COMENTÁRIOS DO BLOG BERAKASH: O Jargão: "Religião não define
caráter”, vale também para Política? Ou seja, o caráter de uma pessoa não está
diretamente ligado a pertença a uma religião ou sigla partidária? O correto seria votar numa ideia que um grupo ou
partido defende. Porém hoje, quase
apanha quem diz que vota em partidos ou ideias defendidas por eles. A grande
maioria defende que: "tem que votar em pessoas, não em partidos." É um erro, o
correto seria votar numa ideia que um grupo ou partido defende. Não votar em
partidos e sim em pessoas, é um caso raro, infelizmente devido a atual
conjuntura, só tem no Brasil. Eu, por exemplo, sou
apartidário e meu voto vai para o candidato que eu acho que merece o meu voto e
confiança, devido as suas ações no passado e presente, o que defende, se tem
ficha limpa, suas crenças e convicções, e ai eu julgo o melhor candidato
independente de partido. Mas ainda existem muitas pessoas que não pensam assim,
e não importa quem for o candidato, o voto é apenas para o partido e a
ideologia que envolve o mesmo, e não para a pessoa que está concorrendo, independente de seu caráter. Na
Colômbia vota-se em dois partidos dominantes por décadas, Liberal e
Conservador. No Uruguai, os partidos maiores vêm desde a época da Guerra do
Paraguai. No Chile vota-se na ideia conservadora ou na mais à esquerda. Os
exemplos mais conhecidos são os dos EUA e da Inglaterra. Os norte-americanos
votam nos Democratas, que são mais progressistas, ou nos Republicanos, com
tendência mais conservadora. Na Inglaterra se vota nos
Trabalhistas, com a mesma ideia dos Democratas dos EUA, ou no Conservador, que
seria o Partido Republicano de lá.
No Brasil havia antes no país, quase a mesma coisa que há em quase
todos os países. Votava-se na UDN, PSD ou PTB. Por
que a mudança? Há uma história por trás disso!
Em 1966, depois que o regime
militar foi derrotado em eleições para governador em estados importantes,
resolveram acabar com os antigos partidos e criaram a Arena e o MDB. Mesmo
assim, ao longo dos anos, o MDB foi crescendo. Os militares resolveram acabar
com os dois partidos criados por eles mesmos e aparece o PDS no lugar da Arena.
Exigiam, para matar o símbolo em que se transformara o MDB, que se tivesse um P
diante do novo partido de oposição. Botaram um P na frente do MDB.O
regime militar permitiu ainda que se criassem quantos partidos se quisesse. A
intenção era que o PDS ficasse do tamanho que era e o PMDB se esfacelaria em
tantos outros partidos. A busca era enfraquecer a oposição ao regime. A intenção era boa, mas, "foi a pior
herança que o regime militar deixou ao país." Dali para frente se permitiu criar
tantos partidos quantos se queria. Se não estou equivocado existem 29 partidos
com registros no TSE e mais 14 aguardam na fila para se tornarem parte do páreo e abocanhar parte do FUNDO ELEITORAL.
Como é que um país pode funcionar com
tantos partidos?
Na confusão criada, a maioria dos
eleitores aceita votar em pessoas, não nos partidos e no que defendem. É um
tremendo mal para o país. Muitas pessoas não olham o candidato que está concorrendo
e sim, votam pelo partido, independente de quem irá representá-lo.
Votar no candidato, no programa, no partido ou nas vantagens?
Supondo que você "não
vai:"
1)-Simplesmente
vender o seu voto para quem lhe der mais dinheiro ou lhe fizer mais favores.
2)-Simplesmente votar
em quem os seus pais, seu cônjuge, seus amigos, seus colegas de trabalho, Sindicato, sua
timeline do Twitter, Zap, Instagran, Telegran, seus contatos do Facebook etc. disserem em quem votar.
3)-Simplesmente votar
em quem você sempre vota porque você pertence a um partido, ou é ligado tradicionalmente, ou por favores, a um
candidato.
4)-Simplesmente
anular o seu voto ou votar em branco - seja porque seu tempo é precioso demais
para perder com política, seja porque seu apoio é nobre demais para ser dado a
algum candidato(a) que não seja isento de falhas, erros e suspeitas.
E, nessa hora, surgirá a questão: Com que
critério escolher?
Gostaria de fazer uma apreciação
crítica de quatro possíveis critérios de escolha:
a)-Na pessoa do
candidato?
b)-No programa/proposta do
candidato?
c)-No partido do
candidato, devido seus estatutos e programas?
d)-Nas vantagens que
você, sua família, sua empresa, Sindicato, sua classe profissional, religião, etc. leva com a eleição
do candidato?
a) Voto no candidato:
Quem opta por esse
critério acha muito importante examinar o perfil, a biografia, a experiência e
o caráter de cada candidato em questão. Isso só seria realmente possível se
você convivesse com o fulano diariamente e tivesse acesso a seus sentimentos,
pensamentos, intenções e motivos. Como não é esse o caso, a sua informação a
respeito só pode ser indireta. Salvo casos extremos para o bem ou para o mal
(geralmente para o mal), o perfil, a biografia e o caráter serão quase sempre
uma questão do marketing da campanha e da boa vontade da imprensa para com o
candidato em questão. Experiência, que, à primeira vista,
pareceria ser um critério mais objetivo, também é difícil de ser avaliado. Quem
já governou é melhor do que quem nunca governou pelo simples fato de já haver
governado? Bom, então elegeríamos sempre os mesmos candidatos. O que importa é
se governou bem? Mas o que é ter governado bem? Certamente o candidato
será capaz de listar várias melhorias e acertos de sua gestão, enquanto o
adversário será também capaz de listar várias pioras e erros da mesma gestão. E
mais: O fato de que uma melhora ou piora ocorreu durante a gestão daquele candidato significa que ocorreu por causa dessa gestão? Certamente,
não, porque o êxito de uma gestão é uma questão de interação entre as decisões
tomadas e as circunstâncias enfrentadas, sendo que estas últimas não são nem de
todo controláveis, nem de todo previsíveis, nem de todo repetíveis numa
possível nova gestão. E mais: A consideração do que o candidato fez
enquanto governava, para ser critério de escolha, teria que basear-se numa
comparação com o que o outro candidato teria feito se estivesse no lugar do
primeiro, coisa que o eleitor jamais saberá, porque simplesmente não ocorreu. E
teria que basear-se também na suposição de que circunstâncias muito semelhantes
se apresentarão na nova gestão para a qual o candidato concorre, pois, do
contrário, a experiência passada não informa muita coisa. Tudo isso temperado
pelo fato de que não conhecemos nem temos como conhecer todas as decisões e
resultados de uma gestão. Formamos apenas uma concepção geral, normalmente vaga
e restrita ao que vemos ou temos contato, sobre uma gestão ter sido
"boa" ou "ruim", no sentido de haver tornado visíveis ou
conhecidas decisões com que concordamos ou de que discordamos, nada mais. Mesmo
que conhecêssemos todas as decisões e resultados de uma gestão, não teríamos
capacidade técnica nem experiência política para avaliar quando as decisões
foram boas ou más ou quando foram realmente responsáveis pelo resultado.
Esse fato é muito sério, porque coloca em xeque a própria ideia de avaliação de
gestão pelo eleitor e, dessa forma, a própria democracia.
b) Voto no programa (Promessas do Candidato):
A segunda opção seria
votar no programa, isto é, nos princípios, metas, planos, promessas e slogans
da campanha do candidato. O primeiro problema desse critério é que
requer que o candidato de fato tenha um
programa de campanha e que você acredite que ele está de fato disposto a
cumpri-lo como prometido. Mas, com otimismo, vamos supor que ele tem e que você
confia nele. É bom recordar que a ordem dos fatores não costuma ser
primeiro elaborar um programa e depois ver se ele agrada ao eleitorado, e sim o
contrário: primeiro fazer pesquisas estatísticas das reclamações e aspirações
dos eleitores e depois, com base nelas, elaborar o programa de campanha. Ocorre
que, se vários candidatos fazem isso, todos terão programas muito semelhantes.
Isso explica em parte a monótona homogeneidade das propostas apresentadas pelos
candidatos: Mais empregos, melhor renda, mais segurança, melhor saúde, mais e
melhor escolaridade, tanto fundamental, quanto técnica e universitária, incentivos
aos produtores e empreendedores, facilidades de crédito, mais moradias, mais e
melhores transportes, mais e melhores estradas, e por aí vai. O que
muda é o marketing: Alguns apresentam melhor suas propostas; dão a elas nomes
pomposos, engenhosos, engraçados ou criativos; associam com imagens do que
falta ou do que já é feito noutro lugar; discursa melhor sobre o quanto se
preocupa ou sempre se preocupou com isso etc. Mas isso não é diferença de
programa, e sim de campanha, produção, tutoria e apoio técnico. A verdade é que
os programas dos candidatos, no que se refere ao conteúdo das propostas, mudam
muito pouco de um para o outro. O que faz mais diferença, além da
ênfase e criatividade da apresentação, é a credibilidade das promessas, quando
associadas ou à pessoa do candidato ou à legenda do partido. Como já falamos da
primeira, falemos agora desta última.
c) Voto no partido:
Tal como o voto no
programa requer que o candidato tenha um programa e que você confie na intenção
dele de realizá-lo, o voto no partido requer que o partido tenha uma ideologia e projeto definidos
e que o candidato de fato se identifique com isso. As duas coisas são
raríssimas. Fora o problema endêmico do número excessivo de legendas e
da falta de fidelidade partidária dos políticos, podemos também acrescentar
a dificuldade de que ideologias políticas são hoje em dia entidades culturais
ameaçadas de extinção. No Brasil, por exemplo, não existe direita: Ninguém
defende estado mínimo, cancelamento de todos os investimentos e programas
sociais, privatizações de setores centrais, não intervenção do Banco Central na
flutuação da moeda, livre comércio com pouca ou nenhuma taxa aduaneira com
países do mundo todo e livre acesso do capital internacional. E aqui só
estou falando da ideologia econômica da direita, nem estou entrando na
ideologia religiosa (tudo bem, atualmente há um debate com viés plebiscitário
sobre aborto, mas isso não é nada perto das tradicionais bandeiras religiosas
da direita no mundo inteiro: orações nas escolas, educação religiosa, ensino do
criacionismo paralelo ao evolucionismo, proibição de preservativos e
anticonceptivos, valorização da família tradicional e da instituição do casamento,
dificultação do divórcio...), na ideologia política (controle da imprensa,
proibição da pornografia, fiscalização de associações e reuniões, valorização
da moral, do decoro e dos bons costumes, das velhas tradições e símbolos
nacionais, do patriotismo, do militarismo etc.). Da mesma forma, no Brasil não
existe esquerda: Ninguém defende estatização de bancos, empresas, terras e
patrimônios para gestão pública, nem controle estatal do fluxo de importação e
exportação, nem planejamento plurianual de investimentos e produção, nem tomada
de decisões por parte de sindicatos, partidos e associações de trabalhadores.
Quer dizer, retificando: Há partidos que defendem isso, mas não partidos que,
por ora, tenham suas vozes ouvidas e levadas em conta nem que tenham sérias
chances de ganhar uma eleição. Não havendo direita nem esquerda (ou pelo menos
esquerda relevante), os partidos dos principais candidatos têm cinzentas
ideologias centristas, as quais consistem quase sempre no esvaziamento dos
elementos políticos, que se vêem substituídos por modelos de gestão. Vamos
deixar claro o que isso quer dizer: Quer dizer que não se discutem diferentes
fins, e sim diferentes meios de chegar aos mesmos fins. E não se discutem os
fins porque os fins já estão feitos, embalados e prontos para consumo na sociedade: Os fins básicos são: mais dinheiro, mais consumo, mais
segurança, mais conforto e mais lazer. Ou seja: Mais vida burguesa, sem que
ninguém questione a sério se esse é ou não o modelo de vida que deveríamos
seguir e se ele cumpre ou não as promessas de felicidade que nos faz, ou ainda
se isso é tudo a que os seres humanos deveriam aspirar em todo o tempo de vida
e com todo o potencial que tem. A concepção FILOSÓFICA de "vida boa" não é discutida, apenas
os velhos modelos governamentais enlatados de direita e esquerda são propostos.
d) Voto nas vantagens:
Nesse último caso, a
pessoa não se preocupa com o bem comum, ou não sabe que ele existe, ou acha que
ele não existe, ou não liga para ele, ou não acredita que ele possa vir a
realizar-se. Ela decidiu que o que ela pode fazer com o seu voto é garantir um
futuro melhor para si mesma e para os seus, um grupo geralmente restrito, mas
formado de pessoas com as quais ela se importa pessoalmente. Pode ser a sua
família, a sua vizinhança, a sua região, a sua empresa, a sua classe social, a
sua categoria profissional, Sindicato, sua religião, etc. Ou pode ser apenas para ela
mesma, como na hipótese de que ela tenha perspectiva de receber esse ou aquele
cargo, ou de receber esse ou aquele favor, ou de ser mantido no cargo que já
tem, ou de seguir recebendo o favor que já recebe. Nesse caso, a pessoa já apagou a
distinção entre público e privado, entre cívico e pessoal, entre político e
econômico etc. Fora o fato de que as promessas de recebimento ou de manutenção
de vantagens são, no fim das contas, apenas promessas, sujeitas à falibilidade,
variabilidade e circunstancialidade das promessas em geral, não farei
outros comentários críticos sobre esse último critério de escolha de
candidatos, porque - embora ele seja muito frequente e inclusive decida muita
eleição por aí -, ele não é exatamente um critério político, e sim privado. E
eu só estou preocupado em fazer um ajuizamento crítico dos critérios usados
pelas pessoas que realmente querem fazer a melhor escolha política. Quem
vota num candidato por causa das vantagens que pode ter com sua eleição
simplesmente desistiu da política, ou nunca compreendeu o que ela significa.
Por isso mesmo, nada do que eu disser, baseado em argumentos de civismo e
democracia, vai convencer esse sujeito a fazer de outra forma, porque eu
estaria apelando para uma parte da subjetividade da pessoa que ela ou nunca
teve ou já perdeu. Em ambos os casos, seria inútil.
CONCLUSÃO:
A meu ver, as
dificuldades que levantei quanto aos três primeiros critérios tornam realmente
difícil fazer uma boa escolha política. Não digo convencer-se de que fez uma
boa escolha, o que é bem mais fácil: basta deixar-se levar pelos slogans, jingles
e imagens da campanha do seu favorito, ignorar as do adversário e só conversar
e ouvir argumentos de quem pensa igualzinho a você. A ignorância, a burrice, a
teimosia e o fanatismo são a mais eficiente maneira de convencer-se de que se
está escolhendo bem. Por isso, não falo de convencer-se de ter feito uma boa
escolha, e sim de fazer uma escolha realmente boa, para além de toda
propaganda, manipulação, desinformação e desonestidade. Isso me parece
realmente difícil, praticamente impossível em qualquer democracia moderna, mas
especialmente nas nossas democracias latino-americanas, tão imaturas
historicamente, tão maltratadas politicamente, tão predispostas ao messianismo,
ao coronelismo, ao assistencialismo, ao caudilhismo e à indiferença. Todas essas são
tendências nocivas ao aprendizado e ao aperfeiçoamento de nossas democracias,
mas nenhuma tão nociva quanto a indiferença. Porque desistir é simplesmente
declarar a vitória da barbárie, e nenhum ser humano tem direito de fazer isso.
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