O
comportamento cínico de um criminoso, quando não consegue ludibriar o público,
geralmente lhe desperta repulsa, asco e nojo por parte daqueles que não
compactuam com isto. Mas quanto mais o cinismo se afasta das meias-verdades que o sustentam e
parte para a mentira, mais ele recai numa patetice que inevitavelmente desperta
graça. O cinismo
de Lula está cada vez mais cômico. Melancolicamente cômico. Em seu
depoimento à juíza Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro, Lula já se fez de
sonso sobre a própria acusação, dizendo imaginar que pesava contra ele a de ser
dono do sítio de Atibaia. Gabriela então se deu ao trabalho de explicar que a
acusação principal é de que ele foi beneficiário de reformas feitas no sítio
por conta de José Carlos Bumlai e das empreiteiras Odebrecht e OAS. Essas
reformas, a propósito, incluíram a construção de uma casa para os seguranças da
Presidência da República que atuavam na equipe de Lula, suítes na casa
principal, duas áreas de depósitos para adega e quarto de empregada,
sauna, conserto de vazamento da piscina e conclusão de um campo de futebol:
“Eu sou dono do sítio ou não?”, insistiu
Lula, tentando desestabilizar a juíza.
-“Isso é o senhor que tem que responder. Não
eu. E eu não estou sendo interrogada neste momento”, reagiu ela, serena e
firme.
“Quem tem que responder é quem me acusou”,
disparou Lula.
-“Senhor ex-presidente, esse é um
interrogatório e, se o senhor começar nesse tom comigo, a gente vai ter
problema”, impôs-se a juíza Gabriela.
Na falta
de argumento jurídico, posou novamente de vítima de uma trama para impedi-lo de
vencer a eleição. Questionado se ocupava o quarto principal quando frequentava
o sítio, já que seus pertences foram lá encontrados pela Polícia Federal,
reagiu com sínica insolência: “Quando
me davam, eu ocupava. Era uma deferência
que eu recebia, tanto lá na chácara quanto no palácio da rainha da Inglaterra,
no palácio da rainha da Suécia, em vários lugares que frequentei. Inclusive
no Kremlin. Tive o prazer de ser convidado a dormir no Kremlin. Não sei o que o
Ministério Público viu de absurdo nisso.”
Ora, a refutação a este cinismo é
muito simples:
Nem os palácios das rainhas da Inglaterra e
da Suécia, nem o Kremlin foram reformados por empreiteiras beneficiadas com
contratos públicos no esquema de corrupção da Petrobras durante os governos do
PT.Lula
ainda foi dizer que o Ministério Público Federal deveria perguntar é para o Léo
Pinheiro, da OAS, por que ele não cobrou pela reforma do sítio, ao que um
membro da MPF respondeu tranquilamente que Léo Pinheiro disse que não cobrou
porque fez a obra em benefício de Lula. Chama-se “propina” isso, só para registrar.Questionado se
perguntou a seu amigo Bumlai ou a Fernando Bittar, acusado de ser seu laranja,
por que Bumlai fez ou quis pagar pelas obras, Lula respondeu: “Nunca
perguntei nem pro Bumlai, nem pra ninguém. Eu não sou daquele cidadão que entra
na casa dos outros e vai abrindo a geladeira. Olha, eu respeito, o cara tem a propriedade,
o cara me emprestava a propriedade, eu usava a propriedade, eu vou ficar
perguntando o que você fez ou não fez? Isso não faz parte. Também nunca me
falaram. Eles é que deveriam tomar a iniciativa de me falar. Como eles não
tinham a obrigação de me falar, eu não tinha obrigação de perguntar. Tem um tipo de gente xereta, que entra na
casa dos outros e quer perguntar quem fez aquilo, quem comprou aquilo. Eu
não faço.”
É curioso o pacto de silêncio
entre beneficiadores e beneficiário:
“Eu não pergunto, vocês não me
contam, e ninguém sabe de nada...”
Mas Lula
não faz mesmo o tipo que entra na casa dos outros e vai abrindo a geladeira. Lula,
na verdade, vai abrindo a adega, dormindo no quarto principal, instalando uma
cozinha igual à do triplex do Guarujá, usando a piscina, a sauna, o campo de
futebol, disponibilizando no lago pedalinhos gravados com os nomes dos próprios
netos… essas atividades básicas. Mas a frase do ano veio quando o
ressentido Lula atacou delatores, que, segundo ele, roubam, depois fazem
delação e ficam com um ou dois terços do roubo: “Nunca foi tão fácil ser ladrão nesse país.”Graças à
Lava Jato, não é mais tão fácil assim, caro Lula. Por isso a tendência é você
ser condenado de novo, e volta para o lugar de onde nunca deveria ter saído,
pois lugar de ladrão é na prisão!
Felipe Moura Brasil
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