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Pode a Oração Mudar o Livre-Arbítrio e Converter Almas? Análise Bíblica, Teológica e Doutrinária sobre a Coversão de Santo Agostinho

Written By Beraká - o blog da família on segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024 | 14:46




Por *Francisco José Barros Araújo 


A oração é um dos maiores mistérios da vida espiritual cristã. Desde os primórdios do cristianismo, ela é compreendida não apenas como uma súplica ou um meio de alcançar favores divinos, mas sobretudo como expressão íntima de comunhão com Deus. No entanto, nas últimas décadas, observa-se uma crescente deturpação do verdadeiro sentido da oração, muitas vezes reduzida a instrumento de barganha ou “fórmula mágica” para alterar a vontade divina. Este estudo pretende refletir, à luz das Sagradas Escrituras e da doutrina católica, sobre os limites e o alcance da intercessão. Afinal, é possível que a oração mude o livre-arbítrio de uma pessoa? Ou será que o poder da oração reside não em mudar a vontade dos outros, mas em transformar interiormente aquele que reza? A partir de exemplos bíblicos e do testemunho de santos como Agostinho e Mônica, buscou-se compreender a verdadeira força da oração, sem cair em reducionismos mágicos ou sentimentalismos religiosos, mas resgatando sua natureza relacional e teologal. A conversão de Santo Agostinho representa, talvez, um dos casos mais emblemáticos da ação da graça divina na vida humana, combinando de forma extraordinária elementos internos e externos que cooperaram para a sua transformação espiritual. Historicamente, Agostinho nasceu em 354 em Tagaste (atual Argélia) e passou por uma juventude marcada por questionamentos filosóficos, intelectuais e uma vivência moral permeada pelo hedonismo e pelo maniqueísmo. Sua conversão não foi um evento súbito isolado, mas um processo gradual, rico em sinais da ação de Deus.





1. A inteligência iluminada pela graça



O primeiro instrumento da conversão agostiniana é a própria inteligência de Agostinho, iluminada pela graça divina. Teologicamente, a tradição cristã, especialmente a patrística, ensina que a graça precede e habilita a vontade humana para o bem. Santo Agostinho, em suas Confissões, reconhece que, sem a luz de Deus, suas reflexões filosóficas e morais permaneceriam insuficientes para conduzi-lo à verdade. A graça divina age como uma luz que esclarece a mente e prepara o coração para acolher a verdade do Evangelho, mostrando que a conversão não é apenas um esforço humano, mas a cooperação com o impulso sobrenatural de Deus.




2. As Sagradas Escrituras



O contato de Agostinho com a Bíblia, especialmente com os escritos de Paulo, desempenhou papel decisivo em sua conversão. Em suas próprias palavras, a leitura de Romanos 13,13-14 foi a chave para reconhecer a necessidade de abandonar a vida pecaminosa e revestir-se de Cristo. Historicamente, isso evidencia o papel fundamental da Escritura como instrumento pedagógico e salvífico: a Palavra de Deus educa, corrige e transforma. Teologicamente, essa experiência confirma a convicção agostiniana de que a Bíblia, como Palavra viva, é veículo da graça e luz para aqueles que a recebem com fé. O episódio do “Toma e lê”, narrado por Santo Agostinho em suas Confissões, representa o ponto culminante de seu processo de conversão e revela de maneira exemplar a ação da graça na vida humana. Agostinho vivia um profundo conflito interior, marcado pela atração aos prazeres da carne e pelo desejo simultâneo de uma vida mais elevada, próxima de Deus. Sua mente, embora repleta de conhecimento filosófico, não encontrava repouso, e seu coração permanecia inquieto até reconhecer, com plena lucidez, a necessidade da graça divina. No momento decisivo, relata ter ouvido uma voz infantil dizendo: “Toma e lê”. Este episódio evidencia que a graça precede a ação da vontade humana, pois Deus age primeiro iluminando a alma e preparando-a para acolher a verdade. Ao atender ao chamado, Agostinho abriu a Bíblia e leu Romanos 13,13-14: “Afasta-te da imoralidade sexual. Todo outro pecado que alguém comete é fora do corpo; mas quem peca sexualmente, peca contra o próprio corpo. Revesti-vos, pois, do Senhor Jesus Cristo e não cuideis da carne para satisfazer seus desejos.” Essa leitura não se tratou apenas de um encontro intelectual, mas de um golpe espiritual que iluminou sua consciência e transformou seu coração. Historicamente, evidencia-se o papel da Escritura como veículo da graça, instrumento pelo qual Deus comunica seus preceitos, corrige a vida e convoca à santidade. Teologicamente, a Palavra é viva e eficaz, capaz de penetrar na profundidade do ser humano e suscitar a resposta da liberdade. Embora a graça desperte e ilumine, a conversão exige a cooperação da liberdade humana. Agostinho, ao ler o texto e compreender sua mensagem, respondeu ao chamado de Deus, deixando-se transformar e comprometendo-se a abandonar seus antigos hábitos. Esse momento revela a complementaridade entre a iniciativa divina e a adesão livre do homem, mostrando que Deus oferece a luz e o impulso, mas é necessária a resposta consciente e voluntária para que a vida se transforme. O episódio do “Toma e lê” sintetiza, assim, a convergência de todos os instrumentos que Deus utiliza na conversão: a graça que desperta e ilumina, a Escritura que transforma, a razão e a reflexão que preparam o entendimento, e a liberdade que escolhe corresponder. Historicamente, representa a virada definitiva na vida de Agostinho, que deixaria para trás o maniqueísmo e os hábitos hedonistas, tornando-se um dos mais influentes pensadores e santos da Igreja. A narrativa permanece, portanto, um modelo de conversão, um encontro com Deus que é ao mesmo tempo misterioso, pessoal e profundamente humano, mostrando que a salvação é fruto da união da iniciativa divina com a adesão livre do homem.




3. A intercessão de sua mãe, Santa Mônica



Outro instrumento vital foi a oração persistente de sua mãe, Santa Mônica. Historicamente, Santa Mônica acompanhou de perto a vida de seu filho, insistindo na oração, no exemplo moral e na orientação espiritual. Teologicamente, essa intercessão é emblemática da cooperação dos santos na obra de Deus, refletindo a comunhão dos fiéis na salvação alheia. A oração da mãe foi, portanto, um canal concreto da graça de Deus, uma intervenção humana que cooperou com o plano divino para a conversão de Agostinho.




4. O pastoreio de Santo Ambrósio




Finalmente, a influência do bispo de Milão, Santo Ambrósio, representou o instrumento pastoral. Sua eloquência, sabedoria e testemunho de vida cristã proporcionaram a Agostinho um modelo vivo da fé que ele buscava. Historicamente, Ambrósio foi uma figura central na Igreja de Milão, reconhecido por seu conhecimento bíblico e habilidade catequética. Teologicamente, ele representa o papel do pastor como mediador da graça, conduzindo o fiel à compreensão e à vivência concreta do Evangelho. Portanto, a conversão de Santo Agostinho pode ser compreendida como fruto da interação harmoniosa entre a graça divina e os instrumentos escolhidos por Deus: a inteligência iluminada, a Palavra escrita, a oração intercessora e o pastoreio espiritual. Cada um deles demonstra que a ação de Deus na conversão é ao mesmo tempo misteriosa e concreta, transcendental e histórica, e que a salvação envolve cooperação humana com a graça divina em múltiplas dimensões.


 

Responda com sinceridade: “Tudo pode realmente ser mudado AUTOMATICAMENTE, apenas pela oração?”

 

 

 

Vejo como principal argumento para os defensores desta “tese” — a de que a oração, por si só, seria capaz de mudar a vontade e a conversão de qualquer pessoa — o célebre exemplo da conversão de Santo Agostinho, atribuída à incansável intercessão de sua mãe, Santa Mônica. É inegável que as lágrimas, súplicas e perseverança dessa mulher santa tiveram papel decisivo na história espiritual do filho. No entanto, não se pode reduzir um mistério tão profundo à simples relação de causa e efeito entre o orar e o converter-se.  



Não pretendo, de modo algum, desvalorizar a eficácia da oração, pois ela é necessária e poderosa. Mas é preciso esclarecer que a dinâmica da conversão e da graça divina não é automática nem mecânica, como muitos imaginam. A conversão de Santo Agostinho é um exemplo luminoso dessa complexidade espiritual. Nela atuam diversos elementos inseparáveis: a intercessão orante de Santa Mônica, o encontro pessoal de Agostinho com a Verdade — que se deu, em parte, pela mediação de Santo Ambrósio, bispo e doutor da Igreja —, a ação interior e misteriosa da graça de Deus e, finalmente, a liberdade humana do próprio Agostinho, que escolheu abrir-se à conversão.  



A graça toca, ilumina e convida, mas nunca violenta. Deus respeita a liberdade da criatura que Ele mesmo criou livre. Santa Mônica rezou, chorou e confiou, mas o momento da conversão foi fruto também de um itinerário de busca, dúvida, razão e graça — um caminho em que a oração foi um meio, não a causa exclusiva da transformação.  Alguns, ao lerem o título deste texto, talvez reajam com espanto, exclamando: “Como assim? Como orar não resolve?” E, de fato, essa reação revela o contexto espiritual em que vivemos. Muitos cristãos, hoje, se encontram imersos num ambiente midiático e religioso de apelo emocional e imediatista, em que a oração é apresentada quase como um instrumento de manipulação divina. 



Há uma perigosa tendência de transformar o diálogo com Deus num ato de imposição: não se pede mais, ordena-se; não se suplica, determina-se; não se confia, exige-se.  Vivemos uma espiritualidade de slogans, onde frases de efeito substituem a profundidade da fé: “Tudo pode ser mudado pela força da oração”, “Reza que passa”, “Ora que melhora”. São expressões populares e bem-intencionadas, mas que, quando mal compreendidas, reduzem a oração a uma ferramenta de autoajuda espiritual, esvaziando seu verdadeiro significado: a comunhão com a vontade de Deus.  



Multiplicam-se campanhas e correntes de oração com prazos e metas: sete dias para sete graças, quatorze dias para quatorze vitórias, doze semanas para doze meses de bênçãos. A oração é tratada como contrato espiritual, como se Deus estivesse obrigado a cumprir nossa parte do “acordo”. Essa lógica mercantilista da fé gera frustrações, desesperanças e, em última instância, um afastamento do verdadeiro espírito cristão da oração, que é o de dizer com Cristo: “Pai, não se faça a minha vontade, mas a tua” (Lc 22,42).  O problema não está em orar, mas em como e por que oramos. Quando a oração nasce da fé madura, ela transforma o coração do orante e o conforma à vontade de Deus. Mas quando nasce da soberba ou da ansiedade de possuir, torna-se ruído espiritual. Santa Mônica orou e esperou, não para forçar a conversão do filho, mas para entregar-lhe a Deus. Sua confiança era tal que, ao ouvir de um bispo: 



“É impossível que pereça o filho de tantas lágrimas”, ela repousou sua alma nessa promessa e perseverou até o fim.  Assim, a oração intercessora tem poder, sim, mas não como instrumento de coerção da vontade divina ou humana. Ela é antes uma participação amorosa na obra da graça, um convite à cooperação livre entre o homem e Deus. A oração autêntica nunca elimina a liberdade; ao contrário, ela a purifica e orienta. 



A graça de Deus atua, mas é a liberdade humana que decide acolhê-la. E nesse delicado equilíbrio entre o dom e a resposta se dá o verdadeiro milagre da conversão.

 


 


O Catecismo da Igreja fala da superstição e "orações supersticiosas" nos seguintes termos:

 

 

 

CIC 2110:  "...A superstição representa de certo modo um excesso perverso de religião; a irreligião é um vício oposto por deficiência à virtude da religião."

 

 

 

CIC 2111: "A superstição é o desvio do sentimento religioso e das práticas que ele impõe. Pode afetar também o culto que prestamos ao verdadeiro Deus, por exemplo, quando atribuímos uma importância de alguma maneira mágica a certas práticas, em si mesmas legítimas ou necessárias. Atribuir eficácia exclusivamente à materialidade das orações ou dos sinais sacramentais, sem levar em conta as disposições interiores que elas exigem, é cair na superstição."

 



Precisamos entender que oramos não para mudar a vontade perfeita de Deus em relação a nós e ao mundo, mas para que possamos compreendê-la — ou, mesmo sem compreender, como Maria, acolhê-la plenamente em nossas vidas. É possível que você discorde, mas não há como fugir desta realidade: 



Há situações permitidas por Deus nas quais a oração não produz exatamente aquilo que desejamos, conforme nossos critérios humanos. Mas, sem dúvida alguma, algo muda pela oração. Se não externamente, então interiormente, no âmago de nosso coração.  Escrevo isto porque, nos últimos tempos, nunca estive tão próximo de pessoas frustradas, perdidas, sem respostas às suas súplicas. 



Pessoas que ouviram histórias de milagres e intercessões extraordinárias, como as lágrimas de Santa Mônica, que, durante décadas, orou pela conversão de Santo Agostinho, ou campanhas, votos, desafios e promessas a Deus. Gente que passa anos a fio rezando pelo pai alcoólatra, pelo emprego tão esperado, pela volta do cônjuge, pela cura de um parente doente ou dependente de drogas, e, aparentemente, nada acontece.  Sei que não é fácil ouvir de alguém desacreditado de tudo e de todos, que sofre com uma doença grave, que se sentiu traído por Deus após tantas orações, que se ajoelhou pedindo cura e viu a morte aproximar-se sem qualquer intervenção visível. E, para piorar, quando os resultados não correspondem às expectativas, muitos apressam-se em culpar a fé do outro. 



“Você não orou com intensidade suficiente”, dizem alguns; “Falta de fé”, afirmam outros. Assim, a responsabilidade é transferida para a vítima de sua própria dor, enquanto pregadores e “gurus espirituais” permanecem intactos em sua reputação e crença, afinal, segundo eles, “você não fez sua parte”.  Muitos já experimentaram o que C.S. Lewis expressou sobre a morte de sua esposa: “Todo o que pede, nem sempre recebe”. 



E, ainda assim, não vacilaram na fé; ao contrário, aprenderam a perceber que a oração não é uma ferramenta mágica para resolver problemas, mas um canal de comunhão, discernimento e consolo.  Para muitos, a experiência de oração se assemelha a bater em uma porta bem trancada, sem obter resposta do outro lado. É como sentiu Mack, no romance A Cabana de William P. Young, ao clamar a Deus pela vida de sua filha, e não encontrar nenhuma intervenção: revolta, dor, questionamento. É a realidade de tantos que se veem diante de sofrimento e injustiça sem entender os desígnios divinos.  Tenho buscado, portanto, um novo horizonte no relacionamento com Deus. A visão de um Deus tratado como uma “força” à disposição de nossas ordens, que precisa ser despertada por nossas orações para agir, não me sustenta mais, nem ajuda aqueles que vivem a batalha espiritual de forma concreta e dolorosa. 



A oração não é um mecanismo automático de soluções, mas sim um instrumento que nos aproxima de Deus, abre nossos olhos e coração para a Sua vontade, nos consola e fortalece, mesmo quando as circunstâncias externas permanecem inalteradas.  Se não fosse assim, como compreender o Getsêmani de Jesus, clamando: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?”



Ali, vemos que mesmo a perfeição encarnada da oração em Cristo não evita o sofrimento, mas abre espaço para a confiança na vontade do Pai, para o abandono filial, e para a transformação interior que a dor e a entrega produzem.  Portanto, a oração não é uma ferramenta de garantia de resultados, mas um caminho de fortalecimento, entendimento e santificação interior, onde o mistério de Deus se revela em silêncio, espera e acolhimento, mesmo diante do sofrimento mais profundo.


 


 

Pergunto: “A oração falhou na vida do Filho de Deus?” Expliquem-me senhores das orações poderosas!



Expliquem-me: Deus disse a Paulo:


"Minha graça é suficiente para você, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza".



Essa foi a resposta divina após o grande apóstolo ter orado três vezes, suplicando que lhe fosse tirado o chamado “espinho na carne”. Se era espinho, certamente não era agradável; era algo tão incômodo que o fez suplicar a Deus repetidamente. Não sabemos exatamente o que era — só podemos especular. O que sabemos é que São Paulo aceitou a vontade de Deus, e isso ocorreu, sem sombra de dúvida, pela oração.




Eu Barros, vivi muito tempo angustiado pelas exigências e críticas que me eram impostas. Pessoas dizendo que eu não era — e algumas ainda dizem que não sou — uma pessoa espiritual; que sou frio e excessivamente racional. Confesso que fui libertadoramente decepcionado, não por Deus, mas por mim mesmo, ao me confrontar com esse modelo de fé ilusória.



Já rezei muito, acreditando que minhas orações mudariam cenários e pessoas que jamais mudaram. Já pedi a Deus que tirasse a dor do meu peito e as dúvidas que carregava na mente. E nada aconteceu. Todos nós, inevitavelmente, teremos que conviver com algum tipo daquele espinho salvífico e necessário na carne. Espinhos que não serão retirados, ainda que se façam cem anos de oração e jejuns. Peço desculpas pela sinceridade, e sei que posso escandalizar alguns, mas acredito que certas posturas orantes são apenas entorpecentes espirituais. São de pessoas que não querem encarar a verdade sobre si mesmas, sobre os outros ou sobre a soberania de Deus. Como drogas, essas práticas nos deixam em êxtase momentâneo, fazendo-nos esquecer da realidade vigente. Mas, ao final do efeito... boom! Tudo retorna, e estamos sempre à procura de mais doses, mais ilusões oracionais.

 


Porém entendam, e não confundam alhos com bugalhos!

 

Quando digo que “a oração nem sempre resolve tudo”, estou me referindo à visão equivocada de que a oração é uma espécie de mágica, capaz de, num estalar de dedos, mudar pessoas ou situações. O grande ponto da vida é a certeza da paternidade divina: a certeza de que o Pai é nosso e de que oramos para que seja feita a vontade Dele, não a nossa. 






Nem sempre a oração vai transformar imediatamente e exteriormente o que desejamos. Por quê? 



Porque oração não é um instrumento mágico de intervenção, mas uma forma pessoal e íntima de se relacionar com Deus. Não devemos orar apenas para que situações externas mudem; devemos orar para nos alinhar com a vontade e o plano de Deus — para nós, para os outros e para toda a humanidade.  Comecei a compreender o verdadeiro sentido da oração ao observar minha mãe. Ela, em momentos de desespero, ficava de joelhos rezando sua novena a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Muitas vezes, suas circunstâncias não mudaram de imediato, mas ela estava ali, firme, conectada com Deus. A oração na vida de Jesus nunca falhou, justamente porque Ele não a via como um artifício sobrenatural, mas como algo simples, pessoal e profundo.  



Orar não é entrar no âmbito do subjetivismo espiritual; é entrar em relação pessoal com o Pai. Nesse sentido, a oração sempre muda algo — talvez não externamente, mas certamente interiormente. Se o objetivo de orar for apenas resolver problemas, então a oração não cumprirá sua função e será apenas um diálogo consigo mesmo. Agora, se o objetivo for se relacionar verdadeiramente com Deus, então algo surpreendente acontece: estaremos falando com o Pai que nos ama, que conhece o que é melhor para cada um de nós e que sabe o tempo certo para agir.  A correta oração não interfere no livre-arbítrio, pois é, acima de tudo, escuta. 



Ela nos ensina a usar esse dom com sabedoria. Nossa oração pode até ajudar outro a se converter, não por nossos méritos, mas porque a graça de Deus age através do exemplo de nossas vidas, inspirando os que convivem conosco.  Deus nos ensinou a pedir sempre. O diálogo com Ele, sinal de amizade e fé, naturalmente inclui nossas preocupações e questões. Foi Ele mesmo quem disse: “Pedi, e vos será dado; buscai, e achareis” (Lc 11,5-13). Mas será que pedimos da forma correta? Como nos alerta Tiago: 



“Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para gastar em vossos prazeres” (Tg 4,3). A oração não é sobre manipular a vontade divina; é sobre crescer na relação com Deus e confiar em Sua providência.

 

 


 

A oração mais que pedidos, e vomitório com deus, é diálogo de amizade com deus e não com um gênio da lâmpada!



Por que rezar? Como rezar? Quais são os obstáculos à oração?



Hoje, muitas comunidades redescobrem a importância da oração, mas nem sempre isso corresponde à verdadeira oração cristã. Existe um movimento muito difundido, especialmente na tradição cristã recente e pentecostal, que vê a oração como um instrumento para pedir a intervenção divina. Mas a oração cristã é muito mais profunda: Deus precede qualquer esforço nosso. Antes de procurá-Lo, Ele nos buscou; antes de respondermos, fomos chamados; antes de darmos atenção a Ele, fomos amados gratuitamente, sem exigir nada em troca.





O exemplo de Salomão



1 Reis 3 descreve a oração do rei Salomão, quando Deus lhe aparece em sonho e pergunta: “Pede o que Te devo dar”. Salomão não pediu riquezas ou bens materiais, mas discernimento para governar: um coração capaz de escutar — em (hebraico, lev shomea)



Esse exemplo nos mostra que a oração cristã não é sobre obtenção de conforto ou recompensa, mas sobre alinhar nossa vida à vontade de Deus, acolhendo Seu amor e respondendo com amor aos outros. Hoje, ainda vemos uma espiritualidade voltada ao bem-estar e à retribuição: há quem acredite que sem dízimo ou orações diárias não se terá prosperidade. Mas a lógica divina é diferente: a fé não nos faz imunes às dificuldades, mas nos dá forças para enfrentá-las. O fruto da oração verdadeira não é abundância material ou milagres instantâneos, mas a paz do coração. E uma medida dessa eficácia pode ser vista na caridade, no amor que demonstramos a Deus e ao próximo. Esse amor é, no fundo, a presença de Deus em nós, que nos dá forças extraordinárias para enfrentar os desafios da vida. É nesse sentido que podemos dizer, como Paulo: 



“Quem nos separará do amor de Cristo?” (Rm 8,35).



Intercessão e livre-arbítrio



O livre-arbítrio é a expressão da nossa capacidade de escolha consciente e deliberada. Deus respeita essa liberdade, mas ainda assim nos guia e protege, mesmo quando escolhemos caminhos errados. A Bíblia apresenta exemplos claros disso:




Abraão e Sodoma (Gênesis 18-19)


Abraão intercede por Sodoma e Gomorra: “E se apenas dez forem encontrados?” Deus responde: “Por amor aos dez não a destruirei”. No fim, Lot e sua família são salvos, mesmo hesitando, por causa da oração de Abraão. Aqui vemos que a intercessão pode mudar situações externas sem violar o livre-arbítrio individual.



Jonas e Nínive (Jonas 3,1-10)




Jonas anuncia a destruição de Nínive, mas a cidade se arrepende através da pregação dele e do jejum do povo. Deus atende à mudança de coração coletiva, mostrando que a oração e a ação penitencial podem gerar conversão comunitária. Esses exemplos demonstram que a oração tem poder, mas não manipula a liberdade de escolha de cada pessoa. Deus ouve os intercessores e traz livramentos, muitas vezes de forma silenciosa e sem que saibamos.






Cuidado com falsas interpretações



Hoje, líderes religiosos podem promover promessas fáceis e imediatistas, fazendo com que pessoas ignorem a necessidade de esforço, prudência e prática concreta da fé. Por exemplo, Isaías 1,19 fala sobre colher os melhores frutos da terra, mas isso não significa riqueza material instantânea; trata-se da fidelidade à vontade de Deus.




Outro caso é Atos 16,31-32: “Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e os de sua casa”. Muitos pregam o versículo isolado, esquecendo que é necessário também agir — pregar, cuidar e zelar pelos que estão à nossa volta — para que a promessa se concretize.



Portanto, não se engane com interpretações mágicas: Deus nos dá fé, prudência e razão, e espera que pratiquemos a obediência e o amor no dia a dia.A oração não é apenas um instrumento para resolver problemas; é um diálogo com Deus, uma forma de nos relacionarmos com Ele e alinharmos nossa vida à Sua vontade. Sua intercessão tem poder, mesmo que não mude imediatamente as circunstâncias externas, porque transforma você interiormente, fortalecendo sua fé e permitindo que você viva segundo o plano divino. Como diz Jesus: 



“Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito” (João 15,7). Mas é essencial que tudo esteja conforme a vontade do Pai, porque oração verdadeira é alinhamento com Deus, não manipulação de resultados.


 


Livre Arbítrio: Até que ponto vai minha vontade e a vontade de Deus?






Será que sou verdadeiramente livre? Até que ponto minhas escolhas são realmente minhas e até que ponto estão alinhadas a um plano maior, pensado por Deus? Existe um “plano perfeito” para a minha vida ou tudo não passa de uma sequência de acontecimentos ao acaso, sem sentido ou direção? Estou, de fato, preso a um destino previamente escrito por alguém, ou sou capaz de moldar meu próprio caminho com minhas decisões?  Essas perguntas não são apenas filosóficas ou intelectuais; elas exigem uma reflexão profunda e oracional. O livre-arbítrio não é um tema que se resolve apenas com raciocínio ou lógica. Ele toca a essência da nossa existência, a relação com o Criador e a forma como experimentamos o amor, a responsabilidade e a liberdade. É uma realidade que nos desafia, que nos atrai e, ao mesmo tempo, nos intimida.  Por isso, é importante abordá-lo com humildade, coração aberto e disposição para o diálogo interior com Deus. Ao longo desta reflexão, propomos analisar sete fatos fundamentais sobre o livre-arbítrio — elementos que nos ajudam a compreender como a nossa liberdade se insere no grande desígnio divino, e como podemos, com fé e discernimento, trilhar um caminho que conduza à plenitude e à santidade.




1º Fato: O livre arbítrio é um dom e um grande mistério de liberdade!




Embora possamos realizar inúmeros estudos filosóficos, teológicos e até científicos sobre o tema, jamais conseguiremos, nesta vida, alcançar um conhecimento pleno, completo e definitivo sobre essa realidade metafísica que é o livre-arbítrio. Ele nos ultrapassa, nos desafia e nos convida à humildade, pois não se trata apenas de um problema a ser resolvido pela razão humana.  Para compreendê-lo melhor, é útil diferenciar dois conceitos: mistério e enigma. Ambos apresentam algo que, à primeira vista, parece insolúvel. Porém, enquanto o enigma pode ser desvendado através da inteligência, da lógica e da força da razão humana, o mistério transcende nossas capacidades naturais. Para conhecê-lo, é necessária uma revelação que vem de fora de nós — de “Alguém” que Se manifesta de maneira mística e amorosa.  Os místicos, por exemplo, muitas vezes entram em contato com o mistério; eles o experienciam, o vivenciam, mas nem sempre conseguem traduzi-lo em palavras humanas. É assim que o livre-arbítrio se apresenta: não é um enigma a ser resolvido, mas um mistério a ser contemplado e vivido. Ele é uma realidade profundamente complexa, que só podemos compreender parcialmente através do que Deus nos revelou.  Nesse sentido, os ensinamentos da Santa Igreja funcionam como faróis seguros nessa imensidão. Eles nos indicam caminhos, esclarecem pontos essenciais e nos protegem de interpretações equivocadas. Ainda assim, não procure um “manual completo do livre-arbítrio” ou um guia prático que esclareça todas as dúvidas — mesmo Santo Agostinho, em seu célebre tratado sobre o tema, reconheceu os limites do conhecimento humano diante deste mistério.

 



2º Fato: O livre arbítrio é um presente especial criado e entregue por Deus




Muita gente reclama do livre-arbítrio, principalmente pelo fato de que ele nos dá a possibilidade de errar e, em última instância, nos conduzir ao Inferno. De fato, essa é uma realidade que assusta e inquieta. É verdade também que Deus, em Sua onipotência, poderia ter nos criado sem a opção de pecar, garantindo-nos uma existência sem falhas, sem sofrimento e sem risco de separação d’Ele.  Contudo, é justamente aí que reside a verdade mais profunda: sem liberdade, não existe verdadeiro amor. O amor autêntico exige escolha, decisão, risco e responsabilidade. Ele pressupõe renúncias, prioridades e até sacrifícios. Se fôssemos meros “robôs programados” para seguir automaticamente os caminhos certos, jamais teríamos a oportunidade de amar Deus genuinamente. A perfeição de um amor imposto não seria amor; seria apenas obediência mecânica.  É nesse contexto que o livre-arbítrio se revela como um dom extraordinário e precioso. Ele nos dá a capacidade de escolher o bem, de seguir o caminho de Deus e, mesmo em nossas limitações, de retribuir, ainda que de forma ínfima, o amor devorador que recebemos do Criador. Cada ato de fé, cada decisão pela virtude, cada renúncia consciente é uma fagulha de amor que ascende diante de Deus.  Em outras palavras, a liberdade não é apenas um risco; é também uma oportunidade sublime. Ela nos permite participar, de maneira ativa, do plano divino, experimentar o amor verdadeiro e responder, com toda a nossa vontade, àquele que nos ama infinitamente. É exatamente por isso que o livre-arbítrio é tão precioso: ele não nos protege apenas do Inferno, mas nos dá a chance real de amar e sermos amados, de sermos verdadeiramente humanos e filhos de Deus.




3º Fato: Não devemos confundir “destino” com “desígnio” de Deus!




Você já deve ter ouvido a história de que todos nós temos um destino previamente escrito, e que, não importa o que façamos, não há liberdade real para escapar dele. Pois bem, essa ideia não corresponde à verdade. Na realidade, nosso livre-arbítrio nos permite escolher nosso próprio caminho, moldar nossa história e responder de maneira única ao chamado de Deus.  Isso, porém, não significa que Deus seja ausente ou alheio à nossa vida. Muito pelo contrário: Ele tem um plano maravilhoso para cada um de nós. Ao nos criar com nossas características, talentos e limitações, Deus nos oferece um caminho no qual podemos encontrar a verdadeira felicidade e plenitude. Esse plano divino é chamado de desígnio — palavra que significa “desenho” ou “projeto”.  A grande diferença entre destino e desígnio é crucial. O destino, como muitas vezes é concebido, implica rigidez: tudo estaria pré-determinado, e nossas escolhas não teriam efeito real. O desígnio de Deus, por outro lado, é um caminho preparado com perfeição, mas que nunca nos é imposto. Deus propõe, sugere, guia; Ele não obriga ninguém a seguir Sua vontade. Somos livres para trilhar rotas diferentes, para escolher entre o bem e o mal, para aceitar ou rejeitar os planos divinos.  Um exemplo claro está no Concílio Vaticano II, que nos lembra que Deus designou todos os homens para a santidade. No entanto, muitos rejeitam esse chamado, optando por caminhos que se afastam do amor e da vontade de Deus. Mesmo assim, o desígnio divino permanece intacto, esperando que cada pessoa, no tempo e na forma que lhe for dado, volte-se para Ele.  Portanto, ao contrário de um destino imutável, o desígnio de Deus é um convite constante à liberdade, à escolha e ao amor. Nossa vida é um diálogo dinâmico entre a proposta divina e nossas decisões pessoais — um espaço onde a verdadeira liberdade humana encontra sentido e plenitude.




4º Fato: É possível sim, conhecer os desígnios de Deus para nós




Se seguirmos fielmente os desígnios de Deus, alcançaremos verdadeira felicidade e realização, assim como experimentaram os inúmeros santos celebrados pela Igreja ao longo da história. Desse modo, não faria sentido que Deus nos oferecesse um caminho de plenitude e, ao mesmo tempo, o mantivesse escondido de nós. Isso seria incompatível com a Sua natureza, pois Deus se revela como o próprio Amor (cf. 1 Jo 4,8), sempre disposto a conduzir-nos ao bem e à santidade.  Entretanto, não espere que esse “plano divino” chegue até você em uma notificação ou apareça nos stories do Instagram. Não se trata de algo que se descobre por esforço psicológico, racional ou por uma análise superficial — não é um enigma que possa ser resolvido apenas pela inteligência humana. A verdadeira vontade de Deus para cada um de nós só se revela através da oração profunda, da intimidade constante e do relacionamento pessoal com Ele.  E não me refiro a cinco minutos de diálogo rápido na porta da igreja ou a palavras repetidas sem sentido. Falo de uma oração viva, humilde, persistente, que transforma o coração e a mente. Para isso, é indispensável a vivência dos Sacramentos, que nos conectam à graça divina, e, quando possível, o acompanhamento de um diretor espiritual ou mentor, capaz de ajudar a discernir os caminhos da vontade de Deus.  Com fé e intimidade com o Senhor, podemos obter respostas seguras sobre as grandes escolhas de nossa vida: se devemos casar, seguir o sacerdócio, viver em celibato, ou nos dedicar a uma vocação específica dentro da Igreja, seja em uma paróquia, em uma comunidade consagrada ou em uma ordem religiosa. Também é possível discernir o melhor uso de nossos dons — seja como pregador, ministro de música, intercessor ou em outras formas de serviço.  Independentemente das respostas que recebemos, duas certezas permanecem desde o início: somos filhos de Deus pelo Batismo e somos chamados a viver nossa humanidade de forma plena, como homem ou mulher, de acordo com a natureza com a qual fomos criados. Partindo dessas bases sólidas, todas as outras escolhas da vida se tornam oportunidades para crescer na liberdade, no amor e na fidelidade ao desígnio divino.




5º Fato: Não devemos nos desesperar pelas escolhas erradas do passado!




Grande aflição acomete aqueles que descobrem tarde demais o seu desígnio pessoal. Muitos passam boa parte da vida sentindo-se abandonados, esquecidos ou até punidos por Deus. Quando finalmente percebem que existe um caminho planejado “sob medida” para eles, surge o desespero: já trilharam outros caminhos, muitos dos quais, certamente, não estavam nos planos divinos. Casamentos feitos sem discernimento, talentos desperdiçados em pecados, vícios que corroem a alma — tudo parece apontar para uma vida de fracasso ou arrependimento.  No entanto, não há motivo para pânico ou desespero. Nosso Deus é o Soberano do universo, infinitamente maior do que todos os problemas que enfrentamos. Ele tem poder para reordenar tudo, transformar o caos em harmonia e fazer brotar vida nova mesmo nos terrenos mais áridos da existência humana. Ao contrário do que muitos pensam, Deus não abandona ninguém que tenha se desviado do caminho original; pelo contrário, Ele imediatamente nos oferece um “plano B”, uma segunda chance, um novo rumo cheio de possibilidades.  É verdade que a pessoa que se desvia do plano inicial talvez não se realize exatamente da mesma forma que se tivesse seguido o desígnio original. Mas isso não significa perda de felicidade ou de santidade. Deus pode sempre criar um “plano C”, um “D”, um “E”… e assim por diante. Fique tranquilo, irmão ou irmã, pois o alfabeto divino é muito maior do que nossas 24 letras humanas. O Senhor é capaz de reconstruir vidas, restaurar corações e conduzir cada alma para a felicidade e a santidade, mesmo depois dos maiores erros e desvios.  Portanto, não tema ter se perdido: cada escolha errada, cada tropeço, cada desvio pode ser convertido em aprendizado e oportunidade de crescimento. Deus, em Sua infinita misericórdia, nunca fecha portas, nunca desiste de nós. Ele refaz, reconstrói e transforma cada trajetória, guiando-nos sempre para o que é bom, belo e verdadeiro.




6º Fato: O papel de Deus não se limita a “escrever desígnios”




Muitos pensam que Deus já não age mais no mundo ou na vida das pessoas, sustentando a ideia de que “Ele já fez tudo na Criação; agora, é com o homem”. Essa concepção, à primeira vista inofensiva, é na verdade perigosa e enganosa, pois pode gerar consequências espirituais profundas. Dois grandes problemas surgem dessa mentalidade.  O primeiro é que as pessoas deixam de rezar, desacreditando da presença ativa de Deus em suas vidas. O segundo é que passam a acreditar que possuem força suficiente para alcançar a santidade por si mesmas, sem qualquer auxílio do Alto. Ambas as situações são ilusórias e nos afastam da verdade do Evangelho: Deus não apenas planeja nossa história, mas nos dá os meios para vivê-la e realizar o Seu desígnio.  Essa intervenção divina em nossa alma recebe o nome de graça atual, uma força sutil e poderosa que nos é concedida todos os dias. No entanto, nem todos a percebem da mesma maneira. Aqueles que cultivam intimidade com Deus, através da oração constante, da participação nos Sacramentos e de uma vida de fidelidade, tornam-se mais sensíveis a essa graça. É ela que toca, transforma e fortalece nossa vontade, capacitando-nos a trilhar os caminhos da santidade. Sem a graça, é impossível alcançar a verdadeira santidade; por isso, é necessário pedi-la com humildade e preparar o coração para recebê-la.  Além da graça cotidiana, Deus pode agir de modo extraordinário e visível, em situações que desafiam qualquer explicação racional ou científica. Chamamos isso de milagre. E, ao contrário do que muitos dizem hoje, milagres existem, são reais e abundam na história da Igreja. No entanto, diferentemente das graças cotidianas — silenciosas e invisíveis —, os milagres são intervenções extraordinárias, sinais claros da presença e do poder de Deus, concedidos segundo a Sua vontade e no momento que Ele julgar oportuno.  Portanto, Deus não nos deixou à mercê de nós mesmos. Ele age constantemente, de formas sutis e grandiosas, oferecendo-nos a graça necessária para cumprir Seu plano e, quando necessário, manifestando milagres como prova de Seu amor e cuidado. A vida espiritual, assim, torna-se uma contínua relação de confiança, oração e abertura à ação divina, reconhecendo que tudo que é bom em nós e em nossa trajetória vem d’Ele, mesmo quando não conseguimos compreender plenamente os Seus caminhos.




7º Fato: É possível sim, conciliar nossa vontade com a vontade de Deus!




É natural que muitos cristãos — especialmente aqueles que estão em fase de conversão ou redescobrindo a fé — tenham dificuldade em compreender que a vontade de Deus é sempre boa. Essa compreensão torna-se ainda mais desafiadora quando nos é pedido algum sacrifício, renúncia ou entrega total. Frequentemente, nossos planos parecem puros, santos, corretos e até urgentes; ainda assim, descobrimos que nem sempre coincidem com os planos de Deus.  É nesse ponto que entra, mais uma vez, a importância de nossa capacidade de amar. O livre-arbítrio não foi dado para nos tornar meros observadores da vida, mas para nos exigir escolhas que refletem nosso amor e fidelidade a Deus. Se ele não exigisse tanto, não teríamos oportunidades preciosas de demonstrar essa entrega. Pense em Abraão, disposto a entregar seu filho Isaac (cf. Gn 22,1-18), ou na Santíssima Virgem, ao dizer seu “sim” ao plano salvífico de Deus (cf. Lc 1,28-38). Cada ato de confiança e renúncia é uma oportunidade única de provar nosso amor a Deus, mesmo quando não entendemos plenamente Suas razões.  A história dos santos nos oferece um ensinamento reconfortante e inspirador: quanto mais íntimos de Deus nos tornamos, mais nos tornamos semelhantes a Ele. Esse processo é semelhante à convivência com um amigo muito próximo: com o tempo, começamos a adotar gestos, expressões, modos de falar e até hábitos de quem nos é querido. De maneira semelhante, quando mantemos uma vida de oração profunda e uma participação constante nos Sacramentos, passamos a “absorver” o jeito de Deus agir, falar e amar, com a ajuda da Sua graça.  Santa Teresa d’Ávila nos ensina que, ao alcançarmos determinada “morada” espiritual — um ponto de maturidade ou conversão profunda — nossa vontade se funde com a Vontade de Deus, de tal forma que se torna impossível distinguir uma da outra. Nesse estágio de união, cada escolha, cada ação e cada decisão é tomada em perfeita sintonia com o Criador, e nossa liberdade não é diminuída, mas plenamente realizada, pois escolhemos o bem supremo: o amor de Deus.  O caminho até esse ponto exige paciência, perseverança e confiança, mas é exatamente nesse percurso que experimentamos a beleza do livre-arbítrio: a possibilidade de amar, renunciar, crescer e nos tornar cada vez mais participantes da vida divina, até que nossa vontade e a de Deus se encontrem em perfeita harmonia.



Somos livres e criados para amar (mas, podemos livremente, rejeitar)




Muito mais poderia ser dito a respeito do livre-arbítrio, da vontade de Deus, da nossa liberdade e da intervenção divina em nossas vidas. De fato, trata-se de um tema que provoca dúvidas, questionamentos e debates sem fim, inclusive entre os mais renomados teólogos cristãos. Poderíamos falar sobre o livre-arbítrio dos anjos, sobre a estrutura complexa da alma humana, sobre as consequências morais e espirituais das nossas escolhas, e sobre tantas outras minúcias que compõem o vasto mistério da liberdade concedida por Deus.  Entretanto, em meio a toda essa profundidade e complexidade, uma verdade central deve permanecer clara — e, se essa verdade ficar gravada em nosso coração, toda reflexão terá cumprido seu propósito: fomos feitos para o amor. Cada ser humano é chamado a responder ao amor do Criador, e essa resposta é sempre uma escolha livre. O livre-arbítrio que nos foi dado não é uma formalidade ou uma ilusão; é um dom precioso, pelo qual podemos aderir ao amor de Deus ou rejeitá-lo.  Essa liberdade respeitada pelo Senhor é ao mesmo tempo um convite e um desafio. Ela nos coloca diante de duas possibilidades extremas: a plenitude da vida eterna, quando escolhemos corresponder ao amor divino, ou o vazio angustiante do Inferno, que não é apenas sofrimento, mas a ausência do próprio Deus, a quem fomos feitos para amar.  Por isso, compreender e valorizar o livre-arbítrio é compreender e valorizar o amor. Cada decisão que tomamos, cada escolha que fazemos, cada renúncia ou entrega, é uma oportunidade de responder ao Criador e de participar de Sua obra de amor. Nosso caminho espiritual não é apenas obedecer a regras ou seguir mandamentos; é viver uma vida em que nossa liberdade se torna instrumento do amor, para nós mesmos, para os outros e, acima de tudo, para Deus.  No fim, o grande mistério da vida humana e da liberdade divina não se resolve em livros ou debates intelectuais, mas na prática de amar, na entrega confiada ao Senhor e na busca sincera de viver segundo o desígnio divino. E é nesse exercício cotidiano de amor livremente escolhido que a nossa existência encontra sentido, beleza e eternidade.



SOBRE SANTA MÔNICA E A CONVERSÃO DE AGOSTINHO:




Santa Mônica entendeu qual era a sua missão como mãe: levar o seu filho Agostinho para Deus! Orou, chorou,  mas também, agiu facilitando este encontro com Deus para esta conversão que durou mais de 30 anos, mas ao final pode colher o fruto de tantas lágrimas (conf. Salmo 126,5-6). Santa Mônica aproximou Agostinho do bispo Santo Ambrósio, que também, é DOUTOR DA IGREJA. Podemos dizer que Santo Ambrósio é o INSTRUMENTO de Deus, humanamente falando, para a conversão de Santo Agostinho, pois em última instância, Deus nos deu o Livre Arbítrio. Agostinho com efeito, se converteu ouvindo os sermões e o canto litúrgico criado por Santo Ambrósio. Os livros que Santo Ambrósio deixou, que estão preservados, são, na sua maioria, transcrições literais dos sermões de Santo Ambrósio seu bispo.  Santo Agostinho conta que a fama dos sermões de Santo Ambrósio era enorme. Dizia que seu tom de voz era marcante e sua eloquência tocava os corações. Por isso, Santo Ambrósio foi apelidado de "o apóstolo da amizade". Quantas mães tem o mesmo desejo de Mônica, porém, só querem o BÔNUS desta mãe, sem querer abraçar o ÔNUS. 







Santa Mônica é um exemplo a ser seguido por todas as mulheres cristãs que receberam o dom da maternidade. Santa Mônica nasceu no norte da África, em Tagaste, no ano 332, numa família cristã que lhe entregou – segundo o costume da época e local – como esposa de um jovem chamado Patrício.Como cristã exemplar que era, Mônica preocupava-se com a conversão de sua família, por isso se consumiu na oração pelo esposo violento, rude, pagão e, principalmente, pelo filho mais velho, Agostinho, que vivia nos vícios e pecados. A história nos testemunha as inúmeras preces, ultrajes e sofrimentos por que Santa Mônica passou para ver a conversão e o batismo, tanto de seu esposo, quanto daquele que lhe mereceu o conselho: “Continue a rezar, pois é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas”.Santa Mônica tinha três filhos. E passou a interceder, de forma especial, por Agostinho, dotado de muita inteligência e uma inquieta busca da verdade, o que fez com que resolvesse procurar as respostas e a felicidade fora da Igreja de Cristo. Por isso, envolveu-se em meias verdades e muitas mentiras. Contudo, a mãe, fervorosa e fiel, nunca deixou de interceder com amor e ardor, durante 33 anos; e, antes de morrer, em 387, ela mesma disse ao filho, já convertido e cristão: “Uma única coisa me fazia desejar viver ainda um pouco, ver-te cristão antes de morrer”.Por esta razão, o filho Santo Agostinho, que se tornara bispo e doutor da Igreja, pôde escrever: 




“Ela me gerou seja na sua carne para que eu viesse à luz do tempo, seja com o seu coração para que eu nascesse à luz da eternidade”.

 

 

 

Em 1Tm 2,15, São Paulo afirma que: “a mulher é salva pela teknogonia”.  



A palavra grega teknogonia pode ser traduzida como “geração de filhos” ou, de forma mais ampla, maternidade. Aqui, o Apóstolo não se refere apenas ao ato biológico de dar à luz, mas à maternidade enquanto colaboração ativa com a obra do Criador. Nesse sentido, ser mãe assume uma dimensão quase sacerdotal: toda mãe é chamada não apenas a transmitir a vida corporal, mas também a cuidar da educação moral, afetiva e espiritual de seus filhos, incutindo neles a doutrina da fé e os valores que estruturam a vida cristã.  Ser mãe era uma das aspirações mais profundas da mulher judia da época de São Paulo, reconhecida como uma vocação de grande responsabilidade e dignidade. Essa visão não perdeu relevância com os séculos; ao contrário, permanece igualmente significativa para a mulher moderna. Uma boa mãe influencia profundamente a sociedade, transmitindo princípios, valores e virtudes que formam não apenas indivíduos, mas comunidades inteiras.  Além disso, a maternidade cristã transcende a função biológica. Ela é uma forma de serviço sagrado, uma expressão do amor de Deus no mundo, e uma oportunidade de participar da obra divina de maneira concreta e transformadora. Cada gesto de cuidado, cada ensinamento e cada exemplo de fé torna-se um testemunho vivo do amor de Deus e contribui para a salvação não apenas dos filhos, mas da própria mãe, que cresce na graça e na santidade ao cumprir sua vocação.  Portanto, a maternidade não é apenas um papel social ou biológico, mas uma missão espiritual e educativa, através da qual a mulher participa ativamente do plano divino, colaborando com a criação e a santificação da vida humana, e deixando uma marca eterna na história da fé e da humanidade.

 

 

Santa Mônica, rogai por nós!





 


Conclusão  




Em suma, a oração não é um dispositivo automático de resolução de problemas, nem uma ferramenta para manipular a vontade divina. A autêntica oração cristã é encontro, diálogo e escuta. É o momento em que nos colocamos diante de Deus não para exigir, mas para compreender e acolher a Sua vontade. É um espaço de entrega, de abertura do coração e de renovação da alma. Campanhas, novenas, orações fortes, água ungida e outros rituais, quando vividos apenas como superstição ou tentativa mágica de obter resultados, acabam por frustrar e esvaziar a fé. Porém, quando praticados com fé verdadeira e discernimento, tornam-se instrumentos que fortalecem o espírito, lembrando-nos de nossa dependência de Deus e da necessidade de perseverança na vida espiritual. A verdadeira força da intercessão não está em “mudar Deus”, mas em permitir que Deus nos transforme interiormente, moldando nossa vontade, nossos pensamentos e nossos sentimentos.



A oração não anula o livre-arbítrio; pelo contrário, ela o ilumina, ordenando-o ao bem, ao amor e à comunhão com o Criador. Rezar é deixar-se conduzir, como Maria, pelo “faça-se em mim segundo a tua palavra”. É nessa entrega confiante que encontramos paz, sentido e salvação, mesmo que as circunstâncias externas permaneçam inalteradas. Relacionar-se pessoalmente com Deus nos conforta e nos dá respostas que nem sempre desejamos ouvir, mas que nos salvam de nós mesmos. Muitas vezes, as pedras não se transformam em pães; ainda assim, experimentamos a paternidade divina, que nunca falha, que nunca nos abandona, e que nos sustenta mesmo na adversidade.



Termino esta reflexão teológica dizendo que estas palavras vêm de um coração quebrantado, dirigidas a outros corações igualmente quebrados, confusos, mas perseverantes, que lutam para não se deixar enganar por falsas promessas. A certeza da paternidade divina nos revela que sentir-se sozinho não significa estar sozinho. É olhar para o céu e confiar plenamente, dizendo: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito...”, mesmo após experimentar a aridez do deserto e o vazio da alma, expressos no grito angustiado: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?...”.




Sei que muitos carregam sonhos despedaçados e sentem que nada mudou; ainda assim, importa manter viva a convicção do que foi proclamado no batismo: “Eis o meu Filho amado”. Aos Tomés de hoje — nós mesmos — os bem-aventurados são aqueles que não viram, mas creram. O Pai é nosso, e em breve nos encontraremos com Ele, pois o Céu está próximo, e é logo ali.




Que nossas orações jamais se transformem em simples esfregar da lâmpada, buscando resultados imediatos. Que elas permaneçam como acesso contínuo ao coração amoroso e misericordioso do Pai, com quem nos relacionamos, quer as coisas estejam bem ou não. Pois é nosso dever e salvação dar graças em todo tempo e lugar, reconhecendo que cada momento de oração nos aproxima da intimidade divina, nos fortalece na fé e nos ensina a viver com esperança, confiança e amor inabaláveis.




Referências bibliográficas 



-AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução de J. Oliveira Santos. Petrópolis: Vozes, 2014.


-BENTO XVI (Joseph Ratzinger). Jesus de Nazaré: Do Batismo no Jordão à Transfiguração. São Paulo: Planeta, 2007.


-BÍBLIA SAGRADA. Tradução: Ave-Maria. São Paulo: Edições Paulinas, 2018.


-CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Loyola, 2013.


-JOÃO PAULO II, São. Dom e Mistério: No 50º Aniversário da Minha Ordenação Sacerdotal. São Paulo: Paulinas, 1997.


-LEWIS, C. S. O problema do sofrimento. São Paulo: Vida Nova, 2010.


-LIBÓRIO, Rafael Aguilar. Livre-arbítrio e a vontade de Deus. Comunidade Católica Pantokrator, 2023. Disponível em: https://pantokrator.org.br. Acesso em: 25 out. 2025.


-SANTO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – Parte I-II: A Graça e o Livre-Arbítrio. Tradução de Alexandre Corrêa. São Paulo: Loyola, 2001.


-TERESA D’ÁVILA, Santa. O Castelo Interior ou as Moradas. São Paulo: Paulus, 2015.


-LEWIS, C. S. A grief observed (Uma dor observada). London: Faber & Faber, 1961.



*Francisco José Barros Araújo – Bacharel em Teologia pela Faculdade Católica do RN, conforme diploma Nº 31.636 do Processo Nº  003/17



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Anônimo
13 de fevereiro de 2024 às 07:30

O nosso catecismo responde a tudo!

CIC 2111: "A superstição é o desvio do sentimento religioso e das práticas que ele impõe. Pode afetar também o culto que prestamos ao verdadeiro Deus, por exemplo, quando atribuímos uma importância de alguma maneira mágica a certas práticas, em si mesmas legítimas ou necessárias. Atribuir eficácia exclusivamente à materialidade das orações ou dos sinais sacramentais, sem levar em conta as disposições interiores que elas exigem, é cair na superstição."

Marcilio Ferreira - Araraquara

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