Antes de responder a
esta questão é preciso ter um pré conhecimento dos termos: Tempo-Kronos e
eternidade como Kairós (onde neste último, a relação tempo e espaço já não
existem).
Pergunta :Nosso Senhor disse ao bom ladrão que naquele mesmo dia estaria
com ele no Paraíso. Mas se Nosso Senhor passou três dias incompletos no
sepulcro, depois ressuscitou e ficou ainda mais quarenta dias na Terra, para somente
depois subir ao Céu, e se foi Ele o primeiro a subir ao Céu em corpo, como
poderia o bom ladrão estar naquele mesmo dia no Paraíso? E as santas almas que
foram libertadas da mansão dos mortos, onde ficaram durante os quarenta dias em
que Nosso Senhor ficou na Terra?
Resposta: A
inteligente pergunta da missivista já foi respondida por Santo Tomás de Aquino
em cinco artigos da questão 52 da Parte III da Suma Teológica. Procuraremos
resumir a resposta do Doutor Angélico, rica de preciosos ensinamentos, para uso
da consulente e demais internautas.
Jesus Cristo desceu a mansão dos mortos com sua alma e
divindade
Na profissão de fé
conhecida como Símbolo dos Apóstolos, que rezamos habitualmente no início do
Terço, dizemos que Jesus Cristo “desceu aos infernos, ao terceiro dia
ressuscitou dos mortos” (na nova versão em português, a palavra infernos é
substituída por mansão dos mortos).
A palavra infernos significa lugares inferiores e abrange
categorias de almas em estados muito diferentes:
1) o
inferno dos condenados, as almas dos réprobos que, totalmente e para
sempre separadas de Deus, sofrem por sua irredutível obstinação no pecado
mortal.
3) o
purgatório, para as almas que morreram em estado de graça(após o evento
Cristológico) e se salvaram, mas ainda têm que pagar o débito de suas penas (não
a culpa), pelos seus pecados pessoais.
4) o Hades,
ou mansão dos justos do Antigo
Testamento, isto é, as almas já purificadas dos seus pecados pessoais, mas que
continuavam separadas de Deus pelo débito do pecado original. Foi só a este
estado espiritual que desceu Jesus, para anunciar a esses justos que seu débito
estava finalmente pago por sua morte na Cruz.
Como desceu Jesus a mansão dos justos?
Estando seu Corpo
sacratíssimo no sepulcro, desceu apenas com sua alma e divindade. A este
respeito, escreve Santo Tomás:
“Na morte de Cristo, embora a
alma estivesse separada do corpo, nem este nem aquela estavam separados da
pessoa do Filho de Deus. Por isso,
durante o tríduo da morte de Cristo, deve-se dizer que Cristo esteve todo
inteiro no sepulcro; pois a sua pessoa aí esteve toda, mediante o corpo que lhe
estava unido. E semelhantemente esteve todo no inferno, porque nele esteve toda a pessoa de Cristo,
em razão de sua alma que lhe está unida. E também Cristo estava então todo
em toda parte, em razão da natureza divina” (Suma Teológica, q. 52, a. III,
solução).
Em seguida, Santo Tomás responde às diversas objeções, em
particular a esta:
“Se algo de Cristo estava fora do inferno, porque o corpo estava no
sepulcro e a divindade em toda parte. Logo, Cristo não esteve todo no inferno]”.
Replica Santo Tomás: “A pessoa de Cristo está toda em qualquer lugar, porém não totalmente,
por não ser circunscrita por nenhum lugar. Mas nem todos os lugares tomados
simultaneamente podem compreender-Lhe a imensidade; ao contrário, é a sua imensidade que os abrange a todos. [...] De onde
dizer Santo Agostinho: ‘Não afirmamos que Cristo está todo nos diversos tempos
e lugares, de maneira que esteja todo num lugar, e todo em outro, noutro tempo;
mas está sempre todo em toda parte’” (ibidem, resposta à terceira objeção).
Por isso, estava todo no sepulcro (com
seu corpo e divindade) e todo no inferno (com sua alma e divindade), conforme
explicado. Sobre o tempo que Jesus permaneceu no inferno(hades),diz Santo
Tomás: “Assim como Cristo, para tomar sobre si as nossas penas, quis que seu
corpo fosse depositado no sepulcro, assim também quis que sua alma descesse ao
inferno [hades]. Ora, o seu corpo permaneceu no sepulcro por um dia inteiro e
duas noites, para comprovar a realidade de sua morte. Por isso também deve-se
crer que sua alma se demorou no inferno [hades] um tempo igual, de modo a
saírem simultaneamente — a alma do inferno [limbo], e o corpo do sepulcro”
(Suma Teológica, q. 52, a. IV, solução).
Ao introduzir essa questão, Santo Tomás apresentara
algumas objeções, das quais cabe destacar a terceira, que tem relação com a
pergunta da missivista:
“O Evangelho refere que Cristo, pendente da Cruz, disse
ao ladrão:
‘Hoje estarás comigo no Paraíso’ — e isso mostra que no mesmo dia Cristo esteve
no Paraíso. Ora, não pelo corpo, que estava depositado no sepulcro. Logo pela
alma, que descera ao inferno [hades]. E, portanto, parece que nenhum tempo se
demorou no inferno [hades]”.
Santo Tomás responde a essa objeção: “Essas palavras do
Senhor devem entender-se, não do paraíso terrestre material, mas do paraíso
espiritual, onde dizemos que estão todos os que gozam da glória divina. Por
isso, o ladrão desceu com Cristo (paraiso personificado na visão beatífica) ao
inferno [hades], conforme lhe tinha sido dito — ‘hoje estarás comigo no
Paraíso’. Mas, por prêmio, estando ali, já gozava da divindade de Cristo, como
os outros Santos” (Suma Teológica, q. 52, a. IV, ad 3). Nosso Céu será, como o
de todas as almas que se salvarem, gozar da presença eterna de Deus!
E os justos do limbo, quando entraram no Paraíso?
“A Paixão de Cristo liberou o
gênero humano, não só do pecado, mas também do reato da pena [isto é, a
condição de réu (reato) implica numa pena devida ao pecado, da qual a Paixão de
Cristo nos liberou]. Ora, de dois modos os homens estavam adstritos ao reato da
pena: pelo pecado atual, que todos pessoalmente cometeram, e pelo pecado de
toda a natureza humana, que se transmitiu originalmente dos primeiros Pais a
todos, como diz o Apóstolo aos Romanos (5,12 ss.). E desse pecado, a pena é a
morte corporal e a exclusão da vida da glória [...]. Por isso Cristo, descendo aos infernos [hades], em virtude de sua
Paixão, livrou os santos Patriarcas desse reato pelo qual estavam excluídos da
vida da glória, de modo a não poderem ver a Deus em sua essência, no que
consiste a perfeita beatitude” (Suma Teológica, q. 52, a. V, solução).
Em que momento isso se deu? Na resposta à terceira
objeção, Santo Tomás explica:
“Logo que Cristo morreu, sua alma
desceu ao inferno [hades] e fez aproveitar o fruto de sua Paixão aos santos
detidos nesse lugar. Embora daí não saíssem enquanto Cristo se conservava no
meio deles: pois a presença mesma de
Cristo constituía-lhes o cúmulo da glória” (Suma Teológica, q. 52, a. V, ad
3).
Mas fica uma pergunta: e depois da ressurreição de
Cristo, onde ficaram os justos do hades e o “bom ladrão”?
Resposta: Não se
sabe. Comenta Frei Alberto Colunga O.P., que fez a versão e as introduções da
edição espanhola desta parte da Suma Teológica da qual estamos reproduzindo
alguns trechos:
“Jesus Cristo, a Virgem Maria, e
os outros santos, depois da ressurreição, levam o Céu consigo mesmos, e é muito
acidental para eles este ou outro lugar. Mas, enfim, parece que eles devem
ocupar algum. Qual seja, a teologia confessa hoje ignorá-lo”. E um pouco
adiante acrescenta: “Em virtude da própria morte do Redentor, as almas dos
mortos que estavam unidas a Ele pela esperança e caridade, e purificadas de
suas imperfeições, receberam o fruto pleno da Redenção, isto é, a glória
divina, o paraíso prometido ao ladrão. Onde
quer que estivessem, viviam já em Deus (Cristo o verbo encarnado), que era seu
Céu” (Suma Teológica de Santo Tomas de Aquino, Tratado da Vida de Cristo,
BAC, Madrid, 1960, tomo XII, p. 545).
E o próprio Cristo, onde esteve?
Frei Alberto Colunga
conclui:
“Depois da ressurreição, o Senhor continuou comunicando-se com os discípulos
até o dia de sua Ascensão. Onde ficava no tempo em que estava ausente dos
discípulos? Sempre em Deus, que o beatificava na alma e no corpo. Em
que outro lugar? Também o ignoramos. E as almas dos justos, plenamente
bem-aventurados, viviam em algum outro lugar além do que tinham em Deus?
Não podemos concebê-las separadas de Jesus Cristo, seu Redentor; porém, fora
disto, nada podemos dizer” (op. cit. p. 546).
PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR: “Jesus Cristo
ressuscitou realmente ao terceiro dia?”
(Escrito por Ariel
Álvarez Valdés)
Todos os domingos, na
Missa, os católicos professam o Credo. Nele afirmamos que: Jesus Cristo «foi crucificado,
morto e sepultado; desceu aos infernos»; e a seguir acrescentamos que «ao
terceiro dia ressuscitou dos mortos». Mas, terá Jesus ressuscitado
realmente ao terceiro dia?
O fato imperceptível
A primeira coisa que
chama a atenção é alguém poder saber o dia em que Jesus ressuscitou, quando
ninguém presenciou esse acontecimento. Os Evangelhos só narram que, no
domingo de Páscoa, umas mulheres foram ao sepulcro e descobriram que
estava vazio. Em segundo lugar, e para complicar mais as coisas, os Evangelhos
utilizam diferentes expressões para falar do dia da ressurreição. Às vezes
dizem que sucedeu “ao terceiro dia” da sua morte. Por exemplo S. Lucas, ao
narrar a aparição de Jesus aos seus discípulos reunidos no domingo de Páscoa,
diz:
“Assim está escrito que o Messias havia de morrer e ressuscitar dentre
os mortos, ao terceiro dia” (Lc 24,46).
Se considerarmos que
Jesus morreu numa sexta-feira às três da tarde, e contarmos esse dia como o
primeiro, então o segundo seria o sábado e o terceiro, o domingo. Portanto,
Jesus teria ressuscitado no domingo de Páscoa. Assim o costumam reconhecer
historicamente, e o celebramos na liturgia.
Os dilemas do terceiro dia
Mas outras vezes os
Evangelhos, em vez de dizerem que Jesus ressuscitou “ao terceiro dia”, dizem
“em três dias”. Por exemplo, quando
depois de Ele purificar o Templo de Jerusalém, os judeus pedem uma explicação a
Jesus, este responde-lhes: “Destruam este templo, e em três dias Eu o
reedificarei” (Jo 2,19). O evangelista comenta que, com essas palavras, Jesus
se referia à sua própria ressurreição dentre os mortos (Jo 2,21-22). Ou
seja, de acordo com esta outra fórmula («em três dias»), trata-se de um período
de 72 horas: se Jesus morreu na sexta-feira, a sua ressurreição teria ocorrido
na segunda-feira.
Finalmente, alguns
textos do Evangelho dão uma terceira versão e falam de que a ressurreição teve
lugar “depois de três dias”. Por exemplo, quando Jesus anunciou aos seus
discípulos a trágica morte que o aguardava em Jerusalém, «começou a ensinar-lhe
que o Filho do homem tinha de sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, pelos
sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, e ser morto e ressuscitar dentro de
três dias» (Mc 8,31).
Segundo esta versão, se Jesus ressuscitou “depois” de três dias, ou
seja, ao quarto dia, o fato ter-se-ia verificado na terça-feira. Que dia, pois,
é o que os Evangelhos indicam como o da ressurreição de Jesus: o domingo, a
segunda, ou a terça depois da sua morte?
De noite no cemitério
Mas, seja qual for a
fórmula que adotarmos como a correta («ao terceiro dia», «em três dias», ou
«depois de três dias», nenhuma coincide com os relatos dos Evangelhos. De fato,
Mateus narra que duas mulheres discípulas de Jesus, Maria Madalena e outra
Maria, foram visitar o túmulo do Mestre «terminado o sábado, ao romper do
primeiro dia da semana», isto é, ao começar o domingo (Mt 28,1).
Ora, para os judeus,
o domingo começava com o pôr do sol de
sábado, isto é, no sábado às 6 ou 7 da tarde. Portanto, foi ao anoitecer do
sábado que aquelas mulheres se dirigiram ao cemitério, descobriram que o túmulo
já estava vazio e se informaram de que havia ressuscitado.Por sua vez, no
Evangelho de Lucas lemos que Jesus crucificado diz ao ladrão arrependido: «Hoje
estarás comigo no paraíso» (Lc 23,43). E «hoje» refere-se ao dia da sua morte,
isto é, à sexta.
Para responder a
estas questões, temos que partir do fato de que ninguém soube exatamente quando
nem a que hora Jesus ressuscitou porque, como dissemos, não houve testemunhas
daquele acontecimento. Porém, os primeiros cristãos desde muito cedo começaram
a dizer que ocorreu “ao terceiro dia” da sua morte. Já S. Paulo, na sua 1ª
Carta aos Coríntios, fazendo um resumo dos ensinamentos que transmitiu aos seus
ouvintes, comenta:
«Lembro-vos, irmãos, o evangelho que vos preguei, que vós recebestes, no
qual permaneceis firmes e pelo qual sereis salvos, se o guardardes tal como eu
vo-lo anunciei; de outro modo teríeis acreditado em vão. Transmiti-vos, em
primeiro lugar, o que eu próprio recebi: Cristo morreu pelos nossos pecados
segundo as Escrituras; foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as
Escrituras» (1 Cor 15,1-4).
Paulo, pois, na sua
época (por volta do ano 50, muito antes de se escreverem os Evangelhos) já
conhecia o dado que Jesus ressuscitara «ao terceiro dia». Ele, por seu lado,
tinha-o recebido de outros pregadores anteriores, o qual demonstra quão arcaica
era esta informação.
Mas, como tinha surgido, entre os cristãos, a tradição do
“terceiro dia”, se ninguém tinha visto, ou testemunhado o momento exato da
ressurreição?
A chave da solução do
problema está nas palavras de Paulo, no fim do parágrafo, quando acrescenta que
isso aconteceu «segundo as Escrituras». De facto, um conceito muito espalhado
pelas Escrituras era que, quando Deus quer ajudar ou salvar alguém de algum
perigo, fá-lo sempre «ao terceiro dia».
A ideia vem de uma
famosa profecia pronunciada por Oseias, um dos mais antigos profetas de Israel.No
seu livro, referindo-se ao povo judeu, Oseias exortava-os:
«Vinde, voltemos para o Senhor, Ele feriu-nos, Ele nos curará;Ele fez a
ferida, Ele fará o penso.Dar-nos-á de novo a vida em dois dias,ao terceiro dia
nos levantará,e viveremos na sua presença» (Os 6,1-2).
Esta profecia
expressava a confiança que os israelitas tinham na bondade de Deus, o Qual às
vezes parece castigar-nos um ou dois dias, mas «ao terceiro dia», isto é, pouco
depois, passa-lhe o luto e auxilia-nos. A expressão “ao terceiro dia” só
significava, pois, “dentro de pouco”, prazo que Deus se dá para ajudar os seus
fiéis.
Os judeus, baseando-se nesta profecia, tiraram a conclusão de que Deus
não permite que uma pessoa sofra mais de dois dias, porque ao terceiro sempre
acode a livrá-la da sua aflição. Deste modo, o “terceiro dia” começou a ser
interpretado como a data indicada para a intervenção divina na história, para
ajudar os justos. Assim, os relatos do Antigo Testamento começaram a incorporar
esse prazo nas suas histórias, para mostrar que Deus cumpria com as palavras de
Oseias.
Por exemplo, quando
Abraão levou o seu filho Isaac ao monte Moirá para o matar e oferecer em
sacrifício a Deus, Este apresentou-se ao terceiro dia e salvou a vida do rapaz
(Gn 22,1-4).Do mesmo modo, quando os dez filhos de Jacob viajaram para o Egito
a comprar comida, o livro do Génesis diz que foram presos e acusados de ser
espias, de modo que as suas vidas correram perigo. Mas ao terceiro dia, graças
à intervenção de Deus, foram libertados, sendo-lhes permitido regressar ao seu
país (Gn 42,18).Igualmente quando os israelitas saíram do Egito e iniciaram a
sua travessia pelo deserto, a marcha tornou-se-lhes penosa porque não
encontravam água. E quando o povo já estava pronto de sucumbir pela sede, Deus
interveio ao terceiro dia e fez aparecer água potável, livrando-o da morte (Ex
15,22-25).Até o maior acontecimento de proteção divina, que foi a Aliança
realizada entre Deus e o povo de Israel, teve lugar ao terceiro dia. O texto
bíblico diz que, quando os hebreus chegaram ao monte Sinai, Deus falou a Moisés
e disse-lhe: «Vai ter com o povo, e fá-lo santificar hoje e amanhã; que eles
lavem as suas roupas. Que estejam prontos para o terceiro dia, porque no
terceiro dia o Senhor descerá aos olhos de todo o povo sobre a montanha do
Sinai» (Ex 19,10-11).
Temos outros casos nos quais Deus atua ao terceiro dia
para preservar a vida do seu povo:
1)- Como o dos
espiões enviados pelo general Josué para explorar a Terra Prometida. Ao
chegarem lá, o rei de Jericó soube e persegui-os para os matar, mas salvaram-se
ao terceiro dia (Js 2,16).
2)- Também David foi
liberto por Deus ao terceiro dia, das mãos dos seus inimigos, que tinham
invadido o acampamento dos hebreus e sequestrado as suas mulheres e crianças (1 Sm 30,1-20).
3)- Ezequias, um dos
reis de Jerusalém, viveu uma experiência mais extraordinária ainda.
Encontrando-se gravemente enfermo, e tendo organizado já os pormenores do seu
próprio funeral, Deus falou-lhe por meio do Isaías. Anunciou-lhe que ao terceiro
dia havia de levantar-se da cama, completamente curado (2 Rs 20,1-11).
4)- O livro de Ester
relata a história desta rainha, e como lhe tinha sido proibido apresentar-se,
sem autorização, diante do rei; caso contrário, seria castigada com a morte.
Ester, contudo, apresentou-se diante do monarca.Mas fê-lo ao terceiro dia. E
Deus salvou-a não só a ela, mas a todo o povo judeu que estava prestes a ser
exterminado (Est 4,16;5,1).
5)- O episódio mais
significativo de uma salvação divina “ao terceiro dia”, talvez se encontre na
vida do profetas Jonas. Segundo a Bíblia, este tinha recebido o mandato divino
de pregar na cidade de Nínive. Mas desobedeceu à ordem, e fugiu num barco rumo
a Espanha. Durante o trajeto, um peixe enorme devorou-o, «e jonas esteve no
ventre do peixe durante três dias e três noites» (Jn 2,1). Ali, nas entranhas
do cetáceo, Jonas arrependido orou pedindo perdão. Então, Deus fez com que o
pez o vomitasse na margem e o devolvesse são e salvo.
Vemos, pois, como, no Antigo Testamento, Deus realiza as suas grandes
façanhas “ao terceiro dia”. É um modo de ensinar que, embora às vezes o justo
sofra, sempre se trata de um tempo limitado, porque no seu devido tempo Deus
acudirá para salvá-lo.
No séc. II a.C. entrou no povo de Israel uma ideia nova:
A da ressurreição dos
mortos. Até esse momento pensava-se que, quando alguém morria, nunca mais
voltava à vida, porque a morte era o estado definitivo do ser humano. Mas, por volta do
ano 200 a.C., apareceu na Palestina a crença de que Deus um dia is devolver a
vida aos defuntos. Então, fez-se uma reinterpretação da profecia de Oseias.Este
profeta dissera que, se alguém tivesse um problema, Deus ia auxilia-lo ao
terceiro dia. Ora, que problema podia ser maior, para um homem, que o da sua
própria morte?
Por isso, pensou-se
que a famosa promessa de Oseias devia referir-se à ressurreição dos mortos.
Esta crença ficou refletida na tradução que posteriormente se fez do livro de
Oseias para o aramaico, chamada Targum. Ali, em vez de escrever «depois de dois
dias nos dará a vida, e ao terceiro dia nos levantará», como dizia o original
hebraico, os tradutores judeus puseram: «no tempo da consolação futura dar-nos-á a
vida, e na ressurreição dos mortos nos ressuscitará». Com o qual
mostravam a sua certeza de que Oseias, ao anunciar que Deus «ao terceiro dia
nos levantará e nos dará a vida», não se referia a levantar-nos da cama e
devolver-nos a saúde, mas a levantar-nos do túmulo e devolver-nos a vida, no
futuro Reino de Deus.
Ora, se Deus ressuscita os mortos «ao terceiro dia»,
cabia perguntar-se: ao terceiro dia de quê? A partir da morte?
Isso era impossível,
porque muitos personagens antigos como Abraão, Isaac, e Jacob, cuja
ressurreição se aguardava no futuro Reino de Deus (Mt 8,11), tinham morrido há
muito e ainda não tinham ressuscitado.
Como calcular, então, esses dias?
Para sair do
atoleiro, os rabinos disseram que os três dias se deviam entender de maneira
simbólica, e explicaram que não se referiam a períodos cronológicos de 24
horas, mas a etapas da história: Assim, o primeiro dia correspondia à era
presente; o segundo, ao tempo da chegada do Messias; e o terceiro, ao mundo
futuro em que ressuscitariam os mortos.Esta explicação do «terceiro
dia» como um modo de falar da época futura em que os mortos voltarão à vida,
foi-se estendendo e popularizando pouco a pouco no pensamento judaico. De
facto, aparece várias vezes nos escritos rabínicos, chamados midrashim.
E para que caia ao domingo?
Voltando agora aos
primeiros cristãos, quando estes se lançaram a anunciar a ressurreição de Jesus
Cristo, ninguém sabia exatamente em que dia tinha ocorrido, nem a que hora. Só
sabiam que «ressuscitou» como informou o anjo (Mc 16,6), nada mais. Contudo,
para eles essa ressurreição inaugurava já a nova era da ressurreição dos
mortos, o novo tempo do Reino de Deus, anunciado pelo profeta Oseias. Por isso,
saíram a dizer que tinha sido «ao terceiro dia».
Esta expressão não pretendia aludir ao dia em que as mulheres
descobriram o sepulcro vazio, nem ao das primeiras aparições de Jesus no
domingo de Páscoa, mas a que pela primeira vez se dava o facto de que um morto
(Jesus) tinha ressuscitado; portanto, a humanidade tinha entrado na nova era,
na qual todos os mortos ressuscitarão. O tempo da salvação, tão ansiado pelos
judeus, tinha finalmente começado.
Por isso, a tradição
cristã refletida nos Evangelhos é imprecisa quanto ao momento exato da
ressurreição de Jesus. O que importava era mencionar o número «três», embora a
fórmula variasse («em três dias», «depois de três dias», “ao terceiro dia”).Mais
tarde, quando se sentiu a necessidade de estabelecer a ressurreição como um fato
comprovado no tempo e na história, e se fixou o domingo para celebrá-lo, os
evangelistas tentaram que a expressão coincidisse mais ou menos com os dados
que tinham. Assim, MARCOS diz que Jesus anunciou a sua ressurreição para «depôs
de três dias» (Mc 8,31;9,31;10,34). Por sua vez, MATEUS e LUCAS, vendo que, se
Jesus tinha morrido numa sexta-feira, havia menos de três dias até ao domingo,
mudaram a fórmula e escreveram «ao terceiro dia».
É bem sabido que
Homero, na Ilíada, nunca descreve a beleza de Helena, por cujo rosto saíram
1.000 barcos e se iniciou a guerra de Troia. Em vez disso, utiliza uma
dramatização: dois anciãos veem-na passar um dia, do alto das muralhas, e um
deles exclama: «Na verdade, por esta mulher valia a pena fazer uma guerra». É
um recurso genial, pois, sem descrevê-la, o leitor fica a pensar quão formosa
ela não terá sido!Assim fazem os Evangelhos: nunca descrevem a ressurreição de
Jesus. Apenas falam das suas aparições, do túmulo vazio, ou da mensagem do
anjo.É que há coisas que não podem ser descritas, porque ultrapassam as nossas
categorias mentais. Como dia Joseph Ratzinger no seu livro Introdução ao
Cristianismo:
«Cristo, pela sua ressurreição, não voltou outra vez à sua vida terrena
anterior, como por exemplo o filho da viúva de Naím, ou Lázaro; Cristo
ressuscitou para a vida definitiva, a vida que não cai dentro das leis químicas
e biológicas».
Por isso, a sua
ressurreição não pode datar-se num dia determinado.Mas, embora o historiador
não possa data-la diretamente, podemos fazê-lo a partir da mudança que se
verificou nos discípulos. Eles, que eram homens medrosos, intolerantes,
ambiciosos, com dúvidas – a partir desse momento transformaram-se completamente
e foram capazes de enfrentar perigos e resistir às dificuldades, até ao ponto
de dar a sua vida pela nova fé que tinham adquirido. Os tempos tinham mudado; e
eles compreenderam que também deviam fazê-lo.Porque, a única forma de
demonstrar que Jesus está vivo, é mostrar que os seus seguidores também estão.
CONCLUSÃO:
Confessar como os
apóstolos, no CREDO, que Jesus ressuscitou ao terceiro dia, não
significa saber uma data, mas conhecer um novo estilo de vida. Um estilo no
qual já deixamos de viver como cadáveres. No qual não permitimos que
nenhum processo de corrupção nos degrade. No qual assumimos um compromisso
sério com Cristo e sua humanidade, alvo de sua misericórdia. No qual,
independentemente das adversidades, da perseguição ou da incerteza do futuro,
continuamos a levantar-nos do túmulo a cada dia.
“Fui feito um objeto de escárnio
para todo o meu povo, e a sua canção todo o dia. Fartou-me de amarguras,
embriagou-me de absinto. Quebrou com cascalho os meus dentes, abaixou-me na
cinza. E afastaste da paz a minha alma; esqueci-me do bem. Então disse eu: Já
pereceu a minha força, como também a minha esperança no Senhor. Lembra-te da
minha aflição e do meu pranto, do absinto e do fel. Minha alma certamente disto
se lembra, e se abate dentro de mim. Disto me recordarei na minha mente; por
isso esperarei. As misericórdias do
Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não
têm fim; renovam-se a cada manhã; grande é a tua fidelidade. A minha porção
é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei n’Ele...” (Lamentações 3,14-24)
Por: Ariel Álvarez Valdés | Tradução:
LOPES MORGADO | Revista BÍBLICA n.º 344 | janeiro-fevereiro 2013 | p.26-31
| www.difusorabiblica.com | Rua de S.
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Olá Ariel, A Paz de Cristo. Ótima liturgia, seu artigo me ajudou muito para que pudesse compreender ainda mais sobre a Ressurreição de Jesus. Glória ao Pai nas alturas. Estou agora mais certo, pois li um excelente livro neste site que também me ajudou muito nesta trajetória "AS PROVAS DA RESSURREIÇÃO DE JESUS" fantástico. Para consulta - https://cristojesusressuscitou.blogspot.com.br/
A paz esteja conosco,
Davidson Luiz
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