Resenha do artigo de:
ROSEANE FREITAS NICOLAU (Professora Adjunta do
Departamento de Psicologia da UFC - Doutora em Sociologia)
A QUE
SUPOSTAMENTE SE OBJETIVA O TRABALHO ACADÊMICO DA AUTORA?
Este artigo discute o
engajamento e a relação dos fiéis com a Comunidade Católica Shalom, destacando
a importância desta para a Renovação Carismática em Fortaleza. Tomada
como tipo ideal no sentido Weberiano, analisamos a comunidade como um lugar
social de extrema importância para a reconstrução de identidades religiosas,
considerando, de acordo com Weber, o carácter de ação comunitária da religião,
que nos permite compreender o sentido, através das vivências, das representações
e dos fins subjetivos dos indivíduos. Para apreender as representações do
fiel em relação à comunidade, analisamos seu dispositivo simbólico, as tramas
de sentido em que ela se assenta e o envolvimento das pessoas nela, apresentando
os itinerários religiosos dos carismáticos ou o que eles denominam a “caminhada”,
com a finalidade de apreender, pelo menos parcialmente, o seu significado.Desse modo, selecionei
um Grupo de Oração que acompanhei durante oito meses como observadora,
visitei três Comunidades de Vida, e fiz entrevistas individuais com autoridades
e leigos carismáticos. Os testemunhos e
as entrevistas constituem os recursos que utilizei para analisar as representações
dos carismáticos e as diferentes formas de engajamento na RCC, bem como o
percurso religioso dos fiéis, sendo possível detectar as mudanças cognitivas
operadas a partir da conversão e as alterações de atitudes religiosas e de
estilo de vida. Nesse aspecto procurei observar de que maneira as pessoas se comportam a
partir da adesão, o que elas pensam de si antes e depois, atentando para as
representações subjacentes ao seu dito, não como códigos a serem decifrados,
mas como idioma a ser interpretado, no sentido de Geertz (1989). Dessa
maneira, procurei integrar a experiência dos fiéis ao sistema de representações
que a Renovação Carismática oferece, partindo do fenômeno experimentado pelos
atores e das representações que fazem de sua vivência, no sentido em que Simmel
(1971) toma essas representações, atribuindo-lhes grande importância, pois é
através delas que o homem constrói o mundo, percebe-o e se orienta nele.
O "PONTO DE VISTA PESSOAL DA AUTORA" COM RELAÇÃO A COMUNIDADE CATÓLICA SHALOM -
SUAS COMPARAÇÕES COM ALGUNS SOCIÓLOGOS POR ELA ESCOLHIDOS - O QUE É AUTÊNTICO
EM SEU TRABALHO, E O QUE É DISTORCIDO EM SUA ANÁLISE E CONCLUSÃO?
(*Destacado em
vermelho, as distorções daquilo que realmente é).
De fato, faz parte do
Carisma Shalom evangelizar e formar os filhos de Deus, o que realiza promovendo
um número variado de eventos e utilizando para divulgá-los os meios de
comunicação que possui.Os membros do Shalom se auto-intitulam anunciadores da
paz que Jesus fala no evangelho, e dizem ter a missão de levar, com seu exemplo
de vida, com sua palavra e seu testemunho, o Shalom de Deus aos corações.
Assim, se dizem instrumentos de reconciliação do mundo com Deus:
“Ressuscitados com Cristo, recebemos dele a missão e nos tornamos
presença de paz no mundo. Paz que é conversão, reconciliação com Deus, com os
homens e conosco mesmos” (Revista Shalom Maná, nº 114, Agosto-setembro, 2002).
Stuart Hall (2001)
mostra que a identidade é formada na
interação entre o eu e a sociedade e que o eu é projetado
nas várias identidades culturais. A identidade religiosa é uma das
possibilidades de se recuperar a
identidade no mundo social, aspecto extremamente
importante para a sobrevivência do eu. Portanto, a
constituição da identidade religiosa contribui para
alinhar os sentimentos subjetivos com os lugares
objetivos que se ocupa no mundo social e cultural. Assim, ao
assumir uma função social integrando-se no
grupo religioso, recupera-se não apenas a função ou
lugar social perdidos, mas a própria possibilidade de
sobrevivência do eu pelo lugar que o sujeito passa a
ocupar diante do outro. É principalmente a posição subjetiva que
o sujeito ocupa que lhe permite
sustentar uma imagem valorizada diante do outro,
necessária à reformulação da imagem que ele tem de si. O
Shalom oferece essa possibilidade, não fazendo, pelo
menos explicitamente, distinção entre ricos
e pobres, letrados e iletrados, cultos e incultos.O certo é que os membros do Shalom transmitem um sentimento positivo,
pois demonstram uma disposição particular para enfrentar os problemas da vida,
característica dos fortes e confiantes.Esta disposição, segundo analisei, é construída a partir do sentimento de pertença à
Comunidade, lugar onde é possível vivenciar fenômenos de ordem emocional responsáveis
pelas transformações interiores de vida. É na experiência compartilhada que se
desenvolvem os dons carismáticos, e que se assume um compromisso com os
trabalhos da comunidade, tornando efetiva a participação.Segundo uma informante, não basta freqüentar o Shalom, é preciso se
comprometer com a obra e renovar sua vida, tornando-se membro de um Grupo de
Oração, de uma Comunidade de Aliança ou de uma Comunidade de Vida e seguir as
prescrições particulares de cada agrupamento, com seu estilo de participação específica,
que particulariza os itinerários e os diferentes perfis religiosos.O Grupo de
Oração “É o principal serviço e expressão da RCC. Deve promover a experiência de
Pentecostes ou facilitá-la para o fiel, acompanhando- o no caminho espiritual
(...) sua finalidade é anunciar o Querigma, fazer o anúncio da Boa Nova”
(informante).É no Grupo de Oração
que se inicia a caminhada no Shalom, após a participação em um Seminário de
Vida no Espírito Santo, ritual que termina com o Batismo no Espírito Santo e
que é
condição sine qua non para a inserção em um grupo da Comunidade Shalom.
Este pode acontecer em um grande evento, a exemplo do Renascer, ou em cursos ofertados
regularmente para pequenos grupos.Já os integrantes das
Comunidades de Vida (CV) ou de Aliança (CA) se implicam de formal radical,
única possibilidade de fazer parte delas. Eles são identificados através do
TAW, ou Cruz de São Francisco que carregam no peito. “Ser portador do TAW, é o desejo mais íntimo dos adeptos do
Shalom, pois significa atingir um grau mais elevado no caminho da santidade e
um passo a mais na construção da identidade carismática.” - O que mais
chama a atenção no estilo de vida dos membros da CV é a tendência a
“auto-segregação”. Eles se vestem com simplicidade, circulam apenas pelos
ambientes sociais relacionados às igrejas e ao Shalom, têm um modo de falar
calmo, transmitindo compreensão e aceitação do outro, uma alegria que se expressa
pelo sorriso constante no rosto e que dizem ser motivada pela comunhão com Deus.
Não freqüentam cinema, bares ou qualquer outro lugar considerado impróprio. A rotina diária dos
membros da CV é dedicada aos compromissos espirituais: oração pessoal, estudo
bíblico através do método da Lectio Divina, terço e Eucaristia, cantos de
louvores ao Senhor, através da oração das Laudes, reunião de formação
comunitária e partilha de vida. Além dessas atividades espirituais, desenvolvem
trabalhos relativos à evangelização.Segundo "os
integrantes", eles vivem para louvar, adorar e bendizer ao Senhor, cultivando os
carismas do Espírito Santo.Como se pode perceber, o estilo de vida na comunidade
é muito próximo ao estilo de vida religiosa, com uma rotina de oração e de
trabalho, na qual as atividades “mundanas” e a circulação por outros espaços sociais "são interditadas." Inclusive, é o que "colocam como proposta de estilo de vida." Já as Comunidades de
Aliança, são formadas por pessoas que “dedicam sua vida ao Senhor no meio
secular”. Embora sejam totalmente engajados na vida religiosa, os integrantes
desta comunidade não precisam morar em residências coletivas,
como na CV, morando em sua própria casa e desenvolvendo
desenvolvendo suas atividades profissionais fora da comunidade.Encontram-se aí
pessoas dos mais diferentes perfis socioeconômicos. Entrevistei uma advogada da
CA que entrou na RCC com o marido: “(...) fazemos parte da CA que é uma comunidade externa (...) nós trabalhamos
fora também (...) Mas tem setores da obra que a gente trabalha como voluntária
e outros que a gente trabalha com serviço remunerado”. Eles seguem as mesmas
regras de vida dedicada ao Senhor que se reflete no modo de vida familiar, profissional
e social, levando os compromissos da comunidade para sua vida pública. Ao mesmo
tempo, circulam entre os não-carismáticos, que têm outra concepção de vida,
outro estilo religioso e outra maneira de olhar o mundo.As Novas
Comunidades trazem implícita uma expectativa de mudança social que faz crescer o
número de adeptos, multiplicando-as. Segundo Hervieu-Léger (2005), elas
representam a inclinação característica da modernidade religiosa, que é criar comunidades
fundadas em afinidades sociais, culturais e espirituais. As comunidades
carismáticas não se inscrevem no nada, mas num contexto formado por um tecido
humano, social, político, histórico, geográfico e institucional que favoreceu
seu aparecimento. Muitos lêem os fenômenos comunitários como movimentos
contestadores; outros como alienantes do mundo; mas, a
verdade é que as comunidades se constituem como fenômenos religiosos de linha
fundamentalista, com pretensão de retorno a um cristianismo primitivo,
fazendo-se presente em uma época na qual se previa o desaparecimento da
religião. Entretanto, como sugere Hervieu-Leger (2005: 45), são as próprias
transformações da modernidade que sustentam um lugar de importância para a
religião, pois suscitam crises, criando um universo de incertezas, cujo efeito
é de um vazio social e cultural produzido pela mudança e vivido como ameaça
pelos indivíduos e pelos grupos. Assim, os sistemas religiosos tradicionais vão
se reordenando sob novas formas, perpetuando-se e permanecendo com um grande
poder de atração sobre os indivídu-os e a sociedade, como acontece com a RCC.
Aqui, as pessoas encontram, na vivência comunitária e na prática religiosa,
explicações e sentido para a vida, quando não os encontram no mundo.
Segundo
os carismáticos, as comunidades devem ser vistas de dois ângulos:
1)- O da aspiração
a uma sociedade melhor, mais humanizada.
2)- E como um
dispositivo para favorecer a elevação espiritual.
Assim, o
princípio da comunidade é elevar espiritualmente seus membros para que, em seu
conjunto, possam construir uma sociedade melhor, o que implica desenvolver um
sentimento de pertença através do crescimento pessoal. E é nisso que o
carismático se engaja, sendo também isso o que fundamenta o dispositivo
simbólico que atrai tantas pessoas. Estes elementos, juntamente com a
publicidade que se faz em torno das Novas Comunidades, fazem com que estas
ocupem um lugar simbólico privilegiado do qual os católicos querem participar.O engajamento no
Shalom implica um processo de mudanças, de reconstrução de identidade e de fortalecimento
psicológico, propiciando uma nova forma de significar e ordenar o mundo. O
“católico especial”, que emerge desse processo, tem uma autoconfiança que se
exterioriza através da alegria, da amabilidade, da afetividade e da
solidariedade para com os irmãos. Esse “resultado” vai se desenhando a partir
da vivência em comunidade, na relação que se estabelece entre os indivíduos e
na maneira particular pela qual eles se ligam à sociedade.E é nos rituais
dos grupos de oração que tudo começa. Por isso, é oportuno acompanhar o ritual
que desenvolve o forte espírito de pertença.
As reuniões do Grupo de Oração se passam na seguinte seqüência ritual:
1)- Acolhida, quando
todos se cumprimentam com alegria, incentivada por cânticos,palmas e movimentos
corporais, acompanhados de expressões como “entre no clima”, “libere a ação do
espírito”, “deixe o espírito entrar”.
2)- As músicas com
ritmos dançantes e letras como “quero mergulhar na alegria do Senhor”, “vem
Espírito, encha-me de luz”, “vem libertar meu coração”, “renova-me Senhor”,
3)- Acompanham “aleluias”
e “glória a Deus”. Esses momentos, duram mais ou menos vinte minutos.
3)- Prepara para a
ação do Espírito, que é solicitado a comparecer e a manifestar seus dons e
carismas. As pessoas começam a orar, “na língua dos anjos”, e o coordenador do
grupo repete em voz suave: “o Espírito Santo está agindo, transformando,
curando doenças físicas e emocionais; ele visita a cada um nesse momento,
abandonem-se ao espírito”.
4)- Em seguida a esse
momento de euforia coletiva e de experiência com o espírito, no qual acontece a
“Revelação”.
5)- Passa-se a uma
fase de cânticos mais suaves e introspectivos
6)- Segue-se a “Partilha”,
ocasião em que a pastora solicita a participação das pessoas para que relatem o
que foi revelado, como foram “tocadas” pelo Espírito Santo e o que sentiram
naquele momento. É quando se revela algo milagroso que aconteceu na vida da
pessoa.
7)- Passa-se, então,
de uma vivência emocional coletiva para uma oração comunitária, em que as
experiências individuais devem ser partilhadas. Geralmente, esse momento é
introduzido pela pastora ou por outra pessoa, com pequenos exemplos alegóricos
tirados, da sua vida cotidiana, através dos quais ilustra sua relação privilegiada
com Jesus e o Espírito Santo, resultado de sua caminhada. As narrativas nesse
espaço são relacionadas ao cotidiano das pessoas e tem-se a oportunidade de ouvir
relatos sobre a experiência religiosa diária com Deus, e as transformações que provocam
no dia a dia. O principal objetivo desses testemunhos é mostrar “a experiência
com Deus nas pequenas coisas, pois esta acontece em todos os momentos”.
8)- Seguem-se momentos
de silêncio, entrecortados por uma série de mensagens enviadas por Deus, mensagens
recebidas nos dias precedentes. As pessoas vão contando suas experiências, as
visões que tiveram enquanto estavam entregues à oração. Começam com frases do tipo:
“Jesus disse”, “o Espírito me revelou”, “senti Jesus me tocar...”. A pastora
repete com freqüência: “Tem que falar, partilhar a emoção, a experiência, o que
Deus faz na sua vida, pois isso serve para o irmão”. Partilhar é a palavra de
ordem,pois a oração comunitária significa a partilha e ninguém deve ficar
calado nessa hora. As pessoas, segundo a pastora, devem apresentar o que sentem
no grupo para entender a obra de Deus na sua vida. O entendimento do que se
passa nesse momento é “o Espírito Santo que coloca e se não se abre o coração não
se consegue perceber o que Jesus quer dizer”.Em um depoimento, uma pessoa
disse:“Deus falava comigo e eu não sabia, pensava que era a minha consciência.
Se a gente não ficar atento, não consegue identificar o que ele nos ensina” .
9)- O próximo passo é
estabelecer a relação das experiências vividas no grupo com os fatos da vida
cotidiana, a partir de um novo saber adquirido. Assim,são apresentados os
testemunhos de curas e os relatos de acontecimentos cotidianos para os quais
são atribuídos novos sentidos:“A experiência com Deus é em todos os momentos, nas pequenas coisas. É
só prestar atenção na ação dele na nossa vida, esperar, confiar e se segurar na
fé. É preciso ter força para confiar, resistir...” (Maria, integrante do
grupo). Esse momento pode
durar uma hora ou mais.
10)- Passando em
seguida para a Pregação, ocasião em que as falas são interrompidas para dar
lugar à leitura de uma passagem da Bíblia, escolhida frequentemente da Epístola
de São Paulo, considerada como texto didático, por ser escrito em linguagem
não-parabólica, adequada para os não-familiarizados com a “palavra de Deus”. É
a leitura da Bíblia que dá todo o suporte para que se reconheça a ação de Deus,
diz a pastora, incitando os presentes a se inscreverem nos cursos de estudos
bíblicos oferecidos pelo Shalom.
11)- As pessoas também
são orientadas a fazerem sua oração pessoal, diariamente, condição necessária
ao desenvolvimento de uma maior “intimidade com Deus”. Para uma integrante, o
mais difícil na caminhada é a oração pessoal, mas é ela que desenvolve os
sentidos para se perceber a presença de Deus e entender sua palavra. Diz que “é
preciso concentração, sair do mundo, se isolar do que está ao seu redor... Os mestres
passam anos em contemplação, em êxtase, para sentir (...) imagine nós”.É
preciso, então, abraçar o hábito da oração; hábito que o grupo ajuda a desenvolver.
Por isso, não se deve faltar às reuniões,“mesmo quando a vontade é não
vir, tem que vencer o cansaço, pois é tão necessário
vir ao grupo quanto ir à missa. Aqui a sua visão se abre” (Carla). É nesses
rituais que a “visão do fiel vai se abrindo” para um universo no
qual os fatos são sempre atribuídos à vontade divina e as decisões mais simples
passam a ser tomadas a partir de orações e em retiros espirituais. Tudo deve
ser discernido através da oração. Dessa maneira, vai se desenhando a identidade
carismática, com o desenvolvimento de hábitos e condutas típicas do grupo. E é
também nos rituais que a pessoa vai sendo estimulada a se engajar nos
trabalhos, pois embora a inserção no grupo seja o primeiro passo, “comprometer-se com a obra” e “persistir na caminhada” são
os principais fatores que levam alguém a se “renovar”. Assim,
após a inserção no grupo, a pessoa deve assumir uma atividade e desenvolver uma
nova maneira de ser e de se comportar. Isso faz com que passe do momento mágico
da experiência com Deus, ao momento de cultivar uma racionalidade para
desenvolver novas atitudes na vida. Como disse Andréia: “não é só me ajoelhar e rezar… Claro, mas tem que estudar,
conhecer, pensar, investigar e trabalhar”. Trabalhar significa
engajar-se em um ministério ou projeto. Os ministérios são núcleos responsáveis
pelas diferentes atividades de evangelização. Existem vários ministérios: dos
pregadores, da libertação, do pastoreio, do aconselhamento,promoção da
dignidade humana, etc., que seramificam em vários outros e que são escolhidos
de acordo com o interesse da pessoa. Segundo um coordenador,o incentivo à
participação nos ministérios começa após um período de seis meses de frequência
ao grupo, quando a pessoa se convence de que a melhor forma de amar a Deus é
lhe servindo. “Nada é forçado”, mas é cobrado esse engajamento, a cada reunião de grupo e nos
rituais, onde se mencionam sempre os cursos, as reuniões de estudo, os retiros,
acampamentos e outras atividades. Se, de um lado, existe um leque de possibilidades
para o sujeito, de outro, existe a disposição pessoal para se envolver com os
trabalhos.
Existem membros de grupos de oração que passeiam por vários ministérios,
participam de alguns trabalhos, mas não se implicam totalmente com eles. Outros,
entretanto, são “firmes na caminhada”, comprometendo-se radicalmente. E quanto
mais radicalmente a pessoa se engaja, mais fortalecida ela vai se sentindo,
sendo estimulada por um “formador pessoal”, que a aconselha no momento de tomar
decisões. Para dar suporte ao engajamento dos inúmeros renovados, é preciso um
trabalho permanente, uma vigilância e um encorajamento constantes. A escolha do lugar
ideal, como diz Moysés, se faz de acordo com
“onde for o chamado de Deus”. Significa dizer que
os “tocados pelo Espírito Santo” irão se engajar nos
espaços de sociabilidade da RCC, a partir de sua
própria caminhada e investimento na sua salvação, e
trabalhar naquilo que o seu talento indica. Assim, a
mobilidade do sujeito pelos espaços do Shalom e sua
persistência implicam diferentes itinerários traçados
pela forma de engajamento e indicam importantes
diferenças individuais, que podem ou não mudar o
estilo de vida das pessoas. Os efeitos da adesão
estão diretamente relacionados com o percurso e o
investimento pessoal de cada um.Embora o objetivo maior seja pertencer a uma Comunidade de
Aliança ou de Vida, nem sempre se consegue trilhar este percurso. As pessoas que acompanhei
no grupo de oração funcionam dentro daquilo que podemos
considerar como suas possibilidades. As prescrições que
determinam a caminhada de desenvolvimento
espiritual: orações pessoais, rezar o terço todos
os dias, participar dos eventos, ir à missa, assumir um
ministério, não são cumpridas à risca por todos.
Muitos não conseguem seguir as recomendações, embora
se proponham a isso, como ouvi de alguns
informantes:“Eu nunca persisto na caminhada. Já é a terceira vez que faço o
Seminário de Vida e começo no grupo de oração. Mas eu sou fraca”; “Eu freqüento
o grupo há quatro anos, mas nunca me engajei em um ministério. Agora vou ver se
consigo”. Promessas que, muitas
vezes, não se cumprem,
mas mantêm a ligação com o grupo.Assim, há uma imagem
ideal no horizonte a ser construída, representada tanto por Moisés como por Emmir, figura feminina mais citada como ideal a ser atingido,
conforme se constata neste depoimento:(...) quando vi a Emmir disse: quero ser igual a ela, ter esta alegria e
disponibilidade para com o irmão e essa aparência de tranqüilidade e segurança que
ela tem em seu semblante.Moisés e Emmir
são, portanto, o modelo de identificação entre os renovados do Shalom. Moisés,como o bíblico,
foi escolhido por Deus para a missão de fundar a Comunidade Shalom, tendo Emmir
como sua colaboradora. Moisés, “o fundador”, possui uma função: a de ser o
líder, pois ele foi “escolhido por Deus para ser a cabeça da nossa comunidade”,
disse um informante. Isso lhe confere uma autoridade que vai além da
mobilização emocional que é capaz de provocar. Sua palavra é autoridade,
reconhecida pelo saber divino, sendo relativa à sua função e ao carisma que se
reconhece nele. O carisma do fundador é de participar da paternidade de Deus. Ele
é seu eleito, pastor de seu rebanho.Na análise weberiana,
penso que Moisés se aproxima da figura do profeta, esta figura que porta um
carisma pessoal, “(...) o qual, em virtude de sua missão, anuncia uma doutrina
religiosa ou um mandado divino” (WEBER, 1991, p. 303).Weber não faz distinção
entre o profeta que anuncia de novo uma revelação antiga daquele que reivindica
para si uma revelação totalmente nova, isto é, entre o “revelador” e o
“fundador” de uma religião. O que importa para ele é a vocação pessoal, que
distingue profeta e sacerdote. A autoridade do profeta não está a serviço da
tradição sagrada, como no caso do sacerdote, mas ela se dá em virtude de sua
revelação pessoal ou de seu carisma. Assim, a legitimação do profeta atua em nome
de seu dom pessoal. Por isso, ele pode se constituir como exemplo a ser
seguido, pois organiza a vida e o mundo num sistema coerente de sentido. O profeta
promove “... uma sistematização de todas as manifestações da vida, portanto, de
coordenação do comportamento prático num modo de viver, qualquer que seja a forma
que este adote em cada caso concreto” (WEBER, 1991, p. 310).Os
fundadores são evocados como verdadeiros representantes divinos, desfrutando,
junto aos fiéis, de um prestígio elevado. Geralmente, as pessoas se referem a
eles como “uma bênção”, tomando as suas palavras como verdade absoluta, jamais
questionada, pois são legitimadas pelos testemunhos de suas vidas. Para os
fiéis, o que lhes confere este status é, principalmente, o fato de serem
ungidos com os dons do Espírito Santo. Para ser Shalom, é preciso seguir esse
modelo e desenvolver os dons.E isso se consegue
com perseverança e dedicação à obra, o que possibilita emergir talentos individuais,
livremente revelados pela prática comunitária, religiosamente legitimada em
termos de carisma. Mas, só se obtém tudo isso sendo perseverante e capaz de
renunciar às coisas do mundo.A decisão de
assumir um trabalho indica o compromisso com a fé através da tomada de
consciência para se engajar eticamente no trabalho. A partir deste compromisso
começa a transformação da pessoa para o estatuto de “ser Shalom”, com a consequente sensação
de pertencer ao que designei como a “fortaleza do espírito”.Toda essa
transformação é operada em uma comunidade que oferece proteção e sustenta uma
dimensão de valorização simbólica capaz de fortalecer cada um de seus membros.Assim,
nos agrupamentos do Shalom se constroem redes de pertença, onde muitos
encontram renovação de sentido, de verdades e de práticas de vida, levando a uma
conseqüente mudança na forma de atuar socialmente, segundo o modelo
representado pelo “jeito Shalom de ser”. Embora a renovação seja um investimento
pessoal, que só depende do esforço de cada um, nesta caminhada ele não está só,
pois conta com a ajuda do irmão. No discurso do Shalom, todos devem incentivar
e orientar os que estão no início de sua caminhada. Assim, a caminhada se torna
uma “pedagogia entre irmãos”, que funciona como uma dinâmica de construção de uma
“nova pessoa”, no curso da qual ela recusa certos elementos, trocando-os por
outros e onde re-elabora o sentido do sofrimento. E tem sempre alguém ao lado
para ajudar, pois cada um tem seu formador pessoal. Também a convivência com os
que se constituem como modelos de identificação favorece a modelação da
conduta. No sentido sócio-antropológico
aqui analisado, a inserção na comunidade cumpre um papel importante que enlaça
o sujeito no apelo carismático por um mundo mais humanizado e participativo em termos
religiosos. E, para isso, é preciso viver uma experiência de vida religiosa na
qual não cabem mediações,“mergulhando nas coisas de Deus” e comprometendo-se em
evangelizar o irmão, o que, aliás,é recomendado fazer diariamente, no trabalho,
na família, na rua. Deve-se falar, sem pudor nem vergonha,com as pessoas sobre
Deus e suas maravilhas,sendo multiplicador, “testemunho de Deus”. Este é o
principal meio através do qual se trazem novos irmãos para a comunidade.
Segundo a fala de um dos pregadores: “Se cada um evangelizar um irmão por dia,
mudaremos Fortaleza”.Este apelo vem substituir
o espaço vazio deixado pelas tecnologias políticas (utopias, programas, modos
de ação e estratégias). Os valores defendidos pela Renovação Carismática são
baseados no ideal de fraternidade cristã, que torna os homens capazes de
conviver em paz consigo e com os outros: “Shalom da paz”. Isso consegue
estabilizar a vida, tanto em seus aspectos sociais quanto individuais, pois garante,
simbolicamente, formas ideais de convivência social, pautadas em uma igualdade
de valores éticos, morais e afetivos, que oferecem um suporte importante para
se enfrentar as ameaças em que se constitui a sociedade moderna, ao mesmo tempo
em que atende às aspirações individuais, tornando-se o suporte afetivo para as pessoas,
e recuperando as redes de pertença nas quais se construía a identidade do homem
no passado.
CONCLUSÃO "PESSOAL" DA AUTORA:
A tentativa de
tamponar a dor e o mal-estar, seja por que via for, é um engodo que pode levar
a sérias distorções, não apenas de si mesmo, mas principalmente da própria realidade
social em que o sujeito está inserido, quando se cria um tipo de sociedade
idealizada. Como disse Freud (1930), não há nada de bom no idealismo, pois com um
ideal o homem ilude a si mesmo e aos outros. Todo ideal é enganoso e enganador,
o que significa que devemos desconfiar das promessas de felicidade que as
instituições totalitárias apresentam. Por outro lado, agarrar-se a um
ideal é um caminho, uma escolha, uma saída para a angústia, nem melhor, nem
pior que outras. E, para muitos, a única saída possível é refugiar-se
na busca da verdade divina e submeter-se aos ensinamentos e às prescrições
celestes, mesmo que em prejuízo de sua liberdade. Nesse caso, a liberdade mais
importante, do ponto de vista do sujeito, é a de escolha. Se ele deseja
permanecer aprisionado a um ideal, seja ele religioso, cientifico, romântico ou
político, que escolha o que julga ser o melhor para si. Uma sociedade
dirigida para o consenso, que evita o conflito no confronto com diferenças, e
onde se funciona a partir de um modelo interpretativo único, quando se conta
com tantas possibilidades criativas de interpretar a realidade. O
novo, o inédito, o criativo se produz no confronto e no conflito de idéias, na
possibilidade de dialogar com várias formas de pensamento. Ao se inscrever no interior de um sistema totalitário, retirando-se
dos embates sociais e submetendo-se a prescrições inquestionáveis para obter
proteção, parece que o que se busca é o refúgio na fortaleza representada pelo
Shalom, e não o crescimento pessoal.
questionamentos E REFUTAÇÕES AO ARTIGO:
1)- Sendo "a Sociologia
uma ciência NÃO exata" como a matemática, está ela sujeita, ou completamente
IMUNE a critérios subjetivos, pessoais, e de grupos ideológicos? A questão que nos interessa neste
momento é: A sociologia é uma Ciência Exata? É óbvio que a reflexão sobre os
fenômenos sociais não começou com a Sociologia, no século XIX. Há séculos os
filósofos já se ocupavam da explicação dos fenômenos sociais. Entretanto,
a reflexão filosófica a respeito da sociedade difere da Sociologia tanto nos
resultados quanto, principalmente, na maneira de alcançá-los. Ao contrário das
explicações filosóficas, as explicações sociológicas não partem simplesmente da
especulação de gabinete, baseada na observação casual de alguns fatos.
A filosofia social estabelece o que é bom e o que é mau para a sociedade e para
o homem, enquanto a Sociologia, não emite juízos de valor.
2)Mas, o que caracteriza realmente
a Sociologia como uma ciência (mesmo que seja uma "ciência inexata")?Em primeiro lugar, a ciência
se expressa como um sistema de conceitos, proposições e teorias. Como sistema
articulado com suas propostas e definições concretas, a verdadeira ciência não é um mero conjunto de ideias
e conceitos subjetivos, como na sociologia, os quais não se consegue aquela comprovação repetível em laboratório, como se dar nas ciências exatas.
3)- Outra característica está nos
seus objetivos. A ciência tem como fim principal explicar a realidade com base
na observação sistemática dos fatos. A sociologia pode se transformar em
instrumento de intervenção social, como, por ex.: através do planejamento social.
No
método, está a característica mais importante da ciência. Aqui a Sociologia se
distingue das formas não científicas de explicação da sociedade pelos meios de
alcançar suas generalizações. Em outras palavras, a Sociologia é uma ciência
predominantemente indutiva, isto é, parte da observação sistemática de casos
particulares para daí chegar à formulação de generalizações sobre a vida
social. Já a Filosofia Social é dedutiva.
4)- Outra característica da Sociologia é a neutralidade valorativa. A Ética cumpre definir o justo
e o injusto nas ações humanas; o Direito fundamenta-se no que é legítimo do
ponto de vista jurídico nas relações humanas; a Lógica estabelece as normas
para bem pensar e atingir a verdade. Já a Sociologia não é valorativa e nem
normativa. A Sociologia estuda os valores e as normas que existem de fato na
sociedade e tenta identificar a classificar as relações entre esses componentes
da sociedade.
6)- A transitoriedade é outra característica do
conhecimento científico. Um sistema filosófico pode se manter inalterado
durante séculos, o que não acontecerá com as ciências inexatas. A ciência da
Sociologia depende das observações dos fatos que são transitórios diante da
história da humanidade; também podem mudar os conceitos durante a melhora dos
métodos de observação. A ciência sociológica não é cristalizada. Ela é,
sobretudo, um processo de pesquisa contínua e de ininterrupta reformulação de
teorias. Todavia, a Sociologia não estuda todos os fatos da sociedade; estuda
aqueles que apresentam alguma regularidade no seu modo de ser, isto é,
generalizações padronizadas na vida social. Uma generalização somente
pode ser considerada cientificamente quando é universalmente válida. Contudo,
nem todas as discussões que existem são objeto de estudo dos sociólogos. Isto
porque os métodos científicos não permitem responder questões de importância
social, tais como: Qual é o sentido da existência dos seres vivos? Qual é o
sentido do universo? Assim sendo, se vê, que não existe incompatibilidade entre
o saber científico e a Filosofia ou Religião, pelo simples fato de que estas
últimas se ocupam de problemas que estão fora do âmbito da ciência sociológica. A sociedade também é estudada pela Antropologia,
pela Economia e pela Psicologia. Além das suas aplicações no planejamento
social, na pesquisa e na orientação das relações sociais, o conhecimento
sociológico também funciona como uma disciplina humanística, ou seja, não é
apenas um conhecimento transformado em técnicas e teorias, mas também um meio
de possível aperfeiçoamento do espírito, na medida em que pode ajudar as
pessoas a compreenderem melhor o seu comportamento social, dos outros e dos
grupos. Assim sendo, é uma forma significativa de consciência coletiva.É bem verdade que a Sociologia
nasceu como tentativa de buscar soluções racionais, científicas, de acordo com
a pretensão de Auguste Comte (França / 1798-1857), para os problemas sociais
resultantes da Revolução Industrial e de decomposição da ordem social
aristocrática na França do início do século XIX. Entretanto, há uma diferença
entre problemas sociais e problemas sociológicos. Os problemas sociais são
fatos passíveis de observação sistemática e generalizada, portanto, de
explicação científica. Já os problemas sociológicos são fatos de explicação
teórica e não universal do que acontece na vida social. Por ex.: carnaval e
futebol.Outra confusão se dá entre a ciência da Sociologia e Doutrina
Social. A ciência é uma explicação de algum fenômeno com base na observação direta
dos fatos que a confirmam. Quanto às doutrinas, estas não se baseiam na
observação dos fatos, mas em idéias sobre como a realidade possa ser, ou
principalmente, como a realidade deve ser.A vontade de mudança de alguns sociólogos (anos 60)
levou alguns a fazer distinção entre “Sociologia radical” e “Sociologia
conservadora”. A primeira seria comprometida com os interesses das categorias
subalternas da sociedade capitalista, enquanto a segunda é um instrumento de
defesa dos interesses da burguesia.Em outras palavras, a verdadeira Sociologia
pode incomodar as categorias cujos interesses sejam afetados pela revelação das
relações sociais que estejam na origem dos problemas sociais. Mas
para que isso aconteça é necessário que o sociólogo faça ciência e não
doutrinação política rotulada de “Sociologia”. Portanto ela como
ciência “inexata”,não pode jamais emitir Juízo de valor. Juízo de valor é um julgamento
feito a partir de percepções individuais, tendo como base fatores
culturais, sentimentais, ideologias e pré-conceitos pessoais, normalmente relacionados
aos valores morais. Um juízo de valor pode ser interpretado a partir de um ponto de vista
pejorativo, quando significa que determinada avaliação ou juízo foi feito tendo
como base os valores pessoais de determinado indivíduo, sem com que fosse seguido
um pensamento imparcial, racional e objetivo sobre o acontecimento. Neste contexto, o juízo de valor
pode ser um caminho para os preconceitos, as discriminações e os
julgamentos injustos, que é o que aconteceu aqui com esta socióloga em questão
em seu estudo sobre a Comunidade Católica Shalom.
6)- Qual seria o ritual (ritmo) ordinário de vida
da autora? Seus sonhos? Seus projetos pessoais e coletivos? Que
renúncias, propostas e convicções ela optou e abraçou, para atingi-los? O termo
rito tem vários sentidos. Rito é um pouco diferente de ritual, dando
continuidade ao mito. No sentido mais geral, é uma sucessão de palavras e atos
que, repetida, compõe uma cerimônia (Religiosa,social, ceromonial,etc).Apesar
de seguir um padrão, o rito não é mecanizado, pois pode atualizar um mito,
mantendo ensinamentos ancestrais e sagrados.Ora, ritmo vem do
grego Rhytmos, e designa aquilo que flui, que se move, movimento regulado.Ritmo
é o tempo que demora a repartir-se. Dependendo de cada um, os conceitos de
ritmo podem variar: Para Berge: O ritmo é uma lei universal a que tudo se
submete. Dalcroze o caracteriza como principio e movimento. Já Plantão
sistematiza o ritmo, colocando-o como definição de movimento ordenado.Como a missa
e tudo na vida tem seu rito e rítimo, não seria diferente em nossas reuniões,
que não secretas, são abertas, e que tem o nosso rito próprio, mas
assemelhando-se aos ritos da missa: Nos reunimos em nome da trindade e a
invocamos com a oração do vinde Espírito Santo,pois acreditamos no que diz a
sagrada escritura: “onde dois ou mais, estiverem reunidos em meu nome, eu
estarei no meio deles(Mateus 18,20).Por estamos reunidos como irmãos, geramos a
fraternidade, pois assim nos diz o salmo: “Como é bom
e agradável viverem unidos os irmãos! É como o óleo precioso
sobre a cabeça, ordena o SENHOR a sua bênção e a vida para
sempre”(Salmo
133,1-3). E por isto nos
alegramos e celebramos esta fraternidade. Temos o momento de súplicas, louvor, adoração,
intercessão por nossas necessidades pessoais e comunitárias, e momentos de
gratidão a Deus por todos os seus feitos constantes e diários em nossas vidas,
pois assim nos diz a palavra de Deus:”Pois, quem é que te faz
destacado em relação aos demais? E o que tens que não tenhas recebido? E, se o
recebeste, então qual o motivo do teu orgulho, como se não o tiveras ganho?Já
tendes tudo o que desejais! Já estais ricos... (I Cor 4,7-8). E por fim
partilhamos as maravilhas que Deus fez conosco, e rezamos por aqueles que estão
fracos, para se fortalecerem na fé. Fazemos uma breve partilha do momento de
oração para sairmos edificados com a partilha dos irmãos, testemunhando a ação
concreta de Deus em nosso meio. Encerramos com uma oração final pedindo a intercessão
de Maria junto a seu filho Jesus por nossas necessidades, damos alguns avisos
finais e fazemos a despedida sempre em nome da Trindade.
Deixo aqui um texto enriquecedor de
nossa fundadora Emmir Nogueira publicado na revista Shalom Maná sobre o rito e
ritmos da vida:
"Tudo tem seu tempo/ritmo e ocasião, diz o Eclesiastes"
Para
cada coisa, dirá outra tradução, há um tempo debaixo do sol. O
autor continua a repetir as palavras, sem
a menor pressa, criando, em sua narrativa, um ritmo que, por si só, expressa o
que ele quer dizer: tudo tem seu tempo, tudo tem seu ritmo:
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito
debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o
que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo
de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.
Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha? Tenho visto o trabalho
que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os exercitar.Tudo fez formoso
em seu tempo; também pôs o mundo no coração do homem, sem que este possa
descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim.Já tenho entendido
que não há coisa melhor para eles do que alegrar-se e fazer bem na sua vida;E
também que todo o homem coma e beba, e goze do bem de todo o seu trabalho; isto
é um dom de Deus.Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se
lhe deve acrescentar, e nada se lhe deve tirar; e isto faz Deus para que haja
temor diante dele.O que é, já foi; e o que há de ser, também já foi; e Deus
pede conta do que passou.Vi mais debaixo do sol que no lugar do juízo havia
impiedade, e no lugar da justiça havia iniqüidade.Eu disse no meu coração: Deus
julgará o justo e o ímpio; porque há um tempo para todo o propósito e para toda
a obra.Disse eu no meu coração, quanto a condição dos filhos dos homens, que
Deus os provaria, para que assim pudessem ver que são em si mesmos como os
animais.Porque o que sucede aos filhos dos homens, isso mesmo também sucede aos
animais, e lhes sucede a mesma coisa; como morre um, assim morre o outro; e
todos têm o mesmo fôlego, e a vantagem dos homens sobre os animais não é nenhuma,
porque todos são vaidade.Todos vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e
todos voltarão ao pó...” (Eclesiastes 3,1-20).
Como não rezar com esta passagem acima a cada final e recomeço de ano?
Como vivi os tempos que o
Senhor providenciou?
Como acertei o meu passo ao sábio compasso que marca o
ritmo da vida, de tudo o que existe debaixo do sol, inclusive eu?
Quem nasceu?
Quem morreu? Em que nasci? Em que morri?
O que plantei? O que colhi? O que
derrubei? O que construí?
Como chorei? Como ri? Como vivi o luto e a dança?
A
quem acolhi? De quem parti? A quem deixei partir?
Como falei? Como calei? O que
calei? Para que calei? O que falei? Como falei? Para que falei?
Odiei? Fiz
guerra?
Perdi, então, todo o meu ritmo, todo o meu tempo. Gastei inutilmente os
tempos que o Senhor providenciou. Atravessei o compasso que marca o ritmo da
vida, inclusive da minha. Matei e morri. Plantei, mas não colhi. Destruí. Se
ri, foi pantomima. Se chorei, foi de desgosto. Se dancei, foi grotesco. Se
acolhi, só foi a mim mesmo. A tudo e a todos enxotei. Minhas palavras
destruíram, meu silêncio foi omissão, falsa proteção a mim mesma. Odiei. Amei?
Então construí e promovi a paz, encontrei, então, o sábio ritmo da vida, o
tempo interior só conhecido de quem ama. Aproveitei bem os tempos que me deu a
Providência. Dancei, feliz e equilibrado, conduzido por meu divino par, ora
valsas, ora noturnos, ora barcarolas, ora polcas e mazurcas, ao compasso que
marca o ritmo da vida, de toda vida, da minha vida, da sua vida. Dancei, com
toda a criação, com Deus e com os irmãos. Deixei-me conduzir pelo hábil
Cavalheiro. Nasci e dei à luz. Plantei e colhi. Derrubei feiura, colhi beleza,
bem, verdade. Ri, feliz ao acolher, nas dobras da renúncia do amor, meu irmão,
a vida, as circunstâncias. Rodopiei, confiante e tranquila, a guardar segredos
de amor em meu coração. Amei.Ora amei, ora odiei? Natural. Sou pecador. Sou
imperfeito. Sou humano. Simplesmente vivi. Colhi os frutos do meu ódio e do meu
amor. Uma coisa sei que, com a mais absoluta certeza: tive, eu, assim como você:
o amor do Pai em toda circunstância. A salvação do Filho todos os dias do nosso
ano. A ação santificadora do Espírito, disponível em toda ocasião. Criador e
criatura dançamos juntos, tal pai e filha na festa dos quinze anos, tal casal
de noivos nas bodas, envolvidos, sempre, por muitos outros pares, milhares,
milhões, bilhões de outros pares. Chegamos ao fim de mais um ano em nossa bela
sonata da vida. É preciso dar o comando de replay e assisti-la outra vez,
serenamente, ouvindo detalhes perdidos na correria, na emoção dos
acontecimentos: stacatos sutis, ligaduras ressonantes, fermatas desconcertantes. Começa
uma nova página. Quantos compassos teremos? Que temas se repetirão? Que novos
tons serão adotados? Que novas frases musicais serão relidas, recriadas? Que
outros instrumentos entrarão? Que interpretação escolheremos dar? Que passos
criaremos? Como faremos a leitura, compasso a compasso? Deus sabe! E é nisso que
reside nossa tranquilidade, nossa confiança. Não conhecemos o que virá, mas
pelos temas, frases, harmonias e compassos, pelo ritmo e pelo tom já tocados,
sabemos que, tocada a quatro mãos, nossa composição será bela. O ritmo, por
vezes sincopado, combinará com soluços. O compasso em sua batida convencional,
evocará a rotina, que também revela beleza. As notas que voam, oração. As que
ficam na memória, contemplação. As que marcam a base, convicção. As que
desenham a melodia, inventividade.Deus sabe! Deus sabe! Deus sabe! Que a
proposta de uma vida alucinada não nos seduza. Que o ritmo da evangelização, do
amor, este, sim, seja alucinado, sem medida: Jesus tem sede, tem pressa. O
ritmo interior, porém, este seja aquele secreto, confiante, sábio, paciente
ritmo interior de Maria: Deus sabe! Deus sabe! Deus sabe! Tudo passa!
Deus fica! Deus sabe! Para tudo há um tempo debaixo do sol. Não
temo! Deus sabe! Deus sabe! Deus sabe!...”
|
(Sacerdotes da Comunidade Católica Shalom) |
Com todo respeito ao trabalho da
socióloga em questão, mas
tenho que falar com toda franqueza: "ela não entendeu nada!" Fez uma análise e conclusão
muito superficial!
O que diferencia uma pessoa ou grupo de pessoas, que fizeram suas opções radicais de vida, e abraçam uma causa não religiosa, seja de direita, ou esquerda, socialista, esotérica, capitalista, humanitária, ateísta, ou até mesmo hedonista? O que define quem é mais, ou menos feliz com essas escolhas? A sinceridade é o critério da verdade? Uma pessoa pode estar sinceramente equivocada? Em que melhor dos mundos ela quer viver? Quais seus valores? Seus ícones, e referenciais? São infalíveis?Qual o conceito de felicidade, verdade e liberdade da autora, aos quais ela quis comparar com o carisma da Comunidade Católica Shalom? Sua pesquisa, análise, e conclusão, mesmo com a melhor das intenções, é muito reducionista. Percebemos a questão da subjetividade, que é muita ampla neste contexto para a mesma emitir um juízo de valor, como ela fez em sua conclusão acima. Ela ao querer relativizar os valores e objetivos da comunidade, quis absolutizar os seus como os corretos, ou tentou se proteger de seus medos de assumir compromissos que impliquem em mudança de seu “mindset”. Talvez este seja o maior medo de todo nós, que é: encontrar-se consigo mesmo, e pesar nossos valores e convicções à luz da verdade divina, revelada em Cristo Jesus, que é um contínuo trabalho de artesão. No entendimento da mesma, é como se tudo se resumisse dentro dos muros do Shalom, e ficássemos restritos às reuniões de oração. Ora, quem vive a realidade da Comunidade, sabe que os momentos de oração pessoal e comunitárias, são apenas o motor motivacional para os nossos trabalhos extra muros, pois é ai onde se manifesta nosso chamado, como muito bem nos recorda nosso fundador Moysés (Que rejeita todo e qualquer tipo de culto a sua personalidade, ao contrário do que disse a autora, ele sempre diz: Que Ele (Jesus) cresça, e eu diminua):
-“É aí que se manifesta o desígnio de Deus para a nossa vocação. Em um
mundo marcado pelo pecado, ‘que errou bastante acerca do conhecimento de Deus,
onde reinam tantos males, o ocultismo, a não conservação da pureza nem na vida
nem no matrimônio, a impureza, o adultério, sangue, crime, roubo, fraude,
corrupção, deslealdade, revolta, perjúrio, perseguição dos bons, esquecimento
da gratidão, impureza das almas, inversão sexual, desordens no casamento,
despudor e etc, e ainda se diz em paz’ (Sb 14,22-26); o Senhor nos chama a
sermos anunciadores da sua paz (Is 52), a vivermos e proclamarmos a sua Paz. A
levarmos com a nossa vida, com a nossa palavra e com o nosso testemunho, o
Shalom de Deus aos corações; a sermos instrumentos de reconciliação do mundo
com Deus; a anunciarmos com todo o nosso coração, com todas as nossas forças a
salvação de Jesus Cristo e o seu Evangelho” (RVSh, 359)
-"Paz
para nós é sinônimo de conversão, de vida nova em Cristo. Não é, portanto,
somente uma conquista do homem, uma ausência de guerra ou a implantação de uma
“justiça humana” sobre a terra. A paz é fruto da presença do Cristo
Ressuscitado em nosso meio. Como aos apóstolos (cf. Jo 20,19-21), Ele nos comunica
a salvação e nos ensina a anunciá-la e ministrá-la aos homens do nosso tempo.
Enquanto os homens procurarem a sua paz e a sua salvação em si próprios;
enquanto acharem que podem resolver os problemas do mundo por si mesmos;
enquanto pensarem que podem instalar uma paz social e política e assim trazer a
felicidade geral ao mundo, sem a conversão dos corações a Jesus; sem conhecê-lo
como a solução, a salvação para todo o homem e para a humanidade, longe eles
estarão da paz, do Shalom que Deus quer instaurar na face da terra” (RVSh,
357).
E isso torna-se cada
vez mais claro no mundo de hoje, basta olharmos ao nosso redor. A Comunidade
Católica Shalom, impulsionada pelo Espírito Santo, e diariamente alimentada pela
oração, sente brotar em seu seio, o ardente apelo de Deus para que seja saciada
a sede do seu povo: Amós 8,11:
“Eis que virão os dias, previne o SENHOR, Adonai, em que mandarei fome sobre toda a terra; não
simplesmente a fome por comida, nem a sede de água; mas a fome e a sede de
ouvir e se alimentar da Palavra do SENHOR"
"Cada irmão que livremente se consagra a Deus na nossa Comunidade, sabe
que entregou a sua vida em vista dessa causa: da implantação da verdadeira Paz
nos corações e no mundo. O Senhor nos constitui, assim, como soldados que,
incansavelmente, lutarão pela paz através do anúncio, da doação de suas vidas e
do testemunho coerente do Evangelho" (Reconquistando palmo a palmo, os espaços perdidos
para o inimigo de Deus - Histórico Shalom 1984,6-9)
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Achei muito interessante tanto a visão sociológica da Comunidade como sua réplica, apesar de não ter lido tudo.
Aliás, parabéns pelo blog!
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