como onipresentes, não
conseguem relaxar, o mundo é para eles povoado por seres estranhos e
imprevisíveis, indignos de confiança (OGDEN, 1986; GABBARD, 1992). Esses
pacientes têm necessidade constante de controlar os outros, são também
patologicamente ciumentos, o que reflete sua terrível baixa auto-estima
(MEISSNER, 1986; O’BRIEN E COL., 1992). Interpretam os sentimentos alheios não
como criações pessoais, mas como coisas em si mesmas (GABBARD, 1992). Vivem na
posição esquizoparanóide, dissociando e afastando de si toda a
"maldade" e projetando-a em figuras externas (GABBARD, 1992).
O Transtorno pode
estar associado à Depressão, Agorafobia, Transtorno Obsessivo-Compulsivo,
tentativas de suicídio e outros Transtornos de Personalidade, primariamente
Esquizotípico, Narcisista, "Borderline" e Evitativo (GUNDERSON &
PHILLIPS, 1995).O diagnóstico diferencial deve ser feito com Esquizofrenia
Paranóide (há sintomas psicóticos persistentes), com Transtorno Delirante, tipo
Paranóide (há delírios persecutórios persistentes) e com outros Transtornos de
Personalidade (GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
A seguir, cinco casos verídicos e ilustrativos:
Caso 1:
Um estudante de 22 anos, com
dúvidas sobre juntar-se à Central de Inteligência ou estudar Ciências
Políticas, foi pedir aconselhamento vocacional. Na primeira entrevista, deixou
claro que não confiava em psiquiatras e falou do "perigo" que
representavam as duas profissões, pois poderia ser "explorado".
Decidiu não dar muitas informações a seu respeito, pois "poderia ser
prejudicado futuramente". Contou sobre a separação recente de sua esposa,
a quem sempre acusou de infidelidade. Ela
o considerava tenso e sério, incapaz de responder a brincadeiras sem se sentir
atacado. O estudante acreditava que sua esposa era responsável por todos os
seus problemas matrimoniais, e interpretou a separação como uma confirmação de
que não deveria confiar em ninguém (GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
Caso 2:
C.L.N.P., 30 anos, masculino,
solteiro, engenheiro, RGHC 7030519D, internado no IPQ - HC - FMUSP a 29-4-97
por "tentar agredir o pai com uma faca". O paciente, sem antecedentes
mórbidos, aos 17 anos passou a queixar-se de que estava sendo perseguido na
escola, informação verificada pelos pais como falsa. Tornou-se desde então
agressivo e desconfiado, sobretudo em relação à família. Responsabilizava-a
pelos seus problemas, exigia o "melhor" para si. Chegou a agredir os
pais fisicamente e em seu trabalho, chegou a sustentar, sem provas, que haveria
um "complô" para demiti-lo. Ao exame psíquico de entrada,
apresentava-se querelante, autorreferente, irritável, sem delírios ou
alucinações, a crítica prejudicada. Avaliação psicológica denotou
"incapacidade de valorizar seus próprios recursos e necessidade de
referencial externo para organizar sua identidade". O paciente recebeu
risperidona 2 mg/dia V.O. e tratamento psicoterápico durante a internação,
evoluindo bem e recebendo alta a 30-5-97, sendo então encaminhado ao
Ambulatório.
Caso 3:
Pedro I, o Grande, Czar da Rússia
(1672-1725). Dotado de enorme vontade e energia, foi responsável pela
ocidentalização da Rússia, trazendo Arte e Ciência de outros países europeus
por onde viajou. Organizou a Administração e o Exército, conquistou vários
territórios e fez-se reconhecer como supremo chefe da Igreja Russa.
Desconfiado, mesmo sem provas punia com extrema crueldade "opositores em
potencial". Mandou executar seu
próprio filho, que se opunha às suas reformas (Lello Universal).
Caso 4:
Arthur Schopenhauer, filósofo
alemão (1788-1860). Sempre desconfiado, autorreferente, tinha verdadeiro desprezo pela raça humana e ao mesmo tempo, desejos de
obter glória e notoriedade. Atribuía seus fracassos acadêmicos a
"conspirações" de professores universitários (VALLEJO-NÁGERA, 1946).
Caso 5:
Tibério, Imperador Romano (14-37
d.C.). Príncipe hábil, esclarecido e prudente, teve um reinado glorioso; porém, desconfiado em excesso com relação a
intrigas palacianas, cometeu as maiores crueldades (Lello Universal).
Tratamento
O Transtorno de
Personalidade Paranóide é de tratamento bastante difícil (GABBARD, 1992). Os
pacientes por vezes se recusam a aderir a psicoterapia pela desconfiança,
relutância em informar sobre sua intimidade e porque não admitem sua doença,
tanto que normalmente são trazidos por familiares (GABBARD, 1992; GUNDERSON
& PHILLIPS, 1995). Entretanto, a psicoterapia dirigida, baseada em relação
de confiança, é a base do tratamento, e a franqueza é de longe a melhor
política frente a esses pacientes (GABBARD, 1992; GUNDERSON & PHILLIPS,
1995).
A prevenção da
violência nesses pacientes é outra dificuldade (GABBARD, 1995). O terapeuta,
nesse sentido, deve sempre ajudar o paciente a não se sentir humilhado; deve
evitar levantar ainda mais suspeitas; ajudar o paciente a manter seu senso de
controle, encorajando-o a verbalizar ao invés de atuar com violência; dar
espaço para o paciente relaxar; manter-se sintonizado com a
contra-transferência (FELTHOUS, 1984; GABBARD, 1992).
As psicoterapias
cognitiva e familiar podem ser úteis, sendo que outras terapias, como a comportamental,
não mostraram sucesso (BECK & FREEMAN, 1990; GUNDERSON & PHILLIPS,
1995).
Os pacientes podem
beneficiar-se com medicação antipsicótica em baixas doses (GUNDERSON &
PHILLIPS, 1995). Essas drogas estão indicadas nas descompensações psicóticas
que podem ocorrer no curso do Transtorno (GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
Na ausência de
tratamento, o prognóstico é reservado (GUNDERSON & PHILLIPS, 1995).
Concluindo:
O Transtorno de
Personalidade Paranóide é variação extrema e desadaptativa do modo de ser,
caracterizado basicamente por desconfiança e suspeita em relação a outrem.
Provavelmente, é subdiagnosticado e sua etiologia é incerta, havendo porém relação
estreita com quadros psicóticos. A terapêutica, essencialmente psicoterápica, é
bastante difícil, podendo ser útil o uso de neurolépticos em baixa dose. São
necessários mais estudos para o esclarecimento da relação entre o Transtorno e
as Psicoses Paranóides e para a elaboração de terapêuticas mais eficazes.
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Guilherme Rubino de Azevedo Focchi: Psiquiatra - Médico Colaborador do Instituto de
Psiquiatria da Faculdadede Medicina da Universidade de São Paulo.
José Carlos Ramos Castillo: Médico Assistente do Instituto de Psiquiatria da
FMUSP - Supervisor dos residentes. Residência Médica - IPQ - HC – FMUSP - Membro
da Comissão de Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e
do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Instituto de Psiquiatria - Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo: Rua
Ovídio Pires de Campos, s/n. CEP 05403-010, São Paulo, SP. Tel/Fax (011)
852-9029.
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